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Pensando na perspectiva do gerenciamento de resíduos domiciliares, os cenários contribuem para que o gestor ou o analisador das informações seja capaz de visualizar situações futuras, em relação a possível adoção de medidas e políticas de gerenciamento (BUARQUE, 2003). Para contribuir para a análise dos resultados, foram utilizados alguns indicadores disponíveis na literatura, para estimar os impactos ambientais e econômicos de cada cenário (Tabela 17).

Ao todo foram construídos sete cenários alternativos da produção de resíduos sólidos domiciliares em Curitiba, no período de 2008 a 2020 a partir de hipóteses relacionadas a aspectos de interesse na gestão de resíduos sólidos urbanos: a minimização da geração total de resíduos sólidos domiciliares, a separação de materiais para reciclagem, e a compostagem de resíduos orgânicos.

Tabela 17 – Indicadores utilizados para estimativa dos impactos da geração de RSD em Curitiba.

INDICADORES e Fontes. VALOR

Densidade dos RSD –(MONTEIRO et al. 2006; EPA, 2005) 600 kg/m³ Densidade dos Recicláveis – (FARIAS e BRITO, 1999) 300kg/m³ Densidade dos Resíduos Orgânicos –(QUARESMA, 1998) 800 kg/m³ Custo de Coleta – (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2003) R$ 48,48 / ton Custo do Aterramento - (PAES, 2006) R$ 23 / ton

Segundo Adkhari (2006), na análise dos cenários, as soluções alternativas de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos devem ser examinadas e seus efeitos devem ser comparados àqueles produzidos se as mesmas políticas e práticas de gestão fossem mantidas. O cenário 1 foi construído a partir da tendência histórica da geração (Figura 13). É o cenário que Adkhari (2006) chama de cenário “do nothing”.

Cenário 1 - "do nothing"

200.000 250.000 300.000 350.000 400.000 450.000 500.000 550.000 600.000 650.000 700.000 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 20 19 20 20 20 21 Anos G e ra ç ã o d e R S D (t o n e la d a s ) Cenário 1

Esse cenário seria o mais provável de ser verdadeiro, caso as estratégias e políticas de gerenciamento fossem mantidas no futuro. Além disso, assume-se a hipótese de que a composição dos resíduos se manteria inalterada em relação ao status quo (TAVARES, 2006). De acordo com o cenário 1, a geração de resíduos sólidos em 2020 seria de 609.003 toneladas. O total gerado entre 2008 e 2020 seria de 6.603.574 toneladas, o que significa que nesse período seriam gastos R$ 29.760.367,00 para coletar e aterrar esses resíduos, e em termos de volume estaria ocupando 11.005.574 m³ no aterro sanitário. Em relação a geração de metano, para este cenário a decomposição dos resíduos orgânicos lançaria 193.582 ton na atmosfera. O cenário 1 foi utilizado como referência para construção dos outros cenários, sendo portanto considerado o cenário da tendência histórica.

Os cenários 2 e 3 foram construídos a partir do aspecto de interesse da geração total da de resíduos sólidos (Figura 14). No cenário 2 supõe-se que haveria a redução de 5 % na geração total de resíduos sólidos domiciliares na cidade, devido a mudanças nas práticas de gestão, como a intensificação de programas de minimização da geração. No cenário 3 supõe-se que poderia haver um aumento de 5% da geração total, o que poderia supõe-ser verdade caso hajam mudanças nos hábitos de consumo da população, com aumento da quantidade de resíduos geradas por cada habitante.

Cenários 2 e 3 200.000 250.000 300.000 350.000 400.000 450.000 500.000 550.000 600.000 650.000 700.000 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 Ano R S D t o ta is ( to n e la d a s )

Cenário 2 (+5% dos RSD totais) Cenário 3 (-5% dos RSD totais) Figura 14 – Cenários 2 e 3 da geração de resíduos domiciliares em Curitiba (2008 a 2020.)

