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Painel estruturante de informações-base para design de produto do vestuário

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Academic year: 2021

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Painel estruturante de

informações-base para design de

produto do vestuário

Title for SPGD 2016 paper in English

RIQUELME, Alexandra; MEDEIROS, Ligia.

RESUMO: Este artigo apresenta uma análise comparativa teórico-prática através de um painel estruturante de informações-base para design de produto do vestuário. Ela é qualitativa – exploratória e descritiva. Foram utilizadas bases conceituais de autores que escrevem para o setor e questionários aplicados em três empresas da área. Visa atingir o objetivo principal: apresentar uma verificação das bases conceituais e suas abordagens, e das práticas projetuais aplicadas nos setores de design de produto da indústria do vestuário. Este estudo servirá, posteriormente, como conteúdo para mais duas etapas que fazem parte de uma pesquisa macro de doutorado, a do grupo focal, que será efetivado com os mesmos projetistas entrevistados. A etapa final, das melhorias, alterações e refinamento da proposta de painel, tem por objetivo elaborar um instrumento de procedimentos base para a indústria do vestuário que efetivamente seja utilizado e, principalmente, possa potencializar e qualificar as atividades do projetista desse setor. Palavras-chave: Painel Estruturante; Indústria do vestuário; Projetista; Design de produto; Pesquisa e metodologia do design.

ABSTRACT: This paper presents a theoretical and practical comparative analysis through a structural panel of information-based apparel product design. It is qualitative - exploratory and descriptive. conceptual bases of authors who write for the sector and questionnaires in three companies in the area were used. It aims to achieve the main objective: to present a check of the conceptual bases and their approaches, and projective practices applied in product design sectors of the clothing industry. This study will serve later as content for two more steps that are part of a macro doctoral research, focus group, which will be effective with the same respondents designers. The final step, improvements, changes and refinement of the panel proposal aims to develop a basic procedures instrument for the clothing industry that is effectively used, and especially to enhance and qualify the activities of the designer of this sector.

Palavras-chave: Structuring panel; Clothing industry; Designer ; Product design; Design methodology and research.

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1 — Introdução

As abordagens teóricas nacionais que contemplam a indústria do vestuário já estão sendo notadas há alguns anos, porém, os estudos, ao que se refere à formação do profissional desse setor, apresentam, na grande maioria, uma potencialização na criação de produtos sem critérios sistemáticos ou metodológicos para a projetação de novos produtos. Por isso considera-se importante o refinamento de procedimentos sistemáticos de projeto na formação de profissionais que atuarão no setor do vestuário, visto ser recente, e compreende-se que, nessa indústria, sejam ainda utilizadas denominações diferentes e práticas de criação de produtos das mais variadas, desde o aprendizado familiar, das práticas empíricas, que se mostram funcionais, da captação de informações em diferentes lugares, até variadas formações técnicas e profissionais. Estabelecendo-se, assim, uma comparação no que se refere às etapas e, principalmente, as relações entre termos e procedimentos projetuais vindos de bases conceituais, e também das práticas na indústria, para que possa fortalecer e melhorar a proposta da autora do painel estruturante de informações base para design de produto do vestuário.

A presente pesquisa é de natureza qualitativa quanto à abordagem do problema, tendo por características a investigação exploratória e descritiva na medida em que traça um estudo aprofundado nos procedimentos projetuais da indústria do vestuário brasileira. Além disso, são descritas as atitudes projetuais de pessoas inseridas em ambientes criativos da indústria do vestuário, sendo os procedimentos utilizados para a coleta de dados a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e questionários.

