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UNIVERSIDADE POSITIVO LUCAS ARAÚJO DE MELO A QUESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM CURITIBA: BASES PARA A DISCUSSÃO E TÉCNICA DE CENÁRIOS

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A QUESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM CURITIBA: BASES PARA A DISCUSSÃO E TÉCNICA DE CENÁRIOS

CURITIBA 2008

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LUCAS ARAÚJO DE MELO

A QUESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM CURITIBA: BASES PARA A DISCUSSÃO E TÉCNICA DE CENÁRIOS

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão Ambiental do curso de mestrado profissional em Gestão Ambiental, Universidade Positivo (UP)

Orientador: Dr. Klaus Dieter Sautter

CURITIBA 2008

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da Universidade Positivo - Curitiba – PR

M528 Melo, Lucas Araújo de.

A questão dos resíduos sólidos urbanos em Curitiba : bases para a discussão e técnica de cenários / Lucas Araújo de Melo.  Curitiba : Universidade Positivo, 2008.

100 p. : il.

Dissertação (mestrado) – Universidade Positivo, 2008. Orientador(a) : Dr. Klaus Dieter Sautter.

1. Resíduos sólidos urbanos. I. Título.

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TÍTULO: “A QUESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM CURITIBA: BASES PARA A DISCUSSÃO E TÉCNICA DE CENÁRIOS”.

ESTA DISSERTAÇÃO FOI JULGADA ADEQUADA COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM GESTÃO AMBIENTAL (área de concentração: gestão ambiental) PELO PROGRAMA DE MESTRADO EM GESTÃO AMBIENTAL DA UNIVERSIDADE POSITIVO. A DISSERTAÇÃO FOI APROVADA EM SUA FORMA FINAL EM SESSÃO PÚBLICA DE DEFESA, NO DIA 29 DE MARÇO DE 2008, PELA BANCA EXAMINADORA COMPOSTA PELOS SEGUINTES PROFESSORES:

1) Prof Dr. Klaus Dieter Sautter - Unversidade Positivo (Presidente); 2) Prof. Dr. Eduardo Marques Trindade – UFPR / LACTEC (Examinador;) 3) Prof. Dr. Paulo Roberto Janissek – Universidade Positivo (Examinador); 4) Profª. Drª. Selma Aparecida Cubas – Universidade Positivo (Examinadora.

CURITIBA – PR, BRASIL

PROF. MAURÍCIO DZIEDZIC

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

Algumas pessoas foram extremamente importantes, e contribuíram de maneira fundamental para a realização desse trabalho. Primeiramente gostaria de dar agradecimentos especiais ao economista e membro do Núcleo de Análise Conjuntural do IPARDES Gilson Volaco, pelas valiosas informações e considerações a respeito da economia de Curitiba e do Paraná. Agradecimentos também à Profa. Dra. Sieglinde Kindl da Cunha pelas suas idéias e assistências nas considerações socioeconômicas. Ao engenheiro Luiz Celso Silva – o baiano – pelas informações cedidas, e pelas conversas muito proveitosas sobre a questão dos resíduos sólidos em Curitiba, as quais foram de grande valia à elaboração do trabalho. Ao secretário de limpeza pública de Curitiba, Nelson Xavier, e a todo o pessoal do DLP - Departamento de Limpeza Pública, pelas informações e assistências prestadas. Ao Prof. Dr.Paulo Roberto Janissek, e ao meu orientador, Prof. Dr. Klaus Dieter Sautter, pelas iluminações nos momentos difíceis do processo de construção do trabalho e pela paciência. Por fim, agradecimentos especiais a Flora Allain Carrasqueira, pelo carinho, auxílio e compreensão.

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RESUMO

A questão dos Resíduos Sólidos Urbanos tem sido uma das grandes preocupações mundiais em relação ao meio ambiente e ao desenvolvimento humano. Os problemas causados pelos resíduos sólidos têm dimensões ambientais, sociais e econômicas, sendo que esses problemas ficam evidentes principalmente quando se analisa a situação de países pobres. Na cidade de Curitiba, o nível da discussão relacionada aos resíduos sólidos tem aumentado no meio popular, acadêmico e político. O Aterro sanitário da Caximba, única forma de disposição final dos resíduos domiciliares da cidade, encontra-se na iminência do esgotamento de sua capacidade, problema que se agrava com a dificuldade de se definir novas áreas viáveis para instalação de um novo aterro. Uma das formas de amenizar o problema da geração de resíduos é através de programas e estratégias de gestão como as campanhas de reciclagem, educação ambiental, compostagem e outros, que diminuem a quantidade de resíduos no aterro. Segundo Sokka et al. (2007), um bom gerenciamento depende do planejamento eficaz, baseado na compreensão e na análise da evolução do processo histórico da geração dos resíduos, e para isso é fundamental dispor de uma boa base de dados históricos referentes à produção de resíduos sólidos. A técnica de cenários futuros tem sido utilizada em diversas áreas como ferramenta no planejamento estratégico em empresas e governos. Nesse estudo, a produção histórica de resíduos sólidos domiciliares foi caracterizada, e a técnica de cenários foi apresentada como abordagem ao planejamento da gestão de resíduos sólidos, através de um exemplo da técnica aplicado ao caso de Curitiba. Para a construção dos cenários, a produção de resíduos domiciliares em Curitiba foi projetada até 2020, através da correlação com fatores demográficos e econômicos. Ao todo, seis cenários foram construídos a partir de diferentes estratégias que poderiam ser adotadas ao gerenciamento em Curitiba (minimização, reciclagem e compostagem) e seus efeitos no futuro foram analisados e comparados, em termos de impactos ambientais e economias em peso, volume e custos. As informações geradas e a comparação entre os efeitos de cada cenário no futuro podem contribuir ao gerenciamento de resíduos sólidos em Curitiba, na definição de metas e das melhores formas de alcançá-las, e no desenvolvimento de estratégias e políticas de gestão.

Palavras-Chave: Gerenciamento de Resíduos Sólidos, Técnica de Cenários, Geração de Resíduos Domiciliares.

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ABSTRACT

The matter about Municipal Solid Waste has been one of the main worries of mankind, regarding the environment and human development. The problems caused by solid waste have environmental, social and economics dimensions, and those are specially evident when studying poor countries. At the city of Curitiba, the level of discussions regarding solid waste problems have increased among the academic and political community. The Caximba Sanitary Landfill, the only form of destination of the city solid waste, is about to completely fulfill its capacity, and the difficulty on finding viable areas for building a new sanitary landfill enhances the problem. One way of dealing with waste disposal problem is to develop programs and management strategies such as programs enhancing recycling and composting and environmental educational programs, what contributes to reduce the amount of waste to be disposed. In order to lessen the negative impacts generated by the growing waste production, it is important that proper management be done. According to Sokka et al., proper management depends on efficient planning, based on the understanding of the historical evolution process of solid waste generation. So it is important that solid historical database to be maintained, regarding waste production. The scenario technique has been used by governments and enterprises as a tool for strategical planning in many domains. In this study, the historical production of municipal solid waste in Curitiba was presented and discussed, and the scenario technique was presented as an approach to waste management planning process. An example of the technique was done for the case study of Curitiba. To build the scenarios, municipal solid waste production in Curitiba was projected to 2020, by correlating socioeconomic factors to solid waste generation. Similar approaches were used in other studies. Six scenarios were built from different strategies that could be applied to solid waste management (minimization, recycling and composting), and the effects in the future of each scenario were analyzed and compared to other scenarios, in terms of environmental impacts, management costs, volume and weight of waste produced. The information generated with this study may contribute to solid waste management in Curitiba, for defining management objectives and the best way to reach them, and for developing strategies and policies.

Keywords: Solid Waste Management, Forecasting Sceneries, Municipal Solid Waste Generation.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil. 23

Figura 2 - Administrações regionais de Curitiba. 38

Figura 3 - Representação esquemática do gerenciamento de RSU em Curitiba. 39 Figura 4 – Localização da cidade de Curitiba no Paraná e na América do sul. 53 Figura 5 – Evolução histórica da geração total e per capita de RSD em Curitiba. 63 Figura 6 – Comparativo da evolução da geração total de RSD com .

