CLASSES SUBALTERNAS: UM ENFOQUE PSICOSSOCIAL
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G EN A RO IEN O N ETO
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*O título proposto para este debate (Classes Subalternas: um enfoque
psi-cossocial) define n ã o só a abordagem que se espera dele, com o tam bém delim
i-ta o cam po de discussão sobre o tem a. O u seja, ao se definir dessa form a a
te-m ática de discussão não se está priorizando os determ inantes econôm icos,
por-tanto de ordem infra-estrutura I, na análise do conceito de classes sociais. Por
is-so, vale sal ientar que essa decisão pode, eventualm ente, correr o risco de
produ-zir equívocos na cham ada "abordagem psicossocial", isto por dois m otivos
bá-sicos:
a) na área das ciências sociais, o estudo dos determ inantes econôm icos das
classes sociais é bastante polêm ico, existindo várias tendências teóricas, que, por
sua vez, produzem análises diferentes sobre a dinâm ica da vida em sociedade e
em conseqüência, propostas de estratégias de intervenção na real idade social
tam bém diferentes. Essa polêm ica indica a com plexidade do tem a;
b) ignorar essa polêm ica e essa com plexidade e fazer um a análise parcial
sobre um aspecto isolado do fenôm eno que se pretende estudar pode produzir
um a com preensão equivocada, que, por sua vez, pode gerar práticas de
interven-ção social infrutíferas se se pensa em term os de m udança social.
Feito o lem brete sobre o risco com um a nós, vam os tentar levantar alguns
pontos de discussão sobre o tem a proposto.
O adjetivo "subalterna" significa subm issa, dom inada e ao se falar em
clas-se subalterna ou classe subm issa, classe dom inada, vem logo a pergunta: classe
subm issa a quem , ,a quê? Este fato indica que o conceito de classe subalterna,
não pode ser entendido em si m esm o, m as em sua relação de subm issão a quem
e a que a subm ete. Se falam os de relação, falam os de m ovim ento, em algo
dinâ-m ico. Se faladinâ-m os edinâ-m subdinâ-m issão, faladinâ-m os de poder. Logo, relação de subm issão
é relação de poder, é poder em m ovim ento. Se falam os em classe subalterna,
fa-lam os em relação de poder entre classes, sendo um polo dessa relação a classe
dom inante e o outro polo a classe dom inada, isto em um prim eiro m om ento da
análise, desses conceitos. Lem brando Foucault, o poder não se tem , se exerce;
portanto, a relação de poder inerente a relação classe dom inante/classe dom inada
é um a relação dinâm ica entre forças sociais antagônicas.
* U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d a P a r a r b a
N o entanto, essa relação de forças sociais não se desenvolve apenas por leis
internas a essa relação, m as sobretudo em função do contexto, da conjuntura,
em que ela se processa e nesse sentido depende, entre outros fatores, de : a) dos determ inantes históricos, ou seja, dos "vestígios" dos M odos de
Pro-dução anteriores e de com o se articulam com o M odo de Produção Capitalista,
em cada contexto histórico particular;
b) dos determ inantes econôm icos, ou seja, do estágio conjuntural do
de-senvolvim ento das relações sociais de produção, que está em função da relação
de dependência ao capital m ultinacional, com o ocorre, por exem plo, no caso
brasileiro.
A o se tentar dar prioridade ao enfoque psicossocial no estudo da dinâm ica
da vida em um a sociedade de classes, é necessário' se ter claro qual o
objeto
denosso estudo.
O ponto de vista psicossocial na análise das classes sociais pode definir,
en-tre outras possibilidades, a CU LTU RA com o objeto de estudo. E com o se trata
de analisar as classes subalternas podem os dizer que nosso objeto de estudo será
a cultura subalterna, ou cultura oprim ida, ou ainda cultura popular.
O conjunto de fenôm enos psicossocial denom inado por Cultura, objeto
tradicional da A ntropologia, tem sido estudado por outras ciências, em sua
qlo-balidade ou em aspectos particulares e em cada caso com enfoques diferentes,
onde, em cada um desses terrenos, pode ganhar denom inações distintas: sistem as
sim bólicos, signos, ideologia, com unicação, im aginário, representação social.