2 — Painel estruturante de informações como base de design

de produtos do vestuário

O painel foi elaborado através do conhecimento tácito, empírico e acadêmico da autora acerca do setor da indústria do vestuário. A proposta de painel apresentada tem por base os processos e conceitos utilizados nesse setor, e apresentados por pesquisadores utilizados por ela. As etapas citadas no painel foram mapeadas a fim de verificar os procedimentos mais citados pelos autores como caminhos para projetos de vestuário, assim foram relacionados com a proposta para análise, melhorias e verificação das potencialidades e limitações

Além das motivações da pesquisadora, enquanto conhecimento prático e teórico, verificou-se a importância da indústria do vestuário no Brasil, um setor que apresenta retorno econômico em potencial, enquanto produção e, principalmente, consumo de roupas. Por isso existem quatro motivos fundamentais para a elaboração deste painel: i) verifica-se que os profissionais que trabalham nessa área tendem a recorrer a medidas imediatas para estimular o consumo, e raramente se vê a preocupação com um questionamento dos modelos de oferta de vestuário no mercado. O que se nota é uma imitação de modelos vigentes em outros mercados (comerciais); ii) os profissionais utilizam poucos teóricos ou metodologias nos procedimentos projetuais das indústrias do

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vestuário, iii) nesse setor observa-se pouco desenvolvimento de pesquisas que potencializem fatores competitivos (qualidade, codificação, precisão e adequação às necessidades dos consumidores) para a indústria do vestuário; iv) as informações estruturantes (administrativas, conceituais, valor de marca e necessidade do consumidor) apresentam menor valor na elaboração do projeto do que as tendências de moda e exemplos de marcas de vanguarda renomadas do setor.

2.1 Etapas do painel estruturante

DADOS: informações de estoque e financeiras, concorrentes e briefing da coleção;

 TEMA: análise do banco de dados, tendências globais, história da marca e cultura local;

 VARIÁVEIS: tema, paleta de cores, configurações e tecnologias – materiais – de construção;

 IDEIAS: variáveis, mix de produtos, unidade, economia (alta, média e baixa);

 SELEÇÃO: escolhas das ideias conforme solicitação inicial da proposta do projeto;

 DESENHO TÉCNICO e FICHAS TÉCNICAS: segundo normas técnicas, com base nas teorias das engenharias;

 APRESENTAÇÃO: virtual ou real;

 PLANEJAMENTO DE PRODUÇÃO: conforme fundamentos da engenharia de produção.

Acredita-se que esta proposta de visualização do fluxo de informações pode ser pertinente ao design de produto do vestuário em um painel estruturante que os projetistas possam acessar para qualificar decisões futuras. Esse painel levará em conta os fundamentos do contexto setorial da indústria do vestuário, a análise dos procedimentos de planejamento e desenvolvimento de produto, as sistemáticas de pesquisa, as metodologias para a criação de produtos de vestuário e dados relacionados às competências projetuais de agentes envolvidos com a criação dos produtos para essa indústria.

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Figura 1 – Proposta de Painel para Indústria. Fonte. Elaborado pela autora

3 — Bases conceituais

Nesta seção serão apresentadas as teorias-base que a autora utiliza como definições para um melhor reconhecimento dos produtos desenvolvidos por departamentos de projeto da indústria do vestuário, assim como serão pesquisados os procedimentos apresentados por teóricos que direcionam suas pesquisas ao setor do vestuário.

Diante disso, neste artigo serão utilizados quatro conceitos para tratar das diferentes definições que são utilizadas coloquialmente no setor, e que aqui separaremos e diferenciaremos nas significações e usos, que são: i) o projeto de produto; ii) o desenho de artefatos; iii) o design de moda e iv) o projeto de coleção.

No presente estudo será utilizada a definição de projeto de produto feita por Gomes (2011), considerando que a “projetação de produto [é] realizada por uma equipe interdisciplinar de projetistas: engenheiros, mercadologistas, desenhadores (as)”. Sendo um trabalho em equipe, o papel de seus integrantes é planejar e desenvolver projetos que atentem para aspectos estético-formais, técnico-funcionais e lógico-informacionais do desenho do produto.

O projeto de produto na indústria do vestuário é muito presente nos desenhos de roupas técnico-funcionais, por exemplo, que buscam padrões rígidos, além de segurança e conforto. É o caso do vestuário técnico-industrial e do vestuário esportivo, especialmente desenvolvido para potencializar as habilidades e competências do usuário. Por outro lado, quando se projeta o vestuário como desenho de artefatos, são contextualizadas tipologias e modelos, além da construção das formas do produto e da modelagem na sua totalidade. Considerando os projetos de produtos de vestuário enquadrados nos modismos temporais, é sempre importante considerar o design de moda enquanto processo industrial. Em tal perspectiva, os produtos devem atender às necessidades do usuário em suas funções práticas, estéticas e simbólicas.

