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O desafio da qualificação de pessoas para o desenvolvimento do arranjo produtivo local metalmecânico pós-colheita

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Academic year: 2021

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM

DESENVOLVIMENTO

O DESAFIO DA QUALIFICAÇÃO DE PESSOAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL

METALMECÂNICO PÓS-COLHEITA Claudia Borges de Oliveira Litz

Dilson Trennepohl

Ijuí 2015

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CLAUDIA BORGES DE OLIVEIRA LITZ

O DESAFIO DA QUALIFICAÇÃO DE PESSOAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL METALMECÂNICO PÓS-COLHEITA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Senso em Desenvolvimento, na linha de pesquisa em Desenvolvimento Local e Gestão do Agronegócio, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientador: Prof. Dr. Dilson Trennepohl

IJUÍ 2015

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L782d Litz, Cláudia Borges de Oliveira.

O desafio da qualificação de pessoas para o desenvolvimento do arranjo produtivo local metalmecânico pós-colheita / Cláudia Borges de Oliveira Litz. – Ijuí, 2015. –

82 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Dílson Trennepohl”.

1. Qualificação. 2. Profissionalização. 3. Gestão. 4. Mão de obra. 5. Desenvolvimento. I. Trennepohl, Dílson. II. Título.

CDU: 338.1:631.145

658.3:631.145

Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/1879

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

O DESAFIO DA QUALIFICAÇÃO DE PESSOAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL METALMECÂNICO PÓS-COLHEITA

elaborada por

CLÁUDIA BORGES DE OLIVEIRA LITZ

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Dilson Trennepohl (UNIJUÍ): ___________________________________________

Profa. Dra. Janete Stoffel (UFFS): _______________________________________________

Prof. Dr. Marcos Paulo Dhein Griebeler (UNIJUÍ): __________________________________

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AGRADECIMENTOS

Ao Mestre dos mestres, autor e consumador da vida, o qual me permitiu viver esta experiência, me capacitou e me coroa com a bênção de chegar até aqui. “Como agradecer por tudo que Tens feito por mim?”

Aos meus pais, Agenor e Neusalice, irmãos Meire e Fábio, demais familiares e amigos, de perto e de longe, que de alguma forma torceram por mim e me incentivaram nesta caminhada.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, que se propuseram a compartilhar seus conhecimentos. Em especial ao meu orientador, Prof. Dilson Trennephol, pela paciência e dedicação com que me orientou na condução desta pesquisa.

Aos meus colegas da Turma/2013 do Mestrado em Desenvolvimento - UNIJUI, pela troca de experiências e pelos momentos únicos que passamos juntos. Muitos de vocês foram essenciais nesta trajetória, que bom poder chamá-los de AMIGOS.

Às empresas do APL Metalmecânico Pós-Colheita, bem como aos diretores das instituições de ensino, administradores públicos da região entre outros, que contribuíram diretamente e indiretamente com esta pesquisa, através de seus depoimentos.

À Professora Fátima Regina Zan, pela parceria e apoio, mais especificamente no processo de seleção e no estágio em docência.

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Panambi, na pessoa da Diretora Geral, Ana Rita Kraemer da Fontoura, pelo apoio e compreensão quanto ao afastamento das minhas atividades profissionais; e aos meus colegas Técnicos Administrativos em Educação, que supriram a minha ausência. Espero que vocês tenham a mesma oportunidade.

Enfim, um agradecimento mais que especial ao meu esposo Norberto e ao meu filho, Vinícius, que souberam entender minha ausência, me apoiaram em todos os momentos e fizeram desta caminhada uma conquista mútua. Vencemos! Vocês são o que eu tenho de melhor. Eu os amo “mais que ontem, menos que amanhã”.

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RESUMO

A baixa qualificação da mão de obra é tema recorrente na literatura internacional sobre o desenvolvimento de micro e pequenas empresas, em especial quando relacionado a países em desenvolvimento. No Brasil a demanda por qualificação mais elevada da mão de obra, por parte das indústrias, intensificou-se a partir dos anos 90, especialmente na indústria chamada de ponta. Neste contexto, são exigidas dos empreendedores e trabalhadores competências no campo cognitivo, técnico e de gestão. A partir dessa realidade é levantado o seguinte questionamento, o qual constitui o eixo da investigação proposta nesta pesquisa: O APL Metalmecânico Pós-Colheita tem conseguido promover a qualificação de seus funcionários? Como tem buscado suprir a crescente demanda por mão de obra qualificada para o setor metalmecânico? Esta pesquisa tem por objetivo estudar o processo de desenvolvimento do APL Metalmecânico Pós -Colheita que envolve as empresas metalmecânicas dos municípios de Panambi, Condor e Santa Bárbara do Sul/RS, caracterizando o desafio da qualificação de pessoas e o papel das instituições de ensino, com apoio das políticas públicas, como promotoras de desenvolvimento econômico, político e social. Trata-se de uma pesquisa descritiva e explicativa que se utiliza, prioritariamente, de entrevistas semiestruturadas e de observações diretas da pesquisadora aos sujeitos da pesquisa, representados pelos gestores de recursos humanos, empresários, diretores de instituições de ensino, representantes políticos da região e ainda do gestor do APL em estudo. O tratamento, a análise e a interpretação dos dados foram realizados especialmente mediante a retomada das falas obtidas nas entrevistas, sintetizada em torno de questões norteadores da pesquisa. Os resultados do estudo evidenciam necessidades que estão intimamente ligadas a não profissionalização dos processos em diferentes níveis, conforme as especificidades das empresas que compõem o APL em estudo.

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ABSTRACT

The low qualification of labor is a recurring theme in the literature on the development of micro and small businesses especially when related to developing countries. In Brazil, the demand for higher qualification of labor by industries was intensified since the 90s, especially in the high-tech industry. In this context is required skills of entrepreneurs and workers in the cognitive, technical and management field. From this reality is raised the following question, which is the proposed research axis in this research: Has The Post Harvest Metal-Mechanic APL been able to promote the qualification of its employees? How has it been seeking to meet the growing demand for more skilled labor for the Metal-Mechanic industry? This research aims to study the process of Post Harvest Metal-Mechanic APL development involving Metal-Mechanic companies of the cities of Panambi, Condor and Santa Barbara do Sul / RS, featuring the challenge of qualifying people and the role of educational institutions with support of public policies, as promoters of economic, political and social development. This is a descriptive and explanatory research that used primarily semi-structured interviews and direct observations of the researcher to the subjects researched, represented by human resource managers, entrepreneurs, educational institutions directors, political representatives in the region and even of the APL manager being studied. The processing, analysis and interpretation of the data were performed especially by the resumption of the talks obtained in interviews, synthesized around guiding research questions. The study results show needs that are closely associated with non-professionalization of processes at different levels, according to the specificities of the companies comprising the APL study.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Neu-Württemberg, atual Panambi em 1910 ... 22

Figura 2 - Mapa do território do APL Metalmecânico Pós-Colheita ... 26

Figura 3 – Barracão do imigrante, primeira construção – Panambi 1901 ... 31

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- IDESE 2012 dos municípios do território do APL e Estado do Rio Grande do Sul 26 Tabela 2 - Produto Interno Bruto APL Metalmecânico Pós-Colheita ... 27 Tabela 3 - Produção x Capacidade Estática de Armazenagem ... 64

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LISTA DE GRÁFICOS

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACI Associação Comercial e Industrial

ACITEC Associação Centro de Inovação Tecnológica

AGDI Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento APAE Associação de Pais e Amigos do Excepcional

APL Arranjo Produtivo Local

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAD Desenho Auxiliado por Computador (Computer Aided Design)