O crescimento populacional. 64

Figura 7 – Comparativo da evolução da geração total de RSD com a evolução do .

Pib total de Curitiba. 65

Figura 8 – Composição relativa dos resíduos domiciliares de Curitiba. 66

Figura 9 – Coleta seletiva em Curitiba. 67

Figura 10 – Aterro sanitário da Caximba – fases I e II. 68 Figura 11 – Evolução histórica do PIB total de Curitiba e tendência linear. 70 Figura 12 – Projeção da geração total de resíduos sólidos domiciliares em Curitiba .

Até 2020. 71

Figura 13 – Cenário 1 (“do nothing”) da geração de resíduos domiciliares em

Curitiba entre 2008 e 2020. 73

Figura 14 - Cenários 2 e 3 da geração de resíduos domiciliares em Curitiba (2008-2020).74 Figura 15 – Cenário 4 da geração de resíduos domiciliares em Curitiba (2008 a 2020). 75 Figura 16 – Cenário 5 da geração de resíduos domiciliares em Curitiba (2008 a 2020). 76 Figura 17 – Cenário 6 da geração de resíduos domiciliares em Curitiba (2008 a 2020). 77

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Geração per capita de RSU no Brasil e no mundo. 24 Tabela 2 – Tratamento e disposição final dos RSU em alguns países em 1990. 26 Tabela 3 – Composição dos RSU em alguns países do mundo. 28 Tabela 4 – Composição dos RSU do Brasil e de algumas cidades brasileiras. 29

Tabela 5 - Evolução da coleta seletiva no Brasil. 30

Tabela 6 – Custos do gerenciamento de RSU. 34

Tabela 7 – Custos dos serviços de gerenciamento de RSU em países da ALC. 36 Tabela 8 – Custo médio da coleta geral de resíduos sólidos urbanos em cidades 36

Tabela 9 – Composição dos RSU de Curitiba. 43

Tabela 10 – Composição da coleta seletiva no Brasil e em Curitiba. 44 Tabela 11 – Valor de mercado dos recicláveis em Curitiba. 45 Tabela 12 – Histórico da produção de RSU em Curitiba. 56

Tabela 13 – População total de Curitiba. 57

Tabela 14 – Valores utilizados para o cálculo do PIB real de Curitiba, a preços de 2005. 58 Tabela 15 – Dados históricos relevantes ao processo de geração de resíduos .

Sólidos domiciliares em Curitiba. 62

Tabela 16 – Dados históricos utilizados para construção do modelo de regressão .

Múltipla e projeção da geração de RSD em Curitiba. 71

Tabela 17 – Indicadores utilizados para estimativa dos impactos da geração de .

RSD em Curitiba. 73

Tabela 18 – Tabela comparativa dos Resultados dos Cenários Alternativos da produção de

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LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Urbana ALC América Latina e Caribe

CEMPRE Compromisso Empresarial para Reciclagem

CNUMAD Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

DLP Departamento de Limpeza Urbana EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa EPA Environmental Protection Agency IDH Índice de Desenvolvimento Umano

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano

NBR Norma Técnica Brasileira

OPAS Organização Pan-americana da Saúde

PIB Produto Interno Bruto

PMC Prefeitura Municipal de Curitiba

PSNB Pesquisa Nacional de Saneamento Básico RMC Região Metropolitana de Curitiba

RSD Resíduos Sólidos Domiciliares RSU Resíduos Sólidos Urbanos

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO 13

2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 15

2.1 A Questão Ambiental dos Resíduos Sólidos Urbanos 15

2.1..1 A Sociedade e os Resíduos Sólidos Urbanos 16

2.1.2 A problemática Sócio-ambiental dos RSU 17

2.1.3 Considerações, Definições e Classificações dos Resíduos Sólidos 17 2.1.4 Gestão Ambiental e Resíduos Sólidos Urbanos 19

2.1.5 Coleta Seletiva e Reciclagem 21

2. 2 – Cenários Atuais dos Resíduos Sólidos Urbanos 22

2.2.1 A Situação dos RSU no Brasil 22

2.2.2 Geração de RSU no Brasil e no Mundo 24

2.2.3 Destinação de Resíduos no Brasil e no Mundo 25

2.2.4 Composição de RSU, Potencial de Reciclagem e Potencial de Compostagem 27

2.2.5 Coleta Seletiva e Reciclagem no Brasil 29

2.2.6 Os Aspectos Ambiental, Social e Econômico dos Resíduos Sólidos Urbanos 30

2.3 – Curitiba e os RSU 37

2.3.1 Caracterização da cidade de Curitiba – PR 37

2.3.2 A gestão de RSU em Curitiba 39

2.3.3 Cenários dos Resíduos Sólidos Domiciliares em Curitiba 42

2.4 - ANÁLISE PROSPECTIVA E TÉCNICA DE CENÁRIOS 45

2.4.1 Objetivos e Características da Técnica de Cenários 46

2.4.2 Futuro e Incertezas 47

2.4.3 Construção e Tipos de Cenários 48

(13)

3- METODOLOGIA 53 3.1 – Local de Estudo 53 3.2 - Estudo Realizado 53 3.2.1 Caracterização do Cenário Produtivo dos Resíduos Sólidos Domiciliares em

Curitiba 53

3.2.2 Construção de Cenários Futuros da Produção de Resíduos Sólidos ,

Domiciliares em Curitiba 54

4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 62 4.1 Caracterização da Geração de Resíduos Sólidos Domiciliares em Curitiba 62

4.2 Projeção da Produção de Resíduos Sólidos Domiciliares em Curitiba 69 4.3 Cenários Alternativos da Produção de Resíduos Sólidos Domiciliares em .

Curitiba 72

5 - CONCLUSÕES 82

6 - REFERÊNCIAS 84

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1 INTRODUÇÃO

O rápido aumento populacional urbano ocorrido após a 2ª guerra, aliado ao estilo de vida da sociedade de consumo, foram os principais responsáveis pelo agravamento dos problemas ambientais observados na atualidade. Uma das grandes preocupações da humanidade em termos ambientais é a crescente geração de resíduos sólidos urbanos, conseqüência do aumento populacional, da rápida industrialização, e do crescimento do consumo. A problemática dos resíduos sólidos está presente nos grandes centros urbanos, e gera impactos negativos de natureza social, ambiental e econômica. A questão dos resíduos sólidos deveria ser uma preocupação de toda a população, porém, essa preocupação limita-se ao interesse de apenas uma parcela, capaz de enxergar a gravidade do problema (AMORIN, 1996; SILVA, 2002).

Para um gerenciamento de resíduos adequado em uma cidade, é importante conhecer as características da cidade enquanto geradora de resíduos sólidos. O planejamento de estratégias de gerenciamento baseado em dados históricos é fundamental para a gestão de resíduos. Para isso é importante que haja uma base histórica confiável de dados acerca da geração e composição dos resíduos gerados pela população, e mecanismos para coleta desses dados. Principalmente em países em desenvolvimento, há uma falta de dados históricos sobre a produção de resíduos, o que dificulta o planejamento (DYSON; CHANG, 2005).

A técnica de cenários é uma ferramenta que tem sido utilizada no planejamento estratégico em diversas áreas, e pode contribuir com a gestão de resíduos sólidos em cidades, países e empresas. A possibilidade de se projetar cenários futuros da geração de resíduos sólidos urbanos contribui para o planejamento e desenvolvimento de estratégias ótimas de gerenciamento (DASKALOPOULOS et al., 1998). Pela revisão da literatura científica internacional sobre o tema, constata-se que a técnica de cenários tem sido utilizada por diversos autores para estudar os impactos futuros da geração de resíduos sólidos. Diversos autores tem associado a geração de resíduos sólidos urbanos a fatores sócio-econômicos, e utilizado a tendência histórica desses fatores para construir cenários futuros da geração de resíduos em cidades e países (e.g., DASKALOPOULOS et al., 1998; ADKHARI, 2006; SOKKA et al., 2007).

Diante do nível em que se encontram as discussões sobre a questão dos Resíduos Sólidos na cidade de Curitiba, torna-se importante a realização de trabalhos voltados à produção e ao gerenciamento de resíduos.

