26-11-2020 | Educação, Formação Profissional e E.
ESTG: 30 ANOS DE CRESCIMENTO
SUSTENTADO
MARIA ANABELA SILVA | anabela.silva@jornaldeleiria.pt
Dia 18 de Janeiro de 1990. Perto de uma centena de alunos, sete professores e sensivelmente o mesmo número de funcionários davam início ao primeiro dia de aulas da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) de Leiria. O antigo Convento de Santo Estevão, localizado junto à GNR, voltava a receber a valência de ensino, depois de ter funcionado como casa de recolhimento e colégio de meninas, desde do século XVIII até 1926, e como Magistério Primário.
A actividade lectiva da escola arrancava, assim, num ano atípico para o ensino superior em Portugal, marcado por greves, que fizeram com que as aulas nas universidades e nos politécnicos começassem apenas em Janeiro. Um percalço que, no caso da ESTG, “até deu um certo jeito, porque havia ainda alguns atrasos ao nível dos equipamentos”, conta Carlos Neves, que integrou o grupo inicial de docentes, alguns dos quais vindos do mundo empresarial, como era o seu caso.
Desses tempos iniciais, Carlos Neves, que mais tarde liderou a Direcção da escola (2004/10), recorda um grupo de pro-fessores “muito verdinhos - a maioria acabada de se formar -, mas com uma enorme vontade de construir uma escola de raiz”, com todos os desafios que tal implicava. E foram alguns os obstáculos a contornar. “Faltavam materiais e o espaço era escasso, mas sobrava voluntarismo, que foi importante para iniciarmos esse primeiro ano”, reconhece o professor. Ao voluntarismo dos docentes, que se estendia também aos funcionários, somou-se a proximidade que unia toda a comunidade académica. “Funcionávamos como uma família. Conhecíamo-nos todos. Os alunos davam-nos sempre alguma prosa”, conta Natália Costa, uma das primeiras auxiliares da escola. Eram, então, menos de uma dezena de funcionários, incluindo o casal que vivia na escola, juntamente “com o cão bolinhas”, e que estava incumbido de abrir e fechar o edifício. Pedro Marques chegou à ESTG no segundo ano de actividade da escola e, apesar de ter estudado a poucas dezenas de metros, na Secundária Domingos Sequeira, não conhecia as instalações. Confessa que a primeira impressão não foi a melhor. “Era um edifício antigo, com alguns pormenores
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arquitectónicos interessantes, mas com lacunas. Havia laboratórios ainda em construção”, lembra o antigo aluno, hoje docente da escola, assegurando, no entanto, que o ambiente “familiar” que encontrou e a “disponibilidade e empenho” do corpo docente, superaram, “em muito”, essas limitações. “A REBENTAR PELAS COSTURAS”
Logo no segundo ano de actividade, a escola passou a disponibilizar os três cursos de bacharelato que tinha
(Engenharia Electrotécnica – Manutenção Industrial; Engenharia Mecânica – Moldes e Plásticos e Gestão Comercial – Marketing) em regime nocturno, o que contribuiu para um aumento do número de alunos. Ainda com a escola no Convento de Santo Estevão, a oferta formativa foi reforçada com novos cursos: Engenharia Informática e Engenharia Civil.
Este crescimento era “bem-vindo, mas criou dificuldades”, devido à falta de instalações adequadas, reconhece Carlos Neves, referindo que, “a determinada altura, a escola estava a rebentar pelas costuras”. A tal ponto, que “chegava a haver alunos sentados no parapeito das janelas a assistir a certas aulas”, conta Natália Costa.
Para minimizar essas limitações, a escola arrendou uma loja com armazém na avenida General Humberto Delgado, onde funcionaram cinco salas de aula e um bar. Entretanto, houve acordo para a cedência de uma parcela de terreno, propriedade da Prisão-Escola, para a construção de novas instalações da
PRESIDENTES DO CONSELHO DIRECTIVO/DIRECTORES
JOAQUIM FARIA
(1987-1995, PRESIDIU A TODAS
AS COMISSÕES INSTALADORAS)
CIDÁLIA MACEDO
(1995-1997)
NUNO MANGAS
(1997-2004)
CARLOS NEVES
(2004-2010)
LUÍS TÁVORA
(2010-2014)
PEDRO MARTINHO
(2014-2018)
CARLOS CAPELA
(2018/...)
