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A influência dos meios de comunicação de massa e redes sociais na formação de opinião dos jurados que compõem o conselho de sentença no Tribunal do Júri

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GRANDE DO SUL

LÍDIA DE PAOLA RITTER

A INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E REDES SOCIAIS NA FORMAÇÃO DE OPINIÃO DOS JURADOS QUE COMPÕEM O CONSELHO

DE SENTENÇA NO TRIBUNAL DO JÚRI

Três Passos (RS) 2017

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LÍDIA DE PAOLA RITTER

A INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E REDES SOCIAIS NA FORMAÇÃO DE OPINIÃO DOS JURADOS QUE COMPÕEM O CONSELHO

DE SENTENÇA NO TRIBUNAL DO JÚRI

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC. UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Ms. Márcia de Oliveira

Três Passos (RS) 2017

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Dedico este trabalho aos meus pais, pela capacidade de acreditar em mim e investir em mim. Mãe, seu cuidado e dedicação foi que deram a esperança para seguir. Pai, tua presença significou segurança e certeza de que não estou sozinha nessa caminhada.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Professora Ms. Márcia de Oliveira, pela disponibilidade em me orientar e desenvolver essa tarefa com tanta paciência, atenção e dedicação. Por sempre me auxiliar nas minhas dúvidas e dificuldades, pela leitura atenciosa de cada palavra que escrevi, pelos comentários fundamentais sobre meu trabalho.

Aos meus pais (Janete e Valmir), irmão (Jean) e namorado (Pedro) que sempre estiveram presentes em cada passo que dei na minha caminhada acadêmica. Pai e mãe, obrigada pelo esforço em me proporcionar a oportunidade para cursar a faculdade de Direito. Pelo apoio e incentivo infinito. Por compreenderem minha ausência. Pelas palavras carinhosas nos momentos difíceis. Por acreditarem em mim.

Aos meus amigos e colegas de faculdade, pela amizade e companhia durante as aulas. Pela paciência nos momentos de estresse e angústia. Pela ajuda nos momentos de dificuldade. Pelas brincadeiras e risadas. Pelas palavras de conforto e incentivo. Por simplesmente me escutar. Enfim, por todos os momentos que vivemos juntos, que ficarão marcados em minha memória para sempre.

Finalmente, agradeço a todos que de algum modo contribuíram para o desenvolvimento do presente trabalho, pois nada nessa vida se constrói sozinho. Que esse momento que finda uma trajetória, seja também o início de novas caminhadas e aprendizados na minha vida enquanto estudante.

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“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância.” Simone de Beauvoir

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O presente trabalho de conclusão de curso, teve por objetivo analisar a influência das comunicações de massa e redes sociais na decisão dos jurados que compõem o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri. A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, inciso XXXVIII, versa sobre os deveres do procedimento, bem como o institui competente para julgar crimes dolosos contra a vida. Tal direito é garantia individual, não podendo ser modificada, tampouco, retirada da Constituição Federal, considerado que é cláusula pétrea. Foi abordado se o julgamento dos crimes dolosos de maior importância no Direito Penal, realizado por um Tribunal Popular, produz decisões justas e eficazes do ponto de vista social, diante do direito do princípio da liberdade de imprensa, considerando que a cada dia as pessoas são ‘bombardeadas’ com inúmeras notícias em relação ao cometimento de crimes dolosos contra a vida, já trazendo, muitas vezes, indícios de materialidade e autoria.

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ABSTRACT

The purpose of this work was to analyze the influence of mass communications and social networks on the decision of the jurors that compose the Board of Judgment of the Jury. The Federal Constitution of 1988 in its article 5, item XXXVIII, deals with the duties of the procedure, as well as the competent institution to judge intentional crimes against life. Such right is an individual guarantee, and can not be modified, nor can it be withdrawn from the Federal Constitution, which is considered to be a stony clause. It was approached if the judgment of the most serious felony crimes in Criminal Law, carried out by a People's Court, produces fair and effective decisions from the social point of view, in the light of the principle of freedom of the press, considering that every day people are 'bombarded' with innumerable stories regarding the commission of felonious crimes against life, already bringing, many times, evidence of materiality and authorship.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 DEFINIÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E REDES SOCIAIS 11 1.1 Comunicação de massa: ... 11

1.2 Redes Sociais ... 16

1.3 A forma de atuação dos meios de comunicação de massa e redes sociais na formação de opinião ... 18

1.4 A garantia da liberdade de imprensa como direito fundamental ... 21

2 TRIBUNAL DO JÚRI NO CONTEXTO JURÍDICO ... 27

2.1 Criação e evolução do Tribunal do Júri ... 27

2.2 Competência do Tribunal do Júri ... 28

2.3 Conceito, estrutura e procedimento do processo e julgamento perante o Tribunal do Júri ... 30

2.4 Desclassificação do delito ... 31

2.4 Da decisão de absolvição sumária ... 32

2. 5 Impronúncia ... 33

2.6 Pronúncia ... 33

2.7 Da sessão em plenário ... 35

2.8 Do julgamento ... 37

2.9 Da sentença ... 37

2.10 Princípios Constitucionais que regem o Tribunal do Júri ... 38

2.2.1 Desaforamento ... 40

2.2.2 Procedimento e legitimidade do desaforamento ... 40

3 A INFLUÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E REDES SOCIAIS NA FORMAÇÃO DA CONVICÇÃO DOS JURADOS ... 43

3.2 Influência das comunicações de massa e redes sociais no caso “MENINO BERNARDO BOLDRINI” ... 48

3.3 O desaforamento como mecanismo legal que visa assegurar a imparcialidade do julgador, especificamente no caso da morte do menino Bernardo Boldrini ... 51

CONCLUSÃO ... 53

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ANEXO A - ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade estudar o Tribunal do Júri e a influência midiática frente às decisões proferidas pelos jurados que compõem o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri. O tema em questão foi escolhido em razão da grande especulação no mundo jurídico e da influência da mídia na formação do juízo de valor dos componentes do conselho de sentença.

A importância do tema se dá em razão do bem jurídico em apreço neste procedimento, a liberdade. Essa só deverá ser cerceada em última razão. Dada importância, não seria plausível pensar que os jurados antes mesmo de conhecer detalhadamente o processo, já estejam com opinião formada.

Este trabalho de conclusão de curso foi estruturado em três capítulos. O primeiro capítulo, denominado “Definição dos meios de comunicação de massa e redes sociais” sua evolução, relatando a forma como estes meios se inserem de forma automática no cotidiano das pessoas, tendo em vista a facilidade de comunicação, podendo agir como formadoras de opinião pública.

No segundo capítulo, foi feita uma busca em relação à criação e evolução do Tribunal do Júri, seu conceito, estrutura e procedimento do processo e julgamento perante este instituto, bem como sua competência, qual seja, julgar o cometimento de crimes dolosos contra a vida. Ainda, realizou-se uma análise dos princípios constitucionais do Tribunal do Júri (plenitude da defesa; sigilo das votações; soberania dos veredictos, bem como sua competência para julgar os crimes dolos conta a vida), os quais estão dispostos no artigo 5º, inciso XXXVIII da Constituição Federal.

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O terceiro capítulo destina-se à análise da influência das comunicações de massa e redes sociais na formação da convicção dos jurados que compõem o Conselho de Sentença no Tribunal do Júri, oportunidade em que foi abordado a influência da mídia em relação ao caso da morte do menino Bernardo Boldrini. Ainda, por final, foi referido o processo do desaforamento como meio que visa assegurar a imparcialidade do julgador, especificamente no caso da morte de Bernardo Boldrini.

