MEST RADO E M EDU CAÇÃO EM C IÊ NCIAS E MATEMÁ TICA
A VISÃO D E CI ÊNC IA D E PRO FESSO RES DE FÍS ICA DO ENSI NO MÉD IO DE G O IÂN IA E S UA R EL AÇÃ O COM O S LIVRO S DIDÁT ICOS
L UC IM A R M ORE IRA FAR I A
GO IÂNIA 200 9
Livros Grátis
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A VISÃO D E CI ÊNC IA D E PRO FESSO RES DE FÍS ICA DO ENSI NO MÉD IO DE G O IÂN IA E SUA R EL AÇÃ O COM O S LIVRO S DIDÁT ICOS
Dis ser tação d e M estr ad o ap resent ad a ao
Pr o gr am a d e Pó s-Gr ad u ação em
E du cação em Ciênc ias e M atemát ica d a Un iver s id ad e F ed era l d e Go iás, co mo r equ is ito p arcial p ara a ob tenç ão d o gr au d e M estr e .
Pr o f. Dr. Ju an Ber nard ino M arq u es Bar rio – Or ie nt ad o r
GO IÂNIA 200 9
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) GPT/BC/UFG
F224v
Faria, Lucimar Moreira.
A visão de ciência de professores de Física do Ensino Médio de Goiânia e sua relação com os livros didáticos [manuscrito] / Lucimar Moreira Faria. - 2009.
xiii, 92 f. : il., figs, tabs.
Orientador: Prof. Dr. Juan Bernardino Marques Barrio Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática, 2009.
Bibliografia.
Inclui lista de figuras, quadros e tabelas.
1. Ciência - Visão 2. Livro Didático - Física 3. Natureza da ciência. I. Título.
Po r
LUC IMA R MOREIRA FARIA
Dis ser tação d e M estr ad o ap r o vad a p ar a
ob tenção do gr au d e M estr e em
E du cação em Ciênc ias e M atemát ica, p ela Banca ex am inad o ra fo r mad a po r:
___ ____ __ __ ____ ____ __ __ ____ ____ __ __ ___ _ ____ _ ___ __
Pr es id ente : Pr o f. Dr . Ju an Ber nar d ino M ar qu es Bar r io - Or ien tad o r , UFG
___ ____ __ __ ____ ____ __ __ ____ ____ __ __ ___ _ ____ _ ___ __ M emb ro : Pr o f. Dr. Cáss io Co sta L ar an je ir as - UNB
___ ____ __ __ ____ ____ __ __ ____ ____ __ __ ___ _ ____ _ ___ __ M emb ro : Pr o f. Dr . Pau lo Celso Ferr ari - UF G
À Deu s, q ue es t eve pr es ent e em t od a mi nh a ca mi nha da e é res pon sá vel po r es t a vi t ór i a. “ A El e t oda a g l ór i a”.
Ao s meus pa i s, Jos i n o e Z i l da, pel o exemp l o de vi da e car át er , mesmo di a nt e de t ant a s d i f i cu l dad es , s emp r e emp enh ar am em g ar ant i r e acompa n ha r mi nha ed uca ção. Pel a con f i an ça, p el a dedi ca çã o, p el o amor . Em es p eci al , à mi n ha mã e, meu po rt o -s egu ro . Que t ev e s ab ed or i a em enf r en t ar t od os os ob st á cu l os que a vi d a pr op or ci o no u. Que t eve s ab ed or i a em gu i a r es t a f amí l i a l i n da , ao q ua l t en ho o rg ul h o de per t en cer. M i nh a gr at i d ão não ca be em pa l avra s.
Ao meu es pos o Rodr i go , pel a d ed i cação , pa ci ênci a e amor . Por s er o meu a mo r, comp anh ei r o e i ncen t i va dor , s up or t and o i n úmer os mom ent os de au sên ci a, com a comp re en sã o e o a poi o que t an t o me f or t al ec er a m.
Aos meu s i r mão s, q ue sã o o s mel hor es d o mu n do.
Em pr i mei r o l u gar , a gr ad eço a DE US p or t er me gu i ado e me da do f or ça e ca paci da d e p ar a mai s es t a co nqu i st a e pr i n ci pal ment e p or t er me a ben çoad o co m uma f a míl i a mar avi l hos a. Ob ri g ada Senh or !
Ao p ro f es s or Dr . Ju an Ber nar di n o M ar ques B ar ri o , meu o ri ent a dor , qu e m e d ei xo u percor r er o m eu pr ópr i o cami nho , s em me dei xa r s ó. Qu e op or t uni z ou p r eci o so s en co nt r os de a pr en di z ag em, t r o ca d e id éi a s, a l eg re co n vi vênci a e a mi z ad e. O meu si n cer o ag ra d eci m ent o p or t er acr ed i t ado qu e eu era ca paz .
Já com sa ud ad e e co m mui t a al egr i a e car i nho a gr ad eço a o pr o f es so r Dr . Pa ul o C el s o Ferr a ri pel a con fi a n ça, pel as co nt r i bu i ções e pel o ap oi o , pel a ami z ad e par a al ém des t e t ra ba l ho.
Ao pr of ess o r Dr. C ás si o C o st a L a r anj ei ra s , pel as co nt r i bui çõ es pa ra m el hor i a e or ga ni z ação d es t e t ra bal h o no momen t o d a qu al i f i cação.
Aos p ro f es s or es ent r evi s t ado s da pes qui s a, cu j as i d en t id ad es est ã o pr es er vada s, pel a bo a r ecept i vi da d e e emp enho em aj ud a r , cedend o p ar cel a d e seu t emp o par a me con ced er u ma en t re vi s t a, s em a qu al est a di s ser t ação n ão pod er i a l o gr ar êxi t o.
Aos Pr of ess or es d o Pr og ra ma de M es t ra d o , pel a cont r i bu i çã o e auxí l i o n es t a f or mação, a br i nd o os cami nh os par a o co nh eci ment o .
Ao meu p ai , mãe e i rmã os p or t oda a vi da . Semp re es t i ver am d i sp on í vei s e t a l ve z nã o s ai ba m o qu ant o me aj u dar am. Em esp ec i al á mi n ha mã e, Z i l da Mo rei r a Far i a, ob ri g ada por t od a l ut a que a s en ho ra en f r en t ou por nó s e qu e per mit i u co m q ue eu ch eg as s e at é aq ui . Dep oi s d e t an t o so f rer, r econ h eç o n a pur ez a d e seus ol ho s, o ver dad ei r o a mo r .
Ao meu es po so , Ro dr i go Al ves , compa nh ei r o e a mi g o, com que p ude con t ar em t od os os mo ment o s, mes mo s en d o os ma i s ár duo s e di f í cei s . É gr an d e a mi n ha f el i ci da de por vo cê est a r em min ha vi d a e ao meu l ad o. Ob ri g ada meu amor .
Aos meus a mi g os , p el a co mpr ee ns ão pel os moment o s de a u sê n ci a. Por t o das a s or ações q u e dedi car a m a mi m e a mi nha f amí l i a. Ag ra deço co m imens o car i nh o.
Em es p eci al ao p r of es s or Dr . It amar Jos é M or aes p el a dedi cação no i n í ci o d es t e t ra ba l ho e pel os bel os ges t os de ami za d e.
Ao p r of es s or Gi l bert o Ant ô ni o T avar es , p el a di s pos i ção em s empr e me a j uda r qu and o pr eci s ei , p r i nci p al ment e p el o s con sel ho s e di vers os l i vr o s empr es t ad os .
Aos ami go s con qu i st a dos du ra nt e o mes t r ad o , ag ra deço p el o ap oi o e pel as red es de t ro ca s e pr o duçõ es q ue des envol vemos no de co rr er d o cur so .
Agr ad eço a C A PES pel o i n cent i v o f i nan cei ro di s p oni b i l i za do par a a real i z açã o dest a pesq ui s a.
. . . e a t od os àqu el es que de al g uma f o rma p a r t i ci p ar am e co nt r i buí r am p ar a a r eal i z ação d es t e t ra bal h o, e qu e nã o f o ra m ci t ad os , mas co m cert ez a nã o f o ra m es qu eci do s. . .
"A ci ênci a hu man a d e ma nei r a n enh u ma ne ga a exi s t ên ci a d e D eus . Quand o c on si d er o qu an t a s e qu ão mar avi l h os as coi s as o h ome m co mpr e en de, pes qu i s a e cons e gu e r eal i zar , en t ã o r ec onh eç o cl ar a men t e q u e o e s pí r i t o hu man o é o br a de Deu s , e a mai s n ot á vel . "
( Gal i l eu Gal i l ei )
" Se pr ocur ar a s a bed or i a c omo s e pr o cu r a a pr at a e bu s cá -l a co mo q u e m bus ca u m t es our o es c on di d o, en t ão voc ê en t en d er á o q u e é t e mer ao S en h or e ach ar á o c on he ci men t o d e Deu s. "
O p r esent e e stu d o inv estigo u as co n cep çõ es so b r e ciênc ia d e u m gr u p o d e p ro fes so res q u e atu a na ár ea d e Fís ica ( E ns ino M éd io ) em esco las p ú b lica s e p ar ticu lar es na c id ad e d e Go iâ nia – GO e su a r elaç ão co m o s livr o s d id át ico s. Pr o cu ramo s id entif icar a co ncep ção d e ciê ncia d o s p ro fesso r es p esq u isad o s e a natu reza d a ciên cia p r ese nte em a lgu ns livr o s d id ático s ad o tado s po r este s p ro fes so res. I nic ialme nte d iscu tim o s d ifer ente s co ncep çõ es p ar ad igmát icas d e natu reza d a ciênc ia e su as imp licaçõ e s p ar a o ens ino d e ciê nc ias. Nesta invest igação , ado tamo s u m a abo rd agem q u alitat iva co m análise d e co nteú d o e, co m o instr u me nto s d e inv estigação , u tilizamo s qu estio nár io e entr ev ista s em i-estr u tu r ad a. Per ceb emo s qu e o s p ro fesso r es exp re ssam visí veis co ntr ad içõ es o qu e ind ica q u e eles não po ss u em u ma visão d e ciênc ia co nst itu íd a, ao m esmo tem p o qu e, co rr obo ram as co ncep çõ es p r esente s no s livr o s d id ático s , d e caráter p r ed o mina nt em ente em p ir ist a- ind utivista.