CAE Engenharia Auxiliada por Computador (Computer Aided Engineering) CAM Fabricação Assistida por Computador (Computer Aided Manufacturing) CBO Classificação Brasileira de Ocupações

CEFET Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica

CEP Colégio Evangélico Panambi

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

CRAS Conselho de Referência de Assistência Social

CRE Coordenadoria Regional de Educação

CTFP Centro Tecnológico de Formação Profissional

FAPERGS Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul

FEE Federação de Economia e Estatística

FIES Fundo de Financiamento Estudantil

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDESE Índice de Desenvolvimento Socioeconômico

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IECL Igreja Evangélica de Confissão Luterana

IEs Instituições de Ensino

IFFarroupilha Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

ISO Organização Internacional para Padronização (International Organization

for Standardi)

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MCTI Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação

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MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

MEC Ministério da Educação e Cultura

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

OCP Organismo de Certificação de Produtos

OHSAS Sistema de Gestão da Saúde e Segurança do Trabalho (Occupation Health

& Safety Advisory Services)

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PGQP Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade

PIB Produto Interno Bruto

PROEJA Programa Nacional de Integração com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos

PROEP Programa de Expansão da Educação Profissional

PRONATEC Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego PROUNI Programa Universidade para Todos

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEDAI Secretaria de Desenvolvimento de Assuntos Internacionais SENAI Serviço Nacional de Aprendizado Industrial

SETEC Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica UERGS Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

... 14

1 ANÁLISE DO CONTEXTO SÓCIOECONÔMICO DO TERRITÓRIO DO APL METALMECÂNICO PÓS-COLHEITA

... 19

1.1 Processo de formação da sociedade local... ... 19

1.2 Organização do APL Metalmecânico Pós-Colheita ... 23

1.3 Conceituação e objetivos de APL ... 24

1.4 Contexto socioeconômico ... 25

2 PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO DE PESSOAS EXISTENTE NO TERRITÓRIO DO APL METALMECÂNICO PÓS-COLHEITA

... 30

2.1 Colégio Evangélico Panambi - CEP ... 36

2.2 Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI Panambi ... 38

2.3 Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ Campus Panambi ... 40

2.4 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Panambi ... 42

2.5 Ações conjuntas entre as instituições de ensino e o APL Metalmecânico Pós-Colheita com vistas à qualificação de mão de obra... 45

3. NECESSIDADES ENCONTRADAS NAS EMPRESAS DO APL METALMECÂNICO PÓS-COLHEITA

... 47

3.1 Perfil das empresas ... 49

3.1.1Quanto ao tempo de existência ... 49

3.1.2 Quanto ao quadro funcional ... 49

3.1.3 Quanto ao grau de autonomia ... 51

3.2 Desafios de formação ... 52

3.2.1 Ambientação e acolhimento ... 52

3.2.2 Competitividade, qualidade e produtividade ... 54

3.2.3 Gestão, profissionalização e cooperação ... 56

3.2.4 Criatividade e inovação ... 59

4 CONTRIBUIÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO APL METALMECÂNICO PÓS-COLHEITA

... 63

4.1 Participação das políticas públicas no processo de qualificação de pessoas ... 67

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

... 71

REFERÊNCIAS ... 74

APÊNDICES ... 78

(14)

INTRODUÇÃO

O Arranjo Produtivo Local - APL Metalmecânico Pós-Colheita é composto por empresas do setor metalmecânico dos municípios gaúchos de Panambi, Condor e Santa Bárbara do Sul. Possui parcerias com as instituições de ensino da região, como Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí; Colégio Evangélico Panambi – CEP; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha; Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai; Serviço Social da Indústria – Sesi; e, ainda, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae/RS, além das prefeituras municipais e Associações Comercial e Industrial dos respectivos municípios.

Esse setor metalmecânico tem significativos reflexos sociais na geração de empregos e na receita pública dos três municípios onde atua. Conforme Thesing e Kohler (2012), o município de Panambi recebe diariamente entre novecentos a mil trabalhadores de municípios vizinhos como Ijuí, Bozano, Pejuçara, Condor, Palmeira das Missões, Saldanha Marinho, Cruz Alta e Santa Bárbara. Porém, ressaltam que esses trabalhadores possuem pouca qualificação técnica, o que exige dos empresários e das instituições ações para desenvolver a mão de obra disponível.

A baixa qualificação da mão de obra é tema recorrente na literatura internacional sobre o desenvolvimento de micro e pequenas empresas em especial quando relacionado a países em desenvolvimento. No Brasil, a demanda por qualificação elevada da mão de obra, por parte das indústrias, intensificou-se a partir dos anos 90, especialmente na indústria chamada de ponta que é o caso de vários empreendimentos do APL Metalmecânico Pós- Colheita. Neste contexto, são exigidas competências no campo cognitivo, técnico e de gestão, por parte dos empreendedores e trabalhadores.

A partir desta realidade, é levantado o seguinte questionamento, o qual constitui o eixo da investigação proposta: Como o APL Metalmecânico Pós-Colheita tem conseguido promover a qualificação de seus funcionários com vistas a suprir a crescente demanda por mão de obra qualificada para o setor metalmecânico?

Esta pesquisa tem como objetivo geral estudar o processo de desenvolvimento do APL Metalmecânico Pós-Colheita, caracterizando o desafio da qualificação de pessoas e o papel das instituições de ensino, com apoio das políticas públicas, como promotoras de desenvolvimento econômico, político e social. Além dos objetivos específicos, que são: a) Conhecer o conjunto de desafios do APL Metalmecânico de Panambi/Condor, dimensionando

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a importância estratégica da qualificação de pessoas para o setor; b) Analisar a atuação das instituições de ensino da região no processo de qualificação de pessoas; c) Identificar se há incentivos por parte das políticas públicas quanto à qualificação de pessoas e a permanência do profissional qualificado na região de estudo; d) Elaborar diretrizes que servirão de base para um programa conjunto de qualificação para o APL Metalmecânico Pós-Colheita de Panambi/Condor.

A escolha do tema “desafios da qualificação de pessoas para o desenvolvimento do APL Metalmecânico Pós-Colheita” justifica-se por sua relevância no contexto atual, tendo em vista que, em 2013, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social – BNDES criou um programa de R$ 1 bilhão para financiar a construção e ampliação de silos e estruturas de armazenagem para produtores de grãos. O objetivo foi de mitigar o déficit de armazéns existentes no país, em um ano em que se previa uma safra recorde.

De acordo com Rômulo Bastos, gerente do departamento de relações com agentes financeiros do BNDES, a preocupação baseia-se na dificuldade que o Brasil encontra em escoar a safra e armazená-la. De acordo com o BNDES (2013), produtores de grãos de todos os portes registraram déficit de armazenagem, então, o financiamento foi disponibilizado tanto para pequenas e médias empresas - com faturamento anual de até R$ 90 milhões, na classificação do banco - como para grandes empresas, com faturamento superior a esse valor.

A presente pesquisa justifica-se como apoio, análise e contribuição científica para os desafios atuais do APL Metalmecânico Pós-Colheita, num momento de crescente interesse pelos produtos oriundos do setor. Justifica-se, ainda, por dirigir-se ao encontro da área de concentração do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Gestão de Organizações e Desenvolvimento, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, que está inserida no contexto do APL Metalmecânico Pós-Colheita, sendo a instituição uma colaboradora e participante do mesmo.

