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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS - Curso de Integração Pessoal

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Academic year: 2021

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MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

CURSO DE

INTEGRAÇÃO PESSOAL

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O PORQUÊ DESTE LIVRO

Durante os meus anos de magistério, como professor particular, fui muitas vezes procurado por pessoas aflitas, angustiadas, que buscavam um lenitivo para as suas almas magoadas, doridas de tantas preocupações, desencantos e amarguras.

E como também os meus dias estiveram cheios de decepções, de angústias sem fim, compreendi a todos, e a cada um, e em meu coração ressoavam aquelas queixas e apelos.

Também minha vida foi procelosa; também passei por lanços dolorosos no caminho, pontilhados de ingratidões, de amarguras demoradas, de incompreensões inexplicáveis, de inimigos gratuitos que atuavam nas sombras, e de raros adversários que me enfrentaram de fronte erguida. E não poucos foram os momentos em que, debruçando-me sobre as minhas experiências, abismei-me em desânimos e até desesperos.

E por todos os meios, ante o espetáculo do mundo, sem deixar-me arrastar pelo pessimismo fácil, procurei aquela fonte, a única que nos pode dar a linfa que minora a nossa sede e refrigera as nossas mágoas: um otimismo concreto e bem fundado.

É comum, entre literatos da nossa época, tripudiar sobre as dores humanas, remexer feridas em vez de cauterizá-las. Há quem busque angústias quando não as têm, numa morbidez afanosa de sofrimentos, mais falsos que verdadeiros, para depois criar, com gritos de dor, obras nem sempre autênticas.

Há quem diga até que o otimismo é uma atitude de filosofia barata. Mas há algo mais barato que o pessimismo? Olhem para o mundo. Quantos os que se queixam, quantos os que se angustiam, açulados pela imaginação doentia; quantos proclamam angústias (as famosas angústias físicas e metafísicas de tantos intelectuais!). Quantos procuram mágoas para explorá-las? Há coisa mais barata por este mundo?

O otimismo é mais difícil das atitudes, e a filosofia, que nele se funda, não é mais fácil. É mais simples lembrar os momentos de sofrimento que os de alegria.

E deixando de lado os envenenadores da vida, os caluniadores de que falava Nietzsche, os eternos amarguradores de todos os instantes, deficiente daquele “granus salis”, chorões de todos os modos e matizes, falsificadores de máscaras mentirosas, abismados em sombras porque temem a luz como pássaros noturnos e duvidosos, sempre julguei que um sorriso valia mais que um esgar de amargura e que um raio de sol é mais belo que a sombra que obscurece.

E foi procurando viver em mim a água lustral da alegria, que pude suportar o espetáculo das velhas carpideiras milenárias.

E buscando essa água lustral, não a quis só para mim. E abençoei aqueles escritores otimistas, ridicularizados pelos caluniadores da vida, aqueles que sempre oferecem esperança num gesto de genuíno apoio aos transviados, que procuram caminhos luminosos dentro e fora de si.

E quando de mim se acercavam os que pediam um pouco de tranquilidade de espírito, não neguei. E o gesto, que de mim esperavam, procurei realizar.

E nessas tentativas humanas, ao procurar minorar mágoas mais profundas, ao procurar suavizar doridos, ao procurar reintegrar outros que se frangiam em dúvidas e desesperos, nasceu este curso, que só bem espargiu, que só humanidade disseminou, que só esperanças construiu.

Não poderia citar aqui tantos homens e mulheres, de todas as classes e profissões, para os quais tive palavras de ânimo, e com eles sofri a mágoa que era deles, e minha também, porque sou humano.

Um dia, um daqueles a quem dera muito de minha boa vontade e de minha melhor atenção, para ajudá-lo a reintegrar-se em si mesmo, pediu-me, num gesto tão belo que me comoveu, numa voz tão humana que me tocou a alma, que reduzisse a páginas de um livro aquelas nossas longas e demoradas conversações, para que pudessem elas levar a tantos que sofrem um novo caminho, que na verdade é um

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velho caminho apenas esquecido, a fim de pô-los outra vez na estrada real, em que há tanto daquela alegria que decorou com beatitude nossos dias de infância.

A tarefa não era fácil. Havia eu criado métodos de reintegração para casos pessoais. Como o que fora conveniente para indivíduos, poderia tornar-se útil aos muitos que pedem um pouco de luz e de alegria?

Era preciso meditar, procurar por entre as lições aquelas ministráveis a qualquer um, e que lhes desse um amparo geral benéfico.

Teria de fugir ao tecnicismo da psicologia, e falar uma linguagem muito simples e verdadeira. Ademais, precisaria passar por todas as unilateralidades de escolas e de posições, de que a psicologia está cheia, para oferecer um método que não implicasse senão benefícios.

E buscando e estudando, através de meditações e ensaios, saíram estas páginas que hoje dou à publicidade.

Anima-as apenas um desejo e uma convicção. Desejo de não aumentar a tristeza do mundo, rebuscando sombras para cobrir as poucas luzes que brilham nos corações, como é tão do sabor dos que desejam tornar de outros as angústias duvidosas que são suas. Convicção de que elas auxiliem os que sofrem a encontrar uma solução aos males psíquicos, que se reencontrem, afinal, com um sorriso autêntico nos lábios e muito amor nos corações.

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PARTE ESPECIAL

NÓS E OS NOSSOS PENSAMENTOS

Tu, quem quer que sejas, não podes negar que buscas o bem.

Tens uma obra a realizar, uma missão a fazer. Tua atenção está voltada para o que te cabe realizar. Poderias conseguir o que desejas ou que te cabe construir, se desviasses as tuas forças para o que não interessa à realização da meta planejada? Não julgarias desde logo que toda atividade desviada do fim é uma atividade inútil e perdida?

Mas, para onde se dirige o teu apetite? Para o bem, sem dúvida.

Se o bem é a tua meta, toda atividade que não levar até ele é uma atividade inútil.

Portanto, se queres alcançar o teu bem, deves naturalmente planejar a tua ação para que não haja atividades inúteis.

Mas, quem deseja realizar alguma coisa, precisa saber onde e quando vai realizá-la.

Um arquiteto que deseja construir um prédio precisa conhecer o terreno onde vai elevá-lo. Tu precisas, para alcançar teu bem, saber onde ele está, pois do contrário serias como aquele viandante que procura uma cidade sem saber onde ela está.

E assim como o viandante necessita que outros lhe indiquem onde está a cidade que busca, talvez precises, também, saber onde está o teu bem.

Raciocinemos juntos: é o teu bem algo a ser criado, ou já existe?

Como já vimos até aqui, o teu bem já existe, pois todas as coisas buscam realizar o seu bem. Mas se ele já existe, então para que procurá-lo?

Sim, ele já existe, mas é preciso saber onde ele está, da mesma forma que o viandante sabia da existência da cidade procurada, não, porém, onde ela se achava.

Então surge outra pergunta: está em mim mesmo ou fora de mim mesmo o bem que me é próprio? Eu te respondo que não haverá nenhum bem fora de ti, se antes não encontrares o bem em ti. E vou mostrar-te:

O teu bem está em ti, esta é a afirmativa. Mas é preciso desvelá-lo, descobri-lo dos véus que o ocultam. E o que o oculta são todas as solicitações que te afastem do teu próprio bem.

Digamos que procuras, levado pelo teu apetite, pondo em ação a tua vontade, o bem nas coisas que te cercam. Por acaso, não são elas um bem para ti? Não dão elas inúmeros prazeres, bem-estar, satisfações? Então, o teu bem está nas coisas. Mas duas são as situações de um homem ante as coisas:

a) Ser senhor das coisas;

b) Serem as coisas senhoras do homem.

Qual situação que preferirás? Ser escravo das coisas, ou utilizá-las para o teu bem? Certamente, responderás que queres dominar as coisas. Elas devem servir-te e não servires tu a elas.

Mas como poderias tornar as coisas tuas servas, se elas te dominassem?

Nesse caso, escravo das coisas, elas não seriam o teu bem, e quanto mais as perseguisses, mais dominado estarias por elas. Portanto, o bem que elas te dariam seria sempre menor que o bem que delas tereis, se te tornasses senhor.

Desta forma, o teu bem, fora de ti, não poderia ser alcançado sem que fosses um senhor e não um escravo.

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Ser senhor de si mesmo é realizar o que de melhor há para nós. E a ideia de melhor implica a de um bem superior a outros bens. Portanto, o teu maior bem é seres senhor de ti, pois, desde que o sejas, te tornarás senhor das coisas.

