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A aplicabilidade do direito internacional do mar no ordenamento jurídico brasileiro como medida de prevenção contra incidentes de poluição marinha por óleo

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROGRAMA DE RECURSOS HUMANOS EM DIREITO DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS PRH - ANP/ MCTI – Nº 36. A APLICABILIDADE DO DIREITO INTERNACIONAL DO MAR NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO COMO MEDIDA DE PREVENÇÃO CONTRA INCIDENTES DE POLUIÇÃO MARINHA POR ÓLEO. RAYANA LINS ALVES. NATAL – RN 2016.

(2) 2. RAYANA LINS ALVES. A APLICABILIDADE DO DIREITO INTERNACIONAL DO MAR NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO COMO MEDIDA DE PREVENÇÃO CONTRA INCIDENTES DE POLUIÇÃO MARINHA POR ÓLEO. Dissertação apresentada ao Programa de Recursos Humanos em Direito do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – PRH-ANP / MCT nº 36, como requisito para conclusão do Programa de PósGraduação em Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Prof. Dr. Jahyr-Philippe Bichara. NATAL - RN 2016.

(3) 3. Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Alves, Rayana Lins. A aplicabilidade do direito internacional do mar no ordenamento jurídico brasileiro como medida de prevenção contra incidentes de poluição marinha por óleo/ Rayana Lins Alves. - Natal, RN, 2016. 187 f. Orientador: Prof. Dr. Jahyr-Philippe Bichara. Dissertação (Mestrado em Direito) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Direito. 1. Direito Internacional do Mar – Dissertação. 2. Poluição Marinha - Dissertação. 3. Medidas de prevenção - Dissertação. 4. Exploração e Produção de Petróleo – Dissertação. I. Bichara, Jahyr-Philippe. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BS/CCSA. CDU 341.01:504.

(4) 4. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROGRAMA DE RECURSOS HUMANOS EM DIREITO DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS PRH-ANP / MCT Nº 36. A dissertação “A aplicabilidade do Direito Internacional do Mar no ordenamento jurídico brasileiro como medida de prevenção contra incidentes de poluição marinha por óleo”, de autoria da mestranda Rayana Lins Alves, foi avaliada e aprovada pela Comissão Examinadora formada pelos professores:. COMISSÃO EXAMINADORA. ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Jahyr-Philippe Bichara Presidente. ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Marco Bruno Miranda Clementino Membro Interno. ______________________________________________________________________ Prof. Dra. Ingrid Zanella Andrade Campos Membro Externo à Instituição. Natal/RN, 06 de abril de 2016..

(5) 5. Dedico o presente trabalho à minha família, por todo seu amor e apoio nos momentos mais importantes da minha vida..

(6) 6. AGRADECIMENTOS. Primeiramente, agradeço a Deus por sempre iluminar e guiar o meu caminho; concederme forças para enfrentar os obstáculos; e me dar uma segunda chance para viver e ser feliz. Agradeço à minha mãe Conceição e à minha irmã Rayza por sempre estarem presentes nos momentos de felicidades, vitórias e dificuldades. Agradeço por compartilharem os melhores e os piores momentos da minha vida, por sorrirem e chorarem comigo. O apoio e o amor de vocês foram essenciais para me manter firme e não desistir do Mestrado. Agradeço ao meu pai Eraldo, que se fez presente no momento mais difícil da minha vida e me mostrar que o amor nos faz perdoar os erros do passado. Obrigada por sempre estarem ao meu lado. Amo vocês. Também agradeço aos amigos que a UFRN me concedeu: Camila Avelino, Jéssica de Araújo, Julliane Pinto, Maria Natália, Natália Lira e Robson Saldanha pela amizade e o amor. Pessoas únicas que estarão sempre no meu coração. Sei que a distância e o tempo não irão acabar com o raro vínculo fraternal que criamos. Agradeço ao Professor Jahyr Bichara por toda paciência e compreensão que foram importantes para continuar no Mestrado, como também por seu conhecimento, experiência, apoio e disponibilidade que me conduziram ao melhor caminho para a construção deste trabalho. Agradeço aos professores da linha de pesquisa três: Professora Ingrid Zanella, Professor Marco Bruno Miranda e Professora Yara Gurgel, pelas lições acadêmicas e debates em sala de aula que enriqueceram e ampliaram o meu conhecimento em Direito Internacional. Agradeço ao Professor Yanko Xavier, pelas oportunidades de pesquisa e produção acadêmica em Direito do Petróleo. Meus agradecimentos aos colegas do Mestrado turma 2013 pelos debates construtivos durantes as aulas, pelas conversas divertidas e descontraídas pós-aulas e pela partilha de conhecimentos na pesquisa. Por fim, agradeço à ANP e a PETROBRAS pelo incentivo no desenvolvimento desta pesquisa. E à UFRN por ter sido a minha segunda casa e por toda a oportunidade de ensino, pesquisa e extensão, conjunto que foi essencial para a minha formação acadêmica e para o meu crescimento pessoal..

(7) 7. Dentro da noite que me rodeia Negra como um poço de lado a lado Agradeço aos deuses que existem por minha alma indomável Sob as garras cruéis das circunstâncias eu não tremo e nem me desespero Sob os duros golpes do acaso Minha cabeça sangra, mas continua erguida Mais além deste lugar de lágrimas e ira, Jazem os horrores da sombra. Mas a ameaça dos anos, Me encontra e me encontrará, sem medo. Não importa quão estreito o portão Quão repleta de castigo a sentença, Eu sou o senhor de meu destino Eu sou o capitão de minha alma. (Invictus, William Ernest Henley).

