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Frelimo tem fortes ligações com traficantes de drogas

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Director: Lourenço Jossias | Editor: Nelo Cossa |

Maputo, 18 de Maio de 2021 | SAI ÀS TERÇAS |Ano XIV | Nº 724

À porta do conclave do “glorioso”, Raúl Domingos denuncia financiamento ilícito

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Saída da Technip FMC é mau sinal

para Moçambique

“Frelimo tem fortes

ligações com

traficantes de drogas”

A lotaria

do MDM

Silvério Ronguane, José Domingos, Lutero Simango ou Luís Boavida

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MAGAZINE Independente

Terça-feira | 18 de Maio 2021

Frelimo tem fortes ligações

com traficantes de droga

Raúl Domingos denuncia financiamento ilícito do partido no poder

Em 2019, a Frelimo ainda lidava com acusações de um processo eleitoral fraudulen-to, quando, a partir de Lon-dres, foi aberta a caixa de Pandora que revelou os se-gredos das suas campanhas eleitorais.

Segundo um executivo da empresa libanesa, Jean Bous-tani, a Frelimo recebeu finan-ciamento para a sua vitoriosa campanha que levou também o seu candidato, Filipe Nyu-si, à Ponta Vermelha.

A pompa com que Filipe Nyusi, na altura um discre-to ministro da Defesa, fez-se conhecer para chegar à Presi-dência, em 2014, foi financia-da por dinheiro também pro-veniente das dívidas ocultas, segundo relatos da imprensa internacional. Fala-se de 10 milhões de dólares de finan-ciamento.

A informação consta de um documento de 157 páginas assinado pelo dono daque-la empresa naval, Iskandar Safa, submetido ao Tribunal Superior de Justiça inglês que julga o caso das dívidas ocultas de Moçambique. Iskandar Safa alega que os pagamentos foram a pedido de Armando Guebuza, então Presidente da República e da Frelimo. Estas solicitações foram feitas a Jean Boustani para que a Privinvest fizesse donativos para cobrir os cus-tos da campanha eleitoral de Nyusi e da Frelimo para as eleições gerais de 2014. Mas não foi esta a primeira vez que o financiamento da campanha da Frelimo chegou por rotas estranhas. Já antes, Mohamed Bachir Sulemane, classificado como barão de droga pelos Estados Unidos da América (EUA), foi um dos financiadores do Con-gresso da Frelimo realizado em Quelimane.

Mas há mais apoios de em-presários que vêem na asso-ciação com a Frelimo uma forma de encobrir actos

ilíci-tos e não sentir a mão dura do Estado por falha no cum-primento das obrigações fis-cais ou se beneficiar de con-cursos públicos ou ajustes directos. O apoio às campa-nhas é feito através da alo-cação de material físico, de ajuda financeira ou de expo-sições de leilão de bens va-liosos do partido ou dos seus membros.

Este panorama contribui para a falta de transparência no financiamento de parti-dos políticos, para injustiças eleitorais, assim como para a privatização do espaço polí-tico e acomodação de confli-tos político-militares.

É na esteira deste emara-nhado de tráfico de influên-cias que o antigo número dois da Renamo e actual membro do Conselho de Estado, Raúl Domingos, disse que a democracia em Moçambique está

ameaça-da. “Quando a democracia multipartidária de um país é sustentada através de fun-dos provenientes do contra-bando, lavagem de dinheiro, drogas, raptos e contratos para negócios em paraísos fiscais, deve-se afirmar que a democracia está ameaçada”, afirma. Domingos, líder do PDD, socorreu-se de relatos da imprensa internacional e de depoimentos de figuras proeminentes da Privinvest para defender que “o partido Frelimo terá recebido apoio financeiro para financiar as eleições gerais de 2014. Es-tas suspeiEs-tas adoçam outras nuances sobre o relaciona-mento do partido Frelimo com o dono do Grupo MBS, Momade Bachir Sulemane, que foi referido pela justiça americana como barão de droga”.

Acrescentou que “todos

sa-A

origem do financiamento dos partidos políticos é controversa. A Frelimo está

sem-pre à porta do escândalo. De Brooklyn, em 2019, ficamos a saber dos USD 10 mi-lhões da Privinvest. Agora, Raúl Domingos, recentemente nomeado para membro do Conselho de Estado, escancara ainda mais a ferida e revela o relacionamento e as ligações da Frelimo com barões de droga.

bemos que o dono do Gru-po MBS tem ligações com o partido Frelimo e foram várias as vezes que Momade Bachir Sulemane declarou

apoio financeiro às campa-nhas eleitorais da Frelimo”, destacando que “o crime or-ganizado está intimamente ligado ao poder e ao tráfico de drogas. Ao longo de vá-rios anos nunca se desco-briu quem são os traficantes, porque a Frelimo tem fortes ligações com o tráfico de drogas e outras formas de fi-nanciamento ilícito”. Raúl Domingos, que fala-va no Webinnar organizado pelo Instituto Eleitoral para Democracia Sustentável em África (EISA), defendeu ain-da que pouco se sabe a res-peito da origem dos fundos com que a Frelimo financia as suas actividades, por isso torna-se passível a prática de crimes contra o Estado.

“Quotização dos membros da Frelimo é pouco

significa-tiva” – Egídio Guambe

Por sua vez, o cientista polí-tico do EISA, Egídio Guam-be, que apresentou o tema “Dinheiro e política:

Propostas de transparência

no financiamento de parti-dos políticos”, referiu que o suporte da quotização dos membros da Frelimo é

pou-Neuton Langa

Egídio Guambe Empresários vêem na associação com a Frelimo uma forma de encobrir actos ilícitos

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18 de Maio 2021 | Terça-feira

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co significativo, sendo ape-nas suficiente para custear as despesas correntes.

Guambe aponta as doa-ções como a principal fonte de renda da Frelimo, mas é pouco clara devido a origem, natureza e valor doado que é pouco conhecido. É nes-se contexto que nascem os Sponsors ou políticos inves-tidores, que são as principais fontes dos partidos políticos, com a intenção de controlar a arena política para viabili-zação dos seus projectos pri-vados, propiciando a crimi-nalização do espaço público ou do Estado. “Infelizmente, este tipo de financiamento geralmente se associa a al-gum nível de criminalização, seja através do tráfico de in-fluência ou fuga ao fisco. No seu extremo, este financia-mento pode potencialmen-te contribuir para suspotencialmen-tentar conflitos militares, sob auspí-cio de apoio aos partidos po-líticos”, anotou.

Por outro lado, temos os ac-tores político-administrativos ou corretores partidários, que são membros da Frelimo que se valem dos seus cargos ad-ministrativos de entrada de receitas, como a Autoridade Tributária, o Instituto de Se-gurança Social, as autarquias e Empresas Públicas (EDM e Aeroportos). Os quadros político-administrativos bem posicionados nestes sectores aproveitam-se das suas posi-ções para servirem de actores de ponte aos corretores parti-dários, usurpando os recursos públicos para financiar acti-vidades partidárias, ao mes-mo tempo que se aproveitam para benefícios individuais, sob imaginação de protecção partidária, quase em troca de garantia de manutenção dos postos e cargos.

O exemplo mais recente é a tendência observável, nos últimos dias, de processos--crime contra as autoridades municipais, e não só.

Guambe apontou algu-mas propostas de reforço da transparência ao finan-ciamento partidário, o que passaria por auditorias sis-témicas às finanças dos par-tidos políticos. Os parpar-tidos não devem funcionar como ilhas isoladas que se auto-fi-nanciam sem mecanismos de prestação de contas. “Con-trariamente ao previsto em termos legais, quase todos os partidos não publicam as suas contas para conheci-mento público, muito menos são auditadas. Instaurar um sistema coerente de auditoria financeira dos partidos polí-ticos, sobretudo em períodos próximos às eleições,

permi-tiria que não fossem vias fá-ceis de tráfico de influência ou instrumentalização de in-teresses adversos”, observou, indicando a necessidade de se mapear os interesses dos fi-nanciadores dos partidos po-líticos e potenciais efeitos ne-gativos sob gestão do Estado. “Não só deve ser conheci-da a fonte de financiamento como também é importan-te mapear os inimportan-teresses por detrás dos financiadores. Há um risco considerável de cap-tura do espaço político pelos grupos económicos e seus in-teresses subjacentes”, decla-rou.

