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Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento

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Casa de Sarmento

Centro de Estudos do Património Universidade do Minho

Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães

E-mail: geral@csarmento.uminho.pt

URL: www.csarmento.uminho.pt

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Revista de Guimarães

Publicação da Sociedade Martins Sarmento

U

SOS E COSTUMES

,

TRADIÇÕES E BRUXARIA NAS OBRAS DE

C

AMILO

C

ASTELO

B

RANCO

.

BRAGA, Alberto Vieira Ano: 1926 | Número: 36

Como citar este documento:

BRAGA, Alberto Vieira, Usos e costumes, tradições e bruxaria nas obras de Camilo Castelo Branco. Revista de Guimarães, 36 (2-3) Abr.-Set. 1926, 120-124.

(2)

I

s

Usos e Costumes, Tradições e Bruxaria

J I 1 I I nas obras de

Camilo Castelo-Branco

(Continuada de páginas 63) I i I I i | I nasceu

«For fim, não sairei do paço senhorial da Cavala- ria sem consolar o leitor pio e mais lido em cousas do céu que em nobiliários, que naquela casa o

bem-aventurado S. frei Oil, chamado de Santarém,

e que Almeida Garrett ajoujou com o Dr. Fausto no

poema D. Branca e nas Viagens. .

edificada na alcova onde nasceu o sábio feiticeiro e

pactuário do demónio»

-

o

pág. 81). 1

I • E

Ainda hoje, maqueta casa, perdura uma capela (Noites de insónia, n. 4,

nosso

celebérrimo S. fr. Gil

I

«A casa da cavalaria sita na vila de Vouzela, e.que em tempo devia ter sido uma vivenda ostentoso, como se vê do que ainda hoje existe, pertence actualmente por emprazamento a João Correia de Oliveira,

A capela da casa é hoje adega, palheiro ou cousa

semelhante; e nada ali existe que faça lembrado O

|

.

Há porém na vila uma

elegante capela do santo, onde se celebra missa tidas

as segundas-feiras,e onde se conserva a pia onde se mesmo, relíquia -muito venerada pelos habitantes da

e

n.°

5, pág. 79).

r \

I

baptizou o santo e bem assim O queixo inferior do vila." (Obra citada,

Refere-se CaMilo ao santo nigromante S. Fr.

Gil Rodrigues.

Portugal também teve o seu santo feiticeiro,

m I e I I I I

(3)

I TRADIÇÕES NAS OBRAS DE !QAMILO 121 \ l I I l I I I w

assim mais conhecido, Frei Gil, da ordem dos Pregadores, natural da vila de Vouzela (S. Jorge), distrito de Viseu. Apesar de ter tam bom patri- mónio (cortesias na Sé de Braga e Coimbra), lembrou-se de ir estudar medicina em Falis;

mas na passagem de Toledozz apareceu-lhe o

diabo em figura humana, que o' induziu a apren- der nicromância, com promessas, etc. Dedicou- -se p. empresas amorosas, chegando até a liber-

ir Q I I | I

tino, e resolveu por último tomar o grau de licenceado

em

medicina, onde a sciência ajudada pelas artes diabólicas lhe deu fama e poder. Estando uma noite entregue aos estudos, apare- ceu-lhe um cavaleiro de terrível aspecto, que brandindo a lança o intimou a que mudasse de vida; mas Gil não fez caso. Depois, a novas ameaças, o nicromante-médico, cheio de timidez e humildade, confessou os seus erros e arrepen- dimento. A esta declaração o divino cavaleiro tocou-o coro a lança no coração, partindo logo para Espanha. Em Palência entrou no mosteiro de S. Domingos, onde fez confissão geral e professou, sustentando-se vinte dias apenas de filhas de árvores. Findo o ano, voltou para Portugal e escolheu o convento de S. Domingos de Santarém para continuar no serviço de Deus.

Os milagres que lhe atribuem não têm conto. Dizem que adoeceu de muito amor divino, e faleceu depois de 44 anos de professo, a 14 de Maio de 1265. O seu corpo foi sepultado na igreja do convento de S. Domingos de Santarém.

L Ver, para mais completo esclarecimento, O

Flivro «Diabruras, Santidades e PrOfeCiaSv, por A. C. Teixeira de Aragão, pág. 52 a 54, livro curioso e interessante de onde extraio o resumo pasto acima. 1

1

.

«Eu não ri, nem- cOrel: deu-me para chorar como uma vide, quando me contaram isto.›› - ( O que ƒazem

mulheres, pág. 53). .

Chorar como vides é uma comparação por pular corrente e conhecida.

I a i I I I É i

(4)

122 J I i I a a I

amxqrsra DE? GVIMARÃES

Camilo, no romance O Sangue, volta a em-

I ¬ i I ø

prega-la, a pag. 106: «Esteve al a chorar como vides,ze a dizer que tu, se a não querias, d,1ssesses

isso enão andasses a desacreditá-la.»

«Bem diz lá o ditado: Livra-te da sogra, que

ea

te livrarei do diabo." - (Obra cit., pág. 78).

São já em número avultado' os zditadosâ que visam as ex_mas sogras, que o .povo diz serem

rodilhas.

'

O confronto e a comparação entre eles seria ínteressante,.lmas ocuparia muito espaço.