Se o cenário 2 fosse verdadeiro, em 2020 a geração anual de resíduos sólidos domiciliares em Curitiba seria de 578.553 toneladas, e a quantidade acumulada entre 2008 a 2020 seria de 6.273.395 toneladas. Se o cenário 3 fosse verdadeiro, a geração em 2020 seria

de, 639.453 toneladas, e entre 2008 e 2020 seria de 6.933.753 toneladas acumuladas. Nesse período, em relação ao cenário 1, as diferenças - que se traduzem em economia para o cenário 2 e gastos adicionais para o cenário 3 - seriam: 330.179 toneladas geradas, 550.298 m³ de volume no aterro, e R$ 1.488.018,00 para o gerenciamento dos resíduos.

O cenário 4 foi construído a partir do aspecto de interesse da separação dos materiais recicláveis presentes nos resíduos domiciliares (Figura 15). Considerou-se uma redução de 20% na quantidade de recicláveis, que poderia ocorrer no futuro caso programas de reciclagem fossem intensificados e desenvolvidos, e esforços da gestão fossem direcionados para o aspecto da separação e reciclagem.

Ce nário 4 200.000 250.000 300.000 350.000 400.000 450.000 500.000 550.000 600.000 650.000 700.000 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 Ano R S D t o ta is ( to n e la d a s ) Cenário 4 (-20%.Recicláveis)

Figura 15 – Cenário 4 da geração de resíduos domiciliares em Curitiba (2008 a 2020).

Se o cenário 4 fosse verdadeiro, em 2020 a geração total seria de 559.674 toneladas, e a quantidade acumulada entre 2008 a 2020 seria de 6.068.684 toneladas. Em relação ao cenário “do nothing”, até 2020 as diferenças – economias – seriam de: 534.890 toneladas geradas, 891.483 m³ de volume no aterro, R$ 2.410.560,00 para o gerenciamento desses resíduos. Outro aspecto passível de ser analisado diz respeito ao valor de mercado desses materiais. Se pudessem ser comercializados, gerariam receitas, e se fossem enviadas ao aterro essas receitas seriam desperdiçada e gerariam mais custos. Além disso, a quantidade de material reciclável desviada do aterro representa uma potencial receita de R$ 684.803,00, de acordo com o valor atual de mercado de cada material (HOLZMAN, 2008).

O cenário 5 foi construído a partir do aspecto da possibilidade de compostar os resíduos orgânicos presentes nos resíduos domiciliares, mas que normalmente são enviados ao aterro

sanitário (Figura 16). No cenário 5 considerou-se que, pela possível existência de um sistema de compostagem na cidade, poderia haver uma redução de 10% na quantidade de resíduos orgânicos enviadas ao aterro.

Cenário 5 200.000 250.000 300.000 350.000 400.000 450.000 500.000 550.000 600.000 650.000 700.000 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 Ano R S D t o ta is ( to n e la d a s )

Cenário 5 (-10%.Resíduos Orgânicos)

Figura 16 – Cenário 5 da geração de resíduos domiciliares em Curitiba (2008 a 2020).

Se este cenário fosse verdadeiro, em 2020 a geração total em Curitiba seria de 578.736 toneladas. A quantidade de resíduos gerados acumulada entre 2008 a 2020 seria de 6.275.377 toneladas. Em relação ao cenário “do nothing”, isto representaria até 2020 economia de: 328.198 toneladas geradas, 546.996 m³ de volume no aterro, R$ 1.479.090,00 para o gerenciamento. Um dos impactos de maior interesse na geração de resíduos orgânicos é a geração de biogás (principalmente CH4) gerado pela decomposição da matéria orgânica. Utilizando a equação utilizada por Adkhari (2006) para estimar a produção de metano a partir de quantidades em peso de resíduos orgânicos, constata-se que no cenário 5 haveria geração de 183.961 ton de metano. Isto significa que, em relação ao cenário 1, um total de 9.622 ton de metano originado pela decomposição dos resíduos orgânicos estaria sendo evitada.

