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SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO APELAÇÃO Nº / CLASSE CNJ COMARCA CAPITAL RELATOR: DR. GILBERTO LOPES BUSSIKI

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APELANTES: KÁTIA CILENE DE ARRUDA MOURA E LIVEIRA MARIJANE GONÇALVES COSTA

APELADOS: MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO DE MATO GROSSO

Número do Protocolo: 123293/2013 Data de Julgamento: 06-09-2019

E M E N T A

APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – PRELIMINARES DE NULIDADE DA SENTENÇA POR VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA; VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL; ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO; ILEGITIMIDADE PASSIVA; PRESCRIÇÃO; LITISPENDÊNCIA E INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO ESTADUAL - REJEITADAS – MÉRITO – APROPRIAÇÃO DE VALORES QUE DEVERIAM SER DESTINADOS A PROJETO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – CONJUNTO PROBATÓRIO SUFICIENTE A EMBASAR O CONVENCIMENTO PELA PRÁTICA DO ATO ÍMPROBO E DO PREJUÍZO AO ERÁRIO – SENTENÇA MANTIDA – RECURSOS DESPROVIDOS.

1 - Não há cerceamento de defesa quando o julgador considera dispensável a produção de prova (art. 330, I, do CPC), mediante a existência nos autos de elementos hábeis para a formação de seu convencimento. (Precedentes do STJ: AgRg no REsp 1356968 SP 2012/02563306; AgRg no REsp 1233662 RS 2011/00132747 -DJe data:05/12/2013).

2 - O Ministério Público é legitimado para a propositura da ação de improbidade administrativa, amparado no art. 129, III, da Constituição Federal

Documento assinado digitalmente por: GILBERTO LOPES BUSSIKI:10582, em 10/09/2019 08:50:08

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conjugado com o art. 25 da Lei nº 8.625/93, que permite a utilização de ação civil pública para a proteção do patrimônio público, e com o art. 17 da Lei nº 8.429/92, visando a aplicação das sanções previstas neste diploma legal e o ressarcimento do prejuízo sofrido pelo Erário.

3 - o prazo prescricional para a responsabilização por atos de improbidade administrativa é quinquenal, consoante art. 23, I, da Lei de Improbidade Administrativa. Assim, considerando que os fatos ocorreram entre os anos de 2000 e 2003 e a ação foi distribuída em 2006, não decorreu o prazo prescricional. Outrossim, o Supremo Tribunal Federal julgou o RE nº 852.475/SP em sede de repercussão geral, dando origem ao Tema 897 do STF, concluindo que: “são imprescritíveis as ações de ressarcimento ao Erário, fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa”.

4 - Para que seja admitida a litispendência é preciso que as ações sejam idênticas, ou seja, com as mesmas partes, causa de pedir e pedido. Não sendo o caso dos autos, não há que se falar em litispendência, tampouco no reconhecimento da incompetência da Justiça Estadual – alegada pelos mesmos motivos.

5 - Diante da independência das esferas de responsabilização, mostra-se indevido o sobrestamento da ação civil pública em virtude do ajuizamento de ação penal sobre os mesmos fatos.

6 - De acordo com o art. 3º da Lei nº 8.429/92, a Lei de Improbidade aplica-se àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática de ato de improbidade ou dele se beneficie de qualquer forma direta ou indireta.

7 - A má-fé é premissa do ímprobo. A improbidade administrativa, mais que um ato ilegal, traduz a falta de boa-fé, a desonestidade, que revestem o elemento subjetivo do tipo. Provada a prática ímproba neste contexto e o dano ao Erário, a penalidade se impõe e a baliza é gravidade da lesão.

