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Filosofia. Filosofia Antiga. Teoria. Pré-socráticos: os primeiros filósofos. Mileto. Samos

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Filosofia Antiga

Teoria

Pré-socráticos: os primeiros filósofos

Tradicionalmente, o período inaugural da filosofia grega é conhecido como pré-socrático. Iniciando em Tales de Mileto em VII a.C. até V a.C. alguns filósofos denominados pré-socráticos foram contemporâneos de Sócrates. Eles foram classificados como pré-socráticos por manter a tradição de investigar a natureza, não aderindo à virada antropológica promovida por Sócrates.

Como dissemos, a filosofia pré-socrática estava voltada à investigação do mundo e de seu funcionamento, motivo pelo qual esses pensadores também são denominados filósofos da natureza. Deve-se a eles a construção de uma cosmologia, uma abordagem racional para os problemas que os cercavam relativos ao funcionamento do mundo e, por extensão, do universo. A virada aqui é o reconhecimento da insuficiência das explicações vigentes, como a cosmogonia, que explicava a origem do universo a partir dos mitos. Deuses e heróis não mais satisfaziam a curiosidade e o fascínio do ser humano diante dos fenômenos naturais e, por isso, iniciou-se uma investida racional na percepção do mundo. Essa investida tenta encontrar um princípio fundamental para tudo que existe, a arché. A arché seria a substância que compõe tudo, que deu origem a tudo e que serve de matéria-prima para a existência.

Mileto

A Grécia Antiga nunca foi um Estado unificado, tal qual conhecemos na modernidade. Em vez disso, havia um conjunto de cidades-estados (pólis) independentes que formavam grupos de aliados e rivais. Dentre essas cidades estava Mileto, origem de Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Os três eram monistas, ou seja, acreditavam que a arché era composta por apenas um elemento.

Tales atribuiu a origem de tudo à água dada suas observações da necessidade do elemento para a geração e manutenção da vida. Anaximandro, seu discípulo, discordava. Para ele, era impossível observar o elemento primordial. Ele era infinito e indeterminado. Por isso, recebeu o nome de apeíron (indeterminado em grego), um elemento que é não só a origem, mas o fim de tudo. Já Anaxímenes, discípulo de Anaximandro, atribuía ao ar o caráter de arché, apesar de concordar com seu mestre de que a origem de tudo era indeterminada.

Assim, esse pensador diferenciou a origem e a matéria-prima, porque não admitia que o que existe e é perceptível sensorialmente seja composto pelo indeterminado.

Samos

Tendo contribuído para a história da filosofia com pelo menos um grande nome, Samos é uma cidade próxima a Éfeso e Mileto. De lá conhecemos Pitágoras, com uma proposta bastante distinta para a definição da arché.

Para ele, todas as coisas são números. Estudando a harmonia dos acordes musicais, Pitágoras percebeu que havia uma proporção aritmética nessa relação. A partir daí, tentou encontrar na natureza relações parecidas.

Profundo conhecedor de astronomia, percebeu a ordem matemática no movimento dos astros. A realidade

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então passou a ser percebida pela estrutura numérica. Os corpos são compostos por pontos e a quantidade de pontos de um corpo define suas propriedades. Essa proposta é mais formal, define uma ordem e medida para a existência sensível.

Éfeso

Também da Jônia, Éfeso é a cidade de um filósofo de grande prestígio. Heráclito também percebeu na natureza grande dinamismo, assim como os pensadores de Mileto, e que há constante transformação. Seu diferencial foi assumir como objeto de investigação a mudança, e não aquilo que permanece. Concluiu que tudo flui, tudo muda. Nada permanece em si. O ser agora é o vir a ser, o devir, uma constante mudança.

Observando, como seus predecessores, a ação dos opostos na natureza, Heráclito não apenas reconheceu esse conflito, como o assumiu como parte essencial de seu pensamento. É esse conflito entre bem e mal, frio e quente, seco e úmido que produz a eterna mudança, base do pensamento heraclitiano. Por isso, o fogo aqui recebe o estatuto de arché: em constante movimento, acendendo e apagando, consumindo e transformando.

Heráclito é mobilista, porque dá grande importância ao movimento, sendo também um dos primeiros pensadores a contribuir com o pensamento dialético.

Eleia

Na escola eleata, o que despertou a atenção dos pensadores foi a grande divergência de opiniões entre os filósofos anteriores. Por que a diferença entre as linhas de pensamento mobilistas? Parmênides conclui que os sentidos, na verdade, são enganosos e, por isso, não deveriam receber tanta atenção. Buscar a essência do mundo naquilo que não é essencial parecia um contrassenso para o pensador, que buscou resolver a contradição de procurar a permanência naquilo que não permanece. Parmênides privilegiou a razão, ignorando a mudança que percebia pelos sentidos. Afirmou que o ser é, ou seja, não pode deixar de ser ou existir numa não permanência. Aquilo que constitui o ser deve ser concebido como uma substância permanente e imutável. Para Parmênides, o ser é a arché. Temos então uma afirmação de cunho ontológico, a própria existência compõe a arché. O que é, é permanente. O que não é, não é permanente. A mudança agora é nada, o não ser, não existe. Por isso, Parmênides considerado como imobilista.

Parmênides dá os primeiros caminhos então para o surgimento de duas áreas da filosofia, a lógica e a ontologia, já que seu pensamento está profundamente baseado no princípio de identidade (todo “A” é igual a ele mesmo) e no princípio da não-contradição (se “A” é “A”, então ele não pode, ao mesmo tempo ser “A” e

“não A”), assumindo esses princípios lógicos para afirmar as condições de existência. Parmênides afirma então que, na filosofia, tem-se trilhado dois caminhos, o da razão (o seu) e o da opinião (o de Heráclito).