Guambe defende que deve--se reforçar os mecanismos de controlo do cumprimento dos indicadores de transparência de fundos dos partidos polí-ticos. “A experiência mostra que, apesar de existirem al-guns mecanismos de garantia de monitoria de financiamen-to, o cumprimento continua aquém dos princípios de uma boa gestão e níveis de trans-parência devidamente alinha-dos com as boas práticas in-ternacionais”, argumentou.

“Estou empenhado na orga-nização do Comité Central”

– Roque Silva

Como mandam as regras do jornalismo, buscamos o con-traditório. O MAGAZINE

convidou o Secretário-geral da Frelimo, Roque Silva, para reagir às acusações de Raúl Domingos, tendo res-pondido que “eu não gostaria de falar desse assunto ao te-lefone”.

Insistimos mostrando dis-ponibilidade de ir ao seu encontro, mas Roque Silva argumentou que estava em-penhado na organização da IV Sessão do Comité Cen-tral, que se realiza no próxi-mo fim-de-semana, 22 e 23 de Maio. “Quando eu tiver vagar será informado”, sen-tenciou.

O Tribunal de Grande Ins-tância de Kinshasa, na Re-publica Democrática do Congo (RDCongo), conde-nou à morte 29 dos 41 réus implicados em confrontos com a Polícia na semana passada, à margem do fim do Ramadão, segundo noti-cia Angola Press.

Os condenados foram con-siderados culpados de cons-piração criminosa, rebelião, agressão e tentativa de ho-micídio.

Mas o Tribunal declarou-se incompetente para julgar quatro outros réus por se-rem menores de idade, en-quanto outros cinco foram absolvidos.

Na quinta-feira passa-da, dois campos rivais da Comunidade Islâmica do Congo (COMICO) defron-taram-se no Estádio dos

Mártires, por ocasião da celebração do fim do Rama-dão.

Segundo fontes oficiais, 46 polícias ficaram feridos, dos quais oito em estado grave e um em terapia intensiva. Onze veículos de interven-ção policial foram seriamen-te danificados, um dos quais totalmente carbonizado. Por outro lado, quatro civis ficaram feridos, incluindo uma mulher de 81 anos que morreu devido aos ferimen-tos no hospital.

As mesmas fontes explicam que este é um conflito de li-derança contínuo entre duas alas da COMICO.

Apesar do envolvimento do governador da cidade de Kinshasa, na véspera da celebração do fim do Rama-dão, os dois campos não al-cançaram um acordo.

Vinte e nove pessoas condenadas

a pena de morte na RDCongo

Nem mesmo a recente nomeação ao Conselho de Estado silencia Raúl Domingos

Roque Silva

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Terça-feira | 18 de Maio 2021

Universidades devem ensinar aos estudantes a pensar por si próprios

Defende o sociólogo Elísio Macamo

Adiado mais uma vez debate da

Lei da Comunicação Social

O argumento dos parlamenta-res para o adiamento do debate desta matéria prende-se com o facto de permitir o alargamen-to do debate à escala nacional e colher mais consensos pelos diversos grupos de interesse, nomeadamente a classe dos profissionais da comunicação social e as diversas ordens profissionais.

Segundo Sérgio Pantie, chefe da bancada parlamentar da Frelimo, um dos pressupos-tos fundamentais do debate é que a reforma da lei em ne-nhum momento deve colocar em causa as conquistas do povo moçambicano do direi-to de ser informado e forma-do com verdade, patriotismo que garantem a coesão e uni-dade da pátria.

“Auguramos que os debates que serão feitos em torno destas matérias garantam uma adequação das propos-tas à realidade moçambica-na, respondendo aos desafios que se colocam ao País”, frisou Pantie durante o

en-cerramento da III Sessão Or-dinária do Parlamento mo-çambicano.

De acordo com a proposta do Governo, os órgãos de comu-nicação social podem ser con-denados por difamação sem que haja prova da verdade dos factos se o ofendido for o Presidente da República ou

um chefe de Estado estran-geiro ou seu representante. Os órgãos de comunicação social que tenham, num perío-do de cinco anos consecutivos, três condenações por crime de difamação ou injúria, corre-riam futuramente o risco de ser suspensos por até um mês, no caso de um diário.

M

ais uma vez, a Assembleia da República (AR) encerrou a sessão com o adiamento do debate da Lei da Comunicação Social e Radiodi-fusão, um instrumento que está na AR há mais de 10 anos. Mas o instrumento sobre regalias para os funcionários parlamentares não teve o mesmo azar.

Esta proposta, ora adiado o seu debate, não foi ao todo consensual, tendo dividido as três bancadas, com o MDM a considerar que a proposta inviabiliza um dos grandes

ganhos da democracia moçam-bicana, mais concretamente a liberdade de imprensa.

Fernando Bismarque, deputa-do e porta-voz deputa-do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), considera ainda que o impedimento de transmis-são de canais internacionais no nosso território é um

retroces-so muito grande e demonstra que há uma patrulha ideológi-ca e ideológi-captura da imprensa na-cional, e isto é um perigo para a democracia.

Recorde-se que sobre este as-sunto, Ernesto Nhanale, direc-tor executivo do Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA), em Moçam-bique, garantira que fizeram um dossier à parte sobre as emissões internacionais. “Nós fizemos dois pareceres, um para a Lei da Comuni-cação Social em geral e tam-bém a questão da Lei da Ra-diodifusão. Penso que todos nós, como actores, temos que levantar esses aspectos que devem ter uma análise mais aprofundada. A Assembleia da República convidou-nos a comentar esses detalhes e há vários aspectos que configu-ram uma limitação à liberda-de liberda-de imprensa”, assegurou. O MISA - Moçambique con-sidera “inconstitucionais” vá-rios artigos das propostas de lei sobre comunicação social. O responsável do MISA - Moçambique acrescenta que “há vários aspectos discutí-veis” nas novas leis, nomea-damente quanto à “atribui-ção da carteira profissional, criação da entidade regula-dora, e esta questão da ra-diodifusão”.

Elísio Muchanga

O sociólogo e académico Elí-sio Macamo defende a necessi-dade das universinecessi-dades não se limitarem a transmitir conhe-cimento ou habilidades técni-cas, mas também a ensinar aos estudantes a pensarem por si próprios, dotando-os, para tal, da capacidade teórica, concei-tual e metodológica de interpe-lação crítica da realidade. Para Elísio Macamo, o ensi-no superior em Moçambique deve ser concebido não como a produção de soluções práticas para os problemas de desen-volvimento, mas como um es-paço onde se cultiva o hábito e a postura de abordagem do mundo como um mistério a ser desvendado.

“Isso pressupõe a resistência à ideia de que os problemas já são conhecidos. Pessoas que pensam por si próprias são

in-dispensáveis à sociedade, e as universidades comprometidas com esse desiderato são abso-lutamente necessárias”, disse o académico, que foi um dos oradores da segunda sessão do ciclo de palestras alusivo aos 25 anos da Universidade Politéc-nica, que decorreu recentemen-te, em formato híbrido.

O ciclo de palestras teve como lema “Celebrar a Universidade, Perspectivar o Ensino Supe-rior no Século XXI”, e visava reflectir sobre a mobilidade e internacionalização em tempos de pandemia.

A propósito, a académica Hi-lária Matavele apontou a falta de normas específicas nas insti-tuições de ensino superior como um dos principais “entraves” à mobilidade académica. “Temos instrumentos normativos (lei, regulamentos, entre outros)

mas faltam normas de opera-cionalização. Há disparidades, por exemplo, nas unidades de crédito, há pessoas que fazem a mobilidade e quando regressam (à instituição ou ao País) não conseguem ter transferidas as aprendizagens”.