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APELANTES: KÁTIA CILENE DE ARRUDA MOURA E LIVEIRA MARIJANE GONÇALVES COSTA

APELADOS: MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO DE MATO GROSSO

R E L A T Ó R I O

EXMO. SR. DR. GILBERTO LOPES BUSSIKI Egrégia Câmara:

Recursos de Apelação Cível interpostos por Kátia Cilene de Arruda Moura e Liveira Marijane Gonçalves Costa, nos autos de Ação Civil Pública por atos de Improbidade, onde o Juízo Singular julgou procedentes os pedidos contidos na inicial e condenou as apelantes nas sanções do art. 12, I, da Lei nº 8.429/92.

O Juiz sentenciante entendeu que os atos imputados às requeridas, ora apelantes, se amoldaram ao disposto no art. 9º, XI, e art. 10, I, da Lei 8.429/92. Por isto, aplicou a elas a sanção de proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, por 10 (dez) anos; ressarcimento ao Erário, no valor de R$255.800,00 (duzentos e cinquenta e cinco mil e oitocentos Reais); pagamento de multa civil, equivalente ao dobro dos valores ilicitamente apropriados de forma ilegal e suspensão dos direitos políticos, pelo prazo de 08 (oito) anos.

Inconformadas, as requeridas apelaram. Kátia Cilene de Arruda Moura suscita, preliminarmente, violação ao princípio do contraditório e ampla defesa; violação ao princípio do devido processo legal; ilegitimidade ativa do Ministério Público; sua ilegitimidade passiva; a prescrição da pretensão punitiva; litispendência entre a ação de improbidade e ação de reparação de danos, proposta pelo SESI-DR/MT; a suspensão do feito e o reconhecimento da incompetência do Juízo Estadual. No mérito, alega a ausência de dano e nexo de causalidade. Requer, portanto, o provimento do apelo, para reformar a sentença.

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Marijane Gonçalves Costa, por sua vez, sustenta, preliminarmente, ilegitimidade ativa do Ministério Público; cerceamento de defesa e, ainda, como prejudicial de mérito, pretende seja reconhecida a prescrição da pretensão punitiva. No mérito, sustenta que o conjunto probatório é insuficiente a embasar sua condenação e que as sanções não foram aplicadas em observação aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Assim, requer, também, o provimento do apelo, para reformar a sentença.

Em contrarrazões, apresentadas às fls. 1150-1157-TJ e fls. 1185-1195-TJ o Ministério Público e o Estado de Mato Grosso, respectivamente, pugnam pelo desprovimento de ambos os recursos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, às fls. 1200-1205-TJ, opinou pela rejeição das preliminares e, no mérito, pelo desprovimento dos apelos.

É o relatório.

P A R E C E R (ORAL)

O SR. DR. WESLEY SANCHES LACERDA Ratifico o parecer escrito.

V O T O (PRELIMINAR - CERCEAMENTO DE DEFESA E INOBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL)

EXMO. SR. DR. GILBERTO LOPES BUSSIKI (RELATOR SUBSTITUTO)

Egrégia Câmara:

Ambas as apelantes arguem, preliminarmente, a nulidade da

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sentença, alegando que o julgamento antecipado da lide, na espécie, incorreu em cerceamento de defesa, porquanto o deslinde da controvérsia estaria a depender de instrução probatória, oportunizando a juntada de novas provas, o que teria acabado também por incorrer na violação do devido processo legal, segundo a apelante Katia Cilene de Arruda Moura.

De fato, o Juízo a quo julgou antecipadamente a lide. Todavia, o fez com fulcro no art. 330, I, do CPC/73, argumentando que “[...] a matéria posta à apreciação não necessita de dilação probatória em regular instrução, a farta prova documental é perfeitamente apta para o exame do pedido, motivo pelo qual passo a

conhece-lo [...]” (destaquei) (fl. 1068-TJ)

O Superior Tribunal de Justiça, na mesma época do julgamento, já tinha orientação firmada de que não há cerceamento de defesa quando o julgador considera dispensável a produção de prova (art. 330, I, do CPC), mediante a existência nos autos de elementos hábeis para a formação de seu convencimento. (AgRg no REsp 1356968 SP 2012/0256330-6 Decisão:19/11/2013 DJe data:05/12/2013; AgRg no REsp 1233662 RS 2011/0013274-7 Decisão:22/10/2013; DJe data:05/12/2013).