Levando em consideração estas importantes questões, o presente estudo tem como objetivo geral analisar a forma de veiculação de notícias referentes a crimes dolosos contra a vida realizada pelos veículos de comunicação, e até que ponto isso influencia no juízo de valor dos componentes do conselho de sentença no Tribunal do Júri.

Os objetivos específicos se restringem a abordar a análise da instituição constitucional do tribunal do Júri; mostrar que as notícias veiculadas na mídia não são verdades absolutas; esclarecer que, em contraponto à liberdade de expressão e imprensa, existe a presunção de inocência e a dignidade humana, evitando que os jurados cheguem ao julgamento com um juízo de valor formado.

Para a realização deste trabalho utilizou-se o método de abordagem hipotético-dedutivo, tendo como metodologia a pesquisa em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede mundial de computadores, analisando também as propostas legislativas em andamento, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo da situação em que as comunicações de massa e redes sociais podem interferir na imparcialidade do conselho de sentença do Tribunal do Júri.

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1 DEFINIÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E REDES SOCIAIS

1.1 Comunicação de massa:

O início da comunicação pode ser entendido como o início da humanidade, em que pese não ser como a de hoje, a comunicação passou a existir a partir do momento que existiam pessoas capazes de praticá-la. De acordo com o autor Bordenave (1999), a comunicação funciona como um processo, não sendo possível determinar ao certo onde começa e quando termina. Todo esse processo, bem como sua evolução estão voltados para o relacionamento que o homem estabelece entre si e o meio que se encontra inserido, como forma de se situar, relacionar, compreender e ser compreendido.

A comunicação apesar de ser um assunto bastante complexo de se definir, ao mesmo tempo é algo muito simples e fácil, isso porque, se pararmos para pensar, todos nós a utilizamos, a todo momento. Monteiro (2016) refere que, na era do homem primitivo, um simples gesto, grito ou desenhos e imagens eram usados como formas para estabelecer comunicação entre os homens. No entanto, o que mudou, se aperfeiçoou e vive em constante progresso e atualização, são os meios de se estabelecer essa comunicação.

As informações que se tem em relação à comunicação nos dias atuais, são fruto de peças documentadas, como livros, cartas e desenhos primitivos feitos nas cavernas. Na medida em que o homem vai se comunicando, ele mesmo se descobre e como consequência descobre o outro, estabelecendo, assim, relações com os demais.

Santos (2012) menciona que um grande avanço da comunicação humana surgiu a partir da descoberta da tipografia, com Gutenberg, o homem que iniciou a era da imprensa na Europa, escrevendo e divulgando o saber e as ideias, em 1445. Isso significou multiplicação e propagação da escrita, dando início à era da Comunicação Social.

Mesmo com a intensa evolução da comunicação nas últimas décadas, percebe-se que esta não perdeu seus propósitos e objetivos essenciais, apenas vem se adaptando a novas concepções e necessidades da sociedade. De maneira conceitual, a comunicação, nas formas de processo que procura expressar valores e desejos humanos, pode ser definido como:

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(...) o processo pelo qual a informação é trocada e entendida por duas ou mais pessoas, normalmente com o intuito de motivar ou influenciar o comportamento. Comunicação não é só enviar informações. Esta distinção entre compartilhar e anunciar é crucial para um gerenciamento bem-sucedido. A comunicação administrativa é uma via de mão dupla que inclui ouvir e outras formas de feedback (DAFT, 1999, p. 339).

De forma ampla, pode-se observar que a definição de comunicação se refere a todo processo de compartilhamento de mensagens entre seres humanos, e a noção de comunicação se endereça à condição de possibilidade da interação e da compreensão do sentido.

Observa-se que nos diversos sentidos e pontos de vista, a comunicação pode ser definida, sua utilização, seu destino e seu direcionamento encontram-se obrigatoriamente cerceados pela vontade e necessidade humana. Segundo Bavaresco (2008) e Konzen (2008), toda e qualquer produção de comunicação seja de forma escrita, falada ou televisiva, passa sempre pela vontade que o indivíduo possui em fazer contato com outro indivíduo, máquina ou até mesmo instituição.

De acordo com conceito Aurélio, “comunicação” pode ser definida como “ato ou efeito de transmitir mensagens por meio de métodos ou processos convencionados”, a exemplo de um a linguagem verbal ou não verbal. (AURÉLIO, 2016).

Segundo Lolla (2011), na Revista Científica do Unisalesiano, em se tratando de processos convencionados, pode-se citar que a televisão é um dos mais amplos, denominando-se assim de meio de comunicação de massa, isso porque pode transmitir ao mesmo tempo, uma linguagem verbal, e outra não verbal, utilizando os recursos de som e imagem como forma de entreter o telespectador, sendo que o conjunto destes telespectadores pode ser chamado de “massa”.

Refere, ainda, que uma forma eficaz de atingir esta massa são os meios de comunicação, e que através de uma única informação, todos os integrantes podem sofrer diferentes ou iguais estímulos sem necessidade de contato pessoal, pois os modernos veículos de comunicação, oferecem condições excepcionais para proporcionar a grandes coletividades o comum excitante (LOLLA, 2011).

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A partir do entendimento de Pedro (2008), a comunicação de massa encontra-se voltada para o grande público, podendo ser um número incalculável de pessoas ou, simplesmente, destina a atender o interesse de uma minoria. Isso pode ser visto através das campanhas publicitárias veiculadas pelas grandes emissoras de TVs, por jornais diários ou por revistas semanais de grande circulação.

Salienta, ainda, que a comunicação situada no setor de transmissão simbólica é identificada como comunicação de massa, que engloba imagens de televisão, rádio, cinema, jornais, revistas e, mais recentemente, Internet (PEDRO, 2008).

Contudo, Poyares (1988, p. 64) adverte que comunicação de massa não é simplesmente um sinônimo de comunicação por intermédio de rádio, televisão ou qualquer outra técnica moderna, pois muitas vezes a tecnologia está presente sem que signifique comunicação de massa.

Diante das citações acima trazidas, verifica-se que pode haver o uso da mesma técnica, como por exemplo, a utilização de um circuito de televisão interno numa loja e a transmissão de um show para milhões de pessoas, ou seja, transmissão eletrônica de imagens, apesar de apenas o segundo exemplo configurar comunicação de massa.

Com essa explicação, o autor Poyares (1988) pressupõe que a definição da comunicação de massa envolve a natureza de outros fatores que, por estarem diretamente ligado a este modelo de comunicação, devem ser consideradas em sua concepção. Nesse sentido, o autor define que a comunicação de massa:

É um tipo especial de comunicação envolvendo distintas condições de operações dos modernos sistemas de comunicação, entre as quais estão a natureza da audiência (relativamente grande, heterogênea e anônima), a natureza da experiência comunicadora (pública, rápida e transitória) e a natureza do comunicador (não mais um indivíduo, mas parte de um sistema que integra uma organização complexa, com divisão de trabalho e grau de despesa correspondente) (POYARES, 1988, p. 65).

Segundo o autor Pfromm Netto (1984), são sete os meios de comunicação de massa usualmente reconhecidos como tais na literatura especializada. Divididos em meios impressos e meios não impressos, jornais, revista, livro e quadrinhos constituem o primeiro grupo, e cinema, rádio e televisão (incluindo-se aqui a Internet como o meio mais interativo), o segundo.

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Os meios de comunicação realizam papel importante frente às organizações, empresas fabricantes de produtos e a indústria da imprensa, pois acabam sendo grandes aliados, parceiros comerciais indispensáveis à sua condição de fornecedores de produtos para toda a sociedade.