Os aspectos metodológicos da presente pesquisa apresentam um estudo ontológico, embasado no paradigma da Teoria Crítica, com o objetivo de explicar uma realidade. O realismo crítico pode ser definido como um contraponto ao empirismo positivista, sendo a ciência entendida como produto cultural da humanidade, em constante evolução e que possui uma dimensão ideológica. O Realismo Crítico reflete a dinâmica das relações presentes na sociedade numa dimensão transitiva e também na dimensão intransitiva (SILVA NETO, 2003). Do ponto de vista ontológico, a teoria crítica apresenta como principais características o realismo histórico, realidade configurada por valores sociais, políticos, culturais, econômicos, étnicos e de gênero (VALLES, 1997).

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Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva que explora e descreve uma realidade local, a partir da cultura organizacional, bem como as ações dos indivíduos ligados às organizações. Busca inserir-se no grupo das pesquisas descritivas que ultrapassam a simples identificação da existência de relações variáveis, procurando encontrar a razão dessas relações (GIL, 1999). Como pesquisa exploratória, tem como finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, para construir uma formulação mais específica, de hipóteses. As pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato, segundo Gil (1999).

O estudo tem uma abordagem qualitativa, que no entendimento de Cooper (2011) inclui um conjunto de técnicas interpretativas que procuram descrever, decodificar e apreender o significado e não a forma. Essa abordagem permite ao pesquisador reunir dados que fornecem descrição detalhada de fatos, situações e interações entre pessoas e coisas, ou seja, profundidade de detalhes.

O objeto de estudo desta pesquisa é o APL Metalmecânico Pós-Colheita e seus apoiadores, que são: Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí; Colégio Evangélico Panambi – CEP; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha - IFFarroupilha; Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai; Serviço Social da Indústria – Sesi; e Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae/RS; além da Prefeitura Municipal e da Associação Comercial e Industrial do município de Panambi.

Os sujeitos da pesquisa são os gestores e responsáveis pelo departamento de recursos humanos de parte das empresas que compõem o APL Metalmecânico Pós-Colheita, bem como os diretores das instituições de ensino local – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, Colégio Evangélico Panambi – CEP, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Farroupilha - IFFarroupilha, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai, e ainda o gestor do APL e o prefeito municipal de Panambi.

O estudo é composto por entrevistas com perguntas abertas, gravadas e orientadas por um roteiro previamente estabelecido (APÊNDICE A, B e C). Trata-se de entrevistas focalizadas com o objetivo de explorar a fundo alguma experiência vivida e as condições precisas, conferindo ampla liberdade ao entrevistado para expressar-se sobre o assunto. (GIL, 1999). O acesso às empresas, servidores e demais agentes do APL em estudo contou com o apoio da Associação Comercial e Industrial de Panambi, para indicação do melhor perfil a ser entrevistado.

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A interpretação, por sua vez, está ligada à análise e busca dar sentido aos resultados da pesquisa. Essa fase conduz à definição de conceitos explicativos sobre o problema focado, comprovando-os ou abrindo espaço para outras teorias científicas. (BARROS; LEHFELD, 2005). De posse dos dados, realizou-se uma leitura profunda das entrevistas, com ênfase nos elementos considerados chaves, com destaque aos significados relevantes manifestados por cada entrevistado. Nesta fase da pesquisa, efetivou-se a revisão bibliográfica relativa à conceituação e objetivos dos APLs e, ainda, quanto à gestão de pessoas, qualificação, competitividade, produtividade, qualidade, inovação e tecnologia.

Neste estudo, utiliza-se a análise temática que, conforme Minayo (1979 apud BARDIN, 1993, p. 105) “consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõe a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição pode significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido”.

As entrevistas aconteceram nos espaços das empresas, das instituições de ensino e na Prefeitura Municipal de Panambi e foram registradas com auxílio de gravador de voz. As visitas eram pré-agendadas através de contato telefônico e via e-mail. Inicialmente foram expostos alguns esclarecimentos e objetivos da pesquisa, em seguida entregue uma carta de apresentação da pesquisadora, sendo que, para as empresas entrevistadas, ainda foi deixado um termo quanto à preservação do nome das mesmas. Os roteiros prévios das entrevistas foram elaborados com vistas a atender aos objetivos deste estudo, que busca captar a importância da qualificação de pessoas para o APL Metalmecânico Pós-Colheita, além de dimensionar e caracterizar o processo de qualificação existente e a contribuição das políticas públicas no processo de qualificação.

A análise foi desenvolvida essencialmente com base nas observações e informações reunidas no trabalho de campo. Esta etapa foi a mais longa da pesquisa, sendo necessário atender e se adequar às agendas dos entrevistados, sendo que em algumas situações foi necessário retornar à empresa para esclarecimento de dúvidas pendentes.

O estudo divide-se em cinco capítulos. Num primeiro momento é apresentado o território do APL Metalmecânico Pós-Colheita, com ênfase nos aspectos socioeconômicos e na influência da colonização sobre esses, bem como na constituição do APL. No segundo capítulo é apresentado o processo de qualificação existente na região, enfatizando as instituições de ensino atuantes e sua relação com o APL.

Após, é apresentada uma análise das necessidades encontradas quanto à qualificação de mão de obra, percebidas em visitas as várias empresas que compõe o APL e na conversa com alguns gestores e responsáveis pelo departamento de recursos humanos das mesmas.

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Em seguida, é referenciado o papel das políticas públicas nas três esferas políticas do Brasil – Federal, Estadual e Municipal, tanto no que se refere aos incentivos ao processo de armazenagem, às parcerias com o APL Metalmecânico Pós-Colheita e o reflexo desses incentivos e parcerias no processo de qualificação de mão de obra existente para o setor. Por fim, são apresentadas as considerações da autora e suas sugestões para o desenvolvimento da qualificação de mão de obra para o APL Metalmecânico Pós-Colheita.

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1 ANÁLISE DO CONTEXTO SÓCIOECONÔMICO DO TERRITÓRIO

DO APL METALMECÂNICO PÓS-COLHEITA

Os dados históricos analisados para a composição desta pesquisa partem do diálogo das obras de Beuter (2013) “De Elsenau a Panambi” e Peixoto (2007) “Panambi sob múltiplos olhares”, além da observação e da convivência da pesquisadora com moradores da região. Neste capítulo, aborda-se o processo de formação da sociedade local, a organização do APL Metalmecânico Pós-Colheita, os conceitos e objetivos dos APLs e o contexto socioeconômico da região.

1.1 Processo de formação da sociedade local

A colonização no estado do Rio Grande do Sul, por colonos europeus vindos da Europa Central, deu-se a partir de 1824. Inicialmente essas colonizações chamadas de imperiais partiram do Imperador D. Pedro I e da Imperatriz D. Leopoldina, com objetivo de consolidar as fronteiras meridionais do Brasil povoando-as por uma população tida como confiável e fiel ao Império. São Leopoldo foi a colônia pioneira criada pelo Governo Imperial, seguida pelas colônias circunvizinhas. No ano de 1847 deu-se início às chamadas provinciais, com a criação da Colônia de Santa Cruz do Sul. Após a proclamação da República, com o governo estadual liderado pelo estadista Júlio de Castilhos, foram fundadas diversas outras intituladas estaduais, entre elas a Colônia de Ijuí.

A partir de 1898, surgiu a colonização através da iniciativa privada, um empreendimento colonizador que ficou conhecido como Colônia Modelar Neu-Württemberg e foi desenvolvido pelo pesquisador da Amazônia Brasileira, Dr. Herrmann Meyer, que também era proprietário do Instituto Bibliográfico de Leipzig – Alemanha. A colonização modelar tinha essa nomenclatura por ser considerada modelo diferenciado de colonização, com objetivo de dar suporte científico e técnico com foco na educação e pesquisa para o desenvolvimento da nova zona colonial que estava surgindo no norte e no noroeste do Rio Grande do Sul. Assim inicia-se a história da Colônia Modelar Neu-Württemberg, que hoje são os Municípios de Panambi e Condor/RS.

