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2.3.1 Caracterização da cidade de Curitiba – PR

De acordo com Ramos (2006), Curitiba foi fundada em 1654 e elevada a categoria de vila, e de município em 29 de março de 1693, sob o nome de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais devido aos milhares de pinheiros que cobriam seu território, passando em 1721 a se chamar Curitiba. O desenvolvimento na cidade começou a partir do início do século XIX, com a exploração e exportação da erva-mate, sendo elevada a categoria de cidade em 1842. Em 1853, o sul e sudoeste da província de São Paulo se separam formando a nova província do Paraná, da qual Curitiba torna-se capital. Com o crescimento da imigração européia, políticas migratórias foram implementadas com o incentivo para a formação de núcleos coloniais próximos de Curitiba. Assim, os arredores da cidade permaneceram reservados a práticas agrícolas (RAMOS, 2006).

No início da década de 40, com o “Plano Diretor de Urbanização”, conhecido como “Plano Agache”, os princípios da teoria urbanística com base em uma visão sistêmica foram aplicados na intervenção urbanística da cidade. A cidade deveria ser concebida como um organismo vivo, em uma perspectiva funcional, onde cada parte da cidade deveria funcionar

sincronicamente para o bem estar dos seus habitantes. Assim, para adequar os problemas e os conflitos na utilização do espaço urbano, o “remédio” indicado pelo plano foi o zoneamento funcional. Por meio deste zoneamento, deveria ser atribuída a cada zona (órgão) uma função específica: moradia, circulação, recreação, trabalho (PEREIRA, 2001).

Mendonça (2002) cita que, na década de 70, com a mecanização do campo e a criação da Cidade Industrial de Curitiba – CIC, ocorreu um aumento da oferta de trabalho e um crescimento vertiginoso da população. A partir de 1990, impulsionado pelos slogans “Curitiba Ecológica” e “Capital Social”, criou-se um novo estímulo atrativo, na esteira de sua imagem de “cidade com qualidade de vida”. A vinda de indústrias contribuiu para elevar os fluxos migratórios para a cidade, induzindo também ao crescimento da Região Metropolitana. Também por isso, inúmeros problemas sócio-ambientais foram evidenciados, comuns de todas as grandes cidades brasileiras.

Figura 2 - Administrações Regionais de Curitiba. FONTE: IPPUC, 2005

A cidade, atualmente está dividida em nove subprefeituras, denominadas “administrações regionais” (Figura 2) que gerenciam os 75 bairros do município (IBGE, 2007; IPARDES, 2008).

A cidade de Curitiba é uma das cidades que mais cresceu nos últimos trinta anos, e é apontada como tendo um dos melhores níveis de qualidade de vida (o IDH de 2000 foi de 0,856) no país, sendo considerada um exemplo de planejamento urbano no Brasil (IPARDES, 2007). Na sua formação histórica, a demografia de Curitiba é o resultado da miscigenação das três etnias básicas que compõem a população brasileira: o índio, o português e o negro. Com a chegada dos imigrantes, especialmente poloneses, ucranianos, italianos, alemães e japoneses, formou-se um caldo de cultura singular, que caracteriza a população da cidade, seus valores e modo de vida (PEREIRA, 2001).

2.3.2 A gestão de RSU em Curitiba

A gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos em Curitiba é feita pelo Departamento de Limpeza Pública (DLP) da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, e tem como objetivo “o gerenciamento eficaz da coleta e disposição final dos resíduos sólidos. O DLP contrata os serviços de uma empresa privada para a realização execução dos serviços de gerenciamento, a CAVO (PAES et al., 2008). A figura 3 traz o esquema geral do Gerenciamento de RSU em Curitiba.

Figura 3 - Representação esquemática do Gerenciamento de RSU em Curitiba. Fonte: PAES et al., 2007.

