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Como pode ser realmente distinto o que não pode ser, de fato, separado? Sobre a matéria em Guilherme de Ockham.

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Como pode ser realmente distinto o que não pode ser, de fato, separado? Sobre a matéria em Guilherme de Ockham.

Carlos Eduardo de Oliveira1

O que significa sustentar que a matéria e a forma não são uma coisa única, mas que são coisas realmente diversas, e, ao mesmo tempo, que, no composto, a matéria não pode ser esvaziada de toda forma de modo que ela não possa existir sem a forma? E o que acontece se a matéria não puder ser identificada com a potência? Segundo Guilherme de Ockham, o próprio Aristóteles – e também Averróis, o “Comentador” – teriam realmente a intenção de sustentar que a matéria é algo que existe substancialmente por si. Portanto, é algo no mundo real, ou, mais exatamente, “na natureza das coisas” – in rerum natura – independentemente da forma. Mas isso não seria equivalente a sustentar a existência em ato de uma matéria

despida de forma?

Sobre esse tema, alguns comentários contemporâneos a respeito da física ockhamiana costumam concordar sobre o fato de Ockham ter seguido a tradição escolástica defendendo a não identidade entre matéria e forma. E também concordam sobre o fato de que ele teria escapado dessa tradição ao propor uma descrição da matéria como “algo positivo” que existe por si independentemente da forma, isto é, “sem uma determinação substancial”2. Falando

1 Uma primeira versão desse texto foi apresentada no “2nd Rio Colloquium on Logic and Metaphysics in the

Later Middle Ages: hylomorphism in 13th and 14th centuries”. UFRJ, 21-23/05/2013.

2 Cf., por exemplo, Goddu 1984, p. 95: “In his emphasis on matter and form as real constituents of things,

Ockham did not do violence to the Aristotelian text, and in emphasizing matter and form as real independent things, he continued the scholastic tradition concerning the separability of matter and form. But where Ockham brought the full weight of his argumentation down was on the description of matter as something positive lack-ing substantial determination; but possesslack-ing of itself accidental determinations.”. Um trabalho mais recente, Konig-Pralong 2005, p. 129-188, pretende mostrar certa evolução dessa discussão sobre a distinção entre a matéria e a forma, ao passar por autores como Tomás de Aquino, Henrique de Gand, Duns Escoto e Ockham. Sua exposição parte da ideia de que Tomás de Aquino, a fim de preservar a onipotência divina, teria recusado a possibilidade da existência da matéria sem a forma mesmo que sob a hipótese da potência absoluta de Deus (cf. p. 130), ao responder, em seu Quodlibet, negativamente à questão “Deus pode fazer haver matéria sem forma?” (“Utrum Deus possit facere quod materia sit sine forma”), ao mesmo tempo em que parece sugerir que os outros autores abordados teriam dado uma resposta diferente exatamente para essa questão. Mostraremos aqui que, ao menos no que toca a Ockham, a comparação entre os autores não pode ser adequadamente posta dessa maneira. A nosso ver, Ockham não parece discordar da resposta negativa de Tomás no que diz respeito à onipotência divina, mas ele divergiria da solução de Tomás para a questão da distinção entre matéria e forma quanto a outra coisa: estritamente na medida em que Ockham defende que cabe para a matéria, enquanto tal, alguma atualidade, ou seja, na medida em que, para Ockham, a matéria não é, por si, pura potência. Como veremos, defender a atualidade da matéria não é o mesmo que defender, ainda que pela potência absoluta divina, a possibilidade da existência da matéria sem a forma.

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de modo mais rigoroso, Ockham discorda da tese de que a matéria prima é estritamente pura potência enquanto a forma é a parte do composto envolta por si mesma em ato. Mas como seria possível defender a atualidade da matéria?

Segundo Ockham,

É manifesto que a matéria é certa entidade atual, pois aquilo que não é não pode ser parte ou princípio de qualquer ente. Ora, a matéria é atualmente parte e princípio do ente composto. Portanto, ela é atualmente uma entidade em ato. (SPN3 I, chap. 10, p. 181, lin. 1-54).

Como se pode ver, a matéria, no texto de Ockham, não é apenas descrita geralmente como “certa entidade”, mas aparece como uma entidade em ato. Ainda que isto não apareça claramente declarado nesse trecho que acabamos de citar, decorre da descrição nele apresen-tada que a matéria é, por si, certa substância, uma vez que é “algo que não é um acidente inerente a outro” (cf. SL I, cap. 42, p. 118, lin. 8-115). Desse modo, ao existir como parte e princípio do composto, a matéria apenas pode ser entendida como algo em ato, mesmo que separada da forma.

Em sua Summula Philosophiae Naturalis, Ockham também descreve a matéria como certa coisa atualmente existente na natureza das coisas, em potência quanto a todas as formas substanciais, sem que nenhuma esteja necessariamente e sempre vinculada a ela enquanto existente. (SPN I, cap. 9, p. 179, lin. 6-86).

Mas, para se dizer que a matéria é uma entidade em ato, não seria também necessário defender que a matéria é uma entidade em ato realmente separada da forma? Em outras pa-lavras, a matéria é, de fato, algo em ato realmente separado da forma ou a matéria é tomada por Ockham como algo separado da forma apenas segundo a razão?

3 Veja, infra, “Abreviaturas”.

4 “Quod autem materia sit quaedam entitas actualis manifestum est, quia illud quod non est, nullius entis potest

esse pars vel principium; sed materia actualiter est pars et principium entis compositi, igitur ipsa est actualiter entitas in actu.”

5 “Aliter dicitur substantia magis stricte omnis res quae non est accidens realiter inhaerens alteri. Et sic

substan-tia dicitur tam de materia quam de forma quam esubstan-tiam de composito ex utrisque.”

6 “materia est quaedam res actualiter exsistens in rerum natura, quae est in potentia ad omnes formas

substantiales, nullam habens necessario et semper sibi inexsistentem”. Segundo a tradução de Maurer 1999, p. 388: “[Matter is defined as] a thing (res) actually existing in the real world, capable of receiving all substantial forms, but having no one of them necessarily and always existing in it.”. Wolter (1963a, p. 150) parafraseia esse texto assim: “As such it [sc. materia prima] is a subject for all substantial forms and yet it does not possess any as something necessary to itself or as something which always inheres in it.”.