T he p r ese nt stu d y has inve st igat ed the co ncep tio n o f sc ienc e fro m a teacher s' gr o up who actu ates in t he ar ea o f P h ys ics (S eco nd ar y ed u catio n) in p ub lic and p ar ticu lar s cho o ls in t he Go iania c it y - GO and their r elat io ns hip wit h text boo ks. We tr ied to ind ent if y t he co ncep tio n o f sc ience o f t he inve st igat ed teachers and the o r igin o f t he sc ience in so me text b oo ks ad op ted b y t hese teachers. In it iall y, we ta lked ab ou t the d iffere nt p ar ad igmat ic co ncep tio ns o f the sc iences' n atu r e and t he y im p licat io ns fo r the sci e nce teachin g. I n t his invest igat io n, we ad o p ted a qu alit at ive ap p ro ach co m p o sed b y co nten t ana l ys is and , as instru ment s o f in vest igatio n; w e u sed a q u estio nna ir e a nd a sem i- str u ctu r ed inter view. W e d isco ver ed that teacher s sp eec h is o ft en co ntrad icto r y wh at ind icate s t he y d on' t reall y h ave a sc ience vis io n estab lis hed , and at the same t ime, th e y c o rro b ate the co ncep tio ns p rese nt s in the te xt b oo ks, wit h are p r edo mina nt l y em p ir icism - ind u ctive b ased .
FIGURA 1 – Estr u tu r a d a Disser tação . . . .. .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 1 6 FIGURA 2 – Exem p lo d ad o p elo au to r p ara o tóp ico : O co nhecim ento p elo s se nt id o s. . . . .. . .. .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 71 FIGURA 3 – Qu estõ es d ad as p elo au to r p ara o tóp ico : O co nhec imento p elo s se nt id o s. . . . .. . .. .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . .. . 71 FIGURA 4 – Dis cu ssão so b r e ciência e re alid ad e. . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . 7 2
QUADRO 1 - Característ icas d e Algu ns E p istemó lo go s . .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 2 8 QUADRO 2 - Sem e lhan ça s, Difer enças e D iver gê ncias entr e as T eo r ias d e Algu ns E p istemo ló go s. . . .. . .. .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 29
T ABE LA 1 - Livro s D id ático s d e Física A p ro vad o s p elo PNLE M d e 20 08 . .. 37 T ABE LA 2 - Per fil d o s Pro fesso r es d a Red e Pú b lica d e E ns ino . . . .. . .. . .. . .. . .. . 4 9 T ABE LA 3 - Per fil d o s Pro fesso r es d a Red e Par ticu lar d e E ns ino . . . .. . .. . .. . .. . 49 T ABE LA 4 - Re sp o stas ao Qu estio nár io Dad as p o r Pro fesso r es d a Red e Par ticu lar e Pú b lica. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . 5 1 T ABE LA 5 – Livr o s Did át ico s M ais C itad o s P elo s Pr o fes so r es d e Física. . . . 68
INT RO DU ÇÃO . . . .. . . .. . 15
CAP ÍTULO 1 - A NATUREZA DA CIÊ NCIA . . . 19
1 . 1 CONCE PÇÕE S SOBRE A N AT URE Z A DA CIÊ NC IA . . . .. 19
1 . 2 . A IM PORT ÂNCI A DA NAT URE Z A DA C IÊ NC IA NO E NS IN O DE CIÊ N C IAS ... 32
1 . 3 . CONST RUÇÃO DO C ON HE C I M E NT O CIE NT ÍF ICO CO M O CRIT É R IO DE A VAL IAÇÃ O DOS LI V ROS DI DÁT I COS DE FÍ S ICA DO PNLE M 20 07 ... 34
a) Crit ér io s E lim in ató r io s ... 36
b ) Crit ér io s d e Qu alif icação ... 36
1 . 4 . A VISÃO DE CIÊ NCI A APRE SE NT ADA PE LOS L IVROS DIDÁT ICOS DE FÍ SIC A. . . .. . .. .. . .. . .. . .. . .. .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . 3 7 CAP ÍTULO 2 - CAMINH OS M ETODO L ÓG IC OS . . . 42
2 . 1 . INST R UM ENT OS PARA CO LE T A D E DADOS DA PE S QUIS A ... 42
2 . 2 . QUE ST IONÁR IO ... 43
2 . 3 . QUE ST IONÁR IO FEC HADO US AND O A E SCALA DE L IKE RT ... 44
2 . 4 . E NT RE VIST A ... 44
2 . 5 . ANÁLISE DE CONT EÚDO ... 46
CAP ÍTULO 3 - REFL EXÕ ES E ANÁLIS E DOS DADO S DA PES QUIS A . 49 3 . 1 . FORM AÇÃO DOS S UJE IT OS DA PE SQUIS A ... 49
3 . 2 . ANÁL ISE DA CONCE PÇÃO DE CIÊ N CIA DOS PROFE SSO RE S E NT RE VIST ADOS E DOS L I VROS D IDÁ TICOS ... 51
E NT RE VIST ADOS E A CO NCE PÇÃO DE CIÊ NCIA DOS L IVR OS DID ÁT I COS ... 59
3 . 3 .1 Cr it ér io s d e Esco lha d o Livr o Did át ico ... 60 3 . 3 .2 Co ncep ção d e Ciê ncia co m o Critér io d e Esco lha d o Livr o
Did át ico ? ... 64 3 . 3 .3 A Visão d e C iênc ia Veicu lad a no s L ivr o s Did át ico s d e
Física Ad o tad o s p elo s Pr o fesso r es E ntr ev istad o s ... 68
CO NSID ERA ÇÕ ES FI NAIS . . . .. . . .. 76
REF ERÊNCIAS . . . .. . . .. 82
ANEXO A – TRECHO S DOS P AREC ERES DOS L IVROS DIDÁ T ICOS APRO VADO S P ELO PN LEM ... 86
ANEXO B – QUES TION ÁRIO PARA P ESQ UIS A . . . 90
INTRODUÇÃO
E sta p esq u isa tem co m o o b jeto d e estu do o s p ro fesso r es d e Fís ica d o E ns ino M éd io e co mo ob jet ivo car acter izar as co ncep çõ es so b re a natu r eza d a ciê ncia d estes p r o fesso r es , e su a r elaç ão co m o s livro s d id ático s. Esta invest igação so fr eu vár ias m u d anças ao l o ngo d e su a tr ajetó ria e é re leva nt e ap o ntá- las p ar a o enr iq u ecim e nto d e no ss as d iscu s sõ es , p o is acr ed it amo s q u e a p esq u isa não é p r o du zid a d e fo r ma linear , ao co ntrár io , o p esqu isad o r é su rp reend id o p o r incer t ezas e inse gu r anças d u r ante su a inve st iga ção . Além d isso , há fato r es e xter no s q u e pod em alter ar o s ru mo s d e u ma p esq u isa.
I nic iamo s est a p esq u isa co m a p ro p o sta d e in vest igação d a evo lu ção do livro d id ático d e Física. Far íam o s no p rim eir o m o mento u ma p esq u isa b ib lio grá fic a e u m estad o d a ar te so b r e o livro d id ático e p o ster io r ment e u ma p esqu isa d e c amp o p ar a invest igar q u ais o s livr o s d id át ico s ma is u tilizad o s po r p ro fesso r es d e Físic a d e Go iânia. O p ro pó sito ser ia tent ar r esp o nd er as se gu inte s q u estõ es: Qu al a im p o r tânc ia d o livr o d id ático p ar a o s p ro fesso res d e Física ? Qu ais s ão o s livr o s d id ático s mais u tilizad o s p elo s p ro fesso r es d e Física d e Go iâ nia? Qu ais o s crit ério s u tilizad o s p elo p ro fes so r p ara a esco lha do livr o d id ático ? Os livr o s d id át ico s d e Fís ica so frer am m u d ança s ao lo ngo do tempo ?
I nic iamo s a p esq u isa, entr ev ist and o , aleat o r iamente, cinco p ro fes so res d e F ísica d o E nsino M éd io e cin co d o E ns ino Su p er io r d a Univer sid ad e Fed er al d e Go iás ( UF G). As e ntr evist as f o r am do tipo sem i - estr u tu r ad as co m o intu ito d e ver if icar a imp o r tânc ia d a u tilização do s livro s d id ático s e qu ais o s mais u tilizad o s p elo s p r o fesso r es d e F ís ica d e Go iâ nia. Ap ó s as entre vista s, bu scamo s o s livr o s d id át ico s m ais cit ad o s po r estes p r o fesso r es, co m o intu ito d e analisá- lo s p ar a d eterm inar a p o ssíve l evo lu ção d o livr o d id ático d e Física, id ent if icand o as p o ssíveis mu d anças o co rr id as ao lo ngo d o temp o . A p ro cu r a po r esse s livr o s d id ático s, citad o s p elo s p ro fesso r es, fo i árd u a, u m a vez q u e não p o ssu ím o s no estad o d e Go iás, u m acer vo d e livr o s d id ático s antigo s. O s
livr o s d id át ico s q u e co nsegu imo s, fa ziam p ar te d e u m acervo p esso al d e u m do s p ro fesso r es entr ev istad o s, qu e tr ab alh a no Inst itu to d e Física d a UFG e qu e ced eu gent ilm ente estes livro s p ar a a p esqu isa.