A Colônia Modelar de Neu-Württemberg foi fundada na região dos rios formadores do Rio Ijuí. Na época, as terras localizadas na margem esquerda do Rio Palmeira, maior desses formadores, estavam no município de Cruz Alta; enquanto aquelas situadas na margem direita

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pertenciam ao município de Palmeira das Missões. A nova colonização – Neu-Württemberg deu origem ao município de Panambi, do qual posteriormente desmembrou-se o município de Condor.

Conforme dados históricos, em 1915 Neu-Württemberg foi desmembrada do quarto distrito de Santa Bárbara do Sul e passou a ser considerado o oitavo distrito de Cruz Alta. Em 1923, o oitavo distrito de Neu-Württemberg ultrapassava em arrecadação de impostos o primeiro distrito formado pela cidade de Cruz Alta e arredores. Assim, do ponto de vista econômico, o oitavo distrito apresentava plenas condições de se emancipar, porém, sua situação permaneceu inalterada durante duas décadas devido à luta fratricida que foi o acerto de contas entre ximangos e maragatos, a Revolução de 30, que levou Getúlio Vargas ao poder e culminou na ditadura militar e com a declaração de guerra do Brasil aos países do eixo formado pelo Japão, Alemanha e Itália em 1942.

Só em 1949 foi feito o plebiscito para emancipar a velha Colônia formada pelos municípios de Panambi e Condor. Porém, devido a fraudes no plebiscito de Condor, a emancipação foi anulada. Um segundo plebiscito aconteceu quatro anos depois e após mais um ano a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul reconheceu o resultado das urnas e votou pela criação do município de Panambi, que foi instalado em 28 de fevereiro de 1955. No entendimento de Beuter (2013), se a emancipação tivesse acontecido três décadas antes, o desenvolvimento hoje seria significativamente maior no que diz respeito à geração de empregos e prosperidade para a região.

Entre os diversos acontecimentos que moldaram as primeiras décadas da história de Panambi, destaca-se o ano de 1901, quando o Dr. Herrmann Meyer publicou na cidade de Leipzig – Alemanha um manifesto com o título: As Colônias Privadas do Dr. Herrmann Meyer no Rio Grande do Sul do Brasil. Neste documento foi descrito com detalhes o Rio Grande do Sul e as suas colonizações privadas de Neu-Württemberg, Xingu e mais três outras, entre elas a área de Nordwest Bahngesellschaft, futura Colônia Serro Azul. O manifesto também era composto de intenções e pontos de vista no qual foi defendida a tese que a Alemanha direcionasse a emigração para a América do Sul. Dr. Herrmann previa que o trabalho dos assíduos alemães transformaria a região em uma poderosa concorrente ao florescente parque industrial alemão.

Destaca-se, ainda, o ano seguinte, 1902, quando o Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Sr. Antônio Augusto Borges de Medeiros, filho político de Júlio de Castilhos, assina o decreto de criação da Colônia Modelar Neu-Württemberg. Segundo o colonizador e pesquisador Dr. Herrmann Meyer, esta colônia tinha como objetivo estudar o clima da região,

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produzir experimentos agrícolas, além de implantar uma agricultura de bases cooperativistas. Para consolidar seus planos, Dr. Meyer contratou, no Estado de Württemberg – Alemanha o casal, pastor Herman Faulhaber e a professora Marie Faulhaber, que trabalhava na época numa escola agrícola, para treinamento de colonos alemães que queriam emigrar. Esse casal, ao chegar à colônia Modelar Neu-Württemberg em 1902, celebrara o primeiro culto da Comunidade Eclesiástica Luterana, hoje Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECL. E já no início de 1903 deu-se início às atividades letivas da Escola Comunitária Elsenau, atualmente Colégio Evangélico Panambi. Neste mesmo ano foi instalada a biblioteca escolar e comunitária com livros doados pelo Instituto Bibliográfico da cidade Leipzig, posteriormente esta biblioteca passou a se chamar Sociedade de Leitura Herman Faulhaber, sendo que até o ano de 1937 era reconhecida como a maior biblioteca particular do interior do Rio Grande do Sul.

A ditadura militar instituída pelo Presidente Vargas em 1937 interferiu diretamente na história de Panambi. Com a campanha da Nacionalização, da Ditadura de Vargas, deu-se início a destruição da Colônia Modelar Neu-Württemberg, pois a ditadura defendia os interesses de ingleses e norte americanos e era contrária aos imigrantes e seus descendentes originários da Europa Central, de língua alemã, da Itália e do Japão. A Campanha da Nacionalização marcou negativamente o projeto Colônia Modelar Neu-Württemberg com perseguições etnolinguísticas, saques etnoculturais a bibliotecas, escolas, entidades culturais, recreativas e residências particulares.

Por um ato do despotismo preconceituoso das autoridades da ditadura de Vargas da cidade de Cruz Alta, mudou-se o nome do Distrito de Württemberg, que desde 1901 era denominado de Elsenau, em homenagem à esposa de Herrmann Meyer, que se chamava Else, para Distrito de Pindorama, que significa “Terra das Palmeiras”. Assim o nome do Distrito foi alterado diversas vezes sem levar em conta os valores sociais e culturais de uma comunidade, com total desrespeito à dignidade humana. Alguns historiadores relatam que a ideia inicial era que a região fosse povoada apenas por alemães e seus descendentes, conforme Peixoto 2007:

[...] a exclusão dos indígenas e dos caboclos da história de Panambi foi uma prática tanto da colonizadora quanto das elites regionais. A colonizadora pretendia fazer de Panambi um lugar somente de alemães para, com essa justificativa, convencer mais alemães a virem se juntar aos seus compatriotas num lugar somente seu, sem a interferência de outros elementos estranhos a sua etnia, a seus costumes e tradições. (PEIXOTO, 2007, p. 162)

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Figura 1 - Neu-Württemberg, atual Panambi em 1910

Fonte: Museu de arquivo histórico de Panambi – MAHP (2013)

Em 1940, o padre Pedro Luiz Bottari assumiu o trabalho eclesiástico na comunidade católica do oitavo distrito de Cruz alta, chamado de Panambi. O mesmo ficou maravilhado com o trabalho fabril que existia no local. A partir de suas observações o padre escreveu a poesia intitulada Panambi:

A vila é longa e rica. Galanteia. À margem senhoril do belo rio, E estreita-se e alarga-se com brio. E sobe e desce, e parar além serpenteia. Derrama-se por ela a vasta cheia. Dos frutos do progresso em rodopio; Não há rua nenhum ser vadio; Em cada crânio um ideal flameia. Fia a tear, atrás pilão fragmenta, A serra ringe, chiam forja e forno, Tine o martelo, atroa a ferramenta ... São tudo vozes férreas do trabalho, Em cada porta se ouve arfar um torno, Em cada esquina fragorar um malho (BEUTER, 2013, p. 17).

Nos festejos em comemoração ao cinquentenário do início da colonização do distrito, o padre Pedro Luiz, em outro momento de inspiração, afirmou que Panambi devia chamar-se “Cidade das Máquinas”. Assim essa expressão foi adotada para promover a emancipação política e administrativa do distrito. Outro dado interessante é que devido à posição geográfica, Panambi é considerada a porta de entrada para o Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Beuter, 2013).

Antes da migração dos europeus, a região era habitada por índios da etnia tupi-guarani. O Rio Palmeira dividia o município de Cruz Alta, os municípios de Palmeira das Missões e a Colônia Modelar de Neu-Württemberg. Esta divisão também delimitava as reduções indígenas guaranis a de São João Batista, fundada pelo jesuíta austríaco Antn Seep von Rechegg em 1699, e a de Santo Ângelo Custódio, fundada pelo jesuíta belga Diogo de Hesse em 1707.