Em relação aos serviços de coleta de Resíduos Sólidos, o DLP realiza quatro tipos de coleta na cidade: a domiciliar, seletiva, de resíduo vegetal e de resíduos sólidos dos serviços de saúde (RSSS). Para atender seus objetivos, atua com programas que incentivam a população na colaboração com os serviços de gestão do lixo, com o programa “lixo que não é lixo”, que visa a valorização dos resíduos recicláveis, e dois outros que incentivam a coleta de resíduos sólidos em áreas pobres e de difícil acesso ao veículo coletor - ”compra do lixo” e “câmbio verde” (PAES et al., 2008).

Existe ainda um sistema especial de coleta para a fração tóxica dos resíduos domiciliares perigosos (pilhas, medicamentos, baterias de telefones celulares, embalagens de inseticidas, lâmpadas fluorescentes, toner, restos de tintas e solventes), que funciona nos terminais de ônibus da cidade, com um caminhão caracterizado, que permanece uma vez por mês em cada terminal. Esse material é encaminhado à Central de Tratamento de Resíduos Industriais (OLIVEIRA, 2006).

(a) Destinação dos Resíduos Sólidos Urbanos e Coleta Seletiva em Curitiba

Quanto a destinação dos RSU, a prefeitura de Curitiba utilizava, até 1989, o aterro controlado Lamenha Pequena que foi desativado. A partir de então, iniciou-se a operação do Aterro Sanitário da Caximba, utilizado até atualmente. Simultaneamente ao início da operação o aterro da Caximba, a prefeitura começou a implantar diversos programas de coleta de resíduos sólidos alternativos à coleta tradicional (PAES et al., 2007).

O Aterro da Caximba fica localizado ao sul do Município de Curitiba, a 23 km do centro, no bairro da Caximba, localizado entre os municípios de Araucária e Fazenda Rio Grande. Atualmente o aterro da Caximba recebe resíduos sólidos domiciliares provenientes do município de Curitiba e também dos municípios de Almirante Tamandaré, Araucária, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Contenda, Colombo, Fazenda Rio Grande, Itaperuçu, Pinhais, Piraquara, São José dos Pinhais, Mandirituba e Quatro Barras. Curitiba é responsável por 69,18 % dos resíduos depositados no aterro da Caximba (TAVARES, 2006).

A cidade de Curitiba foi a pioneira na implantação da coleta seletiva de resíduos sólidos no Brasil, em 1989 , com o programa “Lixo que não é Lixo”. Atualmente a cidade desenvolve alguns programas relacionados a coleta seletiva reciclagem (PAES et al., 2007).

Programa da coleta seletiva

O programa de coleta seletiva de Curitiba atinge praticamente 100% da cidade sendo conhecido como "O Lixo que Não é Lixo". A coleta acontece de três formas diferentes: pela prefeitura, com sua frota de caminhões verdes; pelos coletores de material reciclável que integram a Cooperativa dos Coletores de Material Reciclável (Recopere) e ainda a Coleta Especial de Resíduos que cuida do lixo mais perigoso, como pilhas, lâmpadas, embalagens de remédios e de produtos químicos. A face mais criativa do sistema ambiental da cidade é, sem dúvida, a Usina de Valorização de Rejeitos, situada em Campo Magro, município da grande Curitiba, dentro da Fazenda Solidariedade. Ali o lixo é separado e preparado para a reciclagem. O papel é encaminhado a indústrias papeleiras, o ferro é levado para siderúrgicas, o vidro transparente vai para as cristaleiras, o vidro colorido para as fábricas de garrafas e artefatos deste material, o alumínio para as indústrias de metais não-ferrosos e as garrafas plásticas seguem para diferentes indústrias de reprocessamento. Com este projeto o governo municipal conseguiu vários resultados. Um deles, a geração de empregos, com funcionários em dois turnos tocando a usina 14 horas por dia. Outro aspecto é o da economia de recursos, uma vez que a usina propicia novos produtos do que foi descartado pela sociedade. Há também os dividendos com a venda do material e por fim o aspecto mais importante, a educação ambiental. Quem trabalha na usina e quem visita o local aprende, na prática, a preservar o meio ambiente, porque percebe a importância da limpeza, da organização e da reciclagem. E todas as dúvidas são esclarecidas por uma educadora ambiental que recebe e orienta os visitantes (PAES et al., 2007; CUNHA, 2004).

