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HmH
áWí
Â^bW-.íÚuíúíi
STALINISTA
1ARTE E FUNCIONALIDADE
ÏKP1¿V'AVL
íïW-'
f *.1 L r
J
Jo
ãoVicente Ganzarolli de Oliveira
1 Agradeço aoprofessor Alberto PintoFilhopelas valiosassugestões.
i
ABSTRACT
1Professorde
HistóriaeTeoriadâ ArtedaEscolade BelasArtesda UFRJ.
¡»tend to blend in art
,
thisarticle analyzes
the phasis tothe period
through Assuming that beautyrelationship
between at which Josepn Stalin mI
y giving specR I K^I I *itr-w SR
.
m
m
i. Ti
Ondeestáaverdadeemtudo issoi KevinBales
Entende -
sepor
arte umaatividade
inerente ao múltiplos elos
e conflitos entre a arte e a fundo- homem
etambém ao seuproduto .
Perguntarsobre nalidade .
Viso,
istosim ,
comentar sucintamenteesse a função reporta-
nos àspr
óprias
origensdo
fe-
tematomando como
pontode partida
operfodo de
nômeno artístico
, pois
seh
á uma perguntaque
a- quase
30 anos,
emque
a então União Soviética companha toda
tentativade explicar
a arte, ei - la
: estevesob
alideran
çade Joseph
Stálin
(1942 aexiste
funçãopara
a arte? Claro
estáque ,
se a 1953).
resposta for afirmativa
, cabe esclarecer qual venha
a ser afun
çãopor
quese
pergunta.
Se negativa,
oesclarecimento deve expor
os motivosque le -
variam a arte anãoter função
.
De antemãopode -
se
dizer que
hájustificativas plaus
íveis para asduas
respostas
preliminares .
Eexemplos . Indo
aos ex-tremos
das rela
çõesposs
íveis entre arte e fun-
portante, 1
erShakespeare
ou ter umpar de botas
?"
donaIidade
teríamos, de
umlado ,
olema
romântico Stravinski ,
(1946, p .
125).
Noper
íodo que
se segueda "
artepela
arte" , do
outrolado ,
a arte como ins-
àRevolu
çãode
1917,
a funçãoda
arte édivulgar
trumento
da propaganda pol
ítica.
Opresenteartigo econduzir
à aceitação osideais revolucion
ários,não se propõe a uma
abordagem profunda dos
Partindo dapremissa de
quealiteratura deve
aten-
A
produ
ção artística a sercomentada
insere-
sena
rubrica da propaganda .
Éum
contextoemque
aartese
acha
aservi
çodo partido
comunista. Ali
ás,
otema já
se acha antecipado de
formaembrion
ária na Rússia czarista.
Perguntava-
se nos círculos
in-telectuais da d
écada de
1960:"
Oque
é mais im-
09
R e v i s t a I N T E R F A C E S - Núm e r o 9 / 2 0 0 5 - C e n t r o d e L e t r a s e A r t e s d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e Janeiro
dois milh
õesde pessoas .
Diz-
se, da
í,
que foi a ex-posiçãoartística mais
amplamente
visitadade todos
ostempos
. Quanto
ao juízo estéticodos
visitantesacerca
da
artevanguardista europ
éiada primeira metade do
século ,
éalgo
quepermanecemos
semsaber
(Clark ,
1997, p .
62-
3).
No oriente, h
á umparalelo
naideologia ultranacionalista do
Japãoimperial da d
écada de
20, de
formamaisespec
ífica,
na organização
kokuhonsha ,
fundadapara propa-gar
asupremacia racial
japonesa no extremoda
Ásia
e nasilhas do
Pacífico oriental .
Éo queYukio Mishima ,
o célebre
escritor neofascista,
tentou res-
gatarem época mais recente
,
numademonstra
çãosingular de
submissãoda
arte aideais de
índole pol
ítica(idem , p .
57-
8).
A
id
éia em si não é nova. Podemos retroceder
pelo
menos até a Grécia
antiga, onde
encon-
traremos em
Plat
ão oparadigma
teórico queoutorga ao
Estado
odireito
e odever de controlar
o
que cabe
à arteproduzir .
Opoeta cujaobra
nãocontribua para
aeduca
çãoda juventude
nãoterialugar
naRep
ública idealizada pelo fil
ósofoateni -
ense
(cf . Plat
ão ,
1959, p .