Pois não é verdade que as coisas provocam em ti paixões, emoções, sentimentos, preocupações que não são o teu bem, mas reduções, ataques ao teu bem?

Desta forma, vês claramente que o teu bem está primeiramente em ti e secundariamente nas coisas. Tens, portanto, que libertar o teu bem dos véus que o cobrem, para que possas dominar as coisas e fazer com que elas te sirvam.

Já sabes que a confiança em ti mesmo é o ponto de partida. Poderias dizer: “não posso fazer isto agora, mas podê-lo-ei amanhã.” Assim como um estudioso sobe degraus até alcançar o pleno conhecimento, também conhecemos degraus para alcançar o nosso bem.

- Que devo fazer? – perguntas-me.

- Confia em tua vitória, em primeiro lugar. Já sabes que tens o teu bem em ti. Falta-te apenas libertá-lo dos véus que o encobrem.

Realiza o exercício diário de meditação, nas formas a serem indicadas e o de respiração rítmica. Com esses exercícios abrirás as portas que conduzirão à tua vitória.

Agora medita sobre estas minhas palavras:

Há coisas que dependem de mim e há coisas que não dependem.

Os meus pensamentos, a minha vontade e as minhas paixões dependem de mim. O que se refere aos outros e ao mundo não depende de mim.

Se me aflijo com o que não depende de mim, só posso enfraquecer-me. Tudo quanto possa fazer para o bem dos outros não deixo de fazer.

Contudo, sou o meu amigo que precisa lutar por mim. Se me aflijo com o que é meu, a culpa é apenas minha, pois posso vencer o que depende de mim.

Todas as vozes que venham de mim, contra mim, não são minhas. Porque o que é meu, trabalha por mim. Ouvirei as minhas vozes que falam a linguagem do meu bem, e repudiarei, com o meu desprezo, as vozes que não falam a sua linguagem.

Sou eu que faço a minha força ou a minha fraqueza. Lutarei por mim e pelo meu bem. Quando me surge uma ideia dolorosa, preocupadora, minha inimiga, dir-lhe-ei: “Tu és apenas uma ideia e nada és do que pretendes representar.”

Analisa-a então: é uma ideia que se refere às coisas que dependem de ti ou às que não dependem de ti?

E se se refere a coisas que não dependem de ti, despreza-a, e dize-lhe: Isto não se refere a mim. - Mas, e as minhas preocupações sobre assuntos que dependem de mim? – podes perguntar.

Pois bem, analisa-as: são sobre fatos fundados ou infundados? São dúvidas que te assaltam? São temores vãos? Fundam-se em fatos sucedidos?

Sejam o que forem. Sejam reais, até, tenham fundamento até. Lembra-te, porém e pronuncia dentro de ti: “as preocupações crescem quando eu as alimento com o meu temor, quando eu lhes dou conteúdo com a minha vontade. Sei que só poderei vencer o que é contra mim, quando estou do meu lado, quando estou unido a mim mesmo. E quem poderia fazer essa desunião, se o interior de cada ser humano é um reino onde podemos dominar soberanamente? Eu não me enfraquecerei em favor dos meus inimigos”.

Meu caminho já está traçado: lutar por mim. Ninguém me afastará de mim mesmo e do meu bem. Se nós somos que são os nossos pensamentos, podemos ser o que pensamos. E acaso não temos liberdade de pensar no bem, como podemos pensar no mal?

E se desejamos o nosso bem, pois esta é a lei de todo o existente, porque não pensamos em nosso bem?

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EXERCÍCIOS

QUEM ÉS TU?

Se ainda não leste nem realizaste plenamente um retrato caracterológico de ti mesmo, o que te será fácil depois de estudares a Parte Geral deste livro, não te devo preocupar esta falha, pois ela não impedirá que possas agora na Parte Especial, iniciar os exercícios, depois das providências que passarei a descrever, no intuito de realizar a tua integração.

Talvez sejas um retraído introvertido ou extrovertido, nervoso ou bilioso, e estarás sujeito às contingências do teu temperamento e do caráter que adquiriste. Mas tu podes realizar a ti mesmo, e a tua personalidade poderá por ti mesma ser construída.

Mas, antes, ponderemos sobre alguns pontos que são de grande importância para alcançarmos a meta desejada. Vamos dispensar certos aspectos técnicos e de certas discussões filosóficas de psicologia. Não iremos penetrar no tema da tensão psíquica, que em nós forma uma unidade de multiplicidade, e que é mais ou menos coerente, segundo o nosso grau de integração.

Em palavras simples: há personalidades amorfas, frágeis, facilmente desviáveis, impressionáveis, móveis, e outras que são o inverso. E entre os extremos, há uma gradatividade imensa. Não há dois tipos humanos iguais, senão dentro das formalidades estatuídas pela tipologia. Se há em comum um número imenso de notas, de aspectos, de qualidades, etc., há, ao mesmo tempo, outros que são diferentes, totalmente diferentes. Portanto, o ser humano é formal e tipologicamente homogêneo, mas é individualmente heterogêneo, diferente, diverso.

Podemos, no entanto, estabelecer algumas regras que todos os psicólogos aceitam. Por exemplo: o grau de coerência da tensão psíquica (chamam-na alma, psiquismo, espírito, mental, o que quiserem, não importa aqui) é uma garantia de firmeza do ser humano. Uma personalidade é mais forte quanto mais coesa e mais coerente for a sua tensão psíquica. Em suma, a sua unidade psíquica quanto mais forte, mais forte a sua personalidade. As agressões, que os estímulos exteriores possam realizar ou os pensamentos negativos terão sua força na proporção da fraqueza da tensão psíquica. Se essa for forte, malograrão todas as ideias errantes, negativas, como também as preocupações, as angústias; e os desajustamentos que daí decorrem se tornarão consequentemente menos comuns e mais difíceis de ser adquiridos.

Todos nós conhecemos momentos de fluxo e de refluxo.

Os fluxos psíquicos caracterizam-se pelo entusiasmo, pelo “sentir-se bem” inteiramente, pela paz conosco mesmo, pelo otimismo, pela vontade de atuar, de realizar, de empreender. Os refluxos levam-nos ao pessimismo, à descrença em nós e nos outros, ao abatimento moral, e nos tornamos presas fáceis das preocupações, das angústias, da tristeza, da inapetência, da falta de entusiasmo, da apatia, da desilusão, do desespero até.

Consideremos de início, o que somos. Todos nós conhecemos momentos de fluxo e refluxo, que se alternam constantemente, perdurando uns mais que outros.

Procedamos, no entanto, a algumas análises:

1) Quando sobrevêm os momentos de refluxo? Que nos parece tê-lo motivado? Foi uma palavra que alguém pronunciou, um gesto, um fato, uma atitude? Foi porque pensamos nisto ou naquilo? Anote-se aqui o fato que nos parece ser a chave que abriu a porta ao estado de refluxo.

2) Quando surgem os sintomas, analisemos as circunstâncias e anotemos os acontecimentos que os cercaram, e os que os precederam. Vejamos se há repetições.

Por exemplo, quem sofreu, em sua família, um desastre de automóvel, no qual alguém que muito estimava perdeu a vida, não tolera que lhe falem em desastres. Imediatamente se acabrunha, entristece-se, entra em refluxo, mesmo que tome uma atitude irada, nervosa, agitada.

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3) Às vezes, não somos capazes de examinar o que nos parece ter feito eclodir o estado de refluxo. Ele surge como se nada o motivasse. Sobrevêm sem um porquê, e não nos aparece com qualquer conteúdo. Estamos angustiados por nada. Não conhecemos nenhum conteúdo de nossa preocupação ou de nossa angústia. Tudo nos corre bem e, no entanto, sentimo-nos inquietos, como se algo nos ameaçasse. Por mais que procuremos saber de onde vem, ou a possível causa, não a achamos. Desse estado decorrem inúmeras atitudes antissociais, irritações bruscas, e fazemos o que normalmente (dizemos a nós mesmos) não seríamos capazes de fazer.

Nesses casos, a análise se torna mais difícil.

Mas meditemos sobre alguns exemplos que nos são bem úteis.

Dizemos: “gato escaldado até de água fria tem medo”. É que a água lhe associa a desagradabilidade da queimadura. E basta vê-la para que o esquema água-desagradabilidade lhe surja, e consequentemente o gato fuja. Um cão, que levou uma paulada de algum homem vestido de zuarte, foge, ou toma uma atitude agressiva, ante qualquer outro homem vestido de zuarte, que dele se aproxime.

A tais atos reflexos chamam os psicólogos reflexos condicionados.