Programa Câmbio Verde

O Programa Câmbio Verde nasceu de uma derivação do Programa Lixo que não é Lixo. Consiste na troca de material reciclável por produtos hortigranjeiros de época. Em junho de 1991, houve uma super safra de produtos hortigranjeiros na Região Metropolitana de Curitiba e face a grande quantidade de produtos, os pequenos produtores encontraram dificuldades para a comercialização de suas safras e muitos estavam transformando sua produção em adubo orgânico e alimento para criações. Diante daquela realidade o poder público de maneira criativa e de baixo custo, resolveu auxiliar os pequenos produtores no escoamento de suas safras. Para tanto, firmou convênio com a FEPAR - Federação Paranaense das Associações dos Produtores Rurais, e passou a adquirir o excedente da produção e repassar estes produtos às famílias com renda salarial entre 0 a 3,5 salários mínimos.

O cambio verde tem como objetivos:

• Promover o escoamento da safra de produtos hortigranjeiros dos pequenos produtores de Curitiba e da Região Metropolitana;

• Criar na população o hábito de separar o lixo orgânico do inorgânico; • Sensibilizar a comunidade para a correta destinação final dos resíduos; • Reforçar a alimentação da camada menos favorecida de nossa sociedade. (OLIVEIRA, 2006; PAES et al., 2007).

Usina de Valorização de Rejeitos

A Unidade de Valorização de Rejeitos é responsável pelo reaproveitamento do resíduo reciclável coletado pela prefeitura. O restante vai para os 20 depósitos de reciclagem credenciados onde funcionários treinados fazem pesagem, enfardamento e estocagem do material, que, posteriormente, é vendido como insumo para as indústrias de transformação.

A UVR pertence à Fundação de Assistência Social (FAS), e localiza-se no município de Campo Magro. Com a implantação da coleta seletiva em Curitiba, a UVR recebe parte dos resíduos coletados pelos programas de coleta seletiva, e devido à capacidade de triagem da unidade, parte dos resíduos são encaminhados para depósitos cadastrados pela PMC. Atualmente são 23 depósitos cadastrados que recebem os resíduos excedentes da UVR, que representa 58,4% da coleta seletiva. Em 2005, a UVR resebeu 2.307.053 toneladas de resíduos para triagem dos recicláveis (TAVARES, 2006).

2.3.3 Cenários dos Resíduos Sólidos Domiciliares em Curitiba

(a) Geração e Composição dos Resíduos Sólidos Domiciliares

De acordo com os dados oficiais do Departamento de Limpeza Urbana de Curitiba, atualmente são coletadas cerca de 400mil toneladas anuais de resíduos sólidos domiciliares em Curitiba, ou cerca de 1.100 toneladas diárias de RSU. Tavares (2006) realizou em seu trabalho a caracterização gravimétrica dos resíduos sólidos domiciliares de Curitiba. A tabela 9 apresenta a composição dos resíduos:

Tabela 9 – Composição dos RSU de Curitiba.

Tipo de Resíduo Quantidade Relativa

Matéria Orgânica 47,9%

Papel/Papelão 16 %

Plástico duro 5,7%

Vidro 4,7%

Metais (ferrosos /não ferrosos) 2%

Plástico filme 12,1% Borracha 1,6% Madeira 1% Trapos/Couro 4,5% Outros 4,5% Fonte: TAVARES (2006)

Em relação ao custo do gerenciamento dos RSD de Curitiba o Relatório Diagnóstico da Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos de 2002 (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2002) estima que apenas para a etapa de Coleta, o custo anual da limpeza urbana em Curitiba esteja em torno de R$ 18.861.503,20 no total, ou R$ 48,48 tonelada-1, em 2001. Segundo EPA (2005) estima-se que os custos com a Coleta no gerenciamento de RSU podem representar 50% ou mais dos custos totais.