Diante das limitadas definições do termo “design de moda”, consideramos a definição de Rech (2002, p. 52) sobre o projetista, em que a “moda é um produto de design [e, portanto,] nessa concepção, o profissional responsável pela criação e desenvolvimento de produto de moda denomina-se designer de moda”.

Como resultado do pensamento e do método projetual, é apropriado enquadrar o produto de moda no contexto do design. Assim, o termo “design de moda” passa a se relacionar, atualmente, ao projeto do produto em si, ou seja, ao ofício do projetista da indústria do vestuário que integra a tecnologia industrial à função estilística e estética desse produto. Assim, ao associar o design de moda à tecnologia industrial, o fator mercadológico ganha peso nas decisões do projeto, visto que o principal objetivo é o consumo. Por isso, há produtos desenvolvidos com a finalidade de atender ciclos de vida bem curtos, como é o caso das coleções.

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Atualmente o termo “coleção” caracteriza um pacote de produtos lançados sazonalmente, com temáticas diversas e, por vezes, também destinados a diferentes tipos de consumidor. Segundo Gomes (1992), a coleção é o conjunto de peças de roupas e/ou acessórios que “dialogam” entre si. Essa relação é contextualizada por um tema que se associa a elementos específicos do consumidor em potencial e, enfim, integra a imagem da marca. Por serem produtos vinculados a um tema, para se obter um resultado coerente na coleção é necessário delimitar o projetista. Renfrew (2011, p. 11) descreve essa importância, salientando que o conjunto de peças pode ter inspiração em uma tendência, tema ou referência de design, sendo normalmente desenvolvido para uma temporada ou ocasião especial e também refletindo, portanto, fortes influências culturais e sociais.

3.1 Bases conceituais sobre design de produto de moda

A fim de entender melhor os processos da indústria do vestuário é preciso verificar a evolução da confecção de artigos desse ramo com o passar dos anos, seus principais representantes, bem como a forte repercussão na indústria desse setor. Considerando que as escolhas por peças estão intrinsecamente relacionadas aos hábitos de consumo de determinado grupo social, as constantes mudanças sócio-históricas permitiram um avanço notório na concepção de novos produtos da indústria do vestuário. A interpretação da vestimenta e dos trajes regionais tal como hoje validamos apresenta registros desde os anos 1900, quando já existia a produção em massa de artigos femininos. O quadro da vida operária, por exemplo, contava com confecções mais rústicas e de fabricação de baixa qualidade, diferentemente dos trajes mais pomposos e extravagantes dos anos antecessores — final do século XIX —, que contavam com saias longas e corpetes bufantes (GRUMBACH, 2009, p.179). Neste percurso temporal, o surgimento das lojas de departamento também contribuiu para a evolução da produção de roupas menos arrojadas, com preços acessíveis e que destacam mais claramente o caráter imaginativo do vestuário.

É interessante observar entre as teorias a divergente interpretação cultural sobre o conceito de vestuário que se constrói na França, onde ela é um refinado objeto de estudo e sinônimo de sofisticação, e nos Estados Unidos, onde passa a adquirir um caráter essencialmente industrial, de cunho econômico, com extenso leque de variedades a baixo custo. No período do pós-II Guerra Mundial, em conjunto com a modernização profunda que já ocorria na indústria do prêt-à-porter, presidida por Albert Lempereur, o padrão da produção têxtil aponta para o surgimento da “indústria do vestuário feminino”. O conceito do prêt-à-porter possui suas raízes na expressão americana ready-to-wear — traduzido como “pronto para ser usado” —, que agregou valores estéticos incomparáveis à concepção do vestuário, ampliando mercados e abrindo espaço para uma clientela mais jovem e exigente. Já na França, ainda no contexto do pós-II Guerra, o projetista Christian Dior inovou o vestuário com a criação do “chique sofisticado”, conceito largamente difundido pela América nos anos seguintes.