(15)

Um dos fatores que preocupam a sociedade curitibana é o esgotamento iminente da capacidade do único aterro sanitário de Curitiba - o Aterro da Caximba -, fato que tem levado o poder público a impasses no que se refere à disposição final dos resíduos sólidos domiciliares. A geração de resíduos sólidos tem crescido continuamente ao longo últimos anos, e superado a infra-estrutura de que a cidade dispõe. Em 2007 a geração em Curitiba ultrapassou 400 mil toneladas anuais, com tendência de crescer ainda mais. A capacidade do aterro da Caximba e a previsão de esgotamento foram ultrapassadas rapidamente, sem que um novo aterro estivesse disponível. A quantidade de resíduos depositados no aterro da Caximba em 2007 ultrapassou 10 milhões de toneladas e após três ampliações realizadas em caráter emergencial, o esgotamento está previsto para o final de 2008. Porém, a conjuntura do problema indica que dificilmente o problema será resolvido. Dificuldades técnicas e principalmente políticas tem prejudicado o planejamento da gestão de resíduos sólidos a longo prazo, o que tem sido um dos principais fatores responsáveis pelo agravamento do problema do lixo em Curitiba, tal qual em diversas cidades brasileiras com alto grau de urbanização.

Existe, portanto, a necessidade de se discutir as possibilidades e estratégias na gestão dos resíduos, buscando principalmente reduzir a quantidade de lixo enviada ao aterro sanitário. Através de estudos técnicos sobre o problema do lixo na cidade, vê-se a possibilidade de contribuir com a melhoria da gestão de resíduos, ajudando a direcionar e otimizar as ações de gestão e os recursos aplicados.

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi discutir a questão dos resíduos sólidos em Curitiba e sugerir uma abordagem ao planejamento da gestão de resíduos sólidos em uma cidade, baseada na técnica de cenários futuros. A partir do levantamento de dados socioeconômicos e referentes à produção de resíduos em Curitiba, buscou-se caracterizar o cenário atual da gestão de resíduos domiciliares na cidade, e construir cenários prospectivos alternativos, a partir de aspectos de interesse do gerenciamento. Com a construção de diferentes cenários, foi possível visualizar e comparar os efeitos no futuro da adoção de diferentes estratégias de ação. Dessa forma, espera-se gerar informações que possam contribuir para a discussão sobre a temática dos resíduos sólidos em Curitiba e para destacar a importância do planejamento baseado em dados históricos para o gerenciamento de resíduos.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A QUESTÃO AMBIENTAL E OS RESÍDUOS SÓLIDOS

Segundo Azevedo (2004), a partir de meados do séc. XX, a humanidade iniciou um processo de conscientização mundial em relação à questão do meio ambiente, principalmente por conseqüência do aparecimento de problemas ambientais em escala global. O aumento da população mundial e da industrialização levou a um aumento da produção, e o resultado foi o aumento de impactos sobre o meio ambiente natural.

As conferências da ONU em Estocolmo em 1972, e posteriormente em 1992 no Rio de Janeiro trouxeram e ampliaram discussões sobre as questões ambientais, principalmente em relação ao modelo de desenvolvimento da sociedade e seus limites. Os avanços na área científica, como o desenvolvimento de técnicas de medição de parâmetros de poluentes (Ex. CO2), contribuíram para comprovar a dimensão dos impactos causados pela sociedade e seu

estilo de vida. A nova consciência ambiental, surgida durante as transformações culturais nas décadas de 60 e 70, ganhou dimensão e situou o meio ambiente como um dos princípios mais fundamentais do homem moderno (OGATA, 1999).

Até recentemente não havia, na humanidade, qualquer noção de limites no crescimento econômico e tecnológico. Acreditou-se por muito tempo que todo crescimento seria bom, sem reconhecer que, deveria haver um equilíbrio entre crescimento econômico e consumo de matérias-primas, preservação ambiental e distribuição de riquezas. As conseqüências do crescimento econômico sem limites para são: intensa degradação ambiental e esgotamento de recursos (AMAZONAS et al., 1992).

Para dimensionar a pressão sobre o ambiente natural, o relatório “Planeta Vivo”, publicado pela WWF - World Wild Life Fund, em 2002, utiliza o conceito de “capacidade de suporte” do planeta, relacionado ao uso de recursos ambientais e a capacidade de recuperação do ambiente. Constatou-se que a capacidade de suporte da Terra foi ultrapassada em 20 por cento, devido ao tamanho da população mundial e de suas necessidades de alimentação básica, ao nível de consumo de recursos, a quantidade de resíduos gerados e tecnologias utilizadas (ERKMAN et al., 2005).

Uma das grandes preocupações ambientais mundiais, especialmente em grandes centros urbanos, são os Resíduos Sólidos. A sociedade humana produz cada vez mais resíduos sólidos, e existem cada vez menos lugares disponíveis para recebê-los (OGATA, 1999). A preocupação mundial em relação aos problemas ligados aos RSU (Resíduos Sólidos Urbanos)

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consta no documento final produzido na Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992 no Rio de Janeiro. Este documento, conhecido como Agenda 21, propõe como um dos principais compromissos da humanidade o desenvolvimento sustentável. As diretrizes da Agenda 21 indicam que para reduzir os problemas ambientais são necessárias estratégias para a gestão adequada dos Resíduos Sólidos Urbanos (RÊGO et al., 2002).

2.1.1 A Sociedade e os Resíduos Sólidos Urbanos

Conforme Andrade (2006), o lixo, também tratado como Resíduos Sólidos, está presente na história do homem desde os primórdios da humanidade. No início, quando os seres humanos eram nômades e viviam da caça e de plantas, o lixo produzido era deixado para trás quando estes decidiam mudar de região, em busca de alimento. Como a quantidade era pequena e o resíduo era basicamente orgânico, ocorria a decomposição natural no meio ambiente. Posteriormente o homem passou a se organizar em comunidades, aumentando assim a concentração de pessoas e de resíduos, e assim surgiram os primeiros depósitos de lixo. Alguns exemplos históricos da presença dos resíduos sólidos são, por exemplo: a Grécia antiga onde surgiram os primeiros lixões; a Mesopotâmia onde eram enterrados; a antiga Roma, onde grande parte dos resíduos tinha como destino o rio Nilo; e os antigos Maias, que possuíam lixões e praticavam a reciclagem de alguns materiais como cacos de cerâmica; entre outros. (ANDRADE, 2006)

Durante a Idade Média, o acúmulo de pessoas nas cidades foi aumentando e, conseqüentemente, também o volume dos resíduos, que continham, além de restos de comida, grandes quantidades de excrementos animal e humano. Este período da história foi marcado pelo surgimento de sérias doenças e epidemias. Conforme a população foi aumentando, e o desenvolvimento da humanidade foi se acentuando, uma nova ordem mundial foi instaurada – a sociedade industrial e consumista. O marco dessa nova ordem foi a Revolução Industrial iniciada no séc. XVII, que alterou significativamente a relação do homem com o meio ambiente, através de mudanças nos meios de produção e consumo. Assim, a problemática em torno da geração e descarte de resíduos sólidos teve um grande impulso (GRIPPI, 2006).

Segundo Abreu e Palhares (1996), juntamente com a evolução da sociedade humana veio a evolução da indústria. A partir da revolução industrial, o homem passou a consumir produtos industrializados e artificiais. Houve um aumento da facilidade de consumo – mais produtos disponíveis a preços mais baixos – que contribuiu para o surgimento do desperdício.

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Mais adiante, houve o aparecimento dos materiais sintéticos substituindo o uso de matérias-primas naturais, como os polímeros.

2.1.2 A problemática Sócio-ambiental dos RSU

A imensa quantidade de resíduos sólidos gerados pela sociedade traz consigo uma série de problemas sanitários, ambientais e sociais (CUSSIOL et al., 2006). A história da sociedade e sua relação com estes resíduos mostra que desde a antiguidade os resíduos já eram percebidos como um problema sanitário e ambiental, principalmente pelo acúmulo inadequado de materiais que, além de causarem odores indesejáveis, atraíam vetores e doenças, contribuindo para condições precárias de higiene e para o surgimento de epidemias (ANDRADE, 2006).

