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Sr. Alexandre Mac Laren. Bunge Alimentos S.A. Rodovia Jorge Lacerda, km 20 Gaspar SC. 12 de dezembro de Prezados Senhores:

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Bunge Alimentos S.A.

Rodovia Jorge Lacerda, km 20 Gaspar – SC

12 de dezembro de 2007

Prezados Senhores:

Atendendo à solicitação de V.Sas., tecemos a seguir nossos comentários acerca dos principais aspectos fiscais relacionados com a forma de contratação que as Usinas de Açúcar e Álcool do Grupo Bunge (Usina) praticam com os proprietários de áreas rurais.

1 Dos fatos e premissas

Consoante fomos informados e com base em modelos de contratos que nos foram disponibilizados por V.Sas., verificamos que atualmente a contratação das áreas rurais necessárias ao plantio da cana-de-açúcar é efetuada pela Usina por meio de “Instrumento Particular de Parceria Agrícola”, donde a Usina atua como parceiro-agricultor e o dono de terra nua como parceiro-proprietário, que tem como objeto o seguinte:

“1.2. Pretende o PARCEIRO PROPRIETÁRIO ceder uma parte da área aproveitável do imóvel acima referido, como efetivamente o faz através deste instrumento, que se encontra livre e desocupado de pessoas e coisas, para exploração agrícola em regime de parceria rural de forma exclusiva pelo PARCEIRO AGRICULTOR, razão pela qual lhe entrega neste ato a posse direta de uma área estimada de 68,00,00 há. (sessenta e oito hectares) de terras. A área em questão será entregue no estado em que se encontra, incumbindo ao PARCEIRO AGRICULTOR, e as suas expensas, a remoção de cercas internas existentes e a colocação dos materiais resultantes a disposição do PARCEIRO PROPRIETÁRIO, em local por este determinado.

1.3. O regime de parceria agrícola objeto do presente instrumento visa a desenvolver a atividade específica de plantio, cultivo e colheita de cana-de-açúcar, eis que o PARCEIRO AGRICULTOR detém tecnologia, equipamentos, maquinários e mão-de-obra necessários à eficiente exploração extensiva da cultura canavieira. Serão

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permitidas na referida área, culturas intercalares de feijão, arroz, milho, soja e demais culturas similares.”

No que se refere à forma de participação de cada parceiro no resultado da safra, o referido instrumento prevê em sua cláusula terceira o que segue:

“3.1 - Caberá ao PARCEIRO AGRICULTOR as épocas da colheita da lavoura, sendo que a mesma ocorrerá mediante analise prévia e após o amadurecimento dos frutos, a participação de cada parte será apurada ao final de cada safra, e o “quantum” líquido cabente a cada contratante será distribuído conforme partilha nas proporções e condições seguintes:

3.1.1 – Da produção anual obtida no imóvel cedido em parceira, o PARCEIRO PROPRIETÁRIO receberá, deduzido os impostos e taxas estabelecidos pelo(s) órgão(s) governamentais, os percentuais: 13% (treze por cento) nas safras correspondentes nos itens 2.1.

3.1.2 - Da produção anual obtida no imóvel cedido em parceira, o PARCEIRO AGRICULTOR receberá, deduzido os impostos e taxas estabelecidos pelo(s) órgão(s) governamentais, os percentuais: 87% (oitenta e sete por cento) nas safras correspondentes nos itens 2.1.”

No entanto, segundo fomos informados, na maioria dos casos a Usina e os parceiros-proprietários firmam um aditivo ao “Instrumento Particular de Parceria Agrícola”, alterando toda a referida cláusula terceira, que passa a ter a seguinte redação:

“3.1. Pela utilização da área objeto da presente parceria o PARCEIRO AGRICULTOR pagará ao PARCEIRO PROPRIETÁRIO o valor correspondente a 10,00 toneladas (a negociar) de cana-de-açúcar por hectare/ano safra. As referidas quantidades serão convertidas em reais, com base no Índice de ATR de 109,19 kg por tonelada de cana e no Valor de ATR-Consecana médio da safra, deduzido do Funrural (2,3%) e posta na esteira da Usina.

