• Nenhum resultado encontrado

Uma ponte sob a morada do ser: proposta de leitura heideggeriana de árbol de Diana de Alejandra Pizarnik

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Uma ponte sob a morada do ser: proposta de leitura heideggeriana de árbol de Diana de Alejandra Pizarnik"

Copied!
81
0
0

Texto

(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS. UMA PONTE SOB A MORADA DO SER: Proposta de leitura heideggeriana de Árbol de Diana de Alejandra Pizarnik. Kátia Rose Oliveira de Pinho Orientador: Prof. Dr. Alfredo Adolfo Cordiviola. Recife 2002.

(2) KÁTIA ROSE OLIVEIRA DE PINHO. UMA PONTE SOB A MORADA DO SER: Proposta de leitura heideggeriana de Árbol de Diana deAlejandra Pizarnik. Recife 2002.

(3) Kátia Rose Oliveira de Pinho. UMA. PONTE SOB A MORADA DO SER:. Proposta de leitura heideggeriana de Árbol de Diana, de Alejandra Pizarnik. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco para obtenção do grau de Mestre em Teoria da Literatura. Orientador: Prof. Dr. Alfredo Adolfo Cordiviola. Recife 2002.

(4) Kátia Rose Oliveira de Pinho. Uma ponte sob a morada do ser: Proposta de leitura heideggeriana de Árbol de Diana, de Alejandra Pizarnik. _______________________________________ Prof.Dr. Alfredo Adolfo Cordiviola. Universidade Federal de Pernambuco. _______________________________________ Prof. Dr. Lourival Holanda Universidade Federal de Pernambuco. _______________________________________ Prof. Dr. Antonio Fernando Paiva Viana Universidade Federal de Pernambuco Recife, 19 de agosto de 2002..

(5) - Aos três poemas do meu ser: Larissa, Dimitri e Ludmila; - Ao poema que não escrevi: meu companheiro na travessia desta ponte e de tantas outras jornadas poético-estrelares; - Aos que escreveram pelo avesso a poesia: meus pais. - A um certo príncipe rimbaldiano, cúmplice de meu amor por Alejandra..

(6) -. -. -. -. -. -. Registro perigoso: agradecimentos. ao CNPQ, por ter possibilitado a realização de nossas pesquisas; aos professores do Programa de PósGraduação em Letras; “Seu” Carlos, Diva Divina, Eraldo Nêgo Bom, imprescindíveis; Amara Cristina Botelho, Maria da Piedade Sá Moreira e Gilda Maria Lins de Araújo, pedras fundamentais; José Ricardo Paes Barreto, incentivadorirmão mais velho; Ivaldete Azevedo de Zola, Elizabete Quental-Espanca, Kátia França Maíra dos Índios, Laércio das Mulheres Repentistas, Caminha Escrevente de Nova Isaura, “Seu” João Aquele Um Travesso, Ivonete Rainha em Terra de Cego Saramago, Graça do Pássaro Preto Indígena, presenças companheiras. Lucila Nogueira por ter pro-vocado em meu ser a necessidade de escutar Alejandra Pizarnik; Yaracylda Farias Coimet que, não apenas, conduziu-me à Floresta Negra para encontro especial com Martin Heidegger, mas fez-se presente em momentos preciosos; Alfredo Cordiviola pela paciência e orientação nos meus (des)caminhos pizarnikianos. Larissa, Dimitri e Ludmila, parceiros nas discussões poético-filosóficas; A ti, Antares, por partilhar dores e prazeres e confortar minh’alma tantas vezes. ao longo desta trajetória.. Advertência: Os não citados textualmente, estão guardados no recôndito de meu ser. Diante da insuficiência das palavras: o pedir perdão. Sou eterna inadimplente da paciência, do carinho e do silêncio que tanto ensina..

(7) Arte poética. VICENTE HUIDOBRO. Que el verso sea como una llave que abra mil puertas. Una hoja cae; algo pasa volando; cuanto miren los ojos creado sea, y el alma del oyente quede temblando. Inventa mundos nuevos y cuida tu palabra; el adjetivo, cuando no da vida, mata. Estamos en el ciclo de los nervios. El músculo cuelga, como recuerdo, en los museos; mas no por eso tenemos menos fuerza : el vigor verdadero reside en la cabeza. Por qué cantáis la rosa, ¡ oh Poetas ! hacedla florecer en el poema; sólo para nosotros viven todas las cosas bajo el Sol. El poeta es un pequeño Dios..

(8) Resumo. Dar a conhecer a poesia da argentina Alejandra Pizarnik é nosso principal objetivo, e, também, um desafio. Traçamos, não um percurso bio/gráfico, mas a trajetória po/ética, em que vida e literatura vibram uníssonas. Divisor de águas da poética pizarnikiana, Árbol de Diana (1962), quarto livro de poemas, escrito e lançado, enquanto residia em Paris (1960-1964), constitui-se nosso cuidado. Ao dispormo-nos a escutar e perscrutar os mistérios das palavras dizentes, aproximamonos deste “instrumento natural de visión”, segundo Octavio Paz, amparados por Martin Heidegger. O pensador da Floresta Negra, em seu segundo momento, será nosso condutor rumo à elucidação desta árvore incomum (Árbol de Diana), a partir de suas reflexões acerca da linguagem e da poesia de G. Trakl, Rilke, Stefan George e Hölderlin. Como poetisa e pensador habitam em montanhas separadas, ousamos coliga-los via ponte, a fim de acedermos a morada do ser, na condição de pastor. Palavras-chave: Alejandra Pizarnik, literatura argentina contemporânea, Martin Heidegger, filosofia, linguagem..

(9) Resumen. Dar a conocer la poesía de Alejandra Pizarnik, poetisa argentina, es nuestro principal objetivo, y también un desafío. Trazamos, no un camino bio/gráfico, sino la trayectoria po/ética, en que vida y literatura vibran unísonas. Divisor de aguas de la poética pizarnikiana, Árbol de Diana (1962), cuarto libro de poemas, escrito y lanzado mientras residía en Paris (1960-1964), constituye nuestro cuidado. Al nos disponernos a escuchar y escrutar los misterios de las palabras “dicentes”, nos aproximamos a este “instrumento natural de visión”, según Octavio Paz, amparados por Martín Heidegger. El pensador de la Selva Negra, en su segundo momento, será nuestro conductor rumbo a la dilucidación de este árbol incomum, Árbol de Diana, a partir de las reflexiones acerca del lenguaje y de la poesía de G. Trakl, Rilke, Stefan George y Hölderlin. Como poetisa y pensador habitan en montañas separadas, osamos coligarlos vía puente, a fin de acceder a la morada del ser, bajo la condición de pastores. Palabras-llave: Alejandra Pizarnik, literatura argentina contemporánea, Martín Heidegger, filosofía, lenguaje..

(10) Sumário.. Convite................................................................................................................................13 Encontro.............................................................................................................................15 Paris: um novo momento..................................................................................................27 Pausa para prosa...............................................................................................................42 Primavera 72.....................................................................................................................50 Mistérios............................................................................................................................54 Escuta.................................................................................................................................61 Três estações...................................................................................................................71 Bibliografia........................................................................................................................74 Anexo..................................................................................................................................83.

(11) el centro de un poema. es otro poema el centro del centro es la ausencia. en el centro de la ausencia mi sombra es el centro del centro del poema. (A.Pizarnik,Los pequenos cantos,III,381).

(12) C O N V I T E. Caro leitor,. Abandona por ora as tuas preocupações cotidianas e permita-nos dar o prazer de saborear um cálice de suave poesia. A princípio, talvez, estranhe a cor, o bouquet, o sabor, mas verá que se trata de uma poesia rara, encantatória, por que não dizer poesia da poesia? Não estamos a falar da poesia de Hölderlin. Desejamos dar a conhecer a poesia da argentina Flora Alejandra Pizarnik, ou, tão somente, Alejandra Pizarnik. Desafio: abertura de caminhos para novos estudos no âmbito da literatura contemporânea latino-americana, estreitamento de laços, porquanto há um horizonte literário a ser desvelado. Caminharemos por trilhas uníssonas, não por um percurso bio/gráfico, mas através da trajetória po/ética, em que vida e literatura alcançam uma só vibração, a que nos revela Árbol de Diana (1962), quarto livro de poemas de Alejandra Pizarnik, escrito e lançado, enquanto a poetisa residia em Paris (1960-1964). Composto por trinta e oito poemas e Otros Poemas, conjunto datado de 1959, “Árbol de Diana no es un cuerpo que se pueda ver: es un objeto (animado) que nos deja ver más allá, un instrumento natural de visión”, diz-nos Octavio Paz em poético prólogo. Para alcançarmos este “objeto (animado)” precisaremos pormo-nos a sua dis-posição, escutar e perscrutar os mistérios das palavras dizentes. Ser-nos-á necessário subtil habilidade, como o pensar de calviniana.