O advento do modelo capitalista de desenvolvimento e o surgimento da sociedade de consumo levaram a um grande crescimento das atividades de produção e consumo. O estilo de vida da sociedade consumista existente nos países capitalistas é uma das causas do agravamento das problemáticas ambientais atuais. Aliado esse fato à explosão demográfica ocorrida nas últimas décadas, o resultado foram uma série de impactos sanitários e ambientais, tais como lançamentos de resíduos ou poluentes nos diversos meios (atmosfera, águas e solos), além de problemas sociais (CUSSIOL et al., 2006).

2.1.3 Considerações, Definições e Classificações dos Resíduos Sólidos

Segundo o enfoque de Grippi (2006), o tratamento que a sociedade dá aos resíduos sólidos, além de ser uma questão com implicações técnicas, é antes de tudo uma questão cultural e está diretamente relacionada ao seu grau de civilização. Popularmente o termo lixo é amplamente mais utilizado, já nas discussões em nível técnico, recebe a denominação “Resíduo Sólido”. A segunda denominação sugere um conceito mais técnico, e refere-se a uma série de materiais e conceitos derivados das atividades humanas, que não poderiam simplesmente serem referenciados por um termo genérico e depreciativo como “lixo”, que passa a idéia de algo inútil e inservível (GRIPI, 2006).

Existem diversas classificações possíveis para os resíduos sólidos. Por exemplo, o lixo produzido pelas cidades, pela população, hospitais, etc., é denominado “Resíduo Sólido Urbano” ou RSU. O lixo produzido pelas residências ou similares, coletado pela coleta

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domiciliar, é denominado “Resíduo Sólido Domiciliar” ou RSD. As diversas classificações utilizadas serão mostradas a seguir.

a) Definição de Resíduo Sólido

Segundo a NBR10004/2004 (ABNT, 2004), o conceito de Resíduo Sólido é:

“(...) resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos que resultam da atividade da comunidade de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Considera-se também, resíduo sólido os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornam inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam, para isso, soluções técnicas e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível” (ABNT, 2004).

b) Classificação e Conceituação dos Resíduos Sólidos – ABNT/NBR 10004

São várias as formas possíveis de se classificar os Resíduos Sólidos Urbanos. Por exemplo: (a) Por sua natureza física: secos e molhados; (b) Por sua composição química: matéria orgânica e inorgânica. Outra importante forma de classificação do lixo é quanto à origem: (a) Domiciliar – resíduos provenientes das residências, constituído por restos de alimentos, produtos deteriorados, embalagens em geral, papéis, jornais etc.; (b) Comercial - são os resíduos originados nos diversos estabelecimentos comerciais de serviços, tais como supermercados, bancos, lojas, restaurantes etc.; (c) Público – são aqueles originados nos serviços de limpeza urbana pública; (d) Serviço de saúde – resíduos provenientes de hospitais, clínicas médicas ou odontológicas, laboratórios, farmácias etc., é potencialmente perigosos, pois podem conter materiais contaminados; (e) Industriais – são resultantes de processos industriais. O tipo de lixo varia de acordo com o ramo da atividade industrial; (f) Agrícola – resulta de atividades da agricultura e da pecuária. É constituído por embalagens de agrotóxicos, rações, adubos, restos de colheita, dejetos da criação de animais, etc.; (g) Entulho – resto da construção civil, reformas, demolições, etc... (CEMPRE 2000).

Em relação aos riscos potenciais ao meio ambiente, de acordo com as normas da NBR 10004/2004 (ABNT, 2004), os resíduos dividem-se em:

- Classe I – perigosos: são aqueles que podem apresentar riscos à saúde publica e ao meio ambiente devido as suas propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas. Inclui neste grupo os inflamáveis, corrosivos, patogênicos ou tóxicos;

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- Classe II – não perigosos, que estão divididos em: Classe IIA – não inertes - que apresentam características como biodegradabilidade, como os restos de alimentos e papel; e Classe IIB – inertes.

2.1.4 Gestão Ambiental e Resíduos Sólidos Urbanos

A Gestão Ambiental tem se mostrado uma área de grande importância para o desenvolvimento da sociedade humana, pela premissa de salvaguardar o meio ambiente, diminuindo os impactos ambientais decorrentes das atividades humanas. Ações de gestão ou gerenciamento do meio ambiente atualmente podem ser verificadas em âmbitos públicos e privados. Diante dos problemas ambientais já instaurados, e com as mudanças observadas na consciência ambiental no planeta nas últimas décadas, entidades começam a ser cobradas pela própria sociedade. A Gestão Ambiental diz respeito à gestão das atividades de uma sociedade, cidade ou empresa que têm ou podem ter impactos sobre o meio ambiente. Os objetivos da gestão ambiental são: preservar os recursos naturais, limitar a emissão de poluentes e os riscos ambientais sobre os diversos meios (ar, água e solo), mitigar os impactos ambientais e ainda recuperar o meio ambiente degradado pelas atividades humanas (MMA, 1999).

A problemática decorrente dos RSU (envolvendo questões de destinação, tratamento, poluição de solo e água, problemas sociais, etc.) tem sido uma das grandes questões ambientais de difícil resolução nas cidades do mundo moderno. O problema ambiental dos RSU está presente na maioria das cidades brasileiras, e a atenuação desse problema e de seus impactos é possível apenas através de ações de gestão ambiental (OGATA, 1999).

As diretrizes da Agenda 21 brasileira seguem as recomendações da CNUMAD e indicam estratégias para a gestão adequada de RSU: a minimização da produção de resíduos; a maximização de práticas de reutilização e reciclagem ambientalmente corretas; a promoção de sistemas de tratamento e disposição de resíduos compatíveis com a preservação ambiental; a extensão de cobertura dos serviços de coleta e destino final (MMA, 1999).

Para lidar com a questão dos resíduos sólidos de forma ambientalmente adequada, é necessário que seja feita a Gestão ou Gerenciamento dos RSU, que permitirá a um país, cidade ou município definir as melhores soluções disponíveis. O Gerenciamento de RSU é um conjunto interligado de ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamentos para coletar, segregar, tratar e dispor adequadamente o lixo (CEMPRE, 2000).

Segundo Monteiro et al. (2001), o Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos depende do envolvimento de diferentes órgãos da administração pública e da sociedade civil.

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A Gestão de RSU tem como propósito realizar a limpeza urbana, a coleta, o tratamento e a disposição final do lixo, elevando assim a qualidade de vida da população, levando em consideração as características das fontes de produção, o volume e os tipos de resíduos – para a eles ser dado tratamento diferenciado e disposição final técnica e ambientalmente corretas –, as características sociais, culturais e econômicas dos cidadãos e as peculiaridades demográficas, climáticas e urbanísticas locais.

As etapas a seguir resumem o processo básico de gerenciamento Resíduos Sólidos em uma cidade e suas características, segundo Abrelpe (2006):

a - COLETA REGULAR

- Os RSU são coletados nas residências; - O serviço é dever do município.

- Em alguns municípios, é feita a Coleta Seletiva para reciclagem.

- Em alguns casos, ocorre o lançamento dos resíduos em lixões a céu aberto. b - TRANSPORTE

- Os resíduos coletados são levados a uma usina de transbordo ou direto para destinação final. - Se houver usina de transbordo, os resíduos são transferidos dos coletores a carretas, e então ao aterro.

c – DESTINAÇÃO FINAL

- No Brasil as formas mais comuns são: aterros sanitários e controlados e lixões.

- Nos aterros, os resíduos são descarregados, um trator espalha e compacta o conteúdo em camadas, intercalando resíduos e terra.

- No aterro sanitário é feito drenagem do biogás e do chorume.

No Brasil, a realidade mostra que em geral os municípios costumam tratar o lixo produzido na cidade apenas como um material não desejado, a ser recolhido, transportado, podendo, no máximo, receber algum tratamento manual ou mecânico para ser finalmente disposto em lixões ou aterros (MONTEIRO et al., 2001).

