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Rev. Bras. Enferm. vol.46 número34 v46n3 4a22

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Academic year: 2018

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(1)

RES E N HA

B U AWOY, M ichael. The poitics of production: factory regimes under capi ­

talism and socialism.

2.

ed. New York British Library,

1 987. 277

p.

Delvair de Bito Alves*

Michael Burawoy, professor da Universidade da California, Berkeley, patindo de relexoes das teorias marxistas do processo de trabalho, especialmente da obra de Harry Braverman: "Trabalho e capital monopolista", chega a conclusoes das implicacoes para a polftica atraves de sua ''teoria de producao." Os estudos deste teo rico sao realizados a patir de experiencias em cada uma das areas por ele analisadas, 0 que dao ao seu livro, As politicas de podug1o, un campo raro de comparacoes intenacionais e aprofundamento emplrico.

Este e un livro cuja tese contem duas pates, ou seja, a argumentayao de que a classe tra balhadora industrial ten feito intervenyoes significativas e auto-conscientes na historia, e que essas intervenyoes foram e continuam a ser formadas pelo processo de produao. Com esta obra , critica o s estudos sobre processo d e trabalho q u e se concentram na explicaao econ6mica e desafia a separacao da base econ6mica da super-estrutura polltica. Nesta linha , considera que a recons­ trucao do marxismo passa pelo exame de como 0 processo de produao forma a cia sse trabalhadora industrial, nao a penas objetivamente, isto e, pelo tipo de trabalho que faz, mas tambem subjeti­ vamente, ou seja, pelas lutas engendradas por uma experiencia espedica ou interpreta5es daquele trabalho.

Estrutura seu livro em cinco capltulos: 0 processo de trabalho na sociedade capitalista ; Karl Max e as fabricas satanicas; a transformacao dos regimes fabris sob 0 capitalismo avancado; tra ba lhadores em estado socialista e 0 lar oculto do sub-desenvolvimento.

A analise de BURAWOY sobre a obra de BRAVERMAN e um tanto paradoxal pois, ao tempo em que a reconhece como insuperavel, se pro poe a critica-Ia; ao tempo em que nega a infiuencia de BRAVERMAN na sua vida diaria , admite manter-se no maxismo e utiliza os pressupostos deste teorico para enriquecer as suas analises e, particularmente, 0 segundo capitulo de As Poicas de rodugio. Entretanto, ao lado de BRAVERMAN , ele e criticado por nao privilegiar a subjetividade e pela postura essencialista , que tambem 0 faz superestimar 0 poder do gerente.

Ao Emtender, d iferentemente de BRAVERMAN(1 ), que e 0 ocultamento simultaneo a garantia do excedente e nao 0 controle, a essencia do processo de trabalho capitalista, Burawoy busca 0 seu fundamento no feudalismo, por considerar que nos modos de producao nao capitalista a exploracao e transparente. Com esta posiao, ica a ideia de que os trabalhadores (sevos) assumem a explora9ao de forma consciente e imediata . Entretanto, a ausencia de evidencias emplricas e teoricas que confirme

r

esta indica9ao nos leva a questionar: neste caso, estaria 0 consentimento ligado a uma pseudo-consciencia?

* Enfenlleira, Professora Adjllnta da Escola de Enfenllagem da UFBa. Mestre em Edllca�io e DOlltora em Edllca�lo pela FACED-UFBa.

(2)

Burawoy considera as formas de controle assumidas por BRAVERMAN(l), ou seja , separagao entre concepyao e execugao e fragmentagao do trabalho limitantes pois, para ele, 0 controle se d,a pela hegemonia (que nasce na fabrica) e pelo consentimento (resultante de negociagoes e de jogos) . Consideramos que, teoricamente, BRAVERMAN esta correto ao pensar as suas duas formas de controle como especfficas da sociedade capitalista . Entretanto, apesar de insuicientes ·as evidemcias empiricas, a existencia de outras sociedades de cia sse concretas, nos leva a refJetir, como Burawoy, que 0 controle nao e especifico do modo de produgao capit�listl , e a pensar no . fato de que, em todas as sociedades de classe, a separagao ent,re concepgao .e execugao e uma realidade. Entendemos, contudo, que 0 problema , na sociedade capitalista , parece se deslocar para a existencia de trabalhadores assalariados, ditos "Iivres", dependentes, contudo, da venda de s,ua forya de trabalho. Por outro lado, consideramos inovadora a atitude de Burawoy, de tomar para analise 0 jogo como