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Trabalho precário e morte por acidente de trabalho: a outra face da violência e a invisibilidade do trabalho.

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA. TRABALHO PRECÁRIO E MORTES POR ACIDENTES DE TRABALHO: A OUTRA FACE DA VIOLÊNCIA E A INVISIBILIDADE DO TRABALHO. Tese de Doutorado. Leticia Coelho da Costa Nobre. Salvador, Bahia, 2007..

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA. TRABALHO PRECÁRIO E MORTES POR ACIDENTES DE TRABALHO: A OUTRA FACE DA VIOLÊNCIA E A INVISIBILIDADE DO TRABALHO. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva – Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Saúde Pública, área de concentração Epidemiologia. Defesa: 30 de abril de 2007. Banca Examinadora: Prof. Dr. Luiz Augusto Facchini Prof. Dr. Heleno Correia Filho Profª Drª Vilma Souza Santana Profª Drª Ceci Vilar Noronha Prof. Dr. Fernando Martins Carvalho (Orientador). 2.

(3) Ficha Catalográfica elaborada por Eliana Carvalho/ CRB-5 1100. N754. Nobre, Letícia Coelho da Costa Trabalho precário e morte por acidente de trabalho: a outra face da violência e a invisibilidade do trabalho./ Letícia Coelho da Costa Nobre.- Salvador, 2007. 283 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) . Instituto de Saúde Coletiva. - ISC. Universidade Federal da Bahia – UFBA. Orientador: Prof. Dr. Fernando Martins Carvalho. 1. Acidente de trabalho 2. Violência. 3. Mortalidade 4. Causas externas – óbito 5. Trabalho precário 6. Trabalho informal . I. Autor. II.Título. . CDU 331.46. 3.

(4) “Experimento uma alegria melancólica de viver em meio a essa confusão de vielas, de necessidade e de vozes; quantos prazeres, impaciências, desejo, quanta sede de vida e embriaguez de vida surgem aqui a cada momento! E todavia logo o silêncio se fará sobre todas essas pessoas ruidosas, vivas e contentes da vida. Atrás de cada um ergue-se sua sombra, um escuro companheiro de jornada. É sempre como o último instante anterior à partida de um navio de imigrantes; mais coisas a serem ditas que nunca, o oceano e seu silêncio vazio esperam impacientemente atrás de todo esse ruído – tão ávidos, tão certos de sua presa! E todos, todos imaginam que o passado é nada ou que o passado é coisa pouca e que o futuro próximo é tudo: essa angústia, esses gritos, essa necessidade de ensurdecer e de explorar que os domina. Cada um quer ser o primeiro nesse futuro – e entretanto a morte e o silêncio da morte são as únicas certezas que têm em comum! Como é estranho que essa única certeza, essa única comunhão seja quase impotente para agir sobre os homens e que eles estejam tão longe de sentir essa fraternidade da morte! Sou feliz ao constatar que os homens recusam absolutamente conceber a idéia da morte, e ainda mais de contribuir, para isso tornando-lhes cem vezes mais digna de ser pensada, a idéia da vida.” NIETZSCHE, A Gaia Ciência. Em Memória A minha grande amiga Glória Compte. 4.

(5) Agradecimentos A Adelson e Lucas, que estiveram comigo estes quatro anos, alegrando-me nas raras horas vagas e apoiando em todas as demais. A minha mãe, irmãs e irmão, que mesmo de longe, estavam torcendo por mim. A Clarice, minha mãe baiana, que aqui perto sempre me deu conforto de alma. A Paulinha e Meire, amigas, que tão bem cuidaram de meu precioso tesouro. Aos amigos e amigas verdadeiros, companheiros nas trilhas da vida e da saúde do trabalhador, que me apoiaram nos momentos difíceis e compartilharam as interrogações e as criações – Rita Fernandes, Mônica Angelim, Marco Rego, Norma Souza, Alexandre Jacobina, Luis Correia, Cássia, Ana. A Miracy e Maria José, que sempre me apoiaram e ajudaram a manter os pés no chão e os olhos no mundo real. À equipe do Cerest de Camaçari, Mônia, Márcia, Celso, Verena, Cláudio, Fernanda, que tão bem me receberam num momento difícil. Aos demais colegas da Secretaria de Saúde de Camaçari, especialmente Pepeu, que tão prontamente disponibilizou os dados necessários. A Lorene Pinto, felizmente novamente nossa chefe e companheira, e à equipe atual do Cesat, que vêm compartilhando a gestão num espírito coletivo, criativo e responsável, especialmente Alexandre, Isabela, Ely e Pádua, que prontamente se dispuseram a segurar a barra enquanto eu cumpria essa etapa final. Agradeço a Bice, Maria Eunice Xavier Kalil, e equipe do Fórum Comunitário de Combate à Violência, pelo acolhimento, compartilhamento de propósitos, idéias e informações. À direção do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues pelo acesso aos arquivos e banco de dados do IML. À Iracema de Jesus, Diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, pelo apoio e acesso às delegacias de polícia; e a Ana Emília Blanco, do Centro de Estudos e Estatísticas da Polícia Civil, pelo apoio e participação em seminário. Às equipes das secretarias de saúde de Salvador e Lauro de Freitas, especialmente o apoio das equipes das unidades de atenção básica, do Programa de Saúde da Família, aos agentes comunitários de saúde, no auxílio para a localização dos familiares e endereços. À Tânia Jesus, da Coordenação de Regulação e Avaliação, da Secretaria de Saúde do Município de Salvador, e a Márcia Mazei, da Diretoria de Informações em Saúde, pela disponibilização dos bancos de dados do SIM. Agradeço a Profª Vilma Santana, Rita Fernandes, Norma Souza e Mina Kato, pelo auxílio na revisão final dos artigos e sugestões importantes. A Vilma, ainda pelo constante incentivo, troca de informações, seminários, textos, referências e parceria nos artigos publicados. Ao Prof. Jairnilson minha gratidão pelas provocações e inquietações; a Profª Ceci pelas ótimas incursões no tema da violência; ao Prof. Eduardo Mota, pelas idéias e discussão da “tese” e do projeto. A Fernando Carvalho, meu orientador, pela paciência e apoio durante todo o processo. Aos professores do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva. A Mônica Nunes e a Estela Aquino,. 5.

(6) pelo auxílio em definições do instrumento. A Profª Graça Druck, pela disponibilização e discussão de referências. Agradeço à equipe de entrevistadores/as, Maryangela, Andréia, Adriana, Bartira, Harley, Igor e Mariana, e a Léo e Adailton, motoristas da Fundacentro, que entenderam a importância do estudo e buscaram estratégias e todas as formas possíveis para localizar os familiares e realizar as entrevistas, muitas vezes em condições adversas. Especialmente Mariana, por sua persistência e tenacidade; a Igor que acompanhou Mariana até o final, e a Harley e Adriana pelas ótimas entrevistas e histórias primorosas. A Iara, Edilair e Diana pelo auxílio na coleta de dados no IML e organização do material de campo. A Maria José e Alcivando, pelas entrevistas em Camaçari; a Pérola pelo auxílio no campo em Lauro de Freitas. A Tânia Alda, pelo importante trabalho de acompanhamento psicológico da equipe de entrevistadoras. À Fundacentro e ao Ministério da Saúde pelo financiamento que permitiu a realização do trabalho de campo e outras etapas do estudo. Àqueles que, na Fundacentro Bahia, por um tempo estiveram comigo nos momentos de construção e aos gestores da Fundacentro e dos Centros Regionais, Rosiver, Lambertucci, Pipoca, Sílvio, Marta, Mey Rose, Higa, pelos planos, sonhos compartilhados, aprendizado e apoio. A Marco Pérez, da Coordenação de Saúde do Trabalhador, pelo apoio constante. Finalmente e não menos importante, agradeço profundamente aos familiares das pessoas falecidas, que se dispuseram a expor mais uma vez sua dor e contar sua história a quem nem conheciam, muitos com a esperança de que alguma coisa pode ser diferente, de que a vida e a violência podem mudar, para melhor.. 6.