O cenário 6 ilustra a situação em que, através de estratégias de intensificação da reciclagem e compostagem, seria possível reduzir tanto as quantidades de resíduos orgânicos e de materiais recicláveis enviadas ao aterro sanitário. Os impactos gerados por esse cenário podem ser considerados, bem como os custos de gerenciamento, e comparados aos efeitos de outras estratégias.

Cenário 6

200.000 250.000 300.000 350.000 400.000 450.000 500.000 550.000 600.000 650.000 700.000 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 Anos R S D -20% recicláveis e -10% orgânicos

Figura 17 – Cenário 6 da geração de resíduos domiciliares em Curitiba (2008 a 2020).

Se o cenário 6 fosse o verdadeiro, em 2020 a geração total em Curitiba seria de 529.406 toneladas. A quantidade de resíduos gerados acumulada entre 2008 a 2020 seria de 5.740.487 toneladas. Em relação ao cenário “do nothing”, isto representaria até 2020 economias de: 863.087 toneladas geradas, 1.438.478,61 de volume no aterro, R$ 3.889.679 para o gerenciamento. Em relação à produção de metano, haveria geração de 168.281 toneladas. Isto significa que, em relação ao cenário 0, um total de 25.301 ton de metano originado pela decomposição dos resíduos orgânicos estaria sendo evitada .

A tabela 18 traz as estimativas dos impactos de cada um dos cenários, comparativamente. Os cenários foram construídos sob hipóteses particulares, porém, essas hipóteses poderiam ser cumulativas, gerando impactos também cumulativos, criando outros cenários. Na verdade a possibilidade de construção de cenários é ilimitada, sendo que a técnica de cenários permite a comparação entre cada um dos cenários e seus efeitos.

Tabela 18 – Tabela comparativa dos Resultados dos Cenários Alternativos da produção de Resíduos Sólidos Domiciliares em Curitiba.

Cenários/ Impactos Geração anual RSD em 2020 Quantidade em Peso (2008-2020) (Ton) Quantidade em Volume (2008-2020) (m³) Custo para Gerenciamento (2008-2020) Geração de Metano (2008-2020) (ton) Cenário 1 (“do nothing”) 609.003 6.603.574 11.005.574 R$ 29.760.367 193.582 Cenário 2 (-5% Geração total) 578.553 6.273.395 10.455.659 R$ 28.272.348 183.903 Cenário 3 (+5% da geração total) 639.453 6.933.753 11.556.255 R$ 31.248.385 203.262 Cenário 4 (-20% |Recicláveis) 559.674 6.068.684 11.897.439 R$ 27.349.777 193.582 Cenário 5 (-10% Orgânicos) 578.735 6.275.376 10.240.768 R$ 28.281.276 183.961 Cenário 6 (20% Recicláveis e -10% Orgânicos) 529.406 5.740.487 11.132.2506 R$ 25.870.686 168.281

Essa metodologia permite que o problema da geração de resíduos seja abordado de diferentes maneiras, isto é, permite que soluções variadas ao problema sejam consideradas, e seus efeitos avaliados, auxiliando dessa forma o planejamento da gestão de resíduos domiciliares. As diferentes estratégias consideradas para construção dos cenários mostram que é possível reduzir a geração por diferentes meios, sendo que diversas outras estratégias poderiam ser analisadas, inclusive combinadas entre si. A possibilidade de visualização das diferentes opções e da comparação entre elas, contribui para escolha das melhores estratégias e para a definição de metas e objetivos do gerenciamento. Na análise dos cenários, tendo em vista que no aterro da Caximba foram depositadas (após três obras de ampliação, e por vários municípios) 5.691.891 toneladas de resíduos sólidos domiciliares (PAES, 2007), é possível ter uma idéia mais clara da magnitude dos impactos dos cenários futuros.