607).
Sabemosque
abase
filos
ófica para essa
teoria vemde
Sócrates,
em sualuta
contra a corrente sofísticaprotagnizada
por Górgias, que
seara a arte e amoral , rompendo
as-
sim com um
bin
ómio insepar
ável desde
ostemposde
Homero.
Nessesentido
Sócrates é um restau-
rador de
Homero.
Uma restauraçãoque
se pro-
longa
nahist
ória do
pensamentoocidental .
Nohu -
manismo
do
séc.
XII, Abelardo
tematitude p
ática-
mente
id
êntica àde Plat
ão face aos poetas.
Namesma época
,
Averróis,
omaior nomeda intelec -
tualidade hispano-
muçulmana , diria que " toda
imi-
tação
de
coisas irracionaiséindigna do homem " .
E
tamb
ém:der
àsnecessidades
específicasdo partido ,
Lênin escreve:A
literatura deve
necessariamente-
eesta é a sua
obriga
ção-
tornar-
se umelemento
a serviçodo partido social -
democr
ático, indissoluvelmente ligado
aos seusoutros
elementos
(apud Plazaola ,
1971,
p.
207).
Está
impl
ícita nasid
éiasde
Lênin acondena
çãoda liberdade de express
ão,
sejaela
através da im-
prensa
,daliteratura
oude qualquer
outro ramoda atividade
artística. Ainda
maisradical
é a posturade Trotsky ,
paraquem
a artedeveria
estarsob "
avigilante
censurarevolucion
ária" .
Nasociedade
por ele idealizada , desapareceriam
assepara
çõesente a arte e a
ind
ústria,
assim como entre a arte ea natureza
.
Nomundo de
Trotsty.
O
homem
se tornará¡mensamentemais forte,
maisinteligente
e maissutil
;seu corpo
setornarámais harmonioso ,
seusmovimentos
maisritmados , sua voz mais musical .
As formasde vida
torna-
se-
ãomais
dinamicamente dram
áticas.
Otipo
humano
médio chegar
á àsalturas de
um Aristóteles ,
umGoethe
ou um Marx.
E,
al
émdisso ,
novospicos h
ãode levantar
-se(
apud
Chipp,
1988,
p.
473).
A proposta
de Trotsky ,
como seevidencia ,
éab -
surda
.
Situação
similar
a estada
URSS,
encontramosna Itá
lia de Mussolini
e naAlemanha de Hitler .
Entendendo
a arteexpressionista
como ameaça aosvalores
estéticosditados pelo partido
nazista -que
sevoltavam
para a suposta purezaracial
e consequentesuperioridade dos
germânicos-
ogo-
verno de Hitler
organiza e inaugura emMunique
no anode
1937 aexposi
ção que tevepor título
Ar-
te
degenerada .
Forma maisde
700obras que
percorreramtreze
cidades da Alemanha
eda Á
u-
stria ,
sempre emcondi
çãodepreciativa ,
objeti-
vando denunciar , dentre
outras coisas,
o"
enegre- cimento"
(verníggerung), da
arteocidental ,
cau-
sado pelas
influênciasestil
ísticas oriundas da África.
Apenas em
Munique , onde
se mantevedurante
quatromeses
,
a exposição foi visitadapor
mais deBusquemos , pois ,
um gênerode
mo-
dula
çõesdistinto do que usam as
mulheres
e oshomens
vãos eviciosos;um gênero
de
músicatal que
excite afortalezas
de
ânimo e ao mesmo tempo arobustez .
Esse gênerode
ritmos eraconhecido
no tempode Plat
ão,
masnãono nosso(
apud
Menéndez Pel
ayo,
1962,
p .
390-
1).
Muitos outros
exemplos
de autores e épocas
diversaspoderiam
serinclu
ídos aqui .
Masissonão90
R e v i s t a I N T E R F A C E S Núm e r o 9 / 2 0 0 5 - C e n t r o d e L e t r a s e A r t e s d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e j a n e i r o1Êf naprática,o
mesmo tipo decrítica feita à tecnocracia
norte-americanados anos60,conformese vênaslinhas de
FrançoisChoay:"Nos
EUA,osimóveiseram
objetosdeprêmiode good design industrial,
da mesma forma
comoocorriacom um
ferrode passar roupa, umbarbeadorou um
automóvel"* Choay, {1979,p.37).