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Fórmula de cálculo:

VRHA: Valor a Receber por Hectare - Ano safra, descontando-se o Funrural (2,3%) IATR: Índice de ATR = 109,19 Kg de ATR

VATRC: Valor ATR Consecana médio da safra (abril-março) QTC: Quantidade de Tonelada de Cana

VRA = IATR X QTC X VATRC – Funrural

VRHA = (109,19 X 10 tc X 0,2465) – 2,3% = R$ 262,96 / hectare

PARÁGRAFO PRIMEIRO: Para suportar as necessidades de recursos financeiros do PARCEIRO PROPRIETÁRIO durante o período de plantio, o PARCEIRO

AGRICULTOR fará adiantamentos [mensais ou anuais], correspondente a 80% do VRHA (Valor a Receber por Hectare - Ano safra), do dia do contrato. Exemplo: R$ 210,37/há (R$ 262,96 X 80%)

PARÁGRAFO SEGUNDO: Por ocasião da colheita, o PARCEIRO PROPRIETÁRIO com base no produto da venda da parcela de produção a que tem direito,

correspondente a 10 (negociar) toneladas de cana-de-açúcar por hectare, promoverá a amortização dos adiantamentos efetuados pelo PARCEIRO AGRICULTOR, de acordo com o Parágrafo Primeiro.

PARAGRAFO TERCEIRO: Os adiantamentos e pagamentos residuais, serão efetuado diretamente ao PARCEIRO PROPRIETÁRIO através de depósitos bancários realizados em conta de sua titularidade ou a quem este determinar

devendo tal ato ser por escrito, valendo o comprovante de depósito como único título de quitação, ficando dispensada a assinatura em recibos de pagamentos.”

Em face do acima exposto, é que V.Sas. nos questionam acerca das implicações fiscais que poderiam advir na hipótese dos referidos contratos serem caracterizados como de

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2 Nossos comentários

2.1 Breves comentários acerca dos conceitos legais de parceria e arrendamento rural Os contratos de parceria e arrendamento rural foram originalmente previstos pela Lei n° 4.504, de 30 de novembro de 1964 (Estatuto da Terra) e, posteriormente, tais institutos foram regulamentados pelo Decreto n° 59.566, de 14 de novembro de 1966.

Recentemente, a Lei n° 11.443, de 05 de janeiro de 2007, alterou as disposições da Lei n° 4.504/64, buscando adequar e modernizar referidos institutos à realidade econômica e prática das operações rurais atualmente existentes no país.

Entre as principais modificações introduzidas pela Lei n° 11.443/07, mister se faz mencionar a alteração da redação do inciso VI do artigo 96 da Lei n° 4.504/64, determinando novos percentuais de participação do proprietário da área rural nos frutos da parceria, consoante abaixo demonstrada:

“Art. 96. Na parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e extrativa, observar-se-ão os seguintes princípios:

(...)

VI - na participação dos frutos da parceria, a quota do proprietário não poderá ser superior a:

a) 20% (vinte por cento), quando concorrer apenas com a terra nua; b) 25% (vinte e cinco por cento), quando concorrer com a terra preparada; c) 30% (trinta por cento), quando concorrer com a terra preparada e moradia; d) 40% (quarenta por cento), caso concorra com o conjunto básico de benfeitorias, constituído especialmente de casa de moradia, galpões, banheiro para gado, cercas, valas ou currais, conforme o caso;

e) 50% (cinqüenta por cento), caso concorra com a terra preparada e o conjunto básico de benfeitorias enumeradas na alínea d deste inciso e mais o fornecimento de máquinas e implementos agrícolas, para atender aos tratos culturais, bem como as sementes e animais de tração, e, no caso de parceria pecuária, com animais de cria em proporção superior a 50% (cinqüenta por cento) do número total de cabeças objeto de parceria;

f) 75% (setenta e cinco por cento), nas zonas de pecuária ultra-extensiva em que forem os animais de cria em proporção superior a 25% (vinte e cinco por cento) do rebanho e onde se adotarem a meação do leite e a comissão mínima de 5% (cinco por cento) por animal vendido;

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g) nos casos não previstos nas alíneas anteriores, a quota adicional do proprietário será fixada com base em percentagem máxima de dez por cento do valor das benfeitorias ou dos bens postos à disposição do parceiro;

(...)”

