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Academic year: 2021

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Projeto de Iniciação Científica

Projeto de Iniciação Científica

O Problema do Empacotamento de Esferas Aplicado 

ao Estudo de Proteínas

Orientadores: Marcelo Matos Santoro  Laboratório de Enzimologia e Físico­Química de Proteínas        Departamento de Bioquímica­Imunologia Instituto de Ciências Biológicas – UFMG – Belo Horizonte ­ MG Wagner Meira Junior Departamento de Ciência da Computação ­ DCC Instituto de Ciências Exatas – UFMG – Belo Horizonte ­MG Co­Orientador: Carlos Henrique da Silveira Programa de Doutoramento em Bioinformática ­ UFMG Belo Horizonte 2007

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1­ Contexto

  

As   proteínas1  são   uma   das   mais   importantes   moléculas   dos   seres   vivos.   Elas   estão 

envolvidas em uma ampla gama de processos bioquímicos: nos componentes estruturais, nas  reações enzimáticas; na contração muscular, movimento ciliar, flagelar, deformação e divisão  celular; nas respostas imunológicas; na auto­reconstituição e reparação de tecidos; na regulação  hormonal; no transporte de substâncias vitais no sangue e transporte celular intermembrana; no  impulso nervoso; na reserva e armazenagem de nutrientes. Toda essa espantosa diversidade de funções bioquímicas é feita pela combinação de 20  tipos de unidades monoméricas, chamados aminoácidos [2]. No processo de polimerização, os  aminoácidos   se   ligam   covalentemente   de   forma   linear   podendo   formar   extensas   cadeias  peptídicas, (estrutura primária).

Os primeiros estudos cristalográficos apontavam para uma relação biunívoca entre função  e   estrutura   em   proteínas.   A   própria   capacidade   das   proteínas   formarem   cristais   indicava   a  existência de uma conformação única e ordenada [2]. Na década 1930, Linus Pauling e Robert  Corey   previram2,   com   base   em   dados   cristalográficos,   a   existência   de   refinados   padrões 

conformacionais ou estruturas secundárias, como as alfas hélices, voltas e folhas betas [5]. 

O importante papel da entropia na determinação estrutural vem com Walter Kauzmann, na  década de 1950 [4]. Em proteínas globulares estas estruturas tendem a dobrar­se sobre si mesmas  (enovelar­se),   escondendo   resíduos   hidrofóbicos   no   interior   da   cadeia,   formando   intricados  arranjos tridimensionais ou uma estrutura terciária.  Será Anfinsen, em meados da década de 1960, quem formulará uma notável e abrangente  hipótese termodinâmica do enovelamento ao postular que toda proteína globular de baixo peso  busca um estado de menor energia livre, e que toda informação que ela necessita nesse processo  está codificada na seqüência de seus resíduos [6]. Essa hipótese, no entanto, como bem vaticinou  Levinthal [7] criaria um sério problema de otimização para a cinética do enovelamento, já que  uma proteína não poderia encontrar um estado de baixa energia livre por força bruta dado o seu  imenso espaço conformacional. Logo, na seqüência primária deveriam estar encriptadas também  as rotas e etapas que a conduziriam à sua estrutura nativa e funcional. Como faz uma proteína  globular   para   enovelar­se   em   tempo   hábil   em   sua   estrutura   terciária   valendo­se   apenas   da  informação contida em sua estrutura primária é o que ficou conhecido como  Protein Folding 

Problem (PFP) [8].

Alguns autores [9,10] acreditam que a solução ao PFP passe pela existência de um código  de empacotamento. No processo de enovelamento, haveria logo no início um rápido colapso da  proteína,   através   de   uma   significativa   diminuição   do   volume   da   cadeia   promovida   pela  interiorização de seus resíduos hidrofóbicos. Isso restringiria o espaço de busca, solucionando o  problema levantado por Levinthal, e permitiria à cadeia estabilizar­se através interações internas,  antes direcionadas ao solvente. Ainda que esses autores não concordem em detalhes como seja o  1 A palavra proteína, como também “próton”, vem do étimo “protêios”, radical grego que significa primeiro ou o  mais importante, também usado como prefixo indicando antecedência, como em “protótipo” e “protozoário” [1]. 2 Previsão confirmada 30 anos depois, pelas primeiras proteínas com estrutura 3D resolvidas [5]

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processo exatamente, é quase um consenso que o mote principal por trás desse colapso é de  caráter entrópico. 

