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Que lugar para os trabalhadores de origem africana no mercado de trabalho em Portugal:análise do impacto das "novas" vagas de imigração

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Faculdade de Letras

Universidade de Lisboa

QUE LUGAR PARA OS TRABALHADORES DE ORIGEM AFRICANA NO MERCADO DE TRABALHO EM PORTUGAL?

ANÁLISE DO IMPACTO DAS ‘NOVAS’ VAGAS DE IMIGRAÇÃO

Sónia Pereira

Tese submetida para obtenção do grau de Doutor em Geografia

Especialidade: Geografia Humana

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Faculdade de Letras

Universidade de Lisboa

QUE LUGAR PARA OS TRABALHADORES DE ORIGEM AFRICANA NO MERCADO DE TRABALHO EM PORTUGAL?

ANÁLISE DO IMPACTO DAS ‘NOVAS’ VAGAS DE IMIGRAÇÃO

Sónia Pereira

Tese submetida para obtenção do grau de Doutor em Geografia

Especialidade: Geografia Humana

Orientador:

Prof. Doutor Jorge Macaísta Malheiros

Julho, 2009

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“Vinham famintos e ferozes. Tinham alimentado a esperança de encontrar um lar e só encontraram ódio… os proprietários odiavam-nos. E os donos das casas comerciais das cidades odiavam-nos também porque eles não tinham dinheiro para gastar… Os homens das cidades, pequenos banqueiros, odiavam os Okies, porque um homem esfomeado tem de trabalhar e, quando precisa de trabalhar e não acha onde, automaticamente trabalha por um salário menor, e então todos têm de trabalhar por salários menores.”

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RESUMO

O panorama da imigração em Portugal alterou-se no final da década de 90 do século XX com a entrada no país de um número expressivo de imigrantes oriundos do Leste da Europa e do Brasil. Nessa data, o colectivo de imigrantes cabo-verdianos, até então o mais numeroso, perdeu a sua posição relativa face aos grupos de imigrantes ucranianos e brasileiros. Esta alteração, no volume e composição da mão-de-obra disponível em Portugal, terá também modificado as opções de contratação dos empregadores, com potenciais impactos na situação laboral dos imigrantes de origem africana.

A questão do impacto da entrada de novos fluxos de imigrantes no mercado de trabalho tem merecido uma grande atenção por parte da academia, sobretudo na vertente dos efeitos para trabalhadores nacionais, incluindo minorias étnicas em posição de desvantagem (caso dos afro-americanos nos Estados Unidos), designadamente pela possibilidade de conflito que encerra. No entanto, é para outros trabalhadores imigrantes que estes impactos são potencialmente maiores, e, no caso português, a população africana residente foi colectivamente percebida como a mais vulnerável face às novas vagas.

O trabalho de investigação desenvolvido recorreu a dados do lado da procura e da oferta de trabalho para reflectir sobre os efeitos subjectivos e objectivos – no acesso ao emprego, nos níveis salariais, nas condições de trabalho e na mobilidade geográfica – sentidos pelos imigrantes de origem africana neste contexto. Apurou-se que estes efeitos foram distintos por sector de actividade, e para homens e mulheres, e que não se verificaram imediatamente após a entrada, mas foram-se desenrolando ao longo do tempo, tendo sido também influenciados pela conjuntura económica.

Palavras-chave: imigração; mercado de trabalho; inserção no mercado de trabalho; concorrência

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ABSTRACT

The scenery of Portuguese immigration underwent substantial changes at the end of the 1990s as a result of the inflow of a large number of immigrants from Eastern Europe and Brazil. At this point, the Cape-Verdeans, until then the largest immigrant group in the country, lost their relative position to the newly arrived. This alteration in the volume and composition of the available workforce also changed the hiring options available to employers, with potential impacts in the labour market situation of African workers.

The question of the impact of new immigrant arrivals in the labour market has received significant attention in academia, however, this has been mostly directed to the impact of immigrants on native workers, including national ethnic minorities (for example Afro-Americans who have been regarded as particularly vulnerable in this context), due to the conflict potential it entails. Yet, it is for other immigrant workers, already in the country, that impact is most likely to occur. In the Portuguese case, the African population was collectively considered to be particularly vulnerable to this inflow.

The research project developed for this PhD resorted to data from the demand and the supply side of the labour market to identify and reflect upon the subjective and objective effects – access to jobs, wages, working conditions and geographic mobility - of this inflow for African immigrants in the country. The research shows that effects were different according the industry in which they worked, and thus to men and women, and that they were not immediate but developed over time, being also affected by the economic background.

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho deve a sua existência, em primeiro lugar, a todas as pessoas e organizações que para ele contribuíram, e a quem muito agradeço. Estou particularmente grata a todos os imigrantes que, independentemente das circunstâncias em que se encontravam em Portugal, partilharam as suas histórias de vida, visões e experiências. Um agradecimento merecem também os diversos mediadores que, em muitos casos, facilitaram o acesso a estes imigrantes, incluindo contactos pessoais, gabinetes de atendimento de Câmaras Municipais, Associações de Imigrantes, Centros Locais de Apoio ao Imigrante e outras Organizações Não Governamentais com forte implementação no terreno. Merecem ainda uma referência os empregadores, representantes de várias empresas e associações empresariais que colaboraram com este trabalho, assim como os membros dos sindicatos entrevistados.

Para o Professor Jorge Macaísta Malheiros, meu orientador, um enorme obrigada, por ter alimentado desde o início a curiosidade que daria lugar à questão de investigação subjacente a esta tese e, também, pelo acompanhamento que deu a todas as fases deste trabalho, com comentários pertinentes e rigorosos, mas sempre encorajadores. Também a Professora Helena Carvalho, do ISCTE, desempenhou um papel fundamental de orientação do trabalho desenvolvido para a pós-graduação em Análise de Dados em Ciências Sociais que viria a ser incluído nesta tese, e que muito agradeço, sobretudo pela sua paciência e empenho na resposta às minhas inúmeras dúvidas.

À Fundação para a Ciência e Tecnologia (SFRH/BD/17390/2004) agradeço a atribuição da bolsa que viabilizou financeiramente esta investigação e ao Centro de Estudos Geográficos, da Universidade de Lisboa – em particular à Professora Maria Lucinda Fonseca – o acesso à rede IMISCOE (International Migration, Integration and Social Cohesion), no âmbito da qual participei, não só em seminários temáticos, mas também em sessões de formação destinadas especificamente a doutorandos na área das migrações.

Um agradecimento é ainda devido às instituições que disponibilizaram dados estatísticos, em particular ao Gabinete de Estratégia e Planeamento, do Ministério do

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Trabalho e Solidariedade Social, que apoiou a extracção dos dados dos quadros de pessoal através do ponto do investigador.

Obrigada também a todos os amigos e colegas, em Portugal e no estrangeiro, com quem ao longo do tempo fui discutindo e reflectindo sobre o trabalho que ia realizando. Um agradecimento especial para a Dora Possidónio que me ajudou a construir as bases de dados para introdução dos dados dos questionários.

Este trabalho é também, inevitavelmente, o resultado do meu percurso académico, profissional e pessoal. Neste âmbito – e perante a impossibilidade de registar e agradecer todas as influências – opto por uma selecção, cuja menção me parece pertinente. Ao nível da educação formal, destaco, em primeiro lugar, a minha formação académica inicial em Economia, que contribuiu para a minha preocupação com a dimensão socio-económica das migrações e com o mercado de trabalho e a integração económica, em particular. Em segundo lugar, o mestrado, realizado na Universidade de Sussex, com uma forte componente de interdisciplinaridade, mas também com uma grande influência da Geografia – resultante de a organização do curso estar sob a responsabilidade de dois geógrafos. Este curso marcou a minha aproximação à área disciplinar da Geografia e uma tomada de consciência da importância do factor ‘espaço’ para a análise dos fenómenos sociais.