(7) SUMÁRIO Resumo ....................................................................................................... 8. Apresentação .............................................................................................. 9. 1. Sobre o Quadro Teórico ......................................................................... 13. 1.1 Fundamento Lógico ............................................................................... 13. 1.2 Modelo Teórico ...................................................................................... 15. 1.3 Conceito de Acidente de Trabalho ........................................................ 21. 2 Sobre a Região Metropolitana de Salvador ............................................. 27. 3. Referências Bibliográficas ....................................................................... 36. 4. Os Resultados – Artigos .......................................................................... 39. 4.1 Trabalho precário e Saúde dos Trabalhadores: uma revisão ............. 40. 4.2 Mortes violentas: a contribuição dos acidentes de trabalho e da precarização do trabalho ....................................................................... 84. 4.3 Validade da causa básica na declaração de óbitos por acidentes de trabalho .................................................................................................. 149. 5. Anexos ..................................................................................................... 192. Anexo 1 – Sobre o Campo e a População Estudada ............................... 193. Anexo 2 – Instrumento - Questionário ..................................................... 208. Anexo 3 - Termo de Consentimento Informado ...................................... 218. Anexo 4 – Manual de Instruções do Entrevistador .................................. 221. Anexo 5 – Manual de Instruções do Codificador ..................................... 238. Anexo 6 – Trabalhos apresentados em Congressos ............................... 258. 7.

(8) RESUMO Estudo descritivo das mortes por causas externas, ocorridas em 2004, entre homens e mulheres, de 10 a 69 anos de idade, residentes na capital e dois outros municípios da Região Metropolitana de Salvador, com objetivos de determinar a magnitude da participação dos acidentes de trabalho dentre as mortes violentas; avaliar a validade da informação sobre a causa básica de óbitos por acidentes de trabalho, nas declarações de óbitos por causas externas. Realizadas entrevistas domiciliares a familiares das pessoas falecidas, investigando as circunstâncias da morte, as situações de trabalho, as ocupações e demais variáveis sócio-demográficas.. A causa básica de óbito foi. reconstituída e codificada segundo normas da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10). Foram estudados 648 óbitos por causas externas; 75,3% eram pessoas ocupadas; somente 26,5% tinham um contrato formal de trabalho. Foi estimado um percentual de 19,4% (126) de acidentes de trabalho em atividade lícita e 5,6% (36) em atividade ilícita; 56,8% dos óbitos foram devidos a homicídio; 27,2% acidentes de transporte; 14,2% outros acidentes e 1,9% suicídios. Estimados subregistro das mortes no trabalho (92,6%); sensibilidade (7,14%); especificidade (99,81%); valor preditivo positivo (90,0%); valor preditivo negativo (81,66%); elevado índice de discordância entre as causas básicas de óbito (52,8%), maior entre mulheres (61,4%); em maiores de 30 anos de idade (64,0%) e entre acidentes de transporte (84,7%) e suicídios (82,8%). O estudo demonstrou importante contribuição dos acidentes de trabalho nas mortes por causas externas, com proporções variáveis conforme o tipo de violência e identificou uma sensibilidade muito baixa do sistema oficial de informações sobre mortalidade para identificar as mortes no trabalho.. 8.

(9) APRESENTAÇÃO A motivação para estudar acidentes de trabalho com óbito surgiu de nossas experiências no Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador, ao investigar os acidentes com óbito ocorridos na Região Metropolitana de Salvador, desde 1995. Tomávamos conhecimento, especialmente, pelos sindicatos de trabalhadores dos casos ocorridos nas empresas, e foi em relação a eles que estabelecemos planos e projetos de intervenção. Enquanto isso, os jornais noticiavam cotidianamente inúmeros acidentes, violências e mortes, com serventes, pedreiros, bóias frias, agricultores, empregados domésticos, desempregados, biscateiros, policiais militares, professores - trabalhadores não registrados nos sistemas de informações oficiais. Inexpressivos em vida, invisíveis na morte. A lacuna estava lá. Lembro de uma afirmação do Prof. Jairnilson Paim, em um seminário sobre violência urbana e saúde, realizado na Reitoria da UFBA, nos idos de 1997 ou 1998, que ficou martelando em minha cabeça – que as mortes no trabalho eram inexpressivas, muito pouco freqüentes, comparadas às demais causas violentas de morte – não deveriam, portanto, ser objeto de tanta preocupação. Isso me instigou. Eram mesmo os acidentes ou as mortes no trabalho um problema de saúde pública? Ou talvez, tenha surgido muito antes, quando percorria a Região Metropolitana de Porto Alegre à procura das mães das crianças que haviam falecido antes de completar um ano de idade, em pesquisa coordenada por César Victora, do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal de Pelotas. Exceto os óbitos por causas neonatais e malformações congênitas, eram todas crianças filhas de pais proletários, de famílias que não recebiam mais que três salários mínimos. Em verdade, este projeto foi construído a partir de inquietações coletivas, compartilhadas com várias pessoas, ao longo de minha história e trajetória profissional. As perguntas. 9.

(10) eram: onde está o trabalho? O que o trabalho tem a ver com isso? Que trabalho é esse? Ao final do percurso, a riqueza do aprendizado do olhar do outro, do olhar-se mutuamente. A impressionante visibilidade adquirida pelos acidentes e violências, no trabalho e fora dele. Pelo trabalho e pela falta dele. Mais problema de saúde pública ainda é a violência do trabalho precário e da falta de trabalho em condições dignas. Profundamente. grata. pelas. contribuições. e. trocas. que. tive. no. caminho,. a. responsabilidade pelo resultado aqui apresentado, e seus limites, é toda minha. Tenho sido principalmente gestora de serviços de saúde do trabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 1992. No início de 2003, antes de ingressar no Programa de Pósgraduação em Saúde Coletiva, para fazer o doutorado, fui convidada para assumir a direção da Fundacentro, instituição de estudos e pesquisas na área de Segurança e Saúde do Trabalhador, do Ministério do Trabalho e Emprego. Senti-me no compromisso de aceitar, de forma a contribuir com o governo que se iniciava.. Foram anos de. aprendizado, porém, de difícil compatibilização entre as atividades de gestão e do doutorado. Em 2006, retornei para meu vínculo de origem, a Secretaria de Saúde do Município de Camaçari, a fim de ter mais disponibilidade para finalizar o doutorado. Assim, meu “sanduíche” foi a Fundacentro – a gestão. Em paralelo às atividades de gestão e do doutorado, participei ativamente de seminários, planejamento de projetos de pesquisa, busca de financiamento, realização de oficinas de trabalho, participação nas conferências de Saúde do Trabalhador, apresentação de trabalhos em congressos e publicação conjunta com outros autores de artigos, com temas ligados ao objeto pesquisado no doutorado. Como se optou pela redação de artigos, a tese aqui apresentada é composta de uma parte introdutória na qual apresento o quadro teórico, com o fundamento lógico, modelo. 10.

