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II Simpósio Internacional da ABHR XV Simpósio Nacional da ABHR II Simpósio Sul da ABHR está confirmada. Ricardo Assarice dos Santos 1

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Estudos contemporâneos sobre possíveis benefícios terapêuticos do uso ritual da ayahuasca II Simpósio Internacional da ABHR

XV Simpósio Nacional da ABHR II Simpósio Sul da ABHR está confirmada

Ricardo Assarice dos Santos1

A dimensão espiritual, principalmente em sua extensão simbólica e religiosa, é um tema que, apesar de crescente, ainda é ausente na academia. Considerando saúde como uma manifestação integral do ser humano e suas potencialidades, reflexões sobre práticas que promovem a integração das esferas bio-psico-socio-espirituais são essenciais. Desta maneira, são notáveis as correlações do uso ritual da Ayahuasca em diversos contextos e seus múltiplos benefícios para as esferas citadas anteriormente. Nota-se um crescimento considerável de estudos que ampliam a percepção acadêmica acerca dos benefícios terapêuticos do uso ritual da Ayahuasca, principalmente no que se refere a temas como depressão e uso abusivo de substâncias. Esta comunicação se propõe, portanto, a expressar de maneira sintética, as conclusões de alguns trabalhos acadêmicos contemporâneos, que apresentam os possíveis benefícios terapêuticos do uso da Ayahuasca em diversos contextos sociais e religiosos escolhidos arbitrariamente.

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1. Introdução

Ayahuasca, na língua quéchua, é a união das palavras ‘Aya’, que significa “pessoa morta, alma, espírito”, e da palavra ‘Waska’, que significa “corda, liana, cipó” (LABATE, 2005; SANTOS apud Dobkin de Rios, 2006). Em português podemos traduzir para algo como corda dos mortos ou cipó dos espíritos, mas este nome geralmente é utilizado para definir a bebida resultante da mistura de um cipó com uma planta.

. Muitas são as misturas realizadas, seja pelas 72 tribos indígenas que fazem uso da Ayahuasca na Amazônia Ocidental, quanto pelos neo-ayahuasqueiros urbanos ou de religiões ayahuasqueiras tipicamente brasileiras. Apesar da clássica mistura para a produção da Ayahuasca ser entre Banisteriopsis caapi e Psychotria

viridis, existem mais de duzentos aditivos à receita original, além de diversas formas

diferentes de obtenção da bebida. Este trabalho, quando se referir ao nome Ayahuasca, considerará a bebida resultante das diversas misturas e não especificará sua morfologia, afinal, “as taxonomias indígenas reconhecem diferentes ayahuascas onde a taxonomia científica não faz distinções” (LUNA, 1986)

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Ayahuasca uma experiência psicotrópica. (LUNA, 2005; LIZARDO DE ASSIS et al, 2014)

A molécula de DMT é muito parecida com a molécula de serotonina, por isso, é tão fácil que a primeira seja absorvida pelo organismo. Em função da proibição desta substância nos EUA nos anos 70, só agora a academia está voltando sua atenção para esta molécula e seu funcionamento.

No que diz respeito aos aspectos quantitativos, 200ml de Ayahuasca possui, em média, 30mg de harmina, 10mg de tetra-hidro-harmalina e 25mg de DMT. (COSTA et al, 2005, p. 313). Talvez seja relevante ressaltar que, diferente da maioria dos alucinógenos que atuam no receptor 5-HT que causam tolerância aos organismos, a ayahuasca não exige alteração de dosagem para manutenção de seus efeitos (LABIGALINE, 1998)

“podemos dizer, grosso modo, que a ayahuasca atua simultaneamente de duas maneiras: os altos níveis de serotonina colocam a pessoa em um especial estado de alerta; a ação da DMT no sistema nervoso faz com que o sujeito esteja como que ‘sonhando’” (LUNA, 2005, p.338)

Em aproximadamente 20 minutos após a ingestão da bebida é possível notar “náuseas, formigamentos, aumento da temperatura corporal”; e no período de 30 minutos a duas horas sob efeito do chá começam os “efeitos cognitivos” (LIZARDO DE ASSIS et al apud GARRIDO & SABINO, 2014, p. 226). Após este tempo que aproximadamente começam as mirações:

“Por meio das imagens percebidas durante as

mirações, o indivíduo percorre mundos (físico e espiritual) e questiona a sua existência, desenvolve

uma espiritualidade que busca equilíbrio,

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2. Problemática e Objetivos

O que alguns estudos contemporâneos sobre os possíveis benefícios terapêuticos da ayahuasca apontam? Querendo entender esses potenciais terapêuticos, essa comunicação teve como objetivo selecionar alguns estudos recentes, de 5 anos no máximo, e apontar tais benefícios de maneira resumida.

