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Perfil epidemiológico dos casos de intoxicação por agrotóxicos de 2013 a 2017 no Brasil / Epidemiological profile of cases of intoxication by agrotoxic from 2013 to 2017 in Brazil

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.43802-43813 jul. 2020. ISSN 2525-8761

Perfil epidemiológico dos casos de intoxicação por agrotóxicos de 2013 a 2017 no

Brasil

Epidemiological profile of cases of intoxication by agrotoxic from 2013 to 2017

in Brazil

DOI:10.34117/bjdv6n7-119

Recebimento dos originais: 03/06/2020 Aceitação para publicação: 07/07/2020

Maria Lúcia Henrique Ramos

Graduanda em Farmácia Generalista

Instituição: Faculdade de Integração do Sertão - FIS

Endereço: Rua João Luiz de Melo, 2110 - Tancredo Neves, Serra Talhada - PE, Brasil. E-mail: marialucia.hramos@gmail.com

Viviane da Silva Lima

Graduanda em Farmácia Generalista

Instituição: Faculdade de Integração do Sertão - FIS

Endereço: Rua João Luiz de Melo, 2110 - Tancredo Neves, Serra Talhada - PE, Brasil. E-mail: limmavivianne@gmail.com

Renato Elói da Silva

Graduando em Farmácia Generalista

Instituição: Faculdade de Integração do Sertão – FIS

Endereço: Rua João Luiz de Melo, 2110 - Tancredo Neves, Serra Talhada - PE, Brasil. E-mail: renatto.eloi@hotmail.com

João Victor do Nascimento Nunes

Graduando em Farmácia Generalista

Instituição: Faculdade de Integração do Sertão – FIS

Endereço: Rua João Luiz de Melo, 2110 - Tancredo Neves, Serra Talhada - PE, Brasil. E-mail: jv.n.nunes@hotmail.com

Gabriela Cavalcante da Silva

Mestre em Ciências Farmacêuticas – UFPE Doutora em Bioquímica e Fisiologia – UFPE Docente da Faculdade de Integração do Sertão – FIS

Endereço: Rua João Luiz de Melo, 2110 - Tancredo Neves, Serra Talhada - PE, Brasil. E-mail: gcavalcante1988@gmail.com

RESUMO

Introdução: O processo produtivo químico-dependente adotado pelo agronegócio, que considera os agrotóxicos como essenciais ao combate de pragas, proporciona impactos maléficos à saúde humana. Tornando o uso dos mesmos e a relação com seus efeitos uma preocupação global. Objetivo: Este estudo buscou analisar o perfil epidemiológico dos casos de intoxicação por agrotóxicos no Brasil. Metodologia: Trata-se de um estudo retrospectivo e de abordagem quantitativa fundamentada, teoricamente, em publicações relacionadas, entre o período de 2015 a 2020 e análise de dados relacionados à intoxicação por agrotóxicos no Brasil disponíveis nas plataformas DATASUS

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.43802-43813 jul. 2020. ISSN 2525-8761 (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) referentes aos registros do SINAN NET por meio da Interface Tabnet e no SINITOX (Sistema Nacional de informações Tóxico-farmacológicas) do Ministério da Saúde no período de 2013 à 2017. Resultados: Houve prevalência de intoxicação no sexo masculino, na faixa etária de 20 – 39 anos, residentes na zona urbana. Intoxicação em circunstâncias acidentais representando 46,4% dos casos no Sinitox e casos relacionados à tentativa de suicídio com 52,6% segundo Sinan. A maioria das intoxicações por agrotóxicos evoluem para cura. Por meio da analise de dados dos sistemas foi possível observar ainda a prevalência de casos subnotificados mediante inconsistência entre os registros de casos entre os bancos de dados utilizados. Conclusão: Evidenciou-se a necessidade de utilização e manejo adequados dos agrotóxicos, de maneira que seja possível reduzir danos à saúde de trabalhadores rurais. Assim como a importância do uso de EPI´s no manejo, capacitação e vigilância por parte dos profissionais de saúde.