De acordo com Buarque (2003), por muito tempo, tanto em empresas quanto em governos, as decisões foram tomadas com base apenas na intuição dos decisores. Mais recentemente, passaram a basear-se na projeção de tendências, que ajudavam a definir os objetivos e as metas. Os resultados dos cenários podem fornecer indicativos dos impactos gerados pela adoção de diferentes estratégias de gerenciamento. Porém, os resultados dos cenários e as estimativas dos impactos devem ser considerados com cautela. O analisador

dessas informações deve estar ciente de que essas estimativas são apenas indicativas dos impactos e não previsões. Para essas estimativas, uma série de hipóteses simplificadoras foram consideradas, como a inalterabilidade da composição dos resíduos domiciliares, dos custos com o gerenciamento, ou dos valores dos materiais recicláveis, nos anos futuros da projeção.

A minimização da geração de resíduos sólidos urbanos não é uma tarefa simples, especialmente em cidades com crescimento elevado. Segundo Sokka (2007), é possível estabilizar ou mesmo reduzir os níveis de geração de resíduos. Para promover a redução da geração, o foco deve ser transferido dos resíduos para os ciclos dos materiais e produtos da sociedade, e políticas que incentivem a produção sustentável e o ecodesign de produtos devem ser incentivadas. Em algumas cidades de países desenvolvidos da Europa central, a geração de resíduos domiciliares já se estabilizou (SOKKA, 2007).

Em Curitiba, a geração de resíduos sólidos domiciliares é crescente. Apesar disso, alguns elementos podem sugerir que a geração de resíduos domiciliares, a partir de um determinado momento, passe a diminuir. Em relação à evolução do PIB de Curitiba, também é crescente de acordo com os últimos anos. Porém, fica implícito que o crescimento econômico tem alguns limites. Por exemplo: a agricultura no Paraná utiliza áreas agricultáveis que já estão quase totalmente ocupadas, e só poderiam crescer com desenvolvimento tecnológico, e os níveis de produtividade dos principais produtos – soja e milho – atingiram os níveis máximos conhecidos atualmente. Estes exemplos indicam restrições possíveis ao crescimento de qualquer território. Outro exemplo é o setor industrial, que sofre forte concorrência de outros países mais competitivos, como a China. Quanto ao setor de serviços, esse crescimento pode ser limitado pela demanda, pois a população em geral não possui meios financeiros para consumir, de forma crescente por eles. Esses elementos indicam que num futuro próximo pode haver a diminuição da geração de resíduos sólidos domiciliares em Curitiba. Mais distante o horizonte de projeção, mais difícil é a estimativa da geração de resíduos, por isso é importante que se mantenham atualizados os estudos da evolução do processo de geração de resíduos sólidos em Curitiba.

O grande percentual de geração de recicláveis observado nos resíduos sólidos domiciliares de Curitiba, dá subsídios e validade ao argumento de que providências deveriam ser tomadas, investimentos e incentivos deveriam ser feitos para diminuir a quantidade de materiais recicláveis encaminhados ao aterro sanitário da Caximba, aumentando assim a vida útil do mesmo. Sokka (2007) recomenda o incentivo ao desenvolvimento de um mercado de separação, coleta, reciclagem e comercialização dos resíduos sólidos domiciliares. O poder

público pode estimular o desenvolvimento de recicláveis através de mecanismos fiscais, por exemplo, concedendo benefícios às indústrias recicladoras. Por outro lado, a eficácia da reciclagem depende da consciência ambiental da população, e de uma eficiente segregação dos resíduos recicláveis na fonte geradora. Para isso, as campanhas e programas de educação da população devem ser intensificados, e melhor planejados.

