Epidemiologia: História e
Fundamentos
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
Escola de Ciências Agrárias e Biológicas
Epidemiologia e Saúde Pública
O que é Epidemiologia?
Epidemiologia é o estudo da frequência, da distribuição e
dos determinantes dos estados ou eventos relacionados à
saúde em populações humanas e a aplicação desses
estudos no controle dos problemas de saúde.
É a principal ciência de
Fundamentos Históricos
Primórdios da Epidemiologia
Epidemiologia clássica
Primórdios da epidemiologia
Epidemiologia
Clínica
X
Asclépio
Panaceia
Higeia
Primórdios da epidemiologia
Hipócrates – Médico grego que tinha a
estrutura e o conteúdo dos seus textos sobre
saúde com clara adesão a Higeia;
Hipócrates de Cós 460 a 377 a.C
Texto hipocrático: “A doença sagrada”
“A doença chamada sagrada não é, em minha
opinião, mais divina ou mais sagrada que qualquer outra doença; tem uma causa natural e sua origem supostamente divina reflete a ignorância humana.”
Endemia e Epidemia
Primórdios da epidemiologia
Predomínio da medicina curativo e individual Os primeiros médicos de Roma, em geral
escravos gregos trabalhavam para a corte, exército ou para famílias nobres.
Roma antiga
• Realização de censos e registro compulsório de nascimentos e óbitos
• Infraestrutura sanitária (aquedutos e esgotos)
Claudius Galenus
A doença era vista como um pecado
Na Idade Média, com a queda do Império Romano, o
domínio do cristianismo determinou o retorno a
práticas de saúde “mágico-religiosa”
Primórdios da epidemiologia
Primórdios da epidemiologia
Os médicos mulçumanos preservavam os textos hipocráticos, adotavam os princípios de Higiene e Saúde Pública com alto grau de organização social.
Medicina Árabe
Estabeleceram registros de informações demográficas e sanitárias e até sistemas de vigilância epidemiológica.
Avicena
Principal médico: Avicena que compartilhou a filosofia
individual e coletiva, precursora do pensamento científico
Articulado ao no modo de produção (capitalismo), o pensamento renascentista propiciou as bases para uma
compreensão racional da realidade que resultaria na constituição das ciências modernas (Rensoli, 1987).
Primórdios da epidemiologia
Renascimento
A metafísica religiosa medieval foi então superada entre os séculos XVI e XVIII.
Gigantesco esforço e produção de dados, informações e conhecimento da
Raízes da Epidemiologia na Clínica e na
Estatística
1. Leigos e religiosos envolvidos no processo saúde-doença buscam a legitimação científica de uma prática clínica adequada;
2. A medicina já se consolidava como corporação, com um saber
técnico próprio e uma rede de instituições de prática profissional. Nessa fase a clínica reforçou o estudo de caso por meio de
investigações sistemáticas dos enfermos nos hospitais;
3. Essa etapa vincula-se à emergência da medicina científica (século XIX) onde a revolução industrial propiciava espaço e poder para a ascensão do saber científico e tecnológico.
Inglaterra 1662
Jhon Graunt
Precursor da Epidemiologia, sendo
o primeiro a descrever e analisar as
causas de morte a partir das
características demográficas.
Por meio desse método ele pode
esclarecer a causa mais comum de
mortes até então desconhecidas.
Novo paradigma: A ciência
Bacon e Descartes publicaram as obras que introduziram
o método científico.
Novo Organun 1620 Discurso do método 1637Descartes
O Discurso do método
- Introduz o método dito científico por meio de uma espécie de “manual” autobibliográfico.
René Descartes Compõe-se de 4 regras:
1. Aceitar como verdadeiro somente o que se conhece de modo evidente, excluindo qualquer dúvida
2. Cada problema pode ser solucionado dividindo-o em quantas partes seja possível (dividir significa conhecer o problema)
3. Conduzir o pensamento em ordem, começando pelo mais simples até o conhecimento mais composto
4. Fazer sempre inventários tão completos e exaustivos que se fique certo de nada ter sido omitido, para que qualquer outro possa repetir.
O Nascimento da Clínica
Com o surgimento do método científico o homem saí da
condição de observador e passa a intervir na natureza
das doenças.
Hospital Dieu, Paris
Novo paradigma: A ciência
William Farr 1839
Um dos precursores da
Epidemiologia.
Médico responsável pela
estatística médica na Inglaterra.
Seu trabalho favoreceu diversos outros achados
epidemiológicos.
Medicina Social
Com a revolução industrial criou-se uma grande massa de
trabalhadores, agravaram-se os problemas de saúde
pública, originando a medicina social (Jules Guérin).
O Estado
começa a se
responsabilizar
pela saúde
John Snow e a Síntese Epidemiológica
1854
John Snow e a Síntese Epidemiológica
Descrição da epidemia de cólera
Estudo
observacional de
como os casos de
cólera estavam
distribuídos na
população.
Na primeira investigação a desativação da bomba d’água fez o número de óbitos por cólera reduzir
John Snow e a Síntese Epidemiológica
Rejeita a Teoria Miasmática (contato de pessoa para pessoa)
Conclui que a água (contaminada pelas fezes de doentes) era o mecanismo de transmissão da Cólera
Sua tarefa era sanear o Rio de Janeiro e combater as principais epidemias que assolavam a cidade na época: febre amarela, peste bubônica e varíola.
Epidemiologia no Brasil – Oswaldo Cruz
Oswaldo Cruz (1872-1917)
Em 1903, o então presidente da República
Rodrigues Alves nomeou Oswaldo Cruz para a Diretoria-Geral de Saúde Pública.