Palavras-chave: Agroquímicos, Praguicidas, Envenenamento e exposição à praguicidas. ABSTRACT

Introduction: The chemical-dependent production process adopted by agribusiness, which considers pesticides to be essential to combat pests, causes great harm to human health. Making their use and the relationship with their effects a global concern. Objective: This study sought to analyze the epidemiological profile of pesticide poisoning cases in Brazil. Methodology: This is a retrospective study with a quantitative approach based, theoretically, in related publications, between the period 2015 to 2020 and analysis of data related to pesticide poisoning in Brazil available on the DATASUS platforms (Department of Informatics of the Unified Health System) referring to the SINAN NET records through the Tabnet Interface and in the Ministry of Health's National System of Toxic-Pharmacological Information (SINITOX) from 2013 to 2017. Results: There was a prevalence of intoxication among males, aged 20 - 39 years, living in the urban area. Intoxication in accidental circumstances representing 46.4% of the cases in Sinitox and cases related to the attempted suicide with 52.6% according to Sinan. Most pesticide poisonings evolve to cure. Through the analysis of data from the systems, it was also possible to observe the prevalence of underreported cases through inconsistency between the case records between the databases used. Conclusion: He need for proper use and management of pesticides was highlighted, so that it is possible to reduce damage to the health of rural workers. As well as the importance of using PPE in the management, training and surveillance by health professionals.

Key words: Agrochemicals, Pesticides, Poisoning and exposure to pesticides.

1 INTRODUÇÃO

Os termos agrotóxicos e afins são definidos pela Lei federal n° 7.802, de 1989, e regulamentados pelo Decreto n° 4.074, de 2002, que trazem consigo a definição de que são agentes químicos, físicos ou biológicos destinados à preservação de ação danosa de seres vivos considerados nocivos. De acordo com a referida Lei federal, a produção, exportação, importação, comercialização e utilização de agrotóxicos e afins, apenas poderá ocorrer caso haja registro dos mesmos em órgão federal, respeitando as diretrizes e exigências dos órgãos responsáveis pelos setores da saúde, meio ambiente e agricultura (BRASIL, 1989).

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.43802-43813 jul. 2020. ISSN 2525-8761 No ano de 2019, o país concedeu registro a 474 agrotóxicos, conferindo o maior quantitativo registrado pelo Ministério da Agricultura dos últimos 5 anos (MAPA, 2019). A comercialização e utilização aumentaram 200% entre 2000 e 2012. No entanto, mesmo o uso de agrotóxicos levando um aumento significativo na produção agrícola, os mesmos geram também consideráveis efeitos negativos ao meio ambiente bem como a saúde humana. Além de que, a aplicação da lesgislação e regulamentação relacionada ao registro e comercialização aparenta certa flexibilidade, já que a aquisição de tais produtos químicos pode ser realizada sem a apresentação de receita (CALDAS, 2016).

O processo produtivo químico-dependente adotado, majoritariamente, pelo agronegócio, considera os agrotóxicos como essenciais ao manejo e combate a pragas, bem como está relacionado ao aumento da produtividade. Todavia esse modelo de cultivo que utiliza de forma intensiva esses produtos químicos proporcionam malefícios relacionados tanto ao meio ambiente quanto à saúde de trabalhadores rurais e população em geral (FERREIRA; VIANA JÚNIOR, 2016; CORCINO et al., 2019).

A aplicação de pesticidas e a relação com seus efeitos nocivos revelam uma preocupação global. O que pode ser justificado pelo fato da agricultura ser um setor gerador de renda predominante em muitos países. Não obstante, o consumo de alimentos vegetais tem crescido mundialmente, tal aumento pode ser devido ao crescente padrão de renda bem como à conscientização a respeito da importância de uma dieta equilibrada e saudável. Dessa forma, é natural que quanto maior a demanda por produtos frescos, maior também seja o uso de pesticidas agrícolas (LONG et al., 2020).