Comparando a redação anterior com a redação atual do artigo supra transcrito, verifica-se que a Lei n° 11.443/07 majorou os percentuais anteriormente previstos pela Lei n° 4.504/64, possibilitando que os proprietário de áreas rurais firmem contratos de parceria com uma participação maior nos lucros decorrentes da operação, coadunando, desta forma, a rentabilidade do proprietário rural ao atual custo da área explorada (terra).

Adicionalmente, a Lei 11.443/07 incluiu o parágrafo 1° ao artigo 96, da Lei n° 4.504/64, prevendo que parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou não, o uso específico de imóvel rural, de parte ou de partes dele, incluindo, ou não, benfeitorias, outros bens e/ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa vegetal ou mista; e/ou lhe entrega animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de matéria-prima de origem animal, mediante partilha isolada ou cumulativa dos seguintes riscos:

(i) de caso fortuito ou de força maior, do empreendimento rural;

(ii) dos frutos, dos produtos ou dos lucros havidos, nas proporções que estipularem, observados os limites percentuais estabelecidos pelo Estatuto;

(iii) variações de preço dos frutos obtidos na exploração do empreendimento rural. Consoante depreende-se do conceito de parceria rural introduzido pela Lei n° 11.443/07, esta consiste na comunhão de esforços para a exploração da atividade agrícola, dividindo-se os frutos produzidos e os custos incorridos, sendo necessário que o parceiro-proprietário partilhe ao menos do risco de variação de preço dos frutos obtidos com a exploração do empreendimento rural objeto do contrato firmado entre as partes.

A previsão de partilha isolada ou cumulativa de riscos da operação de parceria é uma novidade trazida pela Lei n° 11.443/07. Anteriormente, o conceito de parceria previsto pelo Decreto n° 59.566/66, estabelecia a partilha cumulativa de riscos de caso fortuito e força maior e dos lucros, produtos ou frutos decorrentes do empreendimento rural.

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Outro aspecto introduzido pela Lei n° 11.443/07, e que, consoante observamos, é adotado nos modelos de contrato de parceria que nos foram disponibilizados por V.Sas., é a

prefixação em preço ou volume do montante da participação do proprietário da área rural. De acordo com o parágrafo 2° do artigo 96 da referida lei, a prefixação em preço ou volume pode ser adotada, desde que ao final do contrato o percentual de participação do proprietário na parceria rural seja reajustado de acordo com a produção gerada pela exploração da área contratada.

Salientamos que tal aspecto deve ser observado com bastante cautela quando da contratação da parceria rural, visando evitar que ao final do contrato o reajustamento do percentual de participação do proprietário extrapole os limites previstos pelo inciso VI do artigo 96, já anteriormente mencionado. Nesse sentido, acreditamos que um estudo preliminar e detalhado da produtividade do fundo agrícola, poderia minimizar eventual possibilidade de que ao final da produção, o percentual de participação do proprietário ultrapasse os limites previstos pela legislação.

Diferentemente da parceria rural o arrendamento rural, segundo o artigo 3° do Decreto n° 59.566/66, é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, mediante, certa

retribuição ou aluguel, observados os limites percentuais da Lei.

Conforme pode-se verificar, o arrendamento rural não vincula a remuneração do proprietário da área rural com o resultado obtido pelo arrendatário quando do uso e fruição da área arrendada. Assim, a remuneração auferida pelo arrendador é líquida e certa e o arrendatário assume todos os riscos inerentes à atividade rural.

2.2 Dos aspectos fiscais relacionados aos contratos de arrendamento e parceria rural Consoante pode-se depreender do tópico anterior, a principal diferença entre os contratos de parceria e arrendamento rural é que no primeiro há uma assunção de riscos pelo proprietário da terra, os quais podem sujeitar uma certa variabilidade na remuneração que este receberá pela cessão de sua propriedade. Já no segundo, ocorre apenas uma remuneração fixa pelo uso de uma propriedade rural (arrendamento/aluguel).