(8) 8. ALVES, Rayana Lins. A APLICABILIDADE DO DIREITO INTERNACIONAL DO MAR NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO COMO MEDIDA DE PREVENÇÃO CONTRA INCIDENTES DE POLUIÇÃO MARINHA POR ÓLEO. 2016. Dissertação (Mestre em Direito) — Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.. RESUMO. Este trabalho tem como objeto a análise da aplicação das normas do Direito Internacional do Mar na ordem jurídica brasileira, no que se refere à proteção do ambiente marinho durante a exploração e produção de petróleo offshore, com a finalidade de ampliar o seu marco regulatório e preencher as lacunas legislativas existentes. O estudo é desenvolvido com base nas normas dos tratados internacionais ratificados pelo Brasil que tratam sobre a atuação dos Estados costeiros em buscar a prevenção, redução e controle de poluição do meio marinho por conta de atividades desenvolvidas dentro de suas fronteiras marítimas, como a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982 e a Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e Cooperação em Caso de Poluição por Óleo de 1990. Ao longo da dissertação, demonstra-se que o marco regulatório existente não é suficiente para garantir a prevenção de incidentes de poluição marinha por óleo, o que conduziu o Brasil a incorporar no seu ordenamento jurídico normas internacionais específicas que dispõem sobre a temática, visto que o Brasil apresenta um contexto normativo pautado na proteção do direito fundamental ao meio ambiente, inclusive do ponto de vista internacional. Consideram-se os princípios constitucionais ambientais previstos na Constituição Federal de 1988 aplicáveis à proteção do meio marinho e a competência ambiental dos entes federativos para alcançar tais princípios. Expõem-se as regras internas aplicáveis à prevenção de poluição marinha por óleo resultante da exploração e produção de petróleo offshore, bem como as normas internacionais de prevenção de poluição ao mar ratificadas pelo Estado brasileiro. Tem-se como conclusão que é necessária a implementação de algumas medidas preventivas no ordenamento jurídico, como a avaliação ambiental estratégica e a compensação pecuniária dos danos ambientais, e nas relações contratuais entre Estados e empresas petrolíferas, como a exigência da responsabilidade destas nos contratos de partilha de produção e de seguro ambiental. Palavras-chaves: Poluição Marinha. Medidas de prevenção. Exploração e Produção de Petróleo..

(9) 9. ALVES, Rayana Lins. THE APPLICABILITY OF INTERNATIONAL LAW OF THE SEA IN THE BRAZILIAN LEGAL SYSTEM AS A MEASURE OF PREVENTION AGAINST INCIDENTS OF POLLUTION OF THE SEA BY OIL. 2016. Dissertation (Master’s in Degree of Law) — Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.. ABSTRACT. This work has as its object the analysis of application of the norms of international law of the sea in the Brazilian legal system with regard to the protection of the marine environment during offshore oil exploration and production, with the purpose of enlarging their regulatory framework and filling legal gaps. The study is developed on the basis of the norms of international treaties ratified by Brazil that treat about the activities of coastal States for the prevention, reduction and control of pollution of the marine environment on account of activities undertaken within their maritime borders, as the United Nations Convention on the law of the sea of 1982 and International Convention on preparation, response and cooperation in case oil pollution of 1990. Throughout the dissertation, it demonstrates that the existing regulatory framework is not sufficient to ensure the prevention incidents of sea pollution by oil, which led Brazil to incorporate in its legal system specific international standards that order on the theme, insofar as Brazil presents a normative context based on the protection of the fundamental right to the environment, including the international point of view. Consider the environmental constitutional principles foresee in the Federal Constitution of 1988 for the protection of the marine environment and the environmental competence of the federative entities to achieve these principles. Expose the internal rules applicable to the prevention of sea pollution by oil resulting from the offshore oil exploration and production, as well as the international standards for the prevention of sea pollution ratified by the Brazilian State. It has been as a conclusion that requires the implementation of some preventive measures in the legal system, such as the strategic environmental assessment and financial compensation of environmental damages, and in the contractual relations between States and oil companies, such as the requirement of liability of these in sharing agreements and environmental insurance. Keywords: Marine Pollution. Prevention measures. Exploration and production of oil..

(10) 10. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AAE – Avaliação Ambiental Estratégica ALALC – Associação Latino-Americana de Livre Comércio AMD – Agência Multilateral de Desenvolvimento ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis ART. – Artigo ARTS. – Artigos BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento BM – Banco Mundial CC/02 – Código Civil de 2002 CDC – Código de Defesa do Consumidor CF/88 – Constituição Federal de 1988 CLC/1969 – Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil em Danos Causados por Poluição por Óleo de 1969 CLC/1992 – Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil em Danos Causados por Poluição por Óleo de 1992 CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNUDM – Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar COMPERJ – Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente EC – Emenda Constitucional EIA – Estudo de Impacto Ambiental EUA – Estados Unidos da América EVA – Estudo de Viabilidade Ambiental IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis INC. – Inciso INCS. – Incisos FPSO – Óleo de Instalações de Armazenamento FSU – Unidades Flutuantes Armazenamento LI – Licença de Instalação LO – Licença de Operação LPper – Licença Prévia para Perfuração LPpro – Licença Prévia de Produção para Pesquisa Marpol 73/78 – Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição Causada por Navios de 1973, alterada pelo Protocolo de 1978 Mercosul – Mercado Comum do Sul MME – Ministério de Minas e Energia Nº - Número NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte PNC – Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas sob Jurisdição Nacional OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONU – Organização das Nações Unidas OPRC-90 – Convenção sobre Preparo, Resposta e Cooperação em Caso de Poluição por Óleo de.

(11) 11. 1990 PCA – Projeto de Controle Ambiental PEI – Plano de Emergência Individual PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S/A PPSA – Pré-sal Petróleo S.A. RAA – Relatório de Avaliação Ambiental RAS – Relatório Ambiental Simplificado RCA – Relatório de Controle Ambiental RIMA – Relatório de Impacto Ambiental SIAM – Sistema de Informações Ambientais do Mercosul SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente Sisnóleo – Sistema de Informações Sobre Incidentes de Poluição por Óleo em Águas Sob Jurisdição Nacional STJ – Superior Tribunal de Justiça ZEE – Zona Econômica Exclusiva.

(12) 12. SUMÁRIO. INTRODUÇÃO............................................................................................................................16 1. A PREVISÃO CONSTITUCIONAL SOBRE A PROTEÇÃO AMBIENTAL DOS FUNDOS MARINHOS................................................................................................................21 1.1 O DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E AS SUAS VERTENTES.................................................................................................................................22 1.1.1 A vertente humanística.......................................................................................................26 1.1.2 A vertente econômica..........................................................................................................28 1.2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS........................................................31 1.2.1 Princípio da Precaução.......................................................................................................33 1.2.2 Princípio da Prevenção.......................................................................................................36 1.2.3 Princípio da Reparação.......................................................................................................37 1.2.4 Princípio do Poluidor Pagador...........................................................................................38 1.3 A COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR A MATÉRIA AMBIENTAL CONFORME A CONSTITUIÇÃO DE 1988...........................................................................................................40 1.4 A MATÉRIA CONSTITUCIONAL APLICÁVEL AO MEIO MARINHO E À SUA PROTEÇÃO AMBIENTAL...........................................................................................................46. 2. O MARCO REGULATÓRIO BRASILEIRO APLICÁVEL À PREVENÇÃO DE POLUIÇÃO POR DERRAMAMENTO DE ÓLEO DECORRENTE DA EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO OFFSHORE.............................................................................49 2.1 O LICENCIAMENTO AMBIENTAL DAS ATIVIDADES DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO (RESOLUÇÃO CONAMA Nº 23/1994).....................................49 2.1.1 O licenciamento ambiental.................................................................................................49 2.1.2 A importância do licenciamento ambiental na exploração e produção de petróleo..........................................................................................................................................57 2.2 A PREVENÇÃO, O CONTROLE E A FISCALIZAÇÃO DA POLUIÇÃO EM DECORRÊNCIA DE LANÇAMENTO DE ÓLEO EM ÁGUAS SOB JURISDIÇÃO NACIONAL (LEI Nº 9.966/2000).................................................................................................60.

