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Frutíferas e plantas úteis na vida amazônica

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Academic year: 2021

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Ilustradores

Silvia Cordeiro • Miguel Imbiriba

Frutíferas e Plantas Úteis

na Vida Amazônica

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Frutíferas e Plantas Úteis

na Vida Amazônica

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Frutíferas e Plantas Úteis

na Vida Amazônica

Editores

Patricia Shanley

Gabriel Medina

Ilustradores Silvia Cordeiro Miguel Imbiriba

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Revisão

Tatiana Corrêa Veríssimo

Editoração Israel Gutemberg Jânio Veríssimo Widya Prajanthi Impressão Gráfica Supercores Apoio

Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica recebeu apoio institucional do Centro para a Pesquisa Flo-restal Internacional (CIFOR), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). A pesquisa contou com o apoio generoso da Overbrook Foundation, European Commission, International Development Research Center e Governo do Acre.

A concepção e parte dos capítulos deste livro são baseadas no livro Frutíferas da Mata na Vida Amazônica, publicado em 1998. Esse trabalho inicial teve apoio do The Woods Hole Research Center, Usaid, International Center for Research on Women, Earth Love Fund, Rainforest Alliance e IUCN Netherlands.

Copyright © by CIFOR & Imazon

Este livro pode ser livremente copiado para fins educativos não-comerciais.

Edição Patricia Shanley

Gabriel Medina

Ilustração Botânica Silvia Cordeiro Antônio Valente da Silva

Bee Gunn Desenho Miguel Imbiriba Fábio Strympl Dadi Sungkowo S 524f Shanley, Patricia

Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica. Patricia Shanley, Gabriel Medina; ilustrado por Silvia Cordeiro, Antônio Valente, Bee Gunn, Miguel Imbiriba, Fábio Strympl. Belém: CIFOR, Imazon, 2005.

300 p. il.

Inclui bibliografia e índice

ISBN 85-88808-02-1

1. Produtos florestais não-madeireiros. 2. Conhecimento tradicional. 3. Educa-ção ambiental. 4.Floresta amazônica. I. Shanley, Patricia. II. Medina, Gabriel. III. Título

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“Eu nunca coloquei uma roça aqui; estou guardando este pedaço. Tem piquiá nesta mata.

Estou protegendo para meus filhos e netos.”

Seu Braz

Benzedor do Quiandeua

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Dedicatória

Às pessoas do interior da Amazônia que se sustentam das frutíferas e plantas da mata.

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Agradecimentos

Agradecemos ao Governo da Floresta do Acre que demandou um livro que criasse uma ponte para a troca de informações entre os diferentes Estados da Amazônia. Pessoas que incentivaram a produção deste livro durante 4 anos foram Carlos Vicente, Adalberto Veríssimo, Marina Silva e Tasso Rezende. O levantamen-to no Acre foi realizado com ajuda dos pesquisadores da Sefe: Arthur Leite, Alexandre Souza, Andrea Alechandre, Daisy Gomes-Silva, Renaxon Oliveira e Lizandra Nogueira. O livro foi realizado com o apoio de 90 colaboradores de 25 instituições brasileiras e internacionais dispostos a compartilhar seus trabalhos. Sintetizamos informações espalhadas numa grande diversidade de disciplinas e áreas geográficas. Agrade-cemos ao professor Sir Ghillean Prance e Daniel Katz que desde o início têm apreciado e apoiado esta linha de pesquisa e disseminação.

Uma grande parte da concepção deste livro foi desenvolvida com a participação de Margaret Cymerys e Jurandir Galvão. Também foram fundamentais o apoio e sugestões de Lêda Luz, Glória Gaia, Tatiana Corrêa Veríssimo, Carmen García Fernández e Israel Gutemberg. A desenhista Silvia Cordeiro correu atrás de muitas árvores, flores e frutos para fazer com precisão as ilustrações botânicas. O ilustrador Miguel Imbiriba ficou comprometido em capturar a vida do caboclo amazônico no papel. Tatiana Corrêa Veríssimo entendeu a alma do livro e revisou cada frase com perspicácia e paciência. No campo, as famílias do Quiandeua, Mamorana, Joíra e Nanaí do Rio Capim, no Pará, ofereceram seu saber tradicional e nos ajudaram contando as frutas, pesando caça e cipós e cortando trilhas durante 10 anos de pesquisa. Agradecemos também a todos os comunitários do Acre, Amazonas, Amapá e Pará que ajudaram a gerar os dados e conhecimento apresentados no livro.

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Apresentação

A primeira versão deste livro, de 1998, já mostrava qualidade incomum: a de juntar a contribuição científica original sobre as frutas da floresta amazônica do Estado do Pará e a sensibilidade para detectar a interação profunda entre vida, saberes da mata e cultura popular. Com linguagem ao mesmo tempo acessível, gostosa e prática esse livro tornou-se veículo de divulgação de informações fundamentais para o futuro da Amazônia. Além disso, representa a concretização do sonho de um modelo de desenvolvimento econômico, socialmente justo e com respeito ao meio ambiente.

Neste novo livro, nós do Acre temos o privilégio de ver nossa flora incluída em um diálogo de experiências da Amazônia leste, central e oeste. Entram agora o mogno, o patauá e a seringa, que fazem parte da história da nossa região assim como nossas lutas, as histórias da floresta, os cantos, os gestos cheios de cultura local e espírito universal.

Quero chamar a atenção para três aspectos que ganham vulto neste livro editado por Patricia e Gabriel. O primeiro diz respeito ao impacto da obra na saúde coletiva, uma vez que potencializa o uso de plantas capazes de melhorar substancialmente o valor nutritivo da alimentação e, assim, prevenir as chamadas “doenças da pobreza”. Os estudos desenvolvidos correlacionam a disponibilidade sazonal de frutas na floresta e a incidência de doenças, mostrando que quando a sua produção cai, aumentam os casos de determinadas enfermidades. O segundo trata de uma característica poderosa da Amazônia, ainda pouco explorada e documentada: a presença das mulheres no conhecimento e no uso do patrimônio florestal não-madeireiro. Se considerarmos o avanço das experiências sustentáveis na Amazônia, a experiência feminina de lidar com a sustentabilidade em vários de seus aspectos – sobretudo no reforço da ação comunitária e na criatividade para garantir a sobrevivência social e material da família – pode ser a alavanca estratégica para dar a liga e a escala necessárias à criação de novos paradigmas na região.

O terceiro aspecto é a habilidade de associar floresta e desenvolvimento – o verdadeiro, aquele que em lugar de nos jogar no turbilhão da competitividade sem limites e do enclausuramento individualista, nos remete à comunidade, à solidariedade, aos valores humanos e espirituais como mediadores das metas de cada um. Aqui você encontra também estudos sobre manejo comunitário, educação ambiental e outras trilhas para se chegar à sustentabilidade integral, na qual faz sentido profundo cuidar do meio ambiente porque assim se cuida da própria vida, dos filhos, do futuro.

Mais um ponto, portanto, para este livro que é um extraordinário poema à Amazônia, que mexe com nossas emoções diante das verdades expressas nas figuras singelas e fortes de nossos bichos, nossas plantas, nossos cheiros, nossos sabores. Emoção diante de nós mesmos, enfim, e de nossas vidas simples e tão orgulhosamente amazônicas.

Marina Silva Ministra de Meio Ambiente

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Sumário

Introdução

Nutrição e Saúde: de Graça da Mata ... 18

Uso Compatível ou Conflituoso ... 19

Impacto nas Sete Gerações ... 20

Como Usar o Livro ... 25

Como Educar com o Livro ... 31

Árvores e Cipós

Andiroba (Carapa guianensis) ... 41

Bacuri (Platonia insignis) ... 51

Castanheira (Bertholletia excelsa) ... 61

Cipó-titica (Heteropsis spp.) ... 75

Copaíba (Copaifera spp.) ... 85

Ipê–roxo (Tabebuia impetiginosa) ... 95

Jatobá (Hymenaea courbaril) ... 105

Mogno (Swietenia macrophylla) ... 115

Piquiá (Caryocar villosum) ... 123

Seringueira (Hevea brasiliensis) ... 133

Unha-de-gato (Uncaria tomentosa e Uncaria guianensis) ... 141

Uxi (Endopleura uchi) ... 147

Palmeiras

Açaí (Euterpe oleracea) ... 163

Açaí solteiro (Euterpe precatoria) ... 171

Bacaba (Oenocarpus bacaba) ... 177

Buriti (Mauritia flexuosa) ... 181

Inajá (Maximiliana maripa) ... 189

Patauá (Oenocarpus bataua) ... 197

Pupunha (Bactris gasipaes) ... 203

Tucumã-do-pará (Astrocaryum vulgare) ... 209

Tucumã-do-amazonas (Astrocaryum tucuma) ... 215

Diversas Outras Espécies ... 223

Florestas para as pessoas

Conflitos de Uso ... 237

Manejo de Uso Múltiplo ... 259

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Andiroba Patricia Shanley (CIFOR)