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Portanto, em decorrência desta assunção de pelo menos um dos riscos anteriormente referidos, existe uma diferença de tratamento fiscal a ser dado sobre o rendimento do

proprietário da área rural, no caso deste efetuar a parceria, visto que nesta hipótese figura-se como efetivo produtor rural. Já na hipótese do arrendamento, o proprietário da área rural caracterizasse como arrendatário (locatário).

Partindo da premissa que os proprietários das áreas rurais são normalmente pessoas físicas, tem-se que nos contratos de arrendamento, em que a parcela a ser paga para o parceiro-proprietário é fixa, a tributação deve ser efetuada na declaração de ajuste anual da pessoa física, nos termos do inciso I e II, do artigo 49 do Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99. Vejamos:

“Art. 49 - São tributáveis os rendimentos decorrentes da ocupação, uso ou exploração de bens corpóreos, tais como (Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 3°, Lei n° 4.506, de 1964, art. 21, e Lei n° 7.713, de 1988, art. 3°, § 4°):

I - aforamento, locação ou sublocação, arrendamento ou subarrendamento, direito de uso ou passagem de terrenos, seus acrescidos e benfeitorias, inclusive construções de qualquer natureza;

II - locação ou sublocação, arrendamento ou subarrendamento de pastos naturais ou artificiais, ou campos de invernada; (...)”

Adicionalmente, existe a necessidade de que a pessoa jurídica que arrendar a terra efetue a retenção do imposto de renda, consoante disposto no artigo 631 do RIR/99. Confira-se:

“Art. 631 - Estão sujeitos à incidência do imposto na fonte, calculado na forma do art. 620, os rendimentos decorrentes de aluguéis ou royalties pagos por pessoas jurídicas a pessoas físicas (Lei n° 7.713, de 1988, art. 7°, inciso II).”

Assim, a integralidade dos valores recebidos pelo proprietário-cedente será considerada como rendimento tributável pelo Imposto de Renda, sujeito à alíquota prevista pela tabela progressiva do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF).

Por outro lado, caso o contrato firmado caracterize-se efetivamente como uma parceria rural, na qual, como já dito, existe a assunção de riscos por ambas as partes contratantes, o parceiro-proprietário e o parceiro-agricultor estarão exercendo conjuntamente uma atividade rural, nos termos do artigo 59 do RIR/99, podendo o contribuinte, neste caso, optar pela tributação do resultado efetivo da atividade rural, deduzindo as despesas e custos relacionados, ou, em não havendo despesas a deduzir, alternativamente pela tributação

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simplificada, a qual prevê uma presunção da base de cálculo em 20% da receita bruta auferida com a atividade, consoante previsto pelo artigo 5° da Lei n° 8.023, de 12 de abril de 1990.

“Art. 5º A opção do contribuinte, pessoa física, na composição da base de cálculo, o resultado da atividade rural, quando positivo, limitar-se-á a vinte por cento da receita bruta no ano-base.”

Sobre o resultado apurado pelo regime de caixa ou pela base de cálculo presumida, aplicar-se-á as alíquotas da tabela progressiva do IRPF.

Face ao exposto, sob o ponto de vista prático, tem-se que se o contrato de parceria for descaracterizado, a diferença de tributação, por ser extremamente relevante, poderia ser exigida pelas autoridades fiscais, visto que o valor que foi tributado numa base presumida por tratar-se de atividade rural (exemplo: 1.000 x 20% x tabela progressiva do IRPF), como ocorre em boa parte dos casos, passaria a ser tributado integralmente como arrendamento rural (R$ 1.000 x tabela progressiva do IRPF), sujeito, inclusive, à retenção prévia do imposto.

Por fim, devemos destacar que, em uma medida de extremo rigor das autoridades fiscais, a eventual descaracterização da operação de parceria rural poderia sujeitar que a Usina fosse responsável pelo recolhimento do Imposto de Renda devido e não retido do

parceiro-proprietário, devendo, inclusive, efetuar o reajustamento da base de cálculo como se o valor pago estive líquido do imposto.