(11) teórico e conceito de acidente de trabalho, nos quais me baseei para a concepção do estudo, análise dos dados e discussão dos resultados.. Depois, faço uma breve. apresentação sobre a Região Metropolitana de Salvador e os três municípios estudados – Salvador, Camaçari e Lauro de Freitas. Os artigos vêm a seguir, na ordem abaixo: Artigo 1 - Trabalho precário e Saúde dos Trabalhadores: uma revisão Artigo 2 - Mortes violentas: a contribuição dos acidentes de trabalho e da precarização do trabalho Artigo 3 – Validade da causa básica na declaração de óbitos por acidentes de trabalho Nos anexos, além dos instrumentos utilizados na pesquisa, apresento algumas informações adicionais sobre o trabalho de campo e a população estudada, texto resumo e pôsteres dos trabalhos apresentados em congressos, com resultados preliminares do estudo. Trabalhos apresentados em congressos: 1. Acidentes de Trabalho no Brasil – Estimativas de sub-registro e correção de taxas de mortalidade e de incidência - IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia, Recife, Junho 2004. 2. Methodological issues regarding study on mortality due to violence at work and work-related injuries in Salvador, Bahia, Brazil - 18th International Symposium in Epidemiology in Occupational Health – EPICOH 2005, Bergen, Noruega. Setembro 2005. 3. Uma estratégia para o enfrentamento da violência: segurança e suporte psicológico para uma equipe de entrevistadores em um estudo sobre a. 11.

(12) mortalidade por causas externas - 11º Congresso Mundial de Saúde Pública e 8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 21 a 25 de agosto de 2006. 4. Mortality due to Violence at Work and Work-Related Injuries in Salvador, Bahia, Brazil - 11º Congresso Mundial de Saúde Pública e 8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 21 a 25 de agosto de 2006.. Artigos publicados: Os seguintes artigos fazem parte da creditação obtida durante o curso e estão disponíveis no sítio de cada revista, no scielo (www.scielo.br ). 1. Acidentes de Trabalho no Brasil entre 1994 e 2004: uma revisão. Vilma Santana, Letícia Nobre, Bernadete Cunha Waldvogel - publicado na Revista Ciência & Saúde Coletiva, 10(4):841-855, 2005. 2. Sistema de Informação em Saúde do Trabalhador: desafios e perspectivas para o SUS. Luiz Augusto Facchini, Letícia C.C. Nobre, Neice M.X. Faria, Anaclaudia G. Fassa, Elaine Thumé, Elaine Tomasi, Vilma Santana - publicado na Revista Ciência & Saúde Coletiva, 10(4):857-867, 2005.. 12.

(13) 1. SOBRE O QUADRO TEÓRICO 1.1 Fundamento Lógico Os acidentes e as violências ocorridas durante o exercício do trabalho são importantes definidores do desgaste e de mortes de trabalhadores. A despeito dos índices de subregistro, a magnitude das taxas de incidência e de mortalidade por acidentes de trabalho e por violências no trabalho permite considerar esses eventos como importantes problemas de saúde pública, que resultam em impacto social e custos econômicos ainda não amplamente dimensionados em nosso país. São fenômenos complexos, aos quais concorrem inúmeros processos sociais que influenciam nas seleções, opções, histórias e trajetórias de inserção e permanência ou não das pessoas no mundo do trabalho.. A despeito dessa complexidade, vigoram. amplamente em nosso meio conceitos reducionistas sobre a determinação dos acidentes, entendidos como sendo fenômenos relativamente simples, determinados por uma ou poucas causas; geralmente causas imediatas, como falta de cumprimento de regras ou de uso de equipamentos de proteção por parte do trabalhador. Essas concepções levam à atribuição de culpa à vítima e não consideram a previsibilidade e evitabilidade desses eventos (Vilela & cols., 2004).. Esse processo social resulta na naturalização e na. banalização dos acidentes, tomados como fatalidade, desvelando concepções míticas e religiosas de sua causalidade (Lieber, 2001), o que dificulta, senão impede, sobremaneira a adoção de medidas efetivas para sua prevenção.. Por outro lado, observa-se uma. fragmentação das políticas públicas e inefetividade das ações dos órgãos responsáveis pela promoção e proteção da saúde e segurança dos trabalhadores, com conseqüente negligência e impunidade das empresas, responsáveis pela não observância das medidas de proteção e prevenção desses fenômenos nos ambientes de trabalho.. 13.

(14) Se os acidentes ocorridos nos ambientes e atividades de trabalho específicos são bastante sub-enumerados nas estatísticas oficiais, as violências ocorridas por agressões de terceiros no (ou durante o) trabalho ou por acidentes no trajeto são muito mais ausentes. A invisibilidade social dos acidentes e violências no trabalho aparece como conseqüência direta do processo de naturaIização e banalização desses eventos.. É. mantida cotidianamente pela forma como eles aparecem e como não aparecem nas estatísticas e nos sistemas de informação oficiais.. Ao lado de questões como baixa. qualidade e sensibilidade dos sistemas de registros e diferenças de cobertura populacional, há uma lacuna nas regras de classificação de morbidade e mortalidade por acidentes e violências (“causas externas”) que dificulta a identificação das situações de trabalho nessas ocorrências. Pode-se dizer que, também em relação ao trabalho, como em relação às situações mais gerais, há uma “produção da (des)informação sobre violência”; a geração, a sistematização e a divulgação das informações são de má qualidade, banalizadas, espetacularizadas e discriminatórias (Njaine & cols., 1997:405). São situações de morte que não aparecem; é a morte que não se mede; é a violência que se esconde. O trabalho, que em vida pouco valia, na morte desaparece. A partir deste fundamento lógico, as principais perguntas que irão nortear os objetivos do trabalho são: do que morrem os trabalhadores acidentados (que tipos de “causas” e violências)? Quem são esses trabalhadores? Que características sociais e demográficas apresentam? Que ocupações têm? Em que ramos de atividade econômica estavam trabalhando? Que inserção no processo de produção eles têm? É possível levantar alguma hipótese sobre o papel do trabalho precário em relação à mortalidade?. 14.

(15) 1.2 Modelo Teórico Entende-se modelo teórico como um conjunto de conceitos selecionados e a forma particular de o pesquisador articular esses conceitos, de modo que possa fundamentar suas hipóteses e explicar os resultados encontrados. Não somente um pano de fundo contextual, mas elementos e processos dinâmicos, inter-relacionados, transmutáveis, que compõem uma matriz com diferentes níveis de complexidade e dimensões gerais e particulares. As variáveis e dimensões escolhidas devem ser capazes de traduzir esses conceitos, de ser mediação entre os conceitos e a teoria adotados e o plano empírico. Em sua dimensão mais geral e macro encontra-se o modo de produção capitalista, que determina a divisão de homens e mulheres em classes sociais, de acordo com sua posse ou não dos meios de produção e sua apropriação ou não do produto do trabalho humano e da mais valia ou, de outro modo, de acordo com sua posição no processo de valorização do capital (Figura 1). A clássica divisão internacional do trabalho, que resultou na exportação de riscos e de processos poluentes dos países centrais aos periféricos, aprofunda-se e modifica-se, dando lugar, de meados para o final do século passado, aos processos de reorganização dos capitais, de globalização e de reestruturação produtiva.. A globalização vem. acompanhada de mudanças nas formas de gestão do trabalho, que propagam amplamente conceitos e práticas de flexibilização, redes de subcontratação e terceirização. Especialmente para os países periféricos, essas práticas significam perdas de direitos sociais e trabalhistas e precarização das condições de trabalho e saúde (Borges & Druck, 1993; Druck, 1997).. 15.