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Como veremos, do ponto de vista que deve ser o de Ockham, esta última questão não descreve o problema de um modo adequado. Ockham defende que a matéria é algo realmente

distinto da forma ao mesmo tempo em que defende que a matéria não pode existir sem a

forma. O mesmo vale para a forma: a forma que pertence ao composto é algo realmente

distinto da matéria ao mesmo tempo em que não pode existir sem a matéria. Mas seria

pos-sível assumir essa resposta como razoável? Segundo Allan Wolter,

Ockham obviamente está preocupado em defender a opinião segundo a qual se a ma-téria tem de cumprir sua função como um substrato que mantém sua identidade

en-quanto sujeito a formas diferentes, ela deve ser realmente distinta de toda e qualquer

forma. A matéria é algo além de uma abstração conceitual separada da forma, e o

mesmo é verdadeiro a respeito da forma separada da matéria. Ambas são entidades

positivas de pleno direito. Essa é a única interpretação que tornaria sensato o ensina-mento de Aristóteles tomado como um todo. Alguém poderia interpretar o que ele diz no primeiro capítulo do livro II da Física como uma evidência do contrário, mas isso, assim como o comentário de Averróis sobre isso, deve ser glosado à luz de seu ensi-namento como um todo. (Wolter 1963a, p. 150. Os itálicos são nossos.).

Segundo Wolter, é a intenção de Ockham que a matéria seja uma entidade positiva de pleno direito que serve como sujeito ou substrato a diferentes formas: independentemente da forma recebida, enquanto matéria, excluída a forma, a matéria sempre mantém sua

iden-tidade. De fato, Ockham defende que tanto o texto de Aristóteles como o Comentário de

Averróis devem ser lidos como defendendo que a matéria e a forma são duas coisas diversas, e que o comentário de Averróis, de acordo com o qual a matéria e a forma são “separadas por definição”, deve ser entendido como uma referência ao fato de que a matéria e a forma tem essências diferentes e independentes, e não exatamente como destacando algo separado apenas pela razão – a palavra “definição”, portanto, não sendo tomada como nada diverso de “essência”. Ockham escreve:

Cumpre notar que quando o Filósofo diz que a forma não é separada da matéria senão segundo a razão e o Comentador diz no comentário 12 que a forma ‘é separada da matéria apenas por definição’, eles não pretendem dizer que a matéria e a forma são uma única coisa, distintas apenas segundo a razão e a definição. O que eles têm a intenção de dizer é que a forma não é separada da matéria de modo a poder ser sem

a matéria, como o Comentador diz naquele mesmo lugar. Mas elas são duas coisas realmente distintas mesmo que a matéria não possa ser despida de toda forma de modo a ser sem a forma. E elas são distintas segundo a razão e a definição, porque

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segue que são coisas distintas. (EPhys. II, cap. 2, § 4, p. 248, lin. 87-977. Na tradução de A. Wolter 1963a, p. 150 s. Os itálicos são meus).

Portanto, de acordo com esse texto, Ockham propõe que, primeiro, a matéria e a forma são duas coisas realmente distintas uma da outra, mesmo que, de fato, elas apenas possam ser separadas pela razão, uma vez que não podem existir, na natureza das coisas, separadas uma da outra. Consequentemente, a matéria não pode ser desnudada de toda forma de modo a poder existir ou ser sem a forma. Fundamentalmente, para Ockham não há contradição em dizer que a matéria e a forma são coisas realmente distintas ao mesmo tempo em que elas não podem existir como coisas separadas, ou, em outras palavras, que elas apenas podem ser separadas pela razão. Note-se, portanto, que elas não são coisas diferentes em virtude de uma imposição racional: sua distinção tem como base o fato de que há na alma noções (ou essên-cias) diferentes para cada uma delas, o que indica que elas são coisas realmente diversas. Por essas noções, o intelecto apreende a matéria e a forma como coisas em ato e independentes uma da outra ao compará-las8.

Ainda a respeito da atualidade da matéria, Ockham segue sua argumentação assim: Além disso, apenas uma razão pode ser dada para que não haja uma matéria em ato: porque nunca há matéria sem forma. Mas, tal como nunca há matéria sem forma, também nunca há forma sem matéria. Portanto, pela mesma razão que não se diz que há matéria em ato – porque nunca há matéria sem forma –, cumpre dizer que não há forma em ato: porque nunca há forma sem matéria. O consequente é falso; portanto, também aquilo de que ele se segue. (SPN I, cap. 10, p. 181, lin. 13-179).

7 “Quarto notandum est quod quando dicit Philosophus quod forma non separatur a materia nisi secundum

rationem et Commentator dicit, commento 12, quod forma ‘est separata a materia secundum definitionem tantum’, non intendunt quod materia et forma sint una res et distincta tantum secundum rationem et definitionem, sed intendunt quod forma non est separata a materia ita quod possit esse sine materia, sicut dicit Commentator ibidem. Sed tamen sunt duae res distinctae realiter quamvis materia non possit denudari ab omni forma ita ut sine forma, et distinguuntur ratione et definitione, quia scilicet habent distinctas rationes in anima quae est declarativa essentiae unius et non alterius, et ex hoc ipso sunt distinctae res”.

8 Com efeito, o intelecto sempre apreende a matéria em contraste com a forma. Por exemplo: EPhys. II, cap. 5,

p. 291, lin. 35-38: “Notandum est, sicut frequenter est tactum, quod strictissime accipiendo hoc vocabulum ‘materia’, nihil est materia nisi quod recipit in se formam absolutam distinctam realiter et secundum se totam ab illa materia.” E, ainda, SPN I, cap. 14, p. 195, lin. 18-25: “Oportet autem scire quod hoc non solum verum est de materia sed etiam de forma, quia forma substantialis a nobis per aliam viam cognosci non potest; immo sicut materia cognoscitur per analogiam ad formam, ita forma substantialis cognoscitur per analogiam ad materiam. Nec potest cognosci esse formae, accipiendo formam non pro qualibet re existente quae non est materia sed pro re nata informare aliam, nisi cognoscatur aliquo modo materia, sicut nec aliquis potest cognoscere ‘esse pater’ nisi cognoscatur aliquo modo ‘esse filius’.” (Os itálicos e o sublinhado são nossos).