Bacuri Patricia Shanley (CIFOR) e Gabriel Medina (CIFOR)

Castanheira Margaret Cymerys (Curupira), Lúcia Wadt (Embrapa-Acre), Karen Kainer (University of Florida) e Valdirene Argolo (bolsista Embrapa-Acre)

Cipó-titica Richard Wallace (University of Florida), Luciano Pereira (Iepa) e Campbell Plowden (Pennsylvania State University)

Copaíba Patricia Shanley (CIFOR), Arthur Leite (Sefe), Andrea Alechandre (Sefe), Onofra Cleuza Rigamonte-Azevedo (Sefe)

Ipê-roxo Mariella Mendes Revilla (Sefe) e Alexandre Dias de Souza (Sefe) Jatobá Patricia Shanley (CIFOR)

Mogno Jimmy Grogan (Imazon)

Piquiá Patricia Shanley (CIFOR) e Jurandir Galvão (autônomo)

Seringa Alexandre D. Souza (Sefe), Renaxon S. de Oliveira (Sefe), Edson Luiz Furtado (Unesp), Paulo Kageyama (Esalq/USP), Raimundo Graça S. de Freitas (Sefe) e Pedro Albuquerque Ferraz (UFAC/PZ)

Unha-de-gato Elias Melo de Miranda (Embrapa - Acre)

Uxi Patricia Shanley (CIFOR) e Urano Carvalho (Embrapa - Amazônia Oriental) Açaí Margaret Cymerys (Curupira) e Patricia Shanley (CIFOR)

Açaí solteiro Evandro Ferreira (Inpa-UFAC/PZ) Bacaba Margaret Cymerys (Curupira)

Buriti Patricia Shanley (CIFOR), Nívia Maria de Paula-Fernandes (UFAC/PZ) e Onofra Cleuza Rigamonte-Azevedo (Sefe)

Inajá Margaret Cymerys (Curupira)

Patauá Daisy Aparecida Pereira Gomes-Silva (UFAC/PZ) Pupunha Margaret Cymerys (Curupira) e Charles Clement (Inpa) Tucumã-do-pará Margaret Cymerys (Curupira)

Tucumã-do-amazonas Joanne Régis da Costa (bolsista do Inpa, atualmente na Embrapa-Amazônia Ocidental), Johannes van Leeuwen (Inpa) e Jarbas Anute Costa (Pesacre)

Diversas Outras Espécies Douglas C. Daly (New York Botanical Garden)

A

UTORES

Revisão Científica: André Dias (FFT), Charles Clement (Inpa), Douglas C. Daly (New York Botanical Garden), Götz Schroth (CIFOR), Hans Müller (Embrapa-Amazônia Oriental), Mário Jardim (MPEG), Natalino Silva (Embrapa-Amazônia Oriental), Johannes van Leeuwen (Inpa), Rafael Salomão (MPEG), Regina Célia Martins (Embrapa-Amazônia Oriental), Sven Wunder (CIFOR) e Urano Carvalho (Embrapa-Amazônia Oriental).

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Introdução

C

ONTRIBUIDORES

Introdução Noemi Vianna Martins Leão (Embrapa-Amazônia Oriental), Philippe Waldhoff (Escola Agrotécnica Federal de Manaus) e Selma Toyoko Ohashi (Ufra)

Andiroba André Dias (FFT), Carlos Augusto Ramos (Fase Gurupá), Cristina M. B. Lacerda (Projeto IPGRI), Gloria Gaia (autônoma), Neuza T. Boufleuer (Imac-AC) e Viviane Gonçalves (Promanejo/ Santarém)

Bacuri Douglas C. Daly (New York Botanical Garden) e Urano Carvalho (Embrapa-Amazônia Oriental) Castanheira Alfredo Kingo Oyama Homma (Embrapa-Amazônia Oriental), Johannes van Leeuwen (Inpa), Lênio José

Guerreiro de Faria (DUFPA) e Rafael P. Salomão (MPEG)

Cipó-titica Maria Creuza (Comitê de Porto de Moz) e Maria Olívia (Comitê de Porto de Moz)

Copaíba Aluildo Oliveira (Sefe), Carlos Alberto Campos (Sefe), Carlos Valério Gomes (Sefe), e Foster Brown (UFAC-PZ)

Ipê-roxo Campbell Plowden (Pennsylvania State University), Gloria Gaia (autônoma), Mark Schulze (Imazon), Leda Luz (Doces Matas), Patricia Shanley (CIFOR) e Silvia Galuppo (Dendrogene) Jatobá Alexandre Dias de Souza (Sefe), Lênio José Guerreiro de Faria (UFPA), Mariella Mendes Revilla

(Sefe), Margaret Cymerys (Curupira), Mark Schulze (Imazon), Nívea Marcondes (CTA) e Rocio Ruiz (CTA)

Piquiá Douglas C. Daly (New York Botanical Garden), Margaret Cymerys (Curupira) e Projeto Dendrogene Seringueira Hélio Melo, Eurico Pinheiro (Embrapa-Amazônia Oriental) e Götz Schroth (CIFOR)

Uxi Enrico Bernard (Conservation International), Glória Gaia (autônoma), João Fernandes Moreira Brito e família (agro-extrativistas), Ronaldo Farias (Grupo Curuperé) e Sr. Roxinho (agro-extrativista)

Açaí Mário Jardim (MPEG)

Açaí solteiro Jarbas Anute Costa (Pesacre) Bacaba Evandro Ferreira (Inpa-UFAC/PZ)

Inajá Jurandir Galvão e Evandro Ferreira (Inpa-UFAC/PZ) Pupunha Douglas C. Daly (New York Botanical Garden)

Tucumã-do-pará Douglas C. Daly (New York Botanical Garden), Valcléia Lima e Leandro Pinheiro (Projeto Saúde e Alegria)

Tucumã-do-amazonas Sidney Alberto do Nascimento Ferreira (Inpa), Douglas C. Daly (New York Botanical Garden), Götz Schroth (CIFOR), Maria do Socorro Mota (Engª. Florestal-Santarém), Ricardo Lopes (Embrapa -Amazônia Ocidental)

Conflitos de Uso André Dias (FFT), Comunitários do Capim (Ana Mendes, Benedito de Souza, João Brito, José Maria Pantoja Antoninho Graca, Vanjoca, Maroca, Antonio e Cajarana), Douglas C. Daly (New York Botanical Garden), Marli Mattos (Projeto Capoeira), Natalino Silva (Embrapa-Amazônia Oriental), Patricia Shanley (CIFOR), Margaret Cymerys (Curupira), Lêda Luz (Doces Matas), Jurandir Galvão (autônomo), Gabriel Medina (CIFOR) e Jack Putz (University of Florida)

Manejo de Uso Múltiplo Paulo Amaral (Imazon), Amaral Neto (Lasat), Magna Cunha (Pesacre), M. Almeida (Unicamp), S. Dewi (CIFOR), E. Costa, M. Pantoja, A. Postigo, A. Puntodewo (CIFOR), M. Ruiz (Universidade Autônoma de Madrid), Tasso Azevedo (Imaflora, atualmente PNF), Alexandre Souza (Sefe) e Arthur Leite (Sefe), Cesar Sabogal (CIFOR), Montserrat Rios (Naea/UFPA), Socorro Ferreira (Embrapa-Amazônia Oriental), Marli Mattos (Projeto Capoeira), Antonio José (Ipam), David McGrath (Ipam) e Charles Peters (New York Botanical Garden)

Cultura da Mata Aida Silva (autônoma), Carla Gracioto Panzer (SOS Amazônia), Concita Maia (Mama), Delomarque Fernandes (Grupo Curuperé), Eliete Timóteo (SOS Amazônia), Gabriel Medina (CIFOR), Lígia Constantina da Silva (Irmãs do Bom Pastor), Maria Inês S. Evangelista (Irmãs do Bom Pastor), Luciana Pinheiro (Mama), Ronaldo Farias (Grupo Curuperé) e Rubens Gomes (OELA)

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Introdução

Introdução

A Amazônia é a maior floresta tropical que ainda existe no mundo. A floresta tropical cobre apenas 7% da superfície do nosso planeta, no entanto, contém mais de 50% das espécies da terra. Contudo, a floresta amazônica está sendo derrubada cada vez mais rapidamente. Na Amazônia, as 15 espécies mais valorizadas pelas populações rurais e urbanas já estão sendo extraídas para a produção de madeira.1 Se a taxa de

desmatamento e a incidência de fogo continuarem altas, a mata vai acabar tão rápido que os nossos netos e bisnetos não vão conhecê-la.

