Rev. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo 11:231-35, 1974
C O N TR IB U IÇ Ã O A O ESTUDO DO NÓ S IN U -A T R IA L NOS A N IM A IS S ILVESTRES. A — IR R IG A Ç Ã O DO NÓ S IN U -A T R IA L EM VE A D O M A T E IR O ( M A Z A N A A M E R I C A N A ) % Vicente B O R E L L I * Antonio F E R N A N D E S F IL H O * * José P E D U T I N E T O ** RFMV-A/23
Bo r e u.i, V. et al. — C ontribuição ao estudo do nó sinu-atrial nos animais
silvestres. A — Irriga çã o do nó sinu-atrial em veado m ateiro (Mazama
am ericana). Rev. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo, 11:231-35. 1974.
Re s u m o: Estudou-se a topografia e artei'ialização do nó sinu-atrial em
4 corações de veado m ateiro (M azam a americana). A irrigação da refe
rida estrutura, vista em correspondência ao sulco term inal e Angulo diedro cavo-atrial, depende do ramus proximalis atrii dextri — 2 vezes (50,0% ), do ramus intermedius atrii dextri — 1 vez (25,0% ) e do ramus proximalis
atrii sinistri associado ao ramus distalis atrii dextri — 1 vez (25,0% ).
Un it e r m o s: Irrigação a r te r ia l* ; N ó s in u -a tria l*; Veado m a te iro *.
INTRODUÇÃO E LITE R A T U R A
O interesse pelo conhecimento da topo gra fia e vascularização arterial do nó situ- -atrial, uma das linhas de pesquisa desen volvida nas Disciplinas de Anatomia Des critiva e Topográfica do Departamento de Cirurgia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Uni versidade de São Paulo, tem-se voltado, mais recentemente, para o estudo dessas particularidades ,em espécies silvestres. Tal fato justifica-se, não só, pela possibi lidade de eventuais comparações mas, em especial, face à ausência quase completa
de dados atinentes ao referido assunto na literatura especializada.
Assim, examinamos agora os focados aspectos m orfológicos no veado mateiro
(Mazama am ericana), lembrando, a título
de informação, que, também, V A N D E R S T R A T E N3 (1959), mediante técnica de injeção das artérias coronárias com solu ção a 40% de lipiodol pesado e posterior radiografia, se ocupou de análise seme lhante em cervicórneos domésticos e sel vagens, embora não conste de sua amostra o animal em apreço; entretanto, ao
des-§ Trabalho comunicado à I I I Jornada Cientifica da Faculdade de Ciências Médicas e Bio lógicas de Botucatu, 1973.
* Professor L ivre Docente. ** Professor Assistente Doutor.
Departamento de Cirurgia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootec nia da USP.
BORELLI, V. et al. — Contribuição ao estudo do nó sinu-atrial nos animais silvestres. A — IrrigaçSo do nó sinu-atrlal em meado m ateiro ( Mazama americana) . Re v. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo, 11:231-35, 1974.
crever a irrigação atrial, este A. assinala a presença da "artéria atrial principal es querda” ( ramus proxim alis a trii sinistri) que, entre outros territórios, nutre tam bém o do nó sinu-atrial.
M A T E R IA L E MÉTODO
Utilizamos 4 corações de veado mateiro, de sexo não identificado, 3 adultos e 1 feto, cedidos pela Fundação Parque Zoológico de São Paulo.
Os órgãos, já isolados, sofriam convenien te preparação mediante lavagem e esva ziamento dos átrios e ventrículos, para, a seguir, serem injetadas, isoladamente, as artérias coronárias, com neoprene latex “ 650” , corado de verde com pigmento espe cífico. As peças eram depois fixadas em solução aquosa de form ol a 10% e, então, dissecadas. De uma delas (adulto), para estudo topográfico do tecido nodal, reco lhemos fragmentos da porção adjacente à desembocadura da veia cava cranial e, des tes, após inclusão em parafina, foram ob tidos cortes de 5 fi, posteriormente cora dos pelos métodos de H . E . e tricrômico de Mallory.
P o r fim, com vistas à documentação, co lhemos desenhos esquemáticos dos diferen tes tipos de comportamento arterial, ado tando, para descrevê-los, a nomenclatura proposta por H E G A Z I2 (1958), com as alterações sugeridas por H A B E R M E H L1
(1959).