Tanto a criança como nós revelamos muitos desses reflexos, e outros. São verdadeiros esquemas que construímos pela experiência. O ser humano é um grande estoque desses esquemas, e nossa vida está marcada e orientada por eles. Repelimos tudo quanto nos é desagradável, aceitamos tudo quanto nos é agradável.

Além desses esquemas fáticos, que são formados pela associação de imagens de fatos, já por nós experimentados, o ser humano tem a capacidade de organizar esquemas eidéticos; isto é, esquemas construídos apenas das ideias que captamos nesses fatos.

Vamos a exemplos esclarecedores. Quem sofreu injustiças em sua vida e revoltou-se muitas vezes pelos castigos ou penas recebidas, sem uma justificação, forma um esquema eidético: injustiça-revolta. E toda vez que vê alguém injustiçado, revolta-se. Aqueles que em suas vidas lutam contra a injustiça, tomam atitudes enérgicas contra todos os atos que provoquem males aos outros que não os merecem, e revoltam-se. Não basta que sejam contra si mesmos apenas. Em face de qualquer injustiça, o sangue sobe-lhes à cabeça e irritam-se, rebelam-se, esbravejam, e tornam-se até campeões da justiça, lutando para que ela se instaure soberana, na sociedade.

Analisemos alguns dos nossos esquemas. Porque nos irrita isto e nos alegra aquilo. Procuremos descobrir os primeiros exemplos, os primeiros fatos, e verifiquemos, finalmente, o esquema eidético que formamos.

Esses esquemas, depois que se coordenam com outros, estruturando-se dentro de nós, são dificilmente desintegráveis. Tomam uma coerência tão grande que marcam o nosso caráter. (Caráter, em grego significa marca). O nosso caráter é formado de inúmeros esquemas que se gravaram em nós. E quanto mais fortemente gravados, mais nítido o nosso caráter.

Mas, assim como há esquemas benéficos, há esquemas maléficos.

Os hábitos, que são adquiridos, são verdadeiros esquemas. E do mesmo modo que obtemos bons hábitos, também obtemos maus.

Que fazer para fortalecer os bons esquemas e desintegrar os maus, a fim de nos libertarmos da sua tirania?

Os esquemas consistem em verdadeiras normas dentro de nossa alma. São o que os escolásticos chamam de habitus. Esse termo vem do verbo habere, haver, ter. Habitus é tudo quanto não faz parte da essência, mas que é adquirido.

E podemos, psicologicamente, adquirir bons hábitos ou maus, como também podemos libertar-nos dos maus. Ora, se são eles aquisições, e não formam a nossa essência, poderemos dispensá-los, embora isso nos custe, às vezes, muito trabalho e boa vontade.

Mas, quem vai dispensá-los? É a nossa alma, em sua pureza. É a nossa tensão psíquica forte, que é a nossa arma de desintegração dos maus esquemas. Portanto, para que ela seja capaz de uma tarefa tão importante, é preciso, em primeiro lugar, que ela seja muito forte, poderosa, coesa.

O caminho está em fortalecê-la. É o primeiro lanço da jornada. Podemos, depois, alcançar outros estágios importantes.

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O POUCO QUE PEÇO DE TI

Vamos juntos percorrer esse lanço, e depois examinaremos outros.

Quem vai fazer uma viagem, toma diversas providências, e uma das mais importantes é preparar tudo quanto precisa para ela. E, assim como arrumamos em nossas malas os apetrechos, objetos de que iremos necessitar, precisamos, também, arrumar tudo quanto vamos precisar para essa viagem.

E como todo viajor deseja que a viagem seja a mais agradável possível, que menos dissabores apresente, não julgues que eu vá exigir de ti, de início, muitas coisas. Vou pedir, ao contrário, bem pouco; tão pouco que não me negará, pois só exigirei de ti à proporção que sejas capaz de me dar o que te peça.

Muitos se queixam de que não têm confiança em si mesmos. Seria tudo muito fácil se disséssemos apenas: tem confiança em ti, e a confiança surgisse subitamente.

A confiança em si é a maior virtude que se pode desejar para um homem.

Quem tem confiança em si realiza o que pareceria impossível. Mas, muitos se queixam que não a têm, e não sabem como adquiri-la.

A confiança em si não se adquire diretamente, mas direta e também indiretamente.

Não basta dizer que se tem confiança em si, pois ela não nasce apenas pela palavra. Nem adianta desesperar-se.

Na verdade, tu tens confiança em ti. Não acreditas no que digo? Mas, pensa um pouco. Quando te levantas pela manhã, duvidas acaso que sejas capas de vestir-te? Não és capaz de ir até à mesa e tomar a tua primeira refeição? Não és capaz de fazer tantas pequeninas coisas?

Se és capaz de fazer tantas coisas, és capaz, pelo menos.

Rememora, por favor, tantas coisas que fazes, tens feito e que és capaz de fazer.

Mas, logo poderias me retrucar, que há muitas coisas que não podes fazer, pois não és capaz de fazê-las.

Não há dúvida. Mas, pensa mais um pouco; quando criança, quantas coisas não podias fazer, e que hoje fazes.

O atleta que vê um haltere tão pesado, julga que não poderá erguê-lo. E nas primeiras aulas de halterofilismo, não pode fazer o que outros fazem. Não pode, porém, deixar de reconhecer que o que outros fazem não o faziam antes.

Portanto, tu és capaz de muitas coisas. Assim como hoje és capaz de fazer o que anteriormente não o podias, serás capaz de fazer amanhã o que hoje parece difícil.

Se és capaz até de viver, és sempre capaz. Portanto, reconhece uma verdade: és capaz.

Assim, já alcançamos alguma coisa ao chegarmos aqui. Tu me acompanhaste até aqui. Já temos um importante ponto de partida, pois já temos alguma confiança em nós. Pois não fazemos já o que não fazíamos? Não fomos capazes de um progresso? Se fomos, por que não o seríamos de mais?

Vamos fazer uma experiência. Deixa teus braços pousados sobre esta mesa, junto a este livro. Não o movas. Conta até vinte, sem os moveres.

Conta: um, dois, três, quatro. . . vinte.

Não conseguiste? Vamos, outra vez, contemos até cinquenta. Não te movas totalmente: Um, dois, três, quatro, cinco . . . cinquenta!

Viste como podes ficar quieto?

Experimentemos um pouco mais: olha aquele objeto ali. Fixa o olhar sobre ele. Não te movas, não olhas para outra coisa, só para ele. E conta até vinte.

Um, dois, três, quatro . . . vinte. E que tal? Vamos contar até cinquenta.

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Um, dois, três, quatro, cinco . . . cinquenta. Magnífico!

Coloca-te agora na cadeira em que estás. Afasta tuas costas do encosto. Vira para cima a palma da mão direita. Coloca sobre ela a mão esquerda. Deixa-as pousadas agora sobre as pernas. Toma uma posição firme. Não te movas. Olha para um objeto à tua frente. E conta até vinte. Repete até cinquenta.

Toma a mesma posição. Fecha os olhos. Respira lentamente, ritmadamente pelo tempo que puderes. Não te preocupas com os pensamentos que surjam. O que nos interessa agora é que realizes esse exercício de respiração.

Respira profundamente. Enche mais que puderes os pulmões. Olhos fechados, mas procura “olhar” bem no centro da raiz do nariz.

Inspira profundamente. Guarda bem o ar nos pulmões até contares dez. Deixa-o sair lentamente, enquanto contas até cinco.

Suspende um pouco a respiração. Os pulmões esvaziados. Enche-os de novo, lentamente; guarda o ar, esvazia, descansa, prossegue.

Esplêndido! Tudo já está correndo muito bem. Vamos repetir.

Agora procura respirar deste modo: enche os pulmões bem de vagar. Guarda o ar. Expira vagarosamente. Tão vagarosamente que nem sequer ouças o ruído da respiração. Torna-a bem fluídica.

Pouco a pouco, continuando nesse exercício, conseguirás alcançar um ritmo bem teu, natural. E faze esse exercício diariamente, tantas vezes quantas puderes. Podes abusar dele, pois quanto mais fizeres, melhor para ti. Pelo menos, deves fazê-lo uma vez pela manhã e outra à noite.

E vais fazê-lo sempre, daqui por diante, durante toda a vida.

Seria muito complexo tentar explicar quanto vale este exercício. Mas basta dizer algumas palavras: ele vai regularizar, aos poucos, a tua respiração, a alimentação do oxigênio de que precisa o teu sangue; vai regularizar todo o teu corpo e também ajudar a fortalecer o teu espírito. Pois a atenção que puseres, olhando para a raiz do teu nariz, vai ajudar a concentrar a tua tensão psíquica.