O que vai restar depois da onda de desmatamento? Os caboclos da Amazônia dizem que “a mata nunca volta a ser a mesma coisa”. Os cientistas concordam. Um estudo feito em Peixe Boi, no Pará, mostrou que cerca de 65% das árvores nativas não regeneram bem depois de vários ciclos de corte e queima.2 As castanheiras

solitárias ao longo das estradas estão sendo chamadas de “mortas-vivas”, pois não podem reproduzir sem mata e polinizadores por perto.3 Dentro das espécies vulneráveis à extração madeireira estão copaíba, ipê,

amapá e uxi. Essas espécies são muito importantes para saúde e alimentação dos povos da Amazônia. Esses recursos não têm substitutos. Fazem parte da nossa riqueza especial.

Muitas informações sobre práticas de manejo das espécies valiosas não são conhecidas pelos cientistas, mas sim pela população que vive na mata. Por isso, este livro integra conhecimento científico e conhecimento tradicional de forma acessível para as pessoas que mais precisam dele. Sem as florestas nós não teríamos casa, comida ou remédios que sustentam tanto as pessoas da mata como as da cidade. Cada um de nós é responsável pelas florestas. Nossas ações vão decidir se as lendas, mitos e usos tradicionais das frutíferas vão morrer na história ou vão continuar fazendo parte da vida amazônica.

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Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

Nutrição e saúde: de graça da mata

Na Amazônia ainda temos chance de manejar e usar a floresta para obter frutas, madeira, caça e remédios, além de outros benefícios como limpeza das águas dos rios, chuvas locais e um clima mais agradável. O valor dos produtos florestais como açaí, bacuri e copaíba está crescendo rapidamente. Tanto nas feiras do interior como nas grandes cidades, existe a oportunidade de ganhar uma renda extra vendendo esses produtos. Muitas vezes não é possível para pessoas que moram no interior levar produtos da mata para a cidade. Mas mesmo sem ganhar dinheiro algum, o uso dos produtos florestais em casa gera uma boa “renda invisível”, enriquecendo nossa saúde e nutrição. Como os caboclos dizem: “o maior ganho para toda a família é o que você come sem ter que ir comprar”.

As famílias do interior dizem que durante a safra de frutas da mata ninguém pega gripe nem tosse. Eles têm razão: para evitar doenças, o melhor remédio é se alimentar bem. Além de prevenir e curar doenças, as frutas da mata oferecem nutrientes importantes. Por exemplo, a castanha, chamada de “carne vegetal”, possui alto nível de proteína, semelhante ao do leite de vaca. O uxi oferece mais vitamina B que a maioria das frutas e, muitas vezes, essa vitamina falta na comida moderna. Você sabia que a polpa de buriti possui uma das maiores quantidades de vitamina A (caroteno) entre todas as plantas do mundo e por isso é boa para a vista?4 Por isso, algumas deficiências comuns na

população brasileira - como a falta de vitamina A - podem ser supridas com as frutas amazônicas. Os animais silvestres também se alimentam de frutas. A riqueza de animais da mata amazônica está diretamente ligada à qualidade e quantidade de floresta. As famílias rurais que têm caça em suas terras podem suprir sua necessidade de proteína.

Mata: o plano de saúde e de nutrição mais seguro

Proteína Medicina

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Introdução

Uso compatível ou conflituoso

Mesmo conhecendo bem o valor que a mata tem em pé, é fácil vender barato nossa madeira ou terra. Assim acontece com muita gente no mundo inteiro; pessoas necessitadas encontram dinheiro rápido. Na realidade, pouco dinheiro chega e logo desaparece. Muitas vezes, nas primeiras vendas dá certo: poucas espécies são tiradas, os danos à floresta são mínimos e a comunidade ainda tem acesso a cipós, frutas e caça. Mas, quando a intensidade e a freqüência da extração superam a capacidade de a mata se recuperar, o consumo de produtos da floresta diminui muito.

Na Amazônia Oriental, até 300 espécies são extraídas para a produção de madeira, incluindo aquelas que produzem frutas.5 Algumas espécies que têm alto poder de cura como ipê-roxo, amapá, copaíba e jatobá ocorrem

na mata fechada, em baixas densidades e não são cultivadas. Isso significa que são raras e vulneráveis à exploração. Das 12 plantas medicinais mais vendidas na Amazonia Oriental, 5 são extraídas por causa de sua madeira.6 Hoje em dia, como algumas espécies são mais difíceis de encontrar na mata, muitos coletores

aproveitam cascas que sobram na serraria. Para cada árvore tirada na extração de madeira, outras 27 morrem ou são danificadas no processo.7

Depois de várias vendas de madeira, muitas árvores frutíferas morrem, o fogo entra na mata e o consumo de frutas pela comunidade diminui.Essa mesma história acontece em muitas comunidades na Amazônia todos os dias. Se a comunidade negocia melhor com os madeireiros, é possível evitar esses danos sociais e ambientais. Reconhecendo e pensando sobre os custos e benefícios da exploração, as comunidades podem vender madeira mas também ficar com o que precisam para sobreviver.

Perdas Irreversíveis:

Consumo de piquiá por uma comunidade no Pará após 13 vendas de madeira

Consumo médio de piquiá /família/ano (kg)

72

0

1993

1997

2004

Cadê meu piquiá?

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20

Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

Impacto nas 7 Gerações

Antigamente, os cientistas pensavam que todas as matas amazônicas eram virgens. Recentemente estão descobrindo que muitas florestas foram manejadas e transformadas pelos povos indígenas. Com centenas de anos de conhecimento e prática, os indígenas têm modificado a abundância e a distribuição das árvores, conforme suas preferências. Por exemplo, castanha e piquiá são árvores que ocorrem em densidades maiores quando próximas de aldeias indígenas antigas.

Enquanto os povos indígenas têm aumentado o número de espécies promissoras, a maioria das modificações modernas (feitas por fazendeiros, madeireiros, agricultores e fogo) na floresta amazônica tem reduzido a abundância de árvores valiosas.8 É sempre importante avaliar os custos e benefícios das mudanças

drásticas em nossa terra. Algumas mudanças que parecem melhor em curto prazo podem ter conseqüências graves num período mais longo. A tribo dos índios Iroquios, na América do Norte, criou a grande lei:

1Shanley, P. & Rosa, N. 2004 2Vieira et al. 1996

3Viana, V.N. et. al. 1998 4Lima, M.C.C. 1987

5Martini, A.; Rosa, N. & Uhl, C. 1998 6Shanley, P. & Luz, L. 2002

7Veríssimo et al. 1996

8Nepstad, D.; Moreira, A. & Alencar, A. 1999

“Em cada deliberação nós temos que considerar o impacto de nossas decisões nas próximas 7 gerações.”

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Quem Usa o Livro

e Como?

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T

ÉCNICOS

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E

DUCADORES

G

ENTE

DA

CIDADE

Página

Como Usar o Livro

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Como Brincar com o Livro

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25

Introdução

Como usar o livro

Densidade: é o número de árvores dividido pela área. Por exemplo, 6 árvores dividido por 2 hectares é igual a 3 árvores por hectare. A densidade depende do diâmetro das árvores selecionadas para o inventário. Alguns estudos consideram todas as árvores acima de 10 centímetros de diâmetro à altura do peito (DAP) (ou 30 centímetros de rodo). Os madeireiros geralmente fazem o inventário das árvores acima de 60 centímetros de DAP (ou 180 centímetros de rodo), que são as árvores com tamanho para a extração. A densidade e a distribuição das árvores (agrupadas ou espalhadas) na floresta estão relacionadas à ecologia das espécies, aos tipos de solo e clima, ao histórico do uso e ao manejo das espécies. Os dados oferecidos neste livro indicam somente a densidade média segundo alguns levantamentos. As comunidades usam formas diferentes de medir a área -algumas usam hectare (equivalente a 100 x 100 metros, ou 10.000 metros quadrados) e outras alqueire (4,8 hectares). Quando a densidade variar muito em áreas de terra firme e baixio, mostraremos uma ilustração para cada uma delas.

E

COLOGIA

Este tópico divide-se em 3 partes:

Calendário: mostra quando os frutos e flores são produzidos. As letras embaixo do desenho representam os meses. No entanto, em regiões diferentes, as frutíferas produzem em épocas diferentes. O texto descreve diferentes regiões, enquanto a ilustração destaca somente uma das áreas descritas no texto.

0,5 a 1,5 árvore por hectare

2 a 7 árvores por alqueire

Existem tantas espécies valiosas na Amazônia que não foi fácil selecioná-las. Este livro inclui árvores bem populares como a seringueira e a castanheira, mas também árvores que ainda não foram muito estudadas e merecem atenção como uxi, ipê, jatobá e andiroba.