No entanto, na medida em que a criatividade e o método deveriam prevalecer para o lançamento de qualquer temática de vanguarda, além da preocupação dos franceses em relação ao “fazer estilo” — que considera a preservação da originalidade do projetista e a arte em si —, a produção em larga escala proposta pelo modelo americano ainda era um difícil obstáculo. Por isso, devido a essas barreiras culturais, o registro de projetistas franceses efetivamente industriais só aconteceu em meados dos anos 60.

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Esta seção está organizada através de uma pesquisa das bases conceituais de teóricos que propõem procedimentos à indústria do vestuário. Os teóricos, pesquisadores e profissionais contemplam esse setor através da evolução ao longo de sua história, e aqui irão ser utilizados para uma análise e verificação da proposta da autora quanto as relações entre termos e as etapas projetuais sugeridas.

3.1.1 Vincent-Ricard

Em As Espirais da Moda (VINCENT-RICARD, 1989), a autora francesa discorre sobre a magnitude da indústria americana no processo de fabricação têxtil, relatando inclusive a reação de empresários franceses diante de tal sistematização político-econômica do setor, pela qualidade dos maquinários, técnica empregada e caráter automatizado na produção dos modelos. Nesse sentido, a ideia de moda como produto utilitário ganha força, alterando a relação do artista estilista com a sua obra.

Diante desse novo perfil de consumidor, a confecção de peças e coleções deveria seguir um cronograma estrategicamente planejado. Vincent-Ricard (1989) esquematiza a metodologia de trabalho deste novo profissional, considerando as seguintes etapas principais:

1. decisão do plano da coleção diante do mercado a que se destina; 2. seleção das cores, que não mais se limitariam aos tons neutros;

3. pesquisa de tecidos que poderiam ser fabricados em série, com diferentes grafismos e harmonizações;

4. definição das formas e, consequentemente, de uma tendência de estilo, visando a coerência de proporções e detalhes da peça e/ou coleção.

3.1.2 Feghali e Dwyer

No livro As engrenagens da moda produzido em 2001, numa parceria entre duas autoras, uma brasileira (Feghali) e outra americana (Dwyer), são consideradas as etapas: decisão sobre a ideia do produto, avaliação preliminar das oportunidades desse produto, estudo detalhado do mercado, decisão de lançamento, desenvolvimento e verificação da aceitação do consumidor. Observa-se que o foco das autoras é a pesquisa em relação ao produto-consumidor-produto, ou seja, lançar a necessidade do consumidor e verificar a aceitação posteriormente. Elas consideram que a concorrência está no estilo e design, a qual exige a capacidade de organização mais flexível da produção, o que possibilita retornos rápidos e possíveis mudanças de acordo com as demandas do consumidor.

3.1.3 Rech

No Brasil, a sistematização dos estudos de metodologia em projetos de moda ainda é recente, sendo representada especialmente por Rech (2002). Na obra Moda: por um fio de

qualidade, a autora apresenta uma sistemática similar à desenvolvida por Vincent-Ricard,

porém com maiores especificações. Rech delineia três principais pontos essenciais no processo de criação do produto da moda: a inspiração proveniente da sensibilidade do estilista, a característica contemporânea da peça e, por fim, a estética e a beleza do estilo de cada uma. Para ela, a qualidade do produto é pautada pela definição precisa de uma

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metodologia de desenvolvimento de produto, levando em conta as tendências e a criatividade, com o objetivo de estruturar variáveis específicas para projetos de moda. Dessa forma, Rech (2002) esquematiza as fases do desenvolvimento do produto de moda em suas etapas principais, conforme descrito a seguir: 1) Conceito: essa etapa deve fornecer as diretrizes mercadológicas da coleção, avaliando sua proposta, abrangência e aceitação do público a que se destina. 2) Triagem: fase de análise do produto, definindo seus temas. 3) Projeto preliminar: nessa etapa, cria-se o esboço dos modelos escolhendo cores, formas, tecidos, acessórios, etc. 4) Avaliação e aprimoramento: depois de criados os esboços, parte-se para o desenho técnico, mais minucioso. 5) Prototipagem: esta é a hora de desenvolver a peça-piloto para posterior aprovação. Também é o momento em que se criam materiais de divulgação como catálogos e fotos.