(16) Ocorre o que Antunes (2002:52) propõe ser uma tendência à “subproletarização” do trabalho, expressa nas formas de trabalho precário, parcial, temporário, subcontratado, “terceirizado”, vinculados à “economia informal, trabalho em domicílio, entre outras. Todas essas categorias de trabalhadores compartilham a precariedade do emprego e da remuneração; a desregulamentação das condições de trabalho em relação às normas legais e a perda de direitos sociais; a fragilização da proteção e atuação sindicais, “configurando uma tendência à individualização extrema da relação salarial” (Antunes, 2002:52). Esse processo, geral, deve ser entendido na particularidade da formação histórico-social do Brasil, especificamente de Salvador e Região Metropolitana, que passou por ciclos de desenvolvimento econômico e social, desde uma produção agro-exportadora, com predomínio de trabalho escravo, com desenvolvimento das atividades urbanas e mercantis de apoio a esse modelo, passando por uma des-ruralização da economia da região (Oliveira, 1987:54), chegando à situação atual do mercado de trabalho, com mescla de atividades tecnológicas de ponta e de uso intensivo de capital (como as indústrias químicas e petroquímicas), de expansão de atividades relacionadas à cultura, turismo e serviços, convivendo com atividades informais tradicionais (comércio de rua diverso, pequenos artesãos e trabalhadores por conta própria) e com atividades em franco processo de precarização, como diversas novas (e antigas) ocupações informais e redes de sub-contratação (terceirização) ao redor das atividades industriais. Destarte, aqui também se observa uma dinâmica do mercado de trabalho caracterizada pelo aumento do desemprego, do subemprego e do emprego precário, com aprofundamento das desigualdades de acesso ao trabalho regulado (Dieese, 2004; SEI, 2005). Ou seja, postos de trabalho do mercado formal são extintos e uma grande parcela de. 16.

(17) trabalhadores passa a obter sua subsistência por meio de atividades de trabalho informais, ilegais ou até mesmo, ilícitas. As mortes por acidentes no trabalho são entendidas como a expressão máxima do desgaste do corpo e da saúde dos trabalhadores, submetidos a relações e a condições de trabalho precárias, determinadas internamente, no âmbito dos ambientes de trabalho, por relações de poder – entre trabalhadores e empregadores – que definem formas particulares de organização dos processos de trabalho; e externamente, no mundo social e do trabalho, por um processo de reestruturação produtiva e de globalização da circulação do capital, que redefine uma particular divisão social e sexual do trabalho, e entre ramos de atividade econômica, além de mudanças nos mercados de trabalho locais. Ou, determinadas pela exclusão do ou pela não inclusão no mercado de trabalho protegido socialmente e economicamente, como é o caso dos trabalhadores inseridos em atividades informais, eventuais e desempregados.. Esses ambientes e atividades de. trabalho concretos e particulares implicarão em exposições a riscos (ocupacionais ou não) específicos à saúde e à vida. Por outro lado, o processo de desgaste também estará relacionado às condições materiais de vida, realizadas no âmbito da reprodução social e do consumo, o que também ocorre na dependência da inserção das pessoas no processo de produção e da classe social a que pertencem. Dos salários, da renda, da escolaridade, do status e do prestígio das ocupações, dependerá o acesso a bens materiais e simbólicos necessários à manutenção de condições de vida ou à vivência de padrões de vida específicos – os “modos de andar a vida” (Possas, 1989). Ao contribuir para a degradação e piora das condições de vida, a relação entre aumento do desemprego, subemprego e exercício de atividades informais e ilegais de trabalho e a ocorrência de situações de violência urbana pode explicar parte das mortes violentas no trabalho.. 17.

(18) Em relação à violência, em contraposição a um grupo que defende concepções biologicistas, há outro grupo de teorias que explica a violência como fenômeno de causalidade sobretudo social, provocada quer pela dissolução da ordem, quer pela “vingança” dos oprimidos, quer ainda pela fraqueza do Estado; esta seria resultado de efeitos disruptivos dos processos acelerados de mudança social (Santos Júnior & Dias, 2004:39). Este grupo reuniria maior heterogeneidade de categorias explicativas centrais; alguns privilegiam a abordagem dos processos migratórios, de industrialização, de urbanização; outros defendem uma relação causal entre níveis de miséria e pobreza e violência; outros enfatizam mudanças em processos culturais, de valores, simbólicos e de sociabilidade; outros discutem processos de exclusão e de iniqüidades sociais (Agudelo, 1997; Zaluar, 1998; Macedo et al., 2001; Young, 2002; Dias e Santos Júnior, 2004). Dentre essas, há outra vertente, que reúne a produção de autores que discutem a emergência da violência como mercadoria, a vertente da economia da violência, de sua comercialização, da indústria dos seguros, das empresas de segurança privadas ou das milícias, da transferência da responsabilidade do Estado, como detentor do monopólio da violência no mundo moderno civilizado, para a sociedade; discutem os processos de transferência de responsabilização (Garland, 2002). A despeito da multiplicidade de teorias, parece haver um consenso de que a “violência não faz parte da natureza humana, de que não tem raízes biológicas” (Minayo, 1994:7; Dias e Santos Júnior, 2004), de que é um fenômeno complexo, socialmente construído e com historicidade, inclusive assumindo um novo significado (ou apresentando-se como novo paradigma) no processo civilizatório, especialmente nas três últimas décadas. A proposição de Minayo (1994), ao classificar a violência em estrutural, de resistência e de delinqüência, clarifica aspectos e dimensões importantes como as posições de sujeitos e objetos da violência, sua amplitude além da criminalidade, suas interfaces com as. 18.

(19) noções de justiça e legitimidade e o processo subliminar (ou invisível) de naturalização da violência. A violência estrutural, geralmente percebida como natural, é aquela que “... se aplica tanto às estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas econômicos, culturais e políticos que conduzem à opressão de grupos, classes, nações e indivíduos, aos quais são negadas conquistas da sociedade, tornando-os mais vulneráveis que outros ao sofrimento e à morte...” (Minayo, 1994:8). Por fim, aqui se comunga da noção de que não há uma só violência, várias formas de violência coexistem. As faces da violência aparecem como a banalização da vida e da morte; a invisibilidade dos casos e das pessoas; a omissão da informação; a negligência com as medidas de proteção; a precarização das condições de trabalho; a precarização das condições de vida; a impunidade dos responsáveis; a inefetividade das políticas públicas; a violência das desigualdades.. 19.

(20) Figura 1 – Modelo teórico Modo do produção capitalista – Divisão social do trabalho Classes sociais Processo de produção de valor Processo de trabalho Objeto, meios, organização do trabalho. C O N D I Ç Õ E S. Escolaridade. D E. Renda. Qualificação Salário. Suporte família. V I D A. Suporte social. Violência urbana. Inserção produtiva Ramo atividade Ocupação. Acidente no trabalho / Morte. Flexibilização Terceirização Precarização. Organização do trabalho; ritmo, intensidade, produtividade. Políticas públicas de proteção ineficientes. R E E S T R U T U R A Ç Ã O P R O D U T I V A. 20.