A abordagem da EPA (United States Environmental Protection Agency) em relação à gestão de Resíduos Sólidos Urbanos traz uma hierarquia baseada nos seguintes etapas (EPA, 2005):

1. Redução na fonte (ou prevenção de resíduos sólidos), incluindo reuso de produtos e compostagem de resíduos de jardim no local ou no quintal;

2. Reciclagem, incluindo compostagem, na comunidade ou fora;

3. Disposição, incluindo combustão de resíduo (preferencialmente com recuperação de energia) e aterramento.

(22)

Assim, para equacionar o problema dos RSU nas cidades, a solução mais adequada é o Gerenciamento Integrado do Lixo, o que envolve o uso racional e associado das seguintes opções: redução do lixo gerado, aterros sanitários, incineração, compostagem e reciclagem (OLIVEIRA, 2006).

O Gerenciamento Integrado de RSU leva em consideração as ações básicas de gestão ambiental, e prioriza ainda um contexto de participação efetiva da comunidade no sistema, sensibilizada a não sujar as ruas, a reduzir o descarte, a reaproveitar os materiais e reciclá-los antes de encaminhá-los ao lixo. Essas atitudes contribuem significativamente para a redução dos custos do sistema, além de proteger e melhorar o ambiente (MONTEIRO et al., 2001).

A minimização é uma filosofia essencial para a gestão dos RSU, porque proporciona a economia de matéria-prima e conservação dos recursos naturais, redução de custos de manufatura, tratamento e disposição de resíduos. O estabelecimento de programas de minimização para os resíduos sólidos gerados nas atividades cotidianas de uma cidade é complexo, já que na sociedade de consumo há o uso crescente de descartáveis e desperdício de recursos naturais e energéticos. A minimização exige novas posturas da sociedade, com mudanças comportamentais em direção a um consumo sustentável (AZEVEDO, 2004).

Dentro das possibilidades de atuação dos próprios municípios, as políticas de minimização e gerenciamento de resíduos devem criar mecanismos para desincentivar a produção local de lixo, investir na implantação e aprimoramento de programas de coleta seletiva, e fortalecer o mercado para os produtos recuperados (OLIVEIRA, 2006).

2.1.5 Coleta Seletiva e Reciclagem

Entre as alternativas para tratamento ou redução dos resíduos sólidos urbanos, a reciclagem é uma atividade que merece destaque no sistema de gerenciamento de RSU, pois além de gerar empregos e renda, propicia a economia de recursos naturais e matérias- primas não renováveis, a economia de energia em processos produtivos e o aumento da vida útil de aterros sanitários (MONTEIRO et al., 2001).

Ribeiro e Lima (2000) afirmam que a escassez de recursos naturais, juntamente com os problemas relacionados à disposição inadequada dos resíduos no meio ambiente, foi aos poucos convencendo o homem da necessidade de se realizar a reciclagem. A reciclagem é a alternativa que desperta o maior interesse na população, principalmente por seu forte apelo ambiental.

(23)

A reciclagem é atualmente uma prática que vem se desenvolvendo enormemente nos países do Primeiro Mundo. Segundo Oliveira (2006), a partir da década de 80, sobretudo nos países integrantes do G7 (grupo dos sete países mais ricos), foi dada grande importância à coleta seletiva e à reciclagem do lixo, em virtude do aumento do custo das ações de tratamento e disposição final dos resíduos, decorrente das normas sanitárias e ambientais mais restritivas. Já nos países menos desenvolvidos é realizada de maneira rudimentar, pouco racional e desorganizada.

A reciclagem é um sistema de recuperação de recursos projetado para recuperar e reutilizar resíduos, transformando-os novamente em substâncias e materiais úteis à sociedade. Mais ainda, nas cidades, a coleta seletiva é um instrumento concreto de incentivo a redução da geração de resíduos sólidos e para a reutilização e a separação do material para a reciclagem, buscando uma mudança de comportamento, principalmente em relação aos desperdícios inerentes à sociedade de consumo (AZEVEDO, 2004).

2. 2 CENÁRIOS ATUAIS DOS RSU

2.2.1 A Situação dos RSU no Brasil

No Brasil, as medidas necessárias para a gestão adequada dos Resíduos Urbanos não acompanharam o rápido crescimento populacional, como pode ser constatado na Pesquisa Nacional de Saneamento de 2000 (IBGE, 2002). Apesar de ser considerada um dos setores do saneamento básico, a gestão dos resíduos sólidos não tem merecido a devida atenção por parte do poder público (AZEVEDO, 2004).

De acordo com Monteiro et al. (2001), o problema da disposição final dos resíduos sólidos urbanos toma proporções preocupantes nas cidades brasileiras. Apesar de ter havido melhoras na destinação final de lixo no país, mais de 60% dos municípios brasileiros ainda depositam seus resíduos em locais a céu aberto, em cursos d'água ou em áreas ambientalmente inadequadas, a maioria com a presença de catadores, denunciando os problemas sociais que a má gestão dos resíduos acarreta. Considerando apenas os resíduos comerciais e públicos, o que se percebe é uma ação generalizada das administrações públicas locais ao longo dos anos em apenas afastar das zonas urbanas o resíduo coletado, depositando-o por vezes em locais inadequados.

Segundo os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios, realizada no Brasil em 1996, 79,9% dos domicílios particulares permanentes tinham o lixo coletado. Entretanto, o

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acesso à coleta no Brasil é desigual, conforme a região. Em 1996, o Nordeste apresentava a menor taxa de resíduos sólidos coletados (59,7%) e a região Sudeste a maior, com 90,1% (IBGE, 2002).

No Brasil, a responsabilidade pelo gerenciamento dos Resíduos Sólidos depende da origem dos resíduos, como é possível constatar na figura 1. Quanto a modalidades de gestão administrativa para a limpeza urbana, a grande maioria dos municípios de pequeno e médio porte adota a administração direta, ou seja, a Prefeitura, por meio de uma secretaria, departamento, setor etc. é que se encarrega de todas as ações pertinentes a gestão dos resíduos sólidos. Poucos municípios possuem autarquias ou empresas públicas específicas para a limpeza urbana (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2003).

Figura 1 – Responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil. Origem do Resíduo Sólido Responsabilidade

Domiciliar Prefeitura

Comercial Prefeitura

Público Prefeitura

Serviços de Saúde Gerador

Industrial Gerador

Portos, Aeroportos Gerador

Agrícola Gerador

Entulho Gerador

Fonte: IBAM, (2001)

Do ponto de vista da organização da prestação dos serviços de limpeza urbana, no Brasil estes serviços vêm sendo realizados pelos próprios municípios e pela iniciativa privada. Nas cidades de médio e grande porte, vem se percebendo privatização dos serviços, modelo cada vez mais adotado no Brasil e que se traduz numa terceirização dos serviços, até então executados pela administração na maioria dos municípios. Essa forma de prestação de serviços se dá através da contratação, pela municipalidade, de empresas privadas, que passam a executar, com seus próprios meios (equipamentos e pessoal), a coleta, a limpeza de logradouros, o tratamento e a destinação final dos resíduos (IBAM, 2001). Ao todo são poucas empresas, que atuam principalmente nas grandes e médias cidades brasileiras. Existem 45 empresas filiadas a ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública -

(25)

e segundo a associação, são responsáveis pela coleta de 70% dos resíduos sólidos urbanos coletados no Brasil (ABRELPE, 2006).

2.2.2 Geração de RSU no Brasil e no Mundo

Além do expressivo crescimento da geração de resíduos sólidos, sobretudo nos países em desenvolvimento, observam-se ao longo dos últimos anos, mudanças significativas nas características dos resíduos sólidos (BORSOI, 1997). Segundo Azevedo (2004), o aumento na geração de resíduos decorre do crescimento populacional, e principalmente da melhoria de renda, relacionando-se ao padrão de consumo e ao desperdício.

Os Estados Unidos lideram o mundo na produção de RSU, segundo dados da EPA (U. S. Environmental Protection Agency) de 2005. Cada americano produz em média, 2,1 Kg de lixo por dia, sendo geradas 245,7 milhões de toneladas ao ano. Na Europa e no Japão, a média de produção de resíduos urbanos chega a 1,5 kg.hab-1.dia-1 (OLIVEIRA, 1997). A tabela 1 traz alguns dados referentes à geração per capita de resíduos em alguns países no mundo, segundo o Relatório de Avaliação do Manejo de Resíduos Sólidos na América Latina e Caribe (OPAS, 2005) e da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2000 (IBGE, 2002).