Por que o uso do term o Cultura? Porque a cultura pode ser entendida
co-m o o instruco-m ento voltado para a reprodução subjetiva das relações sociais
ob-jetivas. O u seja, o conceito de cultura é um a ferram enta im portante para se
po-der com preenpo-der com o se reproduzem na relação consciente/inconsciente as
con-dições concretas de vida a que as pessoas estão subm etidas, o sentido que as
pes-soas dão à posição de classe que ocupam na sociedade concreta em que vivem .
Poderíam os fazer aqui as perguntas de N estor G arcia Canclini: "Com o
po-dem os com preender estas refutações ao real que construim os nos sonhos, nos
si-m ulacros da utopia e da literatura, nos gastos sem retorno das festas e em todas
as estratégias do im aginário e nas astúcias retóricas do desejo? Por que
sobrevi-vem e proliferam estes universos fictícios num m undo que reiteradam ente se
sub-m ete à racionalidade da eficiência?" O próprio Canclini responde: "A nossa
capa-cidade em transcender as necessidades m ateriais e projetar-nos rum o a um futuro
que não deriva autom aticam ente do desenvolvim ento econôm ico, m erece um
lu-gar num a interpretação da cultura."
Com essa preocupação podem os definir CU LTU RA com o um tipo
parti-cular de atividade produtiva (a produção sim bólica) cujo objetivo é com
preen-der para reproduzir, resistir ou transform ar a estrutura social.
Pensar a Cultura nesses term os, traz algum as constatações fundam entais
que m erecem ser notadas:
1.0 ) não podem os entender cultura no singular: não existe a Cultura N
a-cional, a Cultura Brasileira, porque o povo brasileiro não é um grupo social
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m ogêneo e não só constitu (do por diferenças, m as principalm ente por
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c o n í l ü )Tam bém não podem os falar em Cultura Popular no singular, m as Culturas PO !>lI
lares, onde o adjetivo popular qualifica a oposição à cultura dom inante, com o t
sultado da desigualdade e do conflito social. A cultura dos operários m etalúrgi
cos do A BC paulista é a m esm a cultura dos canavieiros nordestinos? A cultura
de um grupo de trabalhadores rurais é a m esm a quando estão vivendo a
condi-ção de posseiros e depois com o pequenos proprietários quando são atingidos
pela Reform a A grária da N ova República?
2.0 entende-se por cultura "não só o m undo dos livros e das belas artes",
m as tam bém e sobretudo todos os processos de produção de sentido e
significa-do, os m ecanism os ideológicos com que se im põem um falso consenso, as form as particulares que cada grupo social tem de viver e pensar o cotidiano.
3.0 todo ato de representação e sim bolização da vida social não é um ato
puram ente subjetivo que se processa em si m esm o, um a vez que todo com
porta-m ento huporta-m ano é siporta-m ultaneaporta-m ente prático, m aterial, portanto econôm ico, e
sub-jetivo, isto é, sim bólico. O u seja, através do com portam ento atuam os sobre um a
realidade social dada e essa atuação atribui significado ao próprio com portam
en-to. N o entanto, não é o indivíduo isolado que cria essa significação de form a
uni-lateral, m as ela se dá conform e a inserção desse indivíduo nas relações sociais de
produção, ou seja, da classe social a que esse indivíduo pertence e, portanto, do
sentido histórico que sua classe social adquire em cada m om ento de expressão
concreta da luta de classes. A ssim , a consciência que se tem do m undo m aterial
em que se vive se elabora a partir das cond ições concretas de vida, dando
significa-do e sentisignifica-do ao com portam ento que, por sua vez, reproduz, resiste ou
transfor-m a essas transfor-m estransfor-m as condições concretas de vida.