Perceba que esse conflito teórico baseará o pensamento de Platão futuramente.

Eleia também foi a cidade de Zenão, discípulo de Parmênides. Adepto da ideia de permanência, Zenão elaborou diversos argumentos que radicalizaram o pensamento de seu mestre. A própria ideia de movimento era contraditória para o pensador. Ele iniciou o questionamento sobre a compreensão de conceitos como movimento, espaço, tempo e infinito, entre tantos outros, através da formulação de paradoxos, sendo o mais conhecido o da corrida entre Aquiles e uma tartaruga.

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Aeragas

Empédocles tentou conciliar o pensamento de Heráclito e de Parmênides. Acreditando na permanência, buscou uma forma de racionalizar nossa percepção sensorial. Defendeu o fogo, a terra, a água e o ar como os quatro elementos primordiais, que reagem dinamicamente a dois princípios universais: a Amor, responsável pela união e harmonização; e o Ódio, responsável pela repulsão e dissolução. Tudo que existe está submetido a ação desses princípios.

Abdera

A cidade de Abdera é origem de Demócrito, talvez o filósofo com a proposta mais interessante para a arché.

A resposta concebida por ele, que era contemporâneo de Sócrates, foi, na verdade, um trabalho em conjunto com seu mestre, Leucipo. Sua proposta ficou conhecida como atomismo, já que propunha que a arché é o átomo.

Demócrito concordava com a noção de permanência, mas não aceitava o não ser como uma ilusão. O movimento, por exemplo, era uma prova da existência de um não ser. Muito próximo da concepção físico- química moderna da realidade, Demócrito afirma que tudo é composto por partículas minúsculas invisíveis e indivisíveis. Essa composição atendia às características de existência de Parmênides. Para ele, os átomos eram eternos, imutáveis e plenos.

Apesar disso, Demócrito expande a realidade afirmando que sua composição também inclui o vazio. Esse vazio é o que torna possível o movimento do ser. Sem espaço vazio, nada poderia se mover. O vazio em si não poderia compor a arché, pois era um não ser, restando para a existência ser composta pelos átomos.

A dinâmica de movimento entre os átomos gerava os diversos corpos com os quais podemos interagir. Os átomos se movimentam e se chocam ao acaso, formando aglomerações e repulsões. Importante então perceber a relevância que Demócrito dá ao acaso, à ausência de uma ordenação racional do universo.

Sócrates

Sócrates (c. 470-399 a.C) foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga e é considerado um dos fundadores da filosofia ocidental. Curiosamente, ele está entre os poucos pensadores da humanidade que não registraram as suas ideias por escrito. Por isso, tudo o que sabemos sobre o seu pensamento e a sua biografia vem dos relatos produzidos pelos seus discípulos, sobretudo Platão e Xenofonte. A presença de Sócrates como personagem principal dos diálogos platônicos, bem como a escassez de registros históricos fez com que, durante séculos, a sua real existência fosse amplamente questionada. Somente no século XIX, com o avanço das pesquisas, houve a possibilidade de comprovação da existência de Sócrates que, dentre outras coisas, teria participado da Guerra do Peloponeso.

O pensamento socrático é considerado um marco para a filosofia, na medida em que inaugura um período que ficou conhecido como antropológico. Partindo da máxima: Conhece-te a ti mesmo, inscrita na entrada do Oráculo de Delfos, Sócrates deslocou o foco da investigação filosófica das questões cosmológicas (acerca da origem e da composição do universo), para as questões antropológicas, isto é, questões relativas ao próprio homem, tais como: “O que é a coragem?”, “O que é a virtude?”, “O que é a justiça?” etc. A filosofia socrática era baseada na dialética. Ou seja, Sócrates buscava, por meio do diálogo, produzir uma transformação nos seus interlocutores. Mas, antes de passarmos ao método socrático, falemos um pouco da retórica dos sofistas, à qual esse método se opunha.

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Sofistas: os mestres da retórica

No período clássico (séc. V e IV a.C), o centro cultural deslocou-se das colônias gregas para a cidade de Atenas. Nesse período, Atenas vivia uma intensa produção artística, filosófica, literária, além do desenvolvimento da política. Nesse contexto, surgem os sofistas, pensadores que ficaram conhecidos como os mestres da retórica. Ironicamente, tudo aquilo que sabemos sobre eles procede das obras dos seus adversários (os filósofos). Por isso, eles passaram para a história como impostores, demagogos e enganadores. Na verdade, os sofistas eram professores itinerantes que cobravam por seus ensinamentos.

Mas o que ensinavam os sofistas? A retórica, isto é, a atacar e defender o mesmo assunto com argumentos igualmente fortes, além de técnicas de memorização, para que o orador fosse capaz de proferir longos discursos sem recorrer ao auxílio da leitura, bem como técnicas de dicção, para que ele pudesse pronunciar as palavras clara e corretamente, de modo a ser entendido por todos os ouvintes durante a assembleia. Seus alunos aprendiam, sobretudo, a dominar a arte da palavra, ou seja, a falar com ritmo, graça e elegância. Tais habilidades eram fundamentais na democracia ateniense, em que os cidadãos participavam ativamente dos debates públicos.