Co m as entr e vist as tr anscr it as e co m o s livr o s d id ático s mais citad o s p elo s p ro fesso r es, re gistr amo s u m r eco r te tem p o r al d e 1960 até o s d ias atu a is ( inclu ind o u m livr o d id ático d e 1 881 ), iniciamo s a an álise d este m ater ial e a p r ep ar ação d a ap rese ntação do p ré -p ro jeto em u m semin ár io avançad o do p ro gr am a d e mestr ad o . Du r ante e sta ap rese ntaç ão , fo ram leva ntad o s algu ns qu estio nam ento s e ap r ese nt ad as su ge stõ es, entr e elas a imp o ssib ilid ad e d e se fazer o estad o d a ar te do livr o d id ático e a r elevâ ncia d o tem a d esta invest igação p ar a as p esqu isas so b r e o livr o d id ático .
A p esqu is a p ro sse gu iu , mas d escar tam o s a id é ia d o estad o d a ar te do livr o d id ático e no s centr amo s na im p o r tânc ia do livro d id ático e su a po ssível evo lu ção . As catego ria s d e aná lise d o livr o d id ático aind a não estavam d efinid as, m as a p ro po sta inicia l er a a aná lise d a evo lu ção co nceitu al d as Leis d e Newto n.
As d is cip lin as o b r igató r ias d o pr o g rama d e mestr ad o me fizer am d esp ertar p ar a u m a situ ação em er ge ncia l: a no ssa co ntr ib u ição , co mo p ro fes so res d e ciênc ias, p ar a a co nstru ção do co nhe cim ento cien tíf ico d e no s so s alu no s, a tr ansm is são d a visão d e ciência e a visão d e ciência p rese nt e no s livro s d id ático s. O q u e me fez r eflet ir so b r e a minha p r ática e a m inha invest igação .
Du r ante esta fa se d a p esq u isa, ho u ve a neces s id ad e d e u m a co -o r ientaçã-o , c-o m a inclu sã-o d a d iscu ssã-o ep istem-o ló gica. L-o g-o d ep -o is, h-o u ve mud anç a d e o r ient ad o r e a mesm a p esqu isa co meço u a so fr er mais trans fo rm açõ es.
A p ar tir d este mo m ento , su r giu a nec es sid ad e d e iniciar m o s u ma no va p esqu isa d e camp o , ago r a co m u m a no va p rop o sta, “A visão d e ciênc ia d e p ro fes so res d e Física d o E nsino M éd io ”. E o fo co p asso u a ser a fo r m aç ão do p ro fes so r, e não mais o livr o d id ático .
Para c heg ar mo s ao s o b jetivo s d esta p esq u isa, a p ar tir d e entre vista s sem i- estr u tu r ad as co m pr o fesso r es d o Ens ino M éd io , bu scam o s id ent if icar su as co nc ep çõ es d e ciên cia e as co ncep çõ es d e ciênc ia tr azid as p elo s livr o s d id ático s u tilizad o s p o r eles . Op tam o s p o r ess e tip o d e entr evista, gu iad as p o r
u m q u estio nár io , p o r ter car acter í st icas d a entre vista estr u tu r ad a, m as ad m it ir certa f lex ib ilid ad e, em fu n ção d as r esp o stas o b tid as, e vis and o assegu r ar o alcance d o s o b jetivo s d a p esqu isa.
As p rincip ais p er gu nta s d esta p esq u isa são :
1 . Qu al a co ncep ção d e Ciênc ia d o s p ro fesso r es d e Física ?
2 . Qu ais o s cr itér io s q u e o p ro fesso r u tiliza n a esco lha d o livr o d id ático ? 3 . A esco lha d o livr o d id ático tem algu m a r elação co m a co ncep çã o d e
C iê ncia d o pr o fesso r ?
4 . Qu al a co ncep ção d e C iê ncia p red o m in ante no s livr o s d id át ico s ad o tad o s p elo s p ro fes so res?
A segu ir ap r esenta mo s a est rut ura da disserta çã o po r cap ítu lo , d isco r r end o b revemen te so b re o q u e no s p r o po mo s d iscu tir, d etalhar e invest igar ao lo n go d esta p esq u isa. A Figu r a 1 trás u m r esu mo d esta estr u tu ra :
Fi gur a 1 – E s t r u t ur a da Di s s er t a ç ão
O Ca pít ulo 1 é d ed icad o à Natu reza d a Ciênc ia, p o is acr ed itam o s q u e o ens ino so b r e as ciências é tão imp o rta nte q u anto o ens ino d e ciê ncia s. Pr imeir am ente, d is co r r em o s so b r e co mo a Natu r eza d a C iê nc ia é r etr ata d a p o r algu ns f iló so fo s d a ciê ncia , d entr e e les : P opp er ( 19 02 - 1 99 4) , Lakato s (1 92 2
Natureza da Ciência
- 1 9 74 ), Ku h n ( 1 92 2 - 1996 ), Bachelar d ( 18 84 - 1 962 ) e Fe yer ab end ( 19 2 4 - 199 4) . Lo go apó s, ap resentam o s u ma b r eve d is cu ss ão so b r e a imp o r tânc ia d a Natu r eza d a C iência p ar a o en sino d e ciê nc ias e, a ind a nest e cap ítu lo , d isco r r em o s so b r e o Pro gr ama Nacio n al d o Livr o do E nsino M éd io ( PNLE M ), traze nd o u m d o s cr itér io s d e avaliação d as o b r as d id át icas d e Fís ica no q u e d iz r esp eito à imp or tânc ia d a Natu reza d a Ciên cia no E ns ino d e Ciê ncia s, e o s p r imeiro s livr o s d id ático s ap r o vad o s p elo P NLE M . E ste s livr o s co meçaram a ser entr e gu es ás esco las p ú b lica s b rasileir as p ar a co m po r o ano letivo d e 200 9. Acr ed itam o s q u e d isco r rer so b re a p o lítica d o livro d id ático , é d isco rr er so b r e as p r eo cup açõ es co m este, p r incip a lme nt e co m a m elho ria d a su a qu alid ad e e n a p o ssib ilid ad e d e q u e to d o s o s alu no s d as esco las p ú b licas d est e
p aís ten ham ac es so a esse instr u me nto tão impo r tante p ar a o
ens ino /ap r end izag em .
No Ca pít ulo 2 tr azem o s o s méto do s u tilizad o s d esd e a o b tenção d o s d ad o s à aná lise d est a p esq u is a, d escr ev end o o s instr u me nto s e as téc nica s u tilizad as p ar a at ingir no sso s o b jetivo s.
O Ca pít ulo 3 visa r ef let ir so b r e o s r esu ltad o s d esta p esq u isa. No p r imeiro mo m ento , d escr evem o s a fo r m ação acad êm ica d o s p ro fesso r es d a r ed e púb lica e p ar t icu lar d e e ns ino . No segu nd o mo m ento , d escrevem o s a co ncep ção d e ciênc ia d este s p r o fesso res e d o s livr o s d id át ico s c it ad o s po r eles, além d e catego rias b asead as nas p r óp r ias r esp o stas d o s p r o fesso r es so b r e o s cr itér io s d e esco lha d o livr o d id ático .
Finalm ent e , tr azemo s as r ef lexõ es d a p esq u isa e as co ns id era çõ es f inais.
CAPÍTULO 1 - A NATUREZA DA CIÊNCIA
1 .1 CONCEPÇÕ ES SO BR E A N AT UREZA DA CI ÊNC IA
A car acter ização d a ciência co m o co nhe cim ento racio nal r emo nta a Plat ão na p r ó pr ia o r igem d a f ilo so fia o cid enta l. A p ar t ir d a er a mo d er na, r acio nalismo e emp ir ismo se co nst itu em na s d u as p r incip a is co r r ente s ep ist em o ló gicas, d iver gind o qu anto ao s f u nd amento s, mas am b as faze nd o u so d a RAZ ÃO p ara o b ter - se o co nhe cim ento . Nest e co ntexto , ao in vest igarm o s a s visõ es d e ciê ncia d o s p ro fesso r es , e as q u e são veicu lad as no s livr o s d id ático s, to r na - se nece ssár io d isc o r rer sob r e algu mas co r r ente s ep ist em o ló gicas a r esp eito d a co m p ree nsão d e co mo se co nstr u iu o p ensame nto cie ntí f ico .
O emp ir ism o es tá fo r tem ente ligad o ao s tr ab alho s d e F ra ncis Baco n no sécu lo XVI e X VI I, q u e ena ltece a e xp eriê ncia e o méto d o ind u tivo d e tal mod o q u e co ns id er a a o b se rvação e o s sentid o s, as ú nic as fo ntes s egu ras d o co n hec ime nto . Pr eco niza o méto do ind u tivo s egu nd o o q u al se p ar te d a ob ser vação d e u ma s itu ação p ar ticu lar p ar a, po ster io r me nte, g enera lizá - lo , tend o a id éia p rincip a l g ira nd o em to r no d a neu tr alid ad e d essa o b ser vaç ão e, af ir ma q u e a exp er iênc ia t em fu nd am ental imp o r tância p ar a q u e o co n hec ime nto cie ntí fico se ja ver d ad eir o : “A m elho r d emo nstr ação é d e lo nge, a exp er iênc ia, d esd e q u e se ate nha r igo r o sam ente ao e xp erim ento . Se p ro cu ramo s ap licá- la a o u tro s fat o s t id o s po r seme lhant es, a não ser q u e se p ro ced a d e fo r ma cor r eta e m etód ica, é fa lacio sa” ( B ACO N, 19 7 9, p . 3 1) .