Em seguida, a autora detalha o projeto do produto considerando a coleta de informações sobre vestuário; a definição do tema a partir da filosofia da empresa, das tendências da estação e necessidades do consumidor; o esboço dos modelos, que pode ser feito à mão livre – croquis –, no computador – desenho digital – ou ainda sobre um manequim (técnica de modelagem tridimensional); e finaliza com a definição dos modelos a partir de uma análise técnica comercial feita por projetistas e profissionais da área de vendas, produção e marketing da empresa.

3.1.4 Treptow

Certamente, o estudo de Rech no campo do desenvolvimento do produto de moda no Brasil foi precursor de uma série de outros estudos que surgiriam nos próximos anos. Um exemplo é o livro de Treptow (2005), Inventando moda: planejamento de uma coleção, autora brasileira, que desenvolve um guia prático e detalhado de planejamento de coleção. A autora também sinaliza a habitual comparação “moda vs indústria” em sua abordagem, defendendo a importância da racionalização e metodologia no processo de produção industrial da moda.

O referencial de Treptow, enquanto planejamento de coleção, é extenso e detalhado, abordando tanto o âmbito acadêmico quanto o industrial, e sendo composto por 19 etapas em seus respectivos planos de ação. Além de explicitar mais adiante os tipos de pesquisa que devem ser considerados pelo projetista, nas etapas de planejamento de coleção a autora evidencia principalmente a pesquisa de tendências e a inspiração. A seguir descreve-se resumidamente essas etapas: planejamento, cronograma, parâmetro, dimensão, pesquisa de tendências, Briefing, inspiração, definição de cores, seleção de tecidos, escolha de aviamentos, elementos e princípios do Design, elementos de Estilo, desenhos, para depois seguir as etapas para execução das peças, que são:

1. Definição: é a fase de reunião para avaliar a proposta da coleção diante do público consumidor a que se destina.

2. Modelagem: desenhos selecionados são encaminhados para o setor de protótipos.

3. Protótipos: fase de trabalho da costureira (pilotista), que deve mostrar as dificuldades de costura da peça, propondo sugestões e alterações que facilitem a confecção.

4. Aprovação: reunião que visa aprovar a coleção, que já deve estar com seus protótipos.

5. Graduação e encaixe: peças preparadas para a produção e cálculo de custo. Em seguida, são encaminhadas ao encaixe para corte.

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venda final bem como gastos gerais para a fabricação desde a aquisição de matérias-primas (tecidos e aviamentos).

Treptow também discorre brevemente sobre o trabalho do projetista ao longo do processo, priorizando a pesquisa de comportamento do consumidor, a pesquisa de mercado e de tendências, além da pesquisa de lançamentos tecnológicos e materiais que favoreçam o desenvolvimento do tema da coleção.

3.1.6

Burke

No livro de Burke (2007), Fashion entrepreneur: starting your own fashion business (sem tradução para o português) é apresentado um panorama amplo do projeto. A autora apresenta o processo desde o Briefing até a distribuição no mercado. E também considera o processo de design como um ponto crucial para alterar um pouco o eixo macro do projeto e adentrar em uma análise mais aprofundada (e artística) do processo de criação, quando são integrados as tendências de mercado aos processos de criação com o foco na inovação.

3.1.6

Burns e Bryant

No estudo dos americanos Burns e Bryant (2007), The business of fashion: designing,

manufacturing, and marketing (não editado no Brasil) são apresentadas oito etapas do

processo de criação e comercialização de uma coleção. De forma semelhante aos autores já citados anteriormente, a primeira delas deve se concentrar na pesquisa de mercado, atentando para os objetivos e preferências do público-alvo em diálogo com as tendências da estação. Como também defendido por outros pesquisadores da área, a próxima etapa deve considerar a inspiração do projeto na confecção de esboços, amostras e seleção de estilos, sempre alinhando com outros setores os desafios técnicos para realização do projeto a partir do cronograma estipulado. Em seguida, as etapas levam em conta as finalizações e acabamentos, a análise de custo total do produto, a força de representação de vendas e da equipe de marketing na divulgação e distribuição da marca da coleção, bem como a elaboração de fichas técnicas com especificações da peça.