(13) leveza, próximo ao poetizar, pois poeta e pensador moram próximos em montanhas separadas.. O obscurecimento do mundo não atinge nunca a luz do Ser. Chegamos demasiado tarde para os deuses e muito cedo para o Ser. Deste, o homem é poema começado. Dirigir-se para uma estrela, apenas isto. Pensar é a limitação a um pensamento que em algum tempo como uma estrela no céu do mundo permanece fixo. (Martín Heidegger, Da experiência do pensar). Por termos chegado tarde demais para os deuses, precisaremos construir, com madeira tirada a velhos móveis, uma ponte a coligar os caminhos da Floresta Negra, de onde fulgura o pensante-poetar de Martin Heidegger acerca da linguagem “em sua pura essência dizente” (Nunes, 1992:199), e o poetizar pizarnikiano em Árbol de Diana. Passar através da ponte é evidenciar o espaço que une “la mirada al sollozo” (Poema 24, Árbol de Diana), ou seja, o dizer – “vecindad” em que se estabelece o pensamento e a poesia. Não pense, porém, caríssimo leitor, que nos acercamos do pensar heideggeriano a fim de elucidá-lo a partir dos poemas de Pizarnik, a pouca experiência do pensar não nos permite tamanha ousadia. Atrevemo-nos, a partir da escuta da experiência do pensador, revelar o ser poético que habita a poesia e sua presentação nesta árvore incomum, chamada Árbol de Diana. Com passos cuidadosos, portamos “escudo de armas parlantes” qual jóia trakliana, dizendo a transparência de sua matéria, desejos de participação. Caminhemos, pois, lembrando-nos sempre das palavras do pensador(1973:350): “Caso o homem encontre, ainda uma vez, o caminho para a proximidade do ser, deve antes aprender a existir no inefável”..

(14) E N C O N T R O. Si la exigencia de escribir se busca en la existencia de aquellos que parecen consagrarse a ella, no hay biografía para la grafía.. Maurice Blanchot, El paso (no) más allá.. Ao nos reunirmos em torno de um poeta, não nos reunimos em torno de um poeta, nos acercamos da poesia, do fascínio que a palavra poética exerce sobre nós e, por isso, é-nos lícita a aproximação de poéticas e cruzamento de fronteiras. Nestes caminhos encontramos uma poetisa não muito conhecida entre nós,. cuja. obra. a. coloca. entre. os. expoentes. da. literatura. argentina. contemporânea: Flora Alejandra Pizarnik, ou melhor, Alejandra Pizarnik. Em breves trinta e seis anos de existência, dezessete foram dedicados à literatura, ou melhor, como ela escrevera em seu diário à Kafka, com a data de 15/04/1961: “Mi vida perdida por la literatura a causa de la literatura. Por hacer de mí un personaje literario en la vida real, fracaso en mi interés de hacer literatura con mí vida real, pues ésta no existe: es literatura” (Piña, 1999:111). A vida ao extremo. Encontraremos esta marca no conjunto da obra que reúne textos em prosa publicados em periódicos não apenas da Argentina, mas de vários outros países, os quais foram coligidos por Ana Becciu, em volume único intitulado Prosa Completa (2002), publicado pela Editorial Lúmen de Barcelona, que lançou em 2000, a Poesia Completa constituída por os sete livros publicados em vida: La. tierra más ajena, (1955); La ultima inocência (1956); Las aventuras perdidas (1958); Árbol de Diana (1962); Los trabajos y las noches (1965); Extracción de la. piedra de locura (1968); El infierno musical (1971); mais a compilação de poemas aparecidos em revistas literárias e antologias, bem como poemas inéditos..

(15) Esta brevidade ao falar de Alejandra tem seu propósito: incitar. Para provocar, mesmo correndo o risco do lugar-comum, um pouco mais sobre ela: No ano do Rato (1936), com o sol transitando no signo de Touro (29/04), às duas horas da manhã de uma terça-feira, na cidade de Avellaneda (Latitude: 34o40’S – Longitude: 58o22’O), presenta-se ao mundo o segundo rebento dos Pozharnik (Elias e Rejzla[Rosa]), judeus ucranianos que, ao passarem pelo serviço de imigração argentino, tiveram o sobrenome convertido em Pizarnik. A infância de Buma, forma iídiche para Flora, oriundo do alemão Blum cujo diminutivo é Blímele – assim a chamavam na Zalman Reizien Schule,(em casa era Bumita), “donde les (Buma e sua irmã Myriam) enseñaban a leer y escribir en iddish, las instruían en la historia del pueblo judio y les impartían conocimientos sobre su religión” (Piña, 1999:22), transcorre tranqüila entre os estudos na Escola N° 7 de Avellaneda, a Zalman Reizien Schule e as coisas próprias desse período. A adolescência é marcada pela rebeldia, estamos pelos idos de 1950. O comportamento avesso ao pré-estabelecido e as convenções sociais da época destacam-na em seu círculo de amigas, cujas mães horrorizavam-se com a maneira de trajar e falar de Alejandra. Não era a companhia adequada às meninas de família, não que ela não fosse uma menina de família, seus pais eram bastante liberais e toleravam as “loucuras” de sua caçula. Por essa época, já no curso secundário, escreve poemas não compreensíveis às suas amigas e sente-se fascinada por literatura, psicologia e filosofia. Firma sua vocação: ser escritora. Mas que curso superior outorgaria a condição de escritora àquela que não era mais Flora nem Buma e sim Alejandra? A fim de encontrar o caminho, freqüenta o curso de Filosofia, a escola de Jornalismo, Letras, o ateliê de Juan Batlle Planas, até “abandonar todo estudio sistemático y formal y dedicarse plenamente a la tarea de escribir” (Piña, 1999:43). Não pensemos, porém, que o fato de não ter encontrado em um curso.

(16) superior a fonte que pudesse aplacar a sua sede de conhecimento acerca da arte, da literatura e da filosofia a manteve alijada da efervescência cultural argentina. Muito pelo contrário, graças a esse não-se-encontrar, pode encontrar-se a si, pois o ingresso num curso superior funcionou como, ainda hoje, de certa forma e para alguns, rito de passagem para outro universo. Com Alejandra não foi diferente. Entretanto, a escola de Jornalismo a coloca mais próxima do mundo desejado. Há aí uma relação mais estreita com a escrita e a presença dos que fazem a vida cultural de Buenos Aires, a saber, artistas plásticos, grupos de poetas os quais se reuniam em bares, ateliês, etc. e pessoas fundamentais como o professor de Literatura Moderna desta escola, Juan Jacobo Barjalía, mestre-decerimônias por. revelarle algunos de los nombres fundamentales para la configuración de su “familia literaria” y su línea de filiación poética, fue la primera mirada “autorizada” a quien le mostró sus poemas (…), quien la ayudó a corregir todos los textos que después formarían parte de su primer libro, La tierra más ajena, quien le presentó a su primer editor, Arturo Cuadrado, y quien la introdujo entre los primeros artistas con los que entró en contacto — Juan Batlle Planas, Oliverio Girondo, Aldo Pellegrini—, es decir, algunas de las figuras centrales del grupo surrealista e invencionista argentino.(Piña, 1999:44).. Configurar-se-á a partir daí o universo literário, no qual será estrela e buraco negro. Participa com publicações em várias revistas. Em Poesia Buenos. Aires aparece pela primeira vez um poema assinado por Flora Alejandra Pizarnik, “La enamorada”. esta lúgubre manía de vivir esta recóndita humorada de vivir te arrastra alejandra no lo niegues. hoy te miraste en el espejo y te fue triste estabas sola la luz rugía el aire cantaba pero tu amado no volvió.

(17) enviarás mensajes sonreirás tremolarás tus manos así volverá tu amado tan amado oyes la demente sirena que lo robó el barco con barbas de espuma sonde murieron las risas recuerdas el último abrazo oh nada de angustias ríe em el pañuelo llora a carcajadas pero cierralas puertas de tu rostro para que no digan luego que aquella mujer enamorada fuiste tú te remuerden los días te culpan las noches te duele la vida tanto tanto desesperada ¿adónde vas? Desesperada ¡nada más!1. Poesia=Poesia, Eco Contemporaneo, Agua Viva, revistas de vanguarda, sobretudo revistas literárias, porém sem abraçar a causa de nenhum grupo a não ser a da poesia e de uma estética própria e particular, influenciada sobremaneira pelo surrealismo. A poética pizarnikiana não é uma filha tardia da estética surrealista, porém, uma releitura muito pessoal levada ao extremo; uma continuação, ou mesmo, reiteração para um comportamento transgressor. As considerações de César Aira acerca do surrealismo de Alejandra não a expressam desta forma, contextualizam dentro dos propósitos dos surrealistas, ou seja, o que eles tinham como processo poético, ou o manifesto a ser seguido e a escrita de Alejandra. Sob. a. ótica. de. contingenciamento,. valida-se. o. que. dissemos. anteriormente: o surrealismo pizarnikiano não é o surrealismo de Breton e demais manifestantes, mas um estilo de vida a la Arthur Rimbaud, Isadore Ducasse, o. 1. PIZARNIK, Alejandra. Poesía Completa. Edición a cargo de Ana Becciú, 2ª ed., Barcelona: Lumen, 2001, p.53. Esta será a obra-referência utilizada ao longo de nosso estudo..