Assim, se o juiz entendeu ser caso de dispensa de dilação probatória, não há falar em nulidade, pois tal posição foi devidamente fundamentada na sentença e cabe ao julgador, na qualidade de instrutor, o gerenciamento do processo, com arrimo no art. 130 do CPC/73, vigente à época em que prolatada a sentença, vigorando o princípio do livre convencimento motivado.

Ademais, é cediço que o Juiz é o destinatário da prova, a qual é produzida em benefício de seu convencimento. Se ele se convence da impertinência, a Lei Processual lhe permite o julgamento antecipado.

Nesse mesmo sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL. DECISÃO MONOCRÁTICA.

RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.

CANCELAMENTO DE INSCRIÇÃO EM CADASTRO

RESTRITIVO DE CRÉDITO. NULIDADE DA SENTENÇA POR CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO.

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"O art. 131 do Código de Processo Civil consagra o princípio

da persuasão racional, segundo o qual o magistrado fica habilitado a julgar a demanda, conforme seu convencimento,

"à luz dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto", rejeitando, por conseguinte, "diligências que delongam desnecessariamente o julgamento, atuando em consonância com o princípio da celeridade processual" (AgRg no Ag 660.787/RS, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, Julgado em 26/01/2016)

(destaquei)

Fundamentado, pois, o julgamento antecipado da lide, não há que se falar em cerceamento de defesa, tampouco em inobservância do devido processo legal.

Com tais considerações, rejeito a preliminar arguida.

V O T O (PRELIMINAR - ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO)

EXMO. SR. DR. GILBERTO LOPES BUSSIKI (RELATOR SUBSTITUTO)

Egrégia Câmara:

As apelantes também suscitaram, preliminarmente, que o Ministério Público não tem legitimidade para ajuizar ação civil pública em favor do patrimônio público, argumentando que se trata de direito disponível.

Indiscutível que o Ministério Público é legitimado para a propositura da presente demanda, amparado no art. 129, III, da Constituição Federal conjugado com o art. 25 da Lei nº 8.625/93, que permite a utilização de ação civil pública para a proteção do patrimônio público, e com o art. 17 da Lei nº 8.429/92, visando a aplicação das sanções previstas neste diploma legal e o ressarcimento do prejuízo sofrido pelo Erário.

Neste sentido, é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,

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senão, vejamos:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONTRA CHEFE DO PODER EXECUTIVO

MUNICIPAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

UTILIZAÇÃO DE FRASES DE CAMPANHA ELEITORAL NO EXERCÍCIO DO MANDATO. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.

LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. (...)

A ação civil pública protege interesses não só de ordem patrimonial como, também, de ordem moral e cívica. O seu objetivo não é apenas restabelecer a legalidade, mas também punir ou reprimir a imoralidade administrativa a par de ver

observados os princípios gerais da administração. Essa ação constitui, portanto, meio adequado para resguardar o patrimônio público, buscando o ressarcimento do dano provocado ao erário, tendo o Ministério Público legitimidade

para propô-la. Precedentes. (...) (REsp 695718/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/08/2005, DJ 12/09/2005, p. 234) (destaquei)

Não procede, pois, mais essa argumentação das apelantes, de forma que rejeito, também, esta preliminar.

V O T O (PRELIMINAR - PRESCRIÇÃO)

EXMO. SR. DR. GILBERTO LOPES BUSSIKI (RELATOR SUBSTITUTO)

Egrégia Câmara:

As apelantes também arguem a prescrição como prejudicial de mérito. Todavia, também neste ponto razão não lhes assiste.

Isso porque o prazo prescricional para a responsabilização por atos de improbidade administrativa é quinquenal, consoante art. 23, I, da Lei de Improbidade Administrativa, contados a partir do término do exercício do mandato de cargo em comissão ou de função de confiança.