Entretanto, a argumentação retórica não pretendia alcançar a verdade, mas sim a persuasão. Em outras palavras, seu objetivo era convencer os interlocutores. Para os sofistas, a verdade é relativa (o que vale para um determinado lugar, não vale para outro), portanto o que importa é dispor de argumentos capazes de, em qualquer circunstância, vencer o debate. Essa postura lhes rendeu a fama de relativistas. Dentre os sofistas de maior relevância estão Protágoras e Górgias, ambos presentes nos diálogos de Platão.

Durante séculos perdurou uma visão pejorativa dos sofistas, mas a partir do século XIX uma nova historiografia surgiu, reabilitando-os e realçando suas principais contribuições. Dentre elas, a contribuição para a sistematização do ensino, elaborada a partir de um currículo de estudos dividido entre gramática (da qual são os iniciadores), retórica e dialética. Além disso, eles contribuíram decisivamente para o estabelecimento do sistema político democrático na Grécia.

O método socrático

É justamente em oposição à argumentação retórica dos sofistas que Sócrates desenvolve a dialética socrática, com o objetivo de mostrar um caminho racional para que os homens pudessem alcançar um conhecimento verdadeiro. Para ele, o objetivo do diálogo não é vencer ou persuadir, sua função é, sobretudo, alcançar a verdade. Ao contrário dos sofistas, Sócrates não cobrava por seus ensinamentos e não fazia qualquer distinção entre seus discípulos, pois acreditava que todos os homens, independente da condição financeira ou posição social, eram dotados de razão.

A dialética socrática consistia, basicamente, num duplo movimento. O primeiro chamado de ironia e o segundo de maiêutica. Embora, para nós, a ironia esteja ligada à figura de linguagem em que se diz o contrário do que se quer dar a entender, ou ainda à manifestação de descaso, ou de deboche, o sentido dentro do método socrático é outro. Ironia, do grego eironeia corresponde à “ação de perguntar, fingindo ignorar”. Desse modo, a ironia socrática diz respeito ao conjunto de perguntas por meio das quais Sócrates interrogava os seus interlocutores a respeito dos conhecimentos que, até então, eles julgavam possuir. Tal procedimento tinha o objetivo de fazer com que o interlocutor reconhecesse a fragilidade desses conhecimentos, bem como a sua própria ignorância.

Concluído o primeiro movimento, passa-se ao segundo: a maiêutica. A maiêutica consiste na investigação dos conceitos. Sócrates faz novas perguntas para que seu interlocutor reflita. Dessa reflexão, surge a

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possibilidade de formular novos conhecimentos, fundamentados na razão. Note-se que, por esse método, Sócrates não ensina nada às pessoas, elas é que buscam, dentro de si, aquilo que já sabem (reminiscência).

Maiêutica, do grego maieutiké significa “a arte de fazer um parto”. Sócrates dizia que, enquanto sua mãe fazia parto de corpos, ele ajudava a trazer à luz as ideias.

Platão

Platão (c. 428 - 348 a.C.) era filho de Ariston e Perictíone, ambos de famílias tradicionais de Atenas. Sua mãe, por exemplo, descendia de Sólon, grande legislador e um dos setes sábios da Grécia Antiga. Em sua obra, ele se dedicou a resolver o impasse filosófico criado pelo antagonismo entre as ideias de Heráclito e Parmênides.

Desse modo, Heráclito estaria certo ao observar o movimento, a mudança e a impermanência, pois focava no mundo sensível. A matéria é imperfeita, por isso, não consegue manter sua identidade. A experiência no mundo material é uma experiência contraditória, qualquer observação sobre o mundo das aparências produzirá opiniões contraditórias. Já Parmênides, estava correto ao exigir que a filosofia abandonasse o mundo material. O que é verdadeiro, e deve ser buscado, é o que permanece, o Ser, uno imutável, idêntico, eterno, inteligível.

Assim surge uma das teorias mais fundamentais para a compreensão do pensamento platônico a sua famosa teoria das ideias. Ela afirma que existem dois mundos, a saber: o mundo sensível e o mundo inteligível. O mundo sensível é exatamente este mundo que nós habitamos, ou seja, o mundo terreno da matéria, onde estão presentes todos os objetos materiais. Todas as coisas do mundo sensível, então, estão sujeitas à geração e à corrupção, podendo deixar de ser o que são e se transformar em outra coisa, esse é o mundo da variação, da mudança, da transformação. No entanto, por que Platão nomeia este mundo de habitamos de mundo sensível? Exatamente porque nós apreendemos esse mundo através de nossos sentidos, ou seja, nós percebemos as coisas desse mundo por intermédio dos cinco sentidos (visão, tato, olfato, paladar, audição).

Mas e o que é, então, o mundo inteligível para Platão?

O mundo inteligível ou mundo das ideias ou mundo das Formas é um mundo superior, apenas acessível ao nosso Intelecto e não aos nossos sentidos, que nada mais é do que o mundo do conhecimento ou da sabedoria. É contemplando as ideias do mundo inteligível através de nossa alma que podemos conhecer as coisas. Assim, o mundo inteligível é composto de ideias perfeitas, eternas e imutáveis, que podemos acessar através da nossa razão. Todas as coisas (materiais) que existem aqui no mundo sensível correspondem a uma ideia ou Forma lá no mundo das ideias. No mundo inteligível estão as essências ou a origem de todas as coisas que observamos no mundo sensível.

Assim, a origem das cadeiras que existem no mundo sensível é a ideia de cadeira. O que existe realmente é a ideia, enquanto a coisa material só existe enquanto participa de ideia dessa coisa. Essa é a teoria da participação em Platão: Uma coisa só existe na medida em que participa da ideia dessa mesma coisa.