R E S U L T A D O S
Os cortes histológicos dos fragmentos co lhidos da região correspondente à abertura da veia cava cranial no átrio direito, após coloração pelos métodos de H . E . e tri crômico de Mallory, revelaram presença de tecido nodal no sulco terminal e ângulo diedro cavo-atrial.
Quanto à irrigação arterial dos aludidos territórios, registramo-la, sempre, depen dendo, exclusiva (75,0%) ou parcialmente (25,0%), de colaterais do ramus circu n jle-
xus dexter. De fato, em 2 preparações
(50,0% — Obs. 1 e 2 — Fig. 1), o ramus
proxim alis a trii dextri, visto a nascer da
porção inicial do ramus circum flexus dex
ter, antes da emergência da a. adiposa, se
gue pela face auricular do átrio direito
cr.
cr .
facies atrialis
BORELLI, V. et al. — Contribuição ao estudo do nó sinu-atrial nos animais silvestres. A — Irrigação do nó sinu-atrial em meado mateiro ( Mazama a m e rica n a ). Rev. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo, 11:231-35, 1974.
para, com trajeto ascendente, rumo à de sembocadura da veia cava cranial, alcan çar o ângulo diedro cavo-atrial e sulco ter minal. Deste ramo, destacam-se outros, destinados às faces auriculares da aurí cula e átrio direitos e ao segmento final da veia cava cranial.
Em outra dissecção (25,0% — Obs. 3 — Fig. 2), cabe ao ramus intermedius a trii
dextri desempenhar a função em apreço;
basis
c r .
facies atrialis
FIGURA 2 - Obs. 3
tal vaso se origina do ramus circum flexus
d exter entre os ra m i proxim alis ven tricu li dextri e m arginis acuti, caminha em dire
ção ao orifício da veia cava cranial e per corre, em toda extensão, o sulco terminal e ângulo diedro cavo-atrial; o focado ramo lança, também, contingentes destinados à face atrial do átrio direito e secção term i nal da veia cava cranial.
N a peça restante (25,0% — Obs. 4 — Fig. 3), o suprimento sangüíneo da área
c r .
b
a
s
i
o
c r .
facies atrialis
B ORELLI, V. et al. — Contribuição ao estudo do nó sinu-atrlai nos animais silvestres. A — Irrigação do nó sinu-atrial em meado mateiro ( Mazama a m erica n a). Rev. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo, 11:231-35, 1974.
ocupada pelo nó sinu-atrial, efetu a-se m e diante cola tera is tan to do ramus circu m - flexus dexter com o do ramus circu m fle xus da a. coronária sinistra, v a le dizer, o ramus distalis a trii d extri e o ramus p ro- xim alis a trii sinistri. O p rim eiro deles abandona o ramus circum flexus dexter, em seu tr a to distai, m elh or precisando, após 0 ramus distalis ven tricu li dextri, transita pela fa c e a tria l do á trio direito, enviando con tribu ições à sua parede e às paredes das veias cavas caudal e cran ial para, g a nhar o sulco term in al em seus terço in fe r io r e m éd io; o segundo, d eriva do ramus circum flexus da a. coronária sinistra, im e d iatam en te à sua individu alização, acom panha a su p erfície côn cava dos átrios, ora em plena espessura dos fe ix e s musculares, ora lo g o ab aixo do ep icá rd io para, ab ra çando a desem bocadura da v e ia ca v a c ra nial, a tin g ir o ân gulo d iedro c a vo -a tria l e terço su p erior do sulco term in al. E ste vaso, em seu percurso, abandona cola te rais às faces au ricu lares do á trio e au rí cula esquerdos, às porções term in ais das veia s pulm onares, ao septo in teratrial, à face a u ricu la r do á trio d ireito e, ainda, ao ú ltim o segm ento da v e ia cava cranial.