9 “Praeterea, si materia non esset in actu, hoc non esset nisi quia materia numquam est sine forma; sed sicut

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A fim de entendermos isso, primeiro, devemos ter claro o que no argumento é dito ser falso. Falsa é a razão dada para a impossibilidade da existência da matéria em ato. Mais precisamente, Ockham está defendendo o seguinte: o fato de que nunca há matéria sem forma ou de que nunca há forma sem matéria no composto, assim como não exclui a existência de uma forma em ato, não exclui a existência de uma matéria em ato. É preciso notar, portanto, que é diversa a consideração do que é a matéria por si e a consideração da matéria como parte de uma relação: por si mesma, a matéria é sempre algo em ato, mesmo que, em relação à forma, ela esteja apenas em potência. “Potência” e “ato” são nomes relativos, donde, por si, a potência e o ato não podem ser nem acidentes nem substâncias.

Cumpre dizer que a potência não é uma relação com fundamento na matéria, mas é a própria matéria e não algo com fundamento nela. No entanto, o nome “potência” é um nome relativo que pode ser apresentado como verdadeiro (verificari) na matéria e que pode supor pela matéria. E não se requer para isso que a matéria possua algo em si, mas basta que a matéria possa possuir algo que não possui, assim como um homem está em potência para a brancura não porque possui algo em ato sobre a bran-cura, mas porque ele pode possuir a brancura que não possui.

[...]

Portanto, cumpre dizer que a potência não é algo que existe na matéria, mas é a pró-pria matéria, e a matéria, com relação à forma substancial, é ela mesma a potência. E é uma locução mais precisa a que diz que a matéria é a potência com respeito à forma substancial do que a que diz que a matéria está em potência com respeito à forma substancial, embora os autores tomem uma pela outra. (SPN I, cap. 10, p. 183, lin. 62-69; p. 185, lin. 107-11210. Os itálicos são nossos.).

Temos, portanto, dois pontos a observar. Primeiro, a matéria é algo em si mesma, independentemente da forma. Isso significa que a potência e o ato não devem ser tomados como coisas opostas de modo a não poderem ser encontrados (non verificantur: não são apre-sentados como verdadeiros) numa mesma coisa. É perfeitamente possível que a matéria esteja

actu esse, quia numquam est sine forma, eadem ratione diceretur formam non esse in actu, quia numquam est sine materia. Consequens est falsum, igitur illud ex quo sequitur.”

10 “Ad primum istorum dicendum quod potentia non est relatio fundata in materia, sed est ipsamet materia et

non fundatur in ea. Tamen hoc nomen potentia est nomen relativum natum verificari de materia et natum supponere pro materia. Nec ad hoc requiritur quod materia habeat aliquid in se, sed sufficit quod possit habere aliquid quod non habet, sicut homo est in potentia ad albedinem, non quia habet aliquid actu de albedine sed quia potest habere albedinem quam non habet.”; “Dicendum est igitur quod potentia non est aliqua res existens in materia, sed est ipsa materia, et ipsa materia respectu formae substantialis est potentia. Et magis propria locutio est dicere quod materia est potentia respectu formae substantialis quam quod materia est in potentia respectu formae substantialis, quamvis auctores utantur una pro alia.”.

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em ato com respeito a si mesma e, ao mesmo tempo, esteja em potência ou seja potência com respeito à forma. Segundo, então, quando dizemos que a matéria está em potência (ou, como vimos Ockham sugerir há pouco, que a matéria é potência) com respeito à forma, não dize-mos haver algo na matéria que não seja a própria matéria. A potência e o ato conotam coisas diversas e podem estar juntos numa mesma substância:

Cumpre dizer que, tomados de um modo tão geral, nem a potência nem o ato são opostos, uma vez que a potência para a forma e o ato existente na natureza das coisas não são opostos; contudo, estar em potência para uma forma e estar em ato sob aquela forma são verdadeiramente coisas contrárias; mas essas coisas não partilham simul-taneamente a matéria. (cf. SPN I, cap. 10, p. 185, lin. 130-p. 186, lin. 13411).

Aqui, segundo Allan Wolter (1963a, p. 156),

Potência não é um termo absoluto como ‘forma substancial’, ‘calor’ ou ‘sensação’. Os últimos denotam mas não conotam. Eles têm uma significação primária, mas não têm uma secundária. Eles apontam para alguma substância ou algum acidente abso-luto. ‘Potência’, pelo contrário, é um termo conotativo. Em sua significação primária ou denotação, ele aponta para a substância ou realidade chamada matéria. Secundari-amente, ele conota alguma forma não existente. Dizer que a matéria é potência, por-tanto, é dizer nada mais misterioso ou intrigante do que que esta matéria que é um sujeito pode ter uma forma diferente daquela que ela tem no presente. Nesse sentido, a potência não está em oposição com qualquer atualidade. A oposição surge apenas entre dois estados que são verdadeiramente contrários, a saber, “em potência a uma forma particular” e “atualmente informada por esta forma particular”.

Em suma, até agora vimos Ockham afirmar a existência atual da matéria enquanto uma entidade que é algo em ato por si mesmo, não sendo este ato devido a uma forma, ao mesmo tempo em que adverte que termos como ato e potência são conotativos, significando com isso, no caso da matéria, que matéria não pode ser identificada com potência sem qual-quer contextualização:

a matéria não é dita ‘pura potência’ porque não é algo existente na natureza das coisas, mas porque ela não tem alguma forma substancial inseparável dela: por isso está em potência para todas as formas. (BSP I, cap. 3, p. 24, lin. 143 ss. 12; Ockham 1989, p. 22).

11 “Ad tertium dicendum est quod potentia et actus sumpta sic generaliter non sunt opposita, quia potentia ad

formam et actus exsistens in rerum natura non sunt opposita; tamen esse in potentia ad formam et esse actu sub illa forma sunt vere contraria; sed illa non competunt simul materiae.”.

12 “Quarto notandum propter auctoritatem Philosophi quod non ideo dicitur materia ‘pura potentia’ quia non sit

aliquid existens in rerum natura, sed quia non habet aliquam formam substantialem inseparabilem ab ea, ideo est in potentia ad omnes formas.”.