O diferencial da colonização dos municípios de Panambi e Condor se deu pela venda de lotes rurais para os colonos, instalação de uma cooperativa de produção e consumo,

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alocação de uma Estação de Pesquisa Meteorológica e a criação de uma Estação de Pesquisa Agrícola, essa duas últimas vinculadas ao Comitê de Atividades Agrícolas de Berlim. Além disso, Herrmann e seus sucessores se preocuparam em dar aporte à colonização com a vinda de professores graduados, construção de escolas profissionalizantes e construção de usinas de energia elétrica. Os colonizadores prepararam a localidade para ser um modelo com bases industriais a partir das bases agrícolas.

O estribilho do Hino à Panambi: “Boas escolas, Deus e cultura, Guiam assíduo povo daqui, Para o trabalho e a fartura, que desenvolvem Panambi” (Beuter, 2013, p. 33) evidencia a valorização da educação, a importância dada à religião e aos valores culturais, além do foco no trabalho, características marcantes que fazem com que Panambi e Condor sejam reconhecidas como cidades diferentes e promissoras.

O foco na educação, religião e cultura, nos remete a Max(2004) que analisa a maior participação dos protestantes na propriedade do capital, nos posto mais altos de trabalho de grandes empresas modernas, tanto industriais, quanto comerciais. De acordo com o autor, tal situação se deve em parte a posse de capital e ainda a uma educação dispendiosa, sendo constatado que a maioria das cidades ricas, já no século XVI, haviam se convertido ao protestantismo (MAX, 2004).

Atualmente o território do APL Metalmecânico conta com dezenas de pequenas, médias e grandes indústrias, que se dedicam aos mais variados ramos de atividade industrial, destacando-se as metalúrgicas, metalmecânicas, de eletroeletrônica, malharias, madeira, moveleira e de produtos alimentícios.

1.2 Organização do APL Metalmecânico Pós-Colheita

A partir de 1992, com o início da instalação do Distrito Industrial de Panambi, inaugurou-se uma nova fase no desenvolvimento, pois com a criação de dezenas de novas indústrias, alavancou-se a criação de novos produtos e serviços, além de incrementar substancialmente a geração de emprego e renda.

Nos municípios de Panambi, Condor e Santa Bárbara do Sul encontra-se uma grande concentração de indústrias fabricantes de equipamentos para recebimento, beneficiamento e armazenagem de grãos do Brasil. São dezenas de empresas dos mais variados portes que fabricam e montam equipamentos para atender as mais distantes regiões agrícolas do Brasil e países da América Latina.

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Assim, em 2003 foi iniciada a sensibilização e a busca da participação dos empresários de Panambi e Condor, com o objetivo de promover a troca de experiência de gestão, a geração de tecnologia na fabricação de produtos e a busca de mercado para o setor. Assim, foi criado o APL Metalmecânico Pós-Colheita, inicialmente com a participação dos municípios de Panambi e Condor, sendo que Santa Bárbara do Sul veio a ingressar no APL em 2011, mas ainda não tem uma participação expressiva no mesmo.

1.3 Conceituação e objetivos de APL

O APL Metalmecânico Pós-Colheita – Panambi, Condor e Santa Bárbara iniciou suas atividades em 2003 sob a coordenação do SEBRAE, com as tratativas entre empresários locais, Associações Comerciais e Industriais da região, além do apoio das políticas públicas e de entidades de classe, com o objetivo de promover a troca de experiência de gestão, a geração de tecnologia na fabricação de produtos e a busca de mercado para o setor.

Para que se compreenda sua origem, pode -se colocar que os conceitos de APL foram criados tendo como paradigma e meta de política as experiências de sucesso das empresas instaladas nos chamados distritos industriais italianos, o Waden-Württemberg na Alemanha e o Vale do Silício na Califórnia, principalmente pela elevada renda per capita alcançada nesses lugares. Assim foi se consolidando, nos anos 80 e 90, esse novo conceito para denominar determinados tipos de concentração de empresas. (SANTOS; DINIZ; BARBOSA, 2006).

Marshall (1985) ressalta os pontos positivos de se ter uma vizinhança com atividades semelhantes:

São tais as vantagens que as pessoas que seguem uma mesma profissão especializada obtêm de uma vizinhança próxima [...] Aprecia-se devidamente um trabalho bem feito, discutem-se imediatamente os méritos de inventos e melhorias na maquinaria, nos métodos de organização geral da empresa (MARSHALL, 1985, p. 234).

Os fenômenos das aglomerações de empresas, clusters (agrupamentos) regionais ou arranjos produtivos locais - APLs têm se destacado no cenário de reestruturação industrial e de desenvolvimento econômico em países desenvolvidos e emergentes. Um interesse maior em APL é resultado da influência das vantagens competitivas dinâmicas do mundo empresarial, tais como: a existência de uma infraestrutura local adequada; proximidade com centros de pesquisa e desenvolvimento; oferta de mão de obra qualificada; acesso aos modernos meios de transporte e comunicação (AMATO NETO, 2009).

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Como sinônimos de APL encontram-se na literatura algumas abordagens que se referem a: cadeia produtiva que implica em divisão de trabalho, na qual cada agente ou conjunto de agentes realiza etapas distintas do processo produtivo, neste caso não se restringe, necessariamente, a uma mesma região ou localidade. O cluster que se refere à aglomeração territorial de empresas, com características similares, em algumas concepções enfatizando mais o aspecto da concorrência, do que o da cooperação, como fator de dinamismo. O distrito industrial que enfatiza a aglomerações de empresas, com elevado grau de especialização e interdependência. No Brasil, frequentemente, utiliza-se a noção de distrito industrial para designar determinadas localidades ou regiões definidas para a instalação de empresas, muitas vezes contando com a concessão de incentivos governamentais. Também existem os polos, parques científicos e tecnológicos onde predominam aglomerações de empresas de base tecnológica, articuladas a universidades e centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D). E, ainda, as redes de empresas que são formatos organizacionais, definidos a partir de um conjunto de articulações entre empresas, que podem estar presentes em quaisquer dos aglomerados produtivos mencionados (REDESIST, 2003).

As aglomerações de empresas localizadas num mesmo território e com determinada especialização produtiva, no Brasil, são normalmente denominadas de Arranjo Produtivo Local- APL, mas também são conhecidas como Sistema Produtivo Local ou Cluster (MDIC, 2013). Os APLs possuem características conforme as especificidades das regiões onde se instalam, sendo influenciados pelo contexto histórico, econômico, sociocultural e, ainda, pelo nível de complexidade de sua cadeia produtiva. Nesse sentido, a ênfase dos APLs está focada na importância da articulação das empresas quanto ao aprendizado, aos atores locais e ao processo de inovação.

1.4 Contexto socioeconômico

Os municípios de Panambi, Condor e Santa Bárbara do Sul situam-se na Mesorregião Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, a uma distância aproximada de 380 km da capital, Porto Alegre.

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Figura 2 - Mapa do território do APL Metalmecânico Pós-Colheita

Elaboração: DIEESE (2014)

Conforme dados do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH e do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010), a população do território do APL se expandiu à taxa de 0,8% a.a. entre 2000 e 2010; sendo que nesse mesmo período Porto Alegre se expandiu à taxa de 0,36% a.a., a população gaúcha cresceu 0,49% e, ainda, a população brasileira 1,1%. A população urbana do referido território é de 85,1%. A cidade de Panambi conta com 71,2% da população de todo o território do APL. Ainda segundo os dados do Censo IBGE (2010), Panambi tem 38.058 habitantes, Condor tem 6.552 habitantes, enquanto Santa Bárbara do Sul tem 8.829 habitantes (IPEA, 2013).

