NH2802–Fundamentos da Eletrodinˆ amica
Prof. Jos´e Kenichi Mizukoshi
Aula 12 (vers˜ao 09/01/2014)
Equa¸ c˜ oes de Maxwell
Equa¸c˜oes de Maxwell
Eletrodinˆ amica antes de Maxwell
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ At´e aqui, apresentamos as seguintes leis, que especificam a divergˆencia e o rotacional dos campos el´etrico e magn´etico:
(i) ∇ · E = 1
ǫ0ρ (lei de Gauss) (ii) ∇ · B = 0 (sem nome) (iii) ∇ × E = −∂B
∂t (lei de Faraday) (iv) ∇ × B = µ0J (lei de Amp`ere)
■ As equa¸c˜oes acima representavam o estado de arte da teoria eletromagn´etica antes de Maxwell, mas possuem uma inconsistˆencia te´orica, conforme
veremos `a seguir.
Eletrodinˆ amica antes de Maxwell
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ De acordo com o resultado do c´alculo vetorial, o divergente do rotacional de qualquer vetor deve ser zero. Aplicando o divergente na Eq. (iii), tem-se que
∇ · (∇ × E) = ∇ ·
−∂B
∂t
= − ∂
∂t(∇ · B) = 0 onde na ´ultima igualdade utilizamos a Eq. (ii), ∇ · B = 0.
■ No entanto, aplicando-se o divergente na Eq. (iv),
∇ · (∇ × B) = µ0(∇ · J)
o termo `a direita n˜ao se anula, exceto no caso de correntes estacion´arias, onde ∇ · J = 0. Para uma situa¸c˜ao geral, a lei de Amp`ere apresenta uma inconsistˆencia te´orica.
Eletrodinˆ amica antes de Maxwell
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ H´a uma outra forma de verificar que a lei de Amp`ere apresenta um falha no regime n˜ao- estacion´ario. Considere o processo de carrega- mento de um capacitor. Vamos aplicar a lei de Amp`ere na forma diferencial,
I
B · dl = µ0Iinc Bateria
Capacitor
Espira amperiana
onde escolhemos a espira amperiana conforme mostrada na figura acima.
■ Iinc ´e a corrente que atravessa qualquer superf´ıcie delimitada pela espira amperiana. Durante o carregamento do capacitor, temos uma discrepˆancia:
◆ se a superf´ıcie escolhida for plana, temos que Iinc = I, que ´e a corrente que passa pelo circuito.
◆ Por outro lado, se tomarmos a superf´ıcie no formato de um bal˜ao, que engloba uma placa do capacitor, temos que Iinc = 0.
Como Maxwell corrigiu a lei de Amp` ere
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ O problema na lei de Amp`ere est´a no fato de que para o caso geral,
∇ · J 6= 0 no regime n˜ao-estacion´ario. Aplicando a equa¸c˜ao da continuidade e a lei de Gauss, otemos
∇ · J = −∂ρ
∂t = − ∂
∂t(ǫ0∇ · E) = −∇ ·
ǫ0∂E
∂t
■ Se combinarmos o termo ǫ0(∂E/∂t com J na lei de Amp`ere, observa-se que eliminamos o termo extra, tal que o divergente do rotacional de B se anula:
∇ × B = µ0J + µ0ǫ0∂E
∂t
■ Maxwell introduziu esse termo extra por outras raz˜oes, diferentes da
inconsistˆencia da lei de Amp`ere, e o chamou de corrente de deslocamento: Jd ≡ ǫ0∂E
∂t
Como Maxwell corrigiu a lei de Amp` ere
Equa¸c˜oes de Maxwell
◆ Embora tenha esse nome, Jd n˜ao tem nada a ver com corrente, mas ´e um termo que se adiciona a J na equa¸c˜ao de Amp`ere.