(21) 1.3 Conceito de Acidente de Trabalho As definições e conceitos sobre os acidentes de trabalho estão intimamente ligados às concepções de causalidade assumidas, implícita ou explicitamente. Segundo o senso comum “acidente” é um acontecimento casual, fortuito, imprevisto; ou um acontecimento infeliz, casual ou não, e de que resulta ferimento, dano, estrago, prejuízo, avaria, ruína; um desastre (Ferreira, 1986). Ainda hoje, freqüentemente aparecem concepções mágicoreligiosas nas falas e representações de trabalhadores e da população, explicitadas na atribuição de “fatalidade”, “obra do acaso”, “obra” ou “castigo divino” (Lieber, 1998; Lieber, 2001; Vilela et al., 2004). Em documentos de agências internacionais, o “acidente de trabalho” é definido como uma ocorrência que surge da atividade ou durante o curso do trabalho que resulta em uma lesão ocupacional (WHO, s.d.). Outros descrevem como uma cadeia de eventos na qual algo deu errado, resultando em um desfecho indesejável (Jorgensen, 2000). Essas são definições genéricas que comportam diferentes concepções sobre a causalidade dos acidentes. Podem se amparar em modelos lineares, próximos de concepções unicausais, simplistas, de orientação comportamentalista e psicologizante; podem ser modelos que assumem uma cadeia de multicausalidade, com fatores de risco técnicos e humanos, que entendem o acidente como resultado de falhas em sistemas sócio-técnicos abertos (Almeida, 2006).. Mesmo quando adotam a concepção de sistemas abertos, muitas. dessas proposições não dão conta de analisar adequadamente as inter-relações entre as diferentes dimensões e domínios da rede de causalidade; não constróem uma hierarquia lógica entre causas aparentes e imediatas, causas subjacentes e intermediárias e causas básicas ou determinantes dos fatores iniciais da cadeia de eventos geradores do desfecho final. Além disso, não explicam a origem dos comportamentos assumidos como fonte de erro ou “falha humana” (Almeida, 2006).. Para Lieber (1998), mesmo. 21.

(22) identificando elementos de causalidade dos acidentes, há sempre o espaço do imponderável, do acaso, na explicação da gênese dos acidentes. Outros propõem a noção de “risco assumido” ou “risco residual” do sistema. Ou seja, assumem que, mesmo que os sistemas demonstrem que lançam mão das melhores e mais atuais práticas e ferramentas de prevenção para o controle de riscos e perigos, pode haver o “risco da ocorrência de eventos não antecipados e não-controlados com esses melhores recursos” (Almeida, 2006:194).. Para alguns, o risco ainda não conhecido, porque ainda não. experimentado ou não mensurado pelos conhecimentos e métodos científicos atuais; para outros, expressão do próprio acaso. Não tão distantes do senso comum, no Brasil, relatórios e documentos de instituições governamentais e empresariais freqüentemente analisam o acidente de trabalho como resultado de acontecimento fortuito, como indeterminado ou como decorrente de atos e comportamentos individuais - “falta de atenção”, “distração”, “não cumprimento de normas” (Almeida & Binder, 2000; Almeida, 2006); apartado, portanto, de seu quefazer cotidiano e de seu contexto.. Nesses casos, o papel do “trabalho” ou da “atividade. laborativa” (com suas múltiplas dimensões, formas de organização e de gestão) como categoria explicativa do acontecimento “acidente de trabalho” fica oculto, some de cena. São conceitos reducionistas sobre a determinação dos acidentes, entendidos como sendo fenômenos relativamente simples, determinados por uma ou poucas causas; geralmente causas imediatas ou causas aparentes, como falta de cumprimento de regras ou de uso de equipamentos de proteção ou de outros comportamentos adotados e entendidos como opções individuais dos trabalhadores (Almeida, 2006). Este estudo adota a concepção de que o acidente de trabalho é um fenômeno socialmente determinado, previsível e prevenível. Parte-se do pressuposto de que não é. 22.

(23) “natural” morrer trabalhando ou no trabalho. Mais do que isso, dadas as condições de produção e de determinação desses eventos, entendem-se os acidentes de trabalho como uma forma de violência. Nesta concepção, deve-se considerar pelo menos duas dimensões distintas ou duas formas de violência. A primeira compreende os casos de mortes no trabalho decorrentes da violência (estrutural) explícita, urbana, expressão das desigualdades sociais, da miséria, da discriminação, do racismo e da pobreza – majoritariamente homicídios em ocupações específicas como policiais militares, vigilantes, motoristas de ônibus e táxis, comerciantes e trabalhadores na rua. A essa, somam-se as mortes por acidentes de transporte (e de trânsito). Para essa dimensão da violência no trabalho, pressupõe-se de fundamental importância os determinantes sociais e econômicos responsáveis especialmente pelas condições precárias de vida e de trabalho e pelas desigualdades sociais. Determinantes que operam em uma escala maior, mais macro, na estrutura da sociedade e oriundos das origens de nossa formação social, mas que também se articulam com as situações conjunturais, da economia, da vida social e do cotidiano das pessoas e das famílias, com suas estratégias de sobrevivência e da rede de apoio social que logram obter e compartilhar. A segunda dimensão consiste na violência, também estrutural, porém subliminar, resultante das relações de poder desigual entre empregadores e trabalhadores; quando os primeiros, ao manter condições precárias e inseguras de trabalho e relações de trabalho autoritárias, ao privilegiar. demandas econômicas, de produtividade e. lucratividade, colocam a vida dos trabalhadores em segundo (senão em último) plano, resultando em acidentes de trabalho no exercício de suas atividades e funções específicas. São, por exemplo, as quedas e choques elétricos na construção civil; os acidentes com máquinas e explosões em indústrias metalúrgicas e químicas, entre outros. Aqui, os determinantes se originam de uma dimensão também macro, a partir da divisão. 23.

(24) do trabalho e do processo de reestruturação produtiva, combinados com uma dimensão mais particular dos processos de trabalho e outra, a singularidade dos ambientes, da organização e das relações de trabalho específicos. Para essa dimensão da violência, também cooperam a inoperância e a inefetividade da ação do Estado e das instâncias responsáveis pela garantia de direitos (direito à saúde, ao trabalho e ao meio ambiente seguro e saudável), ação essa diluída em políticas públicas fragmentadas e desarticuladas entre si. No campo da saúde coletiva, quando resultam em óbito, os casos de acidentes de trabalho são caracterizados como “causas externas de morte” ou “mortes violentas” e serão classificados segundo o tipo de “acidente” ou de “violência” (acidente de transporte, outros acidentes, homicídios e suicídios) e segundo a intencionalidade (lesões acidentais, lesões auto-infligidas, agressões de terceiros e de intencionalidade indeterminada). Em sua Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências, o Ministério da Saúde define os acidentes e violências como resultado de ações ou omissões humanas e de condicionantes técnicos e sociais, considerando-os fenômenos de conceituação complexa, polissêmica e controversa, apresentando, no entanto, uma diferença substancial entre o que considera “violência” e o que entende como “acidente”, sendo a primeira... “... um evento decorrente de ações realizadas por indivíduos, grupos, classes, nações que ocasionam danos físicos, emocionais, morais e ou espirituais a outrem e distingue-se do acidente, entendido como um evento não intencional e evitável, causador de lesões físicas ou emocionais no âmbito dos diferentes espaços sociais, entre os quais se inclui o trabalho” (Brasil, 2001:7).. 24.