De acordo com Wolf (2003), o incentivo ao consumismo exacerbado se dá essencialmente através das mensagens (comerciais, chamadas, patrocínios de programas) veiculadas nos meios de comunicação de massa. Observa-se que as mensagens, transmitidas pelos meios de comunicação procuram atingir um determinado objetivo, uma finalidade previamente estabelecida.

A partir da prática citada no parágrafo acima, bem como a partir do entendimento de Wolf (2003) os meios de comunicação de massa possuem grande influência sobre os receptores de informações, passando a convencer os indivíduos a comprar certos produtos, demonstrar determinado comportamento a respeito de assunto de interesse da sociedade, bem como na formação de uma opinião específica que é influenciada pelas mensagens que veiculam através dos canais de comunicação de massa.

Todavia, o autor citado acima, afirma que tal influência persuasiva seja uma regra, atingindo indiscriminadamente a maneira de agir, pensar, se comportar e opinar de toda a sociedade.

De acordo com Duarte, Bertolsi e Scandelari (2001), no artigo Educação e Comunicação, a comunicação de massa apresenta, além do aspecto da persuasão, também o inconveniente de sugerir uma imagem discutível da audiência, uma espécie de público atomizado, constituído de indivíduos anônimos, desarraigados, isolados, empobrecidos em suas relações interpessoais, os quais se tornam presa fácil dos meios de comunicação de massa que a mitificam e controlam.

Referem, ainda que as comunicações de massa possuem características que contribuem de forma decisiva para que ela possa ser percebida e analisada enquanto um tipo essencial de comunicação tanto para a sociedade quanto para os órgãos de controle e os próprios veículos que a difundem.

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Ainda em relação às características, uma das mais relevantes da comunicação de massa está relacionada justamente aos seus meios de transmissão e veiculação das informações, com o uso de tecnologia e máquinas como formas essenciais de mediação da comunicação.

O autor Melo (1992), afirma o referido acima, explicando que, mensagens idênticas podem ser reproduzidas indefinidamente. No caso de jornais ou livros, estes podem ser impressos em até milhões de cópias, todas elas exatamente iguais. Outro exemplo é o filme cinematográfico que pode ser visto por 01 pessoa ou até mesmo 50 milhões de pessoas, todas vendo e ouvindo a mesma produção. Da mesma forma ocorre com o rádio e televisão, pois podem ter audiência que vai de algumas pessoas até milhões, todas expostos à mesma mensagem.

Diante da colocação acima, o autor Pfromm Netto (1984), afirma que eles (jornais, livros, cinema, rádio e televisão) são meios de comunicação de massa, não porque são dirigidos mais às massas do que a uns poucos indivíduos selecionados, mas simplesmente porque, em virtude de sua natureza podem ser reproduzidos indefinidamente e identicamente.

Outra característica dos meios de comunicações de massa citadas por Pfromm Netto (1984) é em relação à maneira instantânea e rápida como as mensagens se espalham. A televisão e o rádio, que transmitem o acontecimento no mesmo momento de sua ocorrência, são exemplos de tamanha agilidade e rapidez. No caso da internet, essa velocidade também é processada de forma imediata, proporcionando aos receptores facilidade de acesso à informação que pode ser acessada em qualquer tempo, permitindo sua atualização instantânea.

Com o surgimento da internet e suas inúmeras vantagens, tanto na seara doméstica, empresarial e educacional, acabou por reformular o conceito que se tinha até então, de meios de comunicação de massa:

(...) a nova mídia não é apenas uma extensão linear da antiga. A mídia clássica e a nova mídia oferecem recursos de informação e entretenimento para grandes públicos, de maneira conveniente a preços competitivos. A diferença é que a nova mídia está expandindo dramaticamente a gama de recursos disponíveis para os consumidores através da Internet e de outros canais. E particular, a nova mídia está começando a prover conexões interativas entre o consumidor e o provedor de informação. Essa capacidade acrescenta uma nova dimensão notável ao atual padrão da mídia de massa, que se baseia em

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produtos unidirecionais entregues por uma fonte centralizada – jornal, canal de TV ou em um estúdio em Hollywood (DIZARD JR, 2000, p. 40).

Verifica-se que o novo conceito de comunicação de massa apresentado acima, é extremamente interativo, proporcionando aos usuários escolherem o tipo de informação que desejam acessar, bem como no momento que desejam. Salienta-se que essa evolução tecnológica que modificou os meios de comunicação de massa, fez com que as informações e comunicação interativas estivessem ainda mais presentes na vida cotidiana das pessoas. Em relação ao apresentado, Dizard Jr. (2000) pondera que:

A televisão a cabo, os videocassetes domésticos e a Internet são os exemplos mais familiares das tecnologias recentes que estão atualmente causando grande impacto nos padrões da mídia. Essas novas tecnologias têm roubado audiência das transmissões televisivas abertas e de outros serviços midiáticos tradicionais. Como resultado, num tempo relativamente curto, esses novos veículos se transformaram em parte substancial da mídia, juntamente com a TV, o rádio e as publicações (DIZARD JR, 2000, p. 22).

Diante do abordado, é possível compreender que a comunicação de massa não se restringe apenas à divulgação de informações e notícias, nem mesmo na promoção de influências no comportamento social, mostrando-se um eficaz canal de propagação do conhecimento, da educação e da socialização dos indivíduos. Este aspecto, inserido dentro das necessidades mais emergentes da sociedade, tende a se apresentar como um meio para a discussão de problemas, a disseminação de conhecimentos diversos e a ampliação da educação em diferentes níveis intelectuais e culturais.

1.2 Redes Sociais

De início é importante trazer alguns marcos sobre a evolução histórica das redes sociais, Daquino (2012), relata que os primeiros serviços que possuíam característica de sociabilizar dados, surgiram no de 1969, com o desenvolvimento da tecnologia dial-up e o lançamento do

compuserve, serviço comercial de conexão à internet em nível internacional muito propagado

nos Estados Unidos.

O autor mencionou ainda que, outro passo importante nessa evolução foi o envio do primeiro e-mail, no ano de 1971. Mais tarde, sete anos após, foi realizada a criação do Bulletin

Board System (BBS), ferramenta utilizada para convidar amigos para eventos e realizar

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dos dados. Já no ano de 1985, quando a America Online (AOL), forneceu ferramenta para que as pessoas criassem perfis virtuais, possibilitando a troca de informações e discussões sobre variados temas.

Ainda segundo o autor Daquinho (2012), nos anos de 2000, a internet passou a ser utilizada de forma mais assídua, estando presente tanto no ambiente doméstico como laboral. Com o aumento dos acessos, as redes sociais começaram a ser utilizadas de forma imensa, momento em que foram surgindo infinitos serviços de entretenimento.

Marteleto (2001, p. 72), define redes sociais como, um conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados.

O autor ainda ressalta, que só nas últimas décadas o trabalho pessoal em redes de conexões passou a ser percebido como um instrumento organizacional, apesar de o envolvimento das pessoas em redes existir desde o início da história da humanidade, pois o ser humano sempre conviveu em um ambiente de comunicação e colaboração, utilizando as tecnologias disponíveis em cada fase histórica para esse contato, portanto, as redes sociais precedem a existência da internet.