No âmbito da minha formação ‘não formal’, o principal agradecimento vai para os meus pais, principalmente pelos valores e visões do mundo que me transmitiram, e em especial para a minha mãe, pelo seu apoio quotidiano sempre incondicional, acentuado durante a fase de conclusão da tese, e também para a minha mais recente família, a Beatriz e também o João, que além de acompanhar todo o processo, incluindo as incursões do trabalho de campo, assumiu também o papel fundamental de revisor crítico e meticuloso dos textos que fui escrevendo ao longo do processo de aprendizagem que constituiu a elaboração desta tese.

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ÍNDICE

ÍNDICE DE FIGURAS ... v

ÍNDICE DE QUADROS ... vii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ... x

INTRODUÇÃO... 1

CAPÍTULO 1 – OS IMIGRANTES E O MERCADO DE TRABALHO: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E METODOLÓGICO ... 12

1.1. A posição dos trabalhadores imigrantes nos mercados de trabalho ... 18

1.2. A mobilidade laboral dos trabalhadores imigrantes ao longo do tempo ... 23

1.3. Contributos teóricos para explicação da posição e das trajectórias de inserção dos trabalhadores imigrantes nos mercados de trabalho ... 29

1.4. Impacto dos trabalhadores imigrantes nos mercados de trabalho: a questão do impacto para os outros trabalhadores ... 63

1.5. A relevância das teorias para o objecto de estudo ... 73

1.6. Considerações metodológicas, modelo analítico e caracterização-base da amostra ... 76

CAPÍTULO 2 – BREVE HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO LABORAL PARA PORTUGAL: IMIGRANTES DOS PALOP, DO LESTE DA EUROPA E DO BRASIL EM OCUPAÇÕES POUCO QUALIFICADAS ... 97

2.1. A imigração laboral dos PALOP para Portugal: a história de uma inserção em ocupações pouco qualificadas ... 98

2.2. A história recente da imigração do Leste da Europa para Portugal: um caso de transitoriedade ... 110

2.3. Os imigrantes brasileiros em Portugal: a pujança de uma vaga recente... 119

2.4. Comentários Finais ... 125

CAPÍTULO 3 – O EMPREGO, PERSPECTIVAS E EXPERIÊNCIAS DOS EMPREGADORES: UMA ABORDAGEM SECTORIAL DO LADO DA PROCURA DE TRABALHO ... 128

3.1. Actividades de Limpeza em Edifícios, Escritórios e Indústria... 130

3.2. Trabalho Doméstico ... 148

3.3. Construção ... 180

3.4. Comentários Finais ... 222

CAPÍTULO 4 - PERCURSOS LABORAIS EM CONTEXTO DE MUDANÇA: O LADO DA OFERTA DE TRABALHO... 227

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4.1. Vivências perceptivas: a entrada dos ‘novos’ imigrantes em Portugal na

perspectiva da sociedade portuguesa, líderes associativos e imigrantes ... 231

4.2. Situações laborais em transformação? Análise do período 1998-2001-2006.... 242

4.3. Contribuições para uma avaliação dos percursos: deterioração/precarização, estabilização ou consolidação/melhoria?... 319

4.4. Resumo Conclusivo... 344

CAPÍTULO 5 – SÍNTESE CONCLUSIVA E REFLEXÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS... 350

5.1. Síntese das principais transformações na situação laboral dos imigrantes dos PALOP em Portugal: uma abordagem sectorial... 352

5.2. Contributos para uma reflexão em torno de aspectos teóricos e metodológicos373 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 383

ANEXOS ... 402

Anexos do Capítulo 1 ... 403

Anexos do Capítulo 3 ... 449

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1 – Interligações entre as várias dimensões analíticas do mercado de trabalho17 Figura 1.2 – Distribuição do tipo de alojamento dos imigrantes de origem africana…..96 Figura 2.1 – Evolução do nº de imigrantes regulares dos PALOP no período 1999-2002-2006……….99 Figura 2.2 – Quocientes de Localização dos nacionais dos PALOP nas freguesias da AML em 2001 ………..106 Figura 2.3 – Quocientes de Localização dos nacionais de países europeus fora da UE nas freguesias da AML em 2001 ………..114 Figura 2.4 – Evolução do nº de imigrantes do Leste da Europa nas estatísticas oficiais do SEF ………..118 Figura 2.5 – Quocientes de Localização dos nacionais do Brasil nas freguesias da AML em 2001 ………123 Figura 3.1 – Evolução do nº de trabalhadores de limpeza por região de origem ……133 Figura 3.2 – Evolução do peso dos trabalhadores de cada grupo regional no total de estrangeiros na actividade de limpezas ……….134 Figura 3.3 – Evolução do nº de trabalhadores das principais nacionalidades na actividade de limpezas ………..135 Figura 3.4 – Evolução do nº de trabalhadores do Leste da Europa na actividade de limpezas……….136 Figura 3.5 – Taxa de crescimento do nº de empregadas domésticas, por região de origem………177 Figura 3.6 – Evolução da percentagem de trabalhadoras domésticas estrangeiras, por região de origem ………...178 Figura 3.7 - Configuração simplificada da estrutura organizativa de uma obra ……...184 Figura 3.8 – Evolução do nº de trabalhadores na actividade construção de

edifícios/engenharia civil, por região de origem ………..191 Figura 3.9 – Evolução do nº de trabalhadores das principais nacionalidades na actividade construção de edifícios/engenharia civil………..192 Figura 3.10 – Evolução do nº de trabalhadores na actividade acabamentos, por região de origem ………...193 Figura 3.11 – Evolução do peso dos trabalhadores de cada grupo regional no total de estrangeiros na actividade acabamentos ………...194 Figura 3.12 – Evolução do nº de trabalhadores das principais nacionalidades estrangeiras na actividade acabamentos ………...195 Figura 3.13 – Evolução do nº de trabalhadores na actividade instalações especiais, por região de origem ………...197 Figura 3.14 – Evolução do peso dos trabalhadores de cada grupo regional no total de estrangeiros na actividade instalações especiais………197

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Figura 3.15 – Evolução do nº de trabalhadores de nacionalidade estrangeira na

actividade instalações especiais ………198

Figura 3.16 – Evolução do rácio 712/931 por grupo regional estrangeiro …………...201

Figura 3.17 – Evolução do rácio 712/931 para os trabalhadores portugueses ……….201

Figura 3.18 – Evolução do nº de pedreiros, por nacionalidade ………203

Figura 3.19 – Evolução do nº de armadores de ferro, por nacionalidade ……….204

Figura 3.20 – Evolução do nº de carpinteiros de tosco, por nacionalidade …………..205

Figura 3.21 – Evolução do nº de estucadores, por nacionalidade ………206

Figura 3.22 – Evolução do nº de canalizadores, por nacionalidade………..207

Figura 3.23 – Evolução do nº de electricistas, por nacionalidade ………208

Figura 3.24 – Evolução do nº de pintores, por nacionalidade ………..209

Figura 3.25 – Evolução do nº de operadores de grua, por nacionalidade ………210

Figura 3.26 – Evolução do nº de serventes, por nacionalidade ………211

Figura 3.27 – Tendências de crescimento dos grupos regionais, por actividade, entre 2002 e 2006 ………..224

Figura 4.1 – Evolução das modalidades de emprego entre 1998-2001-2006 ……….248

Figura 4.2 – Espaço Laboral em 1998 ……….273

Figura 4.3 – Espaço Laboral em 2001 ……….275

Figura 4.4 – Espaço Laboral em 2006 ……….277

Figura 4.5 – Distribuição dos indivíduos por tipo de trabalho em 1998 ………..282

Figura 4.6 – Distribuição dos indivíduos por tipo de trabalho em 2001 ………..284

Figura 4.7 – Distribuição dos indivíduos por tipo de trabalho em 2006 ………..286

Figura 4.8 – Espaço de Ausência de Trabalho em 1998 ………..………291

Figura 4.9 – Evolução do número de desempregados por nacionalidade ………323

Figura 4.10 – Evolução da relação nº desempregados/nº empregados por grupo ……325

profissional e região de origem Figura 4.11 – Evolução do número de desempregados por grupo regional ………….325

Figura 4.12 – Evolução do nº de desempregados do CNP 8.3. por região de origem...327

Figura 4.13 – Evolução do nº de desempregados do CNP 9.1. por região de origem...327

Figura 4.14 – Evolução do nº de desempregados do CNP 7.1. por região de origem...328