Assim, considerando que os fatos ocorreram entre os anos de

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2000 e 2003 e a ação foi distribuída em 2006, é evidente que não decorreu o prazo prescricional.

Ademais, é pacífico na doutrina e na jurisprudência que as ações que visam o ressarcimento ao Erário são imprescritíveis, por força da hermenêutica do art. 37, § 5º, da Constituição Federal.

Outrossim, o Supremo Tribunal Federal julgou o RE nº 852.475/SP em sede de repercussão geral, dando origem ao Tema 897 do STF, concluindo que: “são imprescritíveis as ações de ressarcimento ao Erário, fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa”.

Assim, não há falar em prescrição, pois a tese de imprescritibilidade se aplica para todos os casos de atos de improbidade dolosa que impliquem enriquecimento ilícito, favorecimento ilícito de terceiros ou dano intencional à Administração Pública, como foi o caso dos autos.

Dessa forma, rejeito, também, esta preliminar.

V O T O (PRELIMINAR - LITISPENDÊNCIA E INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL)

EXMO. SR. DR. GILBERTO LOPES BUSSIKI (RELATOR SUBSTITUTO)

Egrégia Câmara:

A apelante Kátia Cilene alega que está em trâmite na Justiça do Trabalho uma ação de reparação de Danos, movida pelo SESI/MT contra si e, por isto, argui que está configurado o instituto da litispendência, bem como que a situação demonstra a Justiça Estadual é incompetente para apreciar e julgar a ação de improbidade administrativa.

Verifica-se, pois, que as duas preliminares arguidas estão ligadas umbilicalmente e, por isto, estão sendo apreciadas simultaneamente.

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Pois bem.

Assim como a coisa julgada, a litispendência é um instituto que busca garantir a segurança jurídica dos litigantes, de modo que esses não poderão ajuizar nova ação enquanto ação anterior, idêntica ou semelhante, estiver em curso e pendente de julgamento.

Para que seja admitida a litispendência, entretanto, é preciso que as ações sejam idênticas, ou seja, com as mesmas partes, causa de pedir e pedido. Não é o caso dos autos, já que, além de não se tratar das mesmas partes, no caso sub judice, o que se busca é a responsabilização das apelantes pela prática de atos de improbidade administrativa, que lesaram o patrimônio público, buscando não só o ressarcimento ao Erário, mas também a aplicação de multa civil e a suspensão de direitos políticos.

Assim, e uma vez que os motivos que justificaram a alegação de litispendência foram os mesmos para arguição da incompetência da Justiça Estadual, também pelas mesmas razões acima delineadas, não há que se falar em deslocamento deste processo para a Justiça do Trabalho, que, aliás, tem competência taxativa e expressa no art. 109, da Constituição Federal.

Isso posto, rejeito a preliminar.

V O T O (PRELIMINAR - NECESSIDADE DE SUSPENSÃO DO FEITO)

EXMO. SR. DR. GILBERTO LOPES BUSSIKI (RELATOR SUBSTITUTO)

Egrégia Câmara:

A apelante Katia Cilene alega, ainda, como matéria preliminar, a existência de Ação Criminal (cod. 82372) em trâmite perante a 5ª Vara Criminal de Cuiabá-MT, sustentando que possui o mesmo objeto apurado nesta ação de improbidade, e, sendo assim, que este fato processual estaria a configurar prejudicialidade externa a ensejar a suspensão do andamento deste feito.

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Razão, entretanto, não lhe assiste.

Isso porque o art. 37, § 4º, da Constituição Federal, expressamente disciplina que a apuração na esfera cível dos atos de improbidade administrativa não obsta o processamento de ação penal sobre o mesmo fato, e que o inverso é igualmente válido. Em outras palavras, o que a Carta Magna deixa evidente é a independência das esferas administrativa, civil e penal.