Chalmer s (1 9 93 , p. 2 4 ) d iz qu e, p ar a o s ind u tivist as, “a fir m açõ es a r esp eito d o estad o d o mu nd o, o u d e algu m a p ar te d ele, p od em ser ju st ificad as, ou estab elecid a s co mo v er d ad eir as d e m ane ira d ir eta p e lo u so do s sent id o s do ob ser vad o r não -p reco nce itu o so ”. Nesse s ent id o , p ar a o s ind u tivistas, a p ar tir
d e p ropo siçõ es s ingu lar es, é p o ssí vel gen er alizá - las p ara u ma lei u niver sal, d esd e q u e algu m as co nd içõ es se jam est ab ele cid as:
1 . O n ú mer o d e pr op os i çõe s d e ob s er va çã o q u e f or ma a ba s e d e u ma g ener al i z açã o d eve s er gr and e; 2 . As o bs er va çõ es d evem s e r r e pet i d as s o b u ma a mpl a var i ed ad e d e c on di çõ es ; 3 . Nenh u m a pr op os i çã o de obs er vaç ã o d e ve c on fl i t ar c om a l ei un i ve r s al d er i vad a ( C HA LM E R S, 19 93 , p. 2 6) .
As sim , as ciê ncias emp ír icas, p ar a o s ind u tivist as, car act er iz am - se p elo fato d e em p r egarem “méto d o s ind utivo s”, q u e p ar tem d o p rincíp io d e infer ir e nu nciad o s u niver sais d e enu nciad o s singu lar es, o u seja, d o p ar ticu lar p ar a o to do . S egu nd o Po pp er, se r efer ind o à ind u ção :
É co mu m di z er - s e “ i n du t i va ” u ma i n fer ên ci a, c as o el a cond u z a d e
en un ci a do s s i n gu l ar e s ( p or vez es d en omi n ad os t a mb ém enu n ci ad o s
“ par t i cu l ar es ”) t ai s c omo d es cr i çõ es d o s r e s ul t a dos d e o bs er va çõ e s ou e xperi ment o s , p ar a enu n ci ad os un i ve r s ai s , t ai s co mo h i pó t es e s ou t eor i as ( P OP PE R , 20 06 , p. 27 ) .
Aind a d e aco r do co m o s ind u tivista s, a ciê ncia é vist a co mo u m p ro cesso b asead o na ind u ção : “Se u m gr a nd e nú mero d e As fo i o b ser vad o sob u ma am p la var ied ad e d e co nd içõ es, e se t odo s esses As o b ser vad o s po ssu íam sem e xceção a p rop ried ad e B, então todo s o s As têm a p ro p ried ad e B” ( CHALM E RS, 19 93 , p. 2 8 ) .
De aco r do co m o s emp iristas - ind u tivist as, as leis d a Na tu r eza são ob tid as in icialm ente p ela o b ser va ção minu cio sa, cu id ad o sa, sem q u e haja int er ve nção d o ob serv ad o r, qu e d eve agir sem p r eco nc eito s, re gistra nd o exatam e nte o qu e ob ser va.
E ste mo d elo d e racio nalid ad e v is lu m b r a um a ú nica fo r ma d e se atin gir o co nhecim ento ver d ad eir o , a p ar tir d a ap lica ção d e seu s p r incíp io s ep ist em o ló gico s. De aco r do co m seu s d efenso r es, p o ssib ilit a o co nhecim ento mais p r o fu nd o e ver d ad eir o d a natu r eza, b em co mo a p r evisib ilid ad e d e seu s fenô m eno s so b d o is p ilar es : a su a q u antif icação e a red u ção d a co mp le xid ad e.
Po r tr atar - se d e u m mod elo he gemô nico até o sécu lo XIX, tam b ém fo i ap licad o ao cam po d as ciências so cia is, ap lica nd o - se a estas o s cr it ér io s r igo r o so s d as ciências natu r ais.
Co m o d estaca S anto s (2 002 ) , a cr ise d este mo d elo hegemô nico , chamad o po r ele d e “Par ad igma Do m inante”, d eco r r e d e u m a sér ie d e co nd içõ es teó r icas e so ciais. E m p ar ticu lar , o ad v ento d a T eo r ia d a Relat ivid ad e e a M ecân ica Qu â nt ica q u e inc lu em a d is cu ssão acer ca d a sim u ltane id ad e ( mecan icismo linear ) e o d eter minismo ( p r incíp io d a in certe za d e Heis enb er g) d e eve nto s a d istância.
Difer ente s cr ít ico s d esta visão p ro p õ em no vo s mo d elo s. E ntre o u tro s, Kar l Po p p er qu e c u nho u o termo “Rac io na lism o Cr ít ico ” d efend end o a id éia d e q u e to do co nhecim e nto é fa lí vel e co r r igí ve l, p o r tanto p ro visó rio .
Pop p er não co nco r d a co m q u e u ma teo r ia cie ntí f ica o u u ma lei u niver sa l é e stab elecid a a p ar tir d e u m gr and e nú mer o d e o b ser vaçõ es e af ir ma q u e, a gener alização d er ivad a d e afir maçõ e s ind ivid u ais, aind a q u e nu m er o sas, p o d e se mo str ar er r ad a. Assim , n ão imp o rta qu anto s c isne s b r anco s nó s vejam o s, nó s nu nc a p od em o s af ir mar q u e to do s o s cis nes s ão b r anco s, p o rqu e o pr ó ximo ci s ne q u e o lhar m o s pod e ser ne gr o , co m o af ir ma Popp er (20 06 ) :
Or a, es t á l on ge d e s er ó bvi o, d e u m pont o d e vi s t a l ó gi c o, h ave r j us t i fi c at i va n o i n fer i r en un ci ad o s u ni ver s a i s de enu n ci ad o s s i n gu l are s , i nd epend en t ement e de qu an t os cas os de ci sn es br an co s p os s a mos ob s er var , i s s o nã o j u s t i fi ca a c on cl us ão de qu e t od os o s ci s ne s s ão br an co s ( p. 2 8) .
Um d o s p ro b lemas invest igad o po r Popp er é o cham ad o “p ro b lem a d a ind u ção ”. Par a Po pp er , só se p od e tent ar fu nd ament ar a ind u ção atr avés d e no v as ind u çõ es, e este é o p rob lema d a ind u ção , o qu e no s levar ia a u m cír cu lo vicio so d e ind u çõ es su cess ivas s em q u e qu alq u er co ne xão cau sa l entr e fenô m eno s e xam inad o s fo sse d emo nstr ad a. Segu nd o Po pp er, o emp ir ismo co nfu nd e o p ro b lem a d a v alid ad e d e u ma teo r ia co m a su a o r igem , e su ste nt a qu e o po nto d e vista d e q u e esta ú lt ima não é lo gicam ente s ist em at izá ve l, além d e ser ir r ele vante p ar a d eterm inar a valid ad e o u veracid ad e d a teo ria.
Co m r elação ao s enu nc iad o s qu e tem co mo b ase a e xp er iê ncia, P o pp er af ir ma q u e o p rob lema d a ind u ção tam b ém p o d e ser ap r esent ad o co mo a ind a gação acer c a d a va lid ad e ou verd ad e d e enu nciad o s u nivers ais q u e enco ntr em b ase na e xp er iê nc ia. Segu nd o ele, mu ita s p esso as acr ed itam q u e a
ver d ad e d esses enu nciad o s u niver sa is é co nhec id a atra vés d a exp er iên ci a. As s im , d iz P op p er (2 0 06 ),
( . . ) es t á cl ar o q u e a d es cr i ç ão d e u ma ex per i ên ci a – d e u m a o bs er va ç ão ou d o r e s ul t ad o d e u m ex per i men t o – s ó pode s e r en un ci ad o s i n gul ar e nã o u m enu n ci ad o un i ve r s al . Nes s es t er mos , a s p ess o as q ue di z e m qu e é c om b as e n a e x per i ênci a qu e conh ece mos a ve r dad e de u m en un ci ad o u ni ver s al qu ere m n or mal ment e d i zer q ue a ve r dad e d es s e enu n ci ad o un i ver s al p od e, de u ma f or ma ou d e ou t r a, r ed uzi r - se à ver d ad e d e en un ci ad o s s i n gul ar es e qu e, p or e x per i ên ci a, s a be - s e s er e m es t es ver d ad ei r os . E q ui val e i s s o a di z e r q ue o enu n ci ad o un i ve r s al b as ei a– s e e m i n f er ên c i a i nd ut i va ( p. 2 8) .
Se p ar a o s ind u tivistas a ciê ncia p ar te d e ob ser vação e e ss a o b ser vaç ão fo r nece u ma b ase segu ra a p ar tir d a qu al as a fir m açõ es p od em ser d er ivad a s, então co ns id er a nd o d o is o b ser vad o r es, o lha nd o o mesm o o b jeto , não necessar iame nte v er iam a m esm a co isa. Co mo af irm a Hanso n (ap ud C HA LM E RS, 1 9 93 ) “há m ais co isas no ato d e enxer gar q u e o qu e che ga ao s o lho s ” ( p . 4 8 ).
Segu nd o Cha lmer s ( 1 9 93 ) “o q u e u m ob servad o r vê, isto é, a exp er iênc ia visu a l q u e u m ob servad o r tem ao ver u m o b jeto , d ep end e em p ar te d e su a exp er iê ncia p assad a, d e seu co nhe cim ento e d e su as exp ectat ivas” ( p . 49 ) . Uma teo r ia, p o r ser cr iação hu m ana, semp r e est ar á inco m p leta. Par a Popp er “todo o no sso co nhecim e nto é im p regnad o d e teor ia, inc lu siv e no ssa s ob ser vaçõ es” ( POPPE R ap u d SIL VE IR A, 199 6 , p . 5) .