Na convicção de Gabriel (2011, p. 196), as redes sociais estão relacionadas a pessoas conectadas em função de interesse comum:

As redes sociais podem ser definidas como uma “estrutura social formada por indivíduos (ou empresa), chamados de nós, que são ligados (conectados) por um ou mais tipos específicos de interdependência, como amizade, parentesco, proximidade/afinidade, trocas financeiras, ódios/antipatias, relações sexuais, relacionamento de crenças, relacionamento de conhecimento e de prestígio, etc.

A autora Raquel Recuero (2009, p. 25) salienta que as pessoas interagem tanto pelo aspecto social, quanto pelo lazer.

Uma rede social na Internet tem um potencial imenso para colaborar, para mobilizar e para transformar a sociedade. São pessoas que estão utilizando a Internet para ampliar suas conexões e construir um espaço mais democrático, mais amplo, mais plural e com isso, gerando valores como reputação, suporte social, acesso às informações e etc.

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Diante do pesquisado, pode-se dizer que as redes sociais traduzem as interações e opiniões sociais em forma de rede mediadas pela internet, possibilitando aos seus usuários gerar um perfil público, alimentado por dados e informações pessoais, dispondo de ferramentas que permitem a interação dos usuários, bem como o compartilhamento de ideias e opiniões.

1.3 A forma de atuação dos meios de comunicação de massa e redes sociais na formação de opinião

É notório o importante papel que a mídia desempenha na atualidade, a função de manter toda uma sociedade informada sobre temas relevantes que geram enorme repercussão. Contudo, a forma como essas matérias são disponibilizadas tanto nos meios de comunicação de massa, bem como nas redes sociais, podem, com certeza, auxiliar na formação de opinião sobre aqueles temas.

Diante do grande e abrangente trabalho realizado pela mídia, é possível perceber que vem alcançando o seu principal objetivo, que de acordo com Leite (2011), é a transmissão de informações e de notícias ocorridas no cenário mundial, isso em rápida velocidade e com um alcance gigantesco. No momento em que a mídia transmite/repassa informações, é plenamente notória a sua capacidade de fazer com que a sociedade seja aos poucos influenciada na formação de opinião em relação aos fatos abordados pelas redes.

Salienta-se que o processo de formação de opinião pública é um processo totalmente intelectual: tendo início com um problema, em prosseguimento existem várias discussões até a solução/decisão inteligente, conforme entendimento de Correa (1988), que a culminância desses estudos coincide aqui com o tratamento de opinião pública como sendo um processo intelectual, iniciado com o surgimento de questões de interesse comum, submetidas aos diferentes pontos de vista, seguidas pela deflagração da controvérsia, derivando esta em soluções alternativas, cuja opção sugere o acordo.

De acordo com Pimenta (2011), para que a formação da opinião de cada indivíduo, que culminará na formação da opinião pública e posição da esfera pública política, acontece num momento de fusão de informações. Cada indivíduo, de posse de seu repertório e subjetividade, toma conhecimento de um fato por meio da mídia e irá discuti-lo com sua família, onde cada membro também de posse de seu repertório e subjetividade, recebe informações da mídia e

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discute o assunto com outras pessoas. Eis a rede de influências discursivas que viabiliza e enriquece a formação da opinião.

Em análise ao cenário atual, percebe-se que as comunicações de massa e redes sociais são muito utilizadas pela sociedade, sendo capazes de construir socialmente uma agenda pública de assuntos, temas, opiniões, personalidades, bem como o enquadramento sobre cada um destes assuntos, trazendo grande audiência instantaneamente. É o que afirma também Venâncio A. de Lima (1998, p. 53):

A mídia, plural latino de medium, meio, é entendida aqui como o conjunto das instituições que utilizam tecnologias específicas para realizar a comunicação humana. Vale dizer que a instituição mídia implica sempre a existência de um aparato tecnológico intermediário para que a comunicação se realize. A comunicação passa, portanto, a ser uma comunicação midiatizada, este é um tipo específico de comunicação, realizada através de instituições que aparecem tardiamente na história da humanidade e constituem-se em um dos importantes símbolos formadores de opinião no processo democrático. Segundo Cruz (2011), a disseminação de notícias, fatos relevantes e opiniões, realizam-se por meio de trabalho humano, na forma de decisões políticas, sociais e econômicas de quem possui os meios para comunicar e promover a construção de consensos, amplos ou segmentados.

Em prosseguimento, refere que é no contexto citado no parágrafo acima que se constroem as teorias sobre formadores de opinião, sendo que os formadores de opinião citados pelo autor, são pessoas que, por meio da mídia, comunicam juízos sobre temas, fatos, personalidades ou valores a ampla parcela da população ou a um grupo específico.

De acordo Traquina (2005, p. 48), a mídia é considerada o quarto poder em relação aos poderes executivo, legislativo e judiciário. Esta alimenta a opinião pública e a exprime, desenvolvendo no mínimo, dois papeis, sendo um deles como porta vozes da opinião pública, dando expressões às diferentes vozes no interior da sociedade que deveriam ser tidas em conta pelos governos, e como vigilante do poder político que protege os cidadãos contra os abusos (históricos) do governante.

É notória a grande utilização dos meios de comunicação, isso porque, vive-se em uma era totalmente virtual onde os meios de comunicação são utilizados para publicar decisões

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políticas, sociais e econômicas. Cruz (2011), apresenta que as teorias sobre os formadores de opinião se executam a partir de pessoas que, por meio da mídia, comunicam juízos sobre temas, fatos, personalidades ou valores a ampla parcela da população ou a um grupo específico.

Prosseguindo nessa mesma linha de pensamento, o autor ainda afirma que existem os formadores de opiniões “verticais”, que podem ser definidos como indivíduos com poderes de expressão e que tem a possibilidade de se comunicar com um vasto número de pessoas, em outras palavras, uma pessoa que tem acesso aos meios de comunicação para usar a palavra no sentido de comunicar a quem lhes der crédito e credibilidade, suas opiniões sobre quaisquer temas ou sobre temas específicos, podendo, eventualmente, intervir na formação de opinião do público, como exemplo, pode-se citar os profissionais do jornalismo (CRUZ, 2011).

Existem, ainda, os formadores de opinião “horizontais”, que podem ou não ser professores, médicos, sacerdotes, empresários ou líderes comunitários, tendo como característica principal um traço de personalidade, algo que lhes confere essa distinção como formuladores de opinião assimilada e reproduzida por outras pessoas (FIGUEIREDO, 2000).

Ganham importância os “formadores de opinião horizontais” que por terem traços de personalidade de liderança e um nível de informação acima da média para o meio em que vivem, têm oportunidade de dizer o que pensam e, mais do que isso, são procuradas para orientar pessoas de suas relações. (FIGUEIREDO, 2000, p. 31).

Por fim, de acordo com Streck (1998), a mídia interfere, forma e transforma a realidade, as motivações, os modos de pensar e de agir do homem.

A mídia é uma arma poderosa e seu uso é verticalizado e concentrado nas mãos daqueles que controlam o fluxo de informações “os detentores do saber” e, consequentemente, do poder. Comprometida com sua defesa de interesses, no intuito de fabricar a representação social mais convincente, munida de uma condição valorativa, posiciona-se de maneira ideológica, tomando partido daquilo que é mais interessante e lucrativo a seus olhos. A força midiática é notória naquilo que divulga e no que silencia. Sua eficácia também é vista no serviço de ‘semear ou plantar ideias’, com o simples propósito de fazer com que o mundo pareça ser o que vemos nas capas de revistas, telas de televisão ou do computador. Tal denominação se dá por meio de um sistema de linguagens verbais e não verbais compostas por símbolos e signos.