Essa ação de improbidade visa, dentre outros, o ressarcimento integral dos danos causados pelas rés no exercício de suas funções junto ao SESI-DR/MT, e SEDUC-MT, mais especificamente no gerenciamento do programa Sesi Educação do Trabalhador.

É clara a dicção do art. 12 da Lei n. 8.429/92 ao dispor acerca de independência entre as sanções penais, civis e administrativas e as previstas na lei com aplicáveis na hipótese de improbidade.

O art. 110 do CPC estabelece que o juiz pode determinar o sobrestamento da ação até o julgamento criminal, desde que o conhecimento da lide dependa, necessariamente, da verificação da existência de fato delituoso. Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, tal dispositivo não implica a obrigatoriedade de suspensão da ação civil pública na pendência de ação penal, porquanto confere claramente uma faculdade ao Magistrado condutor do feito (REsp 1106657/SC, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 17/08/2010, DJe 20/09/2010).

É inconteste, por outro lado, que o mesmo fato apurado pode ensejar responsabilização tanto civil, quanto penal ou administrativa, por possuírem natureza e finalidade diferentes, não havendo prejudicialidade entre as ações propostas.

É, aliás, neste sentido, a jurisprudência, senão, vejamos:

APELAÇÃO. AGRAVO RETIDO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

AGENTES POLÍTICOS MUNICIPAIS. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA LEI N. 8.429/1992.

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(...)

SUSPENSÃO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM RAZAO DO AJUIZAMENTO DE AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE.

- Diante da independência das esferas de responsabilização,

mostra-se indevido o sobrestamento da ação civil pública em virtude do ajuizamento de ação penal sobre os mesmos fatos, sobretudo porque não alegada sua inexistência material.

Inteligência dos arts. 110 do CPC, 66 e 67 do CPP. (Apelação Cível, Nº 70058271883, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marilene Bonzanini, Julgado em: 27-02-2014). (destaquei)

Não sendo, pois, o caso de sobrestamento do feito, rejeito mais esta preliminar.

V O T O (PRELIMINAR - ILEGITIMIDADE PASSIVA) EXMO. SR. DR. GILBERTO LOPES BUSSIKI (RELATOR SUBSTITUTO)

Egrégia Câmara:

A apelante Katia Cilene ainda levanta a preliminar de ilegitimidade passiva, alegando que não pode ser demandada em ação de improbidade administrativa, porque não se enquadra no rol do art. 3º da Lei de Improbidade Administrativa.

É tão descabida a arguição da apelante, que o próprio art. 3º por ela invocado traz clara a afirmação de que “As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a

prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta

[...]” (destaquei).

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO

ESPECIFICADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ARTIGOS 10, CAPUT ,

II, VIII E X, E 11, CAPUT E II, DA LEI Nº 8.429/92.

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CONTRATO DE EXPLORAÇÃO DE PRAÇA DE PEDÁGIO DE PORTÃO. DISPENSA DE LICITAÇÃO. CONTRATAÇÃO EMERGENCIAL. (...). LEGITIMIDADE PASSIVA.

De acordo com o art. 3º da Lei nº 8.429/92, a Lei de Improbidade aplica-se àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática de ato de improbidade ou dele se beneficie de qualquer forma direta ou indireta. Dessa forma, para o efeito de figurar no polo passivo da ação de improbidade, o que se verifica in status assertionis.

Alegadamente todos os réus apontados na inicial estariam envolvidos ou se beneficiariam de alguma forma com os procedimentos que culminaram com a dispensa de licitação e contratação emergencial para administração da Praça de Pedágio de Portão, tidos por ímprobos pelo autor, de modo que

deve ser reconhecida sua legitimidade passiva (Apelação Cível, Nº 70065463747, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Julgado em: 24-11-2016) (destaquei)

Rejeito, por fim, também esta preliminar.