Quanto aos resíduos orgânicos, diante da grande porcentagem em relação ao total dos resíduos sólidos domiciliares gerados em Curitiba, e considerando-se o seu potencial de tratabilidade via compostagem, estes deveriam ser destinados e tratados em uma usina de compostagem. Além da economia de espaço no aterro, que contribuiria para o aumento da sua vida útil, haveria diminuição no lançamento de emissões gasosas prejudiciais ao meio ambiente. Segundo o IBGE (2002), no Brasil existem 260 usinas de compostagem de resíduos orgânicos, sendo que 12 estão localizadas no Paraná – nenhuma delas em Curitiba. Diante dos diversos benefícios de se implantar uma usina de compostagem como parte do processo de gerenciamento de resíduos em uma cidade, a compostagem é uma alternativa que deveria ser considerada com mais seriedade no caso de Curitiba.

Uma das principais limitações dos sistemas de planejamento a curto e longo prazo do gerenciamento de resíduos sólidos urbanos é a falta de dados históricos completos das quantidades e qualidades dos resíduos gerados, resultado da gestão precária de resíduos e da insuficiência de recursos (DYSON; CHANG, 2005). Os dados históricos referentes à produção de resíduos sólidos domiciliares em Curitiba é bastante limitada, e essa é provavelmente o caso da maioria das cidades brasileiras. Em comparação com cidades de países desenvolvidos, existe nas cidades brasileiras um evidente atraso no gerenciamento de resíduos sólidos. Com bases de dados históricos bem estruturadas, esses países têm sido capazes de desenvolver estudos e técnicas para avaliar e projetar a geração de RSD em cidades e países, e utilizam isso para planejar e desenvolver seus sistemas de gestão (DASKALOPOULOS; PROBERT, 1998).

A projeção de cenários da produção de resíduos sólidos é uma ferramenta que tem sido pouco utilizada no Brasil, e que pode ser aplicada de maneira tão complexa quanto a qualidade dos dados disponíveis. Esse tipo de abordagem tem sido muito pouco utilizada em países em desenvolvimento, onde o gerenciamento de resíduos desenvolveu-se mais tardiamente em relação aos países desenvolvidos (CHEN; CHANG, 1999).

Os resultados dos cenários desse estudo mostram que existe grande incerteza na geração de resíduos sólidos domiciliares em Curitiba para o futuro. Para diminuir essa incerteza e evitar erros (na consideração de investimentos, por exemplo), o aperfeiçoamento das

estatísticas e dos dados referentes à produção de resíduos deve ser contínuo. Os gestores responsáveis pelo planejamento devem estar cientes dessas incertezas. Apesar disso, os cenários servem como bons instrumentos para o norteamento de políticas e estratégias no gerenciamento de resíduos sólidos urbanos (SOKKA et al., 2007).

5 CONCLUSÕES

Com o aumento da geração de resíduos sólidos em escala global, surge a necessidade da busca de soluções para reduzir os impactos causados pela exploração de recursos naturais e pela disposição desses resíduos. Nos tempos modernos, o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos passou a ser um fator primordial principalmente em grandes centros urbanos, na busca do desenvolvimento sustentável.

A eficácia da gestão de Resíduos Sólidos Domiciliares em uma cidade depende de um planejamento adequado, baseado em dados históricos da produção de resíduos Por isso, é de extrema importância para uma cidade que sejam desenvolvidas bases de dados históricos da geração de resíduos, e metodologias para o monitoramento e coleta desses dados, para que o processo de evolução da geração possa ser estudado e melhor compreendido pelos gestores.

A falta de dados históricos é um fator que compromete o gerenciamento de resíduos sólidos nas cidades brasileiras, que pagam preços altos, em dimensões ambientais, sociais e econômicas, pela má gestão dos resíduos. Neste trabalho, buscou-se reunir as melhores informações e dados disponíveis na literatura para caracterizar e discutir o processo da geração de resíduos sólidos domiciliares em Curitiba, e projetá-lo para o futuro. Os resultados da projeção mostram que a geração será crescente até 2020, ultrapassando 600 mil toneladas anuais.