Portanto, segundo Platão, a ideia é anterior às próprias coisas. Seguindo o nosso exemplo, a ideia de cadeira é anterior à existência das cadeiras particulares.

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Alegoria da caverna (Mito da caverna)

Para ilustrar o dualismo de sua famosa teoria das ideias, isto é, a sua concepção de que a realidade se divide em mundo sensível e mundo inteligível, Platão recorre a uma alegoria, a alegoria da caverna. Embora seja mais conhecida como mito da caverna, a alegoria de Platão se diferencia das narrativas míticas em alguns aspectos. De modo geral, entende-se por alegoria o modo de expressão ou interpretação que consiste em representar pensamentos e ideias sob a forma figurada. Em filosofia, a alegoria consiste em um método de interpretação, aplicado pelos pensadores gregos, por meio do qual se pretendia descobrir ou explicar as concepções filosóficas. Além disso, a alegoria da caverna não apresenta uma característica comum aos mitos, qual seja, a presença de seres mitológicos, como deuses, titãs, ninfas etc.

Platão inicia narrando um cenário onde homens estão presos no interior de uma caverna desde pequenos.

Estão acorrentados e não conseguem ver a entrada do recinto, fitando apenas o fundo. Atrás deles, fora da caverna, pessoas transitam com objetos nas mãos. Essas pessoas estão entre a caverna e uma fogueira, de modo que a luz emitida pela fogueira projeta as sombras as pessoas no fundo da caverna Tudo o que esses prisioneiros contemplaram até o momento são as sombras das pessoas transitando entre a caverna e a fogueira. Essa é toda a realidade que conhecem. No entanto, um preso se liberta e percebe que o que viu a vida inteira são meras sombras. Existe algo além, uma realidade superior que guarda a verdade. Ao tentar sair da caverna o prisioneiro terá dificuldades, pois a abundância de luz o incomodará. Adaptado à nova condição, o preso agora pode contemplar a realidade tal qual é, não apenas um reflexo.

Sentindo um compromisso de ajudar seus companheiros prisioneiros, o agora homem liberto retorna a caverna revelando a verdade sobre o mundo. Ocorre que, acostumados com a situação que vivem, esses homens irão caçoar da ideia absurda de sair da caverna. Caso o prisioneiro liberto insista, chegará ao ponto de, sendo considerado louco, ser morto pelos seus companheiros. Assim, Platão estabelece a diferença entre mundo sensível e mundo inteligível. O primeiro mutável e imperfeito; o segundo eterno e perfeito, onde todas as ideias derivam da ideia do bem.

Teoria da reminiscência

O processo de conhecer para Platão se submete a esse dualismo. Conhecer a verdade significa passar gradualmente das sombras e aparências para as essências. A primeira etapa do conhecimento é a doxa (opinião). Ela é definida pelas impressões ou sensações advindas dos sentidos. A doxa é todo saber que se adquire sem uma busca metódica. Mas, para obter um conhecimento autêntico, é preciso aplicar um método que permita ultrapassar os sentidos. Rejeitando a doxa, o homem deveria desenvolver o amor pela sabedoria (filosofia).

O método proposto por Platão é a dialética. Equivalente aos diálogos críticos de Sócrates, ela consiste em contrapor uma opinião à crítica possível, ou seja, uma tese que será confrontada com sua antítese (a negação dessa tese), produzindo uma purificação racional dessa tese, permitindo alcançar a verdade. É por esse processo que ocorre a reminiscência.

Segundo Platão, o ser humano é formado de uma parte mortal, a saber, o corpo; e uma parte imortal, a saber:

a alma; antes de habitarmos este mundo, nossa alma habitava o mundo das ideias. Lá ela possuía todo o conhecimento possível, não era ignorante a respeito de nada. No entanto, quando nossa alma se junta ao corpo, ela acaba se esquecendo de tudo aquilo que ela sabia lá no mundo das ideias. Assim, o conhecimento para Platão é reminiscência (ou seja, lembrança) daquilo que nossa alma já viu quando habitava o mundo

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inteligível. Conhecer é, portanto, nada mais do que lembrar, trazer de volta à memória aquilo que já vimos em outro mundo.

Política

Em sua obra A República, Platão nos apresenta a cidade ideal (Calípolis). É precisamente nesse diálogo que ele desenvolve, de maneira completa e bem acabada, o seu projeto político. Para ele, a cidade justa é constituída por três classes: a classe dos artesãos e comerciantes (responsáveis pela produção dos bens materiais, bem como de tudo o que é necessário à manutenção da cidade); a classe dos guerreiros (responsáveis pela defesa da cidade, seja de ataques externos, seja de conflitos internos) e, por fim, a classe dos guardiões (ou magistrados, a depender da tradução), responsáveis pelo governo da cidade, bem como pela elaboração das leis.

Desse modo, assim como a cidade é dividida em três classes, a alma do homem também tem três partes, são elas: a parte apetitiva ou concupiscente (alma de bronze, relativa à classe dos artesãos e comerciantes), a parte irascível ou impetuosa (alma de prata, relativa à classe dos guerreiros) e a parte racional (alma de ouro, relativa à classe dos guardiões). Disso decorre que a justiça na alma também corresponde a uma harmonia entre as partes, preservando-se a ideia de que a razão realiza uma função de comando, de coordenação e de educação das outras partes.

Com isso, a partir da famosa frase: "a cidade não será justa enquanto os reis não forem filósofos ou os filósofos não forem reis", Platão estabelece a chamada sofocracia, isto é, o governo dos sábios. Dessa perspectiva, aquele que tem aptidão para governar deve receber uma educação adequada para tal. Essa educação só pode ser uma educação filosófica, porque só a filosofia capacita o governante a contemplar a ideia do Bem, que é a ideia máxima no plano das ideias.