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EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS

O mesmo exercício que se realiza sentado, também se pode realizar quando deitado. Deita-se de costas, estiram-se as pernas. Colocam-se duas mãos bem juntas ao corpo, de cada lado. E respira-se da mesma forma, olhos fechados, o olhar convergente.

Se acaso surgir algum mal-estar, por estar o olhar convergido para a raiz do nariz, deve-se convergi-lo, como se se dirigisse para um objeto distante.

E respira-se da maneira indicada.

Esse exercício acalma. Se se adormecer ao fazê-lo melhor ainda.

Mas se acaso houver estremecimento e câimbras não há motivo para preocupações. Nosso corpo não é muito acessível à disciplina, e se rebela um pouco. São pequenas reações que não fazem mal. Continuem-se os exercícios que afinal esses estremecimentos desaparecerão, e sentir-se-á o praticante cada vez mais calmo.

Daremos agora uma série de regras para exercícios respiratórios.

Respiração rítmica – o ritmo é individual. No entanto, antes de alcançá-lo, o praticante pode seguir

esta norma:

3 segundos para a inspiração; 2 de retenção de ar nos pulmões; 5 para a expiração;

2 de descanso, em, seguida retorno à inspiração.

Observações:

No início, é quase impossível conseguir a regularidade.

Contudo, não há motivo para preocupação. Prossegue-se no exercício pelo prazo de uns 5 minutos. Obtida certa regularidade, nos dias sucessivos, aumenta-se para 10, até 15 minutos.

A pouco e pouco alcança o praticante o seu ritmo individual, mas sempre conservando as quatro fases inspiração-retenção-expiração-descanso, até alcançar a fluidez da respiração, que se fará quase em silêncio.

Modalidades:

Este exercício pode e deve ser realizado:

A)

estaticamente; B) dinamicamente;

No caso A, deve o praticante permanecer sentado na postura já indicada.

No caso B, deve colocar-se em pé, pernas abertas. Cruzar as mãos na nuca. Inspirar profundamente, conservar o ar nos pulmões, expirá-lo com a flexão do busto sobre os joelhos até esvaziar totalmente os pulmões. Permanecer os 2 segundos neste estado e inspirar levantando o busto até a posição normal.

Tempo:

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O exercício dinâmico pode variar, e deve ser feito da seguinte maneira: Inspiração – 3 segundos;

Retenção – 10 segundos; Expiração – 5 a 6 segundos; Descanso – 2 segundos no mínimo.

Alcançar esse tempo já é extraordinário, e abre campo para profundas modificações interiores.

Duração dos exercícios:

Um dos nossos graves defeitos consiste na pressa. Não gostamos de empregar dias, meses e até anos na realização de uma tarefa que não nos ofereça imediatos resultados.

Por isso, tais exercícios, como outros, sempre úteis e benéficos para o bom funcionamento, não só físico como químico, são abandonados em meio do caminho, por aqueles que não percebem, desde logo, imediatos benefícios.

Mas, num setor como esse, o do nosso pleno domínio, todo esforço, toda confiança, toda decisão, toda calma, toda a perfeição que se alcancem, embora que parcialmente, servem para nosso bem. Podemos não perceber os benefícios maiores, porém eles se processam lenta e silenciosamente, e terão, afinal, que dar os seus frutos, que bem valem o esforço despendido.

EXERCÍCIOS MENTAIS

Pode-se ficar na mesma posição do exercício respiratório, ou em outra que for mais cômoda. Escolhe-se um assunto qualquer; por exemplo, esta frase de Virgílio: “Podemos, porque pensamos poder”.

Pensar que podemos é ter confiança em nosso próprio poder, e ter confiança nele, é fortalecer o poder que há em nós... e assim sucessivamente.

Medita-se sobre tudo isso, sem se mover. Apenas o pensamento atua e o corpo deve permanecer imóvel. É possível que sejamos interrompidos por pensamentos diferentes, e também levados para muito longe do que estávamos meditando. É natural que pensamentos errantes invadam o nosso cérebro e nos desviem do ponto onde estávamos.

O que se deve fazer é voltar novamente ao assunto e meditar sobre ele, sempre com alegria, sem se preocupar com o que aconteceu. E tantas vezes, quantas puder. Esse exercício pode durar uns 5 minutos, o que já é um progresso extraordinário.

Não se deve forçar o pensamento, a fixar-se só sobre o tema. Não se deve lutar nunca contra as ideias intrusas. Quanto mais se lutar contra elas, mais fortes elas serão. Deve-se deixá-las de lado, e prosseguir no exercício, que deve ser realizado diariamente. À proporção que as ideias intrusas ameaçam perturbar a meditação, recomeça-se outra vez, sem se preocupar com a interrupção.

Regra importante: escolher sempre, como tema de meditação, assuntos positivos. Não pensar em

coisas ruins, males, infâmias, doenças, fraquezas. Os pensamentos devem exercitar-se sobre aspectos positivos e benéficos.

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REGRAS IMPORTANTES SOBRE A MEDITAÇÃO

Depois dos conselhos que demos sobre a meditação, desejamos, agora, chamar a atenção do leitor para os pontos seguintes, de grande importância para o bom êxito das mesmas:

a) Na meditação, nenhuma tensão é necessária. Ao contrário, é até prejudicial. Iniciada com tranquilidade, não exige nenhum excesso de esforço.

A meditação deve orientar-se com a maior naturalidade.

b) A duração deve ser aumentada à proporção que o bom êxito for sendo conquistado. Para iniciar, basta meio caminho até à base ótima de meia-hora.

c) A direção do olhar deve ser para frente.

d) Se, no início, houver estremecimentos, lembrar-se que eles são naturais. Podem dar-se em todo o corpo, ou apenas nas pernas, braços, etc.

Tais procedimentos, comuns a princípio, terminarão por desaparecer totalmente.

e) Ao iniciar a meditação, que deve ser feita em lugar reservado e ausente de estranhos, pensar primeiramente que se está só, entregue ao seu próprio bem, que, por sua vez, está imerso no Bem Supremo. Esse o cerca, esse o sustenta, e esse o amparará.

f) Se a meditação for sobre uma única ideia, por sobre ela a máxima tensão psíquica. Se for através de idealizações (por encadeamento de ideias), não se preocupar se pensamentos errantes e estranhos a perturbarem.

Quando sentimos que nos perdemos em pensamentos estranhos, não nos perturbemos por isso, pois é natural. Voltemos ao pensamento fundamental da meditação, prosseguindo com confiança.

g) Se se manifestarem dificuldades muito grandes para nos fixarmos sobre vários pensamentos, a solução é pensar em poucos, e sobre esses fazer a meditação.

h) Procurar estar sempre alegre; um leve sorriso deve pairar no rosto. Não abrigar qualquer sentimento de hostilidade. Viver um momento de pleno amor.

i) Permanecer em silêncio, e se discorremos, os pensamentos devem ser pronunciados apenas intimamente.

j) Os pensamentos errantes ou perturbadores devem ser recebidos com tranquilidade e calma, e sobretudo com paciência. Eles acabarão por não mais surgir, e obter-se-ão a paz interior e a força mental desejada.

Os pensamentos estranhos, se merecerem a nossa atenção, criarão raízes e força. Deve-se recebê-los com indiferença, e prosseguir na meditação. Eles acabarão por não mais nos procurar. k) Esse exercícios devem ser prosseguidos de 3 a 6 meses e só devem ser substituídos por outros

mais complexos, sobre temas mais amplos, depois de obtida a sua plena realização. l) Não se deve lutar contra o mental. Conservar-se sempre calmo.

m) Se a concentração dos olhos causar qualquer mal-estar, pode-se abandoná-la e dirigi-la para o exterior ou olhar normalmente com os olhos fechados.

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n) Nunca abandonar a prática da meditação, embora pareça difícil a princípio. Deve-se sempre fazê-la, porque só ela nos dará a solidez da tensão psíquica e sua força interior e mental. Ela contribui para a formação, não só de um espírito forte, mas também de um corpo são.

A alegria, que se obterá, depois de uma longa prática, e a satisfação que se conhecerá, serão tão grandes, que compensarão todos os esforços despendidos.

o) Lembremo-nos que a dor aumenta segundo a atenção que a ela lhe dermos. Também os pensamentos errantes ou contrários aumentarão de força, quanto mais atenção lhes dermos. p) Lembremo-nos que o subconsciente trabalha enquanto dormimos, e também quando estamos

despertos, em vigília, e entregues ao consciente. Para problemas, cuja solução não encontrávamos, vemo-la surgir quando menos esperávamos. É que o subconsciente trabalhou para solucioná-los. Lembremo-nos que o subconsciente pode atuar quase sempre a nosso favor. Muitos sábios, filósofos, cientistas, estudiosos de toda a espécie, confiam ao seu subconsciente a solução de grandes problemas. E conseguem obtê-la, graças à confiança que nele depositam. q) Lembremo-nos que o mental é a maior força que existe. Confiemos no seu poder, e trabalhemos

para desenvolvê-lo, sempre com confiança nas meditações que fizermos.

r) Lembremo-nos que um mental é tanto mais forte quanto maiores forem a alegria e a serenidade. Cultivemos a alegria com pensamentos alegres, e a serenidade pelo amor ao bem.