Por isso, “é necessário melhorar e harmonizar o entendimento

dos processos e conceitos, criar condições para a implementa-ção em termos de capacidade, dar atenção às normas, princi-palmente as que dizem respeito às instituições, criar uma visão estratégica e reforçar as po-líticas nacionais e internacio-nais conducentes à promoção da mobilidade para que ela,

de facto, ocorra”.

Ainda sobre este tema, a se-cretária-geral da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), Cristi-na Sarmento, referiu que a pandemia está a afectar, ne-gativamente, o processo de mobilidade académica na Co-munidade dos Países de Lín-gua Portuguesa (CPLP). “Continuamos a ter a mobi-lidade, mas em formato vir-tual e híbrido. Por causa da Covid-19, os procedimentos administrativos e a emissão de vistos de viagem torna-ram-se morosos. Estamos confiantes de que o processo de mobilidade não vai ser travado e temos a expecta-tiva de que a pandemia vai abrandar, o que vai, certamen-te, facilitar a nossa movimenta-ção”, sublinhou.

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18 de Maio 2021 | Terça-feira

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Silvério Ronguane, José Domingos ou Lutero

Simango para liderar a capoeira do “Galo”

Os possíveis sucessores de Daviz Simango, na opinião de Ismael Mussá e Dércio Alfazema

Lutero Simango Luís Boavida

A reunião do Conselho Na-cional terá seis pontos de agenda, com destaque para a apreciação e aprovação do perfil dos candidatos a pre-sidente do MDM. Na magna reunião também será agen-dado o Congresso extraordi-nário para a eleição do presi-dente do partido.

O MAGAZINE conversou com o primeiro e antigo Se-cretário-geral do MDM, Is-mael Mussá, que defendeu que a base da escolha do novo presidente do MDM de-veria estar assente no slogan “Moçambique para todos”. “Isto significa que a escolha deve recair em alguém que não seja familiar dos Siman-gos, muito menos que seja al-guém da província de Sofala. Seguindo esses princípios, po-de-se eliminar o debate sobre a familiarização do partido e o facto do partido estar mui-to focado na região Centro do País, com ênfase na cida-de da Beira”, disse.

Mussá afirma que este pris-ma pode permitir que o par-tido se abra um pouco mais para o resto do País, o que seria um sinal claro de que o MDM se revê no seu slogan e os seus objectivos não estão assentes numa região de Mo-çambique.

Por outro lado, o nosso en-trevistado defende que o pre-sidente-eleito do partido deve ser um indivíduo com uma preparação técnico- científica bastante sólida para estabe-lecer uma profissionalização no MDM. “Isto é, fazer com que o MDM se torne um par-tido eficiente e com plano estratégico, por forma que o próximo presidente do parti-do não seja vitalício. Isso iria permitir que houvesse alter-nâncias políticas dentro do MDM”, aconselhou, apontan-do que o próximo presidente do partido deverá conhecer e entender a história do parti-do, devido a dinâmica políti-ca no País, de modo a definir os objectivos eleitorais para manter o partido com algu-ma vivacidade na sociedade.

O antigo Secretário-geral explica que o MDM não se deve espalhar muito nas elei-ções gerais, focando-se ape-nas ape-nas eleições autárquicas, para consolidar a sua expe-riência política, governação e reduzir todos os erros come-tidos no passado. Mas tam-bém deve ser um indivíduo capaz de aceitar um debate de reconciliação dentro do partido.

Questionado sobre os erros do passado do MDM, Mussá respondeu que “eu não que-ro apontar. Qualquer mili-tante do MDM os conhece, por isso defendo que o novo presidente do MDM deve ser alguém capaz de aceitar fa-zer um debate aberto dentro do partido, de modo a haver uma reconciliação interna com o passado, evitando-se fantasmas”.

Em relação aos possíveis candidatos levantados nas últimas semanas, nomeada-mente Luís Boavida, Lute-ro Simango, Albano Carige, José Domingos e Fernando Bismarque, o antigo Secretá-rio-geral disse que o partido deve tentar ser um pouco mais ousado, descartando os nomes que têm aparecido na ribalta, porque o partido já tem e/ou teve experiências dessas figuras na gestão do

partido. “Neste momento deveria verificar se durante a gestão dessas individuali-dades houve sucessos em be-nefício do partido”, disse. Mussá aponta Silvério Ron-guane como uma figura que é de fora do eixo de Sofala e de fora do eixo da família Simango. “Ronguane seria mais consentâneo com o slo-gan do partido ´Moçambi-que para todos´, por ser um indivíduo com capacidade técnico-científica capaz de imprimir dinâmicas dentro do partido, acima de tudo aceitar a reconciliação den-tro do MDM, por forma que o novo presidente não seja vitalício”, observou. Desta-cou que com a saída de figu-ras como Manuel de Araújo e Venâncio Mondlane o leque de opções internas ficou ex-tremamente reduzido. Por-tanto, deve-se evitar a elei-ção de figuras de Sofala ou da família Simango porque isso não vai ajudar o partido a crescer.

O MDM está em decadência política

Por seu turno, o analista político Dércio Alfazema de-fende que o novo presidente do MDM deve ser um indi-víduo capaz de tirar o

par-A

o realizar a IV Sessão Ordinária do Conselho Nacional do Movimento

Demo-crático de Moçambique (MDM), agendada para os dias 29 e 30 de Maio, estarão criadas as condições para a realização do Congresso extraordinário para escolher o sucessor de Daviz Simango. O antigo Secretário-geral do MDM, Ismael Mussá, defende que o novo líder do partido deve ser uma figura fora do eixo de Sofala.

Neuton Langa

tido da decadência política em que se encontra, tradu-zida no número de assentos na Assembleia da República e nos municípios sob gestão

do MDM.

Em relação aos nomes, Alfa-zema aponta José Domingos e Lutero Simango como figu-ras capazes de granjear sim-patia dentro do MDM, aci-ma de tudo são competentes para tirar o partido da de-cadência. Aliás, o MDM fez a sua história através duma gestão municipal transparen-te, criativa e inovadora, tan-to que nos municípios onde estiveram a governar fizeram história, como é o caso de Nampula.

Questionado sobre os prós

e contra a eleição de Lutero Simango, Alfazema defen-deu que “Lutero é membro fundador do MDM e possui uma experiência política

in-questionável. Por isso, Si-mango não pode ser discri-minado pelo simples facto de ser irmão mais velho do falecido líder do partido”. Em relação a Luís Boavida, o analista político refugia--se no facto de Boavida es-tar distante dos holofotes, consequentemente fora do ambiente político, o que pode ser uma desvantagem. Porém, Boavida tem as suas qualidades como político, devido a sua experiência como deputado pela banca-da parlamentar banca-da Renamo. José Domingos Ismael Mussá Silvério Ronguane Dércio Alfazema

https://t.me/Novojornal

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Terça-feira | 18 de Maio 2021

Competição e controlo de narrativas na assistência humanitária

às vítimas do terrorismo em Cabo Delgado

T

enho visto e lido muita coisa so-bre a assistência humanitária em Cabo Delgado. Coube-me a sorte de também ir ver de perto como as várias instituições intervenientes coordenam para dar resposta urgente aos tão necessitados.

O que constatei não foge muito às minhas sus-peitas, sempre que lesse os jornais ou visse as notícias na Televisão: há sim uma tremenda competição e tentativa de controlo de narrati-vas sobre como tem sido a assistência humani-tária às vítimas do terrorismo. Os protagonistas dessa guerra são, sem dúvidas, as organizações não-governamentais nacionais, internacionais, inclusive algumas organizações do Sistema das Nações Unidas.