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Diante do abordado, é possível verificar que os meios de comunicação têm evoluído diariamente e de forma acelerada, e as pessoas nem sempre estão bem informadas, e a correria do cotidiano impede de obter maiores informações para que possam construir uma opinião de forma humanizada e civilizada.

1.4 A garantia da liberdade de imprensa como direito fundamental

A garantia de liberdade de imprensa, bem como de toda liberdade jurídica, regulariza a atuação dos veículos de comunicação da forma correta como devem se expressar. Nela são elencados dois valores fundamentais da sociedade moderna, o primeiro é da liberdade de expressão e o direito à intimidade, vida privada honra e à imagem1. Se há excesso na liberdade de expressão, fere-se a pessoa, em seus atributos fundamentais acima enumerados. Se há falta de liberdade, a sociedade carece da informação.

O princípio da garantia de liberdade de imprensa, visa garantir a liberdade de expressão e à informação, possibilitando o direito a qualquer pessoa de se manifestar, de buscar e receber informações e ideias de todos os tipos, independentemente da intervenção de terceiros. Esse direito pode ser utilizado de forma oral, escrita, através de arte ou ainda, por qualquer meio de comunicação.

Tal direito2 tornou-se mais sólido com a criação da Organização das Nações Unidas, no qual o direito à liberdade de expressão passou a ser compreendido como base para a consolidação dos regimes democráticos e a efetivação de outros direitos humanos e liberdades fundamentais.

A partir da leitura dos artigos acima, verifica-se que se inadmite qualquer censura, tanto de natureza política, ideológica e artística (artigo 220, § 2º da Constituição Federal), contudo,

1 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

2 Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo

ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. § 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

(23)

a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão, dentre outros, o princípio do respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família3 (artigo 221, inciso IV da Carta Magna).

O direito de ser livre deve existir no plano da consciência, ninguém é livre se não pode fazer a sua própria escolha em matéria de religião, de política ou sobre aquilo que vai ou não acreditar, ou se é forçado a esconder seus sentimentos ou a gostar do que os outros gostam, contra a sua vontade. Assim sendo, a liberdade de pensamento, de opinião e de sentimento faz parte do direito à liberdade, que deve ser assegurado a todos os seres humanos (DALLARI, 2004).

A atual Lei de Imprensa (Lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967) inovou o conceito tradicional de imprensa e nele incluiu os serviços de radiodifusão e as agências de notícias4.

É possível afirmar, portanto, que a palavra imprensa não constitui o restrito significado de meio de difusão de informação impressa, isso porque levou em conta os amplos meios de divulgação de informação ao público, como rádio, televisão e internet, cujo alcance sobre a grande massa é ilimitado.

Liberdade é a faculdade que uma pessoa possui de fazer ou não fazer alguma coisa; envolvendo sempre uma escolha entre duas ou mais alternativas, agindo de acordo com sua própria vontade. O direito de liberdade não é absoluto, pois para ninguém é dada a prerrogativa de fazer tudo o que bem entender; essa concepção de liberdade levaria à submissão dos mais fracos pelos mais fortes. Para que uma pessoa seja considerada livre é indispensável que os demais respeitem a sua liberdade. Em termos jurídicos, é o direito de fazer ou não fazer alguma coisa, senão em virtude da lei, ou seja, um indivíduo é livre para fazer tudo o que a lei não proíbe, pois considerando o princípio da legalidade, apenas as leis podem limitar a liberdade individual (PINHO, 2007).

3 Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: IV

- respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

4 Art. 2º É livre a publicação e circulação, no território nacional, de livros e de jornais e outros periódicos, salvo

se clandestinos (art. 11) ou quando atentem contra a moral e os bons costumes. § 1º A exploração dos serviços de radiodifusão depende de permissão ou concessão federal, na forma da lei. § 2º É livre a exploração de empresas que tenham por objeto o agenciamento de notícias, desde que registadas nos termos do art. 8º.

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Para comprovar o citado acima, refere-se o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 130, o qual encontra-se em sua integralidade no anexo A, deste trabalho, ocasião em que o Ministro Celso de Mello na justificativa de voto afirma que nenhum direito é absoluto, e sendo assim a liberdade de expressão também não é, e possui limitações, principalmente quando entra em confronto com outros direitos fundamentais garantidos na Constituição de 1988:

[...] EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO

FUNDAMENTAL (ADPF). LEI DE IMPRENSA. ADEQUAÇÃO DA

AÇÃO. REGIME CONSTITUCIONAL DA "LIBERDADE DE

INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA", EXPRESSÃO SINÔNIMA DE LIBERDADE DE IMPRENSA. A "PLENA" LIBERDADE DE IMPRENSA COMO CATEGORIA JURÍDICA PROIBITIVA DE QUALQUER TIPO DE CENSURA PRÉVIA. A PLENITUDE DA LIBERDADE DE IMPRENSA COMO REFORÇO OU SOBRETUTELA DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE

EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E

COMUNICACIONAL. LIBERDADES QUE DÃO CONTEÚDO ÀS RELAÇÕES DE IMPRENSA E QUE SE PÕEM COMO SUPERIORES BENS DE PERSONALIDADE E MAIS DIRETA EMANAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO PROLONGADOR DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. TRANSPASSE DA FUNDAMENTALIDADE DOS DIREITOS PROLONGADOS AO

CAPÍTULO PROLONGADOR. PONDERAÇÃO DIRETAMENTE

CONSTITUCIONAL ENTRE BLOCOS DE BENS DE PERSONALIDADE: O BLOCO DOS DIREITOS QUE DÃO CONTEÚDO À LIBERDADE DE IMPRENSA E O BLOCO DOS DIREITOS À IMAGEM, HONRA, INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. PRECEDÊNCIA DO PRIMEIRO BLOCO. INCIDÊNCIA A POSTERIORI DO SEGUNDO BLOCO DE DIREITOS, PARA O EFEITO DE ASSEGURAR O DIREITO DE RESPOSTA E ASSENTAR RESPONSABILIDADES PENAL, CIVIL E ADMINISTRATIVA, ENTRE OUTRAS CONSEQUÊNCIAS DO PLENO GOZO DA LIBERDADE DE IMPRENSA. PECULIAR FÓRMULA CONSTITUCIONAL DE PROTEÇÃO A INTERESSES PRIVADOS QUE, MESMO INCIDINDO A POSTERIORI, ATUA SOBRE AS CAUSAS

PARA INIBIR ABUSOS POR PARTE DA IMPRENSA.

PROPORCIONALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E MATERIAIS A TERCEIROS. RELAÇÃO DE MÚTUA CAUSALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E DEMOCRACIA. RELAÇÃO DE INERÊNCIA ENTRE PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA LIVRE. A IMPRENSA COMO INSTÂNCIA NATURAL DE FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E COMO ALTERNATIVA À VERSÃO OFICIAL DOS FATOS. PROIBIÇÃO DE MONOPOLIZAR OU OLIGOPOLIZAR ÓRGÃOS DE IMPRENSA COMO NOVO E AUTÔNOMO FATOR DE INIBIÇÃO DE ABUSOS. NÚCLEO DA LIBERDADE DE IMPRENSA E

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AUTORREGULAÇÃO E REGULAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE DE IMPRENSA. NÃO RECEPÇÃO EM BLOCO DA LEI Nº 5.250/1967 PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. EFEITOS JURÍDICOS DA

DECISÃO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. ARGUIÇÃO DE

DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). LEI DE IMPRENSA. ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. A ADPF, fórmula processual subsidiária do controle concentrado de constitucionalidade, é via adequada à impugnação de norma pré-constitucional. Situação de concreta ambiência jurisdicional timbrada por decisões conflitantes. Atendimento das condições da ação. 2. REGIME CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE DE