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DATAS MARCANTES
1985
DIPLOMA DE CONSTITUIÇÃO DA ESTG
1987
TOMADA DE POSSE DA PRIMEIRA COMISSÃO
INSTALADORA, LIDERADA POR JOAQUIM FARIA
1989/90
INÍCIO DA ACTIVIDADE DA ESTG,
COM 100 ALUNOS E TRÊS CURSOS
1990/91
INÍCIO DOS CURSOS DE REGIME NOCTURNO
1993/94
PRIMEIRO CESE (CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO),
EM AUTOMAÇÃO E ROBÓTICA
1995/96
MUDANÇA PARA O MORRO DO LENA,
COM O EDIFÍCIO A A FUNCIONAR
INÍCIO DO CURSO DE GESTÃO COMERCIAL
(BACHARELATO) EM PENICHE, QUE
TERMINOU EM 2002
1996
PRIMEIRO DIA ABERTO
1997/98
ENTRADA EM FUNCIONAMENTO
DOS EDIFÍCIOS B E C
1998/99
INÍCIO DAS LICENCIATURAS BIETÁPICAS
1999
JOSÉ SARAMAGO APADRINHOU O ESPAÇO
DA BIBLIOTECA, QUE VISITOU A 27 DE MAIO
1999/00
PRIMEIRO MESTRADO (ECONOMIA E
ESTRATÉGIA EMPRESARIAL), EM PARCERIA
COM A FACULDADE DE ECONOMIA DA
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
1999/00
ENTRADA EM FUNCIONAMENTO DO EDIFÍCIO
DE ENGENHARIA AUTOMÓVEL
2001
ESTG RECEBE A PRIMEIRA ACADEMIA CISCO
(CISCO NETWORKING ACADEMY) CRIADA EM
PORTUGAL
2003
INAUGURAÇÃO, A 15 DE OUTUBRO, DO
EDIFÍCIO D E DA BIBLIOTECA, PELO
PRESIDENTE DA REPÚBLICA JORGE SAMPAIO
2007/2008
PRIMEIRO MESTRADO MINISTRADO PELA ESTG
SEM SER EM PARECERIA COM OUTRAS
INSTITUIÇÕES
ESTG no Morro do Lena, onde se previa que ficasse também o Instituto de Emprego e Formação Profissional de Leiria, o que nunca se concretizou.
MUDANÇA PARA O MORRO DO LENA
A mudança da escola para o Morro do Lena aconteceu em 1995, no mesmo ano em que a escola saiu do regime de instalação, com a constituição do primeiro Conselho Directivo, presidido por Cidália Macedo, ainda hoje professora na instituição.
Marta Henriques, actual directora dos Serviços Administrativos Próprios da ESTG, era, naquele Verão de 1995, uma jovem pretendente ao ensino superior e fez parte do grupo de estudantes que realizou as provas de ingresso nas instalações da ESTG no Morro do Lena, estreando o Edifício A. “Fomos nós que, pela primeira vez, usámos as salas, ainda antes dos alunos da ESTG”, recorda.
“O chão ficou com muita brita. Na prova de desenho, houve quem usasse as mesas para treinar antes de passar para o papel”, conta Natália Costa, frisando que, aquando da mudança, os arranjos exteriores não estavam feitos. Sem passeios e sem parque de estacionamento alcatroado, “sobrava lama e pedras soltas”. “Em dias de chuva, os mais prevenidos traziam galochas, que tiravam à entrada do edifício”, acrescenta a funcionária, referindo que a situação durou “mais de um ano”. Nesses primeiros tempos, também não havia cantina, o que motivou “reclamações e até manifestações” dos estudantes, que se queixavam ainda da falta de transportes. Apesar das lacunas iniciais, que não acompanhou por estar a fazer o doutoramento, Carlos Neves não tem dúvidas de que a mudança para o Morro do Lena (hoje designado por campus 2) representou “um enorme passo” para a escola “em termos de instalações e de equipamentos”, que, nos anos seguintes, registaram um grande incremento.
PERÍODO DE AFIRMAÇÃO DA ESCOLA
É nesta fase de crescimento que Nuno Mangas, professor da escola desde 1994, aceita o desafio para liderar instituição. Em 1997, com apenas 29 anos, deixa o doutoramento em stand
by, e assume a presidência do Conselho Directivo, onde se
mantém até 2004. Foi, diz, “um período muito intenso”, de afirmação da escola a vários níveis. “Quando entrei, havia cerca de 1700 alunos. Quando saí, sete anos depois, eram já 5360. Foi a loucura total. Umas vezes, uma corrida de 100 metros. Outras, provas mais longas e com obstáculos”, afirma, apontando a construção de infra-estruturas, para “suportar” o crescimento da escola, como “o grande desafio” dos seus mandatos.