4.0) a cultura de cada grupo social particular se cria, se m antém e se
trans-form a num quadro geral de forças sociais conflitivas (antagônicas e
não-an~a~ô-nicas, inim igas ou aliadas, conhecidas ou desconhecidas) que m udam de p~slçoes
em cada contexto histórico. N esse jogo de forças sociais, as culturas dom inantes
articuladas entre si jogam pesado contra as culturas populares, subalternas:
a) im põem as norm as e conteúdos culturais suas ao conjunto da sociedade,
e neste caso a cultura se torna ideologia, com a finalidade de adaptar e
confor-m ar os confor-m econfor-m bros dessa sociedade a uconfor-m a estrutura econôm ica e política que
ga-ranta os interesses que Ihes dão sentido;
b) legitim am a estrutura e os m ecanism os de exploração econô~ic~_ e
do-m inação política, fazendo com que tudo isso seja percebido co~o .a. uruca
for-m a "natural", de organização da sociedade, escondendo o seu significado,
tor-nando-a a-histórica, ocultando sua arbitrariedade; ..
c) colocam em prática a sua visão de m undo, através do Estado que e
instru-m ental izado para esse fiinstru-m , instru-m as é apresentado ao conjunto da sociedade com o ur:n
m ecanism o neutro que tem a final idade de garantir o "bem com um ". A traves
do Estado o ponto de vista das classes dom inantes regula toda a vida social: a
econom ia, a política, a cultura, a existência cotidiana. Todo indivíduo hum ano,
em seu processo de socialização, necessita de poder se ligar a algum tipo de m
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canism o social que perm ita, pelo m enos m inim am ente, o seu desenv~lvim ento
pessoal e proporcione segurança m aterial e afetiva. A s cla~ses .dom m antes s~
aproveitam desse fato para tornarem a açã~ do Estad.o. ~~IS eficaz no
ate~d~-m ento de seus interesses classistas. Coate~d~-m o afirate~d~-m a Cancll~I:. ~m a ~,rdem
de~po~,I-ca se sustenta quando constrói o seu espelho na subJetl~ldade . O u seja, a
opressão não consegue existir se baseada apenas ~o ~n~nlm ~~o das estrutura.s
coletivas: alim enta-se do eco que o social gera nos
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i n d i v ú í u o s . A s classes dom~-nantes criam organism os que regulam , transm item , readaptam a cultura d~m
l-nante em seu conjunto ou em particularidades conform e se desenvolve o J?~O
das forças sociais. N o capitalism o esses organism os são, entre outros: a tarnüia.
a escola, os m eios de com unicação, a organização do espaço e .do tem ~o, as
po-líticas sociais. A s ações dos organism os e instituições devem ser m
:erna~lz~~a,~.pe-Ias pessoas com o "assim é que deve ser", "isso é natural q.ue s..eJaa~sl~, ISSO
sem pre foi assim e assim sem pre será" _ O sentido da orqaruzaçao obJe~lva.~a
so-ciedade, segundo os interesses das classes d.om ina?t~s, passa a ter slgnlflc~o
para a subjetividade de cada pessoa, produzindo hábitos, esquem as de
referen-cia para a percepção e análise da realidade, gerando com portam entos que se
orientam por padrões éticos, m orais, estéticos, de gosto que devem ter as culturas
dom inantes por referência. ' , .
Falam os do jogo duro das classes dom inantes. E oadversarto. as cl~sses
po-pulares, com o se situa nesse jogo? V ale lem brar: as classes populares cna~ suas
culturas com a finalidade de reproduzir, resistir ou transform ar as condições de
exploração e dom inação a que estão subm etidas. Portanto, pensar as cul:uras
populares só é adequado se for feito em relação as culturas que a elas se opoem .
tendo por base os conflitos concretos de classe. , .
"O povo produz no trabalho e na vida form as eS"peclflc~s.~,e
representa-ção reprodução e reelaboração sim ból ica das suas relaçoes sociais . A s c~lturas
po~ulares são o resultado de um a apropriação de~ig_ualda ~ultura dom inante,
realizam um a elaboração específica das suas condições de V ida através de um a
interação contraditória com as classes dom inantes. . ._
A ssim , as culturas populares são construídas a partir de duas situaçoes que
se articulam de form a confl itiva: .
a) as práticas profissionais, fam iliares, com unicacionais e. de ~do tipo
~tra-vés das quais o sistem a capitalista organiza a vida de todos os cidadãos a partir do
ponto de vista dos interesses dom inantes; .
b) as práticas e form as de pensam ento que os setores pop.ulares cr.lam p~ra
si próprios, através das quais percebem e expressam a sua realidade existencial,
o seu lugar subordinado na produção, na circulação e no consum o, quer dos
bens m ateriais com o dos sim bólicos.