A Federação de Economia e Estatística - FEE desenvolveu uma ferramenta para apresentar o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico para o Rio Grande do Sul – IDESE, que abrange vários indicadores sociais e econômicos e tem como objetivo analisar o desenvolvimento do Estado, bem como dos municípios. O IDESE, assim como o IDH, varia de zero a um, sendo que o índice até 0,499 é tido como baixo, entre 0,500 e 0,799 é considerado médio e maiores ou iguais a 0,800, corresponde a nível alto.

Tabela 1- IDESE 2012 dos municípios do território do APL e Estado do Rio Grande do Sul

Municípios / Estado Saúde Renda Educação IDESE

Condor 0,870 0,688 0,731 0,763

Panambi 0,859 0,725 0,740 0,775

Santa Bárbara do Sul 0,820 0,746 0,676 0,748

Rio Grande do Sul 0,684 0,744 0,803 0,744

Fonte: Fundação de Economia e Estatística – FEE (2012) Elaborado pela autora (2014).

A cidade de Panambi tem sua origem no empreendimento de um imigrante alemão, Herrmann Meyer, o qual tinha como objetivo fazer do local uma colônia modelo e para tal

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dava preferência a imigrantes alemães ou de descendência alemã. Panambi se desenvolveu e atualmente tem como características que a diferenciam dos demais municípios o foco no trabalho, o perfil industrial, a valorização da educação, da cultura e das iniciativas comunitárias.

Além dessas características, o município de Panambi destaca-se dentro do território do APL Metalmecânico Pós- Colheita por possuir o maior número de habitantes, o maior número de empresas participantes no APL, por concentrar as instituições de ensino e pesquisa que são parceiras e fazem parte da governança do APL e, ainda, por apresentar maior destaque nas atividades econômicas. O desenvolvimento do setor metalmecânico tem reflexos expressivos sobre o produto interno bruto (PIB) do território do APL, o mesmo tem apresentado constante crescimento, sendo superior a média do estado do Rio Grande do Sul em 2012.

Tabela 2 - Produto Interno Bruto APL Metalmecânico Pós-Colheita

Municípios / Estado PIB per capita 2012 (R$)

Condor 25.064

Panambi 26.023

Santa Bárbara do Sul 39.695

Território do APL 30.206

Rio Grande do Sul 25.770

Fonte: Fundação de Economia e Estatística – FEE (2012) Elaborado pela autora (2014).

Atualmente o território do APL Metalmecânico Pós-Colheita ocupa a terceira posição no ranking nacional, quanto à oferta de emprego nas atividades que desempenha. Conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE (2012), quando se trata da atividade que mais emprega no ranking nacional de fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária, exceto para irrigação, Panambi-RS ocupa o primeiro lugar, com 5.008 empregados, seguida por Matão-SP com 4.706 empregados, Não-Me-Toque-RS com 3.757 empregados, Pompéia-SP com 2.606 e Santa Rosa-RS com 2.048 empregados. Panambi concentra 96,2% do emprego do APL.

A fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária, exceto para irrigação, é a atividade que mais emprega no território do APL, representando 71,9% do emprego no APL. As informações sobre o número total de trabalhadores empregados no município de Panambi nos últimos anos apresentam a perspectiva histórica e uma análise mais estrutural do mercado de trabalho no município, com uma concentração superior a 50% dos empregos nos estabelecimentos industriais e com crescimento próximo a 100% no período de 2003 a agosto de 2014.

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Gráfico 1- Evolução do Emprego por Setor de Atividade

Elaboração: Laboratório de Economia Aplicada – UNIJUI (2014)

A região, desde sua colonização, apresenta uma constante preocupação com a educação e a valorização do conhecimento. Os dados dos municípios de Panambi, Condor e Santa Bárbara do Sul evidenciam que o processo educacional nos municípios apresenta destaque, pois os mesmos encontram-se na faixa de Desenvolvimento Humano Alto (IDHM entre 0,7 e 0,799), sendo que a educação, entre os anos de 2000 e 2010, foi a dimensão que mais contribuiu para o crescimento dos três municípios em termos absolutos, com o crescimento de 0,132 em Panambi, 0,230 em Condor e 0,111 em Santa Bárbara do Sul (IPEA, 2013).

Conforme dados da Coordenadoria Regional de Educação - CRE (2014), atualmente o município de Panambi conta com 7 escolas estaduais de ensino fundamental e médio, 10 escolas municipais de ensino fundamental e 9 escolas municipais de educação infantil. Conta, ainda, com 4 escolas particulares sendo uma de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e profissionalizante e 3 de educação infantil. Existe, também, uma escola de educação especial – APAE e uma Escola Federal de ensino médio, profissionalizante e superior e um campus de uma universidade comunitária. No município de Condor encontram-se 5 escolas municipais de ensino fundamental, 3 escolas estaduais de ensino fundamental e médio e 1 escola municipal de educação infantil. Em Santa Bárbara do Sul há 3 escolas estaduais de ensino médio e fundamental e 4 escolas municipais de educação infantil. Há também 1 escola particular de educação infantil e ainda 1 escola de educação especial – APAE.

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O APL Metalmecânico Pós- Colheita alia o agronegócio às iniciativas industriais para complementar as cadeias produtivas regionais. O mesmo está geograficamente localizado dentro de um espaço que é visto como um mercado local e, ao mesmo tempo, no corredor para o Mercosul e para os demais mercados nacionais e internacionais. Com isso, sua economia sofre oscilações conforme a economia regional, nacional e internacional, além da interferência da natureza sobre agricultura que se reflete também na força de trabalho. Tais condições caracterizam o território como carente de um planejamento por parte das políticas públicas, mas também do seu empresariado e das demais entidades de classe da região, quanto a sua consolidação e sua sustentação econômica.

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2 PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO DE PESSOAS EXISTENTE NO

TERRITÓRIO DO APL METALMECÂNICO PÓS-COLHEITA

Os dados históricos dos municípios que compõem o APL Metalmecânico Pós-Colheita traçam uma história focada na educação, na cultura e na religiosidade. Muito do que culminou em desenvolvimento tem a ver com fatos marcantes da colonização da região, que se deu a partir de 1898, quando surgiram as colonizações através da iniciativa privada, que foram desenvolvidas pelo pesquisador da Amazônia Brasileira Dr. Herrmann Meyer.

Segundo Beuter (2013) Herrmann Meyer realizou sua formação acadêmica na Universidade de Leipzig e na Universidade de Heidelberg nas disciplinas de geografia e etnologia. Foi pesquisador, professor conferencista com docência nas Universidades de Leipzig, Berlin, Strassburg e Jena. Casado com Else Meyer, no ano de 1900 eles vieram para o Brasil e deram início ao povoamento das colônias de Meyer na região noroeste e norte do Rio Grande do Sul. Assim inicia-se a história da Colônia Modelar Neu-Württemberg, o que hoje são os Municípios de Panambi e Condor/RS.