Por razões de decoro e salvaguarda da reputação institucional não irei mencionar os nomes, cin-gindo-me aos factos. O meu principal argumen-to é de que as organizações não-governamentais devem se autodisciplinar e responder às

necessi-Egídio Vaz

dades dos moçambicanos vítimas do ter-rorismo dentro de um quadro normativo e regulador que tem nas instituições do Estado moçambicano sua principal refe-rência orientadora. Se concordarmos que a coisa mais importante do trabalho de tais organizações é salvar vidas e minorar o sofrimento do povo, então há espaço para melhorar.

Tentarei com exemplos concretos demons-trar como a resposta poderia ser melhor e o fardo mais leve se estas organizações seguissem a cartilha do INGD e de outras instituições do Estado moçambicano en-volvidas na resposta à crise humanitária. Dos números dos envolvidos

Dentro e fora de Moçambique existe um maior interesse em conhecer o número das vítimas do terrorismo em Cabo Delgado. Nisto, existem várias fontes de informação. Em Cabo Delgado, cada organização diz o seu número, seja para mobilizar mais apoios, seja para engordar os orçamentos. Em todo o território nacional existem nes-te momento 723.087 deslocados innes-ternos. Destes, 723.087 pessoas provêm de Cabo Delgado apenas e os restantes provêm da zona Centro do País, devido aos ataques de Mariano Nyongo.

Estes são dados do INGD - Instituto Na-cional de Gestão e Redução do Risco de Desastres. O INGD está implantado em todo o território nacional e recolhe os da-dos primários a partir do terreno, ao passo que as outras organizações estão em locais por eles próprios escolhidos. Por exemplo, por razões de segurança, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) não pode trabalhar em Palma, Mocímboa da Praia, Quissanga ou certas zonas de Macomia. Mas o Estado deve estar lá. O mesmo acontece com muitas organizações não--governamentais, que escolheram Pemba,

Montepuez ou mesmo Metuge, pelas mes-mas razões.

Para melhorar o seu orçamento e garan-tir mais financiamento, essas organizações estabelecem-se perto de centros de impren-sa e enviam comunicados empolados para o Mundo. Se as organizações confiassem e usassem as estatísticas do Estado poupa-vam tempo com os seus próprios levanta-mentos e estariam muito mais engajadas no trabalho produtivo.

Da coordenação do trabalho

Um comportamento estranho que notei foi que algumas organizações preferem con-tornar o Estado, indo elas se instalar di-rectamente em bairros de reassentamento ou centros de acomodação. Por exemplo, estive no dia 11 de Abril num bairro de reassentamento no distrito de Montepuez. Fiquei perplexo quando uma trabalhadora de uma organização internacional se apro-ximou à administradora do distrito e per-guntou quem ela era. Ou seja, estava claro que aquela técnica não conhecia sequer a administradora, muito menos teria procu-rado falar com ela para melhor se inteirar da situação. É que o povo tem dono. O dono é o Estado. E o Estado é incontor-nável.

Foi quando se destapou o segredo. Muitas ONGs querem contornar as estruturas do Estado. Para elas, basta que a nível de Maputo se obtenha a luz verde para tra-balhar em Cabo Delgado, é suficiente para não mais se preocupar em colaborar com as estruturas locais.

Se as organizações que pretendem ajudar trabalhassem em estreita colaboração com as estruturas locais do Estado se evitaria a duplicação de esforços e o trabalho esta-ria muito bem dividido, evitando assim a realização das mesmas acções por organi-zações diferentes no espaço geográfico. Outro exemplo é o que pude ver no

Cen-tro de Trânsito de Pemba, que alberga não mais que 200 famílias. Nesse centro, organizações caridosas oferecem comida quente. Aí nenhum deslocado é permitido cozinhar. Mas, algumas organizações vão lá doar farinha de milho, feijões ou óleo de cozinha. A questão é que esses produtos são normalmente entregues às famílias nas vésperas da sua transição para os bairros de reassentamento. E não em centros de acomodação. Se as organizações tivessem buscado os conselhos do INGD poderiam melhorar a eficácia da assistência humani-tária.

Da comunicação social

A comunicação social também pode aju-dar a comunicar a assistência humanitária em Cabo Delgado, buscando informações de fontes fidedignas. Por exemplo, no dia 12 de Maio, citando a Organização Inter-nacional de Migração, a TVM noticiou que mais de 500 mil pessoas necessitavam de ajuda em Cabo Delgado. Não que a OIM não fosse credível, mas seria prefe-rível se tivesse se aproximado ao INGD, pois é ele que coordena toda a actividade relativa à assistência humanitária, incluin-do a própria OIM.

Em Cabo Delgado existem 723.087 deslo-cados internos, dos quais 38.422 estão nos centros de acomodação, distribuídos pelos distritos de Chiure, Ancuabe, Montepuez, Nangade e Metuge. Existem 607.524 pessoas vivendo em casas de familiares, conhecidos ou em casas arrendadas. E 70.845 deslocados internos já vivem em bairros de reassentamento. Todas essas pessoas já beneficiaram de assistência do Estado moçambicano através das suas agências.

É importante que a comunicação social busque informações fidedignas, sob o risco de caírem na cilada, fazendo propaganda para organizações e interesses específicos. PUBLICIDADE

A Empresa Magazine Mulitimdia, SA, avisa os estimados cliente que tenham facturas em atraso, relativas as assinaturas de jornais de 2020, para procederem a sua regularização, no prazo maximo de trinta (30) dias, de modo a não afectar o fornecimento de jornais no próximo ano de 2021, cujo processo de ronovação já iniciou.

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18 de Maio 2021 | Terça-feira

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O

País celebrou ontem a pas-sagem dos 46 anos da cria-ção da Polícia da República de Moçam-bique (PRM), instituição fundamental na defesa e consolidação do Estado moçambicano.

A celebração da data acon-tece num contexto sensí-vel da vida do País, com inúmeros desafios a serem colocados à Polícia, no-meadamente o combate ao terrorismo, o combate ao tráfico de drogas, o comba-te ao crime organizado e à corrupção, começando pela corrupção no seio da pró-pria corporação, que amiú-de tem sido reportada. Estes desafios exigem uma PRM organizada e coor-denada, como disse o Pre-sidente Nyusi, com outras Forças de Defesa e Segu-rança, pois a missão é dura e complexa e requer uma conjugação de esforços, de tácticas e de estratégias.

Cobrindo um país exten-so que vai do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Ín-dico, a PRM realiza o seu trabalho no contexto das condições difíceis que a nossa economia propicia. A nossa Polícia precisa de recursos humanos bem pre-parados. Precisa de recur-sos materiais à altura e de homens de diferentes espe-cialidades, bem formados e bem equipados.

Não se pode exigir me-lhores resultados à PRM quando os recursos a ela alocados são escassos ou quase nulos. Não se pode exigir bons resultados a uma Polícia que nem tem meios de investigação, nem tem meios de transporte e nem tem homens bem pre-parados tecnicamente. Volvidos 46 anos após a sua criação, a PRM não luta, hoje em dia, apenas com os pilha-galinhas, ou seja, criminosos de meia ti-gela. A nossa Polícia, hoje, luta contra criminosos

so-fisticados em diferentes áreas, exigindo-se que sofis-tique também os seus mé-todos de acção e se agigan-te em meios maagigan-teriais e em quadros.

No Norte do País, concre-tamente em Cabo Delgado, o País está a ser agredido por terroristas nacionais e estrangeiros, que cometem barbaridades sem olhar a meios. Só uma Polícia bem treinada e equipada pode lograr sucessos no combate ao terrorismo. Só uma Po-lícia bem coordenada com outras forças de Defesa e Segurança pode produzir resultados.

Um pouco por todo o País, especificamente nas fron-teiras, a Polícia enfrenta o crime global de tráfico de drogas. Só uma Polícia bem treinada e equipada pode neutralizar em tempo útil as poderosas redes de traficantes de drogas que usam até serviços do Es-tado para fazer andar esta verdadeira indústria.

