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Alea vol.18 número2

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Academic year: 2018

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Texto

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E

ditorial

Pensando a contemporaneidade no sentido proposto por Giorgio Agamben,1 como uma singular relação com nosso próprio tempo, que implica

adesão, mas também distância e certo anacronismo no olhar; um modo de estar no tempo presente, mas interpelando-o, transformando-o e colocando-o permanentemente em relação com outros tempos, surge a pergunta: como a cultura latino-americana contemporânea vivencia e relete hoje o contem-porâneo? Este número de Alea reúne um conjunto de artigos que, de diver-sas maneiras, circulam em torno dessa pergunta.

Abrem o volume dois textos de feição teórica, com evidentes pontos de contato no que tange à percepção transnacional dos processos literários, à margem de qualquer concepção disciplinante de base binária e falsamente homogeneizadora da cultura: Eduardo Coutinho estuda o impacto de um novo comparatismo literário na relexão teórico-crítica latino-americana dos séculos XX e XXI e Ottmar Ette argumenta como os Estudos de Transárea constituem hoje um paradigma cientíico de inestimável valor para o estudo da cultura em um mundo em permanente movimento.

Em uma direção próxima, mas já no âmbito do exercício crítico, Caroline Rolle apresenta as bases de uma pesquisa que integra poéticas latino-ameri-canas contemporâneas produzidas na expansão dos limites da linguagem, do espaço, dos gêneros e dos suportes mais convencionais da arte e da literatura, colocando sua análise transmedial em função do estudo de diferentes imagi-nários urbanos latino-americanos.

Na sequência, Ana Cecilia Olmos e Karl Erik Schøllhammer exploram modos contemporâneos de pensar o regime da representação. Olmos, apos-tando em uma hermenêutica da singularidade estética para pensar a comuni-dade literária, mergulha nas escritas ilegíveis de Héctor Libertella e Diamela Eltit, verdadeiras máquinas corrosivas da linguagem, que desestabilizam os sentidos cristalizados do literário, renunciam à nitidez do comunicável e dinamitam os tradicionais mandatos de representação do latino-americano; Schøllhammer, a partir da oportuna leitura de Luiz Rufato, discute as novas possibilidades de um realismo que, à margem das formas tradicionais de representação literária e do modelo moderno de autonomia literária, incor-pora segmentos do “real” à própria materialidade textual.

1 Referimo-nos ao texto “Che cos’è il contemporaneo?”, traduzido ao português e incluído na edição brasileira do livro O que é o contemporâneo? e outros ensaios (Chapecó: Argos, 2009).

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Já o texto de Valentín Díaz segue o traço de um original movimento intelectual de mão dupla, o impacto do pensamento de Jacques Lacan na ela-boração da poética neobarroca de Severo Sarduy e os efeitos desta no pen-samento de Lacan, lendo nessa trama as chaves de uma profunda transfor-mação do pensamento a partir da segunda metade do século XX. Diogo de Hollanda, por sua vez, caracteriza a tensão estética da violência na literatura do narcotráico, focando seu estudo na obra do escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez e na maneira como o romance El ruído de las cosas al caer

restitui, na icção, uma experiência que pode ser esvaziada pela banalização midiática sem compromisso com a memória.

O artigo de Pablo Rocca traz para o debate contemporâneo temas da maior relevância na historiograia literária latino-americana: a relação conli-tuosa de expressões literárias de base oral com o cânone e o lugar da poesia popular na instituição letrada, ancorando sua relexão no estudo de um sig-niicativo corpus poético argentino e uruguaio. Partindo de uma perspectiva comparada, Ivette Sánchez explora o tema do mercado das artes visuais e da distribuição do livro e da literatura na contemporaneidade latino-americana e Markus Alexander Lenz aproxima a produção poética de dois escritores chi-lenos que, à primeira vista, não sugerem pontos em comum, mas comparti-lham ainidades profundas na compreensão da função da poesia na contem-poraneidade: Nicanor Parra e Roberto Bolaño.

Encerrando a seção, Gesine Müller estuda a mudança de paradigmas no romance latino-americano dos últimos cinquenta anos, com a crescente substituição do romance total pelo romance fragmentado, e Max Hidalgo acompanha o percurso intelectual de Leyla Perrone-Moisés, analisando dia-cronicamente as formas em que o pensamento de Roland Barthes incide na relexão da brasileira em torno da crítica e da literatura.

Fecham o número da revista uma resenha de Adrian Fanjul sobre um projeto editorial recentemente surgido na cidade de São Paulo, o Malha

Fina Cartonera, trabalho que se soma à produção de editoras cartoneras

latino-americanas, e a tradução de Ary Pimentel para uma seleção de textos da antologia poética Todo parecía organizada por Jesús Barquet e Virgilio López Lemus em 2015, que reúne uma preciosa mostra da poesia cubana contem-porânea de tema homoerótico e homoafetivo.

Referências

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