O enfoque de Burns e Bryant (2007) também reside na caracterização da interpretação do projetista, mencionando, por exemplo, diferentes fontes de inspiração como a cor, a historicidade do modelo, a etnia, a natureza da coleção, o tecido, a textura e outras fontes particulares que auxiliam nas escolhas feitas pelo profissional. Vale mencionar, também, que o estímulo ao desejo de compra do consumidor está diretamente associado à criatividade do projetista dialoga com a sua capacidade de ousar e inovar. Diante desta diversificada explanação teórica, corrobora-se mais uma vez que a industrialização do vestuário ainda depende muito de escolhas artísticas relevantes e coerentes.

3.1.7

Travers-Spencer e Zaman

A obra inglesa Travers-Spencer e Zaman (2008) no livro The fashion designer's directory of

shape and style (ainda não traduzido) discorre sobre o processo de projeto e as ações

envolvidas no processo de criação. A metodologia dos autores segmentou essa análise em sete etapas principais, conforme a seguir:

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1. Pesquisa: neste momento, o designer está imerso em um trabalho de prospecção de ideias, buscando fontes de inspiração e elementos importantes para a criação de suas peças.

2. Desenvolvimento do moodboard: em português, trata-se de um “mural de inspiração” que visa selecionar as melhores ideias para, então, nomear o tema da coleção.

3. Concepção de desenhos: após o processo de inspiração, o designer de moda deve explorar suas melhores ideias e uni-las a formas, silhuetas e detalhes. 4. Experimentação das formas: este é o momento de dar forma aos desenhos.

Isso pode ser feito pela manipulação dos tecidos em um manequim.

5. Entendimento das proporções: nesta fase o designer de moda precisa ter um conhecimento apurado das formas femininas para, então, delinear as proporções da peça que está criando. Além disso, precisa atentar para os detalhes, que podem interferir diretamente no acabamento do visual.

6. Definição da silhueta: nesta etapa o conhecimento das formas femininas vem acompanhado do conhecimento histórico das mudanças que o corpo feminino sofreu ao longo dos séculos, afetando o que chamamos de silhueta. No caso, o estilista precisa ter domínio das formas predominantes no século XX.

7. Escolha das cores: como descrito anteriormente em outros estudos, a cartela de cores deve ser bem específica e adequadamente codificada para que a escolha dos tecidos da coleção também seja correta.

8. Todo o processo: momento de “revisão” – aqui é importante averiguar a execução de cada etapa do processo, desde a prospecção até o protótipo.

3.1.8

Sorger e Udale

Outra obra inglesa, intitulada os Fundamentos de design de moda de Sorger e Udale (2009) apresentada etapas similares às de Treptow (2005), porém existe um estudo mais direcionado para o ramo do vestuário que aborda temas relevantes aos de projeto de moda, como a pesquisa em projeto, os tecidos e técnicas, os tipos de roupa, branding, entre outros.

3.1.9

Renfrew e Renfrew

Ainda no campo do projeto de moda e do desenvolvimento de coleção, a contribuição dos autores ingleses Renfrew e Renfrew (2010) no livro Desenvolvendo uma coleção também é notória. Embora os autores tenham atentado para o processo como um todo e para os meios de divulgação do produto em si, eles não contemplam a questão procedimentos para projeto. Segundo eles, a pesquisa em equipe para desenvolvimento de coleção deve considerar a exposição do tema da coleção pelo estilista (por meio de amostras de tecido, imagens ou desenhos), a preparação dos primeiros moldes e protótipos e, por fim, os detalhes para verificar proporções e movimento por meio das peças piloto.