Ao tratar da possibilidade de transferência da responsabilidade pelo recolhimento do imposto sobre a renda, assim dispõe o Código Tributário Nacional, no art. 45, verbis:

Art. 45. Contribuinte do imposto é o titular da disponibilidade a que se refere o art. 43, sem prejuízo de atribuir a lei essa condição ao possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de renda ou dos proventos tributáveis.

Parágrafo único. A lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos proventos tributáveis a condição de responsável pelo imposto cuja retenção e

recolhimento lhe caibam" (grifos nossos).

Isto posto, verifica-se que o contribuinte é quem aufere renda ou proventos, quem possui sua disponibilidade econômica. No entanto, o parágrafo único do artigo supra autorizou,

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responsável pelo imposto, a título de substituto tributário, segundo a melhor interpretação, também, da norma insculpida no art. 121, parágrafo único, II, do CTN, assim redigido:

"Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.

Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:

I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador;

II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei" (grifos nossos).

O sujeito passivo definido no inciso II deste dispositivo é uma terceira pessoa em relação ao fato gerador, mas que possui o dever jurídico de pagar ou recolher o tributo, nos termos da lei que assim determinar. Desta forma, permite a legislação a substituição do contribuinte do imposto de renda pela fonte pagadora, que será, então, a responsável pelo pagamento do tributo.

Nesse sentido, transcrevemos, a seguir, trecho de decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) que trata da responsabilidade do substituto tributário pela não retenção e recolhimento do Imposto de Renda:

“EMENTA: TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. AUSÊNCIA DE

RETENÇÃO NA FONTE. SUBSTITUIÇÃO LEGAL TRIBUTÁRIA. FONTE PAGADORA.

A obrigação tributária nasce, por efeito da incidência da norma jurídica, originária e diretamente, contra o contribuinte ou contra o substituto legal tributário; a sujeição passiva é de um ou de outro, e, quando escolhido o substituto legal tributário, só ele, ninguém mais, está obrigado a pagar o tributo.

O substituto tributário do imposto de renda de pessoa física responde pelo pagamento do tributo, caso não tenha feito a retenção na fonte e o recolhimento devido.

Recurso especial de Antônio Boabaid provido e recurso da Fazenda Nacional que se julgou prejudicado.” (Resp n° 309.913-SC, Segunda Turma,Ministro Paulo Medina, DJ -1/07/2002)

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2.3 Da possibilidade de descaracterização dos contratos de parceria

Considerando a diferença de tributação acima demonstrada, bem como a dicotomia

conceitual (arrendamento x parceria) prevista na legislação específica, não podemos deixar de considerar, de antemão, a possibilidade das autoridades fiscais descaracterizarem operações contratadas como parceria rural, a fim de tributá-las como operações de arrendamento rural.

Vale destacar, no entanto, que a possibilidade de descaracterização dos contratos de parceria rural restava mais evidente até a introdução da Lei n° 11.443/07. Consoante já mencionado no tópico 2.1,o conceito de parceria previsto pelo Decreto n° 59.566/66

determinava a partilha cumulativa dos riscos inerentes ao negócio praticado entre as partes, o que gerava uma série de discussões em relação à real assunção de riscos e a efetiva caracterização da parceria rural.

Em decorrência do dispositivo anteriormente em vigor, diversos foram os posicionamentos das autoridades fiscais e também dos órgãos julgadores acerca da matéria, conforme abaixo explicitado.

A Secretaria da Receita Federal (SRF) ao responder a Pergunta n° 193, relativa ao

Perguntas e Respostas da Declaração do Imposto de Renda das Pessoas Físicas do ano-calendário de 2006, assim se posicionou:

“193 — Os rendimentos oriundos de contrato de arrendamento de imóvel rural são tributáveis?