Esta seria uma visão possível para descrever esse processo. Uma proteína desnaturada tem  alta entropia, poucas interações internas e muitas com o solvente, através do aprisionamento de  uma  certa  quantidade  de  moléculas  de  água em  contato  (a  camada de solvatação)   com sua  superfície estirada. Já a cadeia em colapso vai perdendo graus de liberdade, mas ao fazer assim,  transfere motilidade à essas moléculas de água que estavam estruturadas ao redor da superfície,  agora em contração. Essas águas ganham liberdade entrópica para compor diferentes arranjos com  outras águas livres e mais distantes. Quanto mais bem empacotada a cadeia, mais contraída a  proteína e maior a otimização do volume ocupado por seus átomos. E quanto menor esse volume,  menor a quantidade de água de estruturada no seu contorno. No cômputo final, a entropia do  sistema como um todo cresce, em fiel acordo à segunda lei da termodinâmica, com o aumento da  entropia do solvente compensando a perda de entropia da cadeia. Já do ponto de vista das  interações, a cadeia teria apenas trocado contatos externos com o solvente por contatos internos  entre seus resíduos enterrados. Logo, o fator preponderante seria entrópico. É por isso que o estudo de como os átomos estão ordenados na cadeia pode levar a insights  interessantes de como o enovelamento ocorre. Uma das formas de abordar essa questão é através  da análise do empacotamento de esferas em três dimensões [14], sob diferentes organizações  estruturais, como ocorre em caixas de laranjas bem acomodadas, a que chamaremos doravante  didaticamente de laranjinas  (o conjunto de esferas) e seus larangênios (as esferas). 

2­ Objetivos

OBJETIVO PRINCIPAL:

• Simular   e   analisar   estatisticamente   e   graficamente   diversas   topologias   de   laranjinas,   sob  diferentes formas de empacotamento, tendo como alvo de comparação proteínas reais.

OBJETIVOS SECUNDÁRIOS:

• Desenvolver algoritmos para geração de formas variadas de laranjinas, com diferentes ordens  de enumeração e de empacotamentos.

• Através   de   rearranjos   sistemáticos   na   forma   como   os   larangênios   são   empacotados   e  enumerados, ir aproximando­se cada vez mais do comportamento estatístico e topológico de  proteínas reais. • Desenvolver metodologias gráficas para a análise comparativa dos padrões entre laranjinas e  proteínas reais, através de conceitos já explorados pelo nosso grupo de pesquisa, como mapas  de contatos atômicos de alta resolução e grafos, ambos visualizados em 2D e 3D.

3­ Descrição

Vejam as figuras abaixo:

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Elas   ilustram  uma  das   simulações   que  é   possível   de  ser   feita  com   laranjinas,   num  processo que chamamos de termalização. A partir de uma laranjina de topologia cúbica simples,  vai­se introduzindo erros aleatórios crescentes em suas coordenadas, até que ela se deforme numa  estrutura que pouco lembra a caixa original, e que num primeiro olhar, guarda semelhança com  um aglomerado de moléculas. São processos como esse, de aproximação do conjunto de esferas a  uma proteína real, que gostaríamos de aprimorar.

Também   a  análise   estatística   e  gráfica   das   distâncias   entre  as  esferas   tem  revelado  padrões curiosos, como o mapa de contatos (ver figura abaixo) de laranjinas cúbicas e esféricas  comparadas ao mapa atômico de proteínas. O mapa representa uma visão global do perfil das  distâncias euclidianas das esferas (átomos, larangênios), medidas todas contra todas. A paleta vai  das distâncias curtas (azuis) às mais longas (vermelhas). A figura mais à esquerda mostra o mapa  de uma laranjina cúbica, a do centro de uma laranjina esférica, e a da direita de uma proteína real,  a mioglobina de baleia.   

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Para esse projeto de iniciação científica, gostaríamos de aprofundar nossa análise em  modelos mais sofisticados de laranjinas, envolvendo:

• Preenchimento do contorno de uma proteína real com larangênios térmicos.

Produzir   laranjinas   por   processos  random   walking  em   volumes   e   contornos   pré­ determinados. • Produzir laranjinas com larangênios randomicamente distribuídos num dado volume • Produzir outros tipos de laranjinas esferoidais, como oblatas e prolatas, sob diferentes  tipos de empacotamento • Análise e visualização dos padrões estatísticos por mapa de contatos e grafos (como na  figura abaixo, mostrando os contatos eletrostáticos numa mioglobina de baleia e uma  neuroglobina de rato).

