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RESILIÊNCIA: múltiplas visões, inclusive em tempos de pandemia

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Academic year: 2021

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RESILIÊNCIA: múltiplas visões, inclusive em tempos de pandemia

Luiz Carlos dos Santos1

Objetiva-se este texto apresentar, de modo sinóptico, percepções de autores acerca da resiliência, incluindo considerações em tempo de Covid-19. De natureza revisional, o estudo exploratório, segundo Gil (2011), esquadra-se na linha de pesquisa qualitativa, conforme Minayo (2008), tendo como lastro teórico fontes bibliográfica e eletrônica, de acordo com classificação de Boaventura (2017).

A resiliência, de maneira geral, qualifica-se pela capacidade das pessoas de responder positivamente às demandas da vida hodierna, não obstante as adversidades que enfrentam ao longo de seu desenvolvimento. Trata-se de um conceito que abrange atributos valiosos em termos de prevenção e promoção da saúde dos habitantes; todavia, ainda repleto de ambiguidades e controvérsias. Apregoa-se que pessoas resilientes evidenciam características como autoestima positiva, habilidades de dar e receber em relações humanas, disciplina, receptividade, responsabilidade, tolerância e empatia.

Segundo Grotberg (2005, p. 32), resiliência é um conceito que vem da Física como a propriedade de um material acumular pressão sem romper-se. Já no contexto da Educação e da Psicologia, resiliência é “a capacidade humana para enfrentar, sobrepor-se a estresse, saindo fortalecido ou transformado de experiências de adversidades”.

Parafraseando Assis; Pesce e Avanci (2006, p. 116), os estudos acerca da resiliência abordam como novidade o destaque da promoção de processos educativos e de convivência que possibilitem o enfrentamento das dificuldades, atuando antes que eventos negativos deixem marcas na vida dos sujeitos, mormente quando se trata de crianças e adolescentes, agindo preventivamente e não apenas na reparação de danos. Nessa perspectiva, “o modelo de resiliência é uma maneira legítima de fortalecer a base geradora da prevenção primária”. Desse modo, uma comunidade é tida como protetora quando proporciona inclusão econômica,

1 Bacharel em Ciências Contábeis (UFBA); Bacharel em Direito (UFBA); Licenciado em Administração

(UNEB); Tecnólogo em Administração Hoteleira (IFBA); Especialista em Administração Tributária (UCSAL); Mestre em Educação (UQAM-Canadá); Doutor em Ciências Empresariais (UMSA-Argentina); Doutor em Desenvolvimento Regional e Urbano (UNIFACS-Salvador); Professor Pleno da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), atuando no Departamento de Ciências Humanas (DCH), Campus I e cooperando no Departamento de Educação (DEDC), Campus XIII; Líder do Grupo de Pesquisa/CNPq-Gestão de Organizações; Membro efetivo do Conselho Editorial da Editora da Universidade do Estado Bahia (EDUNEB), representante da grande área das Ciências Sociais Aplicadas; Membro do Conselho Editorial da Revista Acadêmico Mundo; Avaliador “ad hoc” Institucional e de Cursos - INEP/MEC; auditor fiscal do Estado da Bahia-aposentado; e-mails - lcsantos722@gmail.com; lsantos@uneb.br - site instrucional: www.lcsantos.pro.br. ID Lattes: 361640631008583.

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social e cultural, desenvolvimento urbano e social, ações e programas de saúde que contemplem redes de supervisão e apoio para crianças, adolescentes e suas famílias.

A autora Machado (2011), ancorada em Junqueira e Deslandes (2003), entende por resiliência, a capacidade do sujeito de, em determinados momentos e conforme as circunstâncias, lidar com obstáculos não curvando-se a estes, prevenindo para a conveniência de relativizar, em função do indivíduo e do contexto, o aspecto de "superação" de eventos potencialmente estressores. Assim sendo, estaria atrelada a superação ante um óbice considerado como um risco, a viabilidade de construção de novos caminhos de vida e de um processo de subjetivação a partir do enfrentamento de situações estressantes.

Convém trasladar o que Machado (2011, p. 10) resumiu sobre resiliência:

A resiliência emerge como um constructo que aponta para um novo modelo de se compreender o desenvolvimento humano, pela dimensão da saúde e não da doença. Aí está a importância de se pensar uma ciência psicológica que busque romper com o viés negativo e reducionista de algumas tradições epistemológicas.