Figuras de 1 a 3 — Esquemas representativos das artérias responsáveis pela irrigação do nó sinu-atrial, vistas pela base e face atrial do
coração, em veado mateiro.
a — aorta
p — artéria pulmonar cr. — veia cava cranial cd. — veia cava caudal v. — veia pulmonar d — átrio direito e — átrio esquerdo
1 — artéria coronária sinistra 2 — ramus descendens paraconalis 3 — ramus circum flexus sinister 4 — ramus proxim alis a trii sinistri 5 — ramus circum flexus dexter 6 — ramus proxim alis a trii dextri 7 — ramus intermedins a trii dextri 8 — ramus distalis a trii dextri 9 — artéria adiposa
10 — ramus proxim alis ven tricu li dextri 11 — ramus marginis acuti
12 — ramus distalis v en tricu li dextri
COMENTÁRIOS E CONCLUSOES
O nó sinu-atrial, identificado no veado m ateiro em correspondência ao sulco ter minal e ângulo diedro cavo-atrial, recebe, com preponderância, suprimento sangüíneo mediante colaterais do ramus circum flexus
d exter; assim, a estrutura em questão é
irrigada exclusivamente pelo ramus pro
xim alis a trii dextri, em 2 oportunidades (50,0%), pelo ramus intcrm edius a trii dex
tr i em 1 (25,0%) e, ainda mais, na res
tante (25,0%), pelo ramus distalis a trii
dextri, associado, neste caso, a contingente
oriundo do ramus circum flexus da a. co
ronária sinistra, melhor elucidando, ao ra mus proxim alis a trii sinistri.
Não pretendemos, esclareça-se, com tais resultados, estabelecer, em termos defini tivos, o comportamento dos vasos respon sáveis pela arterialização do tecido nodal no Mazama americana, face ao pequeno tamanho da amostra utilizada; desta fo r ma, as informações prestadas valem mais como adendo ao problema em foco, espe cialmente se considerarmos quão raros são os esclarecimentos dados na literatura es pecializada, tendo, também, em conta não nos ser permitido confronto com os resul tados obtidos por V A N D E R S T R A E T E N 3 (1959), pois este A., além de valer-se de técnica diferente, mesmo tratando de cer- vicórneos selvagens não inclui, cm seu material, a espécie na qual nos detivemos. Todavia, cabe, lem brar o ligeiro relato feito pelo aludido A. no tocante ao supri mento sangüíneo do nó sinu-atrial, depen dente da “ artéria atrial principal esquer da” , correspondente ao ramus proximalis
a trii sinistri, surpreendido em 1 (25,0%)
de nossas preparações a nutrir o mencio nado nó, embora parcialmente, pois, como já relatamos, neste caso, associa-se, para tal função, ao ramus distalis a trii dextri.
B ORELLI, V. e t al. — Contribuição ao estudo do nó sinu-atrial nos animais silvestres. A — Irrigação do nó sinu-atrial em meado m ateiro ( Mazama a m e rica n a ). Re v. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo, 11:231-35, 1974.
RFMV-A/23
Bo r il l i, V. et al. — Study o f the sinus node in wild animals. A — Blood supply o f the sinus node in Mazama americana. Rev. Fac. Med. vet.
Zootec. Univ. S. Paulo, 11:231-35, 1974.
Su m m a r y: Th e topography and arteria l distribution o f the sintis node in hearts o f deers (Mazam a americana) were studied. This structure is located at the sulcus terminalis and dihedron caval-atrial angle. The sinus node is nourished by the ramus proximalis atrii dextri in 2 hearts (5 0 .0 % ); by the ramus intermedius atrii dextri in 1 case (2 5 .0 % ); by the ramus
proximalis atrii sinistri and ramus distalis atrii dextri in 1 piece (2 5 .0 % ).
Un it e r m s: Blood s u p p ly *; Sinus node*-, Mazama am ericana*.
REFERÊNCIAS B IB LIO G RÁFIC AS
1. HABERMEHL, K. H. — Die Bluetgefäs-sversorgung des katzenherzens. Zbl.
Vet. M ed ., 6:655-80, 1959.
2. HEGAZI, H. — D ie Blutgefässversorgung des Herzens von Rind, Schof und Ziege. Giessen, 1958. [Tese — Ve terinär-Anatomischen Institut der Justus Lleblg — U n iversität],
3. V A N DER STRAETEN, P. — Le reseau arteriel coronarien des cervicornes. B ull. Soc. r. Zool. Anvers, 13:3-27, 1959.
Recebido para publicação em 28-8-74