A SERENIDADE

Para que a mente conheça a serenidade, é preciso que o corpo a pratique constantemente.

Um bom exercício é a respiração rítmica. Mas, para conseguir melhor efeito, convém praticar pequenos exercícios de serenidade durante o dia.

Vamos a exemplos:

Deve-se permanecer em silêncio, pelo menos um certo tempo.

Os exercícios de análise de um grande pensamento, feitos com calma, sem precipitações, separando as ideias que estão entrosadas, para examiná-las, cada uma de per si, para depois concrecioná-las num conjunto de pensamentos, são de grande utilidade.

Se alguém, ao ter que resolver um assunto, examiná-lo ponto por ponto, com calma e ponderação, sem deixar arrastar-se por impulsos afetivos, fará outro exercício fácil, que ajuda a dar ao mental a serenidade de que necessita.

Um mental agitado não permite progressos, e é presa fácil de preocupações fantasistas.

Quem domina o mental é um verdadeiro homem. Há um grande fundamento no famoso ditado: “Aquele que é senhor do seu mental é senhor do universo.”

A vitória sobre o mental é a realização plena da liberdade. Que cuidados devemos tomar?

Um sintoma do mental agitado está na busca desenfreada da novidade, da diversidade. Tudo desagrada. Daí o temor à monotonia, que leva tantos ao exagero de considerar monótono tudo quanto se repete.

Para evitar esse defeito, temos o exercício da meditação, que levando o mental a fixar-se sobre ideias, fá-lo ir e vir de uma ideia para outra, repetindo pensamentos, permitindo vitórias, e facilitando um prazer na repetição.

Não devemos desanimar, se há certa monotonia na vida.

Somos hoje tão solicitados para a diversidade, que toda repetição nos parece roubar uma possibilidade de novidade. No entanto, a própria novidade acaba por nos cansar, porque temos uma capacidade limitada para o sempre-novo.

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Precisamos, por isso, saber alternar a diversidade com a repetição, e saber ver, naquela, a primeira, o que se repete, e na segunda, o que oferece de novo.

Por acaso podemos ver uma coisa sob todos os aspectos? Pode alguém dizer que conhece tudo de qualquer coisa?

Todas as coisas oferecem novidades, embora sejam repetidas.

Saber perdurar entre ambas é a melhor lição que nos oferece a vida, pois os excessos, neste como em muitos casos, só nos podem levar a aborrecimentos.

Quem teima em ver (atualizar) apenas os aspectos repetíveis, acaba por aborrecer-se. Mas, é preciso ver que a vida é sempre nova, e nós, de certo modo, outros, cada dia que passa. Não prestemos tanta atenção ao que se repete. Procuremos o novo no que se repete, e o encontraremos. Mas só seremos capazes de conquistar este estado ideal se soubermos dominar o nosso mental, depois de havermos conquistado a serenidade.

Que precisamos, então, fazer?

Ser sempre pontuais em nossos exercícios e, se possível, fazê-los sempre às mesmas horas. Nunca esquecer a ordem do exercício de meditação:

1) Um sorriso nos lábios, erguendo os músculos zigomáticos; 2) Exercício de respiração rítmica;

3) Exercício de meditação sobre temas positivos. E, sobretudo: alimentar os sentimentos positivos!

Quando sentirmos simpatia por alguém, um sentimento de bondade, procuremos alimentá-lo. Não busquemos razões para justificar o nosso abandono, tais como: “ninguém merece nossa estima”, “os seres humanos são todos maus”, ou afirmações semelhantes. Todas essas expressões só servem para enfraquecer nossa potência positiva. Nesses instantes, deixemos que nossa ternura se desborde.

Como querem sentir-se bem aqueles que tudo fazem para aumentar a sua tristeza e, o pior, a sua miséria?

Para se ser feliz, é preciso exercitar-se na felicidade. A felicidade exige um treino, um longo treino. Todos os que falam contra a felicidade, já mediram bem, já procuraram em si mesmos delinear o que fizeram para exercitar-se na felicidade?

O mundo tem muita luz. Por que, então, pensar só nas sombras?

É uma sabedoria, e a mais feliz das sabedorias, aquela que nos ensina a pôr óculos de otimismo. Quem procura o mal, e só vê o mal, como pode alcançar o bem?

Embora pensamentos bons estejam em nossa mente, muitas vezes, ao termos que resolver alguma coisa, fazemos tudo ao contrário do que seria razoável fazer. E por quê? Porque, dizemos, nossos sentimentos nos levaram ao erro.

Por isso se vê que não basta apenas o pensamento para nos levar à ação. O sentimento atua com tal força que somos desviados sem considerar o que é melhor.

Não basta a educação do mental, quando não há educação dos sentimentos. Se deixamos que os sentimentos negativos nos dominem, seremos sempre fracos. Alimentar sentimentos positivos, eis, portanto, a grande regra que se impõe para o nosso bem.

“Mas, é difícil, às vezes alimentá-los”! Há quem faça essa afirmativa. Certa vez, um famoso sábio, teve estas palavras para um discípulo:

“Se colocas uma tábua estreita no chão e caminhas ao longo da mesma, se imaginas que vais cair nela, dela cairás. Se, ao contrário, tens fé em ti mesmo, atravessá-la-ás com perfeito equilíbrio. E por que, se ela estivesse no alto, cairias, quando, com ela no chão, não caíste? Porque tua imaginação te leva a pensar que cais, e cairás.”

Cuida, pois, da imaginação. A imaginação é nossa amiga ou nossa inimiga. Se ela trabalha com imagens negativas, eis que trabalha contra nós. Se trabalha com imagens positivas, ei-la a nosso favor.

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A imaginação depende muito de nós. Quando imaginamos positividades, no sentido puro do termo, alimentamo-las. Quando imaginamos negatividades, procuremos desviar-nos delas.

FORTALECE-TE

O fortalecimento do nosso espírito exige, portanto, uma tríplice atividade, pois deve dar-se combinada e contemporaneamente com o fortalecimento das nossas três funções psíquicas.

Para o fortalecimento do sensório-motriz (sensibilidade), temos os exercícios respiratórios, a ginástica, etc.

Para o fortalecimento da intelectualidade, temos a prática da meditação e as práticas afins. Para o fortalecimento da afetividade, temos os sentimentos positivos.

Caracteriza-se o nosso método pela prática da positividade, em qualquer setor.

Já que abordamos, em suas linhas gerais, os diversos aspectos e as práticas correspondentes, cabe-nos agora acrescentar, para cada setor, novas observações e práticas que cabe-nos oferecerão meios mais seguros e mais eficazes de alcançar o que desejamos.

A PRÁTICA DO JÚBILO

Chamavam os antigos de jubileu a indulgência plenária, solene e geral, concedida pelos papas aos católicos, para remissão de todas as dívidas e pecados. Havia, assim, júbilo geral, alegria geral, porque os homens tiravam de suas costas o peso do temor do pecado, que acarretava, consequentemente, os castigos prometidos. É verdade que o termo tomou depois outros sentidos; mas mantém e conserva o conteúdo conceitual de satisfação plena, o que nos indica uma grande e profunda alegria.

Praticar o júbilo é praticar a alegria. Em todo momento de alegria, sentimo-nos mais fortes. A alegria é sempre excitante e criadora de forças. Com alegria, sentimo-nos mais capazes de fazer qualquer coisa, enquanto todos sabem que, sob o peso de uma tristeza, as nossas forças se amesquinham, e a capacidade de ação se torna menor ou desordenada e frágil.

Não há, portanto, quem não reconheça o poder da alegria. Mas, se todos a desejam, nem todos a vivem em sua alma, e muitas fisionomias são de uma triste eloquência, pois nos revelam evidente abatimento moral.

Sabem muitos que é difícil a alegria quando o espetáculo do mundo nos oferece tanta mágoa. Não basta dizer-se que à parte de tanta tristeza, há muita luz e muita alegria no mundo, pois que está imerso nas trevas não pode contemplar a beleza das coisas, que só a luz da alegria pode iluminar.