Na percepção de Cyrulnik (2001, p. 194), a resiliência é um processo íntimo que se integra a um processo social. É um tecido e integra a família dos mecanismos de defesa; há comando e sinaliza esperança. Explica o mencionado autor que o conceito de resiliência poderia ser sintetizado em "mola" e "tecido". "Mola", na medida em que, ao receber o impacto da adversidade, o ser humano padece, de certa maneira "deforma-se", - a mola ao receber uma força: quando a mola é presa a um peso, ela estica, mas, logo em seguida volta - e depois aplaina o sofrimento, salta superando o fator que ameaça o indivíduo. "Tecido", uma vez que se configura no espaço entre a pessoa e seu entorno social (mormente as pessoas significativas com quem é possível estabelecer uma relação de apego seguro), como um mosaico de pano que vai sendo tecido. Enquanto mola e tecido, a cada colisão, é provável buscar a superação, em suma, "apesar do sofrimento, buscamos a maravilha".

Brandão; Mahfoud; Nascimento (2011) sintetizam percepções diferentes de pesquisadores com relação à resiliência: os não anglo-saxões, atribuem a origem do termo e/ou conceito à Física, porém, isso não é mencionado pelos pesquisadores referenciais de língua inglesa. Por seu turno, os citados autores perceberam que os estudiosos anglo-saxões adotam uma concepção de resiliência diferente daquela adotada por estudiosos falantes de línguas latinas.

Também, segundo os supramencionados autores, para a maioria dos anglo-saxões, excetuando-se (FLACH, 1991; GROTBERG, 2005; MURPHY, 1987; WALSH, 1998/2005), a resiliência é um fenômeno vinculado à resistência ao estresse e, assim sendo, são

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selecionados enquanto sujeitos de pesquisa indivíduos os quais não se abalaram em situações adversas e demonstram o que eles chamam de competência. A noção de adaptação, sob a ótica de ajustamento social, está inserida nessa concepção. Já para os pesquisadores brasileiros e outros de língua latina, os estudos de resiliência estão correlacionados aos fenômenos de resistência ao estresse, mas também aos de recuperação e de superação. Em decorrência dessa concepção ambivalente do conceito, nesses estudos não anglo-saxões, são selecionados como sujeitos de investigações tanto indivíduos que se abalaram e se recuperaram quanto aqueles que permaneceram bem todo o tempo. Portanto, estudam-se fenômenos diferentes sob a mesma nomenclatura, dando o nome genérico de resiliência a todos ou a qualquer um dos fenômenos.

Ainda, afirmam Brandão; Mahfoud; Nascimento (2011), os brasileiros e os pesquisadores de língua latina, iniciaram seus estudos acerca da temática em tela, cerca de 20 anos depois dos americanos e ingleses, e seu ponto de partida foi a literatura anglo-saxônica por ser a única disponível até aquele momento. Consequentemente, começaram a pesquisa a resiliência enquanto resistência ao estresse. Contudo, posteriormente, começaram a trazer definições de resiliência que contemplava o sentido de superação e iniciaram a trabalhar o fenômeno de recuperação.

Do ponto de vista das organizações, muitas empresas, compreendendo a relevância da promoção da resiliência de seus colaboradores, já adotam programas de desenvolvimento desse atributo/competência, entendendo que o investimento implicará em um corpo de funcionários mais saudável psicologicamente, cooperativo, empático e capaz de vislumbras oportunidades de crescimento a cada mudança e dificuldade apresentada.

Para tanto, e considerando que a resiliência é um atributo que pode ser medido, Grotberg (2005), os autores Cardoso e Martins (2013) lembram da existência instrumentos para esta finalidade. O material propicia identificar, dentre as características comportamentais, as que tornam os indivíduos capazes de enfrentar com sucesso e adaptabilidade as adversidades, saindo-se bem mais fortalecidos. São pilares de resiliência, por exemplo: acreditar que a pessoa é capaz de fazer e de apreender; usar o bom humor para relevar uma situação desagradável; entender que as mudanças são possibilidades de crescimento; estabelecer laços de amizade, dentro e/ou fora do ambiente organizacional; trocar experiências com os colegas etc. Portanto, refletir acerca desses parâmetros e sobre outros nessa linha pode ser o caminho para o sucesso empresarial.

Analogamente, em tempo de Covid-19, adaptar ou ser resiliente é uma oportunidade para reformular conceitos, repensar crenças e valores, questionar-se, tirar proveito da

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pandemia e antever futuros, enfim, planejar-se. Certamente, nada voltará a ser como antes, sendo assim, habituar-se às tendências pós-pandemia faz-se necessário. Nessa perspectiva, Lacerda (2020), sugere algumas tendências, tais como: conscientização de que a era digital não tem retorno – muito pelo contrário, empresas, instituições públicas e entidades sem filantrópicas e pessoas devem apropriar-se das tecnologias, ampliando cada vez mais o que elas podem proporcionar; home office – o trabalho remoto – a maioria das profissões e o mundo corporativo vem aderindo a esse modelo de trabalho, é mais saudável e mitiga custos; educação a distância (EAD) - readequação de métodos, técnicas e procedimentos de ensino, o aprendizado é mais acessível, ágil e contínuo, facilitando a vida das pessoas; e maximização de resultados com o mínimo de custos/gastos/dispêndios e despesas – faz-se mais com menos essa é a lógica.