é necessário
.
O importante a reter é asemelhan
çacontextual
queeles
evocam emrela
ção aoper
íodo estalinista
,embora
inegável
, restringe-sebasi
-camente à
pura id
éiade que
a artedeve
estarvinculada
a uma finalidade externa.Plat
ão,Abelardo
e Averróispensavam
na arte como um meio para oaperfei
çoamentomoral do homem .
Não viam no fazer artístico e no seu
produto
ummero instrumento de afirma
çãodesta
oudaquela
facção
pol
íticaespec
ífica.
Noutraspalavras
,a artenãoestava
diretamente inserida
no circuitoda
pro-paganda pol
ítica,oque constitui ali
ásumfen
ômenomuito recente no
mundo .
A instauração efetiva eem
grande escala do bin
ómio arte-propaganda pol
ítica data
daprimeira metade do
séc.
XX e temnos regimes
totalit
áriosdessa
época
o seu habitatnatural
. E o regimeestalinista
, por tersido
o maisduradouro de todos
ostotalitarismos do
século passado sob
ocomando de
um únicol
íder
,tornar- se espontaneamenteomaisrepresentativodaquele
mesmo
fenômeno
.Evidentemente
, apropaganda
envolvendo
afigura do l
íder
não se restringia necessariamente aos finspol
íticos. Cabe lembrar que
a vozdo
fuhrerú nha opoder de ordenar
tanto oholocausto
quanto acompra de quinquilharias
,como
destacaram Adorno
eHorkheimer
3.
Sabe-
se
quePicasso
,embora comunista
e sim-patizante de
Stálin ,
não
costumavapintar
temasdiretamente ligados
àpol
ítica.
Por ocasiãoda
mortede
Stálin
,em 1953,Picassoteverecusado
umretratoque
pintara
dol
íder sovi
ético.Faltava
-lhe
sufi- ciente" realismo fotogr
áfico"
. Na ocasião, LouisAragon, seu amigo e
aliado
, escreveu; nosso ca-marada
Picasso esqueceu-secompletamente de que ele
estavadirigindo
-se emprimeiro lugar
eprincipalmente
aotrabalhador
natristeza,atingido pelo
seu infortúnioterrível
(apud
Lucie-Smith, 1994,
p
.
45). Al
émdesse
retrato, outra exceção como"
arteengajada "
naobra de
Picasso- semd
úvida
amais
famosa de todas
é Guernica.
Cito ipsislitteris
umpassagem
de
umartigo jornal
ístico de
Gustavo Corção,
escritopouco depois do lan
çamento doseu
livro
último
epol
êmico, Osécuio do nada:documentado
e isento depreconceitos
, queutilizei
nomeulivro
Osécuio donada. Guernica, a
cidade sagrada dos
basco, einocentemente
destitu
ída
dequalquer
interessemilitar
,teriasido
visitada
nodia
26de abril
de 1937, dia d
é festa ede mercado, por
umaesquadrilha de heinke
/sflfejunkers
52,que
teriamarrasado
acidade
,causando
amorte
de
maisde mil habitantes
,incluindo mulheres
e crianças. Essefeito atribu
ído
aosnacionalistas desencadeou
protestos
da esquerda
católica
francesa e inspirou o famosoquadro de
Picasso(Corção, 1973 p. 2).
Ocorre que o
quadro de
Picasso,ilustrativo do bombardeio de
Guernica epintado
consoante aversão
de Hugh Thomas
, antes no Museude
ArteModerna de
Nova Iorque ehoje
noPrado
, contauma hist
ória falsa noparecer de
Gustavo Corção. Umparecer partilhado
por outrosensa
ístasde
crédito
,comoJefferey
HarteLouis Bolin
.Segundo
Louis
Bolin
,que
escreve combase em docu
-mentação
devidamente abalizada
,Guernica
era,durante
o trágicoepis
ódio fratricida espanhol,
umgrande arsenal de
muniçõesdas
tropas revo-lucion
árias .
Acidade
foi efetivamentetomada pelos
nacionalistas
em29de abril de
1937,trêsdias
após obombardeio de que fala Thomas
eque pinta Picasso
. Acidade
já estava vazia antesda chegada dos aliados de
Franco, que
encontraramtodas
as casasdestru
ídas
adinamite
: nãoapenas
um efeitoda
táticade
terraarrasada
contra o inimigo, mas também um pretextopara que
sepudesse
atacaromesmo inimigo através
da
imprensa,endossando
a versão dobombardeio
aéreo.