Cada capítulo representa 1 espécie e é dividido em 6 tópicos: ecologia, valor econômico, uso, nutrição, caça e manejo. Todos nós sabemos que o nome de uma espécie varia de região para região. Por isso, embaixo do nome comum das árvores colocamos o seu nome científico. Assim, pessoas de regiões diferentes podem reconhecê-las. Por exemplo, você vai ler Uxi - Endopleura uchi Cuatrec. O nome científico é composto por gênero (primeiro nome) e espécie (segundo nome). O nome em seguida é da pessoa que publicou a primeira descrição científica daquela espécie.

(27)

26

Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

média de frutos por árvore Produção: mostra a média do número de frutos produzidos por árvore. A produção

varia muito entre as árvores e entre os anos. Por exemplo, uma árvore de piquiá pode produzir 1.000 frutos num ano e nenhum no próximo. Por meio de estudos científicos, que incluem coleta de amostras de muitas árvores ao longo de alguns anos, é possível ter uma boa idéia da produção das frutíferas. Para algumas frutíferas essa informação já estava disponível em outros livros quando começamos a nossa pesquisa. Mas para muitas espécies ainda não existiam estimativas de produção. Nesse caso, conferimos os frutos de 3 espécies

na floresta por 5 anos ou consultamos pesquisadores que fizeram o mesmo para conseguir essa informação. A produção média das árvores frutíferas é representada por uma pilha de frutos. A média de produção das palmeiras é representada por uma rasa cheia de frutos.

V

ALOR

E

CONÔMICO

Este tópico mostra os dados da economia local, bem como dados nacionais e internacionais. Esses dados dependem de muitos fatores como local de compra, vendedor, época do ano, dia e hora de compra. Os dados econômicos nos capítulos apenas indicam algumas amostras, além disso, muitas das espécies neste livro têm poucos estudos de mercado. Você pode descobrir o valor econômico da sua terra multiplicando a densidade das frutíferas de uma área pela produção média de cada árvore por ano. Vale lembrar que as frutíferas produzem ao longo dos anos e também alimentam a caça. Por outro lado, existem muitas dificuldades para as comunidades distantes venderem seus produtos. Alguns obstáculos incluem: distância para o mercado, falta de transporte, alta variabilidade da produção, perecividade das frutas e falta de organização e experiência nas feiras.

U

SO

, N

UTRIÇÃO

e R

ECEITAS

O tópico Uso possui uma lista dos principais usos tradicionais da espécie. Em Nutrição, explicamos o valor nutritivo de cada fruta e, em alguns casos, incluímos Receitas. O peso das frutas representado no texto é o peso da fruta fresca. Observe que alguns desses usos (especialmente medicinais) são utilizados somente em algumas regiões e muitos ainda não foram comprovados cientificamente.

C

AÇA

As frutíferas, além de alimentarem as pessoas, também alimentam os animais. E a caça é uma excelente fonte de proteína para as pessoas do interior. Além disso, os bichos funcionam como dispersores de sementes e polinizadores, desempenhando uma função bastante importante na ecologia da floresta. Sem a caça, a floresta não existiria.

(28)

27

Introdução

germinação de 2 a 7 meses

crescimento 1 metro por ano

produção depois de 10 anos

Há séculos as florestas têm sido manejadas por povos indígenas, muitas vezes para aumentar o número de árvores úteis. Mais recentemente, agrônomos têm feito experimentos de germinação, crescimento e produção para que as árvores produzam mais rápido, ao longo de todo ano e dêem frutos maiores.

M

ANEJO

Referências

No final de cada capítulo estão algumas referências nas quais podemos encontrar mais informações sobre cada espécie. Muitos trabalhos sobre frutíferas e plantas úteis da Amazônia têm sido desenvolvidos, mas não foi possível incluir todos neste livro. Além disso, a maioria das pessoas com muita experiência em manejo de árvores não tem seus conhecimentos publicados em livros.

Para a elaboração do livro, trabalhos científicos importantes de toda a Amazônia foram reunidos e revisados, especialistas foram entrevistados e alguns dos mais importantes pesquisadores de cada espécie foram convidados para ajudar a escrever cada capítulo. Estudos complementares sobre algumas espécies foram realizados em 3 comunidades no Pará, e os impactos da atividade madeireira sobre as comunidades e suas florestas foram aprofundados. No final, o livro traz um conjunto de ensinamentos de diferentes lugares para informar as comunidades da Amazônia sobre os valores de sua mata. Melhor informadas, as comunidades se preparam para tomar decisões importantes diante das oportunidades e desafios que chegam até elas.

+

Integrando conhecimento científico e tradicional

=

pessoas melhor

informadas para tomar

decisões

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29 Introdução X X = 5 árvores por alqueire 400 frutos por árvore

R$ 0,25 R$ 500

Como brincar com o livro

Atenção: este livro não quer ser apenas lido, ele quer ser vivido na prática. Nas escolas, comunidades e associações da cidade ou interior, você pode usar as informações deste livro em oficinas participativas através de cartazes, teatro, cantos, mapas e discussões.

Cartaz

As pessoas do seu grupo podem fazer cartazes com base nas ilustrações do livro. Quanto mais você apresentar, mais você aprende.

Teatro

Monte uma peça de teatro usando as histórias do livro ou mesmo suas experiências próprias. Elas são bem divertidas e ao mesmo tempo transmitem uma mensagem muito séria. As músicas ecológicas também ajudam a animar e ensinar. Uma peça interessante mostra o madeireiro tentando comprar madeira dos comunitários e as várias situações que podem surgir a partir dessa negociação.

Discussões

Forme grupos na sua comunidade para discutir os temas deste livro. Lembre sempre da sua realidade local durante as discussões. Por meio da discussão, o grupo pode tomar decisões sobre o manejo e futuro dos seus recursos.

Cálculo de ganhos e custos

Para fazer este cálculo, multiplique a densidade de uma espécie pela produção média de 1 árvore e pelo preço de 1 fruto. Assim, você tira o valor do seu alqueire para aquela espécie por 1 ano. Somando o valor das diferentes espécies, você pode estimar o valor econômico (baseado nas frutas) da sua área. Com base nesse cálculo, você pode comparar com o valor estimado da sua terra para agricultura, pecuária e extração de madeira.

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30

Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

COLETA 2 diárias=R$ 30 R$ 30 :– R$ 0,25 = 120 frutas 400 frutas-120 frutas = 280 frutas TRANSPORTE R$ 15 (1 diária) + R$ 5 (passagem) = R$ 20 R$ 20 :– R$ 0,25 = 80 frutas 280 frutas - 80 frutas = 200 frutas PERECIVIDADE 10 frutas estragadas 200 frutas - 10 frutas = 190 frutas DESPESAS DE FEIRA 2 diárias (R$ 30) + R$ 1 (embalagem) + R$ 14 (rancho) = R$ 45 R$ 45 :– R$ 0,25 = 180 frutas 190 frutas - 180 frutas = 10 frutas GANHO 10 frutas x R$ 0,25 = R$ 2,50

Medida de impacto

É interessante aplicar um questionário antes da oficina para conhecer como o seu grupo usa as frutas e os produtos florestais. Por exemplo, você pode perguntar para as pessoas da comunidade quantos hectares de floresta estão intactos e quantos já foram explorados ou alterados. Que tipo e quantidade de fruta eles vendem, comem ou usam. Além disso, se eles possuem uma reserva de floresta. Depois de 1 ano, você pode aplicar novamente o questionário para saber como o uso e manejo dos seus recursos mudou, ou seja, se o desmatamento aumentou ou se ainda resta floresta para o futuro.

Cálculo de Custos

Não esqueça dos custos de seu tempo, transporte, perecividade, embalagem, rancho e dias gastos na feira. Esses custos geralmente são altos e, para comunidades distantes do mercado, dificultam muito o comércio de produtos da mata. Vamos ver o que aconteceu com o Sr. João. Ele colheu 400 frutas na mata para vender na feira de Paragominas, no Pará. Gastou a sola do pé andando 2 dias na mata atrás de bacurizeiros “jogando.” A lama e buracos na estrada de madeireiros o fizeram gastar mais 1 dia para transportar as frutas. Teve sorte porque o bacuri agüenta bem; ele só perdeu 10 frutos. Mas o rancho e 1 dia na feira tiraram quase todo o ganho e deixaram o Sr. João com R$ 2,50 - menos do que precisava para voltar para casa.

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31

Introdução

Como educar com o livro

4 exemplos

Este livro está sendo utilizado em escolas agrotécnicas, sindicatos de trabalhadores rurais, escolas de áreas rurais e urbanas, universidades e centros de educação informal que desejam incluir o componente floresta em seu currículo. A seguir, temos alguns exemplos de como o livro já foi utilizado.