3.2 Análise visual comparativa: painel estruturante e bases conceituais

Acredita-se que a análise visual a seguir servirá como comparativa entre os autores de

design do vestuário e como verificação dos procedimentos dos projetistas desse setor,

como apresentado na próxima seção. Na imagem a seguir pode-se observar uma maior potencialidade teórica na análise dos dados administrativos referentes a projetos anteriores e na geração de ideias.

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Figura 2 – Análise Visual Comparativa das etapas indicadas pelos autores citados anteriormente

Em contrapartida, verifica-se que as informações técnicas e tecnológicas não são consideradas como informações de suma importância, sendo citadas por poucos autores, como por exemplo o desenho técnico e a ficha técnica, que são desenvolvidos apenas para a produção, ou seja, não são considerados e nem utilizados no momento da elaboração e construção das ideias.

4 — Empresas do setor

Nesta seção serão verificados os procedimentos utilizados pelos projetistas da indústria do vestuário, o que servirá para identificar lacunas tanto nas teorias quanto nos projetos. Para isso, foram entrevistadas três empresas de Pequeno Porte da região sul de Santa Catarina, as quais receberam as denominações de Empresa A, Empresa B e Empresa C. O procedimento utilizado foi a realização da entrevista a partir da aplicação de um questionário no qual todos os colaboradores do setor de projeto deveriam preencher as questões manualmente e em separado dos outros integrantes. Para que nesta análise de dados sejam apresentadas cada empresa, as três empresas ofereceram dois projetistas como representantes dos seus setores de projeto de produto do vestuário, por isso na totalidade desta análise de dados serão seis o número de agentes colabores, todos mulheres.

A escolha da amostra foi intencional devido à proximidade da pesquisadora com empresas que disponibilizaram a participação efetiva na pesquisa. Essa seleção levou como característica principal a potencialidade das empresas de pequeno e micro porte no setor da indústria do vestuário para facilitar a construção de comparativos relevantes quanto aos processos de projetação da área. Considerando o foco do estudo qualitativo, optou-se pela abrangência das pequenas empresas com a finalidade de atingir um resultado oportuno para a transferência do conhecimento entre diferentes setores produtivos. Foram pesquisadas três empresas no sul do Estado de Santa Catarina.

Como serão aplicados dois questionários durante a pesquisa (o primeiro para verificar os procedimentos utilizados e o segundo, posteriormente, para analisar a funcionalidade da proposta do painel de informações), os objetivos serão: i) identificar os procedimentos projetuais aplicados na indústria do vestuário; ii) verificar potencialidades e limitações no modelo de informações proposto pela autora.

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4.1 Análise de dados dos projetistas entrevistados nas empresas

A Empresa A produz vestuário feminino no estilo casual e vestuário de malha feminino, e caracteriza como seus principais produtos blusas, vestidos e camisas. Ela tem hoje oitenta colaboradores contratados, sendo que dois deles trabalham no setor de projetos e os dois são formados em Tecnologia em Design de Moda. Um é o projetista e o outro é considerado assistente de projeto. A organização utiliza serviços terceirizados, como: confecção – costura de peças, bordados, estamparia, tingimento e lavanderia; e os dados comerciais e de estoque são avaliados a partir dos produtos que se destacam na curva ABC (ferramenta que identifica os produtos que necessitam da atenção do gestor da empresa por motivos de deficiência, lucro, venda e produtividade), ou seja, são considerados as peças mais e menos vendidas, segundo faixa de preços e custo de mão-de-obra.

Os projetistas disseram que não utilizam um tema somente no que eles consideraram como um assunto em específico, diferente da proposta da autora desta pesquisa, apresentado no capítulo 2, já que neste momento de entrevistas por questionários não se apresentou nenhum fundamento como definição de tema. Quanto aos projetos, eles responderam que são feitas pesquisas em redes sociais, blogs, canais de informações relacionados à moda e eventos. E que as ideias são desenvolvidas à mão e em programas de desenhos, assim como os desenhos técnicos. Os softwares utilizados são Audaces e

Corel, e das ideias criadas são aproveitadas uma média de percentual de 80%.

