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SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL
Processo N° 0026076-90.2014.4.01.3400 - 16ª VARA FEDERAL
Nº de registro e-CVD 00272.2015.00163400.1.00287/00128
AÇÃO ORDINÁRIA
PROCESSO : 26076-90.2014.4.01.3400
REQTE
: SINDICATO NACIONAL DOS AUDITORES FISCAIS DO TRABALHO - SINAIT
REQDO
: UNIÃO
SENTENÇA
Tipo A
1. RELATÓRIO
Trata-se de ação ordinária ajuizada pelo SINDICATO NACIONAL DOS
AUDITORES FISCAIS DO TRABALHO - SINAIT em face da UNIÃO, objetivando a declaração de
que a requerida deve se abster de realizar qualquer desconto na remuneração dos Auditores
Fiscais do Trabalho que visem concorrer no pleito eleitoral de 2014 e, em caso de já ter ocorrido
os indevidos descontos, requer o ressarcimento imediato dos valores devidamente corrigidos.
Sustenta, em síntese, que a Lei 8.112/1990 seria incompatível com a Lei
Complementar nº 64/1990, que estabelece prazos de inelegibilidade eleitoral no que concerne ao
prazo necessário para a desincompatibilização e a remuneração integral do servidor público, uma
vez que o referido diploma legal exige o prazo mínimo de seis meses para que o candidato a
cargo eletivo se afaste das suas funções, enquanto o estatuto do servidor prevê apenas o
pagamento da remuneração integral pelo prazo de três meses.
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Alegam que os três meses em que ficam descobertos do recebimento da
remuneração integral constituem verdadeiro óbice ao pleno exercício dos direitos políticos.
Com a inicial vieram os documentos de fls. 17/114.
Foi proferida decisão às fls. 116/117-v, deferindo a antecipação dos efeitos da
tutela.
A União noticiou a interposição de agravo de instrumento (fls. 121/142).
A UNIÃO apresentou contestação de fls. 144/153, alegando, preliminarmente,
inépcia da inicial. No mérito, pugnou pela improcedência do pedido. Colacionou os documentos de
fls. 154/160-v.
Às fls. 163/165 e 170/172, o Sindicato autor noticiou o descumprimento da liminar
em relação a alguns filiados.
Às fls. 184/186, INACIO MAROJA BRITO DE ALBUQUERQUE
requereu o
cumprimento da medida liminar.
Intimada a se manifestar, a União esclareceu que o auditor fiscal do trabalho
Inacio Maroja Brito não é filiado do Sindicato, razão pela qual não foi coberto pela decisão
proferida nos autos e que, em relação aos demais filiados, a decisão foi cumprida (fls. 219 e 233).
Réplica apresentada às fls. 239/248.
É o relatório.
2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1 Preliminar de Inépcia da Inicial: ausência de autorização expressa dos filiados do
Sindicato, ausência de lista nominal, limitação territorial, limitação de número de
representados
O entendimento dos Tribunais Superiores fixou-se no sentido de que os sindicatos
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têm ampla legitimidade para atuar em juízo na defesa dos direitos e interesses da categoria,
sendo típico caso de substituição processual, sendo desnecessária a autorização expressa dos
substituídos. Precedentes: AGARESP 201400017393, SÉRGIO KUKINA, STJ - PRIMEIRA
TURMA, DJE DATA: 25/03/2014.
Sendo típica hipótese de substituição processual, despiciendo se faz a necessidade
de apresentação de lista nominal dos substituídos.
Nesse sentido:
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EXISTÊNCIA DE OMISSÃO.
MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DA ENTIDADE SINDICAL.