Depois de 46 anos da sua criação, a Polícia enfrenta o crime de raptos e seques-tros, um verdadeiro cartel que actua à luz do dia, ba-nalizando o Estado e en-fraquecendo a já débil eco-nomia nacional, a partir do momento que os alvos principais dos raptos são empresários e investidores nacionais e estrangeiros, que são obrigados a aban-donar o País. Um grandio-so desafio o combate aos raptos que também exige homens altamente forma-dos e capacitaforma-dos, e meios de investigação e produção de provas sofisticados. Não haverá bons resul-tados nestes desafios se o factor Homem não for de-vidamente levado em con-ta. Só polícias bem forma-dos podem produzir bons resultados na prevenção e combate ao crime. Só po-lícias comprometidos com a ética e deontologia pro-fissional podem ter suces-so nestes desafios. 46 anos

é idade madura, quase a caminhar para a velhice, pelo que não se pode di-zer que a nossa PRM seja uma criancinha. Já tem experiência de batalhas igualmente importantes e desafiantes do passado, a partir das quais se possa orgulhar e projectar o fu-turo.

Um futuro de vitórias no combate ao crime. Um fu-turo que seja referenciado pelas próximas gerações. No contexto actual, é ne-cessário, sim, purificar as fileiras, pois sabe-se que um exército infiltrado não ganha batalhas. Uma Po-lícia corrompida e infiltra-da é meio caminho aninfiltra-dado para o fracasso da missão, como diria Samora Machel, o fundador da nossa PRM. Desejamos sucessos à nossa PRM, pois muito de bom tem feito pela Pátria, mas muito ainda está por se fa-zer nesta sensível missão de lutar contra o crime. Bem-haja a nossa PRM!

Purificar as fileiras na PRM,

46 anos depois!

Inventário de ironias

Editorial

Estou a pedir comida. Sin-to muita fome. Entrou para varanda do bar entre a Karl Marx e Maguiguana. Passos quase mudos. Como se não pertencesse àquele lugar, como se não deves-se estar ali e já estivesdeves-se preparado para ser enxo-tado. Não parecia ter mais do que oito anos, com uma máscara-protectora preta no rosto e uma verde nas mãos, daquelas usadas nas festas que nos ensinaram a desperdiçar abóboras. Chamo-o para sentar. Peço no menu o que ainda era capaz de pagar. Sentado na cadeira, as pernas não tocam o chão, ficam a flu-tuar, a lembrar o acto final de um suicídio. Não como

desde que amanheceu. Pedi no supermercado e disse-ram que não tinham. Fala baixo. Não sei se pela fome ou pela timidez. Chama-se Lisandro, 10 anos, anda na 4ª Classe, na Escola Pri-mária do Nkovo, uma es-cola no centro da cidade, mas que parece destinada a meninos que não deviam viver na cidade. Olha-me com certo espanto. O ham-búrguer demora. Meu pai vive na Malhangalene. Eu vivo com minha mãe e mi-nha irmã no Alto-Maé. O hambúrguer demora. En-tro para o bar, quero saber o que está a acontecer. O problema é das batatas, de-moram a cozer, boss. Volto à mesa. Continua

senta-do, as pernas a flutuarem. Máscara preta no rosto, a de Hulk – o super-herói verde e grandalhão da Mar-vel - na mão. O que fazias aqui? Estava a brincar. Teus amigos? Foram para casa. Finalmente o ham-búrguer chega. Come ape-nas as batatas. É lento a colocar a mão no prato e a levá-la à boca. O hambúr-guer afinal quer levar para casa. Talvez para dividir com a mãe e com a irmã. O sol deixa-se invisível, mas a lua está ainda a fa-zer o caminho para impor a noite. Caminhamos pela Maguiguana até ao Alto--Maé. O portão do prédio em que vive – uma grelha de ferro fechada com

cha-pas de zinco já enferruja-das - está fechado. Bate à porta. Uma. Duas. Três vezes. Ninguém aparece. Aproxima-se uma moça que também quer entrar. É vi-zinha, presumo. Mas não troca palavras com Lisan-dro, que continua a bater à porta. A vizinha tenta ligar para alguém. Mas não com-pleta a chamada. A porta é aberta. No quintal do pré-dio algumas dependências. Uma moça de bruços sob uma capulana, vestida de branco, parece-me que faz exercícios. Subimos pelas escadas, as traseiras, que dão às cozinhas das flats. Passamos um, dois, três, quatro, cinco andares. Os cheiros das ementas do

jan-tar misturam-se enquanto subimos. Chegamos final-mente ao terraço, a escuri-dão nos absorve. Lisandro. É a voz da mãe como que saída de uma concha va-zia, sentada numa esteira, não lhe consigo distinguir o rosto. A lua ainda é apenas um fio a expelir um feixe de luz. A casa é apenas um compartimento. Não tem mais de cinco metros de comprimento e três de lar-gura. Tudo escuro. Lisan-dro está entregue. Tens de acabar essa comida. É uma voz feminina e autoritária saída de uma das flats. Já não quero – é uma criança que soluça, estes espasmos depois de longos períodos de choro.

Esta semana escrevo eu...

Elton Pila

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MAGAZINE Independente

Terça-feira | 18 de Maio 2021

Quinoselo Machute

A actuação da Polícia da República de Mo-çambique (PRM) num Estado de Direito e De-mocrático, diferentemente de um Estado ditato-rial, deve atender a três requisitos fundamentais. Ter uma prestação democrática das práticas de policiamento aceites na esfera pública e um su-porte popular, adesão ao Estado de Direito e a Polícia deve comportar-se seguindo procedimen-tos jusprocedimen-tos ao serviço do público.

Vieira Pauleta

Para melhorar o actual problema que a assola a PRM e os cidadãos em geral importa aludir à reorganização da actual estrutura orgânica, criando-se uma força intermediária nos coman-dos distritais mais desenvolvicoman-dos do País, com enfoque nos distritos com histórico de conflito político-armado, incluindo as capitais provin-ciais. Para além de dar uma resposta rápida, a Polícia deve actuar de forma proporcional.

Quarenta e seis anos da PRM e os desafios que se impõem

Voz do Povo

Órnia Moisés

A actuação da PRM deve pautar pela preser-vação da ordem e tranquilidade pública, respei-tando os direitos e liberdades do cidadão, pois a actuação da Polícia é vigiada por várias insti-tuições democráticas. A Polícia deve ter sempre em conta os desafios globais que se colocam ac-tualmente na segurança do Estado, caracteriza-dos por maior circulação de pessoas, expansão do crime organizado transnacional e do terrorismo.

Lúcia Adolfo

Os desafios da PRM devem ser os aci-dentes de viação que têm ceifado muitas vidas humanas e destruído diversas infra--estruturas, não descurando o novo fenó-meno dos raptos e sequestros, a falsifica-ção de documentos de identificafalsifica-ção e de viagem. As novas formas de criminalidade aumentam a pressão sobre os serviços de investigação

Opinião

Munique Martins

E no pós-pandemia, qual o

futuro da educação?

É

u r g e n t e u m a educação mais personalizada, que permita o desenvolvimento de soft skills e competências técnicas cada vez mais valo-rizadas no mercado de tra-balho.

Esta é uma das interrogações do momento. Com tantas mu-danças nas nossas rotinas, de que forma estas irão transfor-mar o sector da educação tal como o conhecemos? A crise da Covid-19 começou por provocar uma disrupção total no mercado de trabalho: se, por um lado, fez desaparecer algumas profissões, fez também emergir novos pos-tos de trabalho, sobretudo na área da tecnologia, com a maio-ria das empresas obrigadas a mudarem para o digital.