Treinamento para multiplicadores e técnicos

Philippe Waldhoff

No curso Pós-Técnico Florestal da Amazônia, da Escola Agrotécnica Federal de Manaus, o livro está sendo usado para trabalhos práticos com os alunos. Os professores simulam situações em que os alunos devem propor formas de manejo, beneficiamento, uso e comercialização das espécies. Veja como é feito:

Escolha suas espécies: em grupos pequenos, os alunos escolhem algumas espécies contidas no livro para trabalhar.

Maneje sua propriedade: cada grupo imagina um lote de 50 hectares, com 40 hectares de reserva florestal, onde se encontram as espécies escolhidas. Os alunos fazem a distribuição das árvores dentro da reserva, respeitando as características de cada espécie (densidade, habitat, época de frutificação). Os professores recomendam que se façam ajustes locais das informações sobre época de flor e fruto, usos, valores, etc.

Mapa: o grupo faz um mapa do lote e estabelece as diferentes unidades dentro da propriedade - casa, roça, quintal e igarapé.

Plano de manejo: Os alunos fazem um plano de manejo para o lote. O plano de manejo deve conter (1) introdução, na qual o grupo enfatiza a importância dos produtos da floresta e as espécies escolhidas; (2) descrição das espécies, com suas características, bem como exemplos de outras espécies da mesma família; (3) cálculo da produtividade do lote em relação a cada espécie, nesse caso, o grupo deve utilizar as informações de produção por indivíduo, densidade e área manejada; (4) formas de comercialização e renda; com base nos preços, o grupo pode saber qual será a renda; e (5) apresentação do plano.

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Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

Este livro também foi utilizado pelo curso de qualificação profissional com construtores navais em Igarapé-Miri, no Pará. O livro incentivou a construção de uma linha de tempo sobre as espécies usadas na construção naval. A turma elaborou um mapa, estabelecendo uma escala de 10 em 10 anos a partir da década de 1960. Para cada década foram especificadas as espécies usadas e onde elas eram encontradas. Essa dinâmica possibilitou aos construtores uma visão mais precisa do esgotamento de muitas espécies preciosas para a navegação. Além disso, mostrou que algumas espécies já não existem mais na área, sendo encontradas apenas a mais de 120 quilômetros, em outros municípios.

Capacitação das comunidades

Este livro contém histórias de gente que perdeu a floresta e se arrependeu e de gente que manteve reservas para sustentar suas famílias. Algumas comunidades já estão compartilhando suas experiências para ajudar a informar as outras sobre as diferentes opções de uso da mata. Veja a seguir 2 exemplos de cenários futuros:

O exemplo de uma comunidade que vendeu sua mata 13 vezes durante 20 anos e o de outra vizinha que guardou uma reserva para o futuro. A primeira comunidade se arrependeu porque no final quase não havia mais frutas e caça para comer. Em 1993, o consumo médio dessa comunidade foi de 392 frutas por família. Em 1999, esse consumo caiu para 156 frutas. A família do Sr. Mangueira, da comunidade vizinha, guardou uma reserva de floresta, continuou comendo muita fruta e nunca ficou doente durante a safra de uxi. Em 1993, essa família consumiu 3.779 frutas e, em 2001, o consumo continuou alto com 2.500 frutas.

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33

Introdução

Comunitários capacitados para colher sementes

Noemi Vianna Martins Leão Selma Toyoko Ohashi

O laboratório de sementes florestais da Embrapa, junto com vários parceiros na Amazônia, está oferecendo cursos de coleta e armazenamento de sementes de espécies nativas para serem usadas em programas de reflorestamento. Os cursos têm 2 objetivos principais: (1) conservar as florestas com espécies nativas que produzem sementes de boa qualidade e (2) considerar as sementes como um produto florestal não-madeireiro que pode gerar renda para as comunidades tradicionais. Comunidades de Rondônia, Roraima, Acre, Amapá, Pará e Amazonas já participaram do curso. Desde 1996, mais de 1.000 comunitários, engenheiros florestais, viveiristas, estudantes de nível médio e agrônomos assistiram ao curso de 40 horas.

O curso mais recente foi dado na Reserva de Ariquemes, em Rondônia, com recursos do projeto Rede de Sementes da Amazônia, do Ministério do Meio Ambiente. Um participante – o Baiano – disse: “em toda a minha vida eu nunca pensei que a mata pudesse ter tanto valor sem tirar a madeira”. A camisa que ele usou no último dia do curso resume seus sentimentos:

“Só depois que

a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio envenenado, vocês irão perceber que dinheiro não se come.

(pensamento indígena)

Os índios Parakanã também aprenderam a subir nas árvores com segurança e colher sementes das espécies com valor para a venda. Mesmo não sendo craques no armazenamento, em 2003, eles venderam 110 quilos de sementes de mogno, tatajuba, andiroba, copaíba e castanha. Para cada quilo de semente (1.600 sementes) de mogno eles receberam em média R$ 70 – mais do que eles receberiam com a venda da madeira. Mas quem compra as sementes? Como existe uma lei federal obrigando as indústrias madeireiras a replantar as áreas de onde extraem madeira, existe uma grande demanda por sementes florestais. O livro Frutíferas ajudou na alfabetização dos adultos e crianças mostrando as espécies que poderiam ter mais valor. Nas oficinas na mata, os organizadores dividem a turma em equipes e fazem uma disputa para ver quem consegue lembrar o maior número de usos que a floresta pode ter.

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Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

Resgate e repasse da cultura amazônica nas escolas

Quando você está aprendendo a escrever você prefere “a vovó viu a uva” ou “o papai pegou o piquiá”? Como a maioria dos materiais escolares é escrita no Sul e Sudeste do Brasil, falta conteúdo apropriado sobre a Amazônia. Escolas rurais e urbanas na região amazônica estão utilizando este livro para ensinar biologia, matemática, história, nutrição, educação ambiental e música. Além disso, a Escola Bosque de Belém e o Programa de Alfabetização de Adultos têm incorporado o livro em seus currículos.

As professoras das escolas rurais podem elaborar problemas matemáticos a partir do livro. Vamos tentar? “Uma árvore de piquiá produz em média 350 frutos. Depois de deixar seu filho comer 50 frutos, Maroca vendeu 300. Na feira, cada fruto custa 30 centavos. Quanto ela ganhou de sua árvore? Um amigo dela de outra comunidade pensando em ganhar mais vendeu seu pé de piquiá para um madeireiro por R$ 3,00. Quem ganhou mais?”

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Introdução

Sensibilização das pessoas da cidade

Você sabia que muitas praças, teatros e a arquitetura bonita de Belém e Manaus são devidos ao dinheiro gerado pelo látex da seringueira? Para saber mais sobre o uso e história das plantas nativas, você pode encontrar uma trilha no Bosque Rodrigues Alves, em Belém. Lá, eles usaram alguns capítulos deste livro para criar jogos, cartilhas e placas para despertar a criançada e adultos da cidade para a beleza e riqueza da floresta.

E, passeando nessas praças com a barriga roncando de fome, nada melhor do que encontrar a bandeira vermelha da banca de açaí, não é? E se você estiver brincando e de repente se machucar, peça para sua mãe fazer uma massagem com óleo de andiroba.

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(38)

Árvores e

Cipós

(39)
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Página

Andiroba (Carapa guianensis)

41

Bacuri (Platonia insignis)

51

Castanheira (Bertholletia excelsa)

61

Cipó-titica (Heteropsis spp.)

75

Copaíba (Copaifera spp.)

85

Ipê–roxo (Tabebuia impetiginosa)

95

Jatobá (Hymenaea courbaril )

105

Mogno (Swietenia macrophylla)

115

Piquiá (Caryocar villosum)

123

Seringueira (Hevea brasiliensis)

133

Unha-de-gato (Uncaria tomentosa

e Uncaria guianensis)

141

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41

Andiroba

Patricia Shanley

A andirobeira é uma árvore de uso múltiplo, podendo ser aproveitada para óleo, casca medicinal e madeira. As sementes de andiroba fornecem um dos óleos medicinais mais utilizados na Amazônia. A casca tem uso medicinal contra febre, vermes, bactérias e tumores. A madeira de andiroba possui um sabor amargo e é oleaginosa, por isso não é atacada pelos cupins nem pelos turus. Por sua alta qualidade, a madeira é muito utilizada pelas serrarias. Assim, está cada vez mais difícil encontrar árvores de andiroba nas fronteiras madeireiras.

A andirobeira possui médio a grande porte, com tronco reto que atinge 30 metros de altura e, freqüentemente, apresenta raízes em forma de tábuas (sapopemas). Ocorre em toda a bacia amazônica, América Central e África e prefere as várzeas nas margens dos rios, embora também seja encontrada em terra firme.