LIMITAÇÃO SUBJETIVA DA EXECUÇÃO. RESTRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA
EM RELAÇÃO ÀQUELES AUTORES CONSTANTES DA LISTA NOMINAL DE
SERVIDORES SUBSTITUÍDOS QUE INSTRUIU PETIÇÃO INICIAL DA AÇÃO DE
CONHECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO
SINDICATO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS, SEM EFEITOS
MODIFICATIVOS. 1. Cuida-se de embargos de declaração opostos pelo DNOCS -
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas ao julgado proferido por esta e. Primeira
Turma, em decisão unânime, nos autos do processo em epígrafe. 2. No caso vertente,
constata-se, de fato, a ocorrência de omissão no julgado, vez que, embora a tese de
ilegitimidade ativa do sindicato não tenha sido suscitada no âmbito do primeiro grau, há
possibilidade de ser conhecida de ofício mesmo nesta fase processual, por se tratar de
matéria de ordem pública. 3. A entidade sindical tem ampla legitimidade para defender os
interesses da respectiva categoria dos substituídos, estejam eles nominados ou não na fase
de conhecimento da ação, sendo desnecessária a autorização expressa e
individualizada mediante procuração nos autos, seja para promover a ação de
conhecimento ou mesmo a execução do julgado. 4. Não se pode limitar subjetivamente a
execução tão somente em relação aos servidores substituídos e nominados na petição
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inicial da ação de conhecimento. Precedentes desta e. Corte Regional: PJE:
08011110320134058100, AC/CE, Primeira Turma, Relator: Desembargador Federal
MANOEL ERHARDT, Julgamento: 26/06/2014; PJE: 08002857420134058100, AC/CE,
Terceira Turma, Relator: Desembargador Federal MARCELO NAVARRO, Julgamento:
25/02/2014. Embargos de declaração parcialmente providos, apenas para suprir a omissão
verificada, sem atribuir-lhes efeitos infringentes. (EDAC 0007629922011405830001,
Desembargador Federal José Maria Lucena, TRF5 - Primeira Turma, DJE -
Data::12/03/2015 - Página::65.)
Quanto à limitação territorial dos efeitos da sentença, prevista no art. 2º-A da Lei
9.494/97, com redação da MP 2.180-35/01, não se aplica às causas coletivas propostas no
Distrito Federal contra a União, pois se trata de ressalva prevista no art. 109, § 2º, da própria
Constituição da República.
2.2. Mérito
Pleiteia o Sindicato autor a declaração de que a requerida deve se abster de
realizar qualquer desconto na remuneração dos Auditores Fiscais do Trabalho que visem
concorrer no pleito eleitoral de 2014 e, em caso de já ter ocorrido os indevidos descontos, requer
o ressarcimento imediato dos valores devidamente corrigidos.
No caso em exame, o autor alega a existência de incompatibilidade entre a Lei
Complementar nº 64/90, que estabelece hipóteses de inelegibilidade relativa em razão de
situações especiais existentes no momento da eleição, e o estatuto do Servidor Público Federal,
no que concerne à remuneração integral durante todo o prazo exigido para a
desincompatibilização.
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A Lei Complementar nº 64/90 impõe que:
Art. 1º São inelegíveis:
(...)
d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem competência ou interesse, direta,
indireta ou eventual, no lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas e
contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou para aplicar multas
relacionadas com essas atividades;
Assim, os auditores fiscais do trabalho, caso desejem se candidatar a cargo eletivo,
devem obedecer a regra de desincompatibilização de seis meses, afastando-se do respectivo
cargo.
Por sua vez, a Lei nº 8.112/1990 assegura o direito de licença ao servidor público
federal que deseja se candidatar a cargo eletivo, nos termos do artigo 86, in verbis:
Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remuneração, durante o período que mediar
entre a sua escolha em convenção partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera
do registro de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral.
§ 2
oA partir do registro da candidatura e até o décimo dia seguinte ao da eleição, o servidor
fará jus à licença, assegurados os vencimentos do cargo efetivo, somente pelo período de
três meses.
(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Contudo, a previsão para a remuneração integral durante o período da licença
alcança somente três meses a partir do registro da candidatura até o décimo dia seguinte ao da
eleição. Nesse caso, verifica-se que o servidor ficaria cerca de três meses sem o direito a receber
a sua remuneração integral caso opte por cumprir todo o prazo de desincompatibilização, que é
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de seis meses.
Nesse sentido, entendo que o diploma normativo que rege o servidor público
federal não se adéqua às regras exigidas pela lei eleitoral, constituindo-se em verdadeiro óbice ao
direito constitucional ao livre exercício dos direitos políticos, na medida em que impõe uma
renúncia por demais onerosa ao servidor público federal que deseja se candidatar a cargo eletivo.
Nesse contexto, a fim de resguardar o pleno exercício dos direitos políticos do
servidor público federal, no caso, dos auditores fiscais do trabalho, entendo que deve haver uma
maior flexibilização na interpretação da norma em comento, elastecendo-se a letra da lei, a fim de
que o direito constitucional do livre exercício político seja preservado.
Nesse sentido, segue ementa do Tribunal Regional Federal da 3ª Região:
PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AUDITORES FISCAIS DA RECEITA FEDERAL DO
BRASIL. REMUNERAÇÃO INTEGRAL. CONCORRENTES A CARGO ELEITORAL
DURANTE O PRAZO DE DESIMCOMPATIBILIZAÇÃO DE SEIS MESES. 1. A Lei nº
9494/97 estabelece um rol de situações em que é vedada a antecipação de tutela em face
da Fazenda Pública, tais como a reclassificação ou equiparação de servidores públicos;
concessão de aumento ou extensão de vantagens pecuniárias; outorga ou acréscimo de
vencimentos; pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias a servidor público;
esgotamento, total ou parcial, do objeto da ação, desde que tal ação diga respeito,
exclusivamente, a qualquer das matérias acima referidas. O caso em comento -
remuneração integral dos auditores fiscais concorrentes a cargo eleitoral durante o prazo de
desincompatibilização de seis meses - não se amolda às hipóteses supramencionadas, na
medida em que o provimento judicial objetiva, apenas, a manutenção dos vencimentos dos
autores, pagos mensalmente em função da prestação laboral. Precedente desta Corte. 2. A
questão central envolve o tema da desincompatibilização, previsto no artigo 14 da
Constituição Federal e na Lei Complementar nº 64/90, que estabelece hipóteses de
inelegibilidade relativa em razão de situações especiais existentes no momento da eleição,
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"a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato,
considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições
contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta". 3. Aos auditores fiscais postulantes a mandato eleitoral, a
Lei Complementar nº 64/90 impõe àqueles que "tiverem competência ou interesse, direta,
indireta ou eventual, no lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas e
contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou para aplicar multas
relacionadas com essas atividades", o prazo de desincompatibilização do cargo até 6 (seis)
meses antes da eleição. 4. Já no que se refere à remuneração, o diploma jurídico não é
específico em relação à situação descrita, remanescendo, contudo, previsão na Lei nº
8.112/90, no sentido de garantir a licença ao servidor público federal para atividade política,
a partir do registro da candidatura e até o décimo dia seguinte ao da eleição,
assegurando-se os vencimentos do cargo efetivo somente pelo prazo de três meassegurando-ses (artigo 86, parágrafo
2º). 5. O cotejo entre os diplomas mencionados, em um primeiro momento, conduziria
à conclusão de que os auditores fiscais não fariam jus à percepção integral de
vencimentos durante o prazo de desincompatibilização. Todavia, entendimento nesse
sentido importaria na dificuldade de sustento do candidato e da campanha política,
tolhendo a essa classe de servidores um direito constitucionalmente previsto, de
votar e ser votado. Vale dizer, numa interpretação sistemática entre a Lei Maior e as
legislações infraconstitucionais, há de ser assegurado, aos auditores da Receita
Federal, a percepção integral de vencimentos durante o prazo de afastamento para
concorrer a pleito municipal, sob pena de violação ao direito de competição que rege
a eleição. Precedentes jurisprudenciais. 6. Apelação a que se dá provimento. Prejudicado
o
agravo
regimental.
(AC 00043858220124036100, DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ STEFANINI, TRF3 -
QUINTA TURMA - 1A. SEÇÃO, e-DJF3 Judicial 1 DATA:28/11/2013
..FONTE_REPUBLICACAO:.)
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Deste modo, merece amparo a pretensão do sindicato autor, devendo a
remuneração integral dos auditores fiscais do trabalho ser assegurada durante todo o período de
desincompatibilização da norma eleitoral, isto é, durante o prazo de seis meses e não apenas os
três meses previstos no artigo 89, §2º da Lei 8.112/90.
3. DISPOSITIVO
Ante o exposto, afasto a preliminar de inépcia da inicial, confirmo a tutela
antecipada e JULGO PROCEDENTE O PEDIDO INICIAL para declarar que a UNIÃO deve se
abster de realizar qualquer desconto na remuneração dos Auditores Fiscais do Trabalho que
concorreram no pleito eleitoral de 2014 e, em caso de já ter ocorrido os indevidos descontos,
determino a restituição atualizada nos termos no Manual de Cálculos do CJF, acrescida de juros
de mora de 0,5% ao mês, a partir da citação.
Condeno a requerida ao pagamento das custas em ressarcimento, bem como ao
pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais, que fixo no valor de R$3.000,00 (três mil
reais), nos termos do art. 20, §4º, do CPC.
Oficie-se ao Relator do Agravo de Instrumento, dando-lhe ciência da presente
sentença.
Publique-se. Registre-se. Intime-se.
Brasília, 26 de outubro de 2015.
MARCELO REBELLO PINHEIRO
Juiz Federal da 16ª Vara/DF
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