Instituiu a Polícia Sanitária do RJ de caráter autoritário
Intervir nos domicílios, mesmo sem o consentimento dos moradores
Combate a peste bubônica:
Notificação compulsória dos casos
Isolamento do doente e desinfecção da zona empestada, com a extinção de ratos e pulgas transmissoras
- Doença de roedores, presente na pulga dos ratos
- Nos humanos: zoonose causada pelo contato com roedores ou pulgas
contaminadas
Yersinia pestis
Combate a febre amarela:
A campanha contra a febre amarela foi estruturada em moldes militares.
Foram impostas medidas rigorosas: aplicação de multas, intimação aos proprietários de imóveis insalubres para reforma-los ou demoli-los.
Insatisfação da população com as medidas de
caráter autoritário
Revolta das Vacinas (7 dias)
30 mortos
Combate a grave epidemia de varíola:
O governo envia ao congresso projeto de lei impondo a obrigatoriedade da vacinação contra a doença, prevendo sanções para quem
descumprisse a lei.
Presidente Rodrigues Alves (1902-1906) – remodelação da cidade e criação das favelas
“Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito,
comércio fechado, transporte público assaltado e
queimado, lampiões quebrados à pedradas, destruição
de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores
derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta
contra o projeto de vacinação obrigatório proposto
pelo sanitarista Oswaldo Cruz”
(Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904).
Epidemiologia no Brasil – Oswaldo Cruz
Sucessor de Oswaldo Cruz (1920)
Reestruturou o Departamento Nacional de Saúde
Introduziu a propaganda e a educação sanitária
Carlos Chagas
Epidemiologia no Brasil – Carlos Chagas
Criou os órgãos especializados na luta contra a tuberculose, a lepra e as doenças venéreas
A assistência hospitalar, infantil e a higiene industrial individualizados
Expandiram-se as atividades de saneamento para outros estados
Louis Pasteur - Era microbiológica
Louis Pasteur (1822-1895)
Estabeleceu as bases biológicas para o estudo das doenças infecciosas.
Década de 60, Louis Pasteur (1822-1895), químico francês, contribuiu para a teoria dos germes, com o estudo da fermentação
Microrganismos responsáveis pela fermentação e que o calor era um agente capaz de provocar a sua morte (Pasteurização)
Descoberta do Vibrião cholerae, por Robert Koch, em 1883 e ainda da bactéria da tuberculose e conjutivite
Transição epidemiológica refere-se às modificações, a longo
prazo, dos padrões de morbidade, invalidez e morte que
caracterizam uma população específica e que, em geral,
ocorrem em conjunto com outras transformações
demográficas, sociais e econômicas.
Transição Epidemiológica
Conceito
Portanto existe uma relação direta entre os processos de
transição demográfica e epidemiológico
Declínio na incidência das doenças infecciosas (saneamento básico)
Aumento da incidência das doenças não infecciosas e não transmissíveis (cardiovasculares, neoplasias e outras doenças crônico-degenerativas) Doenças crônicas são multicausais: associados às mudanças
demográficas e sociais, estilo de vida, genética, etc.
Surge uma nova abordagem para a compreensão dos problemas da Saúde Pública baseados em fatores de risco. Por que em uma mesma população, o risco de doença varia de pessoa para pessoa
Transição Epidemiológica
Países desenvolvidos
Doenças crônicas não
transmissíveis
Controle das doenças infecciosas ainda persistentes pela introdução de medidas médicas (imunização e tratamento) Redução da exposição da população ao risco de infecções
Melhoria dos serviços de saneamento (água, esgoto e destino de resíduos) e de vigilância sanitária (manipulação adequada de alimentos)
Declínio na incidência das doenças infecciosas é resultado:
Transição Epidemiológica
Países desenvolvidos
Transição Epidemiológica - Brasil
1. Substituição, entre as primeiras causas de morte, das doenças transmissíveis (doenças infecciosas) por doenças não
transmissíveis
2. Deslocamento da maior carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens (mortalidade infantil) aos grupos mais idosos
3. Transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra em que a morbidade (doenças crônicas) é dominante.
Na população brasileira o processo engloba três
mudanças básicas
Transição Epidemiológica - Brasil
Em 1930, as doenças infecciosas = ~ 46% das mortes para ~ 5% em 2003 Aparelho circulatório (AP) representavam 12% em 1930
AP são, atualmente, as principais causas de morte em todas as regiões brasileiras, respondendo por quase um terço dos óbitos.
Transição Epidemiológica - Brasil
Fonte: Prata, 1989
Em 1930: as doenças infecciosas eram a primeira causa de morte em todas as regiões do Brasil.
Transição Epidemiológica - Brasil
Significativa diminuição das taxas de fecundidade,
natalidade e aumento progressivo na expectativa de vida
Progressivo aumento da proporção de idosos em relação
aos demais grupos etários
Urbanização
Acesso a serviços de saúde e meios de diagnóstico
Mudanças culturais expressivas
Transição Epidemiológica - Brasil
Apesar da transição epidemiológica:
Malária tem alta prevalência em pontos específicos da região Norte (especialmente Rondônia)
Febre amarela começa a incidir no Centro-Oeste, e o dengue (desde 1987) e o cólera (a partir de 1991) ressurgem no Brasil
Transição Epidemiológica - Brasil
Frágeis estruturas ambientais urbanas do país
Surgimento de novas doenças ou novas formas de manifestação das doenças na população;
Aumento na severidade da doença; Resistência aos antimicrobianos;
Persistência de problemas como a desnutrição.
Tornam as populações vulneráveis a doenças que pareciam superadas a alta carga de doenças da população