O Estado do Rio Grande do Sul apresentava as melhores condições para os imigrantes alemães progredirem, desde o clima, a ausência de doenças comuns no Nordeste do Brasil, além das condições aéreas e pluviais. Neu-Württemberg tornava-se modelar à medida que oferecia infraestrutura para que os imigrantes prosperassem. Assim, a população cresceu tendo como foco o trabalho agrícola, porém, conforme acontecia o desmatamento, a madeira era aproveitada nas marcenarias e carpintarias e se transformava em casas, ferramentas e carroças para ajudar no trabalho com a terra, o que demonstra que desde o início a agricultura e a indústria complementavam-se na região. Fatos que antecederam a colonização da colônia Modelar Neu-Württemberg evidenciam o interesse em se estabelecer uma colônia diferenciada, entre eles destaca-se a implantação de uma infraestrutura necessária para começar o povoamento da colônia, com a construção de um moinho, de uma serraria, de um prédio para abrigar a administração da colonizadora, de um barracão para abrigar colonos imigrantes, de um prédio escolar, de uma casa para um professor, de um barracão para abrigar uma futura cooperativa e de uma olaria.

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Figura 3 – Barracão do imigrante, primeira construção – Panambi 1901

Fonte: Museu e arquivo histórico de Panambi – MAHP (2013)

Aceitar colonos de origem alemã, para manter as colonizações com a tradição alemã, era o conceito básico na administração das Colonizações de Meyer. A nova colônia começou a ser povoada em 1899 e seus primeiros habitantes eram geralmente profissionais da área de ferraria, carpintaria, marcenaria, fabricantes de carroças, alfaiates, sapateiros, além de uma parteira. Em 1901, o ferreiro, teuto-russo, Adolf Kepler Sênior, com sua esposa Olga Richter Kepler chegou à nova colônia, onde começou a trabalhar com agricultura de subsistência e com uma pequena ferraria que foi o embrião do atual Grupo Industrial Kepler Weber S/A.

Adolf aprendeu o ofício de ferreiro na Rússia, Olga era Polonesa e sua família era adepta da congregação batista. Em Neu-Württemberg o casal conheceu as famílias Geiser e Rehn que também eram adeptas da congregação batista, então, começaram reunir-se para celebrar cultos religiosos em suas residências. Em 1906, o diretor da Colonizadora, Dr. Hermann Meyer, doou as estas famílias um terreno para a construção de uma pequena capela quando então surgiu a Igreja Batista Emanuel. Com a fundação da Igreja Batista, outras famílias batistas vieram para a nova colônia, procedentes da Primeira Comunidade Batista de Linha Formosa e Segunda Comunidade Batista de Porto Alegre, dentre elas cita-se Reinke, Waldow, Beuter, entre outras. Essas famílias, desde o tempo da colonização até os atuais, desenvolvem importantes atividades no setor industrial de Panambi. Vieram ainda famílias batistas da Europa Central e do Leste Europeu. Os batistas, como eram chamados, contribuíram com a formação cultural, educacional, filantrópica, religiosa e empresarial de Panambi e região.

Um dos fundadores de Panambi, Horst Hoffmann, era engenheiro e amigo de Meyer desde os estudos na universidade. Fora enviado por Meyer ao Brasil para formalizar contatos com as autoridades brasileiras sobre projetos ferroviários. Em 1901, assumiu a direção da

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colônia Neu-Württemberg, onde atuou até 1903 quando foi substituído por Alfred Bornmüller, primo de Meyer que ficou no cargo até 1907 e foi sucedido pelo pastor Hermann Faulhaber.

O casal, pastor Hermann Faulhaber e a professora Marie Faulhaber, chegou a Neu-Württemberg em 1902 e no mesmo ano constituiu a Comunidade Eclesiástica Luterana; no ano seguinte, 1903, a escola comunitária Elsenau, atualmente Colégio Evangélico Panambi. Hermann e Marie Faulhaber tiveram dois filhos, Maria em 1902 e Walter em 1905, dois anos antes da indicação de Hermann Faulhaber como diretor da Colônia Modelar Neu-Württemberg. O casal Hermann e Marie Faulhaber realizava visitas pastorais e pedagógicas às comunidades que se constituíram no interior de Neu-Württemberg e a partir dessas visitas começou a organizar comunidades eclesiásticas e sociedades escolas. Assim, na década de 1910 foram fundadas várias sociedades que mantinham escolas nas comunidades do interior da Colônia Neu-Württemberg, dentre elas pode-se citar: Distrito ou Circunscrição Leste (1910), Distrito ou Circunscrição Norte (1910), Linha ou Circunscrição Palmeira – Condor (1912), Linha ou Circunscrição Madalena – Ocearú (1912), Linha ou Circunscrição Leipzig – Iriapiria (1919) e Linha ou Circunscrição Rincão Fundo (1921).

Figura 4 - Turma de alunos da Linha Leipzig (linha Iriapira I), com o Professor Paschke

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Nessas escolas era valorizada a leitura, a ortografia e a gramática nos idiomas alemão e português, pois no entendimento da Professora Marie Faulhaber a pessoa que dominava dois idiomas tinha um valor maior. Além do estudo dos idiomas, era exigido domínio na área de matemática, geografia, história do Brasil e ainda prática de esporte e canto.

Em 1916 foi criada a Fundação Faulhaber por Hermann Faulhaber com objetivo de auxiliar na administração do distrito com planejamento junto a Colonizadora Dr. Hermann Meyer em relação ao desenvolvimento econômico, educacional e cultural da Colônia Modelar Neu-Württemberg, da Colônia Xingu, da Colônia Fortaleza e da Colônia Porto Feliz (Mondai). Mesmo após a morte de Hermann Faulhaber, pessoas próximas ao falecido seguiram com os planos da fundação. Entre essas pessoas destacam-se Eduard Hempe, Dr.Gustav Kuhlmann e Friedrich Krahe. Os planos e projetos da fundação buscavam atender as necessidades da população, quanto à assistência à saúde, para o qual foi contratado o médico habilitado segundo as leis brasileiras, Dr. Andreas Herrmann August Lieberknecht, formado pela Universidade de Marburg e com revalidação do seu diploma pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre. No âmbito da segurança foi instalado o Tiro de Guerra, garantindo, através do Exército Brasileiro, a segurança da região. Na área cooperativista fundou-se em 1927 a União Colonial em substituição a antiga cooperativa Genossenschaft Neu-Württemberg. E ainda em 1931 fundou-se uma cooperativa de crédito, chamada de Caixa Rural, que nada mais era que uma espécie de braço financeiro das Uniões Coloniais.

A Fundação Faulhaber, além de assessorar as escolas comunitárias do interior, tomou a iniciativa de construir um prédio de alvenaria para a Escola Comunitária Elsenau, onde dois anos depois foi instalado o ensino teórico noturno do curso técnico profissionalizante da chamada Escola das Indústrias, tendo suas aulas práticas nas pequenas indústrias do distrito. Em 1937 a Escola Comunitária Elsenau ministrava cursos profissionalizantes em desenho técnico, mecânica, tornearia, eletricidade e trabalho com madeira. Alfredo Fockink, fundador do atual Grupo Fockink, e Ernesto Rehn, fundador da empresa que depois deu origem a Bruning Tecnometal, foram alunos nesta escola.

Renomados professores contribuíram para o desenvolvimento da Escola Comunitária Elsenau, como o professor Hermann Wegermann, na condição de professor licenciado cedido pela Alemanha, que atuou na escola a partir de 1949 e durante três décadas trabalhou na instituição, transformou-a em modelo na formação de operários especializados para atuar no parque fabril de Panambi.

Em 1936, o comércio e a indústria local, com apoio da Fundação Faulhaber, organizaram a Associação Comercial do Distrito de Neu-Württemberg, com 45 associados,

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tendo sido eleito como presidente o Sr. Adolfo Franke, vice-presidente o Sr. José Schuien, primeiro secretário o Sr. Adolfo Hepp, segundo secretário o Sr. Carlos Hisserich, primeiro tesoureiro o Sr. Adolfo Kepler Júnior e segundo tesoureiro o Sr. Oscar Schneider. O conselho fiscal era formado pelos senhores Walter Faulhaber, Eduardo Hempe e Luiz Martin Hack. Em 1965 essa associação passou a chamar-se Associação Comercial e Industrial de Panambi, nome que é mantido até a atualidade. Todos esses acontecimentos evidenciam a importância da Fundação Faulhaber para o desenvolvimento da região até os dias de hoje.