Nes se se nt id o , o p ro cesso ind u tivo requ er q u e as p r opo siçõ es d e ob ser vaçõ es s ejam feit as em gr and e nú m er o e em amp las var ied ad es d e co nd içõ es, ante s q u e q u alq u er tentat iva d e gener a liza ção se ja f eita. F azer u ma ob ser vação p r essu p õ e u ma vis ão d e mu n do , a q u al su ger e q u e ob ser vaçõ es esp ecí f icas d ever iam ser f eita s. E m ou tras p alavra s: as o b ser vaçõ es não são imp ar ciais, são d ep end ente s d a teo r ia. S e gu nd o Cha lm er s ( 1 9 9 3) “a ciência não co meça co m p ropo siçõ es d e o b servação po rqu e algu m tip o d e teo r ia a s p r eced e; as p ropo siçõ es d e ob serv ação nã o co nst itu em u m a b ase fir m e na q u al o co nhecime nto cie ntí f ico p o ssa ser fu nd ame nt ad o p or qu e são su jeitas a falhas” (p . 58 ).
Karl Po p p er d efe nd eu qu e não ex iste p ro ces so algu m d e ind u ção p elo qu al p o ssam ser ver d ad eir as as teo r ias c ientíf ica s, so mente co njectu r as q u e
pod em ser fa lsead as s ão c ientí f icas, e a c iênc ia não co meça co m u ma ob ser vação , e sim co m u m p rob lema. Par a ele , as o b ser va çõ es são o r ie ntad as p ela teo r ia e a p r essu p õ e, d ifer ente d a v isão ind u tiv ista. Po pp er entend e qu e a ciê ncia p r o gr id e p o r tentativas e err o s, por co njectu r as e r efu taçõ es e q u e p ar a ser ciên cia, tem q u e ser testad a po r ob ser vação e exp er im ento .
C on t ud o, s ó r e conh ec er ei u m s i s t ema co mo empí r i co ou ci ent í fi c o s e el e f or p as s í vel d e co mpr o va ç ão pel a ex per i ênci a. E s s a s c ons i der a çõ es s u g er em qu e d e ve s er t o mad o como cr i t é r i o d e d e mar caç ã o n ão a v er i f i ca bi l i d ad e, mas a f a l sea bi l i d ad e de u m
s i s t ema. E m out r a s pal a vr as , n ã o e xi gi r ei qu e u m si s t e ma ci ent í fi c o
s ej a su s cet í vel d e s er d ad o c omo vál i d o, de u ma ve z por t od as , s e m s ent i d o p osi t i vo; e xi gi r ei , por ém, q u e s ua f or ma l ógi ca s ej a t al qu e s e t or n e p os s í vel val i d á -l o at r a vé s d e r ecur s os a pr o va s e m pí r i ca s, e m s ent i do n egat i vo : d eve s er po s s í vel r ef ut ar , p el a exp er i ên ci a,
u m s i s t ema ci en t í f i co empí r i co (P O PPE R , 20 06 , p. 42 ) .
Para Po pp er , “o trab alho d o cient ista co n sis te em elab o r ar teor ias e pô - las á p r o va” e “na med id a em q u e a teo r ia r es ista a p r o vas p o rm eno rizad a s e severa s, e n ão seja su p la ntad a p o r ou tras, no cu rso do p ro gr es so cientí f ico , pod emo s d izer q u e ela ‘ co mp r o vo u su a q u alid ad e’ ou fo i ‘co r ro b or ad a’ p ela exp er iênc ia p assad a” ( POPP E R, 2 00 6 , p . 3 4 ) . Assim, a co mp ro vaç ão d e u m a teo r ia , é semp r e p ro visó ria , p o is ele n ão s u stent a a ver d ad e d e teo r ias a p ar tir d a ver d ad e d e enu nciad o s singu lar es e não supõ e qu e, po r for ça d e co nclu sõ es “ver ificad as”, s eja p o ssível t er p o r “ver d ad eir as” o u mesm o po r mer amente “p ro váve is” q u aisq u er teo r ia s.
Pop p er af ir ma aind a q u e , ass im co mo o xad rez p od e ser d efin id o em fu nção d e regr as q u e lh e são p r óp rias, a ciên cia p o d e ser d efin id a p e lo u so d e r egr as meto d o ló gicas. E s sa s r egr as p od em ser exemp lif icad as:
( 1 ) O j ogo da ci ên ci a é, e m pr i n cí pi o, i n t er mi n ável . Que m d eci d a, u m d i a, q u e os enu n ci ad o s ci en t í fi c os n ã o ma i s e xi ge m pr o va, e p od e m s er vi s t os c omo d efi n i t i va ment e ver i fi cad os , r et i r a - s e d o j og o. ( 2 ) U ma ve z pr op os t a e s u bmet i da a pr ova a h i pó t es e e t end o el a c ompr ovad o s u as q u al i dade s , n ã o s e p od e p er mi t i r s e u a fa st ament o s em u ma “ bo a r az ã o”. U ma “b oa r azã o” s er á, po r e xemp l o, s ua s u bs t i t ui çã o p or out r a hi pót e s e, q ue r es i s t a mel h or à s pr ova s, ou o fal s e a men t o d e u ma c on s eqü ên ci a d a pr i mei r a hi p ót e s e ( P OPPE R , 20 06 , p. 56 )
No enta nto , u ma d as lim ita çõ es d esta v is ão , é q u e “as af ir m açõ es d o falseac io nista são ser iam ente so lap ad as p elo f ato d e qu e as p ro po siçõ es d ep end em d a teo ria e são falí ve is” ( C HALM E RS, 1 99 3 , p . 95 ). Um a t eo r ia não p od e ser co nc lu s ivam ente fals if icad a, po r m ais q u e a ob serv ação p ar eça estar s egu r a, ela p od e r evelar inad eq u açõ es, por qu e a po ssib ilid ad e d e q u e algu ma p arte d a co m p lexa situ ação d e teste, q u e não a teo r ia em t est e, s eja r esp o nsáv el p o r u m a pr evisão er r ad a, não po d e ser d escar tad a.
I nsp ir ad o na d ia lét ica d e M arx e He ge l, Imr e Lakato s af ir m a q u e o méto do d e Popp er ig no r a a no tável t enacid ad e d as teo r ias cientí fic as e q u e o s cie nt ista s não d esistem d e u m a teor ia tão fa cilme nt e.
L os ci ent í fi c os t i en en l a pi el gr u es a. No a ba nd on an u ma t eor í a s i mpl ement e por qu e l os hech o s l a c on t r ad i gan . Nor mal men t e o bi e n i n ven t an al gu na h i pó t e si s d e r es c at e p ar a e x pl i c ar l o qu e el l o s l l aman de s pu és u ma s i mp l e an o mal í a o, s i n o pu ede m e xpl i c ar l a an omal í a, l a i gn or an y cent r an s u at en ci ón e m ot r o s p r o bl ema s ( LA KAT O S, 1 99 8, p. 1 2 -1 3) .
Lak ato s af ir ma q u e o s cient ist as não rejeitam u ma teo r ia ap ena s po rqu e o s d ado s emp ír ico s co ntr ad izem, e afir m a q u e “la c ienc ia no es só lo ensa yo s e er ro res, u na ser ie d e co njetu r as e r efu tacio nes” ( LAK AT OS, 1 99 8, p . 13 ).
A ciê ncia é caract er izad a p o r p ro gr am as d e p esq u isa em t er m o s d e estr u tu r as meto do ló gica s, q u e gu iam o trab alho fu tu r o do s cie nt ista s, ind icand o fu tu r as linh as d e d esen vo lvim ento ( a h eu r ística p o sitiv a) e esp ec if icand o o qu e n ão po d e ser fe ito ( a heu r íst ica ne gat iv a) . E nq u anto a heu rística negat iv a d e u m p ro gr am a d e p esq u isa la kato siano envo lve a est ip u lação d e q u e as p r em is sas b ásicas q u e fu nd ame nt am u m p ro gr am a não pod em ser m o d if icad as nem r eje it ad as, a heu r íst ica p o sit iva co ns iste em u m co n ju nto p ar cialm ente ar t icu lad o d e su ges tõ es ou ind icaçõ es d e co m o mu d ar e d esen vo lver as "var iá veis r efu táveis " d o p ro gr am a d e p esq u isa, e d e co mo mod ificar e m elho rar o “cin tu r ão d e d efesa”, q u e é co nst itu íd o po r h ip ó teses e teo r ias au xiliar es e tamb ém p elo s méto do s ob ser va cio na is. E le exemp lif ica :
L a ci en ci a n ewt oni an a, por ej empl o, no es s ó l o u n conj u nt o d e cu at r o conj et u r as ( l as t r es l e ye s d e l a me cán i ca y l a l e y d e gr a vi t aci ón ). E sa s cu at r o l eyes s ól o c on s t i t u yen el “ nú cl eo fi r me ”
d el pr ogr ama n ewt on i an o. P er o es t e n ú cl eo fi r me es t á t en az men t e pr ot e gi d o c ont r a l as r efu t aci one s medi an t e un gr an “ ci nt u r ó n pr ot e ct or ” de hi pót e s i s au xi l i ar es . Y, l o q ue es má s i mp or t ant e, el pr ogr ama d e i n ve s t i ga ci ó n t i en e t a mbi én un a h eu r í st i ca, e s t o e s, u na p od er os a maqu i n ar i a par a l a s ol u ci ó n d e pr obl ema s q u e, c on l a a yud a d e t écni c as mat e mát i cas s ofi s t i c ada s , as i mi l a l as an o mal í a s e i ncl us o l as c on vi er t e e m e vi den ci a p os i t i va ( L A KA TOS, 1 99 8, P. 1 3) .