IMPRENSA COMO REFORÇO DAS LIBERDADES DE

MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO EM SENTIDO GENÉRICO, DE MODO A ABARCAR OS DIREITOS À PRODUÇÃO INTELECTUAL, ARTÍSTICA, CIENTÍFICA E COMUNICACIONAL. A Constituição reservou à imprensa todo um bloco normativo, com o apropriado nome "Da Comunicação Social" (capítulo V do título VIII). A imprensa como plexo ou conjunto de "atividades" ganha a dimensão de instituição-ideia, de modo a poder influenciar cada pessoa de per se e até mesmo formar o que se convencionou chamar de opinião pública. Pelo que ela, Constituição, destinou à imprensa o direito de controlar e revelar as coisas respeitantes à vida do Estado e da própria sociedade. A imprensa como alternativa à explicação ou versão estatal de tudo que possa repercutir no seio da sociedade e como garantido espaço de irrupção do pensamento crítico em qualquer situação ou contingência. Entendendo-se por pensamento crítico o que, plenamente comprometido com a verdade ou essência das coisas, se dota de potencial emancipatório de mentes e espíritos. O corpo normativo da Constituição brasileira sinonimiza liberdade de informação jornalística e liberdade de imprensa, rechaçante de qualquer censura prévia a um direito que é signo e penhor da mais encarecida dignidade da pessoa humana, assim como

do mais evoluído estado de civilização. 3. O CAPÍTULO

CONSTITUCIONAL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO PROLONGADOR DE SUPERIORES BENS DE PERSONALIDADE QUE SÃO A MAIS DIRETA EMANAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: A LIVRE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E O

DIREITO À INFORMAÇÃO E À EXPRESSÃO ARTÍSTICA,

CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. TRANSPASSE DA NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS PROLONGADOS AO CAPÍTULO CONSTITUCIONAL SOBRE A COMUNICAÇÃO SOCIAL. O art. 220 da Constituição radicaliza e alarga o regime de plena liberdade de atuação da imprensa, porquanto fala: a) que os mencionados direitos de personalidade (liberdade de pensamento, criação, expressão e informação) estão a salvo de qualquer restrição em seu exercício, seja qual for o suporte físico ou tecnológico de sua veiculação; b) que tal exercício não se sujeita a outras disposições que não sejam as figurantes dela própria, Constituição. A liberdade de informação jornalística é versada pela Constituição Federal como expressão sinônima de liberdade de imprensa. Os direitos que dão conteúdo à liberdade de imprensa são bens de personalidade que se qualificam como sobredireitos. Daí que, no limite, as relações de imprensa e as relações de

intimidade, vida privada, imagem e honra são de mútua excludência, no sentido de que as primeiras se antecipam, no tempo, às segundas; ou seja, antes de tudo prevalecem as relações de imprensa como superiores bens jurídicos e natural forma de controle social sobre o poder do Estado, sobrevindo as demais relações como eventual responsabilização ou consequência do pleno gozo das primeiras. A expressão constitucional "observado o disposto nesta Constituição" (parte final do art. 220) traduz

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a incidência dos dispositivos tutelares de outros bens de personalidade, é certo, mas como consequência ou responsabilização pelo desfrute da "plena liberdade de informação jornalística" (§ 1º do mesmo art. 220 da Constituição Federal). Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário, pena de se resvalar para o espaço inconstitucional da prestidigitação jurídica. Silenciando a Constituição quanto ao regime da internet (rede mundial de computadores), não há como se lhe recusar a qualificação de território virtual livremente veiculador de ideias e opiniões, debates, notícias e tudo o mais que signifique plenitude de comunicação. 12.

PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. Total procedência da ADPF, para o efeito de declarar como não recepcionado pela Constituição de 1988 todo o conjunto de dispositivos da Lei federal nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967 (BRASIL, 2009).

A partir da leitura da decisão da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 130, percebe-se que foi motivado em função da realidade de um mundo extremamente globalizado, tendo em vista a frequência com que os direitos inerentes à personalidade, como a intimidade, a privacidade, a honra e a imagem, são violados, normalmente pela imprensa que, no intuito de explorarem ao máximo uma notícia que representará aumento nos índices de audiência, procura justificar os excessos e um “absoluto” direito à liberdade de expressão.

A Constituição Federal da República do Brasil de 1988 traz em seu artigo 5°, incisos V, IV e X5 as limitações à imprensa, invocando um caráter punitivo para aqueles que abusam do direito à liberdade de expressão e manifestação de pensamento ou o utilizam com irresponsabilidade. Qualquer fato noticiado pela imprensa é considerado realidade pelo público, e por isso as limitações impostas pela Constituição Federal devem ser plenamente respeitadas, principalmente quando versam sobre a honra do ser humano, independentemente de sua idade (SANTOS, 2008). Assim, a eventual violação do princípio de liberdade de imprensa implica responsabilidade.

A forma eficaz como as notícias, imagens e opiniões emitidas pela imprensa chegam até as pessoas, é outro motivo que prova o correto julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 130, considerando que a mídia possui grande facilidade de construir

5 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

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ou até destruir ideias e opiniões há muito tempo formadas, isso porque, pressupõe-se que as matérias veiculadas pela mídia são verdadeiras. Com isso, as informações que possam ser atentatórias à dignidade humana quando não forem verdadeiras, implicam responsabilidade tanto na área civil, como também penal.

Assim, para finalizar, verifica-se que todo o indivíduo, membro da sociedade, possui o direito de informar e ser informado. Contudo, quando se trata de informações prestadas por meios de comunicação, essas devem ser veiculadas de forma correta, imparcial, adequada e pertinente, devendo atender suas funções sociais, não podendo haver qualquer tipo de distorção, conforme elenca o artigo 5º, inciso XIV6 da Constituição Federal da República do Brasil de 1988.

6 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.

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2 TRIBUNAL DO JÚRI NO CONTEXTO JURÍDICO

2.1 Criação e evolução do Tribunal do Júri

O surgimento do Tribunal do Júri no Brasil se deu 1822, através de iniciativa do Senado da Câmara do Rio de Janeiro, que encaminhou ao então Príncipe Regente D. Pedro proposta de criação de um "juízo de jurados", sendo então, o Tribunal do Júri, implementado através de Decreto Imperial, denominado, primeiramente de "juízes de fato" e era composto de 24 (vinte e quatro) juízes, homens considerados bons, honrados, inteligentes e patriotas, competindo-lhes, julgar, inicialmente matéria estrita aos crimes de imprensa, sendo que só caberia recurso de sua decisão à clemência Real. A nomeação destes Juízes ficava sob a responsabilidade do Corregedor e dos Ouvidores do Crime (BRITO, 2014).

A autora referiu ainda que, com a promulgação da Constituição do Império em de março de 1824, o Tribunal do Júri ficou situado na parte concernente ao Poder Judiciário, tendo competência para julgar tanto delitos penais quanto cíveis, conforme o artigo 151 daquela Constituição, que asseverava: "O Poder Judicial é independente, e será composto de Juízes, e Jurados, os quaes (sic) terão logar assim no Cível, como no Crime, nos casos, e pelo modo, que os Códigos determinarem". (BRASIL, 1824).

No final do período imperial a instituição do Júri foi disposta em outra Carta Magna, desta vez a Constituição Republicana promulgada em 24 de fevereiro de 1891, em seu artigo 72, § 31, que alegava laconicamente: "É mantida a instituição do jury (sic)". (BRASIL, 1891).