■ Na forma integral, a lei de Amp`ere fica I
B · dl = µ0Iinc + µ0ǫ0
Z ∂E
∂t
· da
■ Vejamos como a corrente de deslocamento resolve o paradoxo do capacitor sendo carregado. Assumindo-se que a distˆancia entre as placas do capacitor seja bem pequena, o campo el´etrico nessa regi˜ao ´e uniforme e dado por
E = 1
ǫ0σ = 1 ǫ0
Q A
onde Q ´e a carga na placa, em um dado instante, e A a sua ´area. Temos que
∂E
∂t = 1 ǫ0A
dQ
dt = 1 ǫ0AI
Como Maxwell corrigiu a lei de Amp` ere
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ Se escolhermos a superf´ıcie plana, tem-se que E = 0 e Iinc = I. Portanto, I
B · dl = µ0I
■ Se usarmos a superf´ıcie em forma de bal˜ao, Iinc = 0 e ∂E/∂t = I/ǫ0A. Logo, I
B · dl = 0 + µ0ǫ0
Z ∂E
∂t da = µ0ǫ0 I ǫ0A
Z
da
| {z }
=A
= µ0I
portanto a resposta ´e independente da escolha da superf´ıcie delimitada pela espira amperiana.
Como Maxwell corrigiu a lei de Amp` ere – exemplo
Equa¸c˜oes de Maxwell
Ex. 1 Um fio circular, de raio a, conduz uma corrente constante I, uniformemente distribu´ıda sobre a sua se¸c˜ao transversal. Uma fenda estreita no fio, de largura
w ≪ a, forma um capacitor de placas paralelas, conforme mostra a figura abaixo.
Encontre o campo magn´etico na fenda a uma distˆancia s < a do eixo.
Solu¸c˜ao
■ Conforme ´ultima equa¸c˜ao da p´ag. 6, a densidade de corrente de deslocamento na fenda ´e
Jd = ǫ0∂E
∂t
Como E = Q/ǫ0πa2, tem-se que ∂E/∂t = I/ǫ0πa2. Logo, Jd = I/πa2 xˆ
Como Maxwell corrigiu a lei de Amp` ere – exemplo
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ Escolhendo-se uma espira amperiana de raio s, paralela `as placas do capacitor, temos que
I
B · dl = µ0Id ⇒ B(2πs) = µ0 Z
J · da = µ0 I
πa2πs2 Portanto,
B = µ0 2π
Is a2 φˆ
Equa¸ c˜ oes de Maxwell
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ Com a contribui¸c˜ao de Maxwell para a lei de Amp`ere, temos as seguintes equa¸c˜oes:
(i) ∇ · E = 1
ǫ0ρ (lei de Gauss)
(ii) ∇ · B = 0 (sem nome)
(iii) ∇ × E = −∂B
∂t (lei de Faraday) (iv) ∇ × B = µ0J + µ0ǫ0∂E
∂t (lei de Amp`ere com a corre¸c˜ao de Maxwell)
■ Essas equa¸c˜oes, juntas com a lei da for¸ca,
F = q(E + v × B)
resumem o conte´udo te´orico da eletrodinˆamica cl´assica (exceto para algumas propriedades especiais da mat´eria).
Equa¸ c˜ oes de Maxwell
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ Observe que a equa¸c˜ao da continuidade,
∇ · J = −∂ρ
∂t
que representa a conserva¸c˜ao da carga el´etrica, pode ser derivada das equa¸c˜oes de Maxwell (aplicando o divergente na Eq. (iv)).
■ Uma forma mais l´ogica de se escrever as equa¸c˜oes de Maxwell ´e colocar todos os termos com os campos no lado esquerdo das equa¸c˜oes, enquanto que as cargas e correntes ficam do lado direito. Esta nota¸c˜ao enfatiza que todos os campos eletromagn´eticos s˜ao no fim das contas atribu´ıdas `as cargas e as correntes.
■ Reciprocamente, a lei das for¸cas diz como os campos eletromagn´eticos afetam as cargas el´etricas.
Equa¸ c˜ oes de Maxwell – exemplo
Equa¸c˜oes de Maxwell
Ex. 2 Suponha que
E(r, t) = − 1 4πǫ0
q
r2θ(vt − r) ˆr; B(r, t) = 0 onde a fun¸c˜ao degrau ´e definida como
θ(x) ≡
( 1, se x > 0 0, se x ≤ 0
Mostre que estes campos satisfazem todas as equa¸c˜oes de Maxwell e determine ρ e J. Descreva a situa¸c˜ao f´ısica que d´a origem a esses campos.