Contudo, as intoxicações por agrotóxicos não dizem respeito somente à exposição ocupacional, implica, adicionalmente, a exposição indireta por meio de consumo de alimentos oriundos da agricultura. Entre os anos 1999 e 2014, o SINITOX obteve registro de 21.305 casos de intoxicação humana por agroquímicos, somente na região Sul do país. No entanto, esse quantitativo representa apenas os casos relatados aos centros de coleta de informações, o que leva crer que um número mais expressivo de casos tenha ocorrido, considerando as subnotificações (HENDGES et al., 2019).

As mortes ocasionadas por envenenamento a partir do uso de pesticidas agrícolas no Brasil se apresentam como a terceira maior causa de suicídio no país, apresentando aumento de 65% em 15 anos, passando de 4,6% em 1996 para 7,6% em 2010 (PEDROSA et al., 2018).

A exposição à qual os trabalhadores rurais são submetidos pode ocorrer de diversas maneiras quando se trata do manejo de defensivos agrícolas. As exposições podem acontecer desde a etapa de preparação para uso, aplicação, colheita e, até mesmo, no manuseio das embalagens vazias para descarte. A não utilização de Equipamentos de proteção Individual (EPI) em qualquer uma das etapas do manejo de defensivos agrícolas contribui para o aumento da probabilidade de intoxicação

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.43802-43813 jul. 2020. ISSN 2525-8761 dos trabalhadores rurais, o que torna o uso destes equipamentos obrigatório. Todavia, há resistência quanto ao uso dos EPIs em todas as etapas de manejo, por vezes, justificada pelo possível desconforto causado pelos mesmos (SANTOS et al., 2017), o que não configura fator preponderante para a não utilização de tais equipamentos.

Diante disso, é posivel constatar que as intoxicações por agrotóxicos no Brasil representam um relevante problema de saúde pública. O aumento do número de registros, bem como a crescente utilização e facilidade de acesso e aquisição de agrotóxicos no Brasil, dificulta a vigilância sobre tais acontecimentos pelas autoridades de saúde. Com isso, visou-se analisar a epidemiologia dos casos notificados de intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola, doméstico e raticidas, utilizando as variáveis de prevalência relacionadas ao sexo, faixa etária, zona, circusntâncias e evolução no periodo de 2013 à 2017, conforme as fontes mencionadas anteriormente.

2 METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se como retrospectivo e de abordagem quantitativa fundamentada, teoricamente, nas publicações referentes ao tema, entre o período de 2015 a 2020 e levantamento de dados de intoxicação por agrotóxicos no Brasil, referentes aos períodos de 2013 a 2017, disponíveis no DATASUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) estes dados disponibilizados pelo sistema são oriundos do SINAN NET por meio da interface Tabnet e no SINITOX (Sistema Nacional de informações Tóxico-farmacológicas) do Ministério da Saúde,

disponível em endereço eletrônico: http://datasus.saude.gov.br/ e

https://sinitox.icict.fiocruz.br/dados-nacionais.

Os artigos científicos e periódicos utilizados no embasamento teórico foram selecionados em bases de dados virtuais, tais como: BIREME (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific Electronic Library Online), SCIENCE DIRECT e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde).

A pesquisa foi realizada durante os meses de março a maio de 2020, resultando na análise de 25 artigos de 137. 829 encontrados relacionados ao tema, utilizando as palavras-chaves: Agroquímicos, Praguicidas, Envenenamento e exposição à praguicidas. Já a população analisada no presente estudo diz respeito ao quantitativo de notificações de intoxicações por agrotóxicos, utilizando variáveis epidemiológicas relacionadas ao sexo, faixa etária, zona e circunstâncias da intoxicação.

Considerando-se a abrangência do tema, buscou-se ainda avaliar o acesso, as classes, a comercialização, bem como os sinais, sintomas e agravos à saúde humana decorrentes da utilização de agrotóxicos para uso doméstico, agrícola e raticidas no Brasil.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As características relacionadas aos casos de intoxicação foram expostas na Tabela 1. De acordo com o quantitativo de casos demonstrado, observa-se a incidência de intoxicação no sexo masculino, concentrado, em sua maioria, na faixa etária de 20 – 39 anos, bem como residentes na zona urbana, houve concordância de informações em ambos os bancos de dados pesquisados.