No ano lectivo de 1997/98, entraram em funcionamento os edifícios B, para serviços, biblioteca e auditório, e C, para as componentes científica e pedagógica, que trouxeram um maior desafogo à escola, mas não por muito tempo. O início das licenciaturas bietápicas, que começaram em 1998/99, e a “pressão da sociedade e da tutela” para o aumento do número de cursos e de vagas sentida “no final dos anos 90”,
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impôs a necessidade de “mais salas e de mais laboratórios”, frisa Nuno Mangas.
É nesse contexto que surge o projecto para a construção do Edifício D, pensado “não apenas para o dia seguinte”, mas para os anos vindouros. Uma ambição que, segundo o então presidente do Conselho Directivo, não foi totalmente
compreendida. Apesar de o projecto contar com “todo o apoio do presidente do Instituto Politécnico, o doutor Luciano de Almeida, houve muitas dificuldades em conseguir a autorização da tutela para a obra, também porque o País atravessava um período complicado”. A obra acabou por avançar, tendo sido inaugurada em Outubro de 2003, juntamente com o edifício da Biblioteca José Saramago, pelo Presidente da República Jorge Sampaio. “Com a construção do Edifício D, pudemos respirar em termos de infra-estruturas”, afirma Nuno Mangas, sublinhando ainda o passo “gigante” que a escola deu ao nível das instalações laboratoriais, que hoje “são referência no contexto regional e nacional”.
A evolução das condições dos laboratórios é também realçada por Carlos Neves, que dá o exemplo da engenharia mecânica,
PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA EM 1998, JOSÉ SARAMAGO VISITOU A ESTG NO ANO SEGUINTE (27 DE MAIO), TENDO APADRINHADO A BIBLIOTECA QUE PASSOU A TER O SEU NOME;
JORGE SAMPAIO INAUGUROU, A 15 DE OUTUBRO DE 2003, O EDIFÍCIO D E A BIBLIOTECA E S T G E S T G E S T G E S T G
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7 139 375 440 1989 1999 2019 2009NÚMERO DE DOCENTES
13 87 354 1114 894 743 989 1991-92 1995-96 2000-01 2005-06 2010-11 2015-16 2018-19NÚMERO DE DIPLOMADOS
NÚMEROS ACTUAIS*
443
docentes70
espaços laboratoriais560
computadores(em sala de aula e laboratórios para acesso dos estudantes)
6.106
alunos47
trabalhadores técnicose administrativos
*à data de Novembro de 2020 cujo primeiro laboratório funcionou numa “antiga garagem” do
Convento de Santo Estevão, “com pouco mais de 40 metros quadrados”. “Hoje, apenas um dos seus laboratórios tem mais de 500 metros quadrados”, nota.
De acordo com dados publicados numa revista que assinalou os dez anos da ESTG, em 1999 a escola tinha “30 laboratórios e modernos equipamentos informáticos, com uma sala com 16 computadores de acesso livre para os estudantes, sete salas de informática, cada uma com 16 computadores”. Hoje, a ESTG conta com mais de 70 espaços laboratoriais e com cerca de 560 computadores para acesso dos alunos.
QUALIFICAÇÃO DO QUADRO DOCENTE
Mas a história da escola não se faz apenas de edifícios e de equipamentos. Faz-se, acima de tudo, com pessoas. E, também neste domínio, a evolução é avassaladora. A escola começou com 100 alunos, sete professores e outros tantos funcionários.
Hoje, tem 6.106 estudantes, 443 docentes (327,6 ETI - Equivalente a Tempo Inteiro) e 47 trabalhadores técnicos e administrativos.
Além da evolução quantitativa, tanto Nuno Mangas como Carlos Neves realçam a qualificação do corpo docente, nomeadamente, através do programa de doutoramentos. “Ter pessoal altamente qualificado foi dos contributos mais importantes para a afirmação da escola”, afirma Carlos Neves, que destaca ainda a relação de proximidade que a escola conseguiu sempre manter, “desde a origem até agora”, com a comunidade, nomeadamente a ligação com as empresas.
Também Nuno Mangas considera que este é outro dos factores do sucesso e do crescimento da ESTG. “Conseguimos criar uma grande escola, que é importantíssima para a região. Mas também porque a região nos foi desafiando a crescer e a evoluir. Que venham mais 30 anos de pujança para a escola, o que será, seguramente, também vantajoso para a região”, remata Nuno Mangas.