V O T O (MÉRITO)

EXMO. SR. DR. GILBERTO LOPES BUSSIKI (RELATOR SUBSTITUTO)

Egrégia Câmara:

O Ministério Público ajuizou a Ação Civil Pública por atos de improbidade administrativa em face de Kátia Cilene de Arruda Mora e Marijane Gonçalves Costa, por desvio de apropriação indevida do montante de R$255.800,00 (duzentos e cinquenta mil e oitocentos Reais), em razão de indícios que apontavam o escoamento de verbas destinadas ao Programa Sesi Educação do Trabalhador (executado através do Projeto Alfa), decorrente de um convênio celebrado entre o SESI – DR/MT (Serviço Social da Indústria – Departamento Regional de Mato Grosso) e a SEDUC (Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso).

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Na sentença, o juiz concluiu que “[...] O arcabouço probatório não deixa dúvidas quanto à apropriação pelas rés da quantia de R$ 255.800,00 (duzentos e cinquenta e cinco mil e oitocentos reais), na forma exposta na inicial, ou seja, mediante desvio de verbas que seriam destinadas ao projeto de educação de jovens e adultos. [...]” (destaquei)

As apelantes, entretanto, na defesa de mérito, alegam que os autos não possuem elementos de provas suficientes que apontem a existência de prejuízo ao Erário, nem mesmo o nexo causal entre a conduta e o resultado. Além do que, argumentam que a multa fixada destoa dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.

Ocorre que, ao contrário do que alegam as apelantes, o conjunto probatório dos autos, como afirmou o juiz sentenciante, deixou evidente a prática dos autos ímprobos por parte das rés/apelantes, que valendo-se de seus cargos, apropriaram-se de valores pertencentes ao projeto educacional do SESI em parceria com a SEDUC, totalizando R$ 255.800,00 (duzentos e cinquenta e cinco mil e oitocentos reais).

Consta do termo aditivo do convênio firmado entre o SESI e a SEDUC (fls. 49/50) que competia ao SESI repassar mensalmente o valor de R$100,00 (cem reais) a título de complementação salarial do professor que atua na sala de alfabetização e ainda adquirir mensalmente material didático-pedagógico aos alunos do ensino médio, no valor máximo de R$3,50 (três reais e cinquenta reais).

O repasse dessas verbas deveria ser feito até o dia 23 de cada mês, por meio de depósito bancário na Unidade Executora (escola), cadastrada junto ao SESI e à SEDUC, em cada município que estivesse desenvolvendo o programa.

Foi apurado que a apelante Kátia Cilene de Arruda Moura, como supervisora do projeto, coordenava todos os repasses de verbas às unidades executoras. Por sua vez, a apelante Marijane Gonçalves recebia estas verbas em nome das unidades executoras e era responsável pela quitação dos gastos tidos com remuneração de professores e compra de materiais escolares.

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Ocorre, entretanto, que restou demonstrado que as apelantes se associaram com o fim de locupletar-se dessas verbas, e, para levar a efeito a prática ilícita, assim que recebia o dinheiro, a segunda apelante repassava todo o montante para a primeira, através de cheques ou transferências bancárias, sem, entretanto destinar qualquer quantia ao projeto.

Para que o plano ímprobo pudesse se concretizar as apelantes forjaram a habilitação de 10 (dez) unidades executoras do projeto – escolas participantes do projeto, sendo que todas utilizavam a mesma conta corrente como destino das verbas (fls. 70/135), sendo que a titularidade desta conta corrente era a Escola Estadual José Magno, de onde a segunda apelante era diretora.

Então, no momento em que as verbas repassadas pelo SESI chegavam na conta corrente das unidades simuladas, a segunda apelante tinha total controle do montante ali depositado e, por esse motivo, conseguia desviar todos os valores por meio de cheques ou transferências destinados à primeira apelante (fls. 53/66).

Em toda esta trama, concluiu o magistrado que “[...] a documentação acostada não deixa dúvidas de que as escolas que estavam cadastradas como unidades executoras nunca chegaram a receber as verbas que lhes foram destinadas. [...]” (destaquei).