No entanto, a prática da alegria não é fácil.

Pode ter alegria quem alimenta sentimentos negativos? Pode ter alegria quem não domina seu mental?

Pode ter alegria quem não alimenta a sensibilidade com bons exercícios?

Não se trata de uma alegria qualquer, como certas alegrias passageiras, que deixam atrás de si uma marca sombria e, às vezes, até um rasto de tristeza. Trata-se agora do júbilo.

E o júbilo é predominantemente da intelectualidade e da afetividade.

O júbilo, em sua maior profundidade, implica um gozo mais profundo de todas as coisas.

Cada instante da vida nos oferece muitos motivos para cultivar o nosso júbilo. Cada uma das nossas pequenas vitórias, e somos vitoriosos quando superamos qualquer dificuldade, nos oferece um motivo de júbilo, se soubermos captá-lo.

Vejamos: cada vez que fazemos um exercício, porque não procuramos o júbilo que ele nos oferece? Não é mais um degrau para a nossa libertação? Não basta, portanto, convencermo-nos apenas de que cumprimos uma obrigação, é preciso gozar o júbilo que ele oferece. Pois, não vencemos? Não marchamos no caminho das nossas vitórias? Não nos aproximamos cada vez mais do fim desejado? Rejubilemo-nos.

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Ergamos nossos olhos, inflemos nosso peito, um sorriso nos lábios, deixemos que nossos olhos brilhem mais, e gozaremos o instante de júbilo.

Se dissermos: felizmente já fiz o meu exercício hoje. Não há nessa frase a expressão de quem se libertou de uma obrigação penosa? Não estamos tomando uma atitude negativa?

E, no entanto, se dissermos: “muito bem, fiz o meu exercício. Mas, felizmente, em outras ocasiões, farei outros, e assim sem fim, até o fim da minha vida.” Não estamos, então criando um júbilo?

E olhemos agora para os fatos cotidianos.

Procuremos, em cada uma das nossas atividades, o júbilo que elas nos oferecem. Ele é a luz que ilumina cada um dos nossos instantes. Ele dissipa as trevas que obscurecem a beleza do mundo. Só com o júbilo daremos maior positividade a cada um dos nossos instantes. E a nossa vida não é feita de muitos instantes? Pois lutemos para dar-lhes luz, dissipando as trevas que os obscurecem, e a nossa vida será luminosa, pela clareza da grande e potente alegria, que é o júbilo.

E quando compreendermos bem isso, rejubilemo-nos. Conheçamos o júbilo do nosso júbilo, e assim marcharemos para a posse da alegria, que é sempre positiva.

Pois não é verdade que sempre desejamos que a tristeza passe, que ela se desvaneça?

Pois, então, guardemos esta verdade: a positividade de nossa alma está na proporção das nossas alegrias. O júbilo é alimento da alma.

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NOVOS EXERCÍCIOS MENTAIS

É imprescindível, para nosso bem, este ponto de partida: o homem é um composto de corpo e alma. E essa alma é o que liga mais profundamente ao que se escapa ao conhecimento dos nossos sentidos, que é apenas do corpóreo. Não vemos e não sentimos o que não tem corporeidade para nós, mas sabemos hoje, graças aos conhecimentos científicos, que existem poderes para os quais os nossos sentidos são surdos e cegos.

Vemos nossos pensamentos sem os vermos. Podem nossos olhos estar pousados sobre os fatos do mundo exterior, e, no entanto, por nossa mente estão passando pensamentos, que vemos sem vê-los, intenções que surgem sem que as representemos, ideias que não têm dimensões nem formas espaciais, mas que compreendemos, aceitamos ou repelimos. E, no entanto, vemo-las sem as ver. Portanto, somos capazes de ver muito mais do que vemos, porque, com os olhos do espírito podemos ver o que os olhos do corpo não veem.

Essas visões não são corpo, pois não se dão no espaço, porque não estão localizadas, nem têm tamanho, formas quantitativas do espaço, e, como ideias, não têm idade, nem, portanto, tempo, embora as captemos dentro do nosso tempo. Essas visões não são as mesmas que temos deste livro, desta mesa, daquele quadro. Pois estes seres, nós os vemos ali, aqui, acolá, num lugar, com um tamanho. Mas essas visões, de que falamos, não as vemos materialmente!

Quando meditamos sobre nós mesmos, quando nos examinamos, ou interrogamos conscientemente a nossa consciência, contemplamos nossas ideias, ou oramos a uma divindade, quer com palavras pronunciadas ou não, nós realizamos exercícios que tomam o nome genérico de exercícios espirituais.

Passear, caminhar, correr são exercícios corporais.

E assim como podemos realizar uma ginástica para o corpo, a fim de corrigir certas deficiências nossas, podemos realizar uma ginástica para o espírito, que nos auxilie a resolver nossos problemas e nos permita alcançar a pontos mais elevados, que nos darão uma fruição maior dos bens que a vida oferece.

Quem deseja realizar tais exercícios espirituais, deve dispor-se para eles de um modo todo especial, e realizar, previamente, as seguintes providencias, sem as quais é preferível nada fazer:

1.ª providência:

Afirmar para si mesmo a maior verdade cósmica: o ser é o Bem, e eu, enquanto ser, sou o Bem, e estou no Bem.

E com convicção, com fé, com dignidade e respeito, dizer para si mesmo: “O bem me cerca, estou imerso no Bem e confio-me a ele.”

2.ª providência:

Com a maior reverência ao Bem Supremo, fonte, origem e fim de todas as coisas, realizar o exercício respiratório, rítmico, por alguns minutos, procurando pensar apenas no Bem, no próprio bem e no Bem Universal.

3.ª providência:

Após o exercício respiratório, realizar o exercício espiritual, segundo as normas que indicaremos. CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES

Nunca esqueçamos que todos os nossos esforços em nosso bem encontram uma resistência, oposta pelo nosso “adversário”, o nosso obstáculo, o “demônio”, de que falam as religiões.

Não faltam vozes que tentam desmoralizar-nos. Não faltam sugestões de pessoas conhecidas, e até dentro de nós mesmos, que constantemente afirmem a inutilidade de nossos esforços.

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Toda voz de desânimo, todo impulso de fraqueza, de covardia ante os exercícios, são de origem do que é contrário a nós em nós. E devemos, desde logo, denunciar aos nossos próprios olhos tais fraquezas. E desprezando-as, cumprir o nosso dever com júbilo.

Repelir a desmoralização do maligno. Opor-lhe a nossa resolução, e com dignidade e confiança em nós mesmos, prosseguirmos.

OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

Sem necessidade de examinar aqui um tema de Noologia (ciência que estuda o funcionamento do nosso espírito), o que nos levaria a longínquas análises, desejamos apenas lembrar uma velha experiência, que, através de milênios, sempre trouxe grandes benefícios para o homem, e é o fundamento de muitas das orações que aconselham as religiões.

À noite, antes de dormir, naquele instante de modorra, que precede ao sono, o nosso subconsciente está em pleno contanto com o consciente e de tal modo que tudo que, com confiança, a ele solicitarmos, será obtido.

Nesse instante, dirigindo-nos como amigos ao subconsciente, como já vimos, devemos pedir tudo quanto é possível obter de nós mesmos, e certamente o conseguiremos. Se pedirmos para sermos calmos, confiantes, tranquilos, ter bastante capacidade de ação, boa lógica, raciocínio rápido e bem concatenado, coragem, força interior, etc., muito conseguiremos. Podemos pedir tudo quanto dependa de nós, tudo quanto desejávamos constituísse patrimônio do nosso ser.

Esse exercício deve ser repetido diariamente ao deitar e ao acordar.

Acompanhando os outros exercícios, que indicaremos a seguir, este deve processar-se da forma que exporemos.

Ao acordar, nosso primeiro empenho deve ser o de afirmar para nós mesmos a posse do que desejamos ter. Assim, pode afirmar-se:

“sou forte, domino minhas fraquezas” (precisar quais fraquezas); “sou senhor dos meus desejos e venço-os (precisar quais);

“cada dia (e precisar o setor), sou mais senhor, ou cada dia sou mais senhor disto ou daquilo.” Esse instante, importantíssimo, deve ser aproveitado para afirmarmos a nós mesmos, o que mais desejamos de imediato de nós. Obtido o valor desejado, prossegue-se, pedindo o seu progresso e conservação, ou para afirmar outros, e assim sucessivamente.

Este exercício corresponde ao que se faz ao dormir, ao subconsciente, que já estudamos. QUE FAZER QUANDO ERRAMOS?