Andiroba

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42

Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

J

F

M

A

M

J

J

A

S

O

N

D

média de 2.500 sementes por árvore

(45 kg)

A época de flor e fruto da andiroba é diferente em cada Estado da Amazônia. No leste do Pará, a andiroba floresce entre agosto e outubro e os seus frutos amadurecem entre janeiro e abril. As árvores de Manaus frutificam entre março e abril. Nem todos os anos as árvores de andiroba produzem frutos. Os caboclos de Santarém dizem que tem ano em que a andirobeira “joga” muito e ano em que ela falha.

E

COLOGIA

Época de flor e fruto

Produção

A produção de uma árvore de andiroba varia muito ao longo dos anos - ela pode inclusive não produzir nada. Já foram encontradas árvores na mata produzindo de 50 a 200 quilos de sementes por ano e plantações produzindo de 25 a 50 quilos. Cada quilo contém cerca de 55 sementes e cada fruto produz de 12 a 16 sementes. Cada semente contém aproximadamente 26% de casca e 74% de amêndoa. Um estudo na Costa Rica indicou que 1 árvore produz de 754 até 3.944 sementes por ano.1

A densidade da andirobeira é maior nas áreas de várzea, embora a espécie também ocorra na terra firme. O número de árvores tem diminuído nos últimos anos por causa da extração de madeira.

Densidade

1 a 8 árvores por hectare

5 a 38 árvores por alqueire

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Andiroba

V

ALOR

E

CONÔMICO

O óleo de andiroba é um dos produtos medicinais mais vendidos na Amazônia. A indústria do óleo teve origem na cidade de Cametá, no Pará. Atualmente, o seu comércio movimenta muito dinheiro em toda a região amazônica. A criançada de Cametá vende 4 quilos de sementes por R$ 0,25 para comprar 1 pacote de biscoitos. Em Salvaterra, na ilha de Marajó, muitas famílias coletam os frutos na beira da praia e os vendem para atravessadores por R$ 0,20 o quilo. No Pará, o comércio é bom; em 2004, no mercado de Belém, 1 litro de óleo de andiroba foi vendido por R$ 15 e 1 quilo de casca por R$ 5. As lojas preferem comprar o óleo durante a safra, quando os preços estão baixos. Para conseguir um preço melhor, você pode guardar o óleo e tentar vendê-lo fora da safra.

O óleo também tem demanda internacional, sendo exportado para a Europa e Estados Unidos. Entre 1974 e 1985, 200 a 350 toneladas anuais de óleo foram exportadas do Brasil, principalmente dos Estados do Maranhão, Pará e Amapá.1 Uma prova da popularidade da andiroba está na variedade de produtos como

sabonetes, cremes, óleos, pomadas e velas. Nos supermercados de Belém, os sabonetes podem custar de R$ 2,15 até R$ 8, e o óleo para o corpo custa R$ 10,50 (com 140 mililitros).

É interessante ver que no Acre, no lado oeste da Amazônia, é mais difícil encontrar óleo de andiroba para a compra; de 40 casas comerciais em Rio Branco, apenas 4 vendem óleo. No Acre, poucas comunidades produzem óleo de andiroba e, normalmente, apenas para consumo local. Além disso, alguns compradores preferem que o óleo tenha certificado de qualidade; uma farmácia de Belém chega a comprar de São Paulo o litro a R$ 40, somente porque possui fonte registrada.2

U

SO

Óleo: usado como repelente de insetos. Também é um remédio muito utilizado para baques, inchaços, reumatismo, vermes e para cicatrizar cordão umbilical. No interior, as pessoas usam óleo de andiroba para a cicatrização e recuperação da pele.

Mas é bom tomar cuidado, pois o óleo é tão forte que, dependendo do machucado, cicatriza muito rápido e somente por fora. O óleo pode ainda ser empregado na fabricação de sabão. Os índios usam óleo de andiroba e urucum para fazer tinturas para a pele e também como repelente. Madeira: de excelente qualidade e cor castanho-vermelha brilhante, é resistente ao ataque de insetos e turus. Muitas vezes é comparada à madeira do mogno, sendo chamada de mogno falso; tem alta demanda para exportação. É usada para cavaco e na construção civil. A madeira pode ser encontrada nas serrarias do Pará por R$ 200 o metro cúbico serrado. Para exportação, o metro cúbico não sai por menos de R$ 500.

Casca: grossa e amarga, desprende-se facilmente em grandes placas. É utilizada para fazer chá contra febre, vermes, para combater bactérias e no tratamento de tumores. Transformada em pó, a casca trata feridas, servindo como cicatrizante para afecções da pele.

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Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

O santo remédio

Quando você tem um ferimento, é bom passar óleo de andiroba no local. Além de sarar, esse remédio evita que mosquitos, moscas e outros insetos sentem em cima da sua ferida. Os carroceiros também usam óleo de andiroba nas feridas dos animais. O lombo, peito, barriga e traseiro de burros e cavalos ficam facilmente feridos pelo atrito do couro da sela. A andiroba ajuda a recuperar a pele e reconstituir o pêlo. Se a andiroba ajuda a nascer pêlos nos animais, será que ela também não ajudaria a nascer cabelos na cabeça dos carecas?

Conhecimento perdido

Na comunidade de Pedreira, no Pará, um senhor conta: “...nos anos de 1940 a gente vivia de tirar e vender óleo de andiroba, caça, peles e breu. Nos anos de 1950 veio a opção da seringa, depois da maçaranduba e agora da farinha, de maneira que a gente começou a trabalhar menos na mata. Hoje, os mais novos não sabem nem como tirar o óleo. As árvores estão aí, mas têm menos serventia”.3 Muitos usos de

plantas existem principalmente na memória das pessoas e provavelmente não vão ser passados para os filhos se as árvores não existirem mais. À medida que as árvores desaparecem da paisagem, desaparece também o conhecimento das pessoas.4

Conhecimento tradicional complementa a ciência

Glória, do interior, visitou o Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará (UFPA) e contou para um professor que sua mãe produzia óleo de andiroba. Ela explicou que sua mãe deixava as sementes 30 dias abafadas para fazer o óleo. O professor logo reagiu: “Sabe quanto tempo leva aqui no laboratório, usando solventes e prensagem? Apenas 1 hora!”. Surpresa, a senhora então perguntou ao professor se as substâncias ativas que curam as pessoas ainda faziam parte do óleo obtido por esse processo rápido. Ele respondeu que os pesquisadores ainda não sabiam. Disse que alguns componentes do óleo obtido pelo processo artesanal (com longo tempo de fermentação) não aparecem no óleo produzido industrialmente. Será que esses componentes são os responsáveis pelo efeito medicinal do óleo?

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45

Andiroba

Processo de extração do óleo

Gloria Gaia

Existem muitas maneiras para extrair óleo de andiroba. Uma delas é feita na sombra e chama-se “azeite de tábua”. O óleo que sai desse processo é conhecido como “óleo virgem” porque é bem limpinho, sendo considerado o melhor. Outro processo, chamado “azeite de sol”, é mais rápido e menos desgastante. Ambos começam da mesma forma:

Ferva as sementes até amolecerem. Quebre algumas e verifique, usando a unha, se a massa está grossa e oleosa. A unha deve atravessar a massa com facilidade. Retire as sementes da água e deixe-as empilhadas no chão, cobertas por folhas verdes, por

40 dias. Em seguida, abra todas as sementes com uma faca e retire a massa. Amasse a massa e faça bolinhas. Em Cametá, as mulheres amolecem a massa com os pés para depois usar as mãos.

Azeite de tábua - coloque as bolinhas em um cocho feito com um pedaço de metal, canoa velha ou pedaço de madeira inclinada para o chão. Coloque um fiozinho de algodão no fim da massa inclinada e uma vasilha no chão; assim, o óleo que sai da massa cai certinho dentro da vasilha. Amasse todos os dias. Depois de 4 a 6 dias, a massa ficará dura e seca. Para obter mais óleo dessa massa basta colocar o cocho ao sol. Você também pode colocar a massa dentro de um tipiti para extrair o restante do óleo.

Azeite de sol - deixe a massa ao sol durante 2 dias, virando-a de 2 em 2 horas durante todo o dia. No final da tarde, leve a massa para casa e faça bolinhas. Coloque as bolinhas na tábua inclinada e deixe o óleo sair. No terceiro dia, esquente a massa ao sol durante 3 horas e leve-a ao tipiti para extrair o restante do óleo (2 dias). O azeite de sol rende mais do que o azeite de tábua, mas alguns acreditam que parte do princípio ativo, para fins fitoterápicos, é perdido nesse processo. Algumas pessoas aproveitam a massa seca que sobra para fazer sabão ou jogam-na no fogo para espantar carapanãs e mosquitos.