Neste sentido, dada a força do universo tecnológico, é necessá-rio refletir que caminho deverá o sector da educação seguir, para, por um lado, dar resposta às la-cunas no mercado de trabalho e, por outro, combater o desempre-go e o excedente de profissionais de sectores que viram a sua ati-vidade enfraquecer em período pandémico. Sejam novas meto-dologias de ensino a ganhar vida

ou mudanças no próprio currícu-lo escolar, estas são algumas das tendências que acredito deverão marcar a educação no pós-Co-vid-19 e que já se fazem sentir nos dias de hoje:

1. Um ensino mais prá-tico – Para facilitar a entrada num mercado de trabalho cada vez mais competitivo, é necessá-rio criar mais “doers” e menos “followers”. Ou seja, é necessá-rio passar de um ensino teórico, para um ensino cada vez mais prático, onde a base está em en-sinar a “por as mãos na massa”. Neste sentido, temos assistido a um aumento de alternativas ao ensino tradicional que pres-supõem dotar os alunos com as competências mais valorizadas no mercado laboral. Exemplo disso são os bootcamps, cursos curtos, intensivos e especializa-dos, cujo objetivo principal é a inserção no mercado, que têm vindo a aumentar a sua base de alunos. De acordo com o rela-tório Tech Careers da Landing Jobs, deste ano, as entradas no mercado tecnológico através da realização de bootcamps cresce-ram de 3,2% para 4,8% durante 2020, não só entre pessoas que pretenderam reforçar as suas competências tecnológicas, como

entre pessoas de áreas tecnológi-cas em busca de uma nova car-reira.

2. Promoção de literacia digital e tecnológica – No rela-tório “Nove Ideias para a Ação Pública – Educação, Aprendiza-gem e Conhecimento num mun-do pós-covid-19”, a UNESCO aponta a literacia científica e tecnológica como o cerne do de-senvolvimento do currículo, bem como a importância dos recursos educativos e ferramentas digi-tais de livre acesso para todos. É assim fundamental, capacitar a comunidade escolar com com-petências digitais e tecnológicas, que permitam aos professores adaptar mais rapidamente as suas metodologias ao ensino à distância e criar formas inovado-ras de ensinar em sala de aula, e aos alunos conseguir acompa-nhar a evolução do mercado de trabalho e ter acesso a novas ferramentas de aprendizagem. 3. Um ensino mais hu-mano e personalizado – A pro-ximidade entre professores e estudantes também foi posta à prova neste último ano, com o ensino à distância a mostrar a importância das relações in-terpessoais. Como tal, é preciso criar um maior sentimento de

empatia nas escolas, principal-mente para preparar os alunos para momentos de crise como este. Nenhum estudante é igual ao outro e, por isso, o ensino deve ser mais personalizado e focado no desenvolvimento das soft skills de cada um, pois, além das competências técni-cas, estas são cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho. Competências como proatividade, resiliência e cria-tividade fazem muitas vezes a diferença entre o sucesso e o fracasso no crescimento pessoal e profissional de um aluno. Nes-se Nes-sentido, a escola deve deixar de ser apenas uma obrigação, igual para todos, mas sim um espaço de valorização pessoal, um espaço de partilha, que de-seja saber as necessidades dos seus estudantes e prepará-los para o futuro, de acordo com as exigências do mercado.

4. Uma aprendizagem mista entre o remoto e o físico – apesar dos desafios que o ensi-no à distância trouxe para pro-fessores e alunos, também abriu novas oportunidades. O ensino remoto encurtou a distância en-tre geografias e democratizou o acesso ao ensino em diferentes áreas, pelo que o futuro deverá

ser ditado por uma aprendi-zagem mista que combinará momentos assíncronos com momentos síncronos, permitin-do que os alunos interajam uns com os outros, com seus pro-fessores e com o conteúdo edu-cativo, tudo em simultâneo. Se olharmos com atenção para o contexto escolar atual, ve-mos como os currículos não mudaram nos últimos 50 anos. No entanto, o mundo mudou, sobretudo durante a crise que vivemos nos dias de hoje. Como tal, este contexto exige uma reflexão profunda sobre como queremos educar e for-mar a sociedade num período pós-pandemia. É urgente uma educação mais personalizada que permita o desenvolvimen-to de soft skills e competências técnicas cada vez mais valori-zadas no mercado de trabalho. É urgente criar novas metodo-logias de ensino e começar a olhar para o formato bootcamp e curso intensivo como um cami-nho a seguir e não apenas como um complemento às escolas tra-dicionais. É urgente adaptar a educação que conhecemos hoje e preparar jovens e adultos para um “admirável mundo novo”.

Observador.pt

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18 de Maio 2021 | Terça-feira

MAGAZINE Independente

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Prémio Jovem Criativo

• É uma iniciativa da Secretaria de Estado da

Juventu-de e Emprego, implementada pelo Instituto Nacional

da Juventude, que se realiza anualmente, em parceria

com o movimento associativo juvenil e demais

inter-venientes dos sectores público e privado, visando

re-conhecer e distinguir jovens que se destacam pelo seu

contributo no desenvolvimento do País.

Objectivos:

• Reconhecer jovens cujas acções impactam no

desen-volvimento da comunidade;

• Promover a competitividade na livre criação artística e

tecnológica no seio da juventude moçambicana;

• Estimular e divulgar acções de jovens nas áreas de

empreendedorismo, da inovação tecnológica e da

cria-ção artística.

Grupo-Alvo

• Jovens dos 15 aos 35 anos de idade

Áreas de Concurso

• Empreendedorismo;

• Inovação tecnológica;

• Criação artística.

Locais para o acesso ao Regulamento do Prémio e para o

Levantamento das Fichas de Candidatura

O acesso ao Regulamento do Prémio Jovem Criativo, assim

como o levantamento das fichas de

candidatura podem ser feitos nos seguintes locais:

• Instituto Nacional da Juventude;

• Serviços Provinciais de Justiça e Trabalho

• Serviços de Justiça e Trabalho da Cidade de Maputo

• Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia

• Centros de Emprego

• Distritos Municipais da Cidade de Maputo

• Página Web da SEJE: www.seje.gov.mz

• Locais de Submissão de Candidaturas

• Serviços Distritais de Educação, Juventude e

Tec-nologia

• Distritos Municipais da Cidade de Maputo

Prazo

Os concorrentes devem submeter as suas propostas a

partir de 03 de Maio até 4 de Junho de 2021

nos locais supracitados

Fases

• A Fase distrital decorre de 03 de Maio a 04 de

Ju-nho de 2021

• A Fase Provincial decorre de 12 de Julho a 9 de

Agosto de 2021

• A Fase Nacional decorre de 09 de Agosto a 29 de

Outubro de 2021

Júri

Para avaliação das candidaturas foram nomeados júris

independentes para cada uma das três fases.

O júri da fase nacional é presidido por Moreira

Chongui-ça, e composto pelos seguintes membros:

Sázia Sousa, Chivambo Mamadhusen, Assif Osman e

Mazuze Culpa.

Premiação

Na fase Nacional serão premiados 5 concorrentes em

cada uma das áreas, totalizando 15

vencedores.

JUVENTUDE, NOSSA AGENDA!

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

SECRETARIA DE ESTADO DA JUVENTUDE E EMPREGO

INSTITUTO NACIONAL DA JUVENTUDE

ANÚNCIO DE CANDIDATURAS À VII EDIÇÃO DO PRÉMIO JOVEM CRIATIVO 2021

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Nacional

MAGAZINE Independente

Terça-feira | 18 de Maio 2021

Degradação acelerada da via condiciona vida

dos moradores de Mulotane e outros bairros

A estrada que liga a localida-de localida-de Mulotana ao bairro localida-de Mahlampsene aguarda pela reabilitação já há muito tem-po. Os enormes buracos, os desvios para tentar proteger a suspensão das viaturas é o cenário que se vive desde a travessia do rio até à Admi-nistração de Mulotana, que por sinal localiza-se junto à terminal dos transportes de passageiros.

Cansados de esperar por so-luções que demoram chegar, os transportadores retiraram as suas viaturas, deixando os residentes de Mulotana à mercê dos “My love” e ou-tras viaturas que, dado ao seu nível de degradação, es-tão impedidos de circular noutras rotas.