Figura 4.15 – Evolução do nº de desempregados do CNP 9.3. por região de origem...328

Figura 4.16 – Principais Marcadores Laborais dos trabalhadores dos PALOP – sectores da construção, trabalho doméstico e limpezas entre 1998 e 2006 ………349

Figura 5.1 – Posição relativa de cada grupo nacional, por nº de desempregados registados, nacional ………..366

Figura 5.2 – Evolução do nº de desempregados registados, por grupo regional, nacional ………...366

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Número de imigrantes em Portugal (com nacionalidade estrangeira)………6

Quadro 1.1 – Modalidades de inserção laboral: casos-tipo ilustrativos por sector de actividade ………47

Quadro 1.2 – Nacionalidade dos imigrantes inquiridos ……….91

Quadro 1.3 – País de origem dos imigrantes inquiridos ……….91

Quadro 1.4 – Níveis de habilitação por período de entrada ………...94

Quadro 1.5 – Distribuição dos inquiridos por concelho de residência e período de entrada ………95

Quadro 2.1 – Principais concentrações dos imigrantes africanos, por bairro e país de origem ………...104

Quadro 2.2 – Principais concentrações dos imigrantes africanos, por concelho e nacionalidade ………105

Quadro 2.3 – Resumo das principais características dos modos de incorporação laboral para imigrantes dos PALOP, Leste e Brasil ……….127

Quadro 3.1 – Distribuição dos grupos regionais pelas actividades 745 (selecção e colocação de pessoal) e 747 (limpeza) ……….132

Quadro 3.2 – Evolução do nº de trabalhadores estrangeiros na actividade de limpezas, por nacionalidade ………..135

Quadro 3.3 – Evolução do peso das actividades de limpeza, no conjunto de actividades em análise, por nacionalidade ………...137

Quadro 3.4 – Remuneração média base mensal de auxiliares de limpeza no distrito de Lisboa, por nacionalidade ……….139

Quadro 3.5 – Imagem associada a trabalhadores estrangeiros na actividade de limpezas ……….………..145

Quadro 3.6 – Percepções associadas aos trabalhadores de limpeza, por nacionalidade ……….………..146

Quadro 3.7 – Nacionalidades das empregadas domésticas estrangeiras ………..158

Quadro 3.8 – Tempo de serviço por região de origem da empregada doméstica …….159

Quadro 3.9 – Nº de horas semanais de trabalho doméstico em regime parcial……….160

Quadro 3.10 – Motivos para não pagamento de contribuições à Segurança Social…..163

Quadro 3.11 – Atributos mais valorizados nas empregadas domésticas ………..165

Quadro 3.12 – Facilidade em encontrar os atributos valorizados, por nacionalidade ..166

Quadro 3.13 – Avaliação do desempenho das empregadas domésticas por nacionalidade ……….………..167

Quadro 3.14 – Empregadas domésticas com melhor e pior desempenho, por nacionalidade ……….………...168

Quadro 3.15 – Preferências por nacionalidade ……….169

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Quadro 3.17 – Distribuição do número de empregadas anteriores de cada nacionalidade

……….………..172

Quadro 3.18 – Formas prováveis para recrutamento de nova empregada doméstica ..173

Quadro 3.19 – Evolução do nº de trabalhadoras domésticas com contribuições pagas à SS ……….……….175

Quadro 3.20 – Evolução do peso dos trabalhadores estrangeiros na construção, por região de origem ……….………..186

Quadro 3.21 – Evolução do peso dos trabalhadores estrangeiros na construção por nacionalidade ………187

Quadro 3.22 – Evolução no nº de trabalhadores na construção, por nacionalidade ….188 Quadro 3.23 – Distribuição dos trabalhadores de cada grupo regional por actividade, em 2006, e respectivo peso na actividade ………..189

Quadro 3.24 – Distribuição dos trabalhadores de cada grupo regional por actividade, em 2006, e peso da actividade para cada origem ………...190

Quadro 3.25 – Peso da actividade construção edifícios/engenharia civil para cada nacionalidade ………193

Quadro 3.26 – Peso da actividade acabamentos para cada nacionalidade …………...196

Quadro 3.27 – Evolução da proporção de portugueses no total de trabalhadores, por grupo profissional ……….199

Quadro 3.28 – Profissões da construção seleccionadas ………202

Quadro 3.29 – Resumo da distribuição profissional na construção ……….212

Quadro 3.30 – Imagem dos trabalhadores da construção por nacionalidade ………...219

Quadro 3.31 – Percepções associadas aos trabalhadores da construção por região/nacionalidade ……….220

Quadro 4.1 – Indicadores das condições de trabalho ………...243

Quadro 4.2 – Indicadores das situações sem trabalho ………..244

Quadro 4.3 – Percursos de transformação no acesso ao emprego 1998-2001 ……….249

Quadro 4.4 – Percursos de transformação no acesso ao emprego 2001-2006 ……….250

Quadro 4.5 – Tipos de situações de trabalho em 1998 ……….281

Quadro 4.6 – Tipos de situações de trabalho em 2001 ……….282

Quadro 4. 7 - Tipos de situações de trabalho em 2006 ……….284

Quadro 4.8 – Situações de ausência de trabalho em 2001 ………294

Quadro 4.9 – Situações de ausência de trabalho em 2006 ………296

Quadro 4.10 – Níveis salariais por origem e ocupação em 2006 ……….300

Quadro 4.11 – Valores da remuneração média base paga por ocupação e região de origem do trabalhador ………...307 Quadro 4.12 – Tipo de evolução salarial na ocupação pedreiro entre 2000 e 2005 ….311

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Quadro 4.13 – Tipo de evolução salarial na ocupação armador de ferro entre 2002 e 2005 ………..311 Quadro 4.14 – Tipo de evolução salarial na ocupação servente entre 2000 e 2005 ….311 Quadro 4.15 – Grelha de avaliação dos percursos laborais simplificada ……….321 Quadro 4.16 – Importância relativa dos percursos de acesso ao emprego …………...321 Quadro 4.17 – Grelha de avaliação dos percursos laborais detalhada ………..329 Quadro 5.1 – Síntese dos principais percursos de evolução por região de origem …..368 Quadro 5.2 – Quadro comparativo da evolução do emprego, por actividade, e do

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AML – Área Metropolitana de Lisboa AP – Autorização de Permanência

CAE – Classificação das Actividades Económicas CCT – Contrato Colectivo de Trabalho

CGTP – Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses CIES – Centro de Investigação e Estudos de Sociologia CLAI – Centro Local de Apoio ao Imigrante

CNP – Classificação Nacional de Profissões

DEPIAP-CEPAC – Departamento de Estudos e Documentação sobre Imigração Africana em Portugal, Centro Padre Alves Correia

GEP – Gabinete de Estratégia e Planeamento ICEP – Instituto de Comércio Externo de Portugal

IDICT – Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional

INE – Instituto Nacional de Estatística

ISCTE – Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa MAI – Ministério da Administração Interna

MTSS – Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

PJ – Polícia Judiciária

SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras UE – União Europeia

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INTRODUÇÃO

Em Portugal, os estudos das migrações registaram uma evolução extraordinária na última década, com contribuições de várias áreas disciplinares – Sociologia, Geografia, Antropologia, Ciência Política, Economia e Psicologia – assim como de abordagens inter e multidisciplinares. Os estudos mais recentes publicados no país no âmbito desta temática, ou objecto de teses de doutoramento, têm sido marcados por um grande interesse pelas novas, ou, em alguns casos, menos numerosas, ‘comunidades’ de imigrantes em Portugal: brasileiros (Malheiros (Ed.) 2007; Machado 2005, Casa do Brasil/ACIME 2004), bengalis (Mapril 2008), chineses (Baptista 2006) e europeus de Leste (Sousa 2006, Hellerman 2005, Fonseca 2004, Baganha et al 2004), entre outros. Contudo, as novas linhas de investigação, motivadas pelo surgimento em Portugal de novos grupos de imigrantes e pela diversificação das suas actividades, não devem, a meu ver, fazer-nos descurar as origens de presença mais antiga e mais enraizada, que continuam a corresponder, pelo seu volume, fluxos e significado social, a alguns dos grupos migrantes mais relevantes do país. Este trabalho pretende, assim, dar continuidade aos estudos sobre a imigração oriunda de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) em Portugal (ver o capítulo 2 para uma revisão destes estudos), situando-a no actual quadro de maior complexidade e diversidade migratória.