Leles (2020, p. 3) adverte que enfrentar a realidade da pandemia e refletir acerca dela sem perder a fé e com olhar realista no futuro fazem com que as pessoas sejam mais equilibradas emocionalmente e resilientes. Para a autora, lidar com a pandemia “não depende apenas de adaptação em nosso estilo de vida, e sim adaptação subjetiva em nosso modo mais profundo de enxergar nossa existência no mundo”.

Ainda sobre resiliência em tempos de pandemia, Hallal (2020, p. 1), traz importante reflexão:

Tão subfinanciado e difamado quanto a ciência e as Universidades, o SUS está impedindo que a tragédia seja ainda maior. Num ato de resistência, o sistema tem conseguido prestar atendimento a todos os brasileiros com COVID-19 que dele dependem. Nem todos os pacientes são salvos, é verdade, mas diferentemente do ocorrido em outros países, o SUS não entrou em colapso, e mitiga um desastre que poderia ser muito maior. Um SUS que, com resiliência, acolhe as pessoas, mas, especialmente, um SUS composto por profissionais de saúde resistentes e resilientes, que colocam a saúde coletiva acima das dificuldades e seguem prestando atendimento aos brasileiros que dele necessitam.

Considerando que o presente texto não teve o intuito de esgotar a matéria, pois seu autor é apenas um curioso no assunto, entende-se que a resiliência tanto nas corporações quanto nos indivíduos reverbera em potencial de sucesso empresarial e melhoria da qualidade de vida das pessoas frente aos desafios que se apresentam, hodiernamente, e em momentos de crise repentina, a exemplo da Covid-19.

REFERÊNCIAS

ASSIS, S. G.; PESCE, R. P.; AVANCI, J. Q. Resiliência: enfatizando a proteção dos adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2006.

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BRANDÃO, J. M.; MAHFOUD, M.; GIANORDOLI-NASCIMENTO, I. F. A construção do conceito de resiliência em psicologia: discutindo as origens. Paidéia, v. 21, n. 49, maio/ago., p. 263-271, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/paideia/v21n49/14.pdf. Acesso em: 07 out. 2020.

CARDOSO, T., MARTINS, M. C. F. Escala dos Pilares da Resiliência – EPR. Manual. São Paulo: Vetor, 2013.

CYRULNIK, B. Uma infelicidade maravilhosa – vencer os fracassos na infância; Tradução: C. C. M. de Oliveira. Porto, Portugal: Ambar Edições, 2011.

FLACH, F. Resiliência: A arte de ser flexível; Tradução W. Dupont. São Paulo: Saraiva, 1991.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. GOLEMAN, D. Inteligência Emocional. São Paulo: Objetiva, 1998.

GROTBERG, E. H. Introdução: Novas tendências em resiliência. In: A. Melillo, E. N. S. Ojeda et al. Resiliência: Descobrindo as próprias fortalezas (V. Campos, Trad., pp. 15-22). Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.

HALLAL, P. C. Resistência e resiliência em tempos de pandemia. In: Ciência & Saúde

Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 9, p. 1, 2020. Disponível em:

https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232020000903342&script=sci_arttext. Acesso em: 7 out. 2020.

LACERDA, F. Adaptar-se! In: Let’s go Life Coach, Salvador, set./out. p. 24, 2020.

LELES, M. B. L. Resistência, resiliência e ressignificação frente à pandemia do Covid-19. Disponível em: https://pebmed.com.br/resistencia-resiliencia-e-ressignificacao-frente-a-pandemia-de-covid-19/. Acesso em 05 out. 2020.

MACHADO, A. P. O. Resiliência: Conceituação e discussão (2011). Disponível em: https://docplayer.com.br/12795803-Resiliencia-conceituacao-e-discussao-ana-paula-de-oliveira-machado.html. Acesso em: 7 out. 2020.

MINAYO, M. C. S. (org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 27. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2008.

TEIXEIRA, A. R. N.; QUEIROZ, R. D. A. Importância da Resiliência no Contexto

Organizacional. Revista de Iniciação Científica – RIC Cairu, jan. 2015, v.2, n° 01, p. 14-32, ISSN 2258-11 32. Acesso em: 06 set. 2020.

WALSH, F. Fortalecendo a resiliência familiar; tradução (M. F. Lopes. São Paulo: Roca, 2005.

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