Solu¸c˜ao
■ Aplicando o divergente no campo el´etrico:
∇ · E = − 1
4πǫ0q∇ ·
θ(vt − r) ˆr r2
Equa¸ c˜ oes de Maxwell – exemplo
Equa¸c˜oes de Maxwell
Como ∇ · (fA) = f(∇ · A) + A · (∇f), temos que
∇ · E = − 1 4πǫ0q
θ(vt − r) ∇ ·
ˆr r2
+ ˆr
r2 ·
∇θ(vt − r)
Temos que ∇ ·
ˆr r2
= 4πδ3(r) [veja discuss˜ao na p´ag. 45 do livro-texto] e
∇θ(vt − r) = ∂
∂rθ(vt − r
| {z }
≡u
) ˆr = dθ du
∂u
∂r ˆr = −δ(vt − r) ˆr onde usamos a identidade dθ
du = δ(u).
Portanto,
∇ · E = − 1 4πǫ0q
4πδ3(r)θ(vt − r) − 1
r2δ(vt − r)
= 1 ǫ0ρ
Equa¸ c˜ oes de Maxwell – exemplo
Equa¸c˜oes de Maxwell
Logo, a densidade de carga fica
ρ = −qδ3(r)θ(t) + q
4πr2δ(vt − r)
onde usamos o fato que δ3(r)θ(vt − r) = δ3(r)θ(t), visto que para t < 0 o campo e a carga total ´e zero.
■ Interpreta¸c˜ao f´ısica. Trata-se de um campo el´etrico de um sistema formado por uma carga −q, na origem, e carga +q, distribu´ıda uniformemente sobre uma bolha esf´erica, cujo raio ´e r = vt. Observe que o campo el´etrico fora da bolha ´e zero.
■ A equa¸c˜ao
∇ · B = 0
´e satisfeita trivialmente, visto que B(r, t) = 0.
Equa¸ c˜ oes de Maxwell – exemplo
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ Vamos agora calcular o rotacional do campo el´etrico. Como E(r, t) s´o
depende de uma vari´avel (n˜ao depende de θ e/ou φ) e B(r, t) = 0, a equa¸c˜ao de Faraday ´e satisfeita:
∇ × E(r, t) = 0
■ Finalmente, vamos verificar a lei de Amp`ere:
0 − µ0ǫ0∂E
∂t = −µ0ǫ0(−) 1 4πǫ0
q r2
∂
∂tθ(vt − r)
| {z }
=v δ(vt−r)
ˆr = µ0J
Temos portanto que densidade de corrente ´e J = q
4πr2vδ(vt − r) ˆr
Carga magn´ etica
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ As equa¸c˜oes de Maxwell mostram uma certa simetria entre os campos E e B. Sobretudo, no espa¸co livre, onde ρ e J s˜ao iguais a zero, ´e not´avel a simetria entre esses campos:
∇ · E = 0, ∇ × E = −∂B
∂t
∇ · B = 0, ∇ × B = µ0ǫ0∂E
∂t Vemos que se fizermos
E → B e B → −µ0ǫ0E
o primeiro par de equa¸c˜oes se transforma no segundo par e vice-versa.
■ Para o caso geral, a simetria ´e quebrada porque n˜ao existe uma densidade de carga magn´etica ρm e por consequˆencia a corrente magn´etica Jm.
Carga magn´ etica
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ Se existisse carga magn´etica, as equa¸c˜oes de Maxwell ficariam
∇ · E = 1
ǫ0ρe, ∇ × E = −µ0Jm − ∂B
∂t
∇ · B = µ0ρm, ∇ × B = µ0Je + µ0ǫ0∂E
∂t
■ Ambas as cargas seriam conservadas, visto que
∇ · Jm = −∂ρm
∂t e ∇ · Je = −∂ρe
∂t
■ Contudo, a Natureza diz que essa simetria n˜ao existe. Apesar de uma busca dedicada, ningu´em encontrou quaisquer evidˆencias de um monopolo
magn´etico.
Referˆ encias
Equa¸c˜oes de Maxwell
■ David J. Griffiths, Introduction to Electrodynamics, Third Edition, Prentice Hall, 1999.