Na teo r ia d e La kato s, se gu nd o Cha lm er s, u m pr o gr ama d e p esqu is a d eve sat is fazer a lgu m as co nd içõ es, p ar a se q u alif icar co m o u m p ro gr ama cie ntí fico :
E m pr i mei r o l ug ar, u m pr o gr a ma d e p es q ui s a d e ve po ss u i r u m gr au d e c o er ên ci a q ue en vol v a o ma pe ament o de u m pr ogr a ma d e fi ni d o p ar a a pes qu i s a fut u r a. S e gu nd o, u m pr o gr a ma de p es q ui s a d ev e l evar à des c o ber t a d e fenô men os n o vo s, a o men os o cas i onal men t e. U m pr ogr ama d e pes qu i s a d eve sat i s f az er às d ua s cond i çõ e s p ara s e q ual i fi car co mo pr o gra ma ci en t í fi co ( C HA LM E R S, 1 99 3, p. 1 18 ).
Pr o gr amas d e p esq u isa são ju lgad o s co mo “p ro gr ess ivo s ” o u “d ege ner at ivo s”, te nd o em vista a p o ssib ilid ad e d e le varem à d es co b er ta d e no vo s fe nô me no s o u não . Assim, u ma teo ria é co ns id erad a p ro gr essiv a s e cad a no v a teo r ia p o ssu i a lgo a ma is, d e d esen vo lvim ento emp írico , do qu e su a p r ed ecesso r a, o u seja, se ela p r ed iz alg o d e no vo , até então inesp erad o. O p ro gr es so é med id o p elo gr au em q u e a s ér ie d e teo r ias le va à d es co b er ta d e fato s no vo s.
E stru tu ras teó r icas co mp etem entr e s i p ar a ganh ar a aceit ação d a co m u nid ad e cie ntí f ica e não p od em ser d er rub ad as no co nfr o nto co m d ad o s exp er ime ntais. I sso p o rqu e, segu nd o Lakato s, a ciên cia t em a nece ss id ad e d e cr escer , e d eve t er a chance d e alc anç ar seu maio r d esemp enho , d esd e q u e co nt inu e a fo rnecer no v as exp licaçõ es, no vas p r evisõ es, e a d esco b er ta d e fenô m eno s no vo s. Do co ntrár io , o p ro gr ama d eve ser tr o cad o po r ou tro mais p ro gr es s ist a q u e o rival.
Um a q u estão q u e Lakato s não resp o nd e é: q u anto temp o d evem o s agu ar d ar p ar a co nsid er ar q u e u m pr o gr am a d e p esq u isa e steja em d egener ação ? Nessa q u estão , Chalm er s ( 199 3 ) afir m a q u e não se pod e d izer qu e u m p ro gr am a d ege ner o u p ar a além d e tod a esp er ança, p o is semp re é
po ssí vel a lgu m a m o d if ica ção em s eu cintu r ão p ro teto r q u e co ndu za a u ma d esco b er ta esp etacu lar, e este p r o grama v o lta à fa se p r o gr ess ista.
J á Gasto n B ac he lar d acr ed ita va q u e a ciência e vo lu i p o r meio d e r up tu r as ep ist emo ló gica s f ace a rep r es entaçõ es, háb ito s d e p ens am ento , co n hec ime nto s não cr itic ad o s, qu e ele ch ama d e o b stácu lo s ep istemo ló gico s, e d efe nd e q u e p recis am o s er rar em c iênc ia, po is o co nhecim ento c ientí f ico só se co nstr ó i p ela r etif icação d esse s er r o s. Pa r a ele, é neces sár io ter co r agem d e er r ar , po is o erro faz p arte d e exp eriê ncia cie ntí fic a.
Bac helar d intr o d u ziu a co ncep ção d e d esco nt inu id ad e na cu ltu r a cie ntí fic a atr av és d a co ncep ção d e r up tu ra e b aseia -se co mo p ro va nas cr ise s do iníc io d o séc. X X : d a r elat ivid ad e, d o d eter minismo e d a t eo ria d e co n ju nto s. A r u p tu ra se ap rese nta tanto entr e co nhe cim ento co m u m e co n hec ime nto cientí f ico , a p ar tir do qu e se co nst itu em o s o b stácu lo s ep ist em o ló gico s q u anto no d eco rr er do p ró p r io d esenvo lv ime nto c ientí f ico , co nfigu r and o a filo so f ia d o não .
Nã o s e t r at a d e c on s i d er ar os obs t ácul os e xt er n os , co mo a c o mpl e xi d ad e ou fu gaci dad e d o s fenô men os , ne m d e i n cr i mi n ar a d e bi l i d ad e d os s ent i d os ou d o es pí r i t o h u man o: é no at o mes mo d e c onh ec er, i n t i mament e, ond e a par ec e m, p or u ma es p éci e d e n eces si dad e fu n ci on al , os en t or p eci men t os e as c on fu s õe s . É aí on d e mos t r ar e mos as c au s as d e es t an ca ment o e at é d e r et r oce s s o, é aí ond e d i s cer n i r e mos c aus as d e i n ér ci a qu e ch amar emo s o bst ácul o s e pi st emol ó gi cos ( B AC HE LAR D, 1 99 6, p. 1 7) .
Para Bach elar d , o s ob stácu lo s ep istem o ló gico s q u e ex istem no inter io r do p ensam ento , nas p r o fu nd eza s d o in co nsc ient e, s e m anif est am m ais d ecisivam e nte ma sc ar and o o p ro cesso d e r up tu r a entre o se nso co mu m e o co n hec ime nto c ientí f ico , to r na nd o - se u m imp ed im e nto d o co nhecim ento cie ntí fico . O senso co m u m não é ap enas d ifer ent e d a ciên cia e sim u m ob stácu lo ao seu d esenvo lv imen to .
Di an t e d o r eal , aqu i l o q ue cr e mos s ab er c om cl ar e za ofu s ca o qu e d e ver í amo s s a ber . Qu an d o o es pí r i t o s e a pr es en t a a cul t u r a ci ent í fi c a, nu nca é j ovem. Al i ás , é bem ve l h o, por qu e t e m a i d ad e d os s eus pr ec on c ei t os ( B AC HE LAR D, 1 99 6, p. 1 8 ) .
Bac helar d em su a o b r a “A Fo rm ação do E sp ír ito Cie ntíf ico ” ap o nta du as p r incip a is c ate go r ias d e o b s tácu lo s ao p ro gr es so d a ciê ncia : A exp er iênc ia p r im eir a e o co nhec imento ge ral.
1 . O o b stácu lo in icial ao co n hec im ento cie ntí f ico é a exp er iên cia p r imeir a, a ob ser vação p r ime ir a. É a exp eriê ncia s itu ad a ant es e ac ima d a cr ítica , q u e cap ta o imed iato , o sub jetivo . Além d e d ar gr and e ate nção ao q u e é natu r al e q u e ab o rd a fenô me no s co m p lexo s co mo se fo ssem fáceis . Segu nd o ele, “ es sa o b servação p r imeira se ap r ese nt a r ep leta d e imag ens; é p ito r esca, co ncr et a, natu r al, fácil. Ba sta d escr êve- la p ara se ficar encantad o . Parece qu e a co mp r eend emo s” (BAC HE LARD, 199 6, p . 25 ).
2 . O segu nd o ob stácu lo ep istem o ló gico é o co nh ecim ento ger al, qu e é gener alização d as o b ser vaçõ es p r im e iras.
O c onh eci men t o q ue fal t a pr eci s ão, ou mel h or , o c on h eci ment o qu e n ã o é apr es ent ad o co m a s c on di çõ es d e s ua d et er mi n ação, nã o é c onh eci men t o ci ent í fi c o. O c on h eci ment o ger al é qu as e f at al men t e c onh eci men t o va go. ( B AC HE LAR D, 19 96 , p. 90 )
Bac helar d (1 99 6, p . 69 ) afir m a q u e a ciên cia d a gener alid ad e “semp r e é u m a su sp ensão d a exp eriê ncia, u m fr acasso d o em p ir ismo invent ivo [ . . . ]. Há d e fato u m p er igo so p r azer inte lectu al na g ener alização ap r essad a e fác il”.
E m 19 6 2, T ho mas Ku hn co m seu livr o “A E str u tu ra d as Revo lu çõ e s C ie ntí f icas”, tr ás a to na o u so do co nce it o d e p arad igm a, ap licad o à h istó r ia do fazer cie nt íf ico na tent at iva d e fo r necer u ma exp licação mais co er ente p ar a a co nstr u ção d o co nhe cim ento cie ntí f ico . Par a Ku hn ( 2 0 0 6 ), o co nhecim e nto cie ntí fico não cr esc e d e mo d o cu mu lat ivo e co ntí nu o , e existe u m p er íod o d e ciê ncia no r ma l, d u r ante o q u al se d es en vo lve u ma at ivid ad e c ientí f ica b as ead a nu m p ar ad igm a , p ropo rcio na nd o o s fu nd am ento s p ara su a p r ática p o sterio r .