A presença continuada e a entrada sustentada de imigrantes originários destes países em Portugal merece à academia um continuado e renovado interesse de reflexão, designadamente pela dimensão política envolvida. Uma grande parte destes imigrantes1 está enraizada em Portugal e muitos obtiveram já a nacionalidade portuguesa. Porém, a visibilidade dos seus percursos de inserção socio-laboral nos segmentos mais desfavoráveis do mercado de trabalho e da sua concentração espacial em bairros sociais ou de barracas reflectem, para a maior parte dos portugueses, as dificuldades de integração social enfrentadas por estes imigrantes. A estas acrescem ainda as questões

1

A própria definição de ‘imigrante’ não é consensual, existindo várias abordagens possíveis (ONU 2002), mas é nesta fase entendido, de forma abrangente, como “a person who moves to a country other than his or her usual residence” (ONU 2002: 11) e que inclui tanto os imigrantes de longo prazo, que mudam o seu local de residência por um período de, pelo menos, 1 ano, como os de curto-prazo, que realizam a mesma deslocação por um período entre 3 meses e 1 ano, segundo recomendações das Nações Unidas (de 1998) para uniformização dos dados estatísticos relativos à imigração. No âmbito deste trabalho, considera-se também que abrange tanto aqueles que adquiriram a nacionalidade do país de residência como os que não o fizeram.

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levantadas pelas sobejamente conhecidas inquietações relativas à integração nos meios escolares e profissionais dos seus descendentes, nascidos ou não, em Portugal (a este respeito ver por exemplo Machado 2008).

O fluxo de (i)migrantes laborais originários de Cabo Verde foi o que mais cedo se afirmou no cenário da (i)migração em Portugal. Inicialmente, durante a segunda metade da década de 60 e até à descolonização em 1975, tratavam-se de cidadãos nacionais que se deslocavam de um espaço ultramarino para trabalhar na metrópole, largamente incentivados pelo próprio Estado português. Como é sabido, durante este período, os migrantes eram sobretudo homens que vinham trabalhar na construção civil e obras públicas, colmatando as carências de mão-de-obra que se começaram a sentir nessa altura, e contribuindo para a concretização da maior parte das obras que, desde então, se fizeram no país.

Mais tarde, começaram a chegar as mulheres, algumas logo no final da década de 60. A maior parte veio ao abrigo do reagrupamento familiar, mas houve quem migrasse individualmente, sobretudo na fase inicial. Enquanto algumas permaneceram como ‘domésticas’, assegurando os cuidados da casa e dos filhos (por vezes eram os maridos que não queriam que trabalhassem, como veremos), outras começaram a trabalhar como empregadas domésticas ou de limpeza, ajudantes de cozinha e copeiras. Os filhos chegaram mais tarde ou nasceram já em Portugal. São descendentes de imigrantes, as ‘segundas gerações’, que frequentemente simbolizam as dificuldades de integração destes imigrantes em Portugal. No período que se seguiu à descolonização diversificaram-se também as origens dos imigrantes, com um número crescente de imigrantes de outros países africanos de expressão portuguesa (principalmente de Angola e da Guiné-Bissau) e intensificaram-se os fluxos.

Apesar desta história de (i)migração, até ao final da década de 90, o peso da população imigrante em Portugal manteve-se baixo: em 1999 e 2000, a percentagem de população nascida no estrangeiro em Portugal situava-se próximo dos 5%2, enquanto, nos mesmos anos, na Alemanha essa proporção ascendia a 12,5/ 12,6%, e no Reino Unido a

2

De acordo com os dados do Censo de 2001, a população nascida no estrangeiro, excluindo os naturais dos países da EU (15) e da Suiça, não chegava a 500.000 indivíduos, representando cerca de 4,6% dos residentes totais.

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7,6/7,9%3. Este padrão de recepção de imigrantes é aliás comum aos restantes países do Sul da Europa, que passaram a partir desta altura a designar-se ‘novos países de imigração’ (OCDE 2007b), abrindo caminho para uma transição, que em Portugal ficou incompleta, de países de emigração para países de imigração. Por este motivo, o estudo da imigração em Portugal ganhou relevância nas esferas política e académica sobretudo nos últimos 10-15 anos. Porém, e apesar da intensificação da produção académica no âmbito dos estudos sobre as migrações, persistem ainda diversas lacunas de conhecimento sobre os processos de integração económica que estão associados à permanência dos imigrantes originários dos PALOP em Portugal.

Vários trabalhos têm enfatizado as modalidades de inserção desfavorecida no mercado de trabalho, nos segmentos secundários e em sectores marcados por um baixo estatuto social: a construção civil e obras públicas4 e as limpezas domésticas, urbanas e industriais5. Carecemos ainda da concretização de uma monitorização ao longo do tempo de trajectórias socioprofissionais e espaciais destes trabalhadores. Um primeiro estudo nesse sentido foi tentado por Machado e Abranches (2005), com resultados interessantes ao nível da progressão de imigrantes de origem cabo-verdiana (e hindus) no mercado de trabalho, mas ainda pouco aprofundados. A este deve juntar-se o estudo de Carneiro et al (2006) sobre mobilidade ocupacional, que fica aquém das expectativas devido ao reduzido intervalo temporal que abarca (percurso em Portugal entre 2000 e 2002).

De um modo geral, os imigrantes dos PALOP têm tido dificuldade em demarcar-se da imagem de debilidade, precariedade e exclusão, e os seus sucessos são raras vezes reconhecidos6, apesar de algumas referências a trajectórias de consolidação e melhoria das condições de vida em Machado e Abranches (2005: 86/87) e Horta e Malheiros (2004: 7). Em ambos os estudos se faz notar que, ao longo do seu tempo de residência em Portugal, estes trabalhadores foram traçando os seus percursos de inserção, atingindo uma maturidade no mercado de trabalho que, para alguns, se traduziu em

3

OCDE 2007c: 330. 4

De acordo com dados da OCDE (2007), 26% do total de trabalhadores estrangeiros estão neste sector. 5

Peixoto et al (2006: 76) indica que 49,5% das mulheres com nacionalidade estrangeira registadas no Censos de 2001 são trabalhadoras não qualificadas dos serviços e comércio (onde se incluem, as actividades de trabalho doméstico e limpezas).

6

Refiro-me aqui aos sucessos da classe trabalhadora, e não da elite ou dos quadros destes países que têm também o seu espaço em Portugal.

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melhorias significativas do seu nível de vida, com a formação de empresas próprias (a maior parte no sector da construção civil e obras públicas) e aquisição de habitação própria; para outros, as conquistas materiais não foram tão longe, mas conseguiram estabilizar a sua situação laboral e deixar os bairros de barracas que habitavam para passarem a residir em bairros de habitação social, na sequência de programas de realojamento7, ou alugando e adquirindo casas no mercado de habitação privado.

No final da década de 90, estas trajectórias de inserção vividas pelos trabalhadores de origem africana, que, até então, tinham dominado o espaço da imigração em Portugal, foram, pelo menos aparentemente, abaladas pela entrada em Portugal de um número significativo de trabalhadores oriundos do Leste da Europa, numa primeira fase, e de imigrantes pouco qualificados do Brasil, logo depois. Conforme pode ver-se no quadro seguinte (quadro 1), segundo as estatísticas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a nacionalidade cabo-verdiana era maioritária em 2000, mas em 2002 ocupava já o segundo lugar, a seguir à ucraniana. E, em 2003, passa para terceiro lugar a seguir às nacionalidades brasileira e ucraniana8, apesar de nos anos seguintes virem a verificar-se novas alterações.