Tabela 1. Perfil de morbidade relacionado às características de intoxicação exógena por agrotóxicos no Brasil.

CARACTERISTICAS SINITOX SINAN

N°= 34.477 % N°= 58.928 % Sexo Masculino 18.444 53,4 32.781 55,6 Feminino 14.852 43,7 26.133 44,3 Ignorado 1.181 3,42 14 0,02 Faixa Etária <1 ano 866 2,5 1191 2,02 1-9 anos 8.946 25,9 6.570 11,1 10-19 anos 3.360 9,7 8.238 13,9 20-39 anos 10.658 30,9 25.888 43,9 40-59 anos 6.758 19,6 13.532 22,9 >60 anos 2.248 6,5 3.499 5,9 Ignorado 1.641 4,7 10 0,01 Zona de residência Rural 6.432 18,6 12.521 21,2 Urbana 24.008 69,6 44.248 75,08 Periurbana - - 370 0,6 Ignorado/Branco 4.037 11,7 1.789 3,03

Fontes: Sistema Nacional de informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX); Sistema de informação e notificação de

agravos (SINAN).

De acordo com um estudo realizado no Distrito Federal, com indivíduos expostos ocupacionalmente, no período de 2009 a 2013, foi constatada prevalência de trabalhadores do sexo masculino, chegando a representar mais de 80% no ano de 2009 no qual 28,5% dos casos estavam na faixa etária entre 30 a 39 anos. Dos atendimentos prestados, cerca de 60% foram de agricultores rurais e agentes de vigilância ambiental bem como guardas de endemias (MAGALHÃES; CALDAS, 2019). A intoxicação por agrotóxicos pode ser considerada um problema de saúde pública relatado em diversos estudos, principalmente em países em desenvolvimento com base no agronegócio. Diversos estudos indicam que as intoxicações agudas acometem principalmente trabalhadores que se expõem a tais produtos durante sua jornada de trabalho.

Dessa forma fatores relacionados ao tipo do produto, tempo de exposição e ao uso inadequado e/ou não utilização dos equipamentos de proteção individual, estão entre os influenciadores dos casos de síndrome tóxica. Em um estudo com produtores de tabaco pode-se observar que os mesmos apresentavam sintomas compatíveis aos de intoxicação aguda como dor de cabeça, tontura, vômito, falta de ar, fraqueza muscular e erupções cutâneas durante e após a pulverização de pesticidas no

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.43802-43813 jul. 2020. ISSN 2525-8761 cultivo. Tais sintomas são semelhantes aos relatados por outros produtores, como dores de cabeça, náusea e dor de estômago, considerados comuns ao uso equivocado de pesticidas (CARGNIN; ECHER; SILVA, 2017).

O nível de escolaridade mostra-se como relevante fator relacionado ao uso correto de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), bem como da utilização adequada dos praguicidas, conforme demonstrado em estudo realizado com trabalhadores rurais expostos a praguicidas em Minas Gerais. Identificou-se baixa escolaridade, restrita ao Ensino Fundamental I. Em relação às mulheres, os homens utilizam mais frequentemente os equipamentos de proteção individual adequadamente, porém este dado pode ser relacionado à predominância masculina no setor (SILVERIO et al., 2020).

Estudo elaborado com trabalhadores rurais do município de Cerro Largo, entre 2016 e 2017, majoritariamente do sexo masculino e com menos de nove anos de estudo, afirmaram ter recebido treinamento para manejo de agrotóxicos, os mesmos reconheceram a importância do treinamento, no entanto 50,4% dos trabalhadores indicaram a existência de dúvidas relacionadas ao uso seguro de agrotóxicos. Os sintomas de intoxicação agudam apresentados pelos participantes da pesquisa foram dor de cabeça, falta de ar, tontura, náusea e vômito, fraqueza, vermelhidão nos olhos, dor muscular e irritações na pele com prurido (RISTOW et al., 2020).