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Como se vê, mesmo a matéria prima é uma matéria existente na natureza das coisas, tal como Ockham reafirma também em sua Expositio Physicorum:

Deve-se notar que a matéria prima não é pura potência de modo a não ser por si algo existente na natureza das coisas; antes, é atualmente existente por si entre os entes – portanto, ela é ‘por si’ assim como a forma substancial –, de tal modo que, se, de um modo que seria impossível, ela fosse sem qualquer forma, nenhum agente seria capaz de destruí-la segundo a intenção do Filósofo. E, desse modo, embora tenha seu ser desde a forma – o que não é senão ter a forma –, a matéria, porém, é existente em ato por uma essência própria, por mais que não sem a forma. Ora, a matéria é dita pura potência porque nem tem a forma como parte dela nem alguma forma substancial como uma parte necessariamente unida a ela. E é assim que todas as autoridades de-vem ser glosadas: quando dizem que “a matéria não está em ato”, elas pretendem que ela não possui uma forma substancial que seja inseparável dela; quando dizem que “a matéria é pura potência”, elas pretendem que a matéria está em potência para a forma substancial de qualquer que seja a espécie. (EPhys. I, cap. 18, p. 206, lin. 26-3813.). Portanto, embora a matéria não possa existir sem a forma, ela possui por si uma es-sência própria pela qual pode existir, ou seja, embora sua existência sempre requeira uma forma, a matéria não se confunde com a forma14, visto que “a matéria nem tem a forma como parte dela nem alguma forma substancial como uma parte necessariamente unida a ela”. Re-sumindo, matéria e forma são coisas distintas e não há nenhuma forma especial inseparável da matéria a definir a sua existência enquanto matéria. Desse modo,

Deve-se dizer que por mais que a matéria seja potência para a forma, ela não é, porém, sempre potência para aquela forma, mas é apenas potência para aquela forma quando não a possui e pode possui-la. E nada mais importa esta proposição: ‘a matéria está em potência para aquela forma’. E, por isso, quando se diz ‘pode haver uma matéria sem potência para aquela forma’, deve-se dizer que essa proposição pode possuir um duplo entendimento, um dos quais é este: é possível haver matéria e que ela não seja potência para aquela forma, e este é um entendimento verdadeiro. Mas não se segue disso que ela não seja potência para aquela forma, mas que pode não ser potência para aquela forma, o que é completamente verdadeiro. Donde, tal como nada impede que Sócrates possa não ser branco mesmo que, na verdade das coisas, ele seja branco,

13 “Secundo notandum est quod materia prima non est pura potentia ita quod non sit de se actualiter existens in

rerum natura, immo est de se actualiter existens inter entia, ita de se sicut forma substantialis, in tantum quod si per impossibile esset sine omni forma, nullum agens posset eam destruere secundum intentionem Philosophi. Et ideo quamvis esse habet a forma, quod non est aliud quam habere formam, tamen ipsa est actu existens per essentiam propriam quamvis non sine forma. Sed ideo dicitur pura potentia, quia non habet formam tamquam partem sui nec tamquam partem sibi necessario coniunctam aliquam formam substantialem. Et isto modo glossandae sunt omnes auctoritates quae dicunt quod ‘materia non est in actu’, hoc est non habet aliquam formam substantialem inseparabilem ab ea, ‘materia est pura potentia’, hoc est materia est in potentia ad formam substantialem cuiuscumque speciei.”.

14 Isto é, “... embora tenha seu ser desde a forma – o que não é senão ter a forma –, a matéria, porém, é existente

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assim, nada impede que a matéria possa não ser potência para aquela forma, mesmo que, na verdade das coisas, ela seja completamente potência para aquela forma. Outro entendimento pode ser este: que pode haver matéria sem aquela coisa que é agora potência para aquela forma, e este sentido é falso, tal como não pode haver um homem sem aquela coisa que é agora branca; e, ainda assim, o homem é branco contingente-mente. (SPN I, cap. 10, p. 185, lin. 113-12915).

Para Ockham, a matéria é dita potência para a forma apenas quando ela não possui aquela forma, mas pode possui-la, o que significa que a matéria é tomada enquanto potência apenas quando considerada como algo que pode ser relacionado com uma forma. Mas, no mesmo texto, Ockham também sugere que, por si, a matéria é “certo ato” enquanto existe na natureza das coisas, e, nesse sentido, a matéria não está em potência nem é potência para qualquer ato, dado que não está em potência para si mesma:

Cumpre saber que ‘ato’ tem vários sentidos: às vezes é tomado estritamente pelo ato que informa outro e advém a ele; outras vezes é tomado como o contrário de ser em potência, isto é, como o contrário daquilo que que não está na natureza das coisas, mas pode estar. Tomando ato no primeiro sentido, deve ser dito que a matéria está em potência para todo ato substancial e não possui qualquer ato por si, mas é pura potên-cia se distinguirmos a potênpotên-cia como o contrário do ato tomado nesse sentido, porque, assim, o ato é tomado pela forma substancial que advém à matéria pela primeira vez [sc. ‘de novo’]. E é neste sentido que o Comentador entende ‘ato’, e essa é a razão pela qual cada uma de suas autoridades é verdadeira. Entendendo o ato de um segundo modo, digo que a matéria é certo ato, isto é, a matéria é algo que existe na natureza das coisas; e ela não está em potência para qualquer ato, pois ela não é potência para si mesma. (SPN I, cap. 10, p. 182, lin. 27-3916).

15 “Ad secundum dicendum quod quamvis materia sit potentia ad formam, non tamen semper est potentia ad

illam formam, sed solum est potentia ad illam formam quando non habet eam et potest habere eam. Nec plus importatur per hanc propositionem ‘materia est in potentia ad illam formam’. Et ideo quando dicitur ‘materia potest esse sine potentia ad illam formam’, dicendum quod ista propositio potest habere duplicem intellectum, quorum unus est iste: possibile est quod materia sit et quod non sit potentia ad illam formam, et iste intellectus est verus. Sed ex hoc non sequitur quod non sit potentia ad formam illam, sed quod potest non esse potentia ad formam illam, quod utique est verum. Unde sicut non obstante quod Sortes possit non esse albus, tamen in rei veritate est albus, ita non obstante quod materia possit non esse potentia ad illam formam, tamen in rei veritate omnino est potentia ad illam formam. Alius intellectus potest esse iste: quod materia potest esse sine illa re quae nunc est potentia ad illam formam, et hic sensus est falsus, sicut nec homo potest esse sine illa re quae nunc est alba, et tamen contingenter homo est albus.”.

16 “Ad evidentiam istorum et consimilium est sciendum quod actus multipliciter accipitur: aliquando accipitur

stricte pro actu informante aliud et adveniente sibi; aliquando accipitur prout distinguitur contra esse in potentia, hoc est contra illud quod non est in rerum natura sed esse potest. Primo modo accipiendo actum, dicendum est quod materia est in potentia ad omnem actum substantialem et nullum actum habet de se, sed est pura potentia, distinguendo potentiam contra actum sic sumptum, quia tunc actus sumitur pro forma substantiali adveniente de novo materiae. Et si accipit Commentator actum, et ideo omnes auctoritates suae sunt verae. Secundo modo accipiendo actum, dico quod materia est quidam actus, hoc est materia est existens in rerum natura; nec est in potentia ad omnem actum, quia non est in potentia ad se ipsam.”.