(13) 13. 2.2.1 As sanções aplicáveis em caso de infração das regras da Lei nº 9.666/2000 (Decreto nº 4.136/2002).....................................................................................................................................65 2.3 AS FERRAMENTAS APLICÁVEIS NOS CASOS DE INCIDENTES DE POLUIÇÃO MARINHA POR ÓLEO.................................................................................................................69 2.3.1 O plano de emergência individual (Resolução CONAMA nº 398/2008).........................70 2.3.2 O procedimento para comunicação de incidentes a ser adotado pelos concessionários (Resolução ANP nº 44/2009)........................................................................................................72 2.3.3 O uso de dispersantes químicos para o combate de derramamento de petróleo no mar (Resolução CONAMA nº 472/2015)............................................................................................73 2.4 O PLANO NACIONAL DE CONTINGÊNCIA PARA INCIDENTES DE POLUIÇÃO POR ÓLEO EM ÁGUAS SOB JURISDIÇÃO NACIONAL (DECRETO Nº 8.127/2013)..................77 2.5 O CONTROLE JURISDICIONAL DO ESTADO BRASILEIRO EM INCIDENTES DE POLUIÇÃO MARINHA POR ÓLEO...........................................................................................85. 3. AS NORMAS INTERNACIONAIS DE PREVENÇÃO DE POLUIÇÃO AO MAR PARA A PROTEÇÃO DO MEIO MARINHO NO ORDENAMENTO JURÍDICO DO ESTADO BRASILEIRO...............................................................................................................................90 3.1 A EFETIVIDADE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO DIREITO INTERNO DO BRASIL.........................................................................................................................................91 3.2 OS TRATADOS INTERNACIONAIS RELATIVOS À PREVENÇÃO DE POLUIÇÃO MARINHA E À PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE MARINHO DURANTE A EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO.......................................................................94 3.2.1 Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982.....................................95 3.2.2 Convenções Universais......................................................................................................100 3.2.2.1 Convenção sobre Prevenção de Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e Outras Matérias de 1972..........................................................................................................................101 3.2.2.2 Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios – Marpol 73/78.............................................................................................................................................105 3.2.2.3 Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e Cooperação em Caso de Poluição por Óleo de 1990.................................................................................................................................110.

(14) 14. 3.3 A ATUAÇÃO JURISDICIONAL DOS TRIBUNAIS INTERNACIONAIS NOS CASOS DE INCIDENTES DE POLUIÇÃO MARINHA POR ÓLEO..........................................................114. 4. AS MEDIDAS DE PREVENÇÃO À POLUIÇÃO MARINHA A SEREM APLICADAS PELO ESTADO BRASILEIRO................................................................................................120 4.1 A IMPLANTAÇÃO DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA NA FASE EXPLORATÓRIA. DE. PETRÓLEO. EM. ÁGUAS. SOB. JURISDIÇÃO. NACIONAL.................................................................................................................................121 4.2 A COMPENSAÇÃO PECUNIÁRIA DOS DANOS AMBIENTAIS DECORRENTES DE POLUIÇÃO MARINHA POR ÓLEO.........................................................................................124 4.2.1 As Convenções Internacionais relacionadas à compensação por danos de poluição........................................................................................................................................125 4.2.2 A necessidade de previsão normativa sobre a valoração econômica dos danos ambientais ao meio marinho......................................................................................................130 4.3 A EFETIVAÇÃO DO PLANO DE EMERGÊNCIA INDIVIDUAL E DO PLANO NACIONAL DE CONTINGÊNCIA............................................................................................134 4.4 CELEBRAÇÃO DE ACORDOS REGIONAIS NO ÂMBITO DO MERCOSUL...............141 4.4.1 A integração regional do Mercado Comum do Sul – Mercosul....................................142 4.4.2 O Mercosul e a questão ambiental...................................................................................145. 5. OS MECANISMOS DE PREVENÇÃO DAS EMPRESAS PRIVADAS QUE ATUAM NA EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO OFFSHORE...................................151 5.1 OS CONTRATOS DE PARTILHA DO PRÉ-SAL BRASILEIRO NA PREVENÇÃO DE DANOS AMBIENTAIS...............................................................................................................151 5.1.1 O Novo Marco Regulatório e o Pré-sal brasileiro..........................................................153 5.1.2. O contrato de partilha como medida de prevenção contra a poluição marinha por óleo...............................................................................................................................................160 5.2 A UTILIZAÇÃO DO CONTRATO DE SEGURO AMBIENTAL PELAS EMPRESAS PETROLÍFERAS.........................................................................................................................162 5.2.1. O conceito e as características gerais do contrato de seguro........................................162.

(15) 15. 5.2.2 O Contrato de Seguro Ambiental nas fases de exploração e produção de petróleo........................................................................................................................................165. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................168. REFERÊNCIAS..........................................................................................................................175.