Tabela 1 – Geração per capita de RSU no Brasil e no Mundo.

País Geração per capita (kg. hab-1.dia-1)

Estados Unidos 2,02 Austrália 1,89 Canadá 1,80 Finlândia 1,70 Holanda 1,37 França 1,29 Japão 1,12 Espanha 0,99 Brasil 0.95

América Latina e Caribe 0,91

Fonte: OPAS (2005), IBGE, (2002).

O Brasil segue o caminho dos países desenvolvidos. São coletadas 161.827 toneladas de resíduos sólidos diariamente, sendo 125.258 toneladas referentes aos resíduos domiciliares. A

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geração de lixo per capita no Brasil é de 0,95 kg.hab-1.dia-1, variando de acordo com o porte populacional do município, entre 0,45 a 1,3 kg.hab-1.dia-1 (IBGE, 2002).

Segundo Borsoi (1997), a produção de lixo tem sido diretamente associada ao estágio de desenvolvimento de uma região; em geral, quanto mais evoluída, maior a produção de resíduos e dejetos de todo tipo. Todavia há outros fatores que influenciam a geração de lixo como: variações sazonais e climáticas, hábitos e costumes da população, densidade demográfica, leis e regulamentações específicas, entre outros.

No Brasil, a massa diária de resíduos coletados se ampliou de 100 mil toneladas em 1989 para 150 mil toneladas em 2000 - um crescimento de 49%, enquanto entre 1991 e 2000 a população cresceu 16,43%, passando de 146.825.475 para 169.799.170 habitantes, mostrando que o aumento da população não é o único fator responsável pelo crescimento da geração de resíduos (IBGE, 2002).

O Diagnóstico da Gestão e Manejo de RSU no Brasil 2002 mostra que houve um aumento significativo na quantidade de lixo coletada no país. Isso decorre em parte do aumento dos índices de coleta e em parte de mudanças nos padrões de consumo - se consome, atualmente, muito mais embalagens e produtos descartáveis atualmente do que há dez anos (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2003).

2.2.3 Destinação de Resíduos no Brasil e no Mundo

Alberte et al. (2005) citam que com o crescimento das cidades e da geração de lixo, o desafio da limpeza urbana não consiste apenas em remover ou coletar o lixo, mas, principalmente, em dar um destino final adequado aos resíduos coletados. Dentre as metodologias de destinação final de RSU utilizadas atualmente no mundo, as mais utilizadas são: lixões, aterros, incineração e compostagem.

Os lixões consistem no simples acúmulo indiscriminado de resíduos. Os aterros, que podem ser controlados ou sanitários, consistem no aterramento e compactação de resíduos com controle sobre os impactos ambientais. Em relação aos impactos ao meio ambiente, os aterros sanitários são considerados atualmente a solução mais viável para a destinação de resíduos sólidos, apesar de gerarem diversos impactos negativos. Para ser chamado de aterro sanitário, pressupõe-se, entre outras coisas, a existência de sistemas de impermeabilização do solo e de drenagem e tratamento de chorume e biogás. Os aterros são indesejáveis às populações próximas e ocupam grandes áreas. Esses problemas são ainda maiores em países

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com dificuldade de áreas disponíveis e/ou de extensão territorial pequena, como é o caso de diversos países desenvolvidos (MONTEIRO et al., 2001)

A incineração é um método que consiste na queima controlada de resíduos visando redução de volume, e que foi muito utilizada no passado, inclusive no Brasil. O uso da incineração foi polemizado e diminuiu muito devido aos acidentes envolvendo emissões atmosféricas danosas à saúde e ao ambiente, e somente após o desenvolvimento de equipamentos com melhor controle das emissões, essa metodologia voltou a ser utilizada em países desenvolvidos, com aproveitamento energético. Atualmente ainda existem dificuldades de se atingir e manter as altas temperaturas necessárias à incineração, que continua sendo um método polêmico (JUCÁ, 2003)

A compostagem é uma metodologia de destinação do resíduo orgânico, que através de processos fermentativos naturais transforma os resíduos em adubo orgânico, que pode ser utilizado para fins agrários (ALBERTE et al., 2005).

Segundo Borsoi (1997), em 1990 na Suíça e em outros países, uma grande parte dos resíduos eram queimados e o restante, disposto em aterros, mostrando que existe uma tendência em países da Europa em utilizar a incineração como principal forma de destinação final (Tabela 2). Um dos principais motivos seria o fato de haverem poucas áreas disponíveis para construção de aterros, já que uma das principais vantagens da incineração é a redução de volume dos resíduos (BORSOI, 1997).

Tabela 2 – Tratamento e Disposição Final dos RSU em alguns países em 1990.

País ou Região Compostagem Incineração Aterro e outros

Estados Unidos <1 19 80 Japão 2 70 30 Alemanha 3 30 70 França 9 40 55 Suíça - 80 20 Suécia 5 55 40 Espanha 5 15 80 América Latina <1 <1 98 Brasil <1 <1 99

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Nos Estados Unidos 62% do lixo gerado nos EUA é destinado a 3.091 aterros sanitários e apenas 10% é incinerado, percentual que se manteve inalterado nos últimos seis anos, caracterizando a paralisação no desenvolvimento de metodologias alternativas, em função do seu alto custo e das dúvidas quanto às emanações perigosas (CARVALHO, 1999 apud AZEVEDO, 2001)1.

Na América Latina, a grande maioria das cidades utiliza o aterramento para disposição final de seus resíduos sólidos. Azevedo (2001) cita o trabalho de Pacheco et al. (1996) 2, que afirma que de todo o lixo gerado na América Latina, somente 30% tinha disposição adequada. Da quantidade que sobra, 98% do lixo era colocado a céu aberto, 1% é incinerado e 1% decomposto.

No Brasil, segundo o IBGE (2002), percebe-se que houve uma evolução na destinação de RSU no Brasil nas últimas décadas, visto que diminuiu a quantidade de resíduos depositados em lixões e aumentou a quantidade em aterros (controlados e sanitários), além de ter aumento também a utilização de outras metodologias, como incineração, reciclagem e compostagem.

Da totalidade de municípios brasileiros, 63,6% utilizam lixões e 32,2%, aterros adequados (13,8% sanitários, 18,4% aterros controlados). Em 1989, o percentual de municípios que dispunham seus resíduos de forma adequada era de apenas 10,7%. Em relação ao peso dos RSU, a disposição final no Brasil, 47,1% é feita em aterros sanitários, 22,3% em aterros controlados e apenas 30,5% em lixões, ou seja, mais de 69% de todo o lixo coletado no Brasil estaria tendo um destino final adequado em aterros sanitários e/ou controlados (IBGE, 2002).

De acordo com Jucá (2003), na evolução da destinação final de RSU no Brasil, observa-se que o aumento da quantidade de resíduos observa-se acentua a partir de meados da década de 1990, quando houve uma redução nos índices inflacionários e um aumento de consumo por parte da população.

2.2.4 A composição dos RSU e o Potencial de Reciclagem

A composição dos resíduos sólidos urbanos é variável conforme a cidade ou região considerada, em função de fatores como, por exemplo, a atividade dominante, os hábitos e

1

CARVALHO, Benjamin de. Glossário de Saneamento e Ecologia. Rio de Janeiro: ABES, 1981. 203 p. 2

PACHECO, Alberto et al. A Disposição de Lixo em Áreas Urbanas . Limpeza Urbana. São Paulo: ABLP, n. 43 , set. 1996. p. 23-7.

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costumes da população, o clima, e as características sócio-econômicas da população. Alguns desses fatores influenciadores sugeridos por Andrade e Prado (2004) são: Fatores Climáticos (chuva, verão, inverno); épocas especiais (Carnaval, Páscoa, Natal, Dia dos pais, Férias e Feriados, etc.); Fatores Demográficos (População) e Fatores Sócio-econômicos (Padrão de Vida, Nível Cultural, Desenvolvimento Tecnológico, Programas Ambientais, etc.).