(18) Conde de Lautréamont2, lembrado no último poema, e para o qual (estilo de vida) fora necessária uma personagem que o levasse até as últimas conseqüências. Álvaro de Campos (1965: 362-365) dá-nos a justa medida do que compreendemos ter sido a presença de Alejandra neste mundo:. (…) Fiz de mim o que não soube E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi no espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime. (…). Alejandra fez-se. A gagueira que lhe acompanhara desde a infância, transformou-a numa peculiar dicção, assemelhava-se a uma estrangeira falando espanhol (Piña, 1999:47); o “excesso” de peso a conduzira aos remédios para emagrecer, os quais, posteriormente, se transformaram em via de acesso à lucidez da escrita, algo similar ao paraíso novalisiano/baudelairiano; a picardia no uso da palavra resvalaria para uma aguçada preocupação com a linguagem literária como revela-nos o testemunho de Ivonne Bordelois dado a Cristina Piña (1999:100), e nos dá a dimensão do que era a escrita para Alejandra:. 2 Remetemos aqui à PERRONE-MOISÉS, Leyla. Lautréamont e os surrealistas, in: Inútil poesia. São Paulo, Companhia das Letras, 2000, que nos ajuda a compreender e apreender melhor a dimensão do surrealismo de Alejandra..

(19) “Es imposible no hablar de la vida de Alejandra sin hablar de su poesía, ya que en ella el permanente conflicto nacía de la imposibilidad de alcanzar una poesía que arrasara con la vida, que la reemplazara definitivamente. El riesgo, la lucidez, la posibilidad de evocar desde el fondo do abismo la muñequita de papel dorado sin diluir el horror del abismo ni el encanto de la muñequita y un enorme, acaso insuperable conocimiento de la vulnerabilidad exacta de las palabras que en español transmiten la figura de otro reino: he aquí los raros dones de la vida y de la poesía de Alejandra. Alejandra solía hablar de imágenes ciertas e imágenes falsas y aplicaba el hacha del Juicio Final sin misericordia a estas ultimas. Esta actitud recuerda la opinión de Borges de que el número de metáforas posibles en las lenguas humanas es finito; pero mientras en Borges esta afirmación suena a teorema — presumiblemente demostrable — en Alejandra había una infalible proyección de ejemplos en los que inmediatamente se reconocía que, en efecto, pese al deslumbre inicial que pueden causar, ciertos poetas utilizan imágenes mentirosas — es decir, fraguadas, desarraigadas, en falsa escuadra, disfrazadas.”. A uma escritura peculiar corresponde uma relação íntima com a linguagem perceptível no amadurecimento gradativo, o qual nos possibilita dividirmos sua obra em duas fases: antes e depois de Paris. A permanência na Cidade Luz entre os anos de 1960-1964 fora crucial: “era una poeta joven y llena de posibilidades, la que volvió a Buenos Aires en 1964 era una poeta madura que, en cierta forma, ya había configurado definitivamente su poética y sólo necesitaba tiempo para desarrollar el programa de su creación” (Piña,1999:91). Em 1955, lança, com o apoio financeiro de seu pai, La tierra más ajena. Por esta ocasião ainda é Flora Alejandra Pizarnik. Este livro será, contudo, fruto renegado e condenado ao esquecimento. Talvez porque guarde alguma coisa de sua adolescência, ou ainda, o apoio paterno. São dúvidas, que jamais serão esclarecidas, levantadas por sua biógrafa. Segundo Susan Haydu (2001), trata-se “sólo de un ejercicio poético”. Se considerarmos o conjunto da poesia de Alejandra, sim. Todavia se lembrarmos que a Alejandra só conta dezenove anos e está desabrochando para a literatura, compreenderemos, então, tratar-se de poemas-diamantes-em-estado-bruto, ou, outorgando-lhe a palavra (os grifos são nossos para chamarmos a atenção do que pode ser considerado uma definição da concepção poética de Alejandra neste livro).

(20) Leyendo propios poemas. Penas impresas transcendencias cotidianas Sonrisa orgullosa equívoco perdonado. Es mío es mío es mío!! Leyendo letra cursiva Latir interior alegre Sentir que la dicha se coagula O bien o mal o bien Extrañeza de sentires innatos Cáliz armonioso y autónomo. Límite en dedo gordo de pie cansado y Pelo lavado en rizosa cabeza No importa: Es mío es mío es mío!! (Poema a mi papel, 22). outros ganhando o refinamento que marcará sua escritura, como Vagar en el. opaco (18) recendendo a Breton (Ma femme à le chevelure de feu de bois):. mis pupilas negras sin ineluctables chispitas mis pupilas grandes polen lleno de abejas mis pupilas redondas disco rayado mis pupilas graves sin quiebro absoluto mis pupilas rectas sin gesto innato mis pupilas llenas pozo bien oliente mis pupilas coloreadas agua definida mis pupilas sensibles rigidez de lo desconocido mis pupilas salientes callejón preciso mis pupilas terrestres remedos cielinos mis pupilas oscuras piedras caídas. Poemas-prosa rimbaudianos, Puerto adelante e En el pantanillo; Dédalus. Joyce remissão ao Ulisses de Joyce, falta de pontuação, notada marca romântica (se não esquecemos que o surrealismo que já se esboça é um filho repensado do romantismo) são algumas características a salientar deste primeiro livro que não traz ainda a preocupação obsessiva com a linguagem/palavra poética, observável em outras obras. Alejandra já desponta como promessa no cenário literário argentino..

(21) Com o segundo livro, composto por dezesseis poemas, La última inocencia (1956), Alejandra deixa de ser promessa e, sua inserção no cânone literário argentino é uma questão de tempo. Bem o sabia Roberto Juarroz, autor da primeira resenha deste livro, em um jornal importante, La Gaceta de Tucumán, e futuro amigo com quem compartilharia o gosto e o conhecimento da literatura francesa e das últimas tendências literárias. Se cotejado com seu livro inicial, La ultima inocencia revela uma vertiginosa mudança em sua escritura.. Se fuga la isla Y la muchacha vuelve a escalar el viento y a descubrir la muerte del pájaro profeta Ahora es el fuego sometido Ahora es la carne la hoja la piedra perdidos en la fuente del tormento como el navegante en el horror de la civilización que purifica la caída de la noche Ahora la muchacha halla la máscara del infinito y rompe el muro de la poesía. A poesia, Salvación3 revela-se-nos nos versos “Ahora/ la muchacha halla la máscara del infinito/ y rompe el muro de la poesía”, coroam o percurso seguido, ritual sagrado; o acesso para estar e compreender o mundo só pudesse ser obtida através da poesia; e, no abandono de toda cotidianeidade existencial estará a máscara do infinito — condição sine qua non para perceber o silêncio da poesia. Ela rompe, não destrói ou demole, trans-figura para poder alcançar o que está além, e tudo passa a ser “fuego sometido”, o batismo - cerimonial que reveste as mais ínfimas coisas (“carne”, “hoja”, “piedra”), e os temas que se farão presentes também em trabalhos posteriores de forma mais profunda e 3 Salvación é o primeiro poema deste livro..

(22) desenvolvida, a saber, a paratopia do poeta; a noite como emblema e companheira; a morte, mistério/provocação; a meta-poesia; o duplo, o poeta e o ser poético; o medo, que sempre a acompanhará quase como um personagem a revelar uma profunda angústia existencial, como neste Canto (54):. el tiempo tiene miedo el miedo tiene tiempo el miedo pasea por mi sangre arranca mis mejores frutos devasta mi lastimosa muralla destrucción de destrucciones sólo destrucción y miedo mucho miedo miedo. O canto pizarnikiano sofre uma parada. Passam-se dois anos até vir a lume Las aventuras perdidas (1958), dedicado a Rubén Vela e alguns dos vinte e dois poemas dedicados a amigos próximos como Elizabeth Azcona Cranwell, Olga Orozco, León Ostrov, Raúl Gustavo Aguirre. Neste interstício são várias as conversas, a circulação pelos grupos Poesia Buenos Aires, do qual participou até ir-se à Paris e Equis, no qual estreitou a amizade com Roberto Juarroz; as leituras dos românticos, dos surrealistas e tantos outros que lhe eram tão caros. Las aventuras perdidas traz como epígrafe versos de Georg Trakl. Sobre negros peñascos Se precipita, embriagada de muerte, La ardiente enamorada del viento..