(25) No termo são incluídas as diversas formas de expressão da violência: agressão física, abuso sexual, violência psicológica e violência institucional. Assume-se que a violência apresenta profundos enraizamentos nas estruturas sociais, econômicas e políticas, bem como nas consciências individuais, numa relação dinâmica entre os envolvidos. Do ponto de vista criminal, os acidentes de trabalho estão misturados aos eventos classificados segundo a intencionalidade: acidente não intencional; lesão / agressão infligida por terceiro (nesse caso, será um homicídio, doloso ou culposo, um latrocínio ou uma agressão seguida de morte); acidente de transporte e ou de trânsito, ou mesmo lesão auto-infligida (suicídio). Por sua vez, a definição de acidente de trabalho assumida pela legislação previdenciária condiciona-o à existência de vínculo empregatício com uma empresa e de incapacidade permanente ou temporária para o trabalho, decorrente da lesão corporal ou perturbação funcional. Os acidentes ocorridos no trajeto de ida ou volta do trabalho ou fora do local de trabalho, quando o trabalhador estiver a serviço (em viagem, por exemplo) são equiparados aos acidentes de trabalho, para fins de concessão dos benefícios acidentários (Brasil, 1991). A Previdência Social classifica os acidentes, portanto, como acidente “tipo” ou “típico”, definido como aquele que ocorre durante o exercício da própria atividade de trabalho a serviço da empresa e acidente de “trajeto”, que ocorre durante o deslocamento do trabalhador no percurso casa-trabalho-casa. Do ponto de vista da saúde, essas dimensões – legais, jurídicas e de responsabilidade civil – se imbricam, mas persiste a importância de definir com maior precisão os determinantes e as causas dos acidentes para estabelecer as estratégias de prevenção. Por exemplo, acidentes de trânsito, que implicam uma série de fatores determinantes, como aqueles relacionados a condições de vias públicas e estradas, às condições físicas. 25.

(26) e de manutenção dos veículos, às condições de saúde de motoristas (uso abusivo de álcool, saúde psíquica, acuidade visual e auditiva, doenças como HAS, diabetes etc), às condições e relações de trabalho dos motoristas e pessoal de transporte (jornada de trabalho, ritmo de trabalho, horas extras, relações com chefias, pressões de tempo etc), formas de transporte para o trabalho, pode ser tanto um “acidente tipo” para a Previdência Social, como aqueles envolvendo motoristas e cobradores, quanto um “acidente de trajeto” para trabalhadores (acidentados ou atropelados) se deslocando de casa para o trabalho e do trabalho para casa. As estratégias de prevenção serão diferentes daquelas mortes por violências como homicídios, que também podem ser “AT típicos” para motoristas, cobradores, vigilantes, trabalhadores em bancos assaltados e mortos durante o exercício de seu trabalho, como para os casos de trabalhadores assaltados e ou mortos no trajeto de casa para o trabalho e vice-versa. Para fins deste estudo, adotou-se uma concepção ampliada de “acidente de trabalho”, tanto em relação à definição do seu componente “acidente”, incorporando os eventos e agressões intencionais, quanto do seu componente “trabalho”, incorporando as ocorrências que aparentemente não seriam “do” trabalho (decorrentes do trabalho), mas que ocorreram no trabalho (no local ou durante o trabalho) ou no trajeto, e considerando todos os trabalhadores independentemente do vínculo empregatício, de sua inserção no mercado de trabalho ou da área de atuação.. Assim, além dos acidentes ocorridos. durante o exercício da atividade específica de trabalho, decorrentes dos meios, instrumentos e organização do trabalho, também serão considerados “acidentes de trabalho” as agressões e violências sofridas por terceiros, intencionais ou não, e os acidentes no trajeto, de trânsito ou não, ocorridos com quaisquer trabalhadores empregados, com carteira assinada ou não, servidores públicos, cooperativados, por conta própria, autônomos, biscateiros; do mercado formal ou informal de trabalho;. 26.

(27) empregados, desempregados, aposentados; de empresas públicas ou privadas; de zonas urbanas ou rurais.. 3. SOBRE A REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR A Região Metropolitana de Salvador (RMS) é composta por dez municípios, com uma população total em 2003 de 3.231.512 habitantes (MS/Ripsa, 2006). Salvador, capital, é o município com maior número de habitantes; Camaçari é o segundo município da Região em termos populacionais e Lauro de Freitas, o terceiro.. Os três municípios juntos. compreendem 89,7% da população total e 53,8% da área territorial da RMS. Em 2004, a População Economicamente Ativa (PEA) da RMS era de 1.692.000 pessoas, 61,9% da População em Idade Ativa (contingente de pessoas com 10 e mais anos de idade). A população ocupada correspondia a 1.261.000 trabalhadores, 74,5% da PEA (SEI, 2005). O ano de 2004 foi o primeiro desde o início da realização da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), em 1996, que a RMS apresentou redução da taxa de desemprego (de 8,9% em relação ao ano anterior), por aumento da oferta de postos de trabalho aos que estavam entrando no mercado de trabalho. A taxa média anual de desemprego foi de 25,5%, um pouco mais baixa que a de 2003, que atingiu 28,0% da PEA. Contudo, permanece sendo a maior taxa de desemprego comparada às demais regiões metropolitanas, tanto para homens quanto para mulheres (Braga & Rodarte, 2006). A PED-RMS estimou que havia em 2004 252 mil pessoas em desemprego aberto e 197 mil em desemprego oculto, das quais 129 mil encontravam-se no desemprego oculto pelo trabalho precário e os demais 51 mil no desemprego oculto pelo desalento. Em relação a. 27.

(28) 1997, a taxa total de desemprego cresceu 18,1%, tendo o desemprego aberto aumentado 20,2% e o oculto, 15,2%. (SEI, 2005) Das pessoas ocupadas, a maioria encontrava-se em atividades de serviços (60,9%); 16,5% estavam no comércio; 9,7% em serviços domésticos; 8,5% na indústria; 3,0% trabalhavam na construção civil e 1,4% nos demais ramos de atividade econômica. A jornada semanal média de trabalho das pessoas ocupadas foi de 42 horas semanais; quase metade dos ocupados (43,1%) trabalhou mais horas do que a jornada legal estabelecida. (SEI, 2005) Em relação à posição na ocupação, o total de assalariados compreendeu 59,9% dos ocupados.. Deste total 23,5% eram autônomos (ou trabalhadores por conta própria),. trabalhando para o público (19,3%) ou trabalhando para empresas (4,2%); 4,1% eram empregadores; 9,7% eram trabalhadores domésticos; 2,7% das pessoas ocupadas encontravam-se em outras posições (não remunerados, trabalhadores familiares etc). Dentre o total de assalariados, 46,0% eram empregados no setor privado e 13,9% eram servidores públicos. Do total de assalariados do setor privado, 34,4% tinham carteira de trabalho assinada e 11,6% não tinha carteira assinada. Ainda, 6,2% dos trabalhadores no setor privado eram sub-contratados. O rendimento real médio no trabalho principal dos ocupados, em 2004, também se elevou em comparação aos últimos seis anos, com valor estimado em R$ 684,00. No entanto, esse valor foi 18,2% menor do que o registrado em 1997. Esses rendimentos apresentam grandes disparidades quando se analisa a posição na ocupação. Os empregadores e assalariados do setor público apresentavam os maiores rendimentos médios, R$ 1.902,00 e R$ 1.273,00, respectivamente. Os autônomos, os assalariados do setor privado sem carteira assinada e os empregados domésticos apresentavam os menores rendimentos,. 28.