Catarina Emane é residente do bairro de Zilinga,

estan-do obrigada a deslocar-se ao bairro de Mulotana quase todos os dias úteis, pois é lá onde trabalha, mas

reconhe-ce que não tem sido fácil esta jornada e a situação agrava--se em épocas chuvosas, onde os poucos proprietários das

carrinhas de caixa aberta (My love) que arriscam em meter as suas viaturas na-quele bairro são obrigados a agravar a tarifa de

transpor-te, passando dos 13 meticais normalmente cobrados para 20 meticais.

“Recordo-me que quando o País recebeu uma parte do lote dos machimbombos dis-tribuídos às associações ti-vemos transportadores que tentaram fazer a rota Mulo-tana-Baixa, mas isso foi sol de pouca dura pois dadas as condições da estrada não tardou muito para retira-rem as suas viaturas e volta-mos a ficar à mercê dos My love”, disse Catarina Emane. Acrescentou que vezes sem conta tentou desistir do seu trabalho em Mulotana, mas porque não tem outras opor-tunidades noutros pontos faz das tripas o coração e con-tinua a viajar em condições arriscadas nos famosos “My love”.

Pendurada no “My love”, depois de uma ginástica

“ti-tânica”, Saquina Machalele, de 60 anos de idade, disse que “vocês viram como foi difícil eu subir neste carro, não faço isso por vontade

própria, mas porque não te-nho outra solução e são estes transportes que circulam por aqui, um e outro carro, que já não são permitidos circu-lar noutras rotas dado o seu estado de degradação, o que também coloca em causa a nossa integridade física”, ex-plicou.

Saquina Machalele disse que vive em Mulotana há mais de duas décadas e não se justifica que com o nível de expansão que se tem vindo a assistir nos últimos anos este bairro não tenha uma estra-da condigna, ou pelo menos esta de terra batida não be-neficie de uma intervenção regularmente, de modo a permitir que as pessoas pos-sam ir e vir sem muitas difi-culdades.

Viaturas registam avarias constantes

A

degradação acelerada da via que liga Mulotana a outros bairros está a condicionar a vida dos moradores do distrito de Boane, e não só. O MAGAZINE testemunhou quão a via de terra batida está degradada, situação que se agrava quando chove, desmotivando a circulação dos transportes semi-colectivos de passageiros.

Aida Matsinhe

Catarina Emane Saquina Machalele

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18 de Maio 2021 | Terça-feira

MAGAZINE Independente

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Logo à entrada do distrito de Boane, na zona do rio, para quem vem do bairro de Ma-hlampsene, o nível de degra-dação já denuncia o martírio que se vive em Mulotane. Aliás, ao longo do percurso a nossa reportagem teste-munhou que de facto não é possível ir e vir a Mulotane sem encontrar um carro que teve que interromper o seu percurso por causa de uma avaria mecânica.

Tal como avançaram os pas-sageiros quando estávamos na terminal de Mulotana, que é quase impossível che-gar à zona do rio sem ver um carro avariado, o MAGAZI-NE Independente testemu-nhou no local o sofrimento vivido pelos transportadores. Próximo das bombas de abastecimento de combustí-vel encontramos César Ma-tola, transportador de mate-rial de construção, que opera em Mahlampsene, deitado de baixo da viatura tentando encontrar uma solução para sair deste bairro. “Estou aqui já há 20 minutos. Veja só que estou com avaria no meu carro, estava a andar a uma velocidade mínima possível com o intuito de garantir uma viagem tranquila. Mas infelizmente quebrou a pon-teira e só posso ver se con-sigo alguém para soldar por-que o valor por-que cobrei neste frete nem sequer me permite chamar um reboque”, disse visivelmente agastado.

Prosseguiu afirmando que “vim descarregar chapas de zinco e cobrei de Mahlamp-sene para Mulotane apenas mil meticais, mas já tenho um prejuízo de mais de três mil meticais. Muitas vezes eu

não aceito meter o meu car-ro nesta car-rota, mas hoje, in-felizmente, até agora (12:10 horas) este é o primeiro frete que faço, arrisquei e dei-me mal”.

Preocupados com a lentidão na reabilitação e cansados de esperar por uma solução, os transeuntes da estrada que liga Mulotana e Mahlampse-ne questionamꓽ “Porquê em Dezembro vieram descar-regar pedra e areia na zona próximo à casa branca mas até aqui não se fez nada?” Na mesma ginástica de repa-rar os danos causados pelo estado de degradação da via encontramos Bruno Wamus-se, da Empresa de Trans-portes JJU. Com os pneus rebentados e sem concerto, Wamusse disse que a grande dificuldade que se enfrenta nesta rota tem a ver com o estado em que se encontra a via.

Só para ter uma ideia, segun-do Wamusse, “este é o úni-co machimbombo que ainda está a resistir na rota Baixa--Mulotana. Mas fazemos isso por responsabilidade social, porque dependendo do esta-do em que a via se encontra não compensa”.

Segundo Wamusse, se a trada estivesse em bom es-tado os 30 meticais que co-bram da Baixa a Mulotana estavam muito bom e seria rentável. “Conforme vê, os nossos pneus estão danifi-cados, vínhamos da Baixa e aqui na zona da ponte os pneus rebentaram. Deve ima-ginar que os passageiros nem sequer pagaram pela viagem porque ainda não tinham chegado ao destino e estas avarias têm sido frequentes,

aliás, não é normal sair da terminal de Mulotana a Ma-hlampsene sem encontrar um carro avariado”.

Segundo os automobilistas

que fazem a rota Mulotana--Mahlampsene, são pelo me-nos 15 minutos de carro a andar a uma velocidade ra-zoável, mas porque a estrada está totalmente degradada a viagem consome cerca de 45 minutos.

Via degradada impacta no processo de

ensino-aprendi-zagem

“O trajecto da minha casa até à Escola Secundária de Bili é de mais de uma hora, pois até a semana passada para conseguir chegar à es-cola primeiro tínhamos que apanhar um chapa para Ma-hlampsene e de lá apanhar outro para Bili. Felizmente, desde sexta-feira (9)

passa-mos a contar com os carros que partem da terminal de Sede a Mulotana--Bili, e esperamos ver os pro-blemas dos atrasos resolvi-dos”, afirma a fonte.

Mas, segundo Martins Ma-hiane, de 15 anos de idade e aluno da 10ª classe, é im-portante que se olhe para a reabilitação da estrada por-que vezes sem conta chegou atrasado à escola porque os

chapas não estavam a circu-lar, sendo frequente quando chove.

Francisco Matola faz par-te dos transportadores que abraçaram a nova rota Mu-lotana-Bili, na expectativa de ver os problemas das avarias constantes resolvidas e aju-dar os alunos da escola se-cundária.

Com menos de uma semana a operar na rota recém-criada, Matola justificou que esta foi criada para responder às ne-cessidades de alguns passagei-ros, na sua maioria alunos que frequentemente atrasavam às aulas e por vezes viam-se obri-gados a faltar.

Segundo a fonte, as crianças eram obrigadas a apanhar dois chapas para chegar a escola, ou então tinham que percor-rer longas distâncias a pé, mas para esta fonte a solução de boa parte dos residentes deste ponto de Boane centra-se na reabilitação da estrada.

“Os preços de produtos de primeira necessidade aqui em Mulotana são altos e a jus-tificação dos comerciantes é de que os custos de transpor-te são elevados”, acrescenta Francisco Matola.

Arranque das obras de cons-trução previsto para Junho

Júlio Mbembele, chefe do quarteirão 8 na povoação de Mulotana-Sede,

assegu-rou que do trabalho levado a cabo entre as estruturas do bairro e as autoridades mu-nicipais foi avançado que há um projecto desenhado para a construção e reabilitação da estrada que liga Mulota-Sede a Mahlampsene, cujo arranque das obras está previsto para Junho.