Walter Faulhaber, o filho do casal Hermann e Marie Faulhaber, foi encaminhado à Alemanha para concluir o ensino médio e ingressar na universidade em 1923. Em 1933, já após o falecimento de seu pai, ocorrido em 1925, o engenheiro mecânico Walter Faulhaber volta ao Brasil para residir em Neu-Württemberg e estabelece uma sociedade com seu cunhado, Engenheiro Erich Schild, originário de Santa Cruz do Sul. Dessa sociedade surge a Metalúrgica Faulhaber, que inicialmente enlatava frutas secas para exportação. A partir das demandas, o Eng. Walter desenvolveu e aperfeiçoou outros produtos como pulverizador portátil, “pulvilhaderia formimorte”, para combater formigas, além de uma linha completa de equipamentos para apicultura e a produção e comercialização do mel. Com a introdução oficial da vacinação dos rebanhos bovinos e suínos, o Eng. Walter desenvolveu uma seringa veterinária. Assim, o pequeno empreendimento familiar ganhou destaque inovativo e juntamente com outras pequenas empresas familiares que surgiram no distrito, ajudou a desenvolver o atual perfil metalmecânico de Panambi.

No dia 28 de fevereiro de 1955, o engenheiro Walter Faulhaber foi eleito pelo voto popular como primeiro prefeito de Panambi e Rudolfo Arno Goldhard na condição de vereador mais votado, assumiu a presidência da Câmara Municipal. Como acontecia na Alemanha, também em Panambi o primeiro prefeito trabalhou sem receber honorários. Da constituição da primeira equipe para administrar o novo município, destaca-se o Coordenador do Ensino Municipal, professor poliglota Bruno Prass, que teve como meta organizar o ensino municipal para chegar ao nível da antiga colônia Modelar Neu-Württemberg.

Com a modernização da agropecuária brasileira através de crédito rural, mecanização produtiva, sementes melhoradas e a utilização dos insumos, a produção aumentou significativamente, o que despertou nas pequenas empresas fabricantes de ferramentas a necessidade de ampliar sua produção e qualificar seus equipamentos, substituindo os instrumentos de tração animal e manuais por outros equipamentos de tração mecânica e automotores. Várias empresas conseguiram sucesso com essa transição e, apesar de crises financeiras, entre outras dificuldades, muitas oficinas transformaram-se em empresas com alta

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tecnologia, capazes de produzir equipamentos e acessórios que são referência nacional e internacional em inovação tecnológica (PACHECO; ARRUDA, 2012).

A proximidade das empresas e a semelhança entre os produtos fabricados fez surgir um processo de cooperação que culminava na busca de interesses comuns para soluções de problemas, ou ainda em parcerias no aproveitamento de oportunidades. Nesse sentido, a partir de 2003, sob a coordenação do SEBRAE, foi iniciada uma sensibilização e a busca da participação dos empresários de Panambi e Condor para a criação do programa chamado de Arranjo Produtivo Local Metalmecânico Pós- Colheita de Panambi e Condor, com o objetivo de promover a troca de experiência de gestão, a geração de tecnologia na fabricação de produtos e a busca de mercado para o setor. Em 2011, empresas do município de Santa Bárbara do Sul ingressaram no APL.

O APL Metalmecânico Pós-Colheita atua principalmente na fabricação de máquinas que proporcionam movimentação, armazenagem, secagem, limpeza e classificação de produtos agrícolas, mais especificamente o grão. Atualmente, o potencial produtivo das indústrias que compõem o APL Metalmecânico Pós-Colheita está na construção de grandes estruturas para receber e armazenar toneladas de grãos. São obras que saem dos projetos de engenharia para serem feitos por apenas uma empresa ou que se realizam com a participação de micro e pequenas indústrias, por meios da subcontratação para a produção de peças.

Entre as entidades que compõem o APL Metalmecânico Pós-Colheita estão: Associação Centro de Inovação Tecnológica –ACITEC, Ministério do Desenvolvimento e Indústria e Comércio – MIDIC, Associação Comercial e Industrial de Panambi – ACI Panambi, Associação Comercial e Industrial de Condor – ACI Condor, Prefeitura Municipal de Panambi, Prefeitura Municipal de Condor, Serviço Nacional de Aprendizado Industrial – SENAI RS, Secretaria de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais – SEDAI, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE RS, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Empresas do APL – Metalmecânico, Colégio Evangélico Panambi – CEP e Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha Campus Panambi – IFFarroupilha.

O APL Metalmecânico Pós-Colheita conta com uma diversidade de pequenas, médias e grandes empresas, algumas com atividades específicas, mas todas voltadas para o setor de pós-colheita. Entre os desafios que se apresentam a essas empresas, ganha destaque, na fala do gestor do APL – Hugo Hartemink (2014), a profissionalização das empresas nos seus mais diversos setores. Assim, neste capítulo aborda-se, ainda, as instituições de ensino parceiras do

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APL, com destaque ao seu papel na profissionalização da mão de obra para o desenvolvimento do APL Metalmecânico Pós-Colheita.

2.1 Colégio Evangélico Panambi - CEP

O Colégio Evangélico Panambi – CEP é uma associação civil, de natureza comunitária, organizado em forma de estabelecimento de ensino, pesquisa e extensão. Foi a primeira escola instalada oficialmente na região, em 7 de janeiro de 1903, e desde então conta com a ajuda efetiva da Comunidade Evangélica Luterana.

A fim de contornar a situação instável criada pelos acontecimentos que precederam a 2ª Guerra Mundial, a escola, em 1939, foi transformada em "Grupo Escolar" e seu prédio foi cedido ao governo estadual. Em 1944, os membros da Comunidade Evangélica Luterana, movimentaram-se para reorganizar uma escola primária.

Em 1945 reiniciaram-se as aulas em outro prédio, com a denominação de "Escola Sinodal Tobias Barreto". No dia 13 de janeiro de 1947, as chaves foram devolvidas e surge o "Ginásio Evangélico Panambi", sendo o 1º curso ginasial da região serrana.

Com o tempo, houve a exigência de novos cursos e os mesmos foram surgindo, como o Curso Técnico de Contabilidade (1955), Curso Ginasial de Comércio (1962), Curso Científico (1966). Sendo Panambi uma cidade com vocação industrial e atendendo a necessidade de recursos humanos especializados, foi criado em 1981 o curso Técnico em Mecânica, através de uma integração entre empresas e escola. Essa integração aconteceu com os empresários subsidiando mensalidades dos cursos para seus funcionários ou ainda a possíveis funcionários, além de disponibilizar material e laboratórios para as aulas práticas.

Após foram criados o curso Técnico em Eletrotécnica (1988), o curso de Segurança do Trabalho (1992) e o curso de Processamento de Dados (1994). Com auxílio do MEC e com verbas do Programa de Expansão da Educação Profissional – PROEP, no ano de 2001 foi inaugurado o Centro Tecnológico e de Formação Profissional do CEP.

O CTFP/CEP possui parcerias com os mais diversos órgãos governamentais e as mais renomadas instituições brasileiras de pesquisas como Ministério da Educação / Secretaria de Educação Média e Tecnológica através do PROEP; Secretaria de Educação e Cultura / RS; Secretaria de Ciência e Tecnologia / RS; Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais; SEBRAE; SENAC; FAPERGS; CNPq; Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI); e empresas diversas.

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