N essa interação contraditória entre as várias m anifestações das culturas
do-m inantes agindo sobre as cado-m adas populares e as precárias condições de vid~
des-ta gente, com o diria Pedro Benjam im G arcia, há com o que um a antropofagia por
parte das culturas populares: elas engolem as culturas dom inantes e as ~ospem
diferentes. "Engana-se 'quem vê no discurso popu~ar ilJenas refl~x~ do discurso
dom inante", assim com o, as culturas populares nao sao puras, distintas
cornple-2 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 5 (1 ): pág. 29-35, Jan/Jun, 1987
ta m ente das culturas dom inantes. N a real idade as culturas populares e dom
inan-tes interagem , se confrontam e se contam inam . A penas que as culturas dom
inan-tes se apropriam de aspectos das culturas populares e transform am o que há de
valor de uso no m eio popular em valor de troca, em função dos interesses do
ca-pital (por exem plo: o artesanato, o folclore, a literatura de cordel, as festas
po-pulares, as m úsicas etc). Por sua vez, os populares se apropriam de aspectos das
culturas dom inantes, tentando se adaptar e se integrar às norm as vigentes, ou
re-sistir a elas, ou, quando possível, transform á-Ias (por exem plo: os populares
pos-suem pelo m enos duas redes de com unicação e inform ação - um a para ser usada
frente aos patrões, as autoridades, aos "hom e", com um a linguagem e um a
lógi-ca que reproduz o que esses interlocutores esperam ver e ouvir; um a outra rede
interna utilizada entre eles com estratégias próprias de dissim ulação para que as
críticas a quem ou a que possa representar a dom inação e exploração sejam
ape-nas e tão-som ente percebidas pelos parceiros de um código com um .)
N este aspecto surge para nós, interessados em com preender o que seja a
cultura popular, um problem a expresso por A lfredo M offatt da seguinte form a:
"em geral, a com um ente cham ada 'cultura popular' já está deform ada pelo
sis-tem a de colonização cultural. O u seja, estam os diante do desafio de resgatar algo
que ainda não se sabe exatam ente o que é. É um a situação algo sem elhante à do
arqueólogo cuja tarefa é ir retirando as cam adas de pintura de um afresco, no
qual em cim a de um a im agem há outra pintada e depois outra e m ais outra:
sabe-se que o original está em baixo, m as é difícil chegar a ele pois corre-se o risco de,
com as raspagens, apagá-Io com pletam ente."
Q uanto ao caráter de resistência que está contido em várias m anifestações
das culturas populares é preciso se entender que resistir é apenas um a form a de
não se adaptar, de não aderir com pletam ente a um a situação que se rejeita; m as
resistir não necessariam ente transform a essa situação. U m aluno que "fila", que
"cola" durante um a prova, resiste ao poder do professor, m as não transform a
es-sa relação de poder. A ssim , as cam adas populares enquanto não visualizam
pos-sibil idades concretas de transform ar suas condições de vida, criam , m uitas vezes
de form a inconsciente, im pulsionadas pelas necessidades im ediatas da luta pela
sobrevivência, estratégias de resistência às relações de poder que as subm etem . O
im portante, do ponto de vista popular, é que tivessem condições (criadas por
elas e seus aliados) de cam inharem na direção de criarem , a partir dessas
estraté-gias de resistência, estratéestraté-gias de transform ação da sociedade. V ale lem brar que
estas últim as as culturas dom inantes não as absorvem , criam justificativas para
reprim í-Ias.
A s inter-relações dinâm icas, que m uitas vezes parecem desconexas, entre a tríade "aderir", "resistir" e/ou "transform ar" é fundam ental para que se possa
entender os vários sentidos, às vezes contraditórios e sim ultâneos, que dão
con-teúdo as culturas populares. A ssim , pessoas que vivem no seu cotidiano
senti-m entos contínuos de fadiga, hum ilhação e frustração, conseguem produzir m
o-m entos de extreo-m a alegria (nas festas, por exem plo), de solidariedade (o que
tal-vez explique o fato de várias pessoas de um a m esm a fam ília conseguirem viver
com apenas um salário rnrnlrno). de perseverança. Em m eio a tudo isso existem
ainda o alcoolism o, a com petição, as brigas, a exploração do m ais fraco, o
des-respeito a com panheiros de um sofrim ento com um , a desesperança. ~ na com
-plexidade das contradições desse conjunto de significados que se processa aos
populares o sentido do trabalho, da fam flia, da afetividade, das m anifestações
artísticas, da noção de espaço e tem po, do sentir m edo e coragem , do prazer
e da dor, do significado da vida e da m orte.