4­ Plano de Atividades

1. Implementação em linguagem C de diferentes laranjinas, gerando saída em formato PDB, para  que  seja  possível   sua   manipulação   em   qualquer  programa  de  visualização   e  modelagem  molecular. 2. Análise estatística das distâncias entre larangênios usando linguagem R. Desenvolvimento de  rotinas em R para a produção dos mapas de contatos atômicos de alta resolução, 2D e 3D. 3. Codificação em C da geração de diversos grafos, gerando saída também em formato PDB. 4. Desenvolvimento de um site para a visualização remota dos experimentos feitos. 5. Publicação dos Resultados.

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5­ Cronograma

Etapa Duração Implementação em C de diferentes laranjinas 2 meses Análise estatística das distâncias 2 meses Produção e análise grafos 2D e 3D 2 meses Desenvolvimento de um site interativo 3 meses Publicação dos Resultados 3 meses

6­ Resultados Esperados

Do ponto de vista da pesquisa, espera­se que a modelagem do empacotamento de  esferas leve a um maior entendimento de como os átomos de uma proteína se ordenam e se  agrupam no espaço. Se houver um padrão, talvez seja possível contribuir para questões tão  desafiadoras como as que envolvem a baixa homologia de seqüências entre proteínas de uma  mesma família estrutural, como nas globinas.  As globinas são encontradas em uma enorme variedade de seres vivos, de bactérias,  plantas a invertebrados e vertebrados [11]. Existem catalogadas no PDB (Protein Data Bank) mais  de 450 globinas com estruturas 3D conhecidas [12]. A análise comparativa estrutural revela que  todas   apresentam   um   mesmo   motivo   conformacional,   compostas   por   cerca   de   8   hélices  enoveladas num padrão razoavelmente bem definido [13]. Mas dados comparativos de seqüências  mostram que 82% dos resíduos de 60 globinas de vertebrados estudadas são variáveis e boa parte  dos 18% restantes estão ali cumprindo uma função mais farmacofórica do que estrutural [18].  Apesar de tamanha variação em sua constituição primária, como podem todas essas proteínas  ainda manter o mesmo motivo estrutural terciário de globina? Alguma coisa certamente está  invariando, mas o quê? Acreditamos que pela nossa técnica será possível demonstrar o grau de  envolvimento   do   empacotamento   na   invariância   estrutural   de   famílias   de   proteínas  seqüencialmente divergentes.

Do ponto de vista da formação do aluno, espera­se que ele se tenha uma formação  mais transversal e transdisciplinar. Que ele vivencie na prática o método científico, o encanto da  descoberta, e desenvolva as competências necessárias para seguir uma carreira acadêmica em  bioinformática.

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7­ Bibliografia

[1]BUENO, F. S.   Grande dicionário etimológico­prosódico da língua portuguesa ­ vol. IV.  São Paulo: Lisa, 1988, p. 1826. [2]LEHNINGER, A. L., NELSON, D. L., COX, M. M.. Principles of biochemistry. 2.ed. New  York : Worth Publisher, 1993 [3]GREIGHTON, T. E.  Proteins: structures and molecular principles. New York : W. H.  Freeman and Co, 1983. [4]KAUZMANN, W. Reminiscences from a Life in Protein Physical Chemistry. Protein Science.  v. 2, p.671­691, 1993. [5]PAULING, L The Structure of Protein Molecules. Scientific American, jul 1954. [6]ANFINSEN, C.B. Principles that govern the folding of protein chains. Science, v. 181, p.223­ 230, 1973 [7]LEVINTHAL, C. How to fold graciously ?  Proceedings of Mössbauer Spectroscopy in  Biological Systems Meeting, p22­24, 1967. [8]RICHARDS, F. M. The Protein folding problem. Scientific American, p.34­41, jan.1991 [9]DILL, K. A. Polymer Principles and Protein Folding.  Protein Science. v. 8, p. 1166­1180,  1999. [10] RICHARDS, F. M., LIM, W. A. An Analysis of Packing in the Protein Folding Problem.  Quarterly Reviews of Biophysics. 26, 4, 1994, p. 423­498. [11]DICKERSON, Richard E., GEIS, Irving. Hemoglobin. Menlo Park : The Benjamin/Cumming  Publishing Co. Inc., 1983 [12]BERNSTEIN, F. et al. Journal Molecular Biology, v.112, p.535, 1977. [13]PERUTZ, M. F., KENDREW, J.C., WATSON, H.C., J. Mol. Biol., v.13, p.669, 1965. [14]CONWAY, J.H., SLOANE, N.J.A. Sphere Packing, Lattices and Groups. Vol. 290, Third  Edition, Springer, 1999.

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