O artigo 72 da Constituição Republicana de 1891, foi modificado pela Emenda Constitucional de 03 de setembro de 1926, contudo mantendo-se intacta a redação do § 31 o qual dispunha sobre o Júri.

Brito, (2014), refere que a instituição do Júri sofreu nesta carta constitucional (Constituição Republicana de 1891), uma significativa alteração, pois foi alocada no capítulo reservado ao judiciário para a secção II, Título IV, o qual era destinada à declaração dos direitos dos cidadãos brasileiros estabelecendo, destarte, que a instituição deveria ser tratada como garantia individual, princípio semelhante ao que vigora na nossa atual Constituição, em que a instituição do Tribunal do Júri é consagrada e tratada como garantia individual.

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Por imposição da Constituição Federal de 1946 é que a instituição do Júri fora destinada ao capítulo responsável pelos direitos e garantias individuais, mais precisamente em seu art. 141, § 287. (BRASIL, 1946).

Em 23 de fevereiro de 1948, foi promulgada a Lei nº 263, que regulamentou o § 28 do art. 141 da Carta Magna, sendo incorporada ao atual Código de Processo Penal. Por ocasião da promulgação da Lei supracitada a instituição do Júri foi lançada no recém criado Código de Processo Penal. (BRASIL, 1948).

A Constituição de 24 de janeiro de 1967 manteve, em síntese a redação do artigo 141, § 28 da Constituição Federal de 1946, aquela o enraizou em seu artigo 150, § 18, que determinava: "São mantidas a instituição e a soberania do Júri, que terá competência no julgamento dos crimes dolosos contra a vida". (BRASIL, 1967).

Tal disposição, manteve-se intacta a instituição do Júri na Constituição de outubro de 1969, capitulando-a no § 18 do artigo 153, dispondo: "É mantida a instituição do Júri, que terá competência no julgamento dos crimes dolosos contra a vida". (BRASIL, 1969).

A atual Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, recepcionou em definitivo a instituição do Tribunal do Júri nas denominadas cláusulas pétreas. Consagrando o Tribunal do Júri como uma instituição de garantia individual. Elencando-a em seu art. 5°, XXXVIII8. (BRASIL, 1988).

2.2 Competência do Tribunal do Júri

A atual Constituição Federal, promulgada em 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXVIII, “d”, expõe que Tribunal do Júri possui uma competência mínima, qual seja, a de processar e julgar os crimes dolosos contra vida, aí incluídos o homicídio, disposto no Código Penal, artigo

7 Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos

direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: § 28 - É mantida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, contanto que seja sempre ímpar o número dos seus membros e garantido o sigilo das votações, a plenitude da defesa do réu e a soberania dos veredictos. Será obrigatoriamente da sua competência o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

8 XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude

de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

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121, induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, Código Penal artigo 122, infanticídio, elencando no artigo 123 e abortos, dispostos nos artigos, 124, 125 e 126, Código Penal. (BRASIL, 1988; BRASIL, 1941).

De acordo com Lima (2017), assim o fez o constituinte originário pelo fato de, em outros países, onde esta competência mínima não é ressalvada pela própria Constituição Federal, haver uma tendência natural de se buscar a redução gradativa da competência do tribunal leigo, conduzindo-o a um papel meramente simbólico.

Esta competência mínima citada acima, não pode ser afastada nem mesmo por emenda constitucional, a razão disso, Renato Brasileiro de Lima (2017), expõe que na medida em que se trata de cláusula pétrea9, o que, no entanto, não significa que o legislador ordinário não possa ampliar o âmbito da competência do Tribunal do Júri.

É isso, aliás, o que já ocorre com os crimes conexos ou continentes. Com efeito, por força do artigo do artigo 78, inciso I do Código de Processo Penal, além dos crimes dolosos contra vida, também compete ao Tribunal do Júri os crimes conexos, salvo se tratando de crimes militares ou eleitorais, hipótese em que deverá se dar a obrigatória a separação dos processos (BRASIL, 1941).

Uma das características mais marcantes do Tribunal do Júri é a divisão dos poderes do Juiz togado e dos Jurados, pois cabe exclusivamente ao grupo de Jurados decidir sobre a materialidade e autoria do crime praticado, bem como, sobre as causas de excludentes de ilicitude, de culpabilidade e de aumento ou de diminuição de pena, ou seja, sobre todas as circunstâncias que influenciam na dosagem da pena (BRASIL, 1941).

A meta do Conselho de Sentença é, reconhecer os fatos do processo, e responder aos quesitos, contudo, não cabe aos jurados aplicar pena, quem possui esse poder, é Juiz Togado, presidente do Júri. O Juiz não pode afastar o que foi decidido pelos jurados, devendo sua sentença estar fundamentada nas respostas dos quesitos. (BRASIL, 1941).

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2.3 Conceito, estrutura e procedimento do processo e julgamento perante o Tribunal do Júri

O Júri é derivado do latim jurare (jurar), devido ao juramento prestado pelos cidadãos que farão parte dele. É uma instituição jurídica formada por pessoas da sociedade, que têm o dever de julgar no lugar do Juiz Singular em relação aos fatos do crime praticado (LIMA, 2017).

No dicionário Aurélio da língua portuguesa, a palavra júri é conceituada como um tribunal judiciário formado por um juiz de direito, que o preside, julga segundo a prova dos autos, e certo número de cidadãos (jurados), que julgam como juízes de fato, tribunal de júri (AURÉLIO, 2016).

O Tribunal do Júri é formado por um juiz presidente e vinte e cinco jurados, sorteados da listagem oficial, sendo que para cada sessão de julgamento serão escolhidos apenas sete compondo o chamado Conselho de Sentença. Admite-se para dar início ao julgamento a presença de pelo menos quinze jurados na sessão aberta. (CASTRO, 2011).

Disciplinam Marrey, Franco e Stoco (1997, p. 107) acerca dos jurados:

O jurado é órgão leigo, incumbido de decidir sobre a existência de imputação, para concluir se houve fato punível, se o acusado e seu autor e se ocorreram as circunstâncias justificativas do crime ou de isenção da pena, agravantes ou minorantes da responsabilidade daquele. São chamados de ‘juízes de fato’, para distingui-los dos membros da Magistratura – ‘juízes de direito’.

Para ser jurado é preciso tratar-se de brasileiro, nato ou naturalizado maior de 18 anos, notória idoneidade, alfabetizado e no perfeito gozo de direitos políticos, residente na comarca, e, em regra, que não sofra de deficiências em qualquer dos sentidos ou das faculdades mentais.

Segundo o autor Capez (2012), os jurados prestarão um serviço, obrigatório e escusa de consciência, a qual consiste na recusa do cidadão em submeter-se a obrigação legal a todos imposta, por motivos de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política. Sujeita o autor da recusa, ao cumprimento da prestação alternativa que vier a ser prevista em lei, e, no caso da recusa também se estender a esta prestação, haverá a perda dos direitos políticos, de acordo com o disposto nos artigos 5º, VIII, e 15, IV, da Constituição Federal.

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Apesar de que a função do jurado constitui serviço público relevante de exercício obrigatório, existem algumas hipóteses de escusa dos jurados, que por determinada característica intrínseca à pessoa ou função pública exercida, estarão isentas de participar do julgamento.

Serão isentas do serviço de jurado: o Presidente da República e os Ministros de Estado; Governadores e seus Secretários; Membros do Congresso Nacional, Assembleias, Câmaras Distrital e Municipais; Magistrados, Membros do Ministério Público e da Defensoria Pública, Servidores do Poder Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública; Autoridades e os Servidores da Polícia e da Segurança Pública; Militares em Serviço Ativo; Cidadãos maiores de 70 anos; aqueles que requeiram demonstrando justo impedimento. (BRASIL, 1941).