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“Ato”, aqui, é entendido como algo distinto, de um modo contrário, de “ser em po-tência”, isto é, algo contrário a tudo que, embora não esteja na natureza das coisas, pode estar. “Ato”, portanto, não é senão existir, existir na natureza das coisas. Finalmente, desse modo, a dificuldade em se entender o significado da posição de Ockham aparece claramente: “exis-tir na natureza das coisas” ou “ser um certo ato” não é exatamente o mesmo de “exis“exis-tir em ato sem a forma”, dado que não há matéria sem forma. Como se pode ver no texto da

Expo-sitio Physicorum, Ockham insiste na fórmula segundo a qual embora a matéria sempre esteja

em ato com uma forma, é possível dizer que a matéria é algo “na natureza das coisas” não em razão da forma, mas que ela é algo na natureza das coisas em razão de sua própria

es-sência:

Deve-se saber que quando o Comentador diz que se a matéria fosse desnudada de todas as formas, então, aquilo que não está em ato estaria em ato, ele não entende que a matéria não está na natureza das coisas segundo sua essência, mas ele entende que não há como a matéria estar em ato sem a forma, e, consequentemente, se a matéria fosse desnudada de todas as formas, aquilo que não pode de nenhum modo ser sem a forma, seria em ato sem a forma; mas não entende que aquilo que não está na natureza das coisas estaria na natureza das coisas, porque a matéria por si mesma sempre está na natureza das coisas, mesmo que não esteja sem a forma. (cf. EPhys. II, cap. 2, §4, p. 248, lin. 98-p. 249, lin. 10517. Os itálicos são nossos.).

Como acabamos de ver, a matéria deve ser tomada como “algo na natureza das coi-sas” por direito, e não apenas por meio de uma distinção de razão: matéria e forma não são “distintas uma da outra apenas por razão e definição”. E aqui nós precisamos enfatizar: não

apenas. Elas são distintas desse modo ao mesmo tempo em que “elas são duas coisas, real-mente distintas, muito embora a matéria não possa ser desnudada de toda forma de modo a

existir sem a forma”18. Montada desse modo, a prova da distinção real entre a matéria e a forma parece estar de algum modo ancorada ou, ao menos, ser ilustrada pelo próprio fato de que elas podem ser distinguidas por razão e definição. Aparentemente, portanto, todo o pro-blema é compreender o que Ockham está entendendo por “existir na natureza das coisas

se-gundo sua essência” [sc. “esse in rerum natura secundum suam essentiam”], ou, talvez, o

17 “Quinto sciendum quod quando Commentator dict quod si materia denudaretur ab omnibus formis, tunc quod

non est in actu, esset in actu, non intendit quod materia non sit in rerum natura secundum suam essentiam, sed intendit quod materia nullo modo est in actu sine forma, et per consequens si denudaretur ab omnibus formis, illud quod nullo modo potest esse in actu sine forma, esset in actu sine forma; non quod tunc illud quod non est in rerum natura, esset in rerum natura, quia materia de se semper est in rerum natura quamvis non sit sine forma.”.

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que é essa “natureza das coisas” na qual a matéria pode existir “segundo sua essência” ou “sua própria definição”, isto é, por si.

* * *

No início de seu Comentário para o livro II da Física de Aristóteles, Ockham descreve a natureza como o “princípio para algo e a causa de seu movimento e repouso, e a natureza está nele primariamente e por si, e não segundo o acidente.”. (EPhys. II, cap. 1, § 3, p. 215, lin. 6 ss. 19). Considerada enquanto um princípio “primariamente e por si”, a natureza pode ser distinta da arte, que não é um princípio por si da coisa que produz. De acordo com Ockham, as coisas artificiais ou artefatos são caracterizados como coisas que não têm em si mesmas o princípio do movimento:

aqueles que são naturezas, isto é, aqueles que são naturais, parecem ter em si mesmos o princípio do movimento e do estado, isto é, do repouso, assim como alguns naturais têm em si o princípio do movimento local, outros têm em si o princípio do movimento de crescimento e de diminuição, outros têm em si o princípio de movimento de alte-ração. Mas aqueles que são artificiais e não naturais não têm em si o princípio do movimento e do repouso; ... (EPhys. II, cap. 1, § 2, p. 215, lin. 6-1220).

As coisas artificiais não possuem em si o princípio do movimento, ainda que, às ve-zes, algo possa ser feito pela arte mais apto ao movimento que já é natural a ele, tal como, por exemplo, uma figura particular é mais adequada a certo movimento que outra (cf. EPhys. II, cap. 1, § 4, p. 228, lin. 389-40121).Mas uma característica ainda mais importante da coisa artificial é o fato de que o artefato não pode ser produzido como algo que é trazido à existên-cia pela primeira vez [sc. ‘de novo’], como algo completamente novo (EPhys. II, cap. 1, § 4, p. 220, lin. 130-13422):

as coisas artificiais não adquirem alguma coisa substancial nova enquanto existem pela arte; e não são naturais enquanto existem pela arte porque não têm a matéria nem

19 “... natura est principium alicuius et causa ut moveatur et quiescat, in quo est primo et per se et non secundum

accidens.”.

20 “... illa quae sunt natura, hoc est quae sunt naturalia, videntur habere in se ipsis principium motus et status,

hoc est quietis, sicut aliqua naturalia habent in se principium motum localis, aliqua habent in se principium motus augmentationis et diminutionis, aliqua habent in se principium motus alterationis. Sed illa quae sunt artificialia et non naturalia, non habent in se principium motus et quietis; ...”.

21 “... quamvis artificialia non habeant in se principium motus, tamen aliquando ars facit quod aliquid aptius est

aliquem motum quem habet ex natura quam prius, secundum quod una figura aptior est ad motum quam alia.”.

22 “... dicendum quod ‘generatio’ dupliciter accipitur sicut dictum est in I libro. Vel pro generatione alicuius

novae rei secundum se totam; et illa potest vocari generatio simpliciter, quia scilicet aliquid est de novo secundum se totum quod prius non fuit, et talis generatio est semper per adquisitionem novae rei. ...”.

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a forma substancial enquanto existem pela arte. (EPhys. II, cap. 1, §4, p. 228, lin. 404-40723).