Enfatizava-se assimo
manique
ísmorevolucion
árioque
atéhoje leva
muitas
pessoas
a verem Franco como assassino e Stálin
comoher
ói, oque
constitui umadistor
ção graveda realidade
.A versão
defendida
porBolin ,
Hart e Corção a-p
óia-se numdado evidente
,apoiado por
sua vez numa ausênciafundamental
:Todo
omundo conhece
a versão oficial dobombardeio de
Guernica/durante
a guerracivil espanhola
. Foi essa versão,tirada do livro de Hugh Thomas ,
TheSpanishCivii
War,tido
comobem
(
.
..
) nãohavia qualquer
vestígiode
bombardeio
aéreo nos jardins,praças eruas da cidade
.
Dasgrandes
craterasque
taisbombardeios
costumamdeixar
,91
R e v i s t a I N T E R F A C E S - Núm e r o 9 / 2 0 0 5 - C e n t r o d e L e t r a s e A r l e s d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e j a n e i r o
4Veja-se,porexemplo,
a célebre fotografia de RobertCappa,deum
soldadorepublíacano nomomentoemqueé mortalmenteatingido
porumdisparo.Há
umareprodução na tavo Corção,
que me parece pertinente
:obradejanson(cí Janson, 1992,p.776-7), Retrata-se aliuma realidadecomum nas
guerras. Êassim, As balasdisparadas não escolhem necessariamente seus
alvos.Comotambém ocorremuitasvezes comaquelesque as disparam.
Machaut í
cf.Dufourq ,
1942, p.
29).
Mas
voltando
a Guernica,pode
-se aindadis
-cordar da
versão emque
creem Hart,Bolin
, Cor- ção.
Mesmo assim, isso nãojustificaria
o supostovalor doeu mental do quadro de
Picasso, pois
existe uma versão contrária àquela que
a Históriaendossou ,
eque seacha amparada por
argumentos no mínimorespeit
áveisquanto às suaspremissas .
Portanto
, pode
-seafirmar que
, quanto às versãoexaltada pelo pincel de
Picasso,h
ád
úvida
quanto aquem tenha realmente explodido
as casasda cidade basca
em 1937. E seh
ád
úvida
, isso já constitui motivo suficientepara que
Picasso,antesde pintar
Guernica buscasse comimparcialidade pol
ítica informações mais objetivassobre
oque
efetivamente aconteceuemGuernica4.
ParaClem-ningu
émp
ôde
ver o menor vestígio .
Adestrui
ção atingira somente as casas,(
ibidem
).E cabe
repetir um
argumento expostopor
Gus-E
aqui surge
outraevid
ência dainterrogação cuibonurrfi. Aquem
aproveitaria tal destrui
ção? Éclaro
que um exércitovencedor
que entra semluta
numacidade
não temo menor interesse emdestru
í-la
;é aosvencidos que
interessa não
deixar boa
presa aosvencedores
, (ibidem
).
Tamb
émconcordo
comGustavo Corçãoquando diz que
Picasso, se tencionavapintar
umquadro
em protesto contra a
covardia
e amonstruosidade que
é obombardeio de
umacidade
pacífica e in-defesa
,deveria
nomeá-lo Helsinqui
enão Guernica(cf
. ibidem
). J
áqueHelsinqui
erade
fato umacidade pac
ífica eindefesa
em 1940, aFinl
ândia
não co-bi
çava as terrasde nenhum
outropa
ís, e mesmoassim
foi bombardeada pelos comunistas de
Stálin
em 1940,
simplesmente por
ser aFinl
ândia
umobje-tivo militar
importantepara expans
ãosovi
ética
na regiãodo
Mar Báltico
e napr
ópria Escandin
ávia.
Não
que
as coisasocorram de
maneira muitodi
- ferente nospa
ísescapitalistas .
Oque dizer das in
- justiças eatrocidades praticadas pela Inglaterra
em
solo indiano
,fundamentalmente
emprol de
in-teresses econó
micos
epol
íticos
? E isso numtempoherdeiro da preocupa
çãode
VanGogh
e Gauguin emque
Stálin ainda
eraestudante de teologia
e com oestado corruptodo mundo " Qanson
, 1996, p
.Hitler
pintorde paredes .