A sintomatologia das intoxicações agudas por agrotoxicos relacionadas ao manuseio de pesticidas apresenta uma extensa variabilidade. No entanto, as principais queixas relatadas por trabalhadores rurais dizem respeito à irritação nos olhos, dores de cabeça, dor nas articulações, dores musculares, sendo comuns, também, sintomas como vômito, nauseas e vertigem, além de coceira e febre (VARONA et al., 2016; DALBÓ et al., 2017; AQUINO; MEDINA, 2019).

A exposição prolongada aos agroquímicos, como nas intoxicações crônicas podem apresentar relação com o surgimento de alguns tipos de câncer, bem como de doenças neurológicas, hepáticas, renais, respiratórias, imunológicas e endócrinas, assim como também, alterações mutagênicas, teratogênicas e genotóxicas (MURAKAM et al., 2017).

De acordo com os dados registrados pelo SINITOX, a maioria dos casos de intoxicação ocorreu em circunstâncias acidentais, representando 46,4% dos casos. No entanto, os registros do SINAN indicam maior número de casos relacionados à tentativa de suicídio com 52,6%, conforme se apresenta na Tabela 2 a seguir.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.43802-43813 jul. 2020. ISSN 2525-8761 Tabela 2. Perfil de morbidade relacionada às circunstâncias da intoxicação.

CIRCUNSTÂNCIAS SINITOX SINAN

N°= 34.477 % N°= 58.928 % Uso habitual 3.829 11,1 4.724 8,01 Acidental 16.024 46,4 18.079 30,6 Uso terapêutico 9 0,02 34 0,05 Pres. Méd. inadequada 3 0,008 14 0,02 Erro de administração 53 0,15 471 0,7 Automedicação 9 0,02 97 0,1 Abuso 22 0,06 142 0,2 Ingestão de alimentos 40 0,11 349 0,5 Tentativa de suicídio 12.160 35,2 31.041 52,6 Tentativa de aborto 34 0,09 101 0,1 Violência/Homicídio 127 0,3 710 1,2 Ignorado/Em Branco 1.523 4,4 2.295 3,8 Outra 644 1,8 871 1,4

Fontes: Sistema Nacional de informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX); Sistema de informação e notificação de

agravos (SINAN).

Caldas (2016) indica que, um caso de intoxicação pode não ser registrado em ambos sistemas e com isso os dados coletados podem se diferenciar substancialmente. Diante disso, a falta de dados concretos e unificados é um fator que dificulta a real avaliação e analise da extenção do problema de envenenamento por pesticidas no Brasil. A ocorrência de eventos subnotificados tanto no SINAM quanto no SINITOX pode acontecer quando o paciente em questão não procura atendimento médico, pelo inadequado funcionamemto dos sistemas de saúde em determinadas localidades ou mesmo pelo fato do individuo não relacionar a sua sintomatologia à intoxicação por pesticidas, principalmente se este for de uso corriqueiro, como no caso dos trabalhadores rurais, ja que o envenenamento por estes agentes químicos são semelhantes a outros problemas de saúde.

De acordo com Taveira e Albuquerque (2018), após análise de registros de intoxicação em 38 municípios do Estado do Paraná e entrevista com agentes da vigilância epidemiológica dos municípios, foi observado que o diagnóstico falho das intoxicações agudas por agrotóxico no atendimento médico é vista como consequência de uma anamnese superficial voltada prioritariamente para o tratamento dos sintomas, independentemente da causa. Cerca de 82% dos entrevistados afirmam serem necessárias mudanças para melhoria da identificação e notificação dos casos de intoxicação por meio de treinamento médico, conscientização da população e treinamento para técnicos da vigilância sanitária e epidemiológica, bem como maior controle na comercialização de agrotóxicos.