É importante mencionar que o exercício efetivo da função de jurado traz os privilégios elencados no artigo 44010 do Código de Processo Penal Brasileiro. O exercício efetivo, se

caracteriza quando o jurado comparece ao dia da sessão, ainda que não seja sorteado para compor o conselho de sentença, diante do que dispõe o artigo 433 do Código de Processo Penal.

2.4 Desclassificação do delito

De acordo com o artigo 419 do Código de Processo Penal, quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no §1º do artigo 74 do Código de Processo Penal (homicídio, induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, infanticídio e aborto, em suas diversas modalidades), e não for competente para seu julgamento, remeterá os autos ao juiz o que o seja (BRASIL, 1941).

Se o juiz sumariamente concluir que o fato narrado na peça acusatória não diz respeito a crime doloso contra a vida, deverá proceder a desclassificação para imputação mais grave.

Para elucidar o parágrafo acima, Lima (2017), cita como exemplo, que, se o processo criminal for instaurado pela prática do delito de homicídio simples, e se o magistrado entender que a morte dolosa da vítima decorreu de violência empregada durante e em razão de subtração

10 Art. 440. Constitui também direito do jurado, na condição do art. 439 deste Código, preferência, em igualdade

de condições, nas licitações públicas e no provimento, mediante concurso, de cargo ou função pública, bem como nos casos de promoção funcional ou remoção voluntária.

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patrimonial, deve determinar a remessa dos autos ao juízo competente para que o acusado seja julgado pela prática do suposto cometimento do crime de latrocínio.

O autor Lima (2017), explica que não se pode confundir a expressão desclassificação, utilizada quando o juiz dá ao fato capitulação legal diversa daquela constante da peça acusatória, com a desclassificação a que se refere o artigo 419 do Código de Processo Penal, cabível apenas quando se entender que a imputação não versa sobre crime doloso contra vida.

2.4 Da decisão de absolvição sumária

Na concepção do autor Renato Brasileiro de Lima (2017), a absolvição sumária na concepção de Renato Brasileiro de Lima é que além das excludentes de ilicitude e da culpabilidade11, que continuam autorizando a absolvição sumária, tal decisão também passa a

ser cabível quando provada a inexistência do fato, provada a negativa de autoria ou de participação, ou quando o juiz entender que o fato não constitui infração penal, conforme artigo 415, incisos I, II e III 12do Código de Processo Penal.

De acordo com o Código de Processo Penal Brasileiro, a decisão de absolvição sumária põe fim à primeira fase do júri absolvendo o réu amparado por excludente de ilicitude (estrito cumprimento do dever legal, exercício regular do direito, estado de necessidade ou legitima defesa), tipicidade ou culpabilidade (inimputabilidade, inexigibilidade de conduta diversa, erro de proibição, coação moral irresistível, obediência hierárquica e embriaguez acidental).

De acordo com Lima (2017), aliado ao disposto no Código de Processo Penal Brasileiro, são requisitos essenciais da absolvição sumária a prova cabal da inexistência do fato, prova cabal de não ser o acusado autor ou partícipe do fato, não constituir crime o fato ou restar demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão de crime. Caso existam ainda crimes conexos, a absolvição sumária não necessariamente irá abrangê-los. Ocorrendo essa hipótese

11 Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: IV – demonstrada causa de

isenção de pena ou de exclusão do crime.

12 I – provada a inexistência do fato; II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; III – o fato não constituir

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deverá o magistrado após absolvê-lo, ordenar a extração de cópias do procedimento e encaminhá-lo ao juízo competente.

2. 5 Impronúncia

Dá-se o nome de impronúncia o ato decisório privativo do magistrado que, motivadamente, diante da ausência de provas quanto à materialidade do fato e/ou de indícios suficientes de autoria ou de participação, nega seguimento à ação penal, acarretando na extinção do processo sem resolução do mérito.

Capez (2012) define a impronúncia:

É uma decisão de rejeição da imputação para o julgamento perante o Tribunal do Júri, porque o juiz não se convenceu da existência do fato ou de indícios suficientes de autoria ou de participação. Nesse caso, a acusação não reúne elementos mínimos sequer para ser discutidos. Não se vislumbra nem o fumus boni iuris, ou seja, a probabilidade de sucesso na pretensão punitiva. (CAPEZ, 2012, p. 209).

Assim, de acordo com artigo 414 do Código de Processo Penal Brasileiro, o juiz não se convencendo da materialidade do fato ou da inexistência de indícios suficientes de autoria ou de participação, deverá, fundamentadamente, impronunciar o acusado.

Ainda, não havendo provas quanto a existência do fato ou ausente indícios suficientes de autoria ou de participação do agente no fato delituoso, mister se faz a sua impronúncia (BRASIL, 1941).

Salienta-se que, para a impronúncia, não se exige a comprovação, ou seja, a certeza de que não houve o fato criminoso ou mesmo a prova de que não seja o réu o autor ou partícipe do crime investigado, porque se assim fosse, a medida correta seria a absolvição sumária, conforme dispõe o artigo 415 do Código de Processo Penal.

2.6 Pronúncia

A pronúncia é a decisão judicial que reconhece a admissibilidade da acusação feita pelo Ministério Público (ou excepcionalmente pelo ofendido) na denúncia, determinando como

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consequência, o julgamento do réu em plenário do Tribunal do Júri, perante o Conselho de Sentença.

Segundo Rangel (2011, p. 627) a decisão de pronúncia trata-se de cunho meramente declaratório, pois reconhece a plausibilidade da acusação feita, declarando a necessidade de se submeter o réu a julgamento perante seu juiz natural, em face da materialidade do fato e de indícios suficientes de autoria.

Ainda de acordo com o autor Rangel (2011), a pronúncia é prolatada no curso do processo, no final da primeira fase do rito que é bifásico, obrigando o juiz a resolver uma questão incidente, chamada de interlocutória. Portanto, essa é a natureza da decisão de pronúncia: decisão interlocutória mista não terminativa, pois o que se encerra não é o processo, mas sim, uma fase do procedimento.

É importante referir que, embora a lei não traga mais a expressão crime, conforme artigo 415, III13, do Código de Processo Penal é intuitivo que o fato seja criminoso para que o réu seja pronunciado. Se o juiz verificar que o fato, materialmente falando, existiu, mas não constitui infração penal, o juiz deverá absolver sumariamente o réu. Segundo Rangel (2011), a materialidade do crime não é comprovada necessariamente somente pelo exame de corpo de delito, conforme disposto no artigo, 15814, do Código de Processo Penal Brasileiro, mas também por qualquer outro meio idôneo de prova admitida no direito, referindo que o legislador admitiu, no artigo 167 do Código de Processo Penal que a prova testemunhal pode suprir a falta do exame de corpo de delito, se os vestígios desaparecerem.

Explicou ainda, que uma vez comprovada a existência de crime através de prova testemunhal idônea e outras provas que não o auto de exame cadavérico, o juiz está autorizado a pronunciar, desde que haja, também, indícios suficientes de autoria (RANGEL, 2011).

Assim, diante do referido pelo autor, é possível afirmar que é totalmente possível que haja processo crime e, consequentemente, julgamento do acusado sem que seja encontrado o corpo da vítima, ou seja, o chamado júri sem corpo.

13 III – o fato não constituir infração penal;

14 Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,

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