Elucida-se com uma amostra probante o fato de que a Superintendente de Ensino e Currículo e o Líder de Equipe da Educação de Jovens e Adultos informaram por meio do Ofício n.º 513/2004 – EJA/SEC (fl. 330) que não encontraram documentos que apontassem a E.E. José Magno e o Centro Auditivo Maria Luiza Pimenta como habilitados no Convênio entre o SESI e a SEDUC.

Ainda as servidoras públicas, Eneide Maria Cruz Modesto da Costa e Maria de Lourdes M. Lima Verde, ambas professoras lotadas na E.E. José Magno, afirmaram, no processo administrativo disciplinar (portaria n.º 133/2004/GS/SEDUC/MT), que desconheciam a existência do projeto Alfa na E.E. José Magno.

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Não bastasse, conforme destacou o magistrado, “[..] de acordo com o teor do Ofício n.º 042/2004 SUPER. SESI/DR-MT, a primeira requerida não tinha autorização para receber em seu nome qualquer numerário porventura repassado pela Escola Estadual José Magno, logo, as condutas de ambas as requeridas eram totalmente irregulares, já que uma não tinha atribuição para receber e a outra, por consequência, não deveria repassar as verbas dos projetos para alguém sem atribuição. [...]” (destaquei)

Por fim, pelo que consta nos autos, não houve prestação de contas durante os três anos de “existência” do projeto, ou seja, diferente do que alegam no recurso, ficou fartamente comprovadas as condutas ímprobas das apelantes, que se apropriaram de dinheiro pertencente aos cofres públicos, de maneira extremamente imoral, a partir de cheques e transferências bancárias de contas públicas para contas pessoais, em detrimento do investimento que foi projetado para a educação de jovens e adultos trabalhadores.

Conforme doutrina de Waldo Fazzio Junior , “a má-fé é premissa do ímprobo. Por isso, a ilegalidade só adquire status de improbidade quando

a conduta antijurídica fere os princípios constitucionais da Administração pública coadjuvada pela má-fé do administrador. A improbidade administrativa, mais que um ato ilegal, deve traduzir, necessariamente, a falta de boa-fé, a desonestidade. As

condutas gravadas no art. 11 e seus incisos pressupõem a consciência da conduta e o ânimo de realizar o resultado proibido.” (Atos de Improbidade Administrativa. São Paulo: Atlas, 2007, p. 163) (destaquei)

No caso, o elemento subjetivo do tipo veio acompanhado de desonestidade e má-fé, haja vista que as apelantes, na condição de pessoas ligadas à educação, às quais foi confiado um projeto que alcançaria centenas de jovens e adultos que não tiveram a chance de serem alfabetizados na infância e se valeram desta posição, para se apropriarem, descaradamente, dos valores repassados, que deveriam ser destinados ao pagamento dos professores e para a aquisição de materiais didáticos.

Não tenho dúvidas, então, que foi escorreita a sentença, ao

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concluir que as condutas das apelantes se amoldam à figura típica dos artigos 9º, XI, e 10.º, I, da Lei de Improbidade Administrativa.

Outrossim, diante da reprovabilidade da conduta das apelantes, haja vista a manifesta intenção de apropriação ilícita de dinheiro público, a dosimetria da pena mostrou-se condizente com os fatos perpetrados.

Isso posto, em consonância com o parecer ministerial, nego provimento aos recursos.

É como voto.

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A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência da DESA. MARIA APARECIDA RIBEIRO, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DR. GILBERTO LOPES BUSSIKI (Relator), DR. MARCIO APARECIDO GUEDES (1º Vogal convocado) e DESA. MARIA APARECIDA RIBEIRO (2ª Vogal), proferiu a seguinte decisão: À UNANIMIDADE, DESPROVEU OS RECURSOS.

Cuiabá, 6 de setembro de 2019.

---DOUTOR GILBERTO LOPES BUSSIKI - RELATOR

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