Para custear os serviços de limpeza urbana realizados na cidade, a prefeitura de Curitiba cobra uma taxa anual, juntamente com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para custear esses serviços – a “taxa do lixo”. Essa taxa é calculada com base na região de localização, no valor e na metragem de cada domicílio. Segundo Azevedo (2004), informações da prefeitura municipal da cidade indicam que, em 2000, a taxa variou de R$ 38 a R$ 358, e as receitas obtidas com a coleta de taxas cobriram menos de 40% dos custos reais da limpeza urbana em Curitiba.

(b) Coleta Seletiva e Reciclagem em Curitiba

A coleta dos materiais recicláveis é feita com caminhões do tipo baú e separados em uma unidade de valorização vinculada a prefeitura (aproximadamente um terço do material) ou vendidos para empresas particulares (cerca de dois terços do total de resíduos coletados) que separam e revendem (OLIVEIRA, 2006). A tabela 10 traz uma comparação entre a

composição média da coleta seletiva no Brasil (CEMPRE, 2006), e a composição dos materiais recebidos pela Usina de Valorização de Rejeitos de Curitiba (TAVARES, 2006).

Além da Coleta Seletiva realizada pela Prefeitura Municipal de Curitiba, existe ainda o trabalho dos carrinheiros, extremamente significativo para o mercado da reciclagem em Curitiba. Não existe um número exato de catadores que trabalham atualmente em Curitiba, devido às divergências da literatura, e da informalidade do serviço. A estimativa para o número total de catadores variam é de 10.000, segundo Tavares (2006).

Tabela 10 – Composição da Coleta Seletiva no Brasil e em Curitiba.

Composição Média da Coleta Seletiva no Brasil (CEMPRE, 2006)

Composição dos Materiais Encaminhados à UVR Campo Magro (TAVARES, 2006) Papel/Papelão 38% 37,32% Plástico 20% 24,83% Vidro 14% 17% Metais 9% 10,22 Alumínio 1% 0,46% Outros 5% 5,93% Tetra Pack 11% 4,37% Rejeito 2% -

Fontes: CEMPRE (2006), TAVARES (2006)

Tavares (2006) cita uma pesquisa realizada em 1999 pelo Departamento de Limpeza Urbana de Curitiba, trazendo alguns dados interessantes. Do universo de carrinheiros/catadores pesquisado, 70% eram adultos, 15% eram crianças e 7 % idosos. A pesquisa revelou ainda que os catadores trabalham em média 5,09 dias por semana, realizando em média 1,5 viagens diárias, levando em média 135,8 kg de material coletado por viagem. A renda média mensal revelada em 1999 foi de R$ 154,23 por catador. Segundo o autor, o coordenador do Movimento Pró-Federação dos Carrinheiros de Curitiba afirmou que os catadores tiravam 360 toneladas de material reciclável das ruas por dia, o que representa 70% de tudo o que é reciclado na cidade. Somente 30% corresponderiam à coleta feita pelo programa lixo que não é lixo (TAVARES, 2006)

O preço do material reciclável é bastante variável, a depender da localidade e das cotações financeiras da época, como o preço do dólar. A maior movimentação de anúncios de

oferta e procura de resíduos do Brasil acontece na Bolsa de Reciclagem do Sistema Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), onde existe cerca de 4.530 empresas cadastradas (FIEP PR, 2007). A Tabela 11 mostra o valor de mercado dos materiais recicláveis em Curitiba, segundo Holzmann (2008)6.

Tabela 11 – Valor de Mercado dos Recicláveis em Curitiba. Fonte: Holzmann, (2008) Material Papel Papelão Alumínio Vidro Plástico

Duro Plástico Filme Latas de Aço Longa Vida Preço (R$/kg) 0,49 0,35 3,25 0,08 1,06 0,41 0,35 0,26

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