(23) Longe de ser “siempre conciencia del poeta”, como afirma Susan Haydu (2001), estes versos soam como uma breve mostra do tom poético que predomina neste livro e todas as dilacerações por que passa a poeta em sua “luta” com as palavras, mormente aquelas que a assemelham a Aracne. Lembremos que esta jovem lídia ao desafiar Atenas foi condenada a viver eternamente presa por um fio a sua teia, como nos sugere Pizarnik em Cenizas. Hemos dicho palabras, palabras para despertar muertos, palabras para hacer un fuego, palabras donde poder sentarnos y sonreír. Hemos creados el sermón Del pájaro y del mar, el sermón del agua, el sermón del amor. Nos hemos arrodillado y adorado frases extensas como el suspiro de la estrella, frases como olas, frases con alas. Hemos inventado nuevos nombres para el vino y para la risa, para las miradas y sus terribles caminos. Yo ahora estoy sola —como la avara delirante sobre su montaña de oro— arrojando palabras hacia el cielo, pero yo estoy sola y no puedo decirle a mi amado aquellas palabras por las que vivo.. A poeta nos revela a consciência de que as palavras, elementos mínimos que configuram a micro-teia que é cada poema, se transformam em cinzas quando entram na cotidianeidade. Servem a rituais, a lembrar um tempo imemorial (“palabras para despertar muertos”), destruir e criar vida (“palabras para hacer.

(24) un fuego”) e nos extasiarmos simplesmente no seu indizível (“palabras para poder sentarnos/ y sonreír.”), feitas só de silêncio. Com elas cria-se o sagrado e reveste-se de religiosidade o concreto (pájaro/agua) e o abstrato (amor), ou o finito (pájaro), a imensidão (agua) e o sentimento (amor). A sonoridade, o ritmo e leveza das palavras postas em “frases como olas”, em “frases com alas” provocam o delírio, faz nos ajoelharmos e quedarmos extasiados. « Savoir le nom, dire le mot,. c’est. posséder. l’être. ou. créer. la. chose.»,. diz. Marcel. Granet. (Pizarnik,1998 :428), contudo mais do que possuir o ser ou criar as coisas é a possibilidade do jogo verbal. Engendrar nova realidade e subverter a ordem préestabelecida : « Hemos inventado nuevos nombres / para el vino y para la risa, / para las miradas y sus terribles / caminos ». A mudança no tempo e pessoa verbal na última estrofe: “Yo ahora estoy sola”, quebra o ritmo e nos revela o que se ocultava sob a forma de preterito perfecto compuesto das quatro estrofes anteriores: o peso de viver, como a aranha, presa eternamente em seus fios. Por saber "a palavra associa o traço visível à coisa invisível, à coisa ausente, à coisa desejada ou temida, como uma frágil passarela improvisada sobre o abismo" (Calvino,1999:90), resta a impossibilidade de “decirle a mi amado/ aquellas palabras por las que vivo” e daí ser “la avara delirante/ sobre su montaña de oro” — ouro como sinônimo de poder que se transforma em Cenizas, negação da vida, reminiscência do momento da criação poética. A evasão espaço-temporal, os dilaceramentos da subjetividade, a reflexão sobre o processo criativo e a impossibilidade das palavras emergem metaforicamente sob a dialética dos contrários, instaurando a partir de cada palavra-emblema (noite/dia, infância (passado)/ presente, morte/vida) um xadrez de claro-escuro invertido, a saber, o rei protege a dama e traça nos labirintos de peças-signos, imagens de mundo a margem e, ao mesmo tempo, inerente ao poeta, que o com-preende e a-preende no silêncio. Portanto, pode-se dizer que….

(25) La tierra más ajena guarda días contra el sueño y el humo trae reminiscencias como Agua de lumbre que da luz a los vientos brutales que hacen vagar en lo opaco, tratando a la sombra roja, sombra de la noche de mi bosque el poema a mi papel. Recuerdos …de mi diario, las reminiscencias quirománticas de un dibujo del ajedrez hacen de él hombre común a quien seguiré siempre borrando un boleto objetivo. Pero Yo soy… Dédalus Joyce, un puerto adelante en. el pantanillo, sólo un signo en tu sombra para irme en un barco negro desde el cielo y voy cayendo…Y sólo un amor más allá del olvido de la lejanía donde no encuentro La última inocencia. traerá mi salvación o algo para la de ojos. abiertos sin origen, la enamorada del canto de cenizas, que vive el sueño, la noche, solamente a la espera de la oscuridad en que quedó olvidada la última inocencia o la balada de la piedra que llora el llanto siempre oculto de un poema para Emily Dickinson en que decir palabra es cambiar sólo un nombre. Las aventuras perdidas serán la jaula para fiestas en el vacío escenario de la danza inmóvil fuera del tiempo. Para mí, la hija del viento, olvidar la única. herida, mi exilio donde hago cantos de artes invisibles es celebrar la caída, recrear con cenizas el azul de la noche, oír el silencio del nada sin el miedo de buscarme el origen para la luz caída de la noche. Vivir es un peregrinaje, pero mi ser está lleno de la carencia y el despertar mucho más allá de mi, me hace. ausente desde esta orilla que atravieso hasta irme a Paris4.. 4 Texto em itálico é de nossa autoria, criado a partir do nome dos livros e poemas de Alejandra Pizarnik..

(26) PARIS:. UM. NOVO. MOMENTO. O segundo momento da escritura de Alejandra inicia-se com a publicação de Árbol de Diana (1962). Alejandra está em “Paris, praça onde tudo circula” (Rivas, 1993: 99-114) (1960-1964) e vivencia de perto e, contudo, alheia, as modificações pelas quais passa o mundo. Mas que importa o mundo? Importante é estar em Paris, circular pelas ruas, cruzar com os olhos de George Bataille numa livraria, respirar o ar de cultura que paira nos jardins, bibliotecas, cafés, andar pelas mesmas ruas onde circularam Lautréamont, Rimbaud, Nerval, Artaud, Éluard, Valéry (paixões alimentadas desde a adolescência) e circulam Yves Bonnefoy, Roger Caillois, André P. Mandiargues, Júlio Cortazar, Elvira Orphée, Héctor A. Murena, admirador de sua poesia, Octavio Paz, entre tantos outros nomes já consagrados e que passa a conhecer pessoalmente; os velhos companheiros dos tempos da Faculdade de Filosofia e Letras como Roberto Yahni, Sylvia Molloy; sua “madre literária”, Olga Orozco. Ah, estar em Paris! A situação financeira é precária, contudo “no es de pobre tratar de la pobreza” (Haydu, 2001)5, principalmente quando há tantas coisas por desfrutar, metamorfosear e trazer à luz. A vivência parisiense lhe concede oportunidades de publicar e difundir sua poesia, através da colaboração em Les Lettres Nouvelles, Nouvelles Révue Française, Mito entre outras; de leituras públicas, “como la que compartió com Juarroz, Olga Orozco y Arnaldo Calveyra, organizada por Paul Verdevoye dentro del. ámbito. universitario”. (Piña,. 1999:105).. No. entanto,. lhe. propicia. fundamentalmente freqüentar e partilhar idéias acerca da literatura, que se refletirão nas obras publicadas a partir de 1962. 5 Frase de Alejandra em carta a Ana Maria Barrenechea, datada de 10 de dezembro de 1962..