Aristóteles

Aristóteles (384 – 322 a.C.) era filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia. Ainda jovem, ingressou na Academia de Platão, permanecendo lá por aproximadamente vinte anos. Na ocasião da morte de Platão, Aristóteles não pôde assumir a direção da Academia, mesmo sendo o discípulo mais qualificado, pois era estrangeiro em Atenas.

Com isso, deixou Atenas em direção à Ásia menor. Em pouco tempo, foi chamado por Filipe II para ser professor de seu filho Alexandre, que viria a ser o imperador da Macedônia em 340 a.C. quando a relação entre mestre e discípulo foi interrompida.

Em 335 a.C. Aristóteles voltou para Atenas para fundar o Liceu, onde ensinou por 12 anos. Após a morte de Alexandre, Aristóteles teve que deixar Atenas pela sua proximidade com a corte macedônica, já que o sentimento antimacedônico era grande. Saiu afirmando querer evitar que os atenienses pecassem duas vezes contra a filosofia (Sócrates foi a primeira).

Os campos de estudo de Aristóteles incluem Metafísica, Física, Astronomia, Lógica, Ética, Política, Biologia etc. Esses campos, apesar de estudados “individualmente” não eram ramos tão especializados como no contexto atual da ciência e filosofia. A metafísica, por exemplo, é chamada por Aristóteles de filosofia primeira, uma ciência geral que não se dedica à questão particular nenhuma, mas a tudo. Todos os campos

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estavam integrados numa grande “árvore” do conhecimento, visão que perdura até o fim da Idade Média, quando o Renascimento refunda a ciência e derruba muitas das concepções científicas aristotélicas.

A Metafísica de Aristóteles

Para Aristóteles, as ciências deveriam encontrar o que define os seres, isto é, o que os constitui em termos reais. Por isso, ele rejeitou a ideia de Platão de que a realidade estaria em outro mundo (o mundo inteligível), compreendendo essa percepção como uma extravagância. Aristóteles acreditava que “conhecer é conhecer pela causa”, no mundo material. Desse modo, entender o funcionamento do mundo material e descobrir a essência das coisas eram os seus principais objetivos.

Para Aristóteles, a natureza tem ciclos regulares: a vida nasce, cresce e morre. Estamos integrados num todo coeso e lógico. As mudanças e transformações fazem parte da ordem que guia a sucessão de acontecimentos. O inteligível e o sensível estão juntos nessa realidade dinâmica. A separação entre eles só é possível conceitualmente, já que formam um todo existencial. Assim, Aristóteles propõe dois princípios que regem a existência: matéria (hylé) – daquilo que a coisa é feita; e forma (morphé) o que determina como a matéria se apresenta.

Essa proposta ficou conhecida como hilemorfismo. Enquanto a matéria é, digamos, a composição da coisa, a forma permite que essa coisa seja distinguível e apresente características distintas que a tornam o que é.

Aristóteles não abandona completamente as concepções de Platão, mas as coloca no nosso mundo, numa camada de existência que requer reflexão e depuração para observar. Porém, ele não aceita que o mundo que experimentamos, por meio dos sentidos, seja mera ilusão, como se não existisse. A partir da doutrina platônica, ele organiza os fenômenos sensíveis de maneira compreensível.

Para tal, Aristóteles teve que enfrentar outro problema: o que faz as coisas permanecerem ou mudarem? Essa polêmica clássica, iniciada com Heráclito e Parmênides, também orienta a doutrina aristotélica. Deslocando a questão da mudança em si para a realidade que sofre a mudança, Aristóteles torna o movimento heraclitiano ontológico. Para ele, uma semente não é uma planta, mas pode vir a ser, ao passo que um livro, não. A mudança não é uma conversão aleatória daquilo que compõe as coisas, mas uma transformação possível, que segue uma ordem já presente na coisa antes de sua mudança. Assim, temos o ato, que representa a situação atual do ser, o que ele é; e a potência, o vir a ser aristotélico, contido nas possibilidades de cada coisa.

Tudo na natureza é ato e potência, seguindo o ciclo observado por Aristóteles. Encontrando as condições necessárias para tal, um bebê nasce, cresce e morre, assim como uma semente que se transforma numa grande árvore que pode vir a dar flores e frutos. Podemos ainda, relacionar a matéria à potência, o substrato que ainda não é, assim como a forma ao ato, o que define o ser, como se manifesta. Convém observar ainda, que Aristóteles afirma que o ser é substância. A substância possui predicados, ou seja, características que são os acidentes, atributos não essenciais, mas sim circunstanciais do ser. Além dos acidentes, a substância é composta pela essência, que é o atributo estrutural e que, portanto, está intimamente ligado ao ser, como aquilo que o define.

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Teoria das quatro causas

Aristóteles aponta para uma diferença fundamental entre os seres: há uma classe de seres naturais e outra de seres artificiais. Para ele, na primeira classe, a transformação está contida no interior do ser. Na segunda classe, o movimento é causado por algo externo, um princípio exterior. Isso significa dizer que a mudança observada no que é natural também é natural, já que interna às condições da natureza, enquanto o que é artificial depende da ação externa, muitas vezes manifestada na vontade e intenção de causar essa mudança.

Assim, temos a transformação de origem interna e externa, dependendo da situação do ser, que faz da potência, ato. Esses princípios são chamados de causas, sendo quatro as causas fundamentais.