Estes fluxos de entrada reflectiram-se também nos dados dos quadros de pessoal, referentes à contratação de trabalhadores por parte de empresas portuguesas9. Em 2000, o número de nacionais dos PALOP, em particular de Cabo Verde, supera, em muito, o das restantes nacionalidades (apesar de o número de ucranianos ter já alguma expressão, não obstante o seu estatuto maioritariamente irregular10). Esta posição atenua-se nos anos seguintes e, actualmente, o número de trabalhadores cabo-verdianos em empresas

7

Note-se que a passagem para os bairros de habitação social, correspondendo a uma melhoria das condições de habitabilidade, reproduziu alguns dos problemas dos bairros anteriores, designadamente do estigma social que lhes está associado, da concentração e isolamento socio-espacial (em alguns casos criados no contexto do realojamento), e criou novos, associados por exemplo à quebra das redes de solidariedade e de cooperação entre os habitantes do bairro.

8

Excluem-se da análise os nacionais de Moçambique e da Rússia devido à sua reduzida expressão numérica, comparativamente com as restantes nacionalidades dos grupos regionais em análise. No caso dos moçambicanos em Portugal, os seus processos de inserção em Portugal afastam-nos dos padrões identificados para as restantes nacionalidades dos PALOP.

9

Comunicados ao Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social pelas empresas e disponibilizados pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento.

10

Este é um dado interessante porque revela que a comunicação por parte das empresas dos trabalhadores estrangeiros ao seu serviço não dependeu, pelo menos neste caso, da regularidade do estatuto de imigração. Desta forma, os dados dos quadros de pessoal poderão ser também uma fonte de informação a utilizar para retratar a realidade dos imigrantes em situação irregular, do ponto de vista do seu estatuto de imigração, mas que são contratados por empregadores com sede no território nacional.

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portuguesas mantém-se em terceiro lugar, apesar de nos dados da imigração recuperar para o segundo lugar em número de imigrantes regulares em Portugal. No entanto, apesar de os quadros de pessoal retratarem as experiências laborais de apenas uma parte dos imigrantes – abarcam, em 2006, entre 26 e 35% dos nacionais dos PALOP registados pelo SEF, e entre 48 e 68% dos imigrantes das restantes nacionalidades, excluindo, por exemplo, as empregadas domésticas e todos aqueles que têm trabalhos precários, não formalizados, e reflectindo também a proporção de população activa em cada um dos grupos – acompanha a sua tendência de evolução.

(24)

Quadro 1 - Número de Imigrantes em Portugal (com nacionalidade estrangeira)

*Fonte: Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (dados provisórios); ** Fonte: Quadros de Pessoal, Ministério do Trabalho

Nacionalidade Residentes* Quadros de Pessoal** Residentes* Quadros de Pessoal** Residentes* Quadros de Pessoal** Residentes* Quadros de Pessoal** Residentes* Quadros de Pessoal** Residentes* Quadros de Pessoal** Residentes* Quadros de Pessoal** Cabo Verde 47.093 4.499 55.262 n.d. 60.163 10.900 61.992 13.143 63.380 14.140 67.457 16.179 65.515 17.098 Angola 20.416 3.626 27.882 n.d. 32.460 9.081 34.149 10.891 35.082 11.854 34.219 13.767 33.353 12.340 Guiné-Bissau 15.941 2.364 20.898 n.d. 23.332 5.927 24.359 7.139 24.906 7.316 24.689 8.604 23.816 9.010 São Tomé e Príncipe 5.437 1.102 7.914 n.d. 9.311 2.682 9.832 3.207 10.384 3.365 9.840 3.735 10.838 3.899 Roménia 369 353 8.095 n.d. 11.068 5.404 11.690 6.211 12.156 7.082 9.003 7.654 11.431 7.834 Moldávia 15 569 9.015 n.d. 12.147 5.829 12.902 6.555 13.694 6.701 12.628 7.032 14.418 6.999 Ucrânia 163 1.396 45.829 n.d. 62.448 30.578 65.220 31.006 66.253 29.109 41.729 27.407 41.530 25.279 Brasil 22.202 2.918 47.321 n.d. 60.034 19.510 64.428 25.434 66.683 28.978 63.654 31.925 68.013 33.317

(25)

Em larga medida, o processo de inserção dos imigrantes que constituíram as recém-chegadas vagas de imigração para Portugal também privilegiou os sectores da construção civil e obras públicas, no caso masculino, e o trabalho doméstico e serviços de limpeza industrial e urbana, no caso das mulheres11. Estes sectores empregavam, até ao início destas vagas de imigração, essencialmente trabalhadores africanos (Pena Pires 2006, Peixoto 2002, Baganha et al 1999).

Paralelamente, começaram a surgir na sociedade portuguesa várias referências a vantagens que os trabalhadores do Leste da Europa, sobretudo, mas também do Brasil, teriam sobre os trabalhadores dos PALOP.

Fernando Ká (2004), presidente da Associação Guineense de Solidariedade Social, considerou até que o acolhimento dado aos imigrantes do Leste da Europa pelo poder político e sociedade portuguesa foi distinto do tratamento dado aos imigrantes africanos em Portugal. Nas suas palavras, “A chegada dos imigrantes do Leste, ao contrário do que aconteceu com os africanos, despertou uma entusiástica onda de solidariedade como nunca vista neste país.”12

Num trabalho de Sousa Ferreira (2004: 105/ 106), Nicolau Santos menciona também: “…lembro-me, aliás, de uma afirmação que o Dr. Diogo Vaz Guedes, presidente da SOMAGUE, uma empresa de construção, me fez há algum tempo, em que ele dizia que durante alguns anos, a sua principal fonte de trabalho eram, dentro dos imigrantes provenientes dos PALOPs, os cabo-verdianos, por serem os mais produtivos, mas a partir do momento em que começou a empregar imigrantes provenientes do Leste, começou a substituir a mão-de-obra proveniente dos PALOPs, e, em particular, de Cabo Verde.”

Noutro estudo, meramente qualitativo, Xavier de Carvalho (2004: 46/47) indica que “Este novo cenário concorrencial entre a mão-de-obra imigrante começa já a apontar

11

Deve frisar-se, contudo, que os imigrantes da Europa de Leste e do Brasil apresentam, em termos gerais, padrões de incorporação laboral mais diversificados do que os correspondentes aos nacionais dos PALOP, que abrangem também o alojamento e a restauração (principalmente no caso dos imigrantes brasileiros) e a agricultura e a indústria transformadora (sobretudo no caso dos imigrantes do Leste da Europa).

12

Excerto do texto “Congresso ou Monólogo sobre a imigração?”, de 4 de Janeiro de 2004, que surgiu na sequência do I Congresso de Imigração realizado em Dezembro de 2003.

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tendências marcantes com a superior mobilidade ascendente dos imigrantes ‘de Leste’ em detrimento dos africanos.”

Foi neste contexto, de alteração do cenário da imigração em Portugal, que surgiu a investigação que serve de base à tese que aqui se apresenta. O ponto de partida para a formulação da questão de investigação consistiu na combinação de dois elementos fundamentais. Em primeiro lugar, a convergência dos modos de inserção laboral dos imigrantes de diversas origens e, em segundo, o potencial para que estes trabalhadores fossem substitutos no mercado de trabalho. Daqui decorreu o interesse em tentar avaliar qual o impacto que os novos fluxos de imigração tiveram para os imigrantes de origem africana que já estavam em Portugal.

O impacto da entrada de novos imigrantes sobre membros de vagas migratórias anteriores que já residiam no mesmo espaço geográfico tem sido de resto referido por vários autores, que indicam que os trabalhadores mais afectados pela entrada de novos imigrantes tendem a ser outros trabalhadores imigrantes que já se encontravam no mercado de trabalho (Stalker 1999; Castles e Miller 1998, Borjas 1990). Estes imigrantes têm uma maior probabilidade de estarem concentrados no mesmo segmento e ocupações que atraem os novos imigrantes, e o seu capital humano, social e cultural tende também a posicioná-los como substitutos no mercado de trabalho, conduzindo a que os empregadores possam ter algum incentivo em contratar os trabalhadores recém-chegados, nomeadamente na fase inicial, porque estes tenderão a aceitar níveis salariais mais baixos e condições de trabalho mais precárias do que aquelas que os trabalhadores imigrantes que estão há mais tempo no mercado de trabalho frequentemente exigem (Bonacich 1972 e Berger e Piore 1983). Bonacich (1972) no desenvolvimento da teoria da divisão do mercado de trabalho (‘split labour market theory’), por exemplo, refere-se à importância que uma força de trabalho dócil e barata tem para os empregadores, configurando uma estratégia que proporciona o aumento da competitividade no mercado.