Os rendimentos provenientes de arrendamento de imóvel rural, ainda que o contrato celebrado refira-se a parceria rural, se o cedente perceber quantia fixa sem partilhar os riscos do negócio, que é da essência do contrato de parceria rural, estão sujeitos ao imposto de renda. Estes rendimentos são tributados, como rendimentos

equiparados a aluguéis, por meio do recolhimento mensal (carnê-leão), se recebidos de pessoa física ou, na fonte, se pagos por pessoa jurídica e na declaração de ajuste. Quando o contrato celebrado referir-se a parceria rural e o cedente não receber quantia fixa e participar dos riscos do negócio, a tributação desses rendimentos é efetuada como atividade rural.

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Na mesma esteira de entendimento, o Conselho de Contribuintes ao julgar auto de infração relacionado ao tema, proferiu a seguinte decisão:

“IRPF - PARCERIA RURAL - DESCARACTERIZAÇÃO - ARRENDAMENTO SOB A FORMA DE PARCERIA RURAL - O contrato de parceria rural tem os requisitos caracterizadores de sua natureza jurídica estabelecidos no Código Civil Brasileiro e no Estatuto da Terra, sendo que a formalização do contrato, por escrito e registrado em cartório, é condição imprescindível para que se admita, para efeitos tributários, a existência de parceria de produção. No caso, o contrato celebrado entre as partes tem todas as características de arrendamento rural, sendo irrelevante a denominação que lhe foi dada, já que a falta do cumprimento do percentual de retribuição de produto a título de participação do outorgante, implicou a eliminação dos riscos de caso fortuito e da força maior, elementos que não podem ser dissociados do contrato de parceria. Assim, a descaracterização do contrato de parceria rural em decorrência de suas cláusulas e, principalmente, a inexistência de risco para o outorgante resulta em tributação dos rendimentos obtidos como resultantes de arrendamento rural.” (Ac. 104-17174, 4ª Câmara, sessão de 20/08/1999)

Especificamente em relação à operação com cana de açúcar, a antiga Câmara Superior de Recursos Fiscais previu o seguinte:

“CONTRATO DE ARRENDAMENTO AGRÍCOLA – O contrato agrário em que uma pessoa se obriga a ceder a outra, por prazo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural com o objetivo de nele ser exercida atividade agrícola (plantio de cana), mediante retribuição prefixada e periódica equivalente a 45 toneladas do produto, por alqueire, haja ou não produção, deve ser considerado como contrato de

arrendamento, e não de parceria agrícola, por inexistir qualquer risco para o parceiro outorgante (Acórdão CSRF/01.0.186, de 21/11/81, da CSRF – Jurisprudência

Administrativa – Livro 1.2-12, pág. 3257 – Resenha Tributária)”.

Consoante se depreende dos posicionamentos acima mencionados, verifica-se que quando da vigência da Lei n° 4.504/64, sem as alterações da Lei n° 11.443/07, e do Decreto n° 59.566/66, o posicionamento jurisprudencial era no sentido de que não havendo efetiva partilha de riscos, não havia o que se falar em parceria rural.

Ressaltamos, por fim, que não encontramos em nossas pesquisas novas decisões acerca da matéria, bem como pronunciamentos da Secretaria da Receita Federal, após a entrada em vigor da Lei n° 11.443/07.

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2.4 Da hipótese de amenizar os riscos envolvidos na operação

Mesmo considerando todo o acima exposto, acreditamos existirem procedimentos a serem adotados para evitar que os contratos firmados nos moldes mencionados no item 1 da presente carta, sejam, eventualmente, caracterizados como contratos de arrendamento rural. Para tanto, consideramos que as alterações introduzidas pela Lei n° 11.443/07, mais

precisamente a redação do § 1° do artigo 96, já transcrito anteriormente, possibilitou que os contratos de parceria fossem firmados tendo como partilha de risco somente a variação de preço dos produtos cultivados na área rural objeto do referido contrato.

Assim, poder-se-ia formalizar contratualmente que independentemente do resultado do empreendimento rural específico do contrato, o parceiro-proprietário poderia assumir

exclusivamente o risco da variação de preço e receber integralmente o valor acordado, pois, caso contrário, estar-se-ia assumindo cumulativamente os riscos de caso fortuito e força maior e, também, dos produtos e dos lucros do empreendimento, sendo que a lei permite expressamente que haja a assunção isolada de apenas um dos referidos riscos, no caso específico poderia ser a variação de preço, desde que observados os percentuais de participação do parceiro proprietário previstos na legislação.