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( § ) .O im ediato e o concreto estão fortem ente presentes nas culturas
popula-res. N o entanto, é através da história, do contar um "caso", que os populares,
particularm ente os analfabetos, conseguem se abstrair do "aqui e agora" na
tentativa de contextualizar suas opiniões. A história pessoal de vida, a história
da fam l1ia, do grupo ou com unidade a que pertence são freqüentem ente retom
a-das pelos populares com o possibilidade de raciocinar e analisar por com paração
situações concretas novas, onde tem que decidir sobre o que fazer. A ssim ,
utili-zando a m em ória da história individual
el
ou coletiva a cultura popularracioci-na sobre o presente tentando sentir e pensar o que deve ser dito e o que deve
ser feito, principalm ente em situações novas. D ependendo de qual estratégia
as-sum ir (aderir, resistir, ou transform ar) o contorno e o colorido da história se
alteram . M as, m uitas vezes, pelo confronto, entre os próprios populares, das
lei-turas diferentes de um a história com um , a estratégia assum ida inicialm ente
ter-m ina por ser revista. Isto indica que tater-m béter-m para as cam adas populares a
per-cepção de sua própria identidade, tanto a nível individual com o coletivo,
guar-da estreita relação com as condições concretas do presente, com a leitura que se
faz da história e com a prospectiva de vida futura.
Por tudo o que foi dito aqui e pelo m uito m ais que se tem estudado sobre
as cham adas classes subalternas, pode-se constatar que as pessoas que as com
-põem , assim com o suas vidas, não térn nada de prim ário, de fácil, de sim ples,
'com o querem induzir as concepções que afirm am que essas pessoas "estão num
estágio inicial, prim ário, do desenvolvim ento hum ano". A s culturas populares
têm por referência um m undo concreto e um a percepção dele diferente e m uitas
vezes oposta a nossa percepção desse m esm o m undo. Tem form as diferentes da
nossa de captar, significar e expressar um a realidade da qual nós tam bém
faze-m os parte. Se querefaze-m os cofaze-m preender os pontos de vista populares sobre a vida, o
hum ano, o m u n d o ' precisam os concretam ente ter um a postura rádical de
respei-to a esses ponrespei-tos de vista e assim , talvez consigam os dialogar com eles,
entenden-do-os, fazendo-nos entender, todos aprendendo e ensinando, e, quem sabe,
cons-truindo, a partir daí, um projeto com um de vida coletiva.
( § ) - S o b r e e s t e a s s u n t o éi n t e r e s s a n t e a l e i t u r a d o t e r c e i r o c a p í t u l o d o l i v r o d e A l f r e d o M o f f a t t "Psicoterapia d o O p r i m i d o " e m q u e o a u t o r f a z u m a b r e v e a n á l i s e d e a l g u n s
a s p e c t o s d a c u l t u r a p o p u l a r : o s s e n t i m e n t o s , o s s í m b o l o s , o s i n s t r u m e n t o s , o e s p a ç o
e o t e m p o .
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B I B L I O G R A F I A C I T A D A N O T E X T O :
C A N C L l N I . N é s t o r G a r c i a
A
A s C u ltu ra s P o p u la re s n o C a p ita lis m o , S P . E d i t o r a B r a s l l l e n • • 1 9 8 0 .G A R C I A . P e d r e B e n j a m i m "E d u c a ç ã o P o p u la r: A lg u m a s R e fle x õ e s e m T o rn o d a Q u e
r ()
d o S a b e r" in : A Q u e s tã o P o lític a d a E d u c a ç ã o P o p u la rS P . E d i t o r a B r a s i l i e n • 1 OM O F F A T T . A l f r e d o P s ic o te ra p ia d o O p rim id o , S P . E d i t o r a C o r t e z , 1 9 8 0 .