Quando fizermos alguma coisa errada, quando um mau pensamento nos assaltar, quando um desejo indevido nos impulsionar, quando praticarmos um ato que foi injusto ou mal feito, não nos enchamos de aborrecimento.

Levemos a mão ao peito, sintamos sinceramente o erro, e digamos a nós mesmo: “Evitarei que se repita. Não faz mal. Evitarei que se repita.”

EXERCÍCIO ELEMENTAR COTIDIANO Agradecer ao Bem todo benefício alcançado. E nunca esquecer que são muitos.

Quanto aos males sucedidos, nunca os atribuir ao Bem, mas apenas às relações do que acontece. Quanto às nossas faltas, realizadas durante o dia, firmarmo-nos no propósito de não repeti-las. Confiar que o Bem nos há de ajudar para o nosso bem.

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Esta rápida meditação deve ser feita diariamente, antes de deitar.

Segue-se, depois o pedido ao subconsciente. Esse pedido deve ser sempre positivo. COLÓQUIOS INTERIORES

Precisamos desdobrar-nos como um amigo com quem conversamos. E no mesmo tom amigo, confidencial e bondoso, devemos examinar nossos erros, nossos desejos, nossos sonhos, esperanças, etc. E quando tomamos um tema para meditação, podemos interrogar-nos, para saber que pensamos sobre isto ou aquilo. Discordar, desafiar para análises, fazer perguntas, se não esquecemos alguma coisa, se não estamos examinando o assunto superficialmente, etc. Todas essas providências, num amplo diálogo interior, têm um efeito extraordinário.

CONTEMPLAÇÃO ESPIRITUAL

Tomando um tema espiritual, a visão do Bem, podemos fazer um grande exercício, de efeitos incalculáveis.

O bem desta coisa pode ser este ou aquele. Tal ser deseja alcançar tal fim, que será o seu bem. Desta forma, o bem de cada coisa está aqui e ali, mas o Bem, o sentido do Bem, está em todas e em todas é igual. Pensemos no Bem enquanto tal, não no disto ou daquilo, nem nisto ou naquilo, mas no Bem em si mesmo.

Contemplemo-lo. Sentir-nos-emos logo avassalados pelo bem que nos cerca, à medida que nele penetrarmos. Nossos sentidos devem perespiritualizar-se no exercício, à proporção que o formos fazendo diariamente:

1) Tentemos ver o Bem com os olhos do espírito, espiritualmente, em si, em toda a sua beleza; 2) Tentemos ouvir a melodia harmoniosa que ele é;

3) O perfume que dele se evola, o sabor que sentimos do Bem, e, finalmente, 4) Tacteemo-lo com os nossos sentidos.

Devemos colocar-nos nesta disposição.

“O Bem é a minha felicidade.” Rejubilemo-nos; sintamos a alegria, um sorriso nos lábios, um sorriso suave e meigo, uma respiração fluídica, e entreguemo-nos, depois, a essa contemplação espiritual do Bem, que terminaremos por alcançar, sem o menor vestígio material, sem qualquer representação material, até conquistar um estado de beatitude interior de grande satisfação interna.

Não se atinge logo nos primeiros dias a esse estado superior, mas esse exercício dispõe nossas forças de modo a se tornarem cada vez mais poderosas.

Esse exercício implica, antes de tudo, a máxima confiança em si mesmo, através da qual se há de alcançar o estado de plenitude do bem.

POSITIVIDADE SEMPRE!

Todos os temas de meditação, que variarão segundo as posições dos praticantes, conforme suas crenças e ideias, devem ser positivos e nunca negativos. Desejar, tratar. Meditar sobre o que se pode dizer

sim e nunca sobre o que se quer dizer não. Meditar sempre sobre o que nos é benéfico e bom, e nunca

sobre o que nos é maléfico e prejudicial.

As ideias devem ser claras e nunca confusas. Para evitar a confusão, faça-se a análise lógica, dialética das ideias. Examine-se e medite-se sobre a própria meditação, na análise das ideias que se associam, verificando se o são por contiguidade, semelhança ou contradição. Ver se as ideias em contradição não têm uma origem no “obstaculizador”.

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SILÊNCIO!

Busca-o sempre que o possas. E ante ele, pensa em teu bem. Crê firmemente em teu progresso e afirma sempre para ti mesmo que, cada instante que passa, conheces um estado melhor.

DISCUSSÕES

Evita as longas discussões, sobretudo com pessoas dispersas, que juntam argumentos sobre argumentos, sem ordem e sem disciplina, misturando juízos apenas de gosto com algumas pseudo-ideias malformadas e mal assimiladas.

Evita essas discussões, que não são em nada benéficas. Se não for possível conduzir o colóquio com alguém em boa ordem, segundo boa lógica, cuidadosa e bem organizada, é preferível que te cales. Sempre sê disciplinado no trabalho mental. Essa é a regra importante, e nunca ceder às fogosidades do pensamento em conversas diluídas, dispersas, em que se fala de tudo e não se fala de nada.

Para ajudar a disciplina mental, faze a disciplina física em tudo quanto empregares a tua atividade. Lembra-te de que não serás capaz de segurar uma bola se tua atenção não estiver voltada para ela. Se teus olhos estiverem dispersos, perdidos, não segurarás a bola que te atirarem.

Igualmente com a meditação. O bem que desejas deve sempre ser o principal tema de tua atenção, e os teus olhos espirituais devem estar voltados para ele.

Lembra-te que confiar em ti mesmo é confiar em teu bem. E confiar em teu bem é confiar no Bem. Ter confiança nele é adquirir sempre e sempre maior força. Nenhum mal pode ser absoluto. Se o mal fosse absoluto, o universo já teria desaparecido, porque ele é destrutivo, e se tivesse um poder absoluto tudo já teria sido destruído.

O Bem, portanto, é absoluto, porque não pode ser destruído. Confia nele, e a ele entrega-te com confiança e serás invencível. Quem poderia amanhã te derrotar, quando tens em ti, certamente, o Supremo Poder do Universo?

Medita sobre a relatividade do mal e a realidade concreta do Bem. Pensa sempre no poder absoluto do Bem.

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OBSERVAÇÕES SOBRE REGRAS DA MEDITAÇÃO

Os exercícios respiratórios e a meditação são as práticas mais importantes que se podem oferecer. Não são novidades, sem dúvida, são velhos e esquecidos caminhos que levaram muitos a alcançar os pontos mais elevados que o homem jamais atingiu.

De todos os exercícios e métodos conhecidos até hoje, são aqueles dois os que maiores e mais seguros benefícios ofereceram, pois nunca falharam em suas finalidades. Podem os psicólogos inventar muitos métodos, mas nenhum terá o poder daquele que alimenta o corpo, fonte de nossa vida, que é uma respiração regular e bem ordenada, e aquele que fortalece o nosso espírito, que é a meditação, e que nos dá a maior inteireza ao espírito, a maior força para resistir à dispersão e nos afastar de tudo quanto pode atuar para nosso mal.

Por isso, a recomendação desses velhos caminhos deve sempre ser lembrada, e muitos aspectos importantes nunca devem ser esquecidos.

Um homem sem vida interior não é capaz de conhecer-se. A meditação facilita a interiorização, a concentração das forças psíquicas, e por seu aspecto dinâmico, racional e dialético, evita a fixação em ideias contempladas, que são um campo aberto às manias, tão perigosas.

Para conhecermos os nossos erros, defeitos, e as nossas possibilidades, nada melhor que a meditação. Todo homem, capaz de manter uma vida interiorizada muito forte, é muito mais poderoso e enfrenta melhor as situações difíceis do que qualquer outro.

Quando maus pensamentos penetrarem em tuas meditações, não te preocupes. Deixa que sobrevenham, realizem a sua atividade, não lhes resistas, nem faças nenhum esforço de vontade para afastá-los; pois, do contrário, além de te fatigares, dar-lhes-ás mais forças por oposição. Coloca-te apenas como espectador um tanto indiferente, e toma uma atitude de desprezo. Se tomares outra atividade, deverá consistir em pensar positivamente em temas opostos aos dos maus pensamentos, sem te preocupares se aqueles retornaram. À proporção que fixares o pensamento nos bons, e desprezares os maus, sem a eles resistir, tirar-lhes-ás toda a força, e eles acabarão por não mais surgir. Permanece sempre calmo, e compreende que é natural que tais pensamentos sobrevenham.

Não deixes passar um dia sem fazer exercícios de meditação. Nunca é demais recordar este ponto. Começa sempre pelas meditações mais fáceis. Não te preocupes, no princípio, em alcançar os pontos mais elevados. O importante é começar.