(16) 16. INTRODUÇÃO Diante de todo o desenvolvimento nos dias atuais, tem-se como objetivo a proteção ao meio ambiente, o qual compreende o homem como integrante das relações econômicas, sociais e políticas que se constroem com a apropriação dos bens naturais que, por serem submetidos à influência humana, transformam-se em recursos essenciais para a vida humana. Em razão da sua finitude e imprescindibilidade à sociedade atual, é que surgiu a necessidade de protegê-lo, na medida em que se observou os estragos provocados pela ação do homem na natureza. Nessa perspectiva, em consonância com a política internacional, a Constituição Federal de 1988 (CF/88) determinou o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um patrimônio público, bem de uso comum do povo, devendo ser protegido para o uso coletivo, conforme o seu art. 225, caput. Mas também, a Carta Magna, neste mesmo artigo, estabeleceu os instrumentos de proteção ambiental com base em alguns princípios norteadores1, dentre eles o desenvolvimento sustentável, no qual o desenvolvimento tem que atender às necessidades do presente, sem comprometer as gerações futuras, e o princípio da precaução, que “se baseia em novas premissas que incluem a vulnerabilidade do meio ambiente, as limitações da ciência em prever os efeitos dos danos ambientais e a disponibilidade de alternativas sobre processos e produtos menos poluentes” 2. Em decorrência de ser um direito fundamental, o meio ambiente deve ser preservado e protegido para presentes e futuras gerações durante a realização das atividades econômicas, ou seja, que estas sejam desenvolvidas utilizando ferramentas adequadas para a menor degradação ambiental possível. Logo, a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico devem coexistir de modo que este não acarrete a anulação daquela. Por conta deste contexto, a Constituição ainda estabeleceu que a ordem econômica, fundada na livre iniciativa e na valorização do trabalho humano, tem que observar os ditames de justiça social, respeitando o princípio da defesa do meio ambiente, previsto no art. 170, inciso VI.. 1. Segundo Celso Fiorillo, aludidos princípios constituem pedras basilares dos sistemas políticos-jurídicos dos Estados civilizados, sendo adotados internacionalmente como fruto da necessidade de uma ecologia equilibrada e indicativos do caminho adequado para a proteção ambiental, em conformidade com a realidade social e os valores culturais de cada Estado. (FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 77). 2 DANTAS, Jadla Marina Bezerra et al. Princípios Constitucionais do Direito Ambiental Brasileiro e suas Implicações na Indústria do Petróleo e Gás Natural. In: NOBRE JÚNIOR, Edílson Pereira et al (org.). Direito ambiental aplicado à indústria do petróleo e gás natural. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, 2005. p. 41..

(17) 17. Sendo assim, quanto maior o risco ambiental de uma atividade econômica, proporcionalmente igual é a necessidade de instrumentos de proteção para minimizar os danos ambientais, como é o caso das atividades da Indústria do Petróleo e Gás Natural. O petróleo é a fonte de energia que se tornou essencial à sociedade do mundo atual, entretanto, os danos ao meio ambiente causados em razão de sua exploração, em sua maioria, tornam-se irreversíveis e de grande alcance, como acidentes de grande porte 3 , acidentes de trabalho e mecanismos de contaminação à fauna e à flora. O Brasil se destaca cada vez no cenário petrolífero, principalmente com a descoberta de jazidas de petróleo e gás natural abaixo de uma espessa camada de sal na plataforma continental brasileira, denominada de pré-sal4. Com a expansão das atividades petrolíferas na área marítima, classificada como offshore, é crescente a preocupação de criar e efetivar mecanismos existentes para a diminuição da degradação ambiental, sobretudo nas fases de exploração e produção do petróleo. No ano de 2011, houve vazamento de petróleo no Campo de Frade, na Bacia de Campos, estado do Rio de Janeiro, em decorrência de erro de cálculo na pressão exercida pela lama injetada no poço de petróleo, o qual é procedimento habitual na fase de exploração. Os danos ambientais deste acidente ocorreram somente na fauna e flora marítimas em direção ao alto mar, todavia, o óleo poderia ter chegado ao litoral da costa brasileira, causando impactos sociais e econômicos na região. Ressalta-se que, em janeiro de 2012, houve o primeiro vazamento de petróleo na área pré-sal, decorrente de rompimento de uma coluna de produção em um poço. 3. Ressalta-se a seguinte explicação sobre os impactos ambientais decorrentes de acidentes de grandes proporções em águas sob jurisdição nacional: “O impacto que o meio ambiente sofre quando acontece um acidente de grande porte, como os que envolvem petróleo e seus derivados, é muito intenso e pode ser agravado ainda mais pelos tipos de ecossistemas atingidos e pelo produto que entra em contato com eles. (...) Outras particularidades que devem ser levadas em consideração são as socioeconômicas, bem como as proximidades de portos e rotas de navio, pois a probabilidade de que acidentes aconteçam, nesse caso, são maiores. Por isso, devem ser incorporadas às anteriores para se determinar a vulnerabilidade dos ecossistemas ao impacto por óleo.” (ADAME, Alcione; GAMBINI Priscila Truviz. Medidas de controle e reparação de acidentes envolvendo petróleo e derivados previstas pela legislação nacional e internacional de proteção ao meio ambiente. In: GONÇALVES, Alcindo; RODRIGUES, Gilberto M. A. (org.). Direito do Petróleo e Gás: aspectos ambientais e internacionais. Santos: Editora Universitária Leopoldianum, 2007. p. 180-181). 4 Em 2007, a Petrobras anunciou a descoberta de petróleo e gás natural, com enorme potencial de reservas e boas perspectivas de recuperação, em reservatórios situados abaixo de uma espessa camada de sal na Bacia de Santos, especificamente na região denominada Pré-Sal. Com essas descobertas, o Brasil prepara-se para ser exportador líquido de petróleo e derivados, num cenário mundial que valoriza fornecedores confiáveis desses energéticos. (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Pré-Sal: perguntas e respostas. (2009) Disponível em: <http://www.mme.gov.br/documents/10584/1256544/Cartilha_prx-sal.pdf/e0d73bb0-b74b-43e1-af68d8f4b18cb16c>. Acesso em: 03 de março de 2016.).

(18) 18. operado pela PETROBRAS no Campo de Carioca Nordeste, na Bacia de Santos, estado de São Paulo, porém, os impactos ambientais foram de pequena proporção. Com todos esses fatos, ficou claro que o país não está preparado para evitar e conter situações de emergência decorrentes de vazamento petróleo no mar, principalmente com o presente contexto da camada pré-sal, em que a exploração é realizada em profundidades de 5 a 7 mil metros abaixo do nível do mar. Portanto, para garantir a prevenção de tragédias ambientais resultantes especificamente de acidentes de exploração e produção de petróleo offshore, é imprescindível que o Brasil possua medidas preventivas no sentido de impedir que tais acidentes sequer ocorram e, caso contrário, o Poder Público e o setor privado tenham diretrizes de emergência para conter o acidente com o mínimo de degradação ambiental possível. É necessário destacar que sem o arcabouço completo de normas para orientar os empresários e o Poder Público na prevenção de incidentes por óleo no mar, tem-se a não concretização dos dispositivos constitucionais de defesa do meio ambiente aplicáveis à Indústria do Petróleo, bem como um marco regulatório falho por não colocar em prática o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput, CF/88) e a defesa do meio ambiente como princípio orientador da ordem econômica (art. 170, VI, CF/88). Ressalta-se que o Brasil possui um marco regulatório com medidas preventivas específicas para os acidentes na exploração e produção de petróleo, como: (i) a Resolução CONAMA nº 23/1994, que institui procedimentos específicos para o licenciamento das atividades relacionadas à exploração e lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural; (ii) a Lei nº 9.966/2000, que estabeleceu normas de prevenção, de controle e de fiscalização no que concerne ao derramamento de óleo em águas sob jurisdição nacional; (iii) o Decreto nº 4.136/2002, em que determinou sanções aplicáveis quando as regras daquela lei são descumpridas pelos agentes envolvidos; (iv) a Resolução CONAMA nº 398/2008, que dispõe sobre o conteúdo mínimo deste plano para incidentes de poluição por óleo em águas sob jurisdição nacional; (v) a Resolução ANP nº 44/2009, que trata sobre o procedimento para comunicação de incidentes a ser adotado pelos concessionários; (vi) o Decreto nº 8.127/2013, que criou o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas sob Jurisdição Nacional (PNC); e (vii) a Resolução CONAMA nº 472/2015, que trata sobre a produção, importação, comercialização e uso de dispersantes químicos para as ações de combate aos derrames de petróleo e seus derivados no mar..