A causa material se refere à matéria que compõe a coisa. Uma espada pode ser confeccionada de metal, um banco de madeira etc. Já a causa formal, está ligada à característica que torna o ser distinto, o que lhe confere identidade. Uma mesa tem forma de mesa, uma taça tem forma de taça e por aí vai. A causa eficiente, por sua vez, refere-se à ação (e agente) gerador da coisa. O que deu forma à matéria? O que produziu aquela existência? É para essa direção que essa causa aponta. E, por último, a causa final, no sentido de objetivo, finalidade, razão, motivo. É a causa ligada à justificação daquele ser. A causa final, para Aristóteles, é a mais importante, pois é ela que dá o sentido para o ser.

Primeiro motor imóvel

Por refletir numa perspectiva que envolve ação e finalidade, Aristóteles esbarrou na questão da origem do mundo. Se o que existe foi feito e tem um fim, o que fez o mundo e por quê? Para solucionar essas questões, ele concluiu que, na verdade, o mundo é eterno, sem início e sem fim. Partindo da proposta de movimento, seria contraditório pensar que algo dá origem ao mundo, pois não há onde o mundo possa se apoiar para seu surgimento, não há uma existência que seja ato e possa potencialmente se tornar o mundo.

Essa conclusão é bastante lógica, porém ainda incompatível com o pensamento aristotélico. Tudo que está em movimento é colocado em movimento por algo, isso o leva a especular e, intuitivamente, perceber que deve haver algo que pôs o mundo em movimento, um primeiro motor, um agente iniciador, mas que não foi iniciado por nada e que é a causa primeira do movimento.

Esse primeiro motor precisa ser ele mesmo imóvel para impedir que a cadeia de movimento regresse ao infinito. Aristóteles pondera que esse motor é um ato bom, puro, perfeito e eterno e, por isso, é capaz de produzir movimento sem ter sido movimentado. Essa noção está relacionada à concepção teleológica de Aristóteles, segundo a qual tudo que compõe a realidade tem, necessariamente, uma função e uma finalidade que lhe é própria. Sendo assim, como tudo tende ao que é bom, a atração produzida pelo primeiro motor produz o movimento.

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Ética

A ética aristotélica, assim como suas outras teorias, é grande devedora de seu mestre Platão. Mas, assim como em suas outras doutrinas, Aristóteles se afasta de seu mentor incluindo a prática e a experiência como parte crucial da existência, do conhecimento e da virtude.

A proposta da ética aristotélica também é teleológica. Como já comentamos, para Aristóteles a existência era um todo integrado e analisado como uma grande árvore, o que significa dizer que sua concepção teleológica permeia todas as suas teorias.

Na ética, o pensador afirma que tudo é bom quando alcança seu fim. Sendo assim, aquilo que cumpre o que lhe é próprio pode ser chamado de bom. Um exemplo comum é o do lápis. Não importa quais características um lápis carregue, que seja belo ou inquebrável, se ele não permite escrever então ele não é bom, pois o fim do lápis é a escrita ou, por extensão, a grafia. Mas como definir que um ser humano é bom?

Telos, eudaimonia e razão

Já vimos que telos é fim, objetivo. Para Aristóteles, tudo que alcança seu fim é bom. Então, para uma pessoa, ser boa significa alcançar seu fim. Mas não se trata de objetivos individuais, não estamos falando de metas ou sonhos pessoais. Aristóteles está pensando no ser humano como uma categoria e, para categorizar o ser humano, precisamos identificar o que há de geral nas pessoas e o que as diferencia dos outros seres.

Antes de partir para a definição do ser humano e sua finalidade, vamos pensar na virtude. A virtude é a propriedade mais essencial de um ser, ela que distinguirá esse ser dos outros. Essa virtude aponta para o perfeito exercício e atuação desse ser. Ou seja, a virtude está ligada à finalidade. Uma faca é virtuosa quando corta bem, assim como um médico é virtuoso quando cuida bem de seus doentes.

O ser humano possui uma ampla gama de habilidades, capacidades e competências. Podemos fazer inúmeras coisas que, inclusive, nos aproximam de outros seres (como correr, morder, dormir etc.) Mas o que nos distingue, nossa virtude, é a razão. Para Aristóteles, o fim do ser humano é a felicidade, a eudaimonia, que consiste na manifestação do bem nas pessoas. Para alcançar esse fim, o caminho é a virtude, a racionalidade.

Ter racionalidade não é o suficiente. Já falamos que Aristóteles dá grande relevância para a experiência e a prática. A virtude precisa ser então praticada, exercitada. É preciso se esforçar para transformar em ato aquilo que nos é dado como potência. Portanto, é necessário praticar a reflexão e a contemplação, com o fim de alcançar a virtude. Não se é virtuoso de um dia para o outro, muito menos feliz.

Várias virtudes

Apesar de assumir a racionalidade como a essência do ser humano, Aristóteles reconhece que somos capazes de realizar muitas coisas. Quer dizer então, que podemos desenvolver várias virtudes? Sim! Para o pensador, a felicidade é alcançada pelo exercício dessas várias virtudes e não só da racionalidade. A própria contemplação só é possível com bem-estar social, boas companhias, condições materiais e paz. Para gozar de uma vida que proporciona as condições ideais para o exercício da contemplação é preciso exercitar outras virtudes, como a generosidade, a coragem e a justiça. Não basta refletir, contemplar, enfim, não basta ser um filósofo.