3. Metodologia

Foram selecionados 7 artigos entre 2010 e 2016 que exploraram os possíveis potenciais terapêuticos da beberagem da ayahuasca, em uso ritual e em ambientes controlados (sessão de terapia, laboratório, etc). Os critérios utilizados para a seleção dos estudos foram subjetivos, ou seja, foram selecionados estudos confluentes com a pesquisa de mestrado, e não obedecendo a nenhum critério específico além da contemporaneidade. Os artigos foram divididos em quatro categorias: (1) estudos sobre mecanismos moleculares; (2) estudos de caso de sintomatologias psiquiátricas; (3) estudos metodologicamente rigorosos de casos-controle e ensaios clínicos e (4) estudos que apontam benefícios espirituais do uso da bebida.

4. Discussão e Resultados

Elisabet Domínguez-Clavé e colaboradores (2016) entendem que existem atualmente três grupos principais de estudos que exploram o potencial terapêutico da Ayahuasca, são eles:

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cujos resultados apontaram a inibição de comportamentos precoces associados com a iniciação e desenvolvimento de vício em álcool e reversão da sensibilização comportamental associada com consumo crônico de álcool.

(2) Estudos de caso descrevendo efeitos benéficos em sintomatologias psiquiátricas (uso de substâncias, ansiedade e depressão). Algumas críticas a estes estudos é que suas amostras são quantitativamente pequenas, e geralmente os indivíduos participam de cerimônias religiosas, que levanta a questão de até onde a substância em si age, e até onde as cerimônias são responsáveis. Como exemplo desta categoria, podemos citar “Avaliação da severidade do vício entre usuários rituais de ayahuasca” de Fabregas et al. (2010), que contou com uma amostra de número 127 e obteve o resultado de baixas pontuações no ASI - Subscala do Uso de Álcool e Status Psiquiátricos e cessação do uso de drogas até os follow-ups (com exceção de cannabis).

(3) Estudos metodologicamente mais rigorosos de estudos de casos-controle e ensaios clínicos abertos com pacientes psiquiátricos. Com uma amostra de 6, o artigo “Efeitos antidepressivos de uma dose única de ayahuasca em pacientes com depressão recorrente: um relatório preliminar” de Osorio et al. (2015) que apontou 82 % de reduções nos escores de depressão entre linha de base e 1, 7 e 21 dias após a administração da ayahuasca.

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Notamos, no entanto, que os estudos atuais consideram pouco, a espiritualidade como uma esfera a ser investigada e como seu desenvolvimento, pode também, estar associado com saúde e bem-estar.

“Em 1988, a Organização Mundial de Saúde (OMS)

despertou para o interesse em aprofundar as investigações nessa área, com a inclusão de um aspecto espiritual no conceito multidimensional de saúde. Tem se por espiritualidade o conjunto de todas as emoções e convicções de natureza não material, com a suposição de que há mais no viver do que pode ser percebido ou plenamente compreendido, remetendo a questões como o significado e sentido da vida, não se limitando a qualquer tipo específico de crença ou prática religiosa” (Volcan et al, 2003, p.441)”

No entanto, alguns estudos que mostram resultados positivos acerca da espiritualidade dos indivíduos é o de Lizardo de Assis et al (2014), chamado “Bem-estar subjetivo e qualidade de vida em adeptos de Ayahuasca”, uma pesquisa qualitativa e exploratória, através de análise de dados e pesquisa de campo. Após criação de categorias, a chamada “Crescimento Pessoal” demonstra brevemente como a espiritualidade pode ser desenvolvida através das mirações e rituais:

O crescimento pessoal é observado quando a pessoa compreende que cresce e se desenvolve

gradativamente. O desenvolvimento ocorre

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O estudo de Bouso et al (2015), “Ayahuasca e o tratamento da drogadição” que apontou que usuários da ayahuasca pontuaram mais do que os controles no item auto-transcendência - um traço de personalidade que mede a tendência para a religiosidade e espiritualidade. E outro estudo anterior de Bouso et al (2012) – “Personalidade, psicopatologia, atitudes da vida e performance neuropsicológica entre usuários rituais da ayahuasca: Um estudo longitudinal” no qual sujeitos marcaram altos escores no Inventário de Orientação Espiritual (uma medida de espiritualidade) e em Propósito de Vida.