A produção do que é artificial é baseada principalmente no movimento local, como quando cortamos a madeira em pedaços, separando suas partes, ou quando ajuntamos pedras a fim de construir uma casa:

Deve-se dizer que as coisas artificiais não são feitas por tal produção de uma coisa nova, mas para que essas coisas artificiais sejam produzidas basta que o mesmo seja movido localmente, ou basta aproximar localmente do modo correto coisas naturais diferentes ou separar localmente algumas delas. ... (EPhys. II, cap. 1, § 4, p. 219, lin. 102-10524).

Consequentemente, parafraseando a definição de natureza, podemos chamar a maté-ria e a forma de princípios naturais de algo na mesma medida em que elas puderem ser ditas o “princípio de algo e a causa de seu movimento e repouso de um modo primário e por si”. Para Ockham,

deve-se notar que toda coisa natural, enquanto é natural, tem em si algo que é essen-cial para ela, que, colocado nela, e tudo o mais circunscrito, pode mover-se por algum movimento determinado, tal como o movimento local ou algum outro, embora tal movimento não possa ser reduzido ao ato se não por meio de um motor extrínseco. E, assim, não pertence à noção de natureza ser um princípio ativo do movimento, mas, antes, pertence à noção de natureza ser o princípio passivo do movimento ou o prin-cípio ativo do movimento daquele móvel do qual é parte essencial, tal como não per-tence à noção de natureza mover aquilo em que ela está, mas, antes, perper-tence à noção de natureza que a própria coisa na qual ela está, esteja em movimento ou em repouso. [...]

Algo semelhante acontece com os passíveis de geração e corrupção: embora não se-jam gerados por si mesmos nem haja neles algum princípio ativo de geração, no en-tanto, porque está neles a matéria pela qual, quando colocada, podem ser gerados – e não podem ser separados dela de modo a algo poder ser gerado e, no entanto, não ter matéria –, então têm em si o princípio da geração, embora essa geração não possa ser em ato sem uma causa extrínseca. (EPhys. II, cap. 1, § 4, p. 229, lin. 411-420; 426-43125. Os itálicos são nossos.).

23 “Quia scilicet artificilia non adquirunt aliquid substantiale novum in quantum sunt ab arte; et ideo non sunt

naturalia in quantum sunt ab arte, quia non habent materiam neque formam substantialem in quantum sunt ab arte.”.

24 “Ideo dicendum est quod non fiunt artificialia per talem productionem novae rei, sed ad producendum

artificialia sufficit movere localiter idem vel sufficit diversa naturalia modo certo approximare localiter vel separare aliqua localiter. ...”.

25 “Secundo principaliter notandum est quod omne naturale in quantum naturale habet in se aliquid ei essentiale.

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Pode-se ver que a natureza é um princípio ativo ou passivo do movimento e que não cabe à sua noção ser antes um que outro. A natureza não é o princípio do movimento da coisa natural exatamente porque a move, mas, antes, é o princípio do movimento dela enquanto é aquilo pelo que a coisa existe e, apenas porque existe, é movida. Precisamente nesse sentido, o princípio ativo da geração no gerável e corruptível não pode ser algo nele – uma vez que ele não pode ser seu próprio princípio, mas, por outro lado, seu princípio passivo, a saber, a matéria pela qual ele existe enquanto gerável e corruptível, pode ser nele, “uma vez que algo que é gerado não pode ser sem matéria”.

Caracterizada como o princípio passivo do movimento da coisa natural, a matéria é entendida como o princípio passivo do movimento que é uma alteração substancial. Mas, entendida desse modo, a matéria é um princípio enquanto for a própria coisa a ser alterada. Ockham escreve:

[Sobre a alteração substancial] cumpre dizer que o princípio dessa alteração, a natu-reza, é a própria matéria, seja ela matéria prima, seja uma outra que vem depois dela, e é princípio passivo, e, falando propriamente, não está no que é alterado desse modo,

mas é, essencialmente, aquilo que é alterado desse modo; assim como, na geração do

fogo, a matéria prima é o que é alterado, isto é, o que primeiro carece de forma subs-tancial e depois a tem e é princípio passivo dessa alteração. (EPhys. II, chap. 1, § 4, p. 234, lin. 598-p. 235, lin. 60426).

Desse modo, voltando à questão inicial a respeito do que significa sustentar que a matéria é algo em ato, existente por si, independentemente da forma, parece que Ockham sugere que a matéria é algo existente por si e independentemente da forma na medida em que é princípio passivo da alteração substancial das coisas naturais. Como tal, a matéria é certo ato ou, mais propriamente, uma entidade (entitas) em ato na natureza das coisas, ao menos enquanto esse princípio passivo é algo diverso daquela forma substancial com a qual está

alio, quamvis talis motus non posset reduci ad actum nisi per motorem extrinsecum. Et ita non est de ratione naturae quod sit principium activum motus, sed magis est de ratione naturae quod sit principium passivum motus vel principium activum motus illius mobilis cuius est pars essentialis. Sicut non est de ratione naturae quod illud in quo est moveat, sed magis de ratione naturae est quod illud in quo est moveatur vel quiescat. [...] Similer est de generabilibus et corruptibilibus quod quamvis non generentur ex se nec sit in eis aliquod principium activum generationis, quia tamen est in eis materia qua posita possunt generari – et ista non possunt dividi, ut scilicet aliquid generetur et tamen non habeat materiam –, ideo habent in se principium generationis, quamvis ista generatio non possit esse in actu sine causa extrinseca.”.

26 “Circa quam est dicendum quod principium alterationis talis, quod est natura, est ipsa materia, sive prima

materia sive aliqua sequens, et est principium passivum, et proprie loquendo non est in illo quod sic alteratur, sed est essentialiter illud quod sic alteratur. Sicut in generatione ignis materia prima est illud quod alteratur, hoc est quod primo caret forma substantiali et postea habet eam, et est principium passivum illius alterationis.”.

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envolto. Assim, embora esta substância que carece da determinação da forma não possa exis-tir ou ser um ente em ato isolada da forma, ela claramente é algo diverso da forma. E o mesmo vale para a forma do composto: ainda que não possa existir isolada da matéria – ao menos no que toca ao princípio do seu existir –, a forma do composto é, evidentemente, algo diverso da matéria.