Essas variações ocorrem mesmo dentro de uma cidade de acordo com o bairro ou região, e também podem se modificar durante o decorrer do ano ou de ano para ano, fazendo necessários levantamentos periódicos para atualização de dados sobre a composição do lixo urbano. Em relação à composição dos resíduos sólidos urbanos dos países, existe uma tendência geral em que nos países menos industrializados ocorra maior geração de resíduos orgânicos, e nos mais industrializados uma maior geração de papel e plástico (Tabela 3) (LEHMAN, 2006).

Tabela 3 – Composição dos RSU em alguns países do mundo.

País Papel e

papelão

Metal Vidro Plásticos Orgânicos

Putrescíveis Brasil¹ 13,1 2,1 2,3 16,4 57,4 EUA² 34,2 7,6 5,2 11,8 25 China³ 8 1,8 2 9,3 49 Europa³ 26 4 7 9 29 Costa Rica 20,7 2,1 2,3 17,7 49,8 Peru 7,5 2,3 3,4 4,3 54,5 Paraguai 10,2 1,3 3,5 4,2 58,2 Equador 9,6 0,7 3,7 4,5 71,4

Fontes: OPAS (2005), ABRELPE, (2006)¹, EPA, (2005)²; LEHMAN, (2006)³.

No Brasil, a maior parte dos resíduos gerados são orgânicos, e segundo Oliveira (2006), as principais causas possíveis para essa tendência são: primeiro, pelo fato de ser um país agrícola, e segundo pela existência, no Brasil, de um sistema de distribuição pouco eficiente principalmente para produtos in natura, e a falta de embalagens adequadas, que acarretam grandes perdas de alimentos.

Embora a fração orgânica e o papel/papelão continuem sendo os principais componentes dos resíduos sólidos urbanos nas cidades brasileiras, outros tipos de lixo estão crescendo em

(30)

quantidade rapidamente, como os metais e os polímeros (SILVA, 2000). A tabela 4 mostra a composição dos RSU em algumas das principais cidades brasileiras, segundo Santos (2004).

Tabela 4 – Composição dos RSU do Brasil e de algumas cidades brasileiras.

Cidade Matéria

orgânica

Papel/ papelão

Plásticos Metais Vidro

Campinas/SP 72,3 19,2 3,6 2,3 0,8 São Paulo/SP 64,4 14,4 12,1 3,2 1,1 Belo Horizonte/MG 65,0 ND ND ND ND Rio de Janeiro/RJ 51,6 18,7 19,7 ND ND Manaus/AM 51,1 29,8 2,8 6,8 4,7 Salvador/BA 46,8 16,2 17,4 3,7 2,9 Curitiba¹ 47,9 16 17,8 2 4,7

FONTES: Santos(2004), Tavares, (2006)¹

2.2.5 Coleta Seletiva e Reciclagem no Brasil

O Brasil tinha, em 2006, 327 cidades que operavam programas de coleta seletiva, de acordo com CEMPRE (2006). O Brasil possui 5.563 municípios, ou seja, a coleta seletiva ocorre em menos de 6% das cidades do país (IBGE, 2000). A coleta seletiva é normalmente realizada pelas prefeituras e principalmente pelo trabalho de catadores e carrinheiros, que coletam a maior parte do material reciclável.

Apesar do pequeno percentual de cidades brasileiras com esse tipo de programa, a partir da tabela 5 observa-se que a coleta seletiva têm evoluído no Brasil, e a cada ano mais cidades implantam como parte do gerenciamento de resíduos sólidos urbanos (CEMPRE, 2006).

Os custos despendidos pelos programas de coleta seletiva são frequentemente mais altos que os custos com a coleta comum de resíduos sólidos urbanos. Em países em desenvolvimento como o Brasil, os projetos de coleta seletiva e reciclagem justificam-se sobre o aspecto de educação ambiental da população, e por aspectos socioeconômicos, como o desemprego. A coleta seletiva pode, por exemplo, ser utilizada na geração de postos de trabalho, absorvendo os “catadores de lixo” (RIBEIRO; LIMA, 2000).

Em relação aos materiais coletados pelos programas de coleta seletiva, o papel e o papelão, juntos, somam 38% do peso do lixo nas cidades pesquisadas. O plástico, o vidro e os

(31)

metais ficam com 20%, 14% e 9%, respectivamente. Já as embalagens longa vida e o alumínio têm índices de 2% e 1%, enquanto a fatia de diversos (baterias, pilhas, borracha, madeira etc.) é de 5% e a de rejeito, 11% (CEMPRE, 2006).

Tabela 5 : Evolução da Coleta Seletiva no Brasil.

Dados Históricos da Pesquisa 1994 1999 2002 2004 2006.

Total de Municípios com coleta seletiva 81 135 192 237 327

Custo Médio da Coleta Seletiva (por tonelada)

U$240 U$ 159 U$70 U$ 114 U$ 151

Custo da Coleta Seletiva/custo da coleta convencional 10x maior 8x maior 5x maior 6x maior 5x maior Fonte: CEMPRE (2006)

Quanto ao mercado da reciclagem, o valor dos materiais recicláveis é bastante variável, a depender da localidade e das cotações financeiras da época, como o preço do dólar. A maior movimentação de anúncios de oferta e procura de resíduos do Brasil acontece na Bolsa de Reciclagem do Sistema Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), onde existe cerca de 4.530 empresas cadastradas (FIEP-PR, 2007).

Além da Coleta Seletiva realizada pela Prefeitura Municipal de Curitiba, existe ainda o trabalho dos carrinheiros, extremamente significativo para o mercado da reciclagem em Curitiba. Não existe um número exato de catadores que trabalham atualmente em Curitiba, devido às divergências da literatura, e da informalidade do serviço. As estimativas para o número total de catadores é de 10.000 (TAVARES, 2006).

2.2.6 Os Aspectos Ambiental, Social e Econômico dos Resíduos Sólidos Urbanos

(a) O Aspecto Ambiental dos Resíduos Sólidos Urbanos

Os RSU geram impactos ambientais, principalmente quando da má disposição. Assim, a disposição da imensa quantidade de resíduos gerados pela sociedade tem um grande custo ao meio ambiente. Principalmente em países em desenvolvimento, a disposição de resíduos sólidos é feita sobre o solo, de forma irregular e sem atender aos critérios de saneamento

(32)

ambiental. A disposição inadequada de resíduos gera conseqüências danosas ao meio ambiente: agravam a poluição do ar, do solo e das águas, além de provocar poluição visual. Nos casos de disposição de pontos de lixo nas encostas é possível ainda ocorrer a instabilidade dos taludes pela sobrecarga e absorção temporária da água da chuva, provocando deslizamentos (ALBERTE et al., 2005).

Mesmo o Aterro Sanitário, considerado uma das soluções mais viáveis à destinação dos resíduos sólidos, é causador de problemas ambientais, por ser altamente impactante para o local onde está inserido. De acordo com Cruz (2002), é uma solução precária a utilização dos aterros sanitários, pois, além de não se aproveitar nada dos resíduos, ocupa grandes áreas, que só poderão ser usadas para ajardinamentos, dado o risco de explosão.

Além do mau-cheiro e da proliferação de insetos e roedores transmissores de doenças, constata-se a presença de animais domésticos nas áreas de aterro e em lixões, como cães e gatos que, junto com as aves, podem transmitir doenças à população. Em relação à poluição e contaminação ambiental, há a percolação do chorume e a produção de gases, que causam danos ambientais que ultrapassam a territorialidade do problema (CARNEIRO et al., 2001).

Assim como Alberte et al. (2005), alguns autores sugerem que após a desativação de aterros, pode ser feita a requalificação da área. Para utilização futura destas áreas sugere-se a implantação de áreas verdes e parques. Mas é importante lembrar que mesmo após a desativação do aterro, a produção de gases e chorume continua ocorrendo e causando impactos ambientais. Assim, independente do encerramento das atividades de recuperação do aterro, os sistemas de drenagem superficial de águas pluviais e de tratamento dos gases e líquidos percolados devam ser mantidos por um período de cerca de 30 anos. Por outro lado, outros especialistas da área, como o prof. Nicolau Obladen3, defendem a idéia de que a área de aterro não deveria ser usada para outros fins, devido aos riscos que a montanha de lixo em decomposição representa, mesmo após a revegetação da área.