Não está em questão aqui o
talento de
Picasso como artista.
Picasso foi um gênio;possivelmente
omaior artista
do
séc.
XX.
Nãoconhe
ço,
nahist
óriaocidental
,posi
çãocompar
ável
à sua nas artescep
ções estéticas que iriamdirecionar
os rumospl
ásticas: um artista que resuma em si mesmo ada
arte soviéticadurante
a sualideran
ça. Admirador
produ
ção artísticade
toda uma época.Leonardo de
CharlesChaplin
, Stálin supervisionava pes
-divide
a supremaciado
Renascimento com Mi-soalmente
osfilmes
a serem vistospela popula
ção,chelangelo
;Germini nãochega
a resumirem si oNenhum
filmedeveria
serexibido
sem a sua Barroco; e nem Canova é exatamente a sínteseaprova
çãodireta . Tal atitude inclu
ía-se numpro
-má
ximado neoclassicismo .
Picassoofuscaosoutros grama maisabrangente
, emque toda
equalquer grandes
artistasdo
séc. XX.
Posiçãocompar
ável
à formade discord
ância face aol
íder supremo
era suatalvez
possa serencontrada
não nas artes vistapor ele
com mausolhos , pois
Stálin bem sabia pl
ásticas, mas,por exemplo
, na músicado
séc.que "
os cérebros podem
ser tãoperigosos
quanto XIV, com afigura
gigantescade Guillaume de
as armas"
(Maythew
etalii
, 2000,
p.33). A tortura,
ent
Greenberg
, Guernicaoferece "
o comentárioexpl
ícito sobre
um eventohist
órico"
(Greenberg
,1996,
p .
145).
Aoque
nãopoderia
sermaisdo
que mera suposição,Greenberg concedeu
o estatutodefato
hist
órico.É interessantecomparar
aatitude de Greenberg relativa
aoquadro de
Picasso com a críticaque
faz àobra de Rouault . Greenberg
con-sidera
opintor franc
ês"
umartistabastante limitado
,que
mascara umasensibilidade convencional com
efeitosmodernistas "
(idem
, p. 98). Emque"
o maiorcrí
tico de
arte norte-americano deste
século " , se
-gundo Rodrigo
Naves(apud idem , p .
7),
sebaseia
para
fazer uma crítica tãonegativa aRouault
? PoisRouault
éreconhecido
nãoapenas
como"
omaior
pintor de
arte sacra do nossos
éculo "
(Ambesio etalii
,1991, p .
896),
mastamb
émcomo "
overdadeiro
668). Isso
confirma
oquãoarbitr
ária
epor
isso mes- moequivocada pode
ser a críticade
arte em seusjuízos
relativos
àsobras dos artistas
.Apoiando
-se em Lênin,
Stálin
constrói ascon
-92
R e v i s t a I N T E R F A C E S - Núm e r o 9 / 2 0 0 5 - C e n t r o (t e L e t r a s e A r t e s d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e j a n e i r oI
Contrariamenteao
entusiasmo de
teóricos comoZhdanov
(secretáriodo
Comitédo Partido
naURSS,
em 1946) e
de Fadeev ,
(diretor da
Associaçãode
Escritores Soviéticos,
em1950),
aprodu
çãoartísticasovi
ética
durante os trêsdec
éniosdo governo de
Stá
lin
caracteriza-
se,
emgrande
parte, pela deca -
d
ência.
Não se tratade
uma fasede completa
es-
tagnação
,
conformepensa Juan Plazaola , com
se- veridade excessiva .
O comunismo favoreceu oaprimoramento do Ballet Bolchoi , disperso ap
ós asepara
çãodas rep
úblicas socialistas sovi
éticas,
devido
àfalta de investimentos vindos da
recémsurgida
iniciativaprivada . Comprometida
com oprograma de
incessantepropaganda pol
ítica nasrepú
blicas integrantes da
União Soviéticaperdeu
muito da sua espontaneidade .
O atode criar
re-
duziu - se , em regra ,
a um instrumento útil
aos finsdo partido .
Autiliza
ção, por
partedos
governantes,
de
umaescultura
oude uma obra liter
ária inseriu-
se no mesmo
quadro
emque
foiutilizado
ode -
sempenho do
ExércitoVermelho
nabatalha de
Sta-lingrado .