(19) 19. Apesar de todas essas normas, não há a efetiva proteção do meio ambiente e o desenvolvimento das atividades exploratórias de forma sustentável, tendo em vista que faltam estratégias de prevenção e de gestão para dar efetividade ao marco regulatório existente, corrigindo, assim, as suas deficiências atuais. É evidente que mesmo com este marco regulatório, ainda existem deficiências nas leis. Com isso, Paulo de Bessa Antunes5 defende que para o desenvolvimento das atividades de exploração e produção e para a própria proteção do meio ambiente “é indispensável que um quadro legal mais estável e confiável seja desenvolvido o quanto antes”. Nesse sentido, para se atingir tal estabilidade, é essencial verificar as normas internacionais com o fim de complementar as normas de jurisdição nacional, conforme o autor Celso D. de Albuquerque Mello6. Diante de todas essas considerações, o objetivo da presente dissertação é analisar a aplicação das normas do Direito Internacional do Mar na ordem jurídica brasileira, no que se refere à proteção do ambiente marinho durante a exploração e produção de petróleo offshore, com a finalidade de ampliar o seu marco regulatório e preencher as lacunas legislativas existentes. Almeja-se verificar até que ponto o Direito Internacional Público pode suprir o direito interno, principalmente os tratados internacionais ratificados pelo Brasil, de forma que se demonstre a integração entre sistemas jurídicos (interno e internacional) para se alcançar a efetiva prevenção de danos ambientais e proteção do meio marinho nos casos de incidentes de poluição marinha por óleo. Nesse sentido, esta pesquisa se fundamentará nas normas das Convenções Internacionais ratificadas pelo Estado brasileiro, as quais são a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982, a Convenção sobre Prevenção de Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e Outras Matérias de 1972, a Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios (Marpol 73/78) e Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e Cooperação em Caso de Poluição por Óleo de 1990. Tais documentos internacionais tratam sobre a atuação dos Estados costeiros em buscar a prevenção, redução e controle de poluição do meio marinho por conta de atividades desenvolvidas dentro de suas fronteiras marítimas. Assim, como foram incorporadas no. 5. ANTUNES, Paulo de Bessa. Proteção Ambiental nas Atividades de Exploração e Produção: aspectos jurídicos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. p. 115. 6 MELLO, Celso D. Albuquerque. Curso de direito internacional público. 15ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. v.2..

(20) 20. ordenamento jurídico do Brasil devem ser cumpridas e concretizadas nas atividades de exploração e produção de petróleo no mar. A partir de todo o exposto, pretende-se demonstrar que, como o marco regulatório existente não é suficiente para garantir a prevenção de incidentes de poluição marinha por óleo, foi imprescindível que o Brasil incorporasse no seu ordenamento jurídico normas internacionais que tratam sobre os casos-problemas jurídicos, principalmente por apresentar um contexto normativo pautado na proteção do direito fundamental ao meio ambiente, inclusive do ponto de vista internacional. Inicialmente, realizar-se-á um enfoque relativo à proteção ambiental do meio marinho na Constituição Federal de 1988 mediante uma breve análise de certos princípios constitucionais ambientais e da competência ambiental dos entes federativos. Em seguida, examinar-se-ão as regras internas aplicáveis à prevenção de poluição por derramamento de óleo resultante da exploração e produção de petróleo offshore, bem como as normas internacionais de prevenção de poluição ao mar internalizadas no ordenamento jurídico do Estado brasileiro. Em decorrência da ausência de estudos doutrinários relativos à temática, a presente pesquisa adotou uma análise mais descritiva da legislação interna existente e das normas internacionais ratificadas pelo Brasil que tratam sobre as medidas de prevenção contra incidentes de poluição por óleo para, assim, evidenciar as mudanças necessárias no ordenamento jurídico atual e comprovar a importância de sua reformulação. Por fim, serão demonstradas as medidas de prevenção que devem ser inseridas e aplicadas tanto na ordem interna – como, por exemplo, a avaliação ambiental estratégica e a compensação pecuniária dos danos ambientais – para orientar os agentes envolvidos nas atividades de exploração e produção de petróleo, quanto nas relações contratuais entre Estados e empresas petrolíferas mediante as cláusulas previstas nos contratos de partilha e de seguro ambiental..