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Felicidade racional

Como a racionalidade é a base fundamental da ética aristotélica e é por ela que alcançamos a felicidade, uma busca de prazer desequilibrada conduz no sentido contrário à realização da finalidade do ser humano. O que faz o homem ser bom, sua felicidade, não é fruto de exuberâncias e exageros, mas sim de equilíbrio e de ponderação.

A partir do exercício da reflexão e da contemplação, o indivíduo compreende a essência da felicidade, que não reside na superficialidade de prazeres efêmeros e exagerados, mas numa conduta racional, a essência do ser humano. A partir dessa reflexão o indivíduo guia sua conduta. Mas e as pessoas comuns, que não desfrutam das condições ideais para realizar essa reflexão? Bom, aí entra a prática mais uma vez. O exercício continuado de boas práticas leva a bons hábitos, uma conduta boa que também levará a felicidade.

A excelência moral para Aristóteles está no exercício de virtudes que se configuram por ser um estado intermediário, o excesso ou a falta do que é conveniente deteriora a conduta. A virtude está no meio-termo, o que chamamos de mediania. Esse ponto de equilíbrio não é fixo. Ele varia conforme a circunstância. A virtude da coragem, por exemplo, que é a capacidade de enfrentar o perigo, está entre o vício que consiste na sua ausência, isto é, o vício da covardia e aquele que consiste no seu excesso, isto é, o vício temeridade.

Política

Do pensamento de Aristóteles sobre política vem a famosa frase: “o homem é um animal político” (zôon politikon). Ela representa a noção do filósofo de que somos seres sociais por natureza já que, apenas vivendo na pólis, o homem é capaz de desenvolver plenamente as suas potencialidades. Para Aristóteles, a organização em sociedade é um impulso natural e, por isso, a própria sociedade deve ser organizada conforme a natureza humana. Mais uma vez a questão teleológica entra na jogada. Se a finalidade do ser humano é ser feliz, a finalidade da sociedade é produzir o bem comum. Aqui observamos uma aproximação entre a ética e a política, uma tratando do bem na esfera individual e outra tratando do assunto na coletividade.

A política e a ética são então complementares, ambas necessárias para produzir as condições de alcance da felicidade. A pólis seria a forma de organização por excelência, sendo considerada um fenômeno natural. Na concepção do pensador, todo o gênero humano deveria se organizar nesse formato. Como é ela que oferece as condições para que estejamos vivos, a cidade precede o indivíduo. Sem a cidade o indivíduo está perdido, sem um indivíduo a cidade continua.

Além de tratar da organização do Estado (em cidade-Estado ou pólis) e dos objetivos da política, Aristóteles se notabilizou pelo estudo das organizações políticas de diversas sociedades diferentes. O resultado desse estudo se manifesta na consolidação de formas de governo gerais, como seguem:

Monarquia – governo de um sobre os demais, visando o bem comum;

Aristocracia – governo de um reduzido número de homens (os melhores) sobre os demais, visando o bem comum;

Politeia – governo da massa, visando o bem comum.

Quando essas formas de governo deixam de visar o bem comum, elas se tornam corrompidas ou degeneradas, conforme a seguir: a monarquia se corrompe em tirania, que consiste no exercício do poder de forma arbitrária, visando os interesses realeza; a aristocracia se corrompe em oligarquia, que consiste no governo de poucos, visando os interesses dos ricos; a politeia se corrompe em democracia, que consiste no

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governo da massa, visando unicamente os interesses dos pobres. Note-se que o que nós chamamos de

“democracia” atualmente nem sequer faz parte do quadro de regimes políticos em Aristóteles: não só a nossa democracia é representativa (a democracia antiga é direta), mas aqui em particular cabe notar que a nossa democracia é o governo de todos, não da massa (por oposição à elite).

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Exercícios

1.

O primeiro filósofo de que temos notícias é Tales, da colônia grega de Mileto, na Ásia Menor. Tales foi um homem que viajou muito. Entre outras coisas, dizem que, certa vez, no Egito, ele calculou a altura de uma pirâmide medindo a sombra da mesma no exato momento em que sua própria sombra tinha a mesma medida de sua altura. Dizem ainda que, em 585 a.C., ele previu um eclipse solar.”

(GAARDER, J. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995).

Aos primeiros filósofos que se debruçaram sobre os problemas do cosmo, podemos chamá-los, além de pré-socráticos, de

a) naturalistas ou fisicistas b) existencialistas.

c) empiristas.

d) espiritualistas.

2.

Sócrates representa um marco importante da história da filosofia; enquanto a filosofia pré-socrática se preocupava com o conhecimento da natureza (physis), Sócrates procura o conhecimento indagando o homem. Assinale o que for correto.

(01) Sócrates, para não ser condenado à morte, negou, diante dos seus juízes, os princípios éticos da sua filosofia.

(02) Discípulo de Sócrates, Platão utilizou, como protagonista da maior parte de seus diálogos, o seu mestre.

(04) O método socrático compõe-se de duas partes: a maiêutica e a ironia.

(08) Tal como os sofistas, Sócrates costumava cobrar dinheiro pelos seus ensinamentos.

(16) Sócrates, ao afirmar que só sabia que nada sabia, queria, com isso, sinalizar a necessidade de adotar uma nova atitude diante do conhecimento e apontar um novo caminho para a sabedoria.

Soma: ( )

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3.

Leia o texto de Platão a seguir:

Logo, desde o nascimento, tanto os homens como os animais têm o poder de captar as impressões que atingem a alma por intermédio do corpo. Porém relacioná-las com a essência e considerar a sua utilidade, é o que só com tempo, trabalho e estudo conseguem os raros a quem é dada semelhante faculdade. Naquelas impressões, por conseguinte, não é que reside o conhecimento, mas no raciocínio a seu respeito; é o único caminho, ao que parece, para atingir a essência e a verdade; de outra forma é impossível.