(29) R$ 415,00, R$ 385,00 e 215,00, respectivamente (SEI, 2005). Note-se que o rendimento médio dos empregados domésticos era menor do que o salário mínimo vigente no ano (R$ 240,00 até maio; R$ 260,00 a partir de maio de 2004). Em suma, segundo análise do DIEESE e da SEI, a partir dos dados da PED-2004, o mercado de trabalho na RMS caracteriza-se por: a) ser pouco estruturado, com grande disponibilidade de mão-de-obra e com uma estrutura produtiva marcada por grandes diferenças entre as empresas (tamanho, tecnologia, participação no mercado, etc.); b) apenas cerca de metade dos trabalhadores é contratada segundo as regras vigentes, tendo acesso às garantias oferecidas pela legislação do trabalho; c) a grande maioria está submetida a alta rotatividade, baixos salários e jornadas de trabalho extensas; d) o assalariamento sem carteira de trabalho assinada e o trabalho autônomo constituem parte expressiva do conjunto de ocupados, cuja precariedade de inserção decorre da falta de acesso ao contrato de trabalho padrão, da descontinuidade da relação de trabalho e da instabilidade de rendimentos. (DIEESE, 2004) Segundo os dados oficiais do Ministério da Saúde, as causas externas compreenderam 15,8% do total das causas de morte em 2003. A taxa de mortalidade por essas causas está aumentando progressivamente nos últimos anos na RMS. Passou de 63,89 por 100 mil pessoas, em 2000, para 73,59 por 100 mil em 2003; um acréscimo de 15% na mortalidade por essas causas.. Esse acréscimo foi preponderantemente devido aos. homicídios, cuja taxa aumentou em 240% no período (de 11,32 para 27,08). Apesar de ser a menor taxa, a de suicídios foi a segunda em termos de incremento, com 220% (de 0,56 para 1,24); a taxa de mortalidade por acidentes de transporte aumentou 25% (de 4,20 para 5,26); os eventos de intenção não determinada tiveram um incremento da taxa de 13% (de 25,15 para 28,50). O único grupo de sub-causa que diminuiu sua taxa no. 29.

(30) período foi o das demais causas externas (outros acidentes) que passou de 21,24 para 12,24 por 100 mil, uma diminuição de 42%. (MS/Ripsa, 2006). SALVADOR Com uma população estimada em 2005 de 2.673.560 habitantes, Salvador é a terceira maior capital do país em número de habitantes, com uma área territorial de 707 Km². Com 450 anos de história, foi fundada no período colonial, com funções políticoadministrativas; sediou o governo geral do Brasil até 1763. Experimentou declínio de sua base agro-exportadora, após a transferência da capital para o Rio de Janeiro, agravado pela concentração do desenvolvimento industrial no centro-sul do país, resultando em um longo período de estagnação econômica e populacional. A partir da década de 50, com a descoberta e exploração do petróleo na região do Recôncavo baiano, desencadeia-se novo ciclo de desenvolvimento econômico, populacional e urbano, culminando com a implantação. do Pólo. Petroquímico. de. Camaçari. e do. Complexo. do. Cobre,. empreendimentos esses que trazem nova dinâmica à região (Carvalho et al., 2004). Atualmente Salvador concentra atividades comerciais e financeiras, serviços públicos e a burocracia. estatal,. atividades. portuárias,. serviços. especializados,. com. intenso. crescimento das atividades ligadas ao turismo, com profundas desigualdades de classe e sociais na ocupação do espaço urbano (Carvalho et al., 2004). CAMAÇARI Camaçari é o segundo maior município da Região Metropolitana de Salvador, localizado a 52 Km de distância da capital, com população estimada em 2005 de 191.855 habitantes e área territorial de 760 Km². Em decorrência das atividades do Pólo Petroquímico, tem. 30.

(31) participação superior a 15% no PIB estadual e é responsável por 25% de toda arrecadação de ICMS e 35% das exportações do estado. Surgiu em 1558 de uma aldeia dos Índios Tupinambás, fundada pelos jesuítas, às margens do Rio Joanes. Primeiramente chamada de Aldeia do Divino Espírito Santo, passou à categoria de vila em 1758, tendo sua sede administrativa passado pela Vila de Abrantes, posteriormente integrada ao município de Mata de São João e novamente recriado como município. Com a malha ferroviária, no final do século XIX, Abrantes perde importância e a sede do município passa para Parafuso. Em 1892, retorna para Abrantes, no entanto, já estava se desenvolvendo o povoado de Camaçari, que perde seu nome e passa a chamar-se Montenegro. Em 1938, é restituído o nome de Camaçari e ampliado para todo município, mantendo-se os nomes das outras localidades que permanecem até hoje seu território, Vila de Abrantes, Monte Gordo, Parafuso e Dias D’Ávila, com exceção desta última, que se emancipou e é atualmente município vizinho (Camaçari, 2006). Por cerca de três séculos, teve economia agrícola e extrativa; com a decadência da cana-deaçúcar, passa à cultura de côco, produção de carvão, extração de piaçava e pesca. Na década de 1930, já é uma estância hidromineral, devido à qualidade de suas águas, porém, com infra-estrutura comercial bastante precária. O município foi escolhido para sediar o Pólo Petroquímico, principalmente por sua proximidade com a Refinaria Landulfo Alves, da Petrobrás. Nessa época, até o início dos anos 80, era área de segurança nacional. O início da construção do Pólo, em 1972, e sua partida, em 1978, trazem grandes impactos sociais, econômicos e ambientais para o município e região. Foi responsável por ciclos de expansão produtiva, populacional e urbana desde sua instalação, nos momentos de expansão, no final dos anos 80 e, recentemente, com a implantação da produção automobilística.. Considerado o maior. complexo industrial do Hemisfério Sul, possui atualmente mais de 60 empresas químicas. 31.

(32) e petroquímicas, bem como de outros ramos industriais que participam de grupos produtivos como o pólo plástico, automotivo, celulose, bebidas, têxtil, de cobre, que empregam cerca de 14 mil empregos diretos e 11 mil empregos terceirizados (Camaçari, 2006). Ao final dos anos 80, esse contingente de trabalhadores era no mínimo, duas vezes maior. Nesse processo foram engendradas mudanças de ordem política e social e de organização dos trabalhadores que para lá acorriam, com períodos de grandes mobilizações, movimentos grevistas e reivindicatórios, quer pelas próprias demandas de lutas dos trabalhadores por salários e melhores condições de trabalho e de vida, quer pela própria saúde dos trabalhadores, a exemplo da questão do benzenismo, que inicia na década de 80 e vai até os anos 90. Da década de 90 aos últimos anos, com as políticas de privatização, de enxugamento, de flexibilização das relações de trabalho, as sub-contratações e a terceirização passam a ser a grande estratégia de gestão da força de trabalho nas empresas do Pólo Petroquímico, e passam a ser objeto de atenção e desafio para a luta dos trabalhadores e dos sindicatos (Borges & Druck; 1993; Druck, 1996; Franco & Druck, 1998).. Em relação ao impacto na saúde, tem sido observada. uma crescente importância dos acidentes e das mortes no trabalho entre trabalhadores subcontratados nessas empresas (Druck, 1997; Rêgo & Pereira, 1997; Fernandes, 2000), bem como o aumento da morbi-mortalidade decorrente de violências, como os acidentes de transporte, agressões e homicídios. O município conta atualmente com mais de 250 empresas, distribuídas em diversos setores: químico, petroquímico, automotivo, pneus e artefatos de borracha, celulose, bebidas, metalurgia de cobre, transformação plástica; com expansão das atividades relacionadas à infra-estrutura urbana, hoteleira, de serviços, insumos e logística de apoio às atividades industriais (Camaçari, 2006). Observa-se expansão de atividades ao longo. 32.