Em outro estudo realizado no Estado do Mato Grosso entre 1996 e 2015 foram registrados 3.051 suicídios na população com 10 anos ou mais de residência no Estado, constatando a prevalência de tentativas de suicídio no sexo masculino com 78,4%, dentre as tentativas de autointoxicação,

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.43802-43813 jul. 2020. ISSN 2525-8761 consta o uso de pesticidas com percentual de 60,8% em pessoa do sexo masculino (OLIVEIRA; BENEDETTI, 2018).

Tal fato corrobora com o que é descrito por Pedrosa et al. (2018), cujo estudo relata que os suicídios registrados no período de 2006 a 2015 no município de Iguatu- CE foram cometidos também por homens (78%) e faixa etária predominante foi entre 20 a 29 anos de idade, além de 36,1% dos casos terem ocorrido com indivíduos cuja ocupação principal é a produção agrícola. Neste estudo, a autointoxicação por exposição intencional a pesticidas foi a segunda maior causa de suicídio.

Tendo em vista a análise feita com os dados dos sistemas aqui em análise, a maioria das intoxicações por agrotóxicos evoluem para cura, com 48,09% (SINITOX) e 78,3% (SINAN). No entanto, há também quantitativos relevantes relacionados a casos ignorados ou em branco, e não confirmação de cura, conforme pode ser observado na Tabela 3.

Tabela 3. Evolução dos casos de intoxicação relacionada aos agrotóxicos

EVOLUÇÃO SINITOX SINAN

N°= 34.477 % N°= 58.928 %

Cura 16.581 48,09 46.189 78,3

Cura não confirmada 4.068 11,7 1.143 1,9

Cura com sequela 76 0,2 911 1,5

Óbito 543 1,5 1.685 2,8

Óbito por outra circuns. 13 0,03 132 0,2

Outra 5.965 17,3 - -

Ignorado/Branco 7.231 20,9 8.868 15,04

Fontes: Sistema Nacional de informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX); Sistema de informação e notificação de

agravos (SINAN).

No período de 2013 a 2017, foi possível notar uma elevação do número de notificações por intoxicações por agrotóxicos no SINAN, que possivelmente se relaciona com o aumento da comercialização e acesso a esses agentes químicos ou mesmo melhoria da atuação da vigilância e assistência à saúde no que diz respeito ao diagnóstico e notificação dos casos.

De acordo com dados apresentados na Tabela 4, pode-se observar também que o número de casos de intoxicação foi mais expressivo nas regiões Sudeste e Sul respectivamente. Entretanto, de acordo com os dados registrados no SINITOX houve diminuição no número de registros, com queda mais expressiva no ano de 2017, além do quantitativo inferior de notificações pelo SINITOX em relação ao SINAN.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.43802-43813 jul. 2020. ISSN 2525-8761 Tabela 4. Dados de intoxicação por região

REGIÃO

NÚMERO DE INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS NO BRASIL

2013 2014 2015 2016 2017 SINAN NORTE 559 660 668 673 785 NORDESTE 2788 2633 2803 2299 2738 SULDESTE 4796 4852 4542 4493 5201 SUL 2019 2270 2313 2246 2735 CENTRO-OESTE 1502 1358 1294 1026 1275 TOTAL 11664 11773 11620 11137 12734 SINITOX NORTE 264 75 71 - 43 NORDESTE 737 731 837 846 221 SULDESTE 2269 3563 3243 3621 1637 SUL 2651 2441 2523 2472 2456 CENTRO-OESTE 2008 708 508 379 173 TOTAL 7929 7518 7182 7318 4530

Fonte: Sistema Nacional de informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX); Sistema de informação e notificação de

agravos (SINAN).

De acordo com Queiroz et al. (2019), entre os anos de 2001 a 2014, houve 80.069 casos notificados de intoxicação por agrotóxicos no Brasil. As regiões Sul e Centro-Oeste obtiveram crescimento significante em relação ao no número de notificações, no entanto, com maior aumento anual na Região Centro-Oeste do país.