Se és um extrovertido, um dilatado, terás, no início, certa dificuldade, menor que as que terá um retraído, um introvertido. Não te preocupes, porque alcançarás, com o tempo, o pleno domínio. Por pouco que seja o tempo de tua meditação, cada minuto ganho é uma positividade a mais. Conseguirás, com o tempo, manter uma meditação, sem perturbações, por horas a fio.

Se ao iniciares a meditação, o teu espírito estiver muito dispersivo, não te irrites, nem fiques nervoso. Deixa-o errar à vontade. Ele acabará por cansar-se. Quando sentires que podes fixar a atenção sobre uma imagem que memorizas ou sobre uma ideia (reflexão), inicia o exercício, sem te aborreceres pelo tempo perdido. Nunca perderás tempo se não te deixares preocupar.

Não esperes resultados imediatos da meditação. Eles, às vezes custam a se manifestar. São um desafio à tua diligência. Aceita o desafio, e prossegue com alegria e com confiança no progresso, que acabarás por conseguir. Ele virá fatalmente. Tem fé em ti mesmo.

Se meditares sobre um tema, sentirás súbito desejo de meditar em outro, não te preocupes. Medita sobre o novo tema. Depois, noutra ocasião, retorna ao tema primitivo. Lembra-te que vencerás por persistência e não por oposição ao mental. Faze o que tens de fazer, e não te preocupes com o que suceda em contrário. Lembra-te que o que vale são as positividades ganhas e não as negatividades vencidas.

Sempre sê pontual em tuas meditações. Não as abandones nunca. Cada dia que deixas de fazer uma meditação, perdes dois. Aproveita todos os instantes para pôr o máximo de atenção no que fazes. Ajudarás, assim, a atenção às ideias.

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Para ajudar a tua meditação noturna, evita os alimentos fortes ao jantar. Faze uma refeição frugal, se possível, ou pelo menos a mais leve que puderes.

Não percas tempo em discussões inúteis, sobretudo com fanáticos. O esforço, que mal gastas nessas discussões, aproveita-o para estudar, para meditar, para analisar bons temas.

Se fizeres tua meditação na presença de outros, convém que sejam pessoas que não perturbam a tua atividade interior. É preferível, porém, que as faças sempre sozinho.

Procura sempre julgar os outros com justiça. Não exijas de ninguém o que está além de suas possibilidades. E ao examinar os erros que outros pratiquem, procura colocar-te na situação em que eles se encontravam. Não te esqueças nunca que, quando pensas nessas situações, tu não estás nelas. Portanto, dá mais força às circunstâncias, e procura compreender os outros para ajudá-los.

Todo o bem que faças, virá para teu bem. Podes duvidar desta milenar verdade, contudo é mais verdadeira que todas as falsas filosofias que homens desesperados quiseram construir, para estender a todos o mal que eles contém dentro de si mesmos.

Reconhece que cometes erros, e medita sobre eles. Aprenderás a compreender os erros dos outros e a não exigir dos outros o impossível. Se podes fazer uma coisa que outros não podem, não sejas demasiadamente exigente para com eles. Medita sobre isto, muitas vezes.

A IMAGINAÇÃO

Concentra o mental, sempre que possas, ao ler um livro, ao ler um jornal, ao assistir um filme, ao escrever uma carta.

Imobiliza-te, e concentra toda a mente sobre o que fazes.

Lembra-te que o mental nunca descansa, nem mesmo quando dormes. Quando o sono se apossa de teu corpo, em que a tua consciência também adormece, ele continua trabalhando, ativo sempre.

Os exercícios diários de meditação dão ao mental uma força e uma direção exclusiva em teu favor. Devemos meditar sobre uma ideia sem importância, ou apenas sobre grandes ideias?

A resposta a esta pergunta é muito simples: é preferível, sempre que façamos nossos exercícios mentais, sejam eles dirigidos para grandes pensamentos positivos. No entanto, tal não impede que, em certas ocasiões, quando nos encontramos em face de pensamentos pouco agradáveis, não possamos meditar sobre eles.

No início, quando o que segue nosso curso, ainda se encontra dominado por preocupações contrárias, aconselhamos a fazer os exercícios como até agora expusemos. Tal não impedirá que, num futuro próximo, quando tenha fortalecido devidamente o mental, o corpo e o espírito, não analise tais pensamentos que outrora o preocupavam. Verá, então, quão fracos eram eles, e que a sua força estava apenas na nossa fraqueza.

Ao chegarmos a esse ponto, nossa força já terá atingido a um grau bem alto. Por isso, no início, nosso conselho é: meditação sobre temas elevados e positivos. Só posteriormente sobre quaisquer outros temas.

O que se pode fazer aqui é o seguinte: quando tenhamos que fazer algum trabalho desagradável por natureza, não devemos recuar. Não esqueçamos a força do júbilo, essa grandeza alimentadora de nossa alma e de nossa imaginação.

Por que é desagradável o serviço que temos que fazer? Porque a nossa imaginação lhe empresta as mais sombrias cores. Lembremo-nos dos estudantes de medicina, que nos primeiros anos, quando se

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veem obrigados a trabalhar no necrotério com cadáveres, sentem, de início, uma repugnância que parece invencível. Há muitos que abandonam a carreira. No entanto, os que a seguem, realizam, depois, uma obra de grande valor. E aquela repugnância desaparece e cuidam eles de nossas chagas e de nossas misérias, totalmente libertados das cores sombrias e desagradáveis que lhes emprestava a imaginação.

Cuidemos, pois, quando empreendemos algo que nos parece desagradável, em ver genuinamente a nossa tarefa. Ora, todas as coisas têm valores e desvalores. Não estaremos apenas vendo os maus e escondendo aos nossos olhos os bons? E além disso, não estaremos aumentando o aspecto desagradável, por valorizarmos os maus valores, provocando com a nossa imaginação aspectos desagradáveis não tão evidentes?

Lembro-me de uma pessoa a quem um dia lhe ofereceram uma cenoura crua para que comesse. Ao levá-la à boca, achou a coisa mais horrível e desagradável do mundo. Um caldo de cenoura seria um verdadeiro veneno. Tinha a impressão que morreria se tomasse tal coisa!

Mas, um dia, sentiu que os olhos já não viam tão bem. Para ler um jornal, precisa óculos. Consultando um médico, este aconselhou-o que comesse cenouras cruas.

- Cenouras cruas, doutor?! Mas isso é horrível! - Coma cenouras cruas...

- Mas, eu não sou lebre, doutor...

- Pois seja lebre, e coma cenouras cruas como lebre. Pois lerá jornais. - Mas é tão desagradável.

- Procure o agradável e acabará encontrando-o. Lembra que a cenoura tem tais vitaminas, etc. O nosso amigo começou a comer cenouras cruas. Já estava convencido que eram úteis. O gosto esquisito acabou por tornar-se agradável. Hoje, na sua casa, pode até faltar manteiga, mas cenouras raladas não faltam. E o melhor é que lê jornais sem óculos.

Muitas das coisas desagradáveis são como as cenouras cruas. Depois de comidas, acompanhadas da convicção de que são úteis e necessárias, nossa imaginação começa a cobrir nela os bons valores.

Pode-se ainda duvidar do valor da imaginação?

Mas se nos perguntassem: podemos dirigir a nossa imaginação?

Só uma resposta cabe aqui: podemos. E como é este um tema de tal importância para a integração de uma personalidade e para o domínio do mental, merece eles estudos especiais.

Podemos fazer exercícios para dominar a nossa imaginação?

Sim, podemos. E são eles de uma importância tal que sem o bom domínio deles, não seremos senhores do nosso mental.

Comecemos, portanto, por parte, degrau a degrau.

Se um trabalho desagradável ou uma ideia sem interesse recebe de nós a atenção do nosso mental, aos poucos verificaremos que a força do mesmo tende a aumentar, e diminuem as nossas fraquezas mentais,

Sabemos que a força de um estímulo exterior está na proporção da atenção que lhe prestamos. Se atendemos para algo, captamos melhor e mais nitidamente o que nos era confuso.

Uma imaginação quimérica, fantasista, desorientada, só pode dar-se num mental fraco, nunca num mental forte.

Portanto, o caminho do domínio da imaginação só pode ser aquele que começa pelo domínio do mental.

Vamos oferecer um pequeno exercício de grande valor.

Quando sentirmos uma pequena dor numa parte do corpo ou mesmo um prurido qualquer, não os atendamos. Procuremos desviar nossa atenção para outras coisas. Perceberemos que a dor ou o prurido diminuirão. Mas, ao mesmo instante, porque estamos pensando sobre eles, tendem a aumentar.

Referências

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