(27) Se os três livros que antecederam a viragem apresentam-se ainda indefinidos quanto a um fio condutor, os quatro que lhes seguiram e os vários poemas publicados esparsamente e recolhidos por Olga Orozco e Ana Becciu em Textos de Sombra y últimos poemas (1982) e os agora reunidos por Ana Becciu como Poemas no recogidos em libros, última seção do livro Poesia Completa de Alejandra Pizarnik, permitem-nos perceber que seu embate com a linguagem e principalmente com a palavra poética será mais profundo, quase doloroso, por que a impossibilidade da palavra será cada vez mais angustiante e questionável; e os termos recorrentes adquirem um novo brilho a cada poema, sem perderem a sua origem, a angústia da impossibilidade, ou da possibilidade loquazmente silenciosa de ser só palavra. Árbol de Diana (1962) é composto por trinta e oito poemas e um adendo datado de 1959, Otros Poemas, cujo ritmo em nenhum momento destoa do principal. Qual pedra de raro valor, a lapidação foi esmerada a ponto de não podermos dizer que um poema atraí-nos mais, ou que um se sobrepõe a outro, não há outro. Como disse Enrique Molina (apud Haydu, 2001: cap. IV), “cada palabra es llevada a su más alto grado de funcionalidad y se desprende como la gota de agua fosforescente del vértice de una estalactita”, reclamando nossa atenção para. o. livro. como. um. todo.. Todas. as. críticas. foram-lhe. favoráveis,. consagratórias. Prova-o o prólogo escrito por um poeta mexicano impressionado com a qualidade (se é que podemos nos referir assim a poesia) de versos tão breves e belos: Octavio Paz. Outorguemos, no entanto, a palavra à autora, que, provavelmente (observemos a data da escrita), em referência a este livro, escreve em Apuntes para un reportaje6 (2002:305):. 6. Conforme Ana Becciu, em nota de rodapé, trata-se: “Cuatro hojas mecanografiadas y corregidas a mano por A.P., parte de un legajo de cinco folios, probables respuestas por escrito a un reportaje de 1964”..

(28) […] Jueves 14 de diciembre de 1964 Núm 3. Una escritura densa y llena de peligros a causa de su diafanidad excesiva. Concreta al máximo, inclusive materialista en la medida que manifiesta las imágenes originarias de sombras interiores lejanas, desconocidas, insospechadas. Una escritura densa hasta lo intolerable, hasta la asfixia, pero hecha nada más que de vínculos sutiles que permiten la coexistencia inocente, sobre un mismo plano, del sujeto y el objeto, así como la supresión de las fronteras habituales que separan a yo, tú, él, nosotros, vosotros, ellos. Mi tormento resulta de la profusión de las imágenes formuladas en la otra orilla por “la hija de la voz”. Asimismo, de una intensa necesidad de verdad poética. Doble movimiento simultáneo: libertar las fuerzas visionaria y mantener un aplomo extraordinario en la conducción de esa fuerza. Quisiera realizar ese tránsito a la presencia fulgurante con una precisión tensa que me permitiría dominar el azar y compensarme de mi sumisión absoluta a “la hija de mi voz”, o inspiración o inconsciente.. A festa nunca dura tanto quanto gostaríamos, principalmente se nos regozija a alma. 1964: volta para casa. Não sem tristezas, por certo. Na bagagem, livros, poemas para serem lapidados, o reconhecimento (para não dizermos consagração). Retomar a rotina da vivência literária. Havia muito a fazer. A chama acessa não poderia esvaecer. Menos de um ano após seu retorno publica-se Los trabajos y las noches (1965). Concedamos espaço à autora (Haydu, 2001:capIV): “Este libro me dio a felicidad de encontrar la libertad en la escritura. Fui libre, fui dueña de hacerme una forma como yo quería.(…) Debo decir que al configurarlos (os poemas) me configuré yo también y cambié. Tenía dentro de mí un ideal de poema y logré realizarlo”. Realizou-o de forma tão primorosa que não passou desapercebido do mundo cultural argentino. Em 1966, recebe o Primeiro Premio Municipal de Poesía, ou seja, a escritora Alejandra Pizarnik obtém seu reconhecimento institucional. Neste livro, Alejandra se entrega inteira à tarefa de ser escritora, de refletir sobre esta tarefa e dizer o que significa seu embate com a palavra e, ao mesmo tempo, deixar que a poesia flua em cada palavra, em cada verso,.

(29) configurando o topos em que poeta, poema e poesia imbricam-se numa tensa unidade, perceptível no Poema que abre este livro:. Tú eliges el lugar de la herida en donde hablamos nuestro silencio. Tú haces de mi vida esta ceremonia demasiado pura.. Qual o lugar do poema? E o do poeta? Há um lugar para ambos distintamente? Ou eles se configuram a partir de um lugar em que possam existir? Ou ainda, o poema é o configurador do lugar do poeta? O surrealismo de Alejandra7 nos permite responder a estas questões, lembrando que para o surrealismo sujeito e objeto se desfazem e como diz Paz (1998:171), “el poeta se transforma en poema, lugar de encuentro entre dos palabras o dos realidades”. Daí nos atrevermos a pensar num entre-quase-não lugar acessível pelo silêncio, onde tudo está/é dito sem dizer — em estado de poesia. A “herida”, quiçá metáfora, para o abismo em que se estabelece a criação-configuração topos poético. Tensa harmonia da impossibilidade de materialização de um lugar faz da vida do poeta “esta ceremonia demasiado pura”, da qual, nós leitores, participamos através da impossibilidade de vivencia-la. Outrossim, o poema exerce sobre o poeta um domínio. Ele determina, “elege”, o lugar de encontro entre ambos — a comunhão poeta-poema. Comunhão imbricada no ato criador. Um gerando o outro para que se possam perceber no silêncio da poesia que envolve a ambos. Se em Poema é-nos possível vislumbrar forças distintas interagindo num determinado momento, em Fronteras inútiles, somos levados a partir do título, ao contraponto das palavras.. 7 Em entrevista a Martha I. Moia, Pizarnik afirma que o surrealismo lhe é inato..

(30) un lugar no digo un espacio hablo de qué hablo de lo que no es hablo de lo que conozco no el tiempo sólo todos los instantes no el amor no sí no un lugar de ausencia un hilo de miserable unión. Negação/afirmação, nada se exclui, tudo conflui para “un lugar de ausência”, lugar da presença da poesia. Não se pense lugar de ausência como vazio. Não existe. Tudo está pleno, significativo disso é o verso final “um hilo de miserable unión”. A possibilidade de estabelecer fronteiras nega o espaço, o tempo e, o que é aparentemente uma negação, é o espaço/tempo mais presente, mais consistente, porque se engendram em momentos de criação, que não se perpetuam: “no el tiempo/ sólo todos los instantes”.8 Em janeiro de 1966, sobrevém a morte por infarto de seu pai, Elias. Alejandra nunca vira a morte tão próxima. Falar, idealizar, poetizar nada se compara a vivenciar a perda. Consoante toda dor, os rituais do velório judeu despertaram-lhe a curiosidade. Olga Orozco, presumimos (por ter sido a única amiga a quem Alejandra comunicou o fato e a acompanhou ao velório), deve ter relatado a Cristina Piña (1999:155), o comportamento equilibrado entre dor e “esa mirada urgente del niño que puede salirse del cuadro y mirarlo desde afuera, con todo el asombro, el afán y la curiosidad, porque la muerte también es un fetiche cultural”. As cenas assistidas, em algum momento, certamente, 8 Remetemos a leitura de “La revelación poética” e “La inspiración”, in: PAZ, Octavio. El arco y la lira. El poema. La revelación poética. Poesía e história. 3ª ed., México, Fondo de Cultura Economica, 1998..

(31) transfiguram-se em poemas. Quais? Não ousamos dize-lo. Um certo par de olhos azuis transita em oposição aos olhos verdes de Alejandra. Retornemos. Passar incólume a palavra pizarnikiana é impossível. O requinte de seus versos, canto da sereia. Inebria a alma, entontece os sentidos e nos faz esquecer os nossos objetivos. Porém, em algum lugar, a razão urge em apresentar-se como proteção e guia, a fim de apresentarmos Extracción de la piedra de locura, publicado em 1968 e dedicado a Rejzla (Rosa) Pizarnik, ou “A mi madre”, como disse a autora. Alejandra Pizarnik o dividiu em quatro partes considerando a data em que foram escritos, a saber, 1966(I), 1963(II), 1962 (III) e 1964(IV). As três primeiras partes compõem-se de poemas, com o predomínio de poemas, poemasprosa breves ou de alguma extensão, enquanto o fragmento IV consiste em três prosas poéticas. Sobressai desta ordenação, por certo não aleatória, o entrelaçar de um poema no outro, como as ondas do mar, uma formando a outra até rebentar na praia. Deixemos, contudo, que fale a autora numa carta dirigida a Ivonne Bordelois (Piña, 1999:170):. “… Pero a propósito de libros: acaba de ver a luz el mío: “Extracción de la piedra de locura”. No sabría decirte nada de él salvo que algunos fragmentos desafían a pascal en el sentido de que fueron escritos en esos instantes en que escribir es sinónimo de lo imposible. No obstante creo que este libro cierra una puerta (y abre otra, naturalmente). Nunca más escribiré sus textos anonadados y alucinados. ¿Lamentarlo? No, afronto los cambios y sus temibles consecuencias…”. Acerca do título (Extracción de la piedra de locura) temos duas observações a fazer, geratrizes (quem sabe?) de futuras pesquisas de cunho antropológico e/ou intersemiótico. Ivonne Bordelois em relato a Cristina Piña (1999:163-164) diz-nos o seguinte:.