Na empresa B trabalham um total de cinquenta funcionários e no setor de projeto são dois agentes, um gerente com formação em administração que gerencia diferentes atividades na organização, como: gestão financeira e comercial, e as compras de materiais e seleção das peças da coleção. O outro agente é tecnólogo em Design de Moda, o qual executa a criação das peças, pesquisa e aprovação de tecidos, custo da peça final e sequência de serviços da produção. Essa empresa utiliza serviços terceirizados de lavanderia, estamparia, costura e limpeza das peças. Observam, ainda, que as quinze costureiras não conseguem atender a demanda de produção dos produtos de vestuário em

jeans (masculino, feminino e infantil), peças de vestuário masculino, feminino e infantil,

em malha e tecido plano, e consideram as peças em jeans seus principais produtos.

Os agentes entrevistados responderam que os dados inicialmente avaliados para o projeto de coleção são os tipos de tecidos que foram utilizados anteriormente, as modelagens em geral, e reclamações dos clientes. Além disso, o processo de projeto acontece da seguinte maneira: primeiramente na escolha dos tecidos, depois pesquisadas tendências de moda através de canais de informações on line, também são consideradas as informações obtidas nas palestras de fornecedores de tecidos e materiais, e o uso de temas não ocorre. As ideias são desenhadas as ideias no formato “croqui” ou em desenho técnico manual, depois são feitos os modelos para testes para aprovação das peças para envio à produção. Os desenhos técnicos são feitos à mão na ficha técnica e depois de aprovados são passados a limpo no Corel. Os programas utilizados são o Corel Draw, Audaces e Excel. Da totalidade de testes, são comercializadas 65% das peças.

E a empresa C pertence ao segmento de malharia retilínea (tricô) com inserções de tecido plano que tem uma totalidade de trinta e cinco funcionários, além de terceirizar serviços de estamparia, bordados, tecelagem, corte, limpeza final (os três últimos apenas em momentos de alta produção – Coleção Inverno). O segmento em que os agentes

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setor de projetos os desenhos são feitos à mão para testes e depois de aprovados são desenvolvidos no Corel Draw, e as pesquisas são feitas em blogs, redes sociais e viagens internacionais. Num primeiro momento, para o projeto de coleção são levantadas as principais questões repassadas pelos clientes através da loja própria, após, são avaliados os dados das peças mais vendidas, das cores que não emplacaram, e em seguida são pesquisadas novas tecnologias em fios. São feitas as fichas técnicas e avaliados os testes de programação para desenvolvimento de desenhos-técnicos. Os projetistas informaram que são aproveitadas de 90 a 100% das ideias da marca própria e que utilizam o software

Audaces.

Figura 3 – Etapas presentes nas respostas dos entrevistados – empresas A, B e C.

5 — Considerações finais

A demanda por pesquisas que impulsionem as vantagens competitivas e o aumento da otimização de recursos locais e regionais torna-se notavelmente maior. Tais características são fundamentais quando se pensa em metodologias e ferramentas para mobilização de recursos humanos, tecnologias e informações da indústria do vestuário, que também devem levar em conta o desenvolvimento sustentável da economia brasileira. Por esse motivo a autora propõe este estudo a fim de que as nacionais disponham de instrumentos que direcionem e organizem uma ‘conectividade de interesses’. Assim, deve-se construir um ambiente "catalizador" de oportunidades dentro de um aglomerado de empresas e pessoas, caracterizados na indústria do vestuário com os aglomerados industriais fora da região Sudeste, como nas regiões do Paraná, de Santa Catarina e do Ceará.

Como a indústria do vestuário é notória na economia brasileira, vale potencializar o gerenciamento de todas as oportunidades para que ocorra o aumento significativo nas vantagens competitivas e no desenvolvimento sustentável desse capital territorial. Sendo assim, considera-se os dados apresentados neste estudo a fim de valorizar e impulsionar a qualificação e otimização dos procedimentos de design de produto do vestuário através da potencialização do projetista, com tecnologias, técnicas e etapas de pensamento do projeto

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que estejam integrados à organização dos sistemas de pessoas e processos para que se possa estimular o desenvolvimento sustentável dessa indústria de maneira local, regional e nacional.

Referências

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