Registemos semente.

i 1

"Então isto, .pelos modos, é nós, el-rei, e justiça de Fafe» ! ¿Aqul não há rei nem roque, nesta casa?››

- (Ob. cit., pág. 799.

1

A justiça de Fafe é o cacete, O marmeleiro. Os labrostes de Fafe têm fama de valentes e des- temidos jogadores de pau. Como não querem nada com a justiça, liquidam as suas contendas

à paulada. :

=

1

â As romarias e testanças dos arredores da-

quela vila são quisi sempre umas Marias da

Fonte de desordem, pancada e barafunda. «Eu canto o que escrevo; e,

se

,a toada me destoa

no tímpano, desmancho a oração eM partes, a]usto-as

de novo, calafeto-as de arhgos, e pronomes, e conjun- ções, o mals afrancesada mente que posso, e sai~me a

cousa um pouco ininteligível, mas harmoniosa como

um clarinete de romero de S. Torcato* de Guimarães." - (Scerzas da Foz, pág. 50). .

Interessante pelo pitoresco da comparação.

u - E vocemecê a dar-lhe! Ouça e fale quando

dever responder. Esta mulher vive numa casa aqui

perto da Foz; tem consigo

nenhum: não aparece de dia, só se ve de noite a falai com as estrelas.

..

uma criada; não tem homem I 1 I E ii i i i I

(5)

TRADIÇÕES NAS OBRAS DE CAMILO 123

i

i

J

- Anjo bento! Isso é bruxedo! Cruzes, canhoto ! Terá ela iadário ?

-Fadário tem vocemecê de toleima, tia Pôncia ! Vive comigo

tantos anos, e parece que está cada vez mais tonta !

-

Quem ? Eu I? Tonta eu, porque lhe digo as ver- dades, Sr. João! ¿Eu não lhe disse que a Vícência era uma trapalhona, que lhe dava volta ao miolo?! Diga,

Sr. Joãozinho, quando vocemecê andava atrás da filha

do letrado, com a beiça caída, ¿não lhe disse eu que a rapariga, às duas por três, se lhe aparecesse marido com

chelpa, era como se nunca nos víssemos?! ¡ E agora

queria que eu lhe dissesse mundos e fundos de uma feiticeira que só aparece de noite a dizer anzonices ao

sete-estrêlo! Deixe-me benzer, e Deus me tenha na sua

mão, e mais a vocemecê, que o vi nascer, e desde que anda por cá à sua vontade, arranja sempre bruxedo

que O tolhe. Sabe que mais, Sr. João? Coma e beba e tome os seus banhos, que é Ó que veio; o mais, leve o diabo, Deus me perdoe, as mulheres

,

e quando houver de casar, arranje filha de lavrador, que saiba

amanhar a vida, e não olhe para estas guinhas da cidade,

que parecem mesmo O pecado!

=

Tia Fôncia disse muitas outras cousas razoáveis. Exaurida a torrente, foi buscar o caié¿e pediu-me que pendurasse ao pescoço uma siga de azeviche e uma conta que irra tocada, no corpo do mártir S. Cipriano --tudo para vencer os sortilégios da bruxa contra quem a minha pobre Pôncia, durante O almaço, pro- feriu um 'discurso, intermeado de orações adremuf

-

(Ob. cit., pág. 142).

|

`

I

E'

um naco de prosa de tam perfeita obser- vação, que não há nada a acrescentar-lhe. O fa- dário e o bruxedo são as maiores toleimas do

nosso povo. z

I

‹‹Contei, em casa, esta aventura à minha Fôncia, que me esperava ainda a pé. Aqui é que foi O ben-

zer-se e rejeitar de mulher sábia em agouros e feitiços. Quis-me convencer de que tudo aquilo eram artima- nhas da bruxa, e saltou-me ao pescoço para ver se eu tinha a ñga de azeviche. Não a encontrando, chamou-

ê

l

i

I

(6)

124 J REVISTA DE GVIMAHÃES I r a i 3 ¿ l

-me hereje, e não me deixou, sem eu pendurar o bento guiso no pescoço.

Deitando-me, pareceu-me que o ar do quarto eStava impregnado de um cheiro acre, que ¡era mais forte na

cama. Erguendo o travesseiro, encontrei' um molho

de arruda, e um alho que tem na Flora popular um adjectivo desgraçado. Eram exorcismos da tia Pôncia, que tinha em menos conta o nariz, quando se tratava de curar a alma de um possesso de bruxedos. Atirei O depósito de hervanário à rua, e consegui adormecer embalado pelas minhas esperanças."

-

(Obra citada, pág. 146).

Quando não entram em acção os defuma- 5 doiros de romero, sempre-verde, etc., para

espantar os males e os bruxedos, purificando

os ares, costuma o povo servir-se de muitos e variados amuletos.

Ver, para não alongar em repetições escusa- das esta nota, as minhas «Tradições e Usanças Fopulares de Guimarães", capítulo VI, pág. 249. (Contínua). ! I IALBERTO V. BRAGA. I a I J i Í 1 I i 1 L ! i I .l s . I u r I 1 I I i I I I I I I i I 1 I i E I i 1 V I I I í I â 1. l r I

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