(21) 21. 1. A PREVISÃO CONSTITUCIONAL SOBRE A PROTEÇÃO AMBIENTAL DOS FUNDOS MARINHOS SOB JURISDIÇÃO NACIONAL. A proteção do meio ambiente é essencial para retardar e mitigar a escassez dos recursos naturais, sendo necessária a positivação de medidas preventivas nas atividades econômicas, como a exploração e produção7 de petróleo que possui alto risco ambiental para os fundos marinhos sob jurisdição nacional. Apesar de ser uma fonte de energia indispensável para a sociedade atual8, o petróleo pode causar danos ambientais irreversíveis e de grande alcance, dentre eles se encontra os acidentes de grande porte durante a fase de exploração. Nesse sentido, devem-se ter instrumentos de proteção que minimizem os danos ambientais proporcionais ao risco ambiental da exploração e produção offshore de petróleo. Logo, o ordenamento jurídico brasileiro deve ter medidas de prevenção que, ao mesmo tempo, viabilizem a exploração econômica e a sustentabilidade da atividade. É a partir desse contexto que se apresenta como principal ferramenta para a proteção e a garantia do meio ambiente a Constituição Federal de 1988, já que tornou este, expressamente, um direito fundamental. Desse modo, para uma melhor compreensão do tema, faz-se necessário analisar as duas vertentes do meio ambiente na CF/88, sendo uma econômica e a outra humanística. Outros pontos importantes são o estudo dos princípios constitucionais ambientais, os quais, em conjunto, são essenciais para a efetiva prevenção e proteção do meio ambiente contra danos decorrentes de atividades econômicas, bem como a análise da previsão constitucional referente às competências dos entes federativos no sentido de legislar sobre a matéria ambiental. Por fim, diante de todo esse exame minucioso, será possível verificar a matéria constitucional aplicável ao meio. 7. De acordo com a Lei nº 9.478/1997, denominada de Lei do Petróleo, a exploração (ou pesquisa) é o conjunto de operações ou atividades destinadas a avaliar áreas, objetivando a descoberta e a identificação de jazidas de petróleo ou gás natural (art. 6º, XV); enquanto que a produção (ou lavra) é o conjunto de operações coordenadas de extração de petróleo ou gás natural de uma jazida e de preparo para sua movimentação (art. 6º, XVI). 8 “O petróleo possui (estando longe deixar de ter), mesmo com o advento das chamadas energias renováveis, lugar de destaque na exploração das mais diversas atividades econômicas. Como fonte de energia, o petróleo representa a principal matéria-prima para a produção do combustível utilizado nos mais diversos países, o que o faz causa de desagregação e de que guerras ao redor do mundo. A questão é que, se por um lado o petróleo é a fonte de energia que se tornou imprescindível no mundo atual, por outro lado, os danos ao meio ambiente causados em razão de sua exploração são motes de grandes discussões já que esses danos, em sua maioria, tornam-se irreversíveis e de alcance, não raramente, inimagináveis.” (ARAÚJO, Karoline de Lucena. Petróleo e Proteção do Meio Ambiente: o estudo de impacto ambiental como instrumento para aplicação do princípio da precaução no setor de petróleo. In: FEITOSA, Maria Luiza Pereira de Alencar Mayer; PEREIRA, Maria Marconiete Fernandes (org.). Direito Econômico da Energia e do Desenvolvimento: ensaios interdisciplinares. São Paulo: Conceito Editorial, 2012. p. 149.).

(22) 22. ambiente marinho e, consequentemente, as medidas preventivas necessárias para a sua proteção em todas as atividades, inclusive a exploração e produção de petróleo.. 1.1 O DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E AS SUAS VERTENTES. A Constituição Federal de 1988 adotou mecanismos de proteção ao meio ambiente de forma integrada, tendo em vista que é um direito que deve ser resguardado de modo sistêmico e interdependente. Sendo assim, a Carta Magna rompeu com a fragmentação legislativa do ordenamento jurídico do Brasil no que se refere à matéria ambiental, pois, antes de sua promulgação, a legislação ambiental era esparsa e pontual 9 , ao se preocupar especificamente sobre um determinado bem, sem adquirir uma visão ampla e total do meio ambiente. Apesar desse contexto, vale ressaltar a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, denominada de Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, representa a exceção desse sistema difuso anterior à Constituição de 1988, já que tem como objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana (art. 2º, caput). Dessa forma, essa lei adotou uma posição mais sistêmica do meio ambiente, o que possivelmente inspirou o sistema integrado da CF/88. Salienta-se, ainda, que esta lei apresentou a primeira definição legal no Brasil do termo meio ambiente, o qual é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (art. 3º, I).. 9. “As Ordenações do Reino foram os primeiros corpos normativos que trataram da proteção jurídica do meio ambiente brasileiro. Tratava-se de uma proteção mais restrita na medida em que suas proibições tinham como foco um bem ambiental em específico, desconsiderando-se a necessidade de proteger de maneira mais sistemática o meio ambiente. Assim, as Ordenações Afonsinas, por exemplo, proibiam o corte deliberado de árvores frutíferas, e as Ordenações Filipinas, por sua vez, protegiam as águas, punindo com multa quem jogasse material que a sujasse ou viesse a matar os peixes. A proteção do meio ambiente no Brasil continuou a ser positivada, mesmo após a sua independência, de maneira pontual e fragmentada. Assim, diversas foram as legislações que procuraram proteger microbens ambientais, desconsiderando a amplitude e a complexidade do macrobem ambiental, a exemplo da Lei nº 4.771, de 15.9.1965, que instituiu o novo Código Florestal, preocupando-se de maneira específica com um determinado bem, no caso as florestas.” (LEITE, José Rubens Morato; FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. Estado de Direito Ambiental no Brasil: uma visão evolutiva. In: FARIAS, Talden; COUTINHO, Francisco Seráphico da Nóbrega. Direito Ambiental: o meio ambiente e os desafios da contemporaneidade. Belo Horizonte: Fórum, 2010. p. 116.).