(33) da região litorânea, como hotelaria, turismo e pesca, bem como crescimento da economia informal.. LAURO DE FREITAS Lauro de Freitas é o segundo menor município baiano em extensão territorial, com 60 quilômetros quadrados, e o terceiro município da Região Metropolitana de Salvador em termos populacionais, com população estimada em 2005 de 141.280 habitantes (IBGE, 2006). Localizado na faixa litorânea ao norte de Salvador, o município é banhado pelas praias de Ipitanga, Vilas do Atlântico e Buraquinho. Ao norte faz divisa com Camaçari, delimitada pelo Rio Joanes. Terra habitada pelos Índios Tupinambás à época da chegada dos portugueses, a região de Lauro de Freitas estava dentro da área de influência da família Garcia D’Ávila, proprietária da Casa da Torre, que por volta de 1552 fez instalar a missão de Santo Amaro de Ipitanga, depois nomeada Freguesia de Santo Amaro de Ipitanga. (Freitas & Paranhos, 2005) A região do antigo Morro dos Pirambás, que abrigava aldeias indígenas, testemunhou o aparecimento de inúmeros engenhos de açúcar, a influência cultural dos negros e a devastadora epidemia de cólera, por volta de 1850. As fazendas de engenho de açúcar foram sendo divididas ao longo das gerações de descendentes dos antigos donos. Há referências aos sítios e registros de terras de antigos “donos”, desde as primeiras décadas do séc. XVIII. Esses sítios originaram boa parte dos atuais bairros da cidade – Sítio Itinga; Santo Amaro de Ipitanga; Engenho Japara, do qual nasceu a Fazenda Portão, atual bairro de Portão; Caji, engenho famoso de propriedade de um poderoso coronel; e. 33.

(34) outras fazendas que originaram os atuais loteamentos Vilas do Atlântico, Miragem, Buraquinho, Praia de Ipitanga, Pitangueiras e outros. Com a construção da Base Aérea e do aeroporto, em 1940, a dinâmica local, de economia rural, se altera com o contingente de trabalhadores e movimento das obras.. Esse aumento populacional demanda o. crescimento da estrutura de serviços e comércio, que culmina com a emancipação do município, no início dos anos 60. Aí ocorre também o início de uma mutilação territorial, que fez com que o município perdesse mais de 50% de suas terras originais (Freitas & Paranhos, 2005). Atualmente, sua economia é baseada no comércio e serviços, com poucos estabelecimentos industriais, pecuária e agricultura.. Por sua localização litorânea e. próxima de Salvador, encontra-se em franca expansão imobiliária, com empreendimentos de construções residenciais, condomínios e hoteleiros voltados ao turismo.. Essa. expansão traz impactos ambientais importantes, uma vez que o município possui pequena extensão territorial, com prejuízo das poucas extensões de área rural, de Mata Atlântica e de comunidades quilombolas remanescentes (Freitas, 2005). Além disso, por ter menor imposto municipal (ISS) que Salvador, muitas empresas abrem seus escritórios no município, porém, prestam serviço em Salvador ou outros municípios da Região Metropolitana.. Também pela proximidade da capital, alguns bairros concentram. moradores que trabalham em outras localidades, funcionando quase como uma “cidade dormitório” para trabalhadores de baixa renda, ou “condomínios de luxo” para trabalhadores graduados do Pólo Petroquímico de Camaçari ou outras grandes empresas da Região Metropolitana de Salvador. Bairros novos, como Vida Nova, zona rural há menos de dez anos, teve sua urbanização intensificada para receber famílias vítimas de deslizamentos de terras do bairro do Retiro, de Salvador (Bernardes, 2005). Atualmente, além de condomínios residenciais recentes, abriga um distrito industrial, com um. 34.

(35) contingente de trabalhadores sazonais e trabalho em domicílio. Essas questões, aliadas às poucas oportunidades de emprego e de qualificação da força de trabalho, às mudanças sociais e culturais ocorridas com a crescente urbanização, provavelmente contribuem para a concentração dos óbitos por violências em alguns bairros específicos da cidade, como Itinga e Portão. Além disso, por ser um corredor rodoviário para o norte do Estado, tem os acidentes de transporte como importante impacto na saúde pública. A expansão imobiliária traz o potencial de ocorrência de acidentes ligados às atividades da construção civil.. 35.

(36) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Agudelo SF. Violência, Cidadania e Saúde Pública. In: Barata et al. (Orgs.) Eqüidade e Saúde – Contribuições da Epidemiologia. Rio de Janeiro: Edit. Fiocruz/Abrasco, 1997 (p.39-62). Almeida IM de & Binder MCP. Metodologia de Análise de Acidentes – Investigação de Acidentes do Trabalho. In: “Combate aos Acidentes Fatais Decorrentes do Trabalho”. MTE/SIT/DSST/FUNDACENTRO. p.35-51, 2000. Almeida IM. Trajetória da análise de acidentes: o paradigma tradicional e os primórdios da ampliação da análise. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, 9(18):185-202, 2006. Antunes RL. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho. São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 2002. Bernardes G. Vida Nova, um dos novos bairros. Expressão, Ano V, 79:9, 2005. Borges A & Druck MG. Crise global, terceirização e a exclusão no mundo do trabalho. Caderno CRH 19:22-45, Salvador, Jul/Dez 1993. Braga TS & Rodarte MS. A inserção ocupacional e o desemprego de jovens: o caso das regiões metropolitanas de Salvador e Belo Horizonte. Salvador: Dieese/SEI, 2006. Brasil. Lei Federal Nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. 1991. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências: Portaria MS/GM nº 737 de 16/05/01, publicada no DOU nº 96, seção 1E, de 18/05/01 / Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 64 p. (Série E. Legislação de Saúde, nº 8). Camaçari. Câmara Municipal de Camaçari. Camaçari – História e Memória - 2006. Carvalho IMM; Souza AG & Pereira GC. Polarização e Segregação Soioespacial em uma Metrópole Periférica. Caderno CRH, 17(41):281-297. Dieese. A mulher chefe de domicílio e a inserção feminina no mercado de trabalho. Boletim DIEESE. Edição Especial, Março 2004. Dieese. Departamento Intersindical de Estudos Econômicos e Sociais. Principais Conceitos da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Disponível em http://www.dieese.org.br/ ; acessado em 24/11/2004. Druck G. Globalização, reestruturação produtiva e movimento sindical. 24/25:21-40, jan/dez 1996.. Caderno CRH, nº. Druck MG. Flexibilização, terceirização e precarização : a experiência dos sindicatos. In: Franco, TMA. (Org.). Trabalho, riscos industriais e meio ambiente: rumo ao desenvolvimento sustentável? Salvador : Edufba, 1997. Fernandes RCP & cols. Investigação de Acidentes de Trabalho com Óbito na RMS. Cesat/Suvisa/Sesab. Anais do V Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Salvador, Bahia, 2000.. 36.

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