Parad igm as são “as r ea liz açõ es cie ntí f icas u n iver s alme nt e
r eco nhe cid as q u e, du r ante algu m tem p o , fo r necem p ro b lem as e so lu çõ es mod elare s p ar a u m a co mu nid ad e d e p r aticant es d e u m a c iê nc ia ” ( K UHN, 200 6, p . 13 ) . Qu and o o co rr e u ma crise no p ar ad igm a , vár ia s ano m alia s s e d esen vo lvem d e maneir a a so lap ar a co nf iança neste. Su rge, ent ão , atr avés d e u ma revo lu ção c ient íf ica u m no vo p ar ad igma estab elece nd o - se u m no vo
p er íod o d e ciê ncia no r mal, q u e é aqu ela q u e se efetu a no âmb ito d e u m p ar ad igm a aceito p ela co mu nid ad e cie ntí f ica.
Os c ient istas p r o cu ram a to do o cu sto d ed icar - se a amp lia ção d o p ar ad igm a vige nte, e ao co nce ntr ar a ate nção nu m a faixa d e p rob lema s r elat ivam e nte “eso tér ico s”, Ku hn a cr ed ita q u e o p ar ad igma fo rça a invest igar em algu m a p ar ce la d a natu r ez a co m u m a p ro fu nd id ad e e d e u ma ma neir a tão d etalh ad a su p er io r , q u e d e o u tro mod o não ser ia p o ssí vel, s em o co m p ro metime nto do p ar ad igma. Os cie nt istas m ant iveram- s e ne ste re gim e d e ativid ad e, só o ab and o nand o qu and o a solid ez d e u m d eter m inad o p ar ad igm a se d ep ar a co m u m exces sivo nú mero de fato s reb eld es, d e ano malia s q u e co m eçam a su r gir . Ab re -se nest as cir cu ns tânc ias u m p er íod o d e cr ise, q u e se caract er iza p ela co ns ciê ncia q u e a co mu nid ad e ad qu ire d as insu f iciê ncia s d o p ar ad igm a vige nte.
Ass im, to d as as cr ise s inic iam co m o ob scu r ecime nto d e u m p ar ad igm a e o co nseq ü ente r elax am ento d as r egr as q u e o r ientam a p esq u isa no r mal e as sim su r ge a nec es sid ad e d e ad er ir a u ma no va alter n at iva p ar a su b stitu í -lo . E ste só su r gir á co m u m a p r o fu nd a m u tação , co m u m a revo lu ção cie ntí f ica, qu e tr az co ns igo u m no vo p ar ad igma. Uma car acter í st ica d e su a s id é ias é a ênf ase d ad a ao caráter r evo lu c io nár io do p ro gr esso c ientí f ico , em qu e u ma r evo lu ção imp lic a em u m ab and o no d e u m a estru tu ra teó rica e u ma su b stitu iç ão p o r o u tr a, inco m p atíve l.
Ou tro filó so fo d a ciência q u e qu estio nou o ind u tivismo fo i P au l Feyer ab e nd . E m seu s livr o s “Ag ainst M et ho d ” e “S cience in a Fr ee So ciet y” , d efe nd e a id éia d e q u e não ex ist em r egr as meto do ló gicas p erm anent es e q u e o méto do ú nico lim ita o s cient istas e o p ro gr esso cie ntí fico .
Pau l Fe yer ab e nd nega q u e exista u m méto do cien tíf ico ob jetivo e ob ser va q u e tod as as tentat ivas p ar a car act er izar u m método cientí f ico falharam. A id éia d e u m método q u e co nten ha p r incíp io s f ir me s, imu táve is, e ab so lu tamente co er entes p ara co nd u zir o s assu nto s d a c iênc ia, enco ntr a d if icu ld ad es co ns id er áv eis q u and o se co nf ro nta co m o s r esu ltad o s d a p esqu isa histó ric a. Não h á u ma ú nic a re gr a, mesmo q u e p lau sí vel, fir m eme nt e fu nd ame nt ad a na ep ist emo lo g ia, q u e não seja v io lad a em u m mo m ento o u em ou tro ( FE YERABEND, 1 989 ).
Segu nd o Cha lm er s ( 1 9 93 , p. 17 5 ), p ar a Fe yer ab end , “o s cie nt ista s, po r tanto , não d evem s er r estr in gid o s pelas re gr as d a m eto d o lo gia. Ne st e se nt id o vale tu do ”. E acr esce nta:
A f al s a s u p os i ç ão d e qu e h á u m mét od o ci en t í f i co u ni ver s al a qu e d e ve m s e con f or mar t od as a s f or mas d e conh ec i men t o d es e mpe nh a u m pa pel pr ej u di ci al em n os s a s o ci ed ad e , aq ui e a gor a, es peci al ment e con s i d er and o -s e o f at o d e qu e a ver s ã o d e mét od o ci ent i fi c o a qu e ger al men t e s e r ec or r e é gr os s e i r a men t e e mp i r i s t a ou i nd ut i vi s t a ( p. 1 83 ) .
De fo r ma s istem át ica e re su mid a p o d emos o b ser var , no s Qu ad r o s 1 e 2 , algu ma s d as p rincip a is car acter í st ica s d estes ep ist em ó lo go s d a ciên cia, b em co m o, sem elha nça s e d if er enç as entr e su as co ncep çõ es.
Quadr o 1 – C ar a ct erí st i cas d e Al gu ns Epi s t emól o gos
P op per
A ci ên ci a pr o gr i d e p or t en t at i va e er r o, por conj e ct ur as e r e fu t açõ es ; A o bs er va çã o é or i ent ada pel a t e or i a;
U ma t e or i a é f al s i fi c ável s e e xi s t e u ma pr o po s i çã o de obs er va ç ão ou u m c on j u nt o del as l o gi ca men t e poss í vei s q ue s ão i n cons i s t ent e s co m el a;
U ma t e or i a de ve s er f al s i fi c ável ; F al s i fi c açã o a o i n vés d e ver i fi ca ção;
O e mpr e en di ment o d a ci ên ci a c on s i st e n a pr op os i ção de hi pót es es al t a men t e f al s i fi cá vei s , s e gu i da de t ent at i vas d el i be r ad as e t ena zes d e fal s i fi cá -l as; U ma vez pr o po s t as as t e or i as e s pe cu l at i va s , de vem s er r i gor os a men t e e
i n exor a vel me nt e t es t ad as p or o bs er va çã o e e x per i men t o;
T eor i as qu e n ão r es i s t e m a t es t es d e o bs er va çã o e ex pe r i men t os d evem s er el i mi nad as e s u b st i t uí d as p or c on j e ct u r as es pecu l at i vas ul t er i ore s .
B ach el ar d
In t r od uzi u a conc ep ção d e d es c ont i n ui d ad e n a cul t u r a ci ent í fi c a at r avé s d a c on c ep çã o d e r upt ur a;
A e vol u çã o d a ci ên ci a é des cont í n ua e n ã o cu mul at i va;
Ne ces s i dad e d e ru pt u r a co m conh eci ment os an t er i or es , s e gu i da p or s u a r ee st r u t ur a ção;
O es s en ci al é r e cons t r ui r o s a ber ;
A r et i fi c ação d os con cei t os , r eal i zad a pel a t e or i a d a r el at i vi d ad e, i l u mi na as n oçõe s ant er i or es e mo s t r a a e vo l uç ã o d o p ens ament o;
Ob s t ácul o e pi s t e mol ó gi c o é t u d o qu e s e i n cr u s t a n o conh eci men t o n ã o q ues t i on ad o, t od os os p on t os ond e o pr o gr e s s o c i en t í fi co e st an ca, r e gr i d e ou a van ça de f o r ma i n er t e ;
A e vol u çã o d as ci ênci as é d i fi cul t ad a p or o bs t á cu l os e pi s t e mol ó gi c os ; De f en de qu e há u ma ver d ad ei r a ru pt u r a ent r e a ci ên ci a e out r o s s a ber es ,
c omo o sen s o co mu m.
Ku hn
C ar át er r e vo l uci on ár i o d o conh eci men t o ci ent í fi co;
S ua pr e ocu paç ã o r el a ci on a - s e c o m a s car a c t er í s t i ca s s oci ol ó gi cas d as c omu ni d ad e s ci ent í fi c as ;
P ar adi g ma – s ão as r eal i za çõ e s ci ent í fi ca s u ni ver s al men t e r e c on he ci da s q ue, d ur ant e al gu m t e mp o, f or n e ce m pr obl emas e s o l u çõ es mod el ar es par a u m a c omu ni d ad e de pr at i c an t es d e u ma ci ên ci a;
U ma ci ên ci a mad u r a é g over n ad a p or u m ún i c o p ar ad i g ma;
e n ão co mo u ma f al t a de ad eq u açã o d o par ad i gm a;
Ku hn r el at a a ci ênci a nor mal c omo u ma t en t at i va d e r es ol uç ão de pr o bl e ma s g over n ad o s p el a r e gr a d e u m par adi g ma;
A r e vol u ç ã o c orr es pond e ao ab and on o d e u m par adi g ma e ad o çã o de u m n ov o p el a mai or i a n a c o mu ni d ade ci ent í fi ca, qu and o u m par adi g ma n ão con s e gu e r es ol ver os pr o bl e mas q ue vão s u r gi nd o;
U m ci ent i s t a nor mal n ão d eve s er cr i t i co de u m par ad i gma e m qu e t r a bal h a; A ad es ã o a o n ovo par ad i gma nã o é i medi at a ;
O n ovo par ad i gma s er á di f er ent e d o ant i g o e i n co mpat í vel c om el e.
La kat os
A ci ên ci a s e es t r ut u r a a p ar t i r d a r el a çã o en t r e con cei t os ; A ci ên ci a é c ar act er i zad a p or pr ogr ama s de pes q u i s a;
O pr o gr a ma d e pes qu i s a é es t r u t ur ad o e q ue f orn ece or i en t a çõ es par a a p es q ui s a fut u r a d e u ma f on t e t an t o n e gat i va q u an t o po s i t i va;
A ci ên ci a avan ç a mai s efi ci ent e men t e s e as t e or i a s f or em es t r ut ur ad as d e man ei r a a c on t er n o s eu i nt er i or , i n dí ci os e r ecei t as b ast an t e cl ar os qu ant o e c omo el as d eve m s er d es en vol vi d as e es t en di d as.