Sendo, desse modo, a distinção real da matéria e da forma uma distinção entre coisas que não podem, de fato, existir separadamente, parece necessário perguntar se essa distinção entre matéria e forma não cairia sob a mesma crítica que o próprio Ockham propôs à distinção entre essência e existência. Sobre ela, Ockham escreveu:

E uma vez que mencionamos o ser existir, cumpre considerar um tanto digressiva-mente sobre de que modo o ser existir se vincula à coisa, a saber, se a essência da coisa e o ser da coisa, fora da alma, são dois e distintos entre si. E me parece que não há esses dois e que o ser existir não significa algo distinto da coisa, pois, se signifi-casse, seria ou substância ou acidente. Não é acidente, porque então o ser existir do homem seria qualidade ou quantidade, o que é manifestamente falso, tal como é pa-tente de modo indutivo. Também não pode ser dito substância, porque toda substância ou é matéria ou forma ou composto ou substância abstrata. Ora, é manifesto que ne-nhum desses pode ser dito ‘ser’, se ‘ser’ for uma coisa diferente da entidade da coisa. (SL III-II, cap. 27, p. 553, lin. 3-1227).

De acordo com Ockham, uma coisa apenas pode existir “extramentalmente” ou “fora da alma”, isto é, na natureza das coisas, se for uma substância ou um acidente. O problema com o “ser existir”, isto é, com a palavra “ser” tomada no sentido de “existir”, ou, mais sim-plesmente, com a “existência” é que ela não é nem uma substância nem qualquer acidente diverso da própria coisa na qual ele é dito existir. Desse modo, “existência” é uma coisa: exatamente a mesma coisa que é dita existir.

Algo pode ser dito, de modo proporcional, sobre a essência e sobre a existência de uma coisa se ambas forem consideradas como duas coisas diversas. Escreve Ockham:

Ainda, se a essência e o ser fossem duas coisas, ou fariam o uno por si ou não. Se fizessem, seria preciso que um fosse ato e o outro potência; e, consequentemente, um

seria matéria e o outro forma, o que é absurdo. Se não fizessem o uno por si, então,

27 “Et quia tactum est de esse exsistere aliquantulum disgrediendo considerandum est qualiter esse exsistere se

habet ad rem: utrum scilicet essentia rei et esse rei sint duo extra animam, distincta inter se. Et mihi videtur quod non sunt talia duo, nec esse exsistere significat aliquid distinctum a re: quia si sic, aut esset substantia aut accidens. Non accidens, quia tunc esse exsistere hominis esset qualitas vel quantitas; quod est manifeste falsum, sicut inductive patet. Nec potest dici quod est substantia, quia omnis substantia vel est materia vel forma vel compositum vel substantia abstracta. Sed manifestum est quod nullum istorum potest dici ‘esse’, si ‘esse’ sit alia res ab entitate rei.”.

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seriam um apenas por agregação, ou fariam apenas o uno por acidente, donde se se-guiria que um seria o acidente do outro.” (SL III-II, cap. 27, p. 553, lin. 13-1828. Os itálicos são meus.).

Claramente, a proposta desse texto é a de que a matéria e a forma são duas coisas que constituem algo intrinsecamente uno (sc. “per se unum”). Mas a essência e o ser não são nem matéria nem forma, portanto, não são aquilo que constitui o uno por si. Ora, se essência e ser não constituem o uno por si, mas ainda assim constituem algo uno, então, essa unidade se daria por agregação ou acidente, donde, necessariamente, um deles teria de ser o acidente do outro. No entanto, o que nos põe um problema aqui não é exatamente a afirmação da unidade por si da matéria e da forma, mas a argumentação que é apresentada logo em seguida, assim: Ainda, se (a essência e o ser) fossem duas coisas, não haveria contradição em Deus conservar a entidade da coisa na natureza das coisas sem a existência ou, inversa-mente, a existência sem a entidade, ambas alternativas impossíveis.” (SL III-II, cap. 27, p. 553, lin. 19-2129).

Para Ockham, entitas, res e essentia são palavras que significam a coisa ao modo de um substantivo, enquanto exsistentia e esse são palavras que significam exatamente a mesma coisa ao modo de um verbo30. Uma vez que essas palavras significam uma única e mesma coisa (idem et eadem significant), a razão pela qual Deus não pode preservar uma (essência) sem a outra (ser ou existência) na natureza das coisas é exatamente o fato de que não há sentido em falar sobre uma única e mesma coisa como se fossem duas. Mas, o que dizer a respeito da matéria e da forma? Deus poderia conservar a matéria, na natureza das coisas, sem a forma? A resposta, dado tudo o que vimos antes dessa última discussão, aparentemente, é não: é impossível haver matéria sem forma31. Mas esta resposta não implicaria uma con-tradição frente ao que acabamos de ver mencionado a respeito da onipotência divina?

28 “Item, si essent duae res, aut facerent per se unum aut non. Si sic, oporteret quod unum esset actus et reliquum

potentia; et per consequens unum esset materia et aliud forma, quod est absurdum. Si non facerent unum per se, igitur essent unum aggregatione tantum vel facerent unum tantum per accidens, ex quo sequeretur quod unum esset accidens alterius.”.

29 “Item, si essent duae res, non esset contradictio quin Deus conservaret entitatem rei in rerum natura sine

exsistentia vel e converso exsistentiam sine entitate, quorum utrumque est impossibile.”.

30 Cf. SL III-II, cap. 27, p. 554, lin. 24-25: “Ideo dicendum est quod entitas et exsistentia non sunt duae res, sed

ista duo vocabula 'res' et 'esse' idem et eadem significant sed unum nominaliter et aliud verbaliter; propter quod unum non potest convenienter poni loco alterius, quia non habent eadem officia.”

31 Cf., por exemplo, SPN I, cap. 13, p. 193, lin. 65-70: “Sed quaeritur: si materia esset separata ab omni forma,

cuius quantitatis esset? Dicendum quod positio est impossibilis, ...” – “Mas pergunta-se: se a matéria fosse separada de toda forma, de que quantidade seria? Cumpre dizer que o proposto é impossível, ...”. (Os itálicos são nossos.).

(15)

Ambas, matéria e forma, são substâncias que, por si, isto é, de acordo com sua própria natureza, não podem existir separadas uma da outra na natureza das coisas e que, se existen-tes, constituem algo intrinsecamente uno, o uno por si que é o composto. Recapitulando: “essência” e “ser/existência” não existem na natureza das coisas como coisas separadas por-que, em primeiro lugar, não são mais que signos diversos a significar uma única e mesma coisa de modos diversos. Consequentemente, seria um completo non sense postular que Deus, por sua potência absoluta, poderia conservá-las, ou melhor, que Deus poderia conser-var a única e mesma coisa significada por esses dois nomes como se coisas separadas na natureza das coisas. Portanto, sendo a matéria e a forma duas coisas realmente distintas na natureza das coisas, a única conclusão possível parece ser a de que Deus, por sua potência absoluta, poderia conservá-las separadamente na natureza das coisas.