(23) 23. Outra lei brasileira importante sobre o reconhecimento da questão ambiental em âmbito legal foi a Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, que disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos morais e patrimoniais ao meio ambiente, dentre outros direitos difusos e coletivos 10 . Logo, essa lei representou outro avanço na consolidação da defesa da natureza na ordem interna. Tais leis foram as representações iniciais de mudanças no ordenamento jurídico do Brasil decorrentes do reflexo da nova política internacional em matéria ambiental. Primeiramente, destaca-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano de 1972, realizada em Estocolmo, na Suécia, que tinha como objetivo a criação de um critério e de princípios comuns para guiar a sociedade internacional na preservação e no melhoramento do meio ambiente humano11. Assim, essa Conferência resultou na Declaração de Estocolmo, o qual apresenta uma série de princípios, como: (i) a solidariedade internacional para a preservação e a proteção do. 10. Lei nº 7.347/1985. Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: I – ao meio ambiente; II – ao consumidor; III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo; V – por infração da ordem econômica e da economia popular; VI – à ordem urbanística. 11 A Declaração de Estocolmo de 1972 proclama alguns pontos, dentre estes, valer ressaltar os seguintes: “2. A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos povos de todo o mundo e um dever de todos os governos. (...) 6. Chegamos a um momento da história em que devemos orientar nossos atos em todo o mundo com particular atenção às consequências que podem ter para o meio ambiente. Por ignorância ou indiferença, podemos causar danos imensos e irreparáveis ao meio ambiente da terra do qual dependem nossa vida e nosso bemestar. Ao contrário, com um conhecimento mais profundo e uma ação mais prudente, podemos conseguir para nós mesmos e para nossa posteridade, condições melhores de vida, em um meio ambiente mais de acordo com as necessidades e aspirações do homem. As perspectivas de elevar a qualidade do meio ambiente e de criar uma vida satisfatória são grandes. É preciso entusiasmo, mas, por outro lado, serenidade de ânimo, trabalho duro e sistemático. Para chegar à plenitude de sua liberdade dentro da natureza, e, em harmonia com ela, o homem deve aplicar seus conhecimentos para criar um meio ambiente melhor. A defesa e o melhoramento do meio ambiente humano para as gerações presentes e futuras se converteu na meta imperiosa da humanidade, que se deve perseguir, ao mesmo tempo em que se mantém as metas fundamentais já estabelecidas, da paz e do desenvolvimento econômico e social em todo o mundo, e em conformidade com elas. 7. Para se chegar a esta meta será necessário que cidadãos e comunidades, empresas e instituições, em todos os planos, aceitem as responsabilidades que possuem e que todos eles participem equitativamente, nesse esforço comum. Homens de toda condição e organizações de diferentes tipos plasmarão o meio ambiente do futuro, integrando seus próprios valores e a soma de suas atividades. As administrações locais e nacionais, e suas respectivas jurisdições são as responsáveis pela maior parte do estabelecimento de normas e aplicações de medidas em grande escala sobre o meio ambiente. Também se requer a cooperação internacional com o fim de conseguir recursos que ajudem aos países em desenvolvimento a cumprir sua parte nesta esfera. Há um número cada vez maior de problemas relativos ao meio ambiente que, por ser de alcance regional ou mundial ou por repercutir no âmbito internacional comum, exigem uma ampla colaboração entre as nações e a adoção de medidas para as organizações internacionais, no interesse de todos. A Conferência encarece aos governos e aos povos que unam esforços para preservar e melhorar o meio ambiente humano em benefício do homem e de sua posteridade.” (Tradução livre)..

(24) 24. meio ambiente para as presentes e futuras gerações12; (ii) a preservação de recursos naturais e ecossistemas específicos13; (iii) o desenvolvimento econômico de forma que conserve o meio ambiente14; (iv) a proteção do mar contra poluição que coloque em risco a saúde do homem, os recursos e a vida marinha15 etc. Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento16 elaborou o documento internacional “Nosso Futuro Comum” (também denominado de Relatório Brundtland 17 ), sendo mais uma influência da política internacional na produção das normas constitucionais da Carta Magna de 1988. Isso porque esse documento apresentou o conceito de desenvolvimento sustentável, o qual é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades18 (parte n. 1, capítulo 2º, artigo 1º, inciso 1º). Além disso, o relatório foi dividido em três partes (interesses, desafios e esforços comuns), as quais objetivaram unir a sociedade internacional e gerar a cooperação entre os Estados para solucionar os problemas supranacionais mediante algumas práticas, como: a redução do consumo de energia; o incentivo ao uso das energias renováveis; e o desenvolvimento de tecnologias ecologicamente adaptáveis às atividades industriais. 12. Declaração de Estocolmo. Princípio 1: O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. A este respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação estrangeira são condenadas e devem ser eliminadas. 13 Ibidem. Princípio 2: Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, a terra, a flora e a fauna e especialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser preservados em benefício das gerações presentes e futuras, mediante uma cuidadosa planificação ou ordenamento. 14 Ibidem. Princípios 4: O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar judiciosamente o patrimônio da flora e da fauna silvestres e seu habitat, que se encontram atualmente, em grave perigo, devido a uma combinação de fatores adversos. Consequentemente, ao planificar o desenvolvimento econômico deve-se atribuir importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna silvestres. 15 Ibidem. Princípio 7: Os Estados deverão tomar todas as medidas possíveis para impedir a poluição dos mares por substâncias que possam pôr em perigo a saúde do homem, os recursos vivos e a vida marinha, menosprezar as possibilidades de derramamento ou impedir outras utilizações legítimas do mar. 16 A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) foi criada pela Organização das Nações Unidas, em 1983, com a finalidade de discutir as relações entre meio ambiente e desenvolvimento sustentável, bem como propor alternativas para que isso se viabilize, ou seja, não é necessária a estagnação do crescimento econômico, mas sim a sua conciliação com as questões ambientais e sociais. 17 O relatório recebeu este nome em decorrência do sobrenome da presidente da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Gro Harlem Brundtland, também primeira ministra da Noruega naquela época. 18 Tal dispositivo ainda prevê que o desenvolvimento sustentável possui dois conceitos-chave: (i) o conceito de “necessidades”, em particular as necessidades essenciais dos pobres do mundo, a que deve ser dada prioridade absoluta; e (ii) a ideia de limitações impostas pelo estado da tecnologia e da organização social sobre a capacidade do ambiente para satisfazer as necessidades presentes e futuras..

(25) 25. Após tal relatório, a Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) realizou, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, que resultou na produção de importantes convenções, dentre elas destaca-se a Convenção sobre Diversidade Biológica, que foi incorporada no ordenamento jurídico do Brasil através da promulgação do Decreto Legislativo nº 2, de 03 de fevereiro de 1994. Nessa convenção, em seu artigo 1º, foram apresentados os seus objetivos que são a conservação da diversidade biológica19, a utilização sustentável20 de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, inclusive, mediante o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias e o seu financiamento adequado. Sendo assim, para que tais objetivos sejam cumpridos, a Convenção sobre Diversidade Biológica dispôs sobre alguns mecanismos, como: cooperação internacional (artigo 5º); medidas gerais para a conservação e a utilização sustentável (artigo 6º); identificação e monitoramento da diversidade biológica (artigo 7º); incentivo à conservação mediante a adoção de medidas econômicas e socialmente racionais (artigo 11); estabelecer e manter programas de educação e treinamento científico e técnico (artigo 12) etc. Diante de todas essas políticas internas e internacionais em favor da proteção do meio ambiente, a Constituição Federal de 1988 adotou um posicionamento em conformidade com tais políticas, uma vez que, em seu art. 225, caput, estabeleceu que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Percebe-se, assim, que o dever constitucional de proteção ao meio ambiente recai não somente à figura do Estado, mas também à sociedade brasileira. Nesse caso, a Carta Magna foi mais além ao dispor o meio ambiente sob os aspectos humanístico e econômico. Enquanto aquele estabelece o direito ao meio ambiente equilibrado como direito fundamental, este determina a preservação e a proteção deste direito nas atividades. 19. De acordo com a Convenção da Diversidade Biológica, a definição de diversidade biológica é “a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas” (artigo 2º). 20 A Convenção determinou, ainda, que “utilização sustentável significa a utilização de componentes da diversidade biológica de modo e em ritmo tais que não levem, no longo prazo, à diminuição da diversidade biológica, mantendo assim seu potencial para atender as necessidades e aspirações das gerações presentes e futuras” (artigo 2º)..