Segundo o chefe do quarteirão, as obras consistem na pavi-mentação de uma parte da es-trada, ou seja, da sede da loca-lidade de Mulotana até à zona da Elina, e terraplanagem da outra parte, que vai ligar o rio até à zona da Elina.

“Conforme vê, os nossos

pneus estão danificados,

vínhamos da Baixa e

aqui na zona da ponte

os pneus rebentaram.

Deve imaginar que

os passageiros nem

sequer pagaram pela

viagem porque ainda

não tinham chegado ao

destino e estas avarias

têm sido frequentes,

aliás, não é normal sair

da terminal de Mulotana

a Mahlampsene sem

encontrar um carro

avariado”.

Bruno Wamusse Francisco Matola Júlio Mbembele

https://t.me/Novojornal

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MAGAZINE Independente

Terça-feira | 18 de Maio 2021

Continua por resolver o último e trágico enigma do Império colonial português

Centrais

Dia 23 de Abril de 1971, Porto de Nacala, na província ultrama-rina portuguesa de Moçambique, cerca das 17 e 30 horas. O navio da marinha mercante Angoche, propriedade da Companhia Mo-çambicana de Navegação (sub-sidiária da Companhia Nacional de Navegação), levantou ferro para mais um rotineiro serviço de cabotagem. Aquele navio fa-zia viagens costeiras regulares entre Lourenço Marques (actual Maputo) e os portos do territó-rio (Beira, Quelimane, António Enes, Ilha de Moçambique, Na-cala e Porto Amélia), transpor-tando carga mista – víveres, combustíveis e equipamento mi-litar.

Quando, pelas cinco e meia da tarde daquele dia 23 de Abril, saiu do Porto de Nacala, o An-goche, além de farinha, açúcar e gasóleo, ia carregado com mate-rial de guerra, desde 100 bombas de 50kg e cargas inertes para bombas napalm a caixas de ma-terial aeronáutico e máquinas de engenharia militar. A tripu-lação era constituída por nove civis portugueses (boa parte dos quais originários da Ericeira) e 14 moçambicanos. Nesta viagem, aos 23 tripulantes juntou-se um funcionário português de meia--idade dos Caminhos de Ferro de Moçambique, que acabara de ser transferido de Nacala para Porto

Amélia (actual Pemba), destino um pouco a Norte para o qual o Angoche se dirigia. O único passageiro a bordo tinha pedido uma “boleia” (com o seu carro incluído) que o comandante do navio, Adolfo Bernardino, auto-rizara.

Em Porto Amélia, o material de guerra transportado pelo Ango-che era suposto ser desembar-cado para seguir, por terra, até Mueda, na zona de Cabo Delga-do, onde ocorriam os combates mais violentos entre as forças portuguesas e os guerrilheiros da FRELIMO (Frente de Liberta-ção de Moçambique).

O navio devia ter chegado ao destino às cinco da manhã do dia seguinte. Mas nunca chegou. E nesse momento, faz agora 50 anos, começou o último e trági-co enigma do Império trági-colonial português. O Angoche foi alvo de uma sabotagem à bomba e os 23 tripulantes e único passageiro desapareceram sem deixar rasto, até hoje.

Pelas 7 e 30 horas da manhã de 24 de Abril, o Angoche seria avistado com fogo a bordo e à deriva pelo petroleiro Esso Port Dickson, de bandeira panamia-na. O navio de cabotagem estava a 30 milhas da costa moçambi-cana, entre Quelimane e a Bei-ra, muito para Sul da sua rota. Como determina a lei interna-cional marítima, o comandante do Esso Port Dickson tomou de

imediato posse do Angoche, uma vez que se encontrava abandona-do em alto mar.

À medida que apagava o incên-dio, a tripulação do petroleiro viu manchas de sangue no navio mercante português, e encon-trou, vivos, um cão e um gato (que se soube depois serem as mascotes do Angoche). Mas não havia ninguém a bordo – apenas roupas, sapatos, coletes de salva-ção, relógios de pulso e tabaco espalhados pelo convés.

Em 1975, uma comissão de in-vestigação, que incluía um re-presentante dos familiares das vítimas portuguesas do ataque ao Angoche confrontou-se com o desaparecimento do dossier so-bre a sabotagem elaborado pela PIDE/DGS.

Certidões de óbito sem corpos

Sem vestígios dos 23 tripulantes e do único passageiro do Ango-che, nem do material de guerra que a embarcação transportava, o qual desapareceu por comple-to, a PIDE/DGS, a Polícia polí-tica do Estado Novo, escrutinou, em Lourenço Marques, o salva-do salva-do navio. E, no princípio de Maio, Lisboa recebeu a informa-ção de que tinham sido encontra-das evidências de duas explosões no Angoche, desencadeadas por cargas presumivelmente coloca-das em Nacala, antes da partida,

F

az agora 50 anos que o navio mercante português “Angoche”, carregado com material de guerra, foi sabotado à bomba ao largo de Moçambique, e os 23 tripulantes e único passageiro desaparece-ram sem deixar rasto, até hoje. Conheça a história deste ddesaparece-ramático mistério.

e accionadas por relógio. Segundo as informações trans-mitidas pela direcção da PIDE/ DGS em Lourenço Marques, uma das explosões tinha sido provocada por cargas reforçadas com granadas de fosfato coloca-das junto à chaminé de estibor-do, por cima da ponte de co-mando, que ficou completamente destruída, incluindo os sistemas de comunicações do navio. A se-gunda carga, continuava o rela-tório, explodiu dentro do ventila-dor das máquinas.

De seguida, a comunicação da Polícia política estabelecia uma divisão de consequências das ex-plosões que viria a sustentar de-pois as diversas versões que apre-sentou quanto aos responsáveis pelo ataque. Dizia que, ao con-trário das instalações destinadas aos tripulantes brancos, na ré do navio, que foram “completa-mente pulverizadas”, o comparti-mento dos 14 tripulantes negros dava sinais de ter sido precipita-damente abandonado. Hoje sabe--se, porém, que a colocação das cargas explosivas naqueles locais teve outros objectivos e revela a superior preparação técnica e profissional de quem executou a sabotagem. Já lá iremos.

A 15 de Junho de 1971, o presi-dente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, apresentou ao País, pela RTP, a versão oficial sobre o caso do Angoche. Disse que alguns tripulantes teriam morrido vítimas das explosões. E que os sobreviventes ter-se-iam atirado ao mar, para escapar ao incêndio, sendo depois comidos por tubarões.

Marcelo Caetano omitiu que

Os tripulantes do

petroleiro “Esso

Port Dickson” só

encontraram a bordo

do “Angoche” um cão e

um gato, vivos – eram

as mascotes do navio

uma das duas baleeiras salva-vidas do Angoche não estava no navio, quando o Esso Port Dickson o en-controu. Hoje, aquela comunicação de Marcelo Caetano é sobretudo en-tendida pela necessidade de apressar a passagem das certidões de óbito dos 23 tripulantes e do único passa-geiro do Angoche, face à inexistência de corpos para as justificar.

Tsunami de versões

A PIDE/DGS desdobrou-se ao lon-go do tempo em diversas teses sobre os responsáveis pela sabotagem do navio mercante. Uma das primeiras versões referia um ataque de reta-liação de forças da Tanzânia, trans-portadas em lanchas, após acções de unidades de operações especiais militares sul-africanas, que em Lindi, perto da fronteira daquele país com Moçambique, investiram sobre bases da FRELIMO. O cenário batia cer-to com a chamada “estratégia cer-total” do regime do apartheid de Pretória, que definia como inimigos todos os movimentos de libertação, de for-ma a controlar a África Austral e a manter a guerra afastada das suas fronteiras. Mas os informadores da PIDE/DGS na capital tanzaniana, Dar-es-Salaam, nunca confirmaram aquela versão.

Os mandantes do ataque ao

In “visão”

Navio de cabotagem da Companhia Moçambicana de Navegação, o Angoche partiu de Nacala para mais uma rotineira viagem até Porto Amélia (atual Pemba) – onde nunca chegou

Referências

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