Situação na qual se repete conforme dados da tabela anterior, na qual há crescimento nas notificações referentes às regiões Sudeste e Sul. Contudo, a região Centro-Oeste, apesar de ter apresentado queda no número de casos entre 2013 e 2016, em 2017 voltou a se elevar.

Mesmo diante dos fatos que relacionam às intoxicações por agrotóxicos como sendo um problema de saúde mundial, atualmente tramita o Projeto de Lei (PL) n° 6.299 de 2002 que ficou conhecido como Pacote do Veneno pelo dossiê conjunto da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e da ABA (Associação Brasileira de Agroecologia) entregue ao Congresso Nacional no ano de 2018. Este sugere diversas mudanças relacionada Lei da Agricultura, Lei n°7802, flexibilizando-a de mflexibilizando-aneirflexibilizando-a que, foi propostflexibilizando-a flexibilizando-a substituição do termo flexibilizando-agrotóxico por defensivo flexibilizando-agrícolflexibilizando-a e produtos fitossanitários (BRASIL, 2002).

O PL supramencionado facilitaria ainda a aprovação de novos produtos bem como responsabilizaria o Ministério da Agricultura pela edição e ou propositura das normas, incluindo o processo de revalidação dos mesmos. Sendo importante reiterar que o PL N° 6299/02 alteraria também a competência da vigilância sanitária em relação ao programa de análise de resíduos de agrotóxicos nos alimentos, assim como também sugere mudanças na avaliação de risco dos mesmos (PORTO, 2018).

Em 23 de julho de 2019, a Diretoria Colegiada da Anvisa aprovou um novo marco regulatório, atualizando e tornando mais evidentes os critérios de avaliação e de classificação toxicológica dos

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p.43802-43813 jul. 2020. ISSN 2525-8761 agrotóxicos no Brasil, bem como foram estabelecidas mudanças a respeito da rotulagem dos agrotóxicos e afins, com informativos de periculosidade dos mesmos. Estas alterações se inspiram nos padrões do Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (Globally Harmonized System of Classification and Labelling of Chemicals – GHS), com isso, o Brasil harmonizaria suas regras em relação às de países da União Europeia entre outros, o que favorece o fortalecimento da exportação dos produtos nacionais. A nova regulação estabelece a mudança de quatro para seis as categorias de classificação toxicológicas e é formado por três Resoluções da Diretoria Colegiada e uma Instrução Normativa (ANVISA, 2019).

4 CONCLUSÃO

Apesar da contribuição do uso de agrotóxicos na produção agrícola, torna-se necessário o manejo e a utilização adequados, almejando-se minimização dos riscos à saúde, uma vez que, evidencia-se que os trabalhadores rurais são um considerável grupo de risco. O uso indevido dos equipamentos de proteção individual, bem como a carência de mecanismos de capacitação e vigilância são fatores que podem ser correlacionados com o número de notificações de intoxicação por pesticidas.

REFERÊNCIAS

ANVISA. Agencia Nnacional De Vigulância Sanitária. Anvisa aprova novo marco regulatório

para agrotóxicos. Disponivel em:

http://portal.anvisa.gov.br/noticias/- /asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/anvisa-aprova-novo-marco-regulatorio-para-agrotoxicos/219201 Data de acesso: 17 de abril de 2020.

AQUINO, C; MARX, L.; MEDINA, M. D. P. Caracterización de la intoxicación ocupacional por pesticidas en trabajadores agrícolas atendidos en el Hospital Barranca Cajatambo 2008-2017. Horizonte Médico (Lima), v. 19, n. 2, p. 39-48, 2019.

BRASIL. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. CENTRO DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA.SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES TÓXICO-FARMACOLÓGICAS.

Casos Registrados de intoxicação Humana. Disponível em:

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BRASIL. Lei n°7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus

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Tabela 1. Perfil de morbidade relacionado às características de intoxicação exógena por agrotóxicos no Brasil
Tabela 3. Evolução dos casos de intoxicação relacionada aos agrotóxicos

Referências

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