E s t r u t ur as t eór i c as c omp et e m ent r e s i par a ganh ar a acei t a çã o d a c omun i d ad e ci ent í fi c a e n ã o p od e s er der r u b ad as n o con fr ont o co m d ad os e xper i ment ai s ; Ac ei t a u ma b as e e mpí ri ca s at i s fat ó r i a, mas el ab or a n ovas hi pót es es
au xi l i ar es q ue r edu ze m as an o mal i as ;
B as e empí r i ca – nú cl e o i r r ed ut í vel , no va s hi pót e s es – ci nt u r ão pr ot et or ; Qu al q uer ci ent i s t a q ue modi fi q ue o n ú cl eo i r r edu t í vel opt ou p or s ai r d o
pr ogr ama de pes q ui s a;
U m pr ogr ama d e pes qu i s a de ve t er a ch an ce d e r e al i zar s eu pl en o p ot en ci al ; P r ogr ama s s ã o aban d on ad os qu and o d egen er a m.
Fe yer a bend
De f en de q ue a ci ên ci a d eve vi s ar a fel i ci d ade e o be m es t ar do s ho me n s; P ar a o pr o gr ess o s ão i mpor t an t es d oi s pr i n cí pi os : t enaci d ade e pr ol i fer a ção; T en aci d ad e – o ci en t i s t a s e agar r a à t e or i a es co l hi d a, a pes ar d a s e vi d ên ci as
c on t r ár i as ;
P r ol i f er aç ã o – l e va o ci en t i st a a cr i ar al t er n at i vas n ovas às t eor i a s j á e xi st en t es ;
A ci ên ci a n or mal co m u m ún i co par adi g ma é u m mi t o q ue n ã o t e m r es p al d o met od ol ó gi c o ne m hi s t ó r i co;
O pr o gr es s o d a ci ên ci a é o r es u l t ad o d a i n t er a çã o d e t e or i as qu e t en t a m s e d es en vol ve r e s i mu l t an ea ment e s e c on fr on t a m c o m ou t r as t e or i a s ;
O d es en vol vi men t o d as ci ên ci as n ã o p od e s er aval i ad o c om u m c on j un t o d e i d éi as fi xas e r e gr as r a ci on ai s, h á i r r a ci on al i d ad e n os mo men t os de gr and es mu dan ç as;
F eyer a b en d r e cl a ma, j us t i fi c ada me n t e, qu e os d e f en s or es d a ci ên ci a a j ul g a m s u per i or a ou t r as f or ma s de c on h e ci ment o s em i n ves t i gar de f or ma ad eq u ad a es t as out r as f or mas.
Font e: Pr ó pr i a
Quadr o 2 – S emel ha nças , Di fer en ças e Di v er g ênci as ent re as T eori as de Al guns Epi s t emol ó go s
Se mel h anç as ent r e Kuh n e
P op per
In t er es s e p el a h i s t ór i a d a ci ên ci a;
R ej ei ç ão de q u e a ci ên ci a pr o gr i d a por acu mu l aç ã o;
O avan ç o s e d á p or mei o de r e vo l u çõe s e m qu e u ma t e or i a ant i g a é s u bs t i t u í da p or u ma n ova i n c ompat í vel co m el a;
E nfat i z am o p a pel das an omal i as t eó ri c as ou e x per i men t ai s n a pr od uç ão d e r e vol u çõ es ci ent í fi c as e r ec onh ec em a r el aç ão i n t i ma ent r e t e or i a s e e x per i men t os ;
Di fi cu l d ade d a o bs er va çã o s er n eu t r a. C r í t i cas d e
Ku hn a P op per
A mbi gü i dad e no pr oc ess o d o f al si fi c aci oni s mo. P ar a Ku hn es s e pr o ces s o n ã o p od e se r gen er al i z ad o;
Di f er en ç as ent r e Kuh n e
P op per
-P ar a Kuh n, n o de bat e en t r e d oi s par ad i gmas é di fí ci l e st a b el e cer qu al d os doi s t em mai s ad equ açã o co m d ad os e xp eri men t ai s qu e s e mp r e p od em s er qu est i onad os . Par a P o pp er , i s s o é u m det al he a s er r e s ol vi d o p el a c omun i d ad e ci ent í fi ca.
C r í t i cas d e P op per a
Ku hn
P ar a P o pp er a d i s t i n ção ent r e a ci ên ci a n or mal e r evol u ç ão nã o é t ã o n í t i d a c o mo Ku hn de s cr e ve;
O pr obl e ma d a es c ol h a d e t eor i as n ão é t ã o a mbí gu o. Se mel h anç as
en t r e L ak at o s e Ku hn
P r ogr ama s de pe s qu i s a d e La kat os s e mel h an t es a os p arad i gma s de Kuh n; P r ogr ama s d e pe sq ui s a s ão ab an d on ad os qu an d o degen er a m, as s i m c o mo o
a ban d on o d e p ar adi g mas .
L ak at os s e c on si d er a a per f ei ç o ad or d a t e or i a d e Po pper e i nc or p or a vá r i as c ont r i bui çõe s de Ku hn .
Di ver gên ci as ent r e Kuh n e
La kat os
P ar a La kat os , e xi s t e m cr i t ér i os o bj et i vos d e or d e m ra ci on al q u e a c o mu ni d ade ci ent í fi ca nã o t e m p os s i bi l i dade de apl i car n a hor a d a c o mp et i çã o, mas q ue pode m s er a pl i cad os a po st er i ori , qu an d o a br i g a en t r e os pr o gr a mas t er mi n a. Para Ku hn o de b at e e nt r e d oi s p ar ad i gmas nã o fu n ci on a a ss i m. C r í t i ca de Ku hn a La kat os Ku hn cr i t i c a La k at os por en ges s ar a Hi s t ór i a d as ci ên ci as nu m a r aci on al i d ad e est r ei t a. Di f er en ça en t r e L ak at o s e Fe yer a bend
P ar a F e ye r a bend , o d es en vol vi men t o d a ci ên ci a n ão pode s e aval i ad o c o m u m c on j un t o d e cr i t éri os fi x os e r e gr a s r aci o nai s , n o en t an t o, La kat os c ol oc a cr i t ér i os d e pr ogr es s ã o e d egen er es cên ci a.
C r í t i ca de Ku hn a Fe yer a bend
Ku hn r ej ei t a a vi s ã o anár qu i ca d o a van ço pr o po s t o p or F e yer a bend , e m qu e a r azã o par ec e su cu mbi r a i r r aci onal i d ad e. N a bat al ha ent r e n o vo s e vel h os p ar ad i gma s sã o ut i l i zad o s ar gu ment os ra ci on ai s e n ão s l ogan s emo ci onai s . Se mel h and ça
ent r e Kuh n e Fe yer a bend
A mb os c on c or d a m e m qu e os cr i t éri os a po s t er i or i s ão i n ócu os co mo j us t i fi c at i vas par a o d es en vol vi men t o. P ar a el es , as t e or i a s es t ã o fu nd ad as n o pr i n cí pi o epi s t emol ó gi co de b as e, s egun d o o qu al o c on he ci men t o ci ent í fi c o j amai s at i ng e u ma ve rd ad e obj et i va, a bs ol ut a.
Se mel h anç as ent r e P o pp er e B a chel ar d
A ci ên ci a s ó n os f or ne c e u m c on h e ci men t o p r o vi s ó ri o ( P op per ) e
a pr o xi ma do ( B ach el ar d) , e es t á em c on st an t e m od i f i cação ( P o pp er ) ou e m
p er man en t e r et i f i ca çã o ( B a ch el ar d ) . Nã o pod e mos i den t i fi car “ ci ên ci a” e “ ver d ad e”. N enh u ma t e or i a ci en t í fi ca p od e s er e ncar ad a c omo ver da d e f i n al ( P op per ) ou c omo sa b er d ef i n i t i vo ( B ach el ar d ) .
S egu nd o P op per , “ a cr en ç a s e gun d o a qu al é p os s í ve l pr i nci pi ar c o m o bs er va çõ es pu r as , s em q u e el as s e faç am ac omp an har por al g o q u e t enh a a n at ur e za d e u ma t eor i a, é u ma cren ça ab s u r d a”. Ou s ej a, t od as as o bs er va çõ es j á s ã o i n t er p r et a çõ es d e f at os o bs er va d os à l u z d e u ma t e or i a. S egu nd o B a chel ard , t od a co ns t at a ção s u põ e a con st r u çã o; t od a pr át i ca ci ent í fi c a en gaj a pr es su po s t os t eór i cos .
B ach el ar d e Ku hn
O de s c on t i nu i s mo e pi st e mol ó gi c o d e B ach el ar d a fi r ma qu e n o pr ogr es s o ci ent í fi c o, h á s e mpr e u ma r u pt u r a co m o s en so c omu m. Th oma s Kuh n t ambé m é d es cont i nu i st a .
Font e: Pr ó pr i a
Sab em o s qu e é necessár ia u ma mu d ança d e visão acerc a d o fazer cie ntí fico . Co m o p assar d o tem po , a f ilo so f ia d a c iênc ia ap o nta o u tr o s cam inho s, no vas d is cu ssõ es, m o str a nd o qu e a vis ão em p ir ist a - ind u tivista já está u ltrap as sad a. Nes se sent id o , co nco rd amo s co m Pr aia, Cac hap u z e G il -Pér ez q u and o d izem qu e: