PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA: AS ESTRATÉGIAS FORMATIVAS UTILIZADAS NA FORMAÇÃO
CONTINUADA COM PROFESSORES
Selma Tânia Lins e Silva Universidade Federal de Pernambuco Centro de Estudo em Educação e Linguagem – CEEL
Resumo
Este trabalho pretende discutir as ações e as reações dos professores, frente às estratégias de formação utilizadas durante o processo de formação continuada desenvolvida no âmbito do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. A formação oferecida por este programa é focada na prática do professor, de modo que as singularidades do trabalho pedagógico são objetos de reflexão. Refletir, estruturar e melhorar a ação docente foi o principal objetivo da formação. Como também foi discutida a necessidade de desenvolver uma cultura de formação continuada, procurando propor situações que incentivassem a reflexão e a construção do conhecimento como processo contínuo de formação docente. Trata-se de um estudo descritivo de natureza qualitativa que foi realizado a partir da vivência com grupo de professores, durante formação continuada realizada no período de janeiro a novembro de 2013, na cidade de Maceió, estado de Alagoas. Quanto aos resultados, podemos afirmar que os princípios e as estratégias de formação utilizadas durante a formação continuada é uma ferramenta de grande valia para uma aprendizagem colaborativa, mas isto implica uma constante tomada de consciência do seu fazer pedagógico; os professores não querem mais ser meros expectadores do processo educativo, querem fazer parte deste, ver sua identidade, suas dúvidas e anseios sendo provocações a serem discutidas, levando assim a uma construção pessoal de respostas, e não algo pronto e acabado. Portanto, as estratégias formativas são orientadoras e norteadoras e não ações engessadas que devam ser seguidas ao “pé da letra”, ao contrário elas devem ser (re)inventadas, (re) construídas e fabricadas a partir das diversas realidades sócias.
Palavras-chave: Formação de Professores; Formação Continuada e Estratégias Formativas.
Introdução
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é um acordo formal assumido pelo Governo Federal, estados, municípios e entidades para firmar o compromisso de alfabetizar crianças até, no máximo, 8 anos de idade, ao final do ciclo de alfabetização. As Ações do Pacto apoiam-se em quatro eixos de atuação: Formação continuada presencial para os professores; Materiais didáticos, obras literárias, obras de apoio pedagógico, jogos e tecnologias educacionais; Avaliações sistemáticas e Gestão, controle social e mobilização.
A formação oferecida por este programa é focada na prática do professor, de modo que as singularidades do trabalho pedagógico são objetos de reflexão. Refletir, estruturar e melhorar a ação docente foi o principal objetivo da formação.
O motivo pelo interesse em desenvolver esse trabalho, justifica-se pelo fato de percebermos a formação continuada como possibilidade de promover o desenvolvimento econômico e profissional, considerando que esse valor trará também benefícios para a vida pessoal e social, e não apenas econômico dos professores.
A pergunta que norteou o processo desse estudo: quais as estratégias formativas que foram destacadas como significativas, pelos professores durante o processo de formação continuada?
Com o propósito de aprofundar a discussão acerca da formação de professores, este trabalho tem como objetivo discutir as ações e as reações dos professores, frente às estratégias de formação utilizadas durante o processo de formação continuada desenvolvida no âmbito do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.
Referencial Teórico
A preocupação com a formação contínua de professores é relativamente recente, mas foi tema emergente em educação nos últimos cinco lustros. Muitos foram os termos usados para designar a formação do professor após sua formação inicial: reciclagem, treinamento, aperfeiçoamento, capacitação, educação permanente. Embora usados muitas vezes como sinônimos, cada conceito representa um momento histórico e uma concepção vigente (FUSARI; RIOS, 1995). Estes termos, bem como suas concepções, ainda ocorrem de forma não muito bem diferenciadas.
No senso comum, o conceito de formação continuada é entendido como sendo a formação docente que ocorre no decorrer de toda vida profissional do professor. Entretanto, do modo como é oferecida aos professores, essa formação se configura em momentos pontuais, solitários e desvinculados de sua prática pedagógica.
Muitos têm sido os estudos e debates em torno da formação continuada de professores e do trabalho docente. Pesquisadores como, Nóvoa (1995), Marcelo García (1999), Schon (1992) e Tardif (2002), dentre outros, têm se preocupado com o processo de trabalho nas escolas diante das políticas educacionais. No final da década de 1990, a posição declarada do MEC era a de que a “a formação de que dispõem os professores hoje no Brasil não contribuiu para que seus alunos tivessem sucesso nas aprendizagens
Então, a partir da década de 90, passa-se a destacar a epistemologia da prática, e os “autores reflexivos” propõem mudar a “conceptualização” da formação do professor e o próprio processo de desenvolvimento profissional docente (PÉREZ GÓMEZ, 1992). A formação de professores cujo currículo tem como eixo principal a prática reflexiva acredita que é a partir dos processos reflexivos que se consegue ultrapassar as práticas mecânicas e repetitivas, modificando, radicalmente, além da própria formação de professores, as investigações educacionais sobre a prática.
Um dos precursores dessas ideias é Schon (1992). Esse teórico defende que para formar professores como profissionais reflexivos é necessário garantir a prática reflexiva, fazendo-os analisarem o que pensam, sentem e fazem, de forma a reconstruir a sua prática.
Assim é importante discutir que habilidades e conhecimentos são importantes para o fazer pedagógico e que podem ser aprimorados pelos professores nas formações continuadas, tendo em vista a realidade de sua prática profissional e, principalmente, o seu envolvimento de forma satisfatória. Entendemos que é a partir da formação continuada que cada professor irá gradativamente conquistando a necessária autonomia para construir o seu caminho, ciente de que, no processo dessa conquista, precisará lidar com os problemas e as contradições que a prática lhe impõe.
Nesse sentido, a formação continuada é de fundamental importância para a mudança educacional e para a definição do profissional docente. Pensar sobre a formação contínua do professor constitui-se numa questão de melhoria na construção da identidade docente, como também, em um caminho para uma nova fabricação das práticas.
Metodologia
O presente artigo é resultado de estudos / trabalhos realizados a partir da vivência com grupo de professores que atuam nos anos iniciais, que tem experiência na docência e são efetivos da rede de ensino pública e que participaram da formação continuada no âmbito do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), na cidade de Maceió, estado de Alagoas.
A formação continuada de professores teve como princípios gerais: (1) a prática da reflexibilidade; (2) a mobilização dos saberes docentes; (3) a constituição da identidade profissional; (4) a socialização; (5) o engajamento e (6) a colaboração.
A formação continuada teve uma carga horária de 128h, na qual foi discutida a necessidade de desenvolver uma cultura de formação continuada, buscando propor situações que incentivem a reflexão e a construção do conhecimento como processo contínuo de formação docente. Todos os temas foram introduzidos e as discussões foram realizadas com base nos conhecimentos prévios do grupo de professores participantes, por meio de diferentes estratégias formativas, tais como: socialização de memórias, vídeo em debate, análise de situações de sala de aula filmada ou registrada, análise de atividades de alunos, análise de relatos de rotinas, sequência didáticas e exposição dialogada.
Optou-se por construir um instrumento tipo questionário, que teve como objetivo colher informações sobre as estratégias formativas que foram destacadas pelos professores durante o processo de formação continuada.
Resultados
Foi possível observar na experiência vivida com professores, que eles atribuíram vários comentários sobre as estratégias formativas utilizadas durante o curso de formação continuada. Nesse processo de formação consideram importante diversificar as estratégias didáticas, além de ressaltarem que algumas foram repetitivas. Frente a estas considerações, para que haja a mobilização da reflexão sobre os saberes do movimento no processo de formação continuada é preciso utilizar estratégias que dêem significado às ações do cotidiano dos professores, que propiciem a socialização de saberes e que criem um contexto favorável à prática reflexiva.
Outra informação importante que trazem é sobre a utilização de boas estratégias de formação, ou seja, estratégias que promovam situações e materiais adequados aos momentos de trabalho e reflexão, pois compreendem a formação continuada não como um momento de treinamento, no qual se ensinam técnicas gerais a serem reproduzidas.
Segundo Imbernóm (2010) é importante considerar em uma ação de formação, o contexto no qual se dão as práticas educativas e formativas, e, a partir daí, planejar uma ação destacando os aspectos essenciais nos momentos de formação: é importante executar estratégias formativas que assegurem a discussão de exemplos, compartilhar boas práticas, favorecer a autoestima e as habilidades sociais por meio de situações que necessitem o desenvolvimento de cordialidade, gentilezas e solidariedade e por fim favorecer a aprendizagem coletiva, de troca de experiência, evidenciando a pertinência
Portanto, as estratégias formativas são orientadoras e norteadoras e não ações engessadas que devam ser seguidas ao “pé da letra”, ao contrário elas devem ser (re)inventadas, (re) construídas e fabricadas a partir das diversas realidades sócias.
Considerações Finais
As estratégias formativas são orientações norteadoras e não ações pré-determinadas que devam ser seguidas à risca pelos professores. Ao contrário, elas devem ser (re)inventadas, (re)construídas e fabricadas a partir das diferentes realidades sociais nas quais estão inseridas as propostas de formação.
Portanto, se concebemos os professores como sujeitos inventivos e produtivos, sabemos que eles não serão “repetidores” em suas salas de aula daquilo que lhes foi “aplicado” na formação para orientar a sua “nova” prática. Dessa forma, as diferentes estratégias formativas configuraram-se como estimuladoras para que eles pensassem sobre novas possibilidades de trabalho que poderão incrementar e/ou melhorar o seu fazer pedagógico cotidiano. Assim, a formação dos professores buscou propor situações formativas que desafiassem os professores a pensar suas práticas e mudar as suas ações.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referenciais para a Formação de professores. Brasília:MEC 1999.
FUSARI, J. C.; RIOS, T. A. Formação continuada de profissionais do ensino. Caderno CEDES, n. 36, pp. 37-45, Campinas – SP, 1995.
IMBERNÓN, Francisco. Formação Continuada de professores. Porto Alegre: Artmed, 2010.
MARCELO GARCÍA, Carlos. Formação de professores: para uma mudança educativa. Porto: Porto Editora. 1999.
NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. 2 ed. Lisboa: Nova Enciclopédia, 1995.
PÉREZ GÓMEZ, Angel. O pensamento prático do professor: a formação do professor como profissional reflexivo. In: NÓVOA, Antônio (Org.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992.
SCHÖN, Donald. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, Antônio (Org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992.
TARDIF, Maurice. Os Saberes Docentes e a Formação Profissional. Petrópolis, Petrópolis: Vozes, 2002.