Trata-se também de uma questão com implicações políticas relevantes, na medida em que a concorrência no mercado de trabalho é considerada um dos principais elementos geradores de tensão e conflito ‘inter-étnico’ (Barth 1969; Nagel e Olzak 1982 e Olzak 1986, citados em Bélanger e Pinard 1991; Bélanger e Pinard 1991). “The resurgence

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since 1960 of ethnic movements in many multicultural societies is alleged to have resulted from increased ethnic competition, especially job competition…” (Bélanger e Pinard 1991: 446).

Aliás, um dos debates mais importantes sobre a concorrência e os sentimentos de ameaça que podem estar-lhe associados, envolve precisamente o seu potencial para desencadear conflito (ver por exemplo Olzak 1992). Mas, a este respeito, Bélanger e Pinard (1991: 454) argumentam que a concorrência entre grupos conduz à mobilização política e ao conflito, “… only when competition is seen as unfair and there is no perception of interdependence. If these two conditions do not hold, job competition will not produce a significant increase in ethnic political mobilization”.

Esta investigação pretende então dar resposta a duas preocupações principais. A primeira, de natureza empírica, mais pragmática e imediata, tem a ver com o impacto que terá tido para os imigrantes de origem africana, de presença mais antiga em Portugal, a entrada de imigrantes do Leste da Europa e do Brasil para ocupações pouco qualificadas. A segunda, relacionada com a primeira, corresponde a uma tentativa de compreensão das ligações que existem entre a mobilidade geográfica e os processos de entrada e progressão no mercado de trabalho em Portugal, dos factores que os condicionam e das implicações que têm para os processos de integração de vários grupos de imigrantes num novo espaço geográfico.

As questões de partida que deram início a este projecto de investigação encontram-se enunciadas no capítulo 1 e remetem para dois aspectos essenciais, um de natureza supostamente mais “objectiva”: i) a identificação dos efeitos – em termos de acesso ao emprego/desemprego, salários, condições de trabalho e mobilidade geográfica – da entrada dos imigrantes do Leste da Europa e do Brasil sobre os imigrantes de origem africana nos sectores da construção, trabalho doméstico e limpezas; e outro de carácter aparentemente mais “subjectivo” que se prende com ii) as representações e a precepção que os imigrantes dos PALOP e os próprios empregadores tiveram do novo contexto migratório, e o modo como estas terão contribuído para gerar novos comportamentos e novas estratégias.

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Esta separação entre aspectos aparentemente de natureza mais objectiva e mais subjectiva tem como único objectivo clarificar as grandes questões da tese e facilitar a sua arrumação, devendo atribuir-se-lhe, desde logo, um carácter artificial. De resto, em termos teóricos, este estudo insere-se nas correntes de investigação que consideram as análises quantitativas, frequentemente assentes em perspectivas macro ou que tratam os actores numa lógica de racionalidade económica, claramente insuficientes para a compreensão profunda dos processos inerentes ao funcionamento dos mercados de trabalho. Este desiderato implica, necessariamente, uma análise das percepções e representações dos actores, frequentemente condicionadas por elementos de carácter social e cultural (questões identitárias, fundamentos para a xenofobia ou a discriminação) que exercem uma forte influência sobre as suas práticas.

O trabalho de investigação desenvolvido no sentido de procurar as respostas para as questões enunciadas inicia-se, no capítulo1, com o enquadramento numa reflexão sobre as teorias que têm procurado explicar as relações dos imigrantes com os mercados de trabalho que os recebem, a posição que neles ocupam, como progridem ao longo do tempo e os processos de concorrência que ocorrem com outros trabalhadores, nacionais e imigrantes, que já se encontravam nesse mercado. Com base neste quadro teórico prossegue-se, no mesmo capítulo, para a explicitação das questões de investigação e para a apresentação da abordagem metodológica adoptada com o propósito de lhes dar resposta. No capítulo 2, procede-se ao enquadramento histórico e breve caracterização da imigração laboral para segmentos pouco qualificados, considerando as distinções entre os três grupos regionais em análise: PALOP, Leste da Europa13 e Brasil. No capítulo 3, inicia-se a análise da posição laboral dos imigrantes dos PALOP em Portugal, com base nas experiências de contratação e visões dos seus empregadores e contextualiza-se a sua actuação nas características e conjuntura sectorial respectivas. Adopta-se, simultaneamente, uma perspectiva comparativa com os imigrantes originários do Leste da Europa e do Brasil nos mesmos sectores. No capítulo 4, analisa-se, por um lado, as percepções dos próprios imigrantes de origem africana face à entrada dos ‘novos’ imigrantes no mercado de trabalho, e, por outro, as trajectórias laborais de

13

A identificação do grupo do Leste da Europa corresponde essencialmente aos imigrantes provenientes de países outrora integrados no bloco regional comunista europeu e é anterior à adesão da Roménia à União Europeia, pelo que se mantém a inclusão deste país no grupo. Em termos explícitos, inclui indivíduos provenientes da Ucrânia, Moldávia e Roménia, principais Estados de origem dos imigrantes da Europa de Leste que se instalaram em Portugal.

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um conjunto de imigrantes de origem africana. Finaliza-se este estudo, no capítulo 5, com uma síntese dos resultados fundamentais obtidos no trabalho que, por sua vez, dá origem a um breve processo de reflexão crítica sobre as implicações teóricas e metodológicas dos efeitos identificados.

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CAPÍTULO 1 – OS IMIGRANTES E O MERCADO DE TRABALHO: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E METODOLÓGICO

As teorias sobre as migrações apontam para a centralidade do mercado de trabalho no processo de integração social dos imigrantes e seus descendentes nas sociedades de acolhimento14. A sua importância é facilmente compreendida uma vez que tem ligações com outros factores que contribuem decisivamente ou para a marginalização ou para uma integração bem sucedida dos imigrantes nestas sociedades. Ocupações com baixo estatuto, altos níveis de desemprego, más condições de trabalho e falta de oportunidades de progressão constituem causas, mas também consequências, de outros factores que contribuem para a marginalização de minorias: incapacidade legal, insegurança no estatuto de residência, concentração em áreas residenciais pobres, propensão para o insucesso e abandono escolar, baixas qualificações, racismo (Castles e Miller 1998:183) e manutenção de um estatuto socio-económico associado à pobreza e à exclusão social.

A centralidade do mercado de trabalho para os processos de integração social é, aliás, extensível aos restantes membros da sociedade, nacionais e estrangeiros, tal como é reconhecido ao nível político nacional e internacional. Por exemplo, no Plano Nacional para a Inclusão, desenhado no âmbito da estratégia europeia de combate à exclusão social, reconhece-se a centralidade do acesso ao emprego (para todos), como fonte de rendimento, que permite a aquisição de bens e serviços necessários à integração social.

Para os imigrantes, o mercado de trabalho é importante não só para o processo de integração no país de destino, mas é também central no próprio processo de tomada de decisão que precede a migração. É, por esta razão, um factor estruturante do movimento migratório. Mesmo evitando a abordagem do ‘homus economicus’ racional que decide

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Apesar da conceptualização de ‘integração’ não estar ainda completamente resolvida - vários têm sido os trabalhos que têm abordado esta questão (ver por exemplo: Pena Pires 2003, Heckman 2004 ou Lindo 2005) - poderá entender-se de forma abrangente integração como “a estabilidade de relações entre as partes de um sistema global, em que existem fronteiras bem definidas com o ambiente em que se insere” (Heckman 2004: 2). E integração social como aquela que se refere especificamente à inclusão de novos actores num sistema, à criação de relações mútuas entre os actores, e às suas atitudes para com o sistema social na sua globalidade (Heckman 2004: 3). No fundo, poderá dizer-se que o processo de integração social se caracteriza pelo desenvolvimento de relações harmoniosas entre os imigrantes (grupos e indivíduos) e os nacionais e as instituições do seu país de residência (ao nível nacional e local), nas várias dimensões da sua vida – trabalho, saúde, habitação, educação, participação política, relações sociais e afectivas – incluindo também o desenvolvimento de sentimentos de afiliação e pertença a essa sociedade. Esta relação harmoniosa pressupõe a existência de igualdade de circunstâncias no acesso a direitos, formal e efectiva, no âmbito do quadro legal que regula a residência de imigrantes num determinado país.