Portanto, numa hipótese extrema de não haver a geração de quaisquer frutos no

empreendimento, por qualquer razão, para que o parceiro-proprietário apenas assuma o risco do preço do produto, o parceiro-agricultor deve remunerar o parceiro-proprietário conforme estabelecido no contrato e permitido em lei.

Assim, considerando a possibilidade de que os contratos de parceria sejam firmados tendo como risco exclusivo a variação de preço dos produtos objeto do referido contrato,

acreditamos que a formatação dos contratos de parceria atualmente utilizados por V.Sas. poderia ser ajustada, visando evitar a prática da adoção do aditivo contratual para alterar a forma de remuneração do parceiro-proprietário.

Com as alterações da Lei n° 11.443/07, os contratos firmados por V.Sas. deveriam prever expressamente que ao parceiro-proprietário cabe exclusivamente o risco de variação de preço durante o prazo de pagamento estabelecido entre as partes, devendo os referidos pagamentos serem ajustados regularmente de acordo com a variação dos preços.

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Independentemente da formatação que será adotada para formalizar o contrato de parceria e, consequentemente, a assunção do risco de preço pelo parceiro proprietário, reiteramos a importância de se observar e respeitar os percentuais limítrofes para participação do parceiro proprietário no contrato de parceria, consoante previsto pelo inciso VI do artigo 96 da Lei n° 4.504/64, alterado pela Lei n° 11.443/07. A não observância destes percentuais pode descaracterizar a parceria rural.

Destacamos, também, que é de suma importância que a escrita fiscal e contábil reflita que os pagamentos efetuados ao proprietário da área rural ocorrem na forma estabelecida no contrato e na legislação aplicável à parceria rural, a fim de que não se configure que estes porventura teriam ocorrido essencialmente como arrendamento rural.

Por fim, vale mencionar que a Lei de Registros Públicos estabelece que o contrato de parceria rural deve ser transcrito no Registro de Títulos e Documentos, nos termos do artigo 127, inciso V, da Lei 6.015/73.

3 Limitações do trabalho

Cumpre-nos ressaltar que estamos emitindo a presente carta na qualidade de contadores e consultores tributários. Assim, nossa opinião sobre os temas ora analisados está suportada, exclusivamente, em pesquisas à legislação e jurisprudência pertinentes à matéria objeto dos nossos trabalhos e em informações recebidas de V.Sas.

Apresentamos nossas conclusões com base em nosso entendimento sobre a melhor interpretação do Estatuto da Terra. Contudo, tendo em vista que as disposições sobre a parceria agrícola foram substancialmente modificadas pela recente Lei 11.443/07, não temos como assegurar que esse será o entendimento que prevalecerá em decisões administrativas e/ou judiciais.

Ressaltamos que os temas aqui tratados versam sobre a interpretação de dispositivos legais complexos e cujos critérios de aplicação não se encontram pacificados; portanto, não

descartamos a possibilidade de entendimentos diversos, por parte das autoridades fiscais, assim como de nossos tribunais, acerca dos comentários reproduzidos na presente carta-relatório, razão pela qual recomendamos fortemente que, antes da tomada de decisão por parte de V.Sas. a respeito de qualquer posicionamento, o inteiro teor da presente carta seja submetido à apreciação de seus advogados

.

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Esta carta-relatório destina-se exclusivamente para uso dos administradores da Bunge Alimentos S.A. A divulgação do seu conteúdo a terceiros condiciona-se a nossa prévia e expressa aquiescência, bem como à confirmação por escrito, de que os destinatários entendem e concordam com a natureza, o escopo e a extensão dos nossos trabalhos e não utilizarão o nosso relatório para fins distintos daqueles que sejam por nós autorizados. Permanecemos à disposição de V. Sas. para quaisquer esclarecimentos adicionais julgados necessários.

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