(32) …”La realidad es, como de costumbre, más cercana y al mismo tiempo más exótica. Por aquel entonces trabajaba yo en el Instituto de Lingüística de la Facultad de Filosofía y Letras, que tenía una breve pero interesante colección de textos indígenas, recogidos y traducidos por misioneros y antropólogos. Lamentablemente no recuerdo ni la lengua ni la tribu de que se trataba, ni tampoco el traductor, aunque sí con certeza que el texto se había recogido en la Argentina. Debo decir que el largo poema-ceremonia que seguía al título no desmerecía de él. Fascinada, se lo comenté a Alejandra, que previsible e inmediatamente me arrebató el libro. Fueron necesarios varios meses y más de una advertencia de la Biblioteca para recuperar el texto mágico.”. Para atestarmos quaisquer vinculações, seria necessária pesquisa acerca do texto ao qual Ivonne se refere. Da mesma forma, só um estudo acurado nos permitiria estabelecer as possíveis relações entre os quadros Extração da pedra. da loucura e O jardim das delícias de Hieronymus Bosch (1450-1516) e a obra de Alejandra. Observamos, contudo, que Alejandra não traduziu em palavras a poeticidade dos quadros de El Bosco, procedeu a um processo de dupla captura, explorando a potencialidade textual dos referidos quadros. A extração da pedra da loucura era o nome medieval para a hoje conhecida e não mais praticada lobotomia, isto é, o processo que. consiste en extirpar una parte de los lóbulos frontales del cerebro después de hacer perforaciones en el cráneo, en ambos lados de la cabeza. Ubicada sobre las órbitas de los ojos, se presumía que esta era la zona del cerebro donde se desarrollaban las emociones y la personalidad. Por lo tanto, al extirpar una parte (que en el caso de las chimpancés fue eliminada por completo), el individuo perdía rasgos distintivos de su temperamento. Una de sus peculiaridades es que se trataba de una cirugía ciega: el ejecutor nunca veía lo que estaba haciendo. Era como navegar a la deriva, buscando una tierra desconocida con un mapa imaginario.(Morales, 2001). Não seria esta a proposta de Pizarnik, extrair de si la piedra de locura, flor de Bosch? Como extrair, porém, esta pedra-palavra se “las fuerzas del lenguaje son las damas solitarias, desoladas, que cantan a través de mi voz que escucho a los lejos” (Pizarnik, 2001: 223)? Este embate entre poeta e as forças da linguagem, tônica pizarnikiana, começa a partir desta obra a ganhar contornos.

(33) de desesperança, intensifica-se a impossibilidade de fundar seu mundo apoiandose na palavra:. Y el muelle gris y las casas rojas Y no es aún la soledad Y los ojos ven un cuadro negro con un círculo de música lila en su centro Y el jardín de las delicias solo existe afuera de los jardines Y la soledad es no poder decirla Y el muelle gris y las casas rojas. as Inminencias (234) são traços da imanência poética, Alejandra bem o sabe. Mas o que está imanente na poesia? O indizível, o silêncio que faz o poeta “caer como un animal herido en el lugar que iba a ser de revelaciones” (Camino del espejo,242) ou adentrar “un mundo subterráneo de criaturas de formas no acabadas, un lugar de gestación, um vivero de brazos, de troncos, de caras” (El sueño de la muerte o el lugar de los cuerpos poéticos, 254), para nos dizer: “al negro sol del silencio las palabras se doraban” (Camino del espejo,242). Negro, ausência de cor, vazio, antinomia da “linguagem como horizonte” (Orlandi, 1997:70) de significações tecidas no entre-lugar onde as palavras se iluminam (se doraban). “O silêncio provocante das palavras cria uma cultura de proliferação da angústia”(Borges, 1995:17) a qual se revela-oculta na poética pizarnikiana, do nosso ponto de vista, sob a forma de um triângulo eqüilátero, formado pelos lados silêncio-linguagem-morte. As modulações intercambiam-se de modo a impedir-nos uma visão única, pois é o que está dito, o que ficou oculto e o que se nos revela em sua ocultação convergindo para um circuncentro, ou seja, para a poesia. Porém, não estaríamos a esquecer de falarmos sobre a morte? Que seria a morte? Fim de tudo? Não. Alejandra não nos permite ver a morte como algo terminal. A morte em Extracción de la piedra de locura vem sob o signo da noite, submetendo suas emanações ao eu do poeta e atribuindo-lhe o papel de participante na sua construção.

(34) Los ausentes soplan y la noche es densa. La noche tiene el color de los párpados del muerto. Toda la noche hago la noche. Toda la noche escribo. Palabra por palabra yo escribo la noche. (Literna sorda, 215). Na parte IV desta obra, o triângulo eqüilátero acima referido assume nitidez.. Caleidoscopicamente,. o. jorro. de. imagens. surrealistas. (captura. alejandrina dos quadros de Bosch, Miró, Klee) associado ao questionamento, significado e percalços de quem se lançou no mundo da escrita se amalgamam em longos poemas-prosa “donde os conflictos de esta subjetividad que se ha vuelto lenguaje y está sometida a los peligros mortales de su búsqueda interior alcanzan el punto más álgido y visionario nunca antes logrado por su poesía”(Piña, 1999:169). Recebemos a morte, metamorfose-nascimento dos corpos poéticos, restaurando e aniquilando: “Escribir es buscar en el tumulto de los quemados el hueso del brazo que corresponde al hueso de la pierna. Miserable mixtura. Yo restauro, yo reconstruyo, yo ando así rodeada de muerte”; “la muerte es una palabra. La palabra es una cosa, la muerte es una cosa, es un cuerpo poético que alienta en el lugar de mi nacimiento”, …“y yo le dije que en mis poemas la muerte era mi amante y mi amante era la muerte y él dijo: tus poemas dicen la justa verdad” (Extracción de la piedra de locura, 247-256). À parte tanto “sofrer” poético, 1968 lhe traz a prestigiosa bolsa de estudos Guggenheim. Reconhecimento à tarefa de escritora e legitimação da total dedicação à literatura, prêmio recebido em dinheiro, como ela nos diz em seu diário (26/07/1968): “Ayer me enteré de que gané la beca. Mi euforia por el aspecto económico del asunto, es decir: hablar de millones con mi madre sabiendo que esta enorme cantidad de dinero se debe a mi trabajo como poeta. En efecto, es como si algo como el destino me ayudara a enfrentar mi destino como poeta. Cada año de mi vida, cada sufrimiento, cada día de trabajo en soledad total, todo parece una conjuración o una asamblea benevolente cuyo objeto fuera confirmar mi destino (no elegido sino más bien fatalmente impuesto) como poeta”..

(35) Uma maneira de provar a sua mãe-mecenas, Rosa Pizarnik, que a sua opção de vida tinha valido a pena, ainda que lhe custasse a marginalização pela sociedade burguesa e, dentro da “marginalidade” havia obtido o seu símbolo máximo: o dinheiro. Enquanto administradora do seu próprio ganho, não se pode dizer que soube fazê-lo de modo a torna-lo rentável. Tratou de adquirir os objetos de seus desejos, a saber, lapiseiras, canetas, papéis de texturas e cores várias, cadernos e, não esqueceu de presentear os amigos. A vida transformarase numa festa! No intervalo entre a aparição de Extracción de la piedra de locura (1968) e El infierno musical (1971), que sucedeu a Alejandra Pizarnik? Em 1969, segundo Cristina Piña, há um retorno a Paris. Todavia, não se sabe se por solicitação da Fundação Guggenheim ou por desejo de conhecer, Alejandra dirige-se primeiro a Nova Iorque e de lá segue para a capital francesa. As impressões de Alejandra sobre a cidade estadounidense são narradas em cartas datadas de 17/05 e 05/09 de 1969, a amiga Ivonne (Piña, 1999:174):. “… Empiezo con N. York. De su ferocidad intolerable no necesito enseñarte nada. Vos habrás sentido como yo que allí el poema debe pedir perdón por su existencia. El poema, el amor, la religión, la comunión, todo lo que sea belleza sin finalidad y sin provechos visibles. Estos comentarios parecen generales pero son muy subjetivos. Es una ciudad feroz y muerta a la vez y yo supe —por “la hija de la voz”— que si me quedaba un poquito más en ella me vería condenada a reaprender mi nombre. Como ves, no es la ciudad, sino el país.”. “Querida Ivonne A.: Es curioso: ambas hacemos una referencia tristísima al extraño pasaje de París a Boston en tu caso y de N. York a Paris en mio. Pero qué justo y exacto decir como vos decís: ‘Mi vida falta (…) en este país tan vertiginoso y vacío…’ Aunque que no los creas, yo había escrito en mi diario: ‘Execro N. York. Es feroz y vacía.’ Por más que crea, como vos, que ‘ataca la sustancia del alma’, creo, también, que al menos sus juegos son visibles, lo que significa que son más dolorosos pero menos peligrosos. Allá donde sabemos que el pneuma será acechado y acosado tomamos precauciones y nos defendemos. Un ejemplo: el film de Chapplin que viste después de escribirme. Confieso que me sentiría más tranquila si te viera munida de los diarios de Kafka o de lago de Michaux (por ejemplo Passages). Claro que tenés a la Biblia pero es tan pero tan grandiosa que a veces, frente a lo ‘vertiginosamente vacío’, una frase.