Masnote-
se que apropaganda pouco
ounada
tem a vercom
aqualidade da
artee das
suasobras .
No casoda
música,
Stravinskichamou
aatenção
para
o fatode que "
os concursos musicais(
muitos deles , ali
ás, vencidos por
russos) não acres-
centam
grande coisa
à música"
(Stravinski ,
1946,
134-5)
.
Érepresentativo que
ocompositor
russo-
indubitavelmente
umdos
maisimportantes do
séc.
XX
- tenha feito
essaobserva
ção em 1939,
emple -
na
eraestalinista
portanto.
O engajamento
da
arteno programa pol
ítico da
URSSrevela tonalidades espec
íficas,
diferipdo,
portanto
, do que
ocorre naAlemanha de Hitler
e na Itália de Mussolini .
Nessespa
íses apropaganda
governamental ,
atravésda
arte,
temcomodenomi -
nador
comuma ênfasénarela
çãode continuidade
comahist
óriapregressa:enquantoMussolini bus -
cava as raízes
do
fascismo na Romados
césares,
Hitler
personificava osideais nazistas
através da identificação com ocavaleiro
teutónico(cf. Clark ,
1997
,
56-
9). J
á a União Soviética filiava-
sepre -
ferencialmente
àempolga
ção com oprogresso tecnol
ógico. Exemplos emblem
áticos desse fatotemos na maquete construí
da pelo
artistapl
ásticoVladimirT
átlin
para a TerceiraInternacional ,
rea-
lizada
em Moscounoano de 1920, bem
comonasid
éiasdo
poetaVelimir Khlebnikov
acercado
rádio ,
"
aprincipal
árvoreda
consciência" . Segundo ele
:o
degredo
e os assassinatos tornaram-
sel
ínguafranca entre umpovo cuja história sempreteve no
sofrimento
das
massas umdos
seus agentesprin
-cipais
:Desde
o inicio osbolcheviques
an-
gariaram para si ódio universal da
popula
ção.
Piorainda do que
apol
ítica
czaristade "
fazer sangrar ascoló
niaspara a guerra
"
(Worse eve thanthe
tsar'
sbleed-the-cohnies-for-the-war
policies ,
os
relucion
áriosimpuseram requisi
ções cruéisde alimentos , rebanhos , algod
ão eterra
.
Osturcosforam inclusive sub -
metidos
aotrabalho
forçado
nasfazendas
.
Ocom
ércio e aprodu
ção
agrí
cola
nascol
óniaspr
ósperas de
outrora afundaram
.
A fomedecorrente
clamou
cercade
ummilh
ãode vidas ,
segundo alguns ,
muito mais(ibidem
).
Posta em vigor nos
primeiros
anosdo
regimeestalinista
(1928-
32),
oprogramade coletiviza
çãofor
çada coincidia
com aimplanta
çãodo
primeiroplano q
üinq
üenal
;visava
não sóabolir
apro -
priedade privada ,
mastamb
ém pôr um termo às práticas
nómades do kasaks
edos
quirguises, am -
bos
ospovos de
origem turco-
mongólica .
O re-
sultado
foicalamitoso .
Amaior
partedos
pastoresrecusou
-
se adar
seurebanhos
;preferiam
matá- los
e
comer
o quantopodiam
a entregá- los
ás auto-
ridades sovi
éticas .
Fome edoen
çasafligiram
tragi-
camente a
popula
ção nos anosque
se seguiram.
Os
que
resistiamàs ordens de
Stálin
eramgeral -
mente
aprisionados
eexecutados . Milh
ões mor -
reram
.
E isso,
aoque parece ,
nãoapenas com
a aceitação,
mastamb
émcom a aprovaçãode
Stálin
:Existem
indicativos eloquentes de que
Stá
lin
teveparticipa
çãopessoal
no fornecimento insuficientede bens
aliment
ícios justamente para provocar fome entre apopula
ção.
Seuobjetivo
parece
tersido
ode subjugar
avontade da popula
ção edespovoar
oCasaquistão
,
cujo territóriorepresentava ó
timas possibilidades para
o projetode
ex- pans
ão russa(ibidem)
.
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R e v i s t a I N T E R F A C E S Núm e r o 9 / 2 0 0 5 - C e n t r o d e L e t r a s e A r t e s d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e J a n e i r o