5. Considerações Finais

Ayahuasca tem um longo histórico de uso cerimonial e sua recente expansão mundo afora está provendo uma oportunidade única de estudar seu impacto na saúde humana. Desta forma, estudos contemporâneos apontam que ayahuasca age positivamente em diversas esferas da vida e é recomendada para tratamento de desordens físicas, psíquicas e espirituais.

Os artigos selecionados mostraram que o uso da Ayahuasca está relacionado com:

- A diminuição significativa da dependência de substâncias;

- A diminuição considerável de escores de depressão em pacientes clínicos; - O desenvolvimento psico-espiritual.

Tais resultados corroboram com o conceito de Michal Winkelamn de plantas

psicointegradoras, uma vez que o uso desta substância atua e integra diversas

esferas da realidade humana:

“O papel simultâneo terapêutico, religioso, espiritual

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humana como para o espiritual” (Winkelman, 1996,

p.20)

6. Referências Bibliográficas

BOUSO, J.C. et al. Long-term use of psychedelic drugs is associated with differences in brain structure and personality in humans. Eur. Neuropsychopharmacol. 25 (4), 483–492. 2015 (acessado em 14/09/2016 http:// dx.doi.org/10.1016/j.euroneuro.2015.01.008)

BOUSO, J.C. et al. Personality, psychopathology, life attitudes and neuropsychological performance among ritual users of ayahuasca: A longitudinal study. PLOS ONE, 7 (8): e42421. 2012.

COSTA, M.C.M. et al. Ayahuasca: Uma abordagem toxicológica do uso ritualístico. Rev Psquiatr Clin.; 32(6):310-8. 2005.

DOMÍNGUEZ-CLAVÉ, E. et al. Ayahuasca: pharmacology, neuroscience and

therapeutic potential. Brain Research

Bulletin,dx.doi.org/10.1016/j.brainresbull.2016.03.002. 2016.

FABREGAS, J.M. et al. Assessment of addiction severity among ritual users of ayahuasca. Drug Alcohol Depend. 111 (3), 257–261, http://dx.doi.org/10.1016/j.drugalcdep.2010.03.024.2010;

LABATE, B.C. Dimensões legais, éticas e políticas da expansão do consumo da ayahuasca. In: Labate, B.C. & Goulart, S.L. (orgs.). O uso ritual das plantas de poder. Campinas: Mercado de Letras, pp. 397-457. 2005.

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LIZARDO DE ASSIS et al. Bem-estar subjetivo e qualidade de vida em adeptos de ayahuasca. Psicologia & Sociedade, 26(1), 224-234. 2014.

LUNA, L. E.. Vegetalismo:Shamanism among the mestizo population of the Peruvian Amazon. J Ethnopharmacol. 11(1):123-33. 1986.

OLIVEIRA-LIMA, A. J. et al. Effects of ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization and on a post-sensitization treatment in mice. Physiol. Behav. 142, 28–36, http://dx.doi.org/10.1016/j.physbeh.2015.01.032. 2015.

OSORIO, F.D.L. et al. Antidepressant effects of a single Dose of ayahuasca in patients with recurrent depression: a preliminary report. Rev. Bras. Psiquiatr. Sao Paulo Brazil. 37 (1), 13–20 (acessado em 14/09/2016 http://dx.doi.org/10.1590/1516-4446-2014-1496). 2015.

SANCHES, R.F et al. Antidepressant effects of a single Dose of ayahuasca in patients with recurrent depression: a SPECT study. J. Clin. Psychopharmacol. 36 (1), 77–81, http://dx. doi.org/10.1097/JCP.;1; 0000000000000436. 2016.

SANTOS, R. G.; Ayahuasca e Redução do Uso Abusivo de Psicoativos: Eficácia Terapêutica? Psicologia: Teoria e Pesquisa Set-Dez, Vol. 22 n. 3., pp. 363-370. 2006.

VOLCAN, S.M.A. et al. Relação entre bem-estar espiritual e transtornos psiquiátricos menores: estudo transversal. Rev Saúde Pública ;37(4):440-5. 2003.

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