(36) cotidiana de Kafka resultaría más eficaz y podría remitirte inmediatamente a ‘un espacio de rescate o de centro’. Otra cosa: es un pecado no tomar notas sobre el horror o el enemigo.”. Talvez pudesse justificar a aversão à Nova Iorque as recordações da temporada parisiense de nove anos atrás. Similitude implícita. Vai refugiar-se na “pátria” que elegeu para si. No entanto, de 1964 a 1969 ocorreram tantas mudanças pelo mundo, e, Paris, também, não era a mesma. Alejandra só soube disso ao chegar lá e deparar-se com uma cidade que em nada lembrava a sua Paris. Em carta enviada a Ivonne Bordelois, com a data de 16/07/1969 (Piña, 1999:175) podemos ter idéia de seu desencanto:. “… Por mi parte encontré en Paris algo que me horrorizo: una suerte de americanización — traducida al francés, desde luego— que no me hizo daño, pero me dolió que en el flore, par ex., allí donde veía a Bataille, a Ernst, a Claude Mauriac, a Jean Arp, etc.,etc., no vi sino jovenzuelos de rostros desiertos con pantalones de gamuza y el uniforme erótico perverso del hippie de luxe. Lo mismo en Les Deux Magots, e inclusive en el café de la Mairie (St. Sulpice), a donde iban Bonnefoy, du Bouchet y pintores jóvenes. No me lamento por la desaparición de los cafés literarios pero hay que confesar qué lindo era llegar al Flore y mirarse a los ojos com Bataille, con M. Leiris, con Beckett, con R. Blin, con L. Tarzieff, con Simonetta, con Jean Paul y con el flaco Abel que aún espera.”. O tempo não passara para Alejandra Pizarnik? O tempo sempre passa. Alejandra não estava fora do tempo, mas do mundo, isto é, do mundo organizado sócio-politicamente. Exilara-se ao optar pelo mundo literário-cultural-artístico, tendo sempre na retaguarda os pais a sustentarem-na. Por isso, quiçá, o desencontro/desencanto com “sua pátria”. A festa transformara-se em pesadelo. O exílio agora era real. Paris, cidade de primeiro mundo, incompatível, portanto, com idílios de outrora. A vida agitada de grande centro urbano urgia comprometimento das pessoas. Definitivamente aquela não era a Paris de Alejandra. Onde se refugiaria agora? Em si mesma? Na linguagem? Sem a pátria imaginária, ocorre um processo de auto-isolamento gradativo, que culminaria na.

(37) primeira tentativa de suicídio em 1970, apesar dos antigos amigos estarem sempre próximos e de novos que se vinham chegando, como Ana Becciu, Victor Richini, Martha Isabel Moia, Ana Calabrese, César Aira, etc. Sua casa convertera-se em abrigo e local de encontro com os amigos, já não “errava” mais pelas ruas bonaerense como dantes. Este recolhimento reflete-se no ritmo de produção cada vez mais intenso. Publica-se em Espanha (Papeles Son Armadans, 1969), o texto em prosa El. hombre de antifaz azul, uma reescritura de Alice no país das maravilhas, “que carece del encanto y fulgor siniestro de sus otras reescrituras de cuentos infantiles” (Piña, 1999: 178). Algum tempo depois, aparece o livro Nombres y figuras, também publicação espanhola (La Esquina, 1969), composto por poemas escritos entre 1968-1969, os quais integrarão El infierno musical, publicado em Buenos Aires, pela Siglo XXI Argentina, em dezembro de 1971. Também é de 1971, a publicação portenha de La condesa sangrienta, prosa publicada pela primeira vez em 1965, no México, pela revista Diálogos. Que. encontraremos. num. livro. cujo. título. já. se. apresenta. antinomicamente? Seria um infierno musical ou uma musica infiernal? A autora organiza-o em quatro partes, a saber, Figuras del presentimento, Las uniones. posibles, Figuras de la ausencia, e Los poseídos entre lilas, no entanto, exclui três poemas que figuravam na segunda parte de Nombres y figuras (Figuras de la. ausencia). Ousamos pensar que estes breves poemas-prosas desvelam-na tanto, que melhor fora exclui-los, embora saibamos da exigência de Pizarnik de “escribir buenos poemas” (Aira, 2001:14), e de manter, ao longo da obra, o mesmo tônus poético; porém, vejamos a Densidad de um deles: Yo era la fuente de la discordancia, la dueña de la disonancia, la niña del áspero contrapunto. Yo me abría y me cerraba en un ritmo animal muy puro..

(38) O “eu” deste poema não poderia aceder a um lugar em El infierno musical. A densidade poética consistiria em asilar-se na linguagem, sua nova impossívelpossível pátria, fundir-se nela. O vazio seria preenchido pelo constante diálogo – possível - com a poesia, como em Cold in hand blues: y qué es lo que vas a decir voy a decir solamente algo y qué es lo que vas a hacer voy a ocultarme en el lenguaje y por qué tengo miedo. Tudo se perdera, menos a escritura. Mas poder-se-ia refugiar-se na linguagem e a partir daí levar a termo a conjunção: vida-poesia? Lograria Alejandra? É algo deveras problemático. Dois nomes-emblemas para o surrealismo não alcançaram a unidade: Lautréamont e Rimbaud. Do primeiro temos a obra sem a vida, enquanto o outro fez a obra e depois foi à vida (Aira, 2001:33); de Alejandra, o desejo de trançar fios vida-palavra… Ojalá pudiera vivir solamente en éxtasis, haciendo el cuerpo del poema con mi cuerpo, rescatando cada frase con mis días y con mis semanas, infundiéndoles al poema mi soplo a medida que cada letra de cada palabra haya sido sacrificada en las ceremonias del vivir. (El deseo de la palabra, 269-270). Não há saídas, seja porque, nos diz outro poeta, “nas palavras ponho menos ou mais do que creio. Ali estou como me pretendo: é o lugar da minha idealidade, não de minha realidade. Quando me digo, me digo outro, diverso” (Holanda, 1992:46), e, portanto, toda possibilidade esbarra sempre num “impuro. diálogo” (Pizarnik,268) e o espaço-tempo passa a ser da escritura e dos silêncios, embora o desejo: as palavras virarem coisas (Holanda, 1992:53), e lançar no mundo (da realidade?) a Piedra fundamental do existir ideal-real:.

(39) PIEDRA FUNDAMENTAL No puedo hablar con mi voz sino con mis voces. Sus ojos eran la entrada del templo, para mí, que soy errante, que amo y muero. Y hubiese cantado hasta hacerme una con la noche, hasta deshacerme desnuda en la entrada del tiempo. Un canto que atravieso como un túnel. Presencias inquietantes, gestos de figuras que se aparecen vivientes por obra de un lenguaje activo que las alude, signos que insinúan terrores insolubles. Una vibración de los cimientos, un trepidar de los fundamentos, drenan y barrenan, y he sabido dónde se aposenta aquello tan otro que es yo, que espera que me calle para tomar posesión de mí y drenar y barrenar los cimientos, los fundamentos, aquello que me es adverso desde mí, conspira, toma posesión de mi terreno baldío, no, he de hacer algo, no, no he de hacer nada, algo en mí no se abandona a la cascada de cenizas que me arrasa dentro de mí con ella que es yo, conmigo que soy ella y que soy yo, indeciblemente distinta de ella. En el silencio mismo (no en el mismo silencio) tragar noche, una noche inmensa inmersa en el sigilo de los pasos perdidos. No puedo hablar para nada decir. Por eso nos perdemos, yo y el poema, en la tentativa inútil de transcribir relaciones ardientes. ¿A dónde la conduce esta escritura? A lo negro, a lo estéril, a lo fragmentado. Las muñecas desventradas por mí antiguas manos de muñeca, la desilusión al encontrar pura estopa (pura estepa tu memoria): el padre, que tuvo que ser Tiresias, flota en el río. Pero tú, ¿por qué te dejaste asesinar escuchando cuentos de álamos nevados? Yo quería que mis dedos de muñeca penetraran en las teclas. Yo no quería rozar, como una araña, el teclado. Yo quería hundirme, clavarme, fijarme, petrificarme. Yo quería entrar en el teclado para entrar adentro de la música para tener una patria. Pero la música se movía, se apresuraba. Sólo cuando un refrán reincidía, alentaba en mí la.