Uma das propostas do trabalho foi apresentar a técnica de cenários como uma forma de abordagem o planejamento da gestão de resíduos sólidos domiciliares. Sete cenários alternativos da geração de RSD em Curitiba até 2020 foram construídos e discutidos, de maneira a considerar diferentes estratégias de gerenciamento. Pelos resultados desse estudo, estima-se que a geração de resíduos sólidos domiciliares em Curitiba até será crescente até 2020, porém, as quantidades de resíduo geradas os impactos decorrentes dessa geração podem ser reduzidos, através de ações e estratégias de gerenciamento, conforme constatado pela análise dos cenários.

Os cenários para o caso de Curitiba foram construídos num horizonte futuro de 2008 a 2020, e seus efeitos comparados com o cenário futuro mais provável – a projeção da geração baseada nos dados históricos. Um cenário construído sob a hipótese de serem adotadas estratégias de intensificação dos programas de reciclagem que gerassem diminuição de 20% nos matérias recicláveis enviados ao aterro, poderia, pela análise, representar uma economia de R$ 2.410.590 em custos de gerenciamento e 891.483 m³ em volume no aterro. Outro cenário, considerando a criação de um sistema de compostagem em Curitiba em que 10% dos

resíduos orgânicos pudesse ser desviados do aterro, geraria economias de R$ 1.479.090 em custos de gerenciamento e 546.996 m³ em volume no aterro para a cidade. Se fossem combinadas, as estratégias gerariam benefícios ainda maiores, como R$ 3.889.679,93 de economia com custos de gerenciamento. Justamente a possibilidade de avaliar e comparar os efeitos no futuro da adoção de diferentes estratégias que a técnica de cenários permite, é o fator que pode contribuir para o planejamento da gestão de resíduos domiciliares em Curitiba, na definição de metas e objetivos e das formas de alcançá-los.

Com isso, espera-se gerar uma contribuição no sentido de aumentar a compreensão do processo evolutivo da geração de RSD em Curitiba, e de aprimorar o processo de planejamento para a elaboração de políticas e metas da gestão de resíduos domiciliares na cidade. Espera-se ainda, trazer a atenção para a carência de dados acerca da geração e composição de resíduos sólidos domiciliares, e ao atraso das cidades brasileiras em relação às cidades de países desenvolvidos no que diz respeito ao planejamento da gestão.

Há, portanto, a necessidade de mais estudos sobre o tema. Como sugestão para novos trabalhos, estudos semelhantes poderiam ser feitos em um universo maior de cidades da região metropolitana de Curitiba. Outra sugestão seria aplicar o método de estudo a outros tipos de resíduos, como os resíduos de serviços da saúde, ou os resíduos industriais. Outras metodologias para projeção da geração dos resíduos sólidos podem ser desenvolvidas e aplicadas na construção de cenários futuros, considerando um número maior de variáveis críticas.

6 - REFERÊNCIAS

ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS). Resíduos Sólidos – Classificação. NBR 10004. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. 2006. 160p

ABREU E PALHARES. O Destino do Lixo. Departamento de Artes e Design, PUC-Rio, Rio

de Janeiro, 2006. disponível em:

<http://www.dad.puc-rio.br/dad07/arquivos_downloads/48.pdf>. Acesso em 02 ago 2007.

ADIKHARI, K. B., BARRINGTON, S., MARTINEZ, J. Predicted Growht of World Food Waste and Methane Production. Waste Management and Research v.24, p.421-433, 2006.

ALBERTE, E. P. V., CARNEIRO A. P., KAN, L. Recuperação de Áreas Degradadas por Disposição de Resíduos Sólidos Urbanos. Revista Eletrônica da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana, v.3, n.5, p.5-14, 2005.

ALBERTE, E.P.V.; et al. Recuperação de Áreas Degradadas por Disposição de Resíduos

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