(26) 26. econômicas, no sentido de se utilizar as ferramentas adequadas para a menor degradação ambiental possível.. 1.1.1 A vertente humanística. A Constituição brasileira de 1988 adotou a posição da dimensão objetivo-subjetiva do ambiente, na qual se reconhece o direito subjetivo do homem juntamente com a proteção autônoma do meio ambiente, ou seja, resguardar os recursos ambientais independente do interesse humano. Dessa forma, é uma visão mais avançada e moderna, tendo em vista que se afastou o caráter tão somente antropocêntrico, em que é voltado unicamente a serviço do bemestar do homem. O supracitado art. 225, caput, indica a concepção jurídica atribuída ao bem ambiental, uma vez que não se restringiu a conferir o meio ambiente saudável como direito objetivo, estendendo o seu conceito para bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Logo, a nova concepção constitucional ultrapassou a visão individualista dos direitos subjetivos, fornecendo proteção jurídica ao bem ambiental de forma autônoma. Outro ponto importante deste artigo é a titularidade do dever de preservação ambiental, visto que recaiu ao Estado e à coletividade. A Lei Maior estipulou uma responsabilidade compartilhada, ou seja, enquanto que os direitos subjetivos dos indivíduos da coletividade são limitados com vistas à proteção do bem ambiental, por outro lado, o Estado assume um papel de gestor no direcionamento das medidas de efetividade de um ambiente sadio (conforme a disposição do §1º do art. 22521), retirando de vez a posição de único centro de poder das decisões referentes ao meio ambiente. Portanto, diante desse contexto, encontra-se o Estado como 21. Constituição Federal. Art. 225. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade..

(27) 27. fornecedor de meios instrumentais necessários para executar o direito ao meio ambiente sadio, e, por outro lado, a coletividade adquire a atribuição de se abster das práticas nocivas ao meio ambiente. A partir dessa breve análise, conclui-se que a CF/88 incluiu o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no rol dos direitos fundamentais em decorrência do seu cunho social amplo, o que o coloca no mesmo patamar do direito à vida, à igualdade e à liberdade. Tanto que, por ser “bem de uso comum do povo”, o meio ambiente pode ser tutelado mediante ação popular22, em que qualquer cidadão é parte legítima para propô-la com a finalidade de anular ato lesivo contra este direito fundamental, em conformidade com o art. 5º, inciso LXXIII 23 , da Constituição. Apesar de o sistema constitucional brasileiro reconhecer a importância do meio ambiente para gerações humanas, a tutela constitucional deste bem jurídico vai além do seu vínculo à pessoa humana. Nesse diapasão, tem-se uma obrigação legal, social e constitucional no que se refere ao amparo jurídico dos processos ecológicos essenciais, sem se buscar as suas utilidades imediatas. Ou seja, há uma reserva de valor que deve ser protegida pelo Estado, a qual poderá vir a ser utilizada ou não em um futuro não especificado. Para comprovar a posição constitucional sobre esse tipo de tutela, destacam-se três incisos do §1º, do art. 225 da Lei Maior, os quais são: o inciso I (“preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas”); o inciso II (“preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País”); e o inciso VII (“proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”). Portanto, a atual Constituição Federal adotou a tendência contemporânea de tutela dos interesses difusos e, em especial, do meio ambiente, ao colocá-lo como direito constitucionalmente regulado de terceira dimensão24. No que se refere ao âmbito constitucional 22. A ação popular foi regulamentada pela Lei nº 4.717 de 29 de junho de 1965, sendo uma ação que tem a finalidade de anular ou invalidar atos administrativos (contratos) que ameacem ou lesionem os direitos difusos, como meio ambiente, moralidade administrativa e patrimônios público, histórico e cultural. 23 Constituição Federal. Art. 5º. (...) LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. 24 No que concerne à terceira dimensão dos direitos fundamentais, destaca-se a seguinte lição do doutrinador Walber de Moura Agra: “Os direitos de terceira dimensão têm como principal vetor o direito à fraternidade, fraternidade de direitos do gênero humano. São exemplos típicos de prerrogativas de terceira dimensão: direito ao desenvolvimento,.

(28) 28. brasileiro, a Constituição Federal de 1988 foi a primeira a abordar de forma expressa sobre a matéria mediante um capítulo específico para tratar do direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, com a finalidade de que a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país sejam preservadas. Diante de todo o exposto, em decorrência de ser um direito fundamental, o meio ambiente deve ser preservado e protegido para presentes e futuras gerações durante a realização das atividades econômicas, isto é, que estas sejam desenvolvidas utilizando ferramentas adequadas para a menor degradação ambiental possível. Logo, a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico devem coexistir de modo que este não acarrete a anulação daquela, tanto que a Constituição também estabeleceu uma vertente econômica para o Direito Ambiental.. 1.1.2 A vertente econômica. A Constituição Federal de 1988 regulamentou a ordem econômica, a qual, conforme o caput do art. 170, é fundada na livre iniciativa e na valorização do trabalho humano para assegurar a todos existência digna, tendo que observar os ditames de justiça social e os princípios gerais da atividade econômica. Sendo assim, a observância de tais princípios é essencial no exercício de quaisquer atividades econômicas realizadas no Brasil, tanto que se encontram previstos nos incisos I ao IX do art. 170 da CF/88 como princípios gerais da ordem econômica, quais são: a) soberania nacional; b) propriedade privada; c) função social da propriedade; d) livre concorrência; e) defesa do consumidor; f) defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; g) redução das desigualdades regionais e sociais; h) busca do pleno emprego; i) tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país. à paz, ao meio ambiente equilibrado, ao patrimônio histórico, artístico e cultural, à autodeterminação dos povos, à solidariedade, à proteção dos consumidores, direitos dos hipossuficientes, à preservação da intimidade etc. [...] O destinatário é o homem em termos de gênero humano, enfocado sob um prisma coletivo. Se o destinatário é coletivo, a responsabilidade para a sua concretização também é coletiva, não dependendo apenas da atuação estatal para assegurar a todos a consecução desses direitos. O cidadão tem especial participação na sua efetivação. Os direitos de terceira dimensão ultrapassam os limites territoriais do país, podendo-se falar na globalização desses direitos, como condição para a sua realização fática.” (AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 131.).

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