(40) esperanza de que se estableciera algo parecido a una estación de trenes, quiero decir: un punto de partida firme y seguro; un lugar desde el cual partir, desde el lugar, hacia el lugar, en unión y fusión con el lugar. Pero el refrán era demasiado breve, de modo que yo no podía fundar una estación pues no contaba más que con un tren algo salido de los rieles que se contorsionaba y se distorsionaba. Entonces abandoné la música y sus traiciones porque la música estaba más arriba o más abajo, pero no en el centro, en el lugar de la fusión y del encuentro. (Tú que fuiste mi única patria ¿en dónde buscarte? Tal vez en este poema que voy escribiendo.) Una noche en el circo recobré un lenguaje perdido en el momento que los jinetes con antorchas en la mano galopaban en ronda feroz sobre corceles negros. Ni en mis sueños de dicha existirá un coro de ángeles que suministre algo semejante a los sonidos calientes para mi corazón de los cascos contra las arenas. (Y me dijo: Escribe; porque estas palabras son fieles y verdaderas.) canto…). (Es un hombre o una piedra o un árbol el que va a comenzar el. Y era un estremecimiento suavemente trepidante (lo digo para aleccionar a la que extravió en mí su musicalidad y trepida con más disonancia que un caballo azuzado por una antorcha en las arenas de un país extranjero). Estaba abrazada al suelo, diciendo un nombre. Creí que me había muerto y que la muerte era decir un nombre sin cesar. No es esto, tal vez, lo quiero decir. Este decir y decirse no es grato. No puedo hablar con mi voz sino con mi voces. También este poema es posible que sea una trampa, un escenario más. Cuando el baco alternó su ritmo y vaciló en el agua violenta, me erguí como la amazona que domina solamente con sus ojos azules al caballo que se encabrita (¿o fue con sus ojos azules?). el agua verde en mi cara, he de beber de ti hasta que la noche se abra. Nadie puede salvarme pues soy invisible aun para mí que me llamo con tu voz. ¿En dónde estoy? Estoy en un jardín. Hay un jardín.. Há um jardim. “¿Donde? ¿Como?¿Cuánto?¿Por qué?¿Para quién?” (Pizarnik, 2001:296). Para nós, leitores enfeitiçados pelo brilho de pedras, várias pedras fundamentais, sermos levados a criar o espaço para que tudo se converta em vida, plena, sem perdas. Estes espaços, todavia, não serão completos, se abandonarmos no Lete a prosa de Alejandra..

(41) PAUSA. PARA. PROSA. A edição da prosa pizarnikiana veio a lume no primeiro semestre de 2002. Ana Becciu organizou em cinco partes a Prosa Completa9: I, Relatos; II, Humor; III Teatro; IV Artículos y ensayos; e V, Prólogos y reportajes. Dos Relatos constam textos publicados em Sur (Buenos Aires), Zona Franca (Caracas), La Gaceta de Tucumán (San Miguel de Tucumán), El deseo de la palabra (Barcelona) entre outros periódicos literários e, alguns inéditos. Que são estes Relatos? Prosa poética/poemas-prosa, que nos levam a perguntar, quem nasceu primeiro: o texto em prosa ou o poema? Alejandra não nos disse. No entanto, ressoam em alguns textos aquela substância indizível dos poemas, mormente no que se refere à linguagem, à criação poética e as palavras.. EN CONTRA Yo intento evocar la lluvia o el llanto. Obstáculo de las cosas que no quieren irse camino de la desesperación ingenua. Esta noche quiero ser de agua, que tú seas de agua, que las cosas se deslicen a la manera del humo, imitándolo, dando señales últimas, grises, frías. Palabras en mi garganta. Sellos intragables. Las palabras no son bebidas por el viento, es una mentira aquello de que las palabras son polvo, ojalá lo fuesen, así yo no haría ahora plegarías de loca inminente que sueña con súbitas desapariciones, migraciones, invisibilidades. El sabor de las palabras, ese sabor a semem viejo, a vientre viejo, a hueso que despista, a animal mojado por un agua negra (el amor me obliga a las muecas más atroces ante el espejo). Yo no sufro, yo no digo sin mi asco por el lenguaje de la ternura, esos hilos morados, esa sangre aguada. Las cosas non ocultan nada, las cosas son cosas, y si alguien se acerca ahora, y me dice al pan pan y al vino vino me pondré a aullar y a darme de cabeza contra cada pared infame y sorda de este mundo. Mundo tangible, máquinas emputecidas, mundo usufructuable. Y los perros ofendiéndome con sus pelos ofrecidos, lamiendo lentamente y dejando su saliva en los árboles que me enloquecen. 1961. 9. PIZARNIK, Alejandra. Prosa completa. Edición a cargo de Ana Becciu. Barcelona; Lúmen, 2002. (col. Pal;abra em el tiempo 317)..

(42) Textos de Humor reúne escritos entre 1970-1971: Historia del tio Jacinto, [Textos], Uma espécie de cerdo em estado bruto e La Bucanera de Pernambuco o Hilda a polígrafa. Pudemos, no início desta escrita, indiciar o lirismo, a beleza da poesia de Alejandra, agora cumpre mostrar a co-existência da pícara dissimulada a partir do Praefación, (prefácio) de La Bucanera: Me importa um carajo que aceptes el don de amor de um cuenticón llamado haschich: LA PÁJARA EN EL OJO AJENO — Hideputas! — dije en Jijón, mientras en Jaén tres cigüeñas negras cambiaban de puta. — Oculta tu voluptad antes que la voz del matante miedo ritme esta prosa por pendientes desfavorables. Voy a entrar en mi castillito de papel acompañada por un perro de niebla. — Lo perro es una cosa o una esencia que cada atardecido siente a solas — respondecó. (— It’s O.K.) Malmirada por la bruja que Brujas la muerta. (Regio, ché.) — La oscuridad es una cosa poco correcta — dijo. Pequeño cirvo mueve diminutos cierzos. Solamente yo emito señales vivas. Una bondad última ilumina las cosas. (¡Es laloc!) Pero no resulta medio afligente ser la única náufraga sobreviviente en este cementerio hecho con aullidos de lobo y con el áulico ulular de Ulalume, cuya sombra yerra cerca del estuario, entre animales que parecen estatuas? (Seguí, no seas vos también la marquesa Caguetti.) — Las desgracias no vienen solas puesto que vinieron con su madrina. Ché, Chú, quedate kioto. — ¿Entre qué tréboles treman los tigres? De súcubo tu culo o tu cubo? Lectoto o lecteta: mi desasimiento de tu aprobamierda te hará leerme a todo vapor.. Percebemos o uso de aliterações, criação de vocábulos, em que pese a burla ao código lingüístico, propicia o jogo verbal cujo pano de fundo é o erotismo, a obscenidade, quiçá para revelar-nos: não há palavra inocente. Contudo, seria enganoso pressupor que este textos foram escritos sob algum tipo de transe, “el nivel de elaboración, de trabajo de escritura, corrección, medida y.

Referências

Documentos relacionados

Quando contratados, conforme valores dispostos no Anexo I, converter dados para uso pelos aplicativos, instalar os aplicativos objeto deste contrato, treinar os servidores

Aos sete dias do mês de janeiro do ano 2002, o Perito Dr. OSCAR LUIZ DE LIMA E CIRNE NETO, designado pelo MM Juiz de Direito da x.ª Vara Cível da Comarca do São Gonçalo, para proceder

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

Com base no trabalho desenvolvido, o Laboratório Antidoping do Jockey Club Brasileiro (LAD/JCB) passou a ter acesso a um método validado para detecção da substância cafeína, à

hospitalizados, ou de lactantes que queiram solicitar tratamento especial deverão enviar a solicitação pelo Fale Conosco, no site da FACINE , até 72 horas antes da realização

• Quando o navegador não tem suporte ao Javascript, para que conteúdo não seja exibido na forma textual, o script deve vir entre as tags de comentário do HTML. <script Language

Com a realização da Ficha de Diagnóstico, o professor deve averiguar as aprendizagens dos alunos já realizadas sobre números racionais não negativos – operações e propriedades.

d) os dados obtidos na avaliação fonoaudiológica foram, na maioria da vezes, suficientes para definir a conduta fonoaudiológica quanto à necessidade de avaliação abrangente ou