As áreas utilizadas para o aterramento de resíduos sólidos urbanos tornam-se áreas condenadas, e as ações de recuperação dessas áreas tem geralmente o objetivo limitado de amenizar a estética visual de um espaço estéril e monótono (ALBERTE et al., 2005).

(b) O Aspecto Social dos RSU

O problema do lixo é um ícone da desigualdade social. A pressão social em um sistema capitalista gerador de desigualdade social, faz com que a grande parte das pessoas sejam

3

(33)

obrigadas a sobreviver a partir dos restos de uma parcela privilegiada. A vida a partir do “lixo”, além de precária, inclui a exposição a riscos à saúde e à integridade física. Crianças e adolescentes que trabalham no lixo lidam com restos de comida, cacos de vidro, ferros retorcidos, plásticos pontiagudos e despejos com resíduos químicos, e assim estão expostos à doenças que seriam facilmente evitadas como diarréias, tétano, febre tifóide, tuberculose, doenças gástricas e leptospirose (JORNAL DO SENADO, 2007).

Os Lixões, por exemplo, que são a principal forma de destinação dos resíduos sólidos em países em desenvolvimento como o Brasil, além de ser um problema ambiental e de saúde pública, são historicamente fontes mantenedoras de problemas sociais (CUSSIOL et al., 2006). Segundo Alberte et al. (2005), em termos sociais, os lixões influem ainda na estrutura local: “A área passa a exercer atração nas populações de baixa renda do entorno, que buscam na separação e comercialização de materiais recicláveis, uma alternativa de trabalho, apesar das condições insalubres e sub-humanas da atividade”.

O trabalho de Silva (2002) relaciona a desigualdade social e o problema do lixo, trazendo perspectivas interessantes sobre o processo exclusão social causado pelo crescimento urbano desordenado:

O crescimento urbano obedecendo à lógica de expansão do capital, tem gerado uma cidade desigual, repleta de contrastes sociais, atendendo ao interesse de uma minoria e excluindo uma ampla maioria (SILVA, 2002, citando SERRA, 1991). Os impactos do processo de degradação não são uniformemente repartidos e que os impactos sociais negativos dessa degradação não incidem com a mesma intensidade sobre toda a população.

Um exemplo da desigualdade urbana pode ser encontrado nos lixões das cidades, onde uma significativa parcela da população pobre busca um meio de sobrevivência, numa coleta seletiva do que pode ser aproveitado. Uns são produtores de lixo, sem nenhuma responsabilidade com seu destino e com as conseqüências para o meio ambiente, conforme o destino que lhe é dado, outros são sobreviventes do lixo. Não raro, encarados também como lixo (SILVA, 2002, citando SOUZA,

2000).4

De acordo com Cymbalista (2005), o Brasil é o oitavo país em desigualdade social no mundo. No Brasil, 46,9% da renda nacional concentram-se nas mãos dos 10% mais ricos. Já os 10% mais pobres ficam com apenas 0,7% da renda. Uma das principais causas da desigualdade da sociedade brasileira é a rápida urbanização ocorrida no séc. XX. A desigualdade apresenta-se através de imensas diferenças entre as áreas das cidades, que em

4

SOUZA, Marcelo Lopes de. O Desafio Metropolitano. Um Estudo sobre a Problemática Sócio-Espacial nas Metrópoles Brasileiras. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

(34)

geral dividem-se entre uma porção legal rica, provida de infra-estrutura e investimentos públicos, e outra ilegal e precária, sem infra-estrutura e desprovida de investimento (CYMBALISTA, 2005).

Em relação ao número de catadores de lixo, no Brasil, seriam mais de 500 mil, de acordo com os dados do censo de 2000 do IBGE (IBGE, 2002). Vale lembrar que esses são dados publicados pelo IBGE em 2002, e na prática, o número de famílias que recorrem à catação de lixo para sair da miséria absoluta pode ser muito maior. Segundo Azevedo (2001), citando Leal Júnior (1999) e Abes, (2001)5, existiam em 1999 no Brasil cerca de 45.000 a 50.000 crianças trabalhando como catadores de lixo no país, sendo que 30% delas, estavam fora da escola.

Diante da problemática social que envolve o lixo, governos têm tentado esforços para reduzir os danos sociais. Mas a atuação do governo tem sido limitada, em geral são medidas paliativas. No Brasil, em 2003, foi criado o Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores de Lixo, integrado por representantes de dez ministérios. O grupo tem se dedicado a ações de treinamento e capacitação, além de programas de socorro social (JORNAL DO SENADO, 2007).

(c) O Aspecto Econômico dos RSU

Além dos custos financeiros para compensar os custos socioambientais gerados pelo lixo (como a recuperação de áreas, o custeio de programas sociais, etc.), o gerenciamento dos RSU gera um alto custo econômico para as cidades brasileiras. De acordo com o artigo 30 inciso IV da Constituição Federal de 1988, no Brasil, a responsabilidade pelo manuseio dos RSU é dos municípios. Os custos do gerenciamento de Resíduos Sólidos aumentam dia a dia, a medida que aumenta o volume de resíduos gerados. A falta de locais apropriados para a disposição do lixo e a insuficiência de recursos econômicos dos municípios fazem da limpeza urbana uma das principais preocupações da sociedade (SANDRONI et al., 2001).

Segundo Azambuja (2002), os custos econômicos são a soma dos instrumentos (atividades, mão de obra, energia, equipamentos, materiais, instalações, etc...) necessários para realizar o gerenciamento dos resíduos sólidos. De modo geral, os aspectos que geram custos no gerenciamento de RSU em uma cidade são: Coleta de resíduos sólidos municipais; Varrição de ruas e logradouros públicos; Transporte dos resíduos aos aterros sanitários;

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ABES. Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. Revista Brasileira de Saneamento e Meio Ambiente - BIO, Rio de Janeiro, n. 18, p. 38, abr./jun. 2001.

LEAL JÚNIOR, Breno Soares. A Vida nos Lixões. Época Jovem(Especial), Rio de Janeiro: Editora Globo, p.20, dez. 1999

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Operação dos aterros sanitários; Tratamento de resíduos especiais e perigosos e sua disposição final; Lavagem, limpeza e serviços diversos.

Para se estimar os custos reais do Gerenciamento de RSU em uma cidade é preciso considerar vários fatores tais como: (a) Quantidade resíduos a coletar; (b) Número de veículos e viagens; (c) Dimensão e custo da mão-de-obra direta e indireta (considerando salários, encargos, horas trabalhadas, etc...); (d) Custo operacional dos veículos (manutenção, licenciamento e seguros, depreciação dos equipamentos); (e) Consumo e custo dos uniformes de trabalho; (f) Custo das instalações como garagem, oficina e escritório local, desdobrado em depreciação e juros sobre capital; (g) Despesas de administração; (h) Juros sobre capital de giro; (i) Benefício (lucro da empresa contratada); (j) Impostos, como ISS, PIS, COFINS e CPMF (SANDRONI et al., 2001).

A etapa do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos que representa o maior custo é a coleta, como pode ser visto na tabela 6. Os custos da coleta e da disposição final variam de acordo com características de cada município, tal como a quantidade de resíduos gerados, distância até a área de descarga, tipo de controle e operação do aterro, planejamento e controle dos serviços (MURTA, 2005). Em geral os custos de disposição final dos resíduos sólidos são baixos em relação aos custos de coleta e transporte, principalmente em países pobres, pois as atividades realizadas nos locais de disposição final não são sanitariamente adequadas, com freqüência são mínimas, reduzindo-se apenas ao recobrimento e nivelamento do terreno (OPAS, 2005).

Tabela 6 – Custos do gerenciamento de RSU.

ETAPA PROPORÇÃO NO CUSTO TOTAL

Coleta/Transporte 50% Gerais e Administrativos 15% Instalações 19% Aterramento 12% Transferência 4% Fonte: EPA (2005)

Dependendo da cidade, o manejo de resíduos sólidos pode consumir de 5 a 50% do orçamento municipal e em geral esta atividade é deficitária, dadas as debilidades para enfrentar de forma conveniente os aspectos sociais, econômicos, ambientais e técnicos

Referências

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