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com base em avaliações de custo/benefício, defendida pela perspectiva neoclássica da teoria económica, é inegável que a percepção das oportunidades de emprego no destino, e das condições materiais que lhes estarão associadas, constitui um dos principais motores das migrações15.

Simultaneamente, a participação de imigrantes no mercado de trabalho tem também implicações para a própria economia e estabilidade social do país de destino. Uma população imigrante com grandes fragilidades no acesso e na manutenção da sua presença no mercado de trabalho aumenta as responsabilidades sociais do Estado e cria problemas ao nível da coesão social. Por um lado, porque os imigrantes que estão recorrentemente em situação de desemprego tendem a tornar-se dependentes das prestações sociais do Estado – vários têm sido os estudos que têm abordado precisamente a questão da dependência dos imigrantes face aos sistemas de Segurança Social dos países de destino no curto e no longo prazo (v. por exemplo Corrêa d’Almeida e Duarte Silva 2007 sobre o caso português e OCDE 2007b: 7-8 para uma revisão desta questão) – e também a alojar-se em bairros de habitação social ou de autoconstrução, porque mais dificilmente conseguem suportar despesas de habitação no sector privado, acentuando a sua visibilidade e segregação. Por outro lado, porque podem conduzir a outras situações de marginalidade (sem-abrigo, mendicidade) ou, em casos extremos, até à criminalidade. Nestas condições, tendem a acentuar-se as diferenças entre nacionais e imigrantes e geram-se mais facilmente as tensões ‘inter-étnicas’ que tanto têm caracterizado os debates sobre imigração.

A situação laboral dos trabalhadores estrangeiros tem sido, por estes motivos, alvo de vários estudos, quer a nível nacional (por exemplo: Baganha et al 1999; Baganha et al 2002; Neves 2002; Peixoto 2002; Machado e Abranches 2005; Carneiro et al 2006; OCDE 2007) quer internacional (por exemplo: Borjas 1987, 1990, 1993; Chiswick 1978; Chiswick et al 2003; Rydgren 2004; Kalter e Granato 2002; Portes 1981; Portes e Borocz 1989; Portes e Rumbaut 1990; Anderson 1997 e 2000; Bevelander e Veenman 2004; Bloom et al 1995; McAllister 1995), com contribuições sobretudo da Economia e da Sociologia, mas também da Geografia e da Ciência Política, entre outras. No entanto, de um modo geral, a perspectiva económica e os trabalhos de carácter quantitativo

15

Para uma revisão das teorias explicativas das migrações v. por exemplo Peixoto 2004 ou Massey et al 1993.

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(inspirados na abordagem da Economia do Trabalho) têm dominado a investigação académica sobre os imigrantes e o mercado de trabalho, em várias vertentes. As excepções a esta abordagem posicionam-se sobretudo no âmbito dos trabalhos que se ocupam das diferenças de género e das modalidades de inserção laboral das mulheres, que tendem a adoptar uma visão mais política, e também mais qualitativa, da posição das migrantes nos mercados de trabalho internacionais (por exemplo Anderson 2001 ou Kofman e Sales 1998).

Todos os mercados são, na perspectiva económica, ‘espaços’ de encontro entre a procura e a oferta de um determinado bem ou serviço. O mercado de trabalho, especificamente, corresponde a um ‘espaço’ de encontro entre quem oferece a sua mão-de-obra – os trabalhadores – e quem contrata, ou procura mão-mão-de-obra – os empregadores. Existe ainda um terceiro ‘leading actor’ (Borjas 1996), a entidade reguladora – geralmente o governo – que define as regras de funcionamento e assim condiciona a actuação de trabalhadores e empregadores. Segundo esta abordagem, do lado da oferta encontram-se os trabalhadores, com o seu capital humano e decisões baseadas no objectivo da maximização da sua utilidade (ou bem-estar). Neste sentido, a oferta de trabalho constitui não apenas uma determinada ‘quantidade’ de trabalhadores, mas também uma bolsa de competências ou de capital humano, de forma mais abrangente. Por sua vez, do lado da procura encontram-se os empregadores, com as suas decisões de contratação e despedimento, que se regem pelo objectivo da maximização do seu lucro. Para cada preço, ou custo, do factor trabalho existe um número de trabalhadores disposto a trabalhar, com base numa opção entre trabalho e lazer16, e um número de empregadores disposto a contratar, com base no seu objectivo de maximização do lucro. Num mercado de concorrência perfeita, o equilíbrio é obtido quando, para um determinado ‘preço’, a procura iguala a oferta17 (Borjas 1996). Esta é a abordagem neoclássica, que não considera a existência de segmentos distintos no mercado de trabalho.

16

De tal forma que quanto maior o salário maior o número de trabalhadores que estará disposto a trocar o seu tempo de lazer ou de consumo por tempo de trabalho; pelo contrário, quanto mais baixo o salário, menor o número de trabalhadores disposto a trocar lazer e consumo por trabalho.

17

O salário mínimo revela de forma inequívoca a acção condicionante da entidade reguladora: devido à existência de um salário mínimo não há uma livre variação do preço do factor trabalho, impondo-se para os empregadores um limite abaixo do qual não é possível remunerar os trabalhadores, o que condiciona as suas decisões de contratação. A distorção introduzida no mercado de trabalho devido à adopção do salário mínimo tem sido, aliás, alvo de algum debate (v. por exemplo: ILO 2006).

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Por sua vez, a perspectiva da teoria da segmentação do mercado de trabalho é de que este não funciona como um espaço global, mas está fragmentado devido a informação imperfeita, barreiras à mobilidade ou influências sociais e institucionais (Bosworth et al 1996: 327), de que é exemplo a actuação dos sindicatos e o seu papel na determinação dos salários dos trabalhadores (retomaremos esta abordagem mais à frente).

A estas visões genéricas, não territorializadas, alguns autores acrescentam ainda a dimensão dos espaços físicos em que ocorre este encontro entre a procura e a oferta de trabalho, e enfatizam a importância dos mercados de trabalho regionais18 ou locais. Esta abordagem considera que existem especificidades regionais ou locais, sobretudo do lado da procura, que conduzem a diferenças, ou mesmo assimetrias, regionais ou locais no que diz respeito ao funcionamento do mercado de trabalho. Num estudo sobre trabalhadores imigrantes na Holanda, Bevelander e Veenman (2004: 59), por exemplo, concluem que as variações regionais na procura de trabalho afectam significativamente as possibilidades de emprego dos vários grupos, estrangeiros e nacional, em análise, exceptuando um dos grupos estrangeiros. A mobilidade entre mercados de trabalho regionais por parte dos trabalhadores é também apontada como uma estratégia utilizada para lidar com dificuldades que surgem nos mercados de trabalho onde estes se encontravam, por exemplo resultantes da entrada e concorrência de imigrantes (ver por exemplo Hatton e Tani 2005 ou Borjas 1990). Ou seja, na prática, não existe um só mercado de trabalho nacional, global, quase-virtual, mas uma fragmentação de mercados de base territorial, que faz com que em espaços físicos distintos, ao nível local ou regional, as características da procura, e consequentemente também da oferta de trabalho, sejam diferentes. A divisão geográfica dos mercados de trabalho tem assumido também um carácter central no estudo de processos de concorrência laboral entre imigrantes e ‘nativos’, frequentemente baseado na adopção de metodologias comparativas entre diferentes mercados de trabalho locais/regionais com níveis de concentração de imigrantes distintos, como veremos em maior detalhe mais adiante.

No âmbito dos estudos das migrações, as abordagens do mercado de trabalho poderão enquadrar-se em quatro grandes linhas de investigação, que reflectem um número equivalente de questões específicas:

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Geralmente a região é definida como uma unidade político-administrativa por ser para estas que estão disponíveis dados estatísticos.