(PLATÃO. Teeteto. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. p. 80.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria do conhecimento de Platão, considere as afirmativas a seguir:

I. Homens e animais podem confiar nas impressões que recebem do mundo sensível, e assim atingem a verdade.

II. As impressões são comuns a homens e animais, mas apenas os homens têm a capacidade de formar, a partir delas, o conhecimento.

III. As impressões não constituem o conhecimento sensível, mas são consideradas como núcleo do conhecimento inteligível.

IV. O raciocínio a respeito das impressões constitui a base para se chegar ao conhecimento verdadeiro.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas

4.

A formação da polis, na Grécia Antiga, caracterizou-se por uma estrutura sociopolítica em que havia uma divisão substancial entre a esfera privada e a esfera pública. Com base na afirmação acima, assinale o que for correto.

(01) A divisão entre a esfera privada e a pública não impediu que todos os habitantes de Atenas participassem da vida política que se realizava na esfera pública.

(02) A Retórica era mal vista, pois era considerada um recurso linguístico enganoso e demagógico utilizado para ascender ao poder da esfera pública.

(04) Na esfera pública, é garantida a igualdade de direitos perante a lei, isto é, o princípio de isonomia, como também é reconhecida a igualdade de direito ao uso público e político da palavra, ou seja, o princípio de isegoria.

(08) Aristóteles, na sua obra Política, defende uma democracia em que a participação na esfera pública é concedida a todos os habitantes da polis.

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(16) Habituados ao discurso, os cidadãos gregos encontram na ágora o espaço social para o debate e o exercício da persuasão, dando-lhes a possibilidade de decidir os destinos da polis.

Soma: ( )

5.

É da mesma maneira, então, que adquirimos as virtudes. Isto é, primeiramente pondo-as em prática. É assim também que fazemos com as restantes técnicas, porque, ao praticar, adquirimos o que procuramos aprender. Na verdade, fazer é aprender.

Aristóteles. Ética a Nicômaco, II, 1, 1103 a 33-35.

A partir do fragmento e de seus conhecimentos sobre o assunto, responda:

a) Qual é a relação entre virtude e felicidade, segundo Aristóteles?

b) Como pode o homem adquirir as virtudes éticas?

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Gabarito

1. A

Os filósofos pré-socráticos também são chamados de naturalistas ou fisicistas pois seu principal objetivo era encontrar arché, o princípio fundador da natureza (“physis” em grego).

2. 02 + 04 + 16 = 22

(01) incorreta. No diálogo Apologia de Sócrates, escrito por Platão, lemos o discurso proferido pelo próprio Sócrates diante dos seus acusadores. Nele não há a negação de nenhum dos princípios da filosofia socrática.

(08) incorreta. Diferentemente dos sofistas, Sócrates não cobrava nada por seus ensinamentos.

3. A, C, D e E Incorretas. A verdade ou o conhecimento não são acessíveis por meio da experiência, ou seja, das sensações e impressões advindas dela. B Correta. A partir das impressões e de determinado raciocínio a respeito delas, os homens são capazes de chegar ao conhecimento e à verdade. É por essa afirmação que Sócrates é considerado parteiro das ideias, quando demonstra que qualquer homem, senhor ou escravo, quando exposto a determinada experiência e munido de certo raciocínio, chega ao conhecimento e à verdade.|

4. 04 + 16 = 20

(01) Incorreta. A participação na vida política não era privilégio de todos os habitantes, mas apenas daqueles que possuíam o status de cidadão, o que exclui ecravos, mulheres, estrangeiros etc.

(02) Incorreta. Embora filósofos como Sócates e Platão condenassem a retórica, ela era bem aceita pela população em geral que, inclusive, pagava aos sofistas para aprendê-la

(04) Na esfera pública, eram garantidos aos cidadãos tanto a igualdade perante a lei (isonomia) quanto o direto de pedir a palavra nas assembleias (isegoria).

(08) Aristóteles, na sua obra Política, defende uma democracia em que a participação na esfera pública é concedida a todos os habitantes da polis. Incorreta, Aristóteles, assim como Platão, foi um grande crítico da democracia ateniense, entendida como um regime político corrompido em que a massa governa visando apenas os seus interesses e não o bem comum.

(16) Na ágora, por meio de assembleias e debates, decidia-se os destinos da pólis.

5.

a) Para Aristóteles, a felicidade é uma atividade da alma segundo a virtude e, então, o fim último do agir/existir humano (seu télos). A virtude, por sua vez, deriva de ação calibrada por princípio orientador geral, verossímil, determinado pelo ajustamento racional da conduta prática entre extremos considerados defeitos. Então, a ação virtuosa encontra-se na mediania entre o excesso e a falta (por exemplo, a coragem é mediania entre a temeridade e a covardia). O intelecto é o que há de superior no homem e nenhum dos outros seres vivos é feliz, porque não participa em nada da especulação.

Portanto, tanto quanto se estende a especulação (que leva à virtude), mais se estende a felicidade.

b) Segundo Aristóteles, as virtudes éticas derivam em nós do hábito. Pelo exercício o homem traduz a potencialidade da virtude em ato. Apenas agindo, justos tornam-se justos. É pelo hábito que se chega ao meio termo, à virtude que se encontra entre o excesso e a falta, à justa proporção, via de meio entre extremos da ação humana.

Referências

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