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Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

Como o rendimento varia

André Dias

As fábricas de óleo na Amazônia extraem o óleo quebrando as sementes em pedaços pequenos que são aquecidos e depois prensados. Normalmente, o rendimento é de 8 a12 litros para 40 quilos de sementes.1

As comunidades extraem óleo sem a prensa, por isso o rendimento é menor. Às vezes, as pessoas têm pouco tempo e acabam deixando para cozinhar as sementes depois do dia da coleta, ou não dá tempo de tirar a massa da chuva. Veja no quadro abaixo como dona Marita e dona Rita, de Santarém, e dona Glória de Cametá fizeram o óleo e compare os rendimentos.

C

AÇA

As sementes amargas da andiroba são muito apreciadas pela paca e cutia. Às vezes, a cutia come as sementes embaixo da árvore. Outras vezes, ela as enterra para comer depois, mas com o tempo esquece de comer algumas e essas sementes acabam germinando. Dessa forma, a cutia ajuda a plantar andiroba.

Dona Marita

Os 40 quilos de sementes foram cozidos no mesmo dia da coleta.

A sementes cozidas ficaram 15 dias guardadas dentro de um saco.

A massa foi retirada da semente e ficou 5 dias em repouso na sombra.

Durante 14 dias a massa ficou exposta ao sol, sendo amassada todos os dias e sempre protegida da chuva.

40 quilos de semente renderam 3 litros de óleo.

Dona Glória

Os 40 quilos de sementes foram armazenadas em um recipiente com água para não perder a umidade. Em seguida, as sementes foram cozidas.

As sementes cozidas ficaram 30 a 40 dias abafadas no canto da casa.

A massa foi retirada da semente e ficou 3 dias guardadas no paneiro, no abafado.

A massa foi amassada e exposta ao sol para o azeite escorrer.

40 quilos de semente renderam 6 litros de óleo.

Dona Rita

Os 40 quilos de sementes foram cozidos 4 dias depois da coleta.

As sementes cozidas ficaram 26 dias guardadas dentro de um saco.

A massa retirada da semente foi amassada e exposta ao sol no mesmo dia.

Durante 19 dias a massa ficou exposta ao sol, sendo amassada de vez em quando e sempre protegida da chuva.

40 quilos de semente renderam 1 litro de óleo.

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Andiroba

Receita para sabão

Coloque 1 litro de óleo de andiroba em uma lata para ferver com 4 quilos de sebo de gado derretido. Deixe a mistura ferver por 30 minutos e depois acrescente 250 gramas de breu (ou silicato, ou ainda soda cáustica). Se quiser sabão cheiroso, coloque oriza ou catinga-de-mulata. Ferva até atingir uma textura grossa. Deixe a solução esfriar e coloque-a numcoloque-a fôrmcoloque-a. Em seguidcoloque-a, corte o scoloque-abão em pedcoloque-aços e gucoloque-arde. No interior, é costume acrescentar à andiroba o sebo e a cinza da casca do cacau misturada com água. Esse sabão é utilizado na lavagem de roupa, na limpeza de pele, contra coceiras, impigens e pano branco. Para fazer a cinza do cacau, queime a casca seca do fruto. A cinza fina e branca (muito ácida e forte) deve ser guardada numa vasilha em local seco.

Cobras e dengue

O óleo de andiroba pode ser usado como repelente contra moscas e mosquitos. Além disso, ele diminui as chances de inflamação em picadas de insetos, cobras e, em alguns casos, morcegos. Estudos do Instituto de Estudos e Pesquisas do Estado do Amapá (Iepa) ajudaram na descoberta de que as velas feitas com bagaços de sementes de andiroba espantam o mosquito que transmite a dengue (Aedes aegypti).5 Nos

seringais, o óleo ainda é usado nas lamparinas para a iluminação.

As mulheres andirobeiras

Promanejo/STM Na Floresta Nacional do Tapajós, as mulheres das comunidades de São Domingos, Nazaré e Pedreira estão produzindo óleo de andiroba para vender. Um estudo de mercado descobriu que as comunidades tinham muitos produtos florestais com bons preços e boa saída.6 O passo seguinte foi fazer um plano de

manejo7 e conseguir a liberação do Ibama para o transporte do óleo (ATPF). As mulheres conseguiram

estabelecer o negócio e hoje ajudam muito na renda da família, estão mais organizadas e são mais respeitadas nas comunidades. Vale lembrar que as mulheres mais idosas contribuíram muito nesse processo, pois somente elas sabiam como extrair óleo de andiroba.

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Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

germinação 10 dias

crescimento 1,6 metro por ano

produção 10 anos

M

ANEJO

Neuza Boufleuer e Cristina Lacerda

A andirobeira é um potencial para os sistemas agroflorestais, pois produz uma excelente madeira e óleo medicinal. A germinação tem início nos 6 primeiros dias e termina em 2 a 3 meses com 85% a 90% das sementes germinadas. A árvore cresce rápido mesmo em áreas degradadas, tanto ao sol como na sombra. Por isso, uma boa idéia é valorizar as áreas de capoeira e áreas alteradas plantando andiroba. Apesar de ocorrer em baixio, ela também pode ser plantada em terra firme. Os cientistas ainda não sabem se é melhor plantar as árvores juntas ou afastadas, ao sol ou com pouca ou muita sombra. Em alguns lugares, na fase inicial, os plantios se desenvolveram bem na sombra, mas depois, a luz foi importante para o seu desenvolvimento rápido. Quando as plantas ficam em pleno sol, acabam crescendo mais em largura do que em altura1 e quando estão muito juntas, ficam mais suscetíveis ao ataque da broca do ponteiro. A andirobeira

tem bom potencial nos sistemas agroflorestais e no enriquecimento da capoeira. Porém, tome cuidado com as sementes, pois os roedores gostam muito de comê-las.

Conferindo a produção: um método rápido

André Dias

Para aproveitar os recursos da floresta é importante saber quais são as árvores existentes, onde elas estão localizadas e quanto podem produzir. Os cientistas ainda não têm uma idéia certa sobre a produtividade da andirobeira. Como todo ano a produção de cada árvore varia, os estudos levam muito tempo e dão resultados extremamente variáveis.

Na comunidade de Pedreira, no Pará, foi feita uma experiência para saber “mais ou menos” quantos frutos as árvores de andiroba produziam por ano. Os pesquisadores e comunitários contaram quantas árvores de andiroba havia em uma área e, para cada árvore, olhavam o chão e observavam a quantidade de frutos caídos.

Quatro categorias foram usadas de zero até 60 quilos. O resultado foi: 37 árvores produziram muito pouco ou nada; 43 árvores produziram até 15 quilos; 13 árvores, entre 15 e 50 quilos, e 7 árvores mais de 50 quilos.3 Em seguida, esses números foram somados e a comunidade

calculou que aquela floresta poderia produzir um pouco mais que 1.200 quilos de sementes por ano. Assim, a comunidade pôde estimar a mão-de-obra que seria necessária para produzir óleo, bem como o rendimento que teriam por ano.

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Andiroba

Onde foram nossos pais?

Carlos Augusto Ramos

Uma família de árvores saudáveis tem uma grande variedade de idades, incluindo muitos filhos, uma quantidade média de pais e poucos avós. Isso significa que a família vai continuar reproduzindo bem. Quando não há um bom equilíbrio entre a quantidade de filhos, pais e avós, a espécie pode ter dificuldade de reproduzir e manter a população.

Um estudo sobre a andiroba mostrou que havia muitos filhos, mas poucos pais e quase nenhum avô na região de São João de Jaburu em Gurupá, no Pará. A maioria das árvores tinha menos de 25 centímetros de diâmetro. O que você acha que aconteceu com todos os pais e avós? Foram explorados para a extração de madeira. Os moradores da comunidade têm a prática de explorar árvores acima de 30 centímetros. No entanto, hoje, por causa da escassez de andirobeiras adultas, os comunitários se arrependeram e estão repensando o uso da espécie. Por exemplo, as mulheres da comunidade ligadas à Associação dos Produtores do Jaburu estão planejando aproveitar as sementes de andiroba para extrair óleo - que pode ser vendido ou usado ao longo de muitos anos.

Filho Pai Avô

Diâmetro

Nº de árvores por hectares

Cadê nossos pais e avós?

classes de diâmetros de andirobeiras

10 20 25 30 35 40 45 50 60 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

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50

Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

1 Clay, J.W. C.; Sampaio, P.B. & Clement, C.R. 2000 2 Boufleuer, N.T. 2001

3 Dias, A. S. 2001

4 Shanley,P. & Rosa, N. A. No prelo 5 O liberal 1998

6 Gonçalves, V.A. 2001 7 Promanejo. 2000

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Bacuri

Bacuri

Platonia insignis Mart.