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1) Caracterização da posição dos trabalhadores imigrantes no mercado de trabalho – absoluta e relativa, nomeadamente face aos trabalhadores nacionais dos países de recepção.

2) Identificação das trajectórias de mobilidade ao longo da estrutura salarial e ocupacional dos países de recepção (ao longo do ciclo de vida activa e entre gerações).

3) Teorização e modelização da posição laboral e das trajectórias de mobilidade identificadas, que consiste em perceber e explicar os processos de divisão do trabalho entre nacionais e estrangeiros ao longo do tempo.

4) Averiguação do impacto da entrada de novos imigrantes no mercado de trabalho. Esta linha de investigação engloba várias vertentes: impactos no crescimento económico (Borjas 1990, 1994, 1996, 2001); nas contas públicas, com destaque para a dependência dos sistemas de Segurança Social, referidos anteriormente; no desenvolvimento de novas áreas de negócio, que engloba as questões relacionadas com o empreendedorismo étnico19 (Oliveira 2005; Kloosterman et al 1999; Kloosterman e Rath 2001); para o desenvolvimento regional (Malheiros 2002); para os trabalhadores nacionais, sobretudo ao nível dos salários e do desemprego; e também a questão sobre a qual se debruça esta tese: o impacto para outros imigrantes que se encontram no mesmo mercado de trabalho (incluem-se nesta linha de investigação os trabalhos de Borjas 1987, 1990, 1997; Camarota 1998; Grossman 1982; Card 1990; Kahanec 2006; Greenwood e McDowell 1986).

Sendo possível separar analiticamente estas dimensões, é importante não esquecer que estas se encontram interligadas e se influenciam mutuamente (figura 1.1), sendo, frequentemente, abordadas em simultâneo nos estudos sobre imigrantes e mercado de trabalho.

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A designação de grupos frequentemente nacionais, ou de uma dada nacionalidade, como grupos ‘étnicos’ é dominante sobretudo na literatura anglo-saxónica e, por isso, será mantida ao longo da revisão desses autores. No entanto, fica a ressalva de que equivaler uma entidade nacional a uma identidade étnica poderá nem sempre ser o mais correcto porque nem sempre existe uma coincidência entre etnia e nacionalidade. Aliás, sob uma mesma nacionalidade podem coexistir várias etnias, como acontece frequentemente em países africanos. Nos restantes capítulos optou-se pela caracterização com base na origem nacional, em vez da pertença étnica (os dados oficiais estão disponíveis com base no critério da nacionalidade), por vezes agrupadas em grandes grupos regionais.

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Figura 1.1– Interligações entre as várias dimensões analíticas do mercado de trabalho Posição Laboral •Taxa de actividade •Desemprego e emprego •Ocupação/ Sector •Situação na profissão •Nível salarial

•Formalização da relação laboral •Regime e ritmo de trabalho •Carga laboral

•Empregador •Local de trabalho

Mobilidade no mercado de trabalho •Evolução salarial

•Mobilidade ocupacional

•Alteração das condições de trabalho, de forma mais abrangente

Impacto no mercado de trabalho •No crescimento económico

•Na dinamização de sectores de actividade •No emprego/ desemprego global •Nos níveis salariais/ competitividade •Na situação laboral de outros trabalhadores (nacionais e estrangeiros) Principais factores que condicionam: posição e

mobilidade no mercado de trabalho: Do lado da oferta:

•Capital Humano

•Capital Social/ Redes Sociais •Capital Cultural

•Atributos demográficos

•Aspirações laborais/ objectivos individuais Do lado da procura:

•Discriminação

•Segmentação do mercado de trabalho

• Efeito de‘queuing’/ ordenação dos grupos por origem nacional/ étnica

•Capital Social/ Redes Sociais Regulação/ Contexto •Leis de imigração

•Regulamentação e políticas do mercado de trabalho

•Conjuntura económica e sectorial

Posição Laboral •Taxa de actividade •Desemprego e emprego •Ocupação/ Sector •Situação na profissão •Nível salarial

•Formalização da relação laboral •Regime e ritmo de trabalho •Carga laboral

•Empregador •Local de trabalho

Mobilidade no mercado de trabalho •Evolução salarial

•Mobilidade ocupacional

•Alteração das condições de trabalho, de forma mais abrangente

Impacto no mercado de trabalho •No crescimento económico

•Na dinamização de sectores de actividade •No emprego/ desemprego global •Nos níveis salariais/ competitividade •Na situação laboral de outros trabalhadores (nacionais e estrangeiros) Principais factores que condicionam: posição e

mobilidade no mercado de trabalho: Do lado da oferta:

•Capital Humano

•Capital Social/ Redes Sociais •Capital Cultural

•Atributos demográficos

•Aspirações laborais/ objectivos individuais Do lado da procura:

•Discriminação

•Segmentação do mercado de trabalho

• Efeito de‘queuing’/ ordenação dos grupos por origem nacional/ étnica

•Capital Social/ Redes Sociais Regulação/ Contexto •Leis de imigração

•Regulamentação e políticas do mercado de trabalho

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A posição laboral dos trabalhadores imigrantes num dado momento é condicionada por vários factores que influenciam igualmente a sua progressão no mercado de trabalho; da mesma forma que o impacto dos trabalhadores imigrantes no mercado de trabalho depende também do seu modo de incorporação, das oportunidades de evolução ao longo do tempo e dos próprios factores que os condicionam. Finalmente, existe também um efeito, ainda que de menor intensidade, dos impactos que os imigrantes têm no mercado de trabalho sobre os factores que condicionam a sua posição e evolução nesse mercado. Isto acontece, por exemplo, quando, devido ao desenvolvimento de negócios ‘étnicos’, os imigrantes passam a dispor de redes sociais de empregadores que mais facilmente possibilitam a sua inserção no mercado de trabalho.

Tendo em atenção estas ligações, avançaremos de seguida, mais detalhadamente, para os desenvolvimentos teóricos e estudos empíricos mais relevantes em cada dimensão. Para finalizar, avalia-se a importância destes para a compreensão do tema em análise: o impacto de novas vagas de imigração, provenientes do Leste da Europa e do Brasil, para os trabalhadores imigrantes já estabelecidos em Portugal e identifica-se a abordagem metodológica adoptada.

1.1. A posição dos trabalhadores imigrantes nos mercados de trabalho

A abordagem da posição dos imigrantes no mercado de trabalho, geralmente enquanto colectivos nacionais ou regionais, corresponde sobretudo a uma caracterização estática, que pretende perceber de que forma os trabalhadores imigrantes estão inseridos nas estruturas produtivas dos países de destino. Habitualmente, esta caracterização assenta nos principais indicadores relativos ao mercado de trabalho: taxa de actividade20, taxa de desemprego21 e taxa de emprego22, sectores em que se encontram a trabalhar, distribuição ocupacional, situação na profissão (por conta de outrem, por conta própria, empregadores), nível de formalização das relações laborais (a entrada dos trabalhadores imigrantes na economia informal dos países de destino é um dos temas mais

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Taxa de actividade: percentagem da população activa na população total; sendo a população activa correspondente ao conjunto de indivíduos com idade mínima de 15 anos que, no período de referência, constituíam a mão-de-obra disponível para a produção de bens e serviços que entram no circuito económico (empregados e desempregados) (definição do INE).

21

Percentagem da população activa desempregada. 22

Imagem

Figura 1.1– Interligações entre as várias dimensões analíticas do mercado de trabalho  Posição Laboral •Taxa de actividade •Desemprego e emprego •Ocupação/ Sector •Situação na profissão •Nível salarial
Figura 1.2 – Distribuição do tipo de alojamento dos imigrantes de origem africana   05 10152025303540 Habitação social Casa própria Casa alugada Barraca construída pelos próprios Barraca ocupada/anexo Barracaalugada Barraca defamiliares Casa construída pel
Figura 2.1. Evolução do nº de imigrantes regulares dos PALOP no período 1999-2002-2006
Figura 2.2 – Quocientes de Localização dos nacionais dos PALOP nas freguesias da AML em 2001  (com detalhe do concelho de Lisboa)
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Referências

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