No entanto, contrariamente ao que se possa esperar, a resposta permanece sendo não, assim como antes. Mas, obviamente, os elementos desses dois pares, “essência e ser/existên-cia” e “matéria e forma”, não podem ser conservados por Deus, na natureza das coisas, como coisas separadas, por razões diferentes. Para compreendê-las, lembremos de algo sobre a onipotência divina: Ockham sustenta que, por sua potência absoluta, Deus apenas pode fazer o que não implica uma contradição quando feito32. Por exemplo:

Na primeira questão do Prólogo de sua Ordinatio33, Ockham argumenta que, pela potência absoluta de Deus, toda coisa absoluta que é distinta, quanto ao lugar e ao sujeito, de outra coisa absoluta, pode existir sem ela34. Mas devemos ter em mente que isso só é possível

32 Por exemplo, Quodl. VI, q. 6, p. 604, lin. 13-17: “Quod probo primo per articulum fidei 3: « Credo in Deum

Patrem omnipotentem ». Quem sic intelligo quod quodlibet est divinae potentiae attribuendum quod non includit manifestam contradictionem; sed istud fieri a Deo non includit contradictionem; igitur etc.” - “O que provo, primeiramente, pelo artigo de fé “Creio em Deus Pai onipotente”, o qual entendo assim: que deve ser atribuído à divina onipotência tudo qaquilo que não inclui contradição manifesta. Ora, que isto seja feito por Deus não inclui contradição; portanto, etc.”. TPTh., Princ. I, p. 507, lin. 2-8: “Deus potest facere omne quod fieri non includit contradictionem. Nota quod non dico quod Deus potest facere omne quod non includit con-traditionem, quia tunc posset facere seipsum. Ipse enim non includit contradictionem. Sed potest facere omne quod fieri non includit contradictionem, id est, omne illud de quo ad hanc propositionem ‘ipsum fit’ non sequitur contradictio.” – “Deus pode fazer tudo que não inclui contradição ser feito. Note que não digo que Deus pode fazer tudo que não inclui contradição, porque, assim, poderia fazer a si mesmo. Com efeito, ele não inclui contradição. Ora, pode fazer tudo que não inclui contradição ser feito, isto é, tudo aquilo sobre o que não se segue contradição quanto a esta proposição ‘isto foi feito’.”. (Os itálicos são nosso.)

33 Cf. Ockham Ord. Prol., q. 1, p. 38, l. 17 – p. 39, lin. 1: “omnis res absoluta, distincta loco et subiecto ab alia

re absoluta, potest per divinam potentiam absolutam exsistere sine illa, quia non videtur verisimile quod si Deus vult destruere unam rem absolutam exsistentem in caelo quod necessitetur destruere unam aliam rem exsistentem in terra.”

34 O mesmo argumento reaparece em Quodl. VI, q. 6, p. 605, lin. 25-28: “Praeterea omnis res absoluta distincta

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quando entendido do seguinte modo: “tudo que Deus produz por meio de causas secundárias pode produzir e conservar imediatamente sem elas”35. Ora, a matéria não é uma coisa abso-luta distinta quanto ao lugar e ao sujeito da forma, nem, principalmente, é algo causado pela forma36. Portanto, mesmo sendo uma coisa realmente distinta da forma, a matéria não pode ser produzida e conservada por Deus na natureza das coisas sem a forma (Dicendum quod

positio est impossibilis..., como citado acima). Parece, portanto, que se a matéria existisse

sem a forma na natureza das coisas pela potência absoluta divina, teríamos, então, criada uma coisa completamente nova, uma vez que seria uma matéria que pode existir separada da forma na natureza das coisas. Mutatis mutandis o mesmo poderia ser dito a respeito da forma (lembrando que, aqui, a forma é sempre tomada como a forma do composto).

Desse modo, uma coisa pode ser realmente distinta de outra e, ao mesmo tempo, não ser separável dela ainda que pela potência absoluta divina – e não há nada de estranho ou de extraordinário nisso. Obviamente, Deus pode, por sua potência absoluta, fazer com que uma matéria* possa existir, na natureza das coisas, sem uma forma, assim como pode fazer existir um homem* que não possa e não queira pecar37. Mas, então, a matéria* já não seria mais matéria, e o homem* já não seria mais homem.

Abreviaturas para as citações da obra de Ockham:

BSP – Brevis Summa Libri Physicorum [in Ockham 1984 and 1989]; EPhys. – Expositio in libros Physicorum Aristotelis [in Ockham 1985];

Ord. – Scriptum in Librum Primum Sententiarum (Ordinatio) [in Ockham 1967]; QPhys – Quaestiones in Libros Physicorum Aristotelis [in Ockham 1984].

stellae in caelo tam sensitiva quam intellectiva est huiusmodi; igitur etc.” - “Além disso, toda coisa absoluta distinta quanto ao lugar e ao sujeito de outra coisa absoluta pode existir pela potência divina estando a outra coisa absoluta destruída. Ora, tanto a visão sensitiva quanto a visão intelectiva da estrela no céu é desse modo; portanto, etc.”.

35 Ockham, Quodl. VI, q. 6, p. 604, lin. 18-20: “Praeterea in illo articulo fundatur illa propositio famosa

theologorum 'quidquid Deus producit mediantibus causis secundis, potest immediate sine illis producere et conservare'.”.

36 Cf. Ockham, EPhys. II, cap. 5, p. 288, lin. 24-28: “Secundo notandum quod quando dicit Commentator quod

‘materia est causa formae’ etc., large accipit causam, sicilicet pro illo sine quo res non potest esse. Similiter quando dicit quod ‘forma est causa materiae’ etc., large accipit causam pro illo quod formaliter perficit illam, et hoc ipsemet satis insinuat in exponendo.”

(17)

Quodl. – Quodlibeta Septem [in Ockham 1980]; SL – Summa Logicae [in Ockham 1974b];

SPN – Summula Philosophiae Naturalis [in Ockham 1984]; TPTh – Tractatus de Principiis Theologiae [in Ockham 1988].

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