Patricia Shanley Gabriel Medina

Antes de o sol raiar a criançada do interior anda longe na floresta escura para chegar embaixo dos bacurizeiros. Cada criança come até 5 frutos embaixo da copa e assim está garantido o café-da-manhã. Nas cidades, a popularidade do bacuri tem aumentado tanto que além do fruto e polpa, os mercados estão vendendo iogurte, geléia, doces, bolo, licor e doces. O nome bacuri vem da língua tupi-guarani, na qual “ba” significa cair e “curi” significa logo. O bacuri é a fruta que cai logo que amadurece.

Esta árvore bonita pode alcançar de 15 a 25 metros de altura e 1,5 metro de diâmetro, ou 4 metros de rodo (circunferência). Tem tronco reto com látex amarelo e galhos opostos em posição de V aberto; até de longe é possível reconhecê-lo. Suas folhas são opostas, brilhosas, e as flores são grandes com pétalas róseas. O bacurizeiro é natural do Estado do Pará, e a área de maior concentração é o estuário do rio Amazonas, com ocorrência mais acentuada na Região do Salgado e na ilha de Marajó.1 Do Pará, o bacuri foi

levado para o Maranhão, Piauí e outras áreas,1 mas raramente é encontrado na Amazônia Ocidental.2 Ocorre

naturalmente na capoeira e em áreas degradadas e arenosas, indiferente aos tipos de solos, sejam eles pobres ou argilosos. Ocasionalmente é encontrado na floresta alta.

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Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

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E

COLOGIA

Época de flor e fruto

No Pará, o bacurizeiro floresce de junho a agosto e o seu fruto aparece nos mercados de Belém entre janeiro e abril. Felizmente a safra desta fruta deliciosa varia em diferentes regiões, prolongando o seu fornecimento no mercado. No início da safra, a região das ilhas, como o Marajó, abastece Belém. Depois é a vez da Zona Bragantina fornecer os bacuris. Também o Estado do Maranhão está fornecendo muito bacuri para Belém.

A densidade do bacurizeiro varia muito em diferentes regiões. Na floresta, a densidade é baixa, em média, 1 árvore por hectare. Em áreas de capoeira de 10 anos, é possível encontrar mais de 1.800 árvores novas por hectare.3 O bacurizeiro agüenta bem o fogo. Há quem diga que quanto mais ele queima, mais ele

brota.

De 100 a 800 frutos por árvore (em média 400 frutos)

Produção

Um bacurizeiro pode produzir até 2.000 frutos, mas a média é de 400 frutos. Muitas árvores de bacuri não produzem frutos anualmente, pois “descansam” de um ano para o outro. Em um estudo de 5 anos, de uma amostra de 16 árvores adultas, uma média de 55% foram produtivas.4 Com 50 árvores por hectare

pode-se produzir aproximadamente:

9,5 toneladas de frutos por hectare = 1 tonelada de polpa

= 6 toneladas de casca

= 2,5 toneladas de sementes, que podem ser utilizadas para alimentação de animais.5

Os frutos normalmente possuem casca espessa e 2 caroços, com rendimento de polpa de 10%. Novas pesquisas descobriram frutos sem caroço e com 18% de polpa,6 além do bacuri de casca fina com rendimento

de 28% de polpa.7

J

F

M

A

M

J

J

A

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O

N

D

Densidade

0,5 a 1,5 árvore por hectare 2 a 7 árvores por alqueire

(54)

53

Bacuri

V

ALOR

E

CONÔMICO

Segundo um vendedor, “o bacuri está virando ouro no mercado”.4 Os preços recentes refletem essa

popularidade: em março de 2004, no Ver-o-Peso, o bacuri pequeno custou R$ 0,30; o médio, R$ 0,50 e o grande, R$ 0,80. O quilo da polpa não saiu por menos de R$ 8 e um chocolate com recheio de bacuri custou R$ 0,60. Nos supermercados, 1 litro de licor foi vendido por R$ 12.

Em fevereiro de 2001, só na feira de Bragança, mais de 4 mil frutos foram vendidos por dia.3 Lá, o

mercado cresceu mais de 3 vezes nos últimos 5 anos. Em Bragança, o fruto ficou tão valioso que alguns coletores apanham e enterram os frutos verdes para deixar a casca amarelar e vender como se fosse maduro. Nesse caso, os vendedores reclamam que os frutos ficam travosos.

Em 2004, nas 10 principais feiras de Belém, foram comercializados cerca de 491 mil frutos de bacuri; só na feira do Ver-o-Peso foram vendidos 178 mil. O comércio dos frutos movimentou uma renda de mais de R$ 220 mil. Em apenas uma madrugada, chegaram na feira-do-açaí mais de 10.600 frutos de bacuri, vindos de Soure e Ponta-de-Pedras, no Marajó.

O bacuri é uma das frutas mais populares nas Ceasas de São Luiz, Teresina e Belém.8 Sua polpa

doce vem sendo utilizada na fabricação de cremes, sorvetes e sucos. Em áreas perto dos mercados, mulheres, crianças e idosos estão coletando bacuri. Perto de Bragança, na safra, cada coletor ganha mais de R$ 7 por 3 horas de trabalho.3

631 96 256 228 479 1995 1996 1997 1998 1999

Algumas pessoas batem na árvore com um facão, pois acreditam que assim ela “jogará” melhor. Mas cuidado, essa prática, às vezes, só faz com que caiam frutos verdes.

Quantos frutos por ano?

Como o bacuri é tão delicioso, vale a pena saber bem quantos frutos seus pés produzem. Veja a média de produção de 16 árvores ao longo de 5 anos:

Fruta de pobre virou fruta de rico!

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Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica

54

U

SO

Fruto: polpa, suco, creme, sorvete, geléia, doce, pudim, tortas, iogurte, picolé, chopp e licor. Em Belém, os chefes-de-cozinha estão criando pratos com bacuri e as indústrias estão enlatando a polpa para vendê-la em outros Estados.

Madeira: excelente qualidade, utilizada na fabricação de móveis, construções civil e naval . No interior do Pará, a madeira é usada para fazer cavaco.

Óleo: usado para fazer sabão, curar doenças de pele e fazer remédio cicatrizante para ferimentos de animais.9

Látex amarelo da árvore: em algumas regiões é utilizado para o tratamento de eczemas, vírus da herpes e outros problemas de pele.9

Fruto ou farinha?

Durante uma safra, quando Curumim e Antonino venderam bacuri, o valor de 1 saco de frutos (150 a 200 unidades) era parecido ao valor de 4 sacos de farinha. Eles calcularam que levaria 1 dia para colher e vender os frutos, que renderiam R$ 40 (200 frutos x R$ 0,20 a unidade). Para fazer os mesmos R$ 40 de farinha, levaria aproximadamente 1 semana. O bacuri tem vantagens para comercialização, pois sua casca grossa protege a polpa durante a viagem para a feira. Além disso, o fruto pode durar até 7 dias caído embaixo da árvore.

Mão-de-obra: fruto x farinha

1 dia R$ 40 cavaco de bacuri 1 semana R$ 40

1 saco de frutos = 4 sacos de farinha

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55

Bacuri

Fruto ou madeira?

Vamos comparar o valor dos frutos do bacurizeiro com o valor da madeira. Um bacurizeiro nas florestas de algumas comunidades do Pará foi vendido por R$ 2. Na mesma época, 10 frutos renderam os mesmos R$ 2 (10 frutos x R$ 0,20 a unidade). Curumim e Antonino, caçadores do Rio Capim, pensaram sobre isso. Com base em suas experiências, eles sabem que 1 árvore de bacuri “joga”, em média, 400 frutos por ano. Calcularam que sua família, seus vizinhos e a caça comem uma parte dessa produção (100 frutos), deixando ainda 300 frutos de bacuri no chão.

Curumim e Antonino decidiram colher esses frutos e mandá-los para a feira. Mesmo com a variação dos preços durante a safra e com os custos de transporte, eles obtiveram uma renda de R$ 40 pelos 300 frutos de uma árvore. O tempo envolvido na coleta e venda dos frutos foi de 2 dias, comparada com 1 semana de trabalho necessária para obter a mesma renda fazendo farinha.

Para ganhar essa mesma quantia de dinheiro com a venda da madeira eles precisariam vender 20 árvores. A venda de árvores é feita apenas uma vez, enquanto a venda de frutos pode ocorrer todos os anos da vida produtiva de uma árvore. Curumim e Antonino entenderam que a árvore em pé rende mais do que sua venda para madeireiras ou derruba para roça.

É certo que muita gente não pode ir às feiras por causa do trabalho na roça, falta de transporte, alguém doente na família, ou falta de rancho nos dias de venda. Mas, mesmo sem vender qualquer fruta, é importante lembrar da “renda invisível” e da excelente nutrição das frutas consumidas em casa. As frutas da mata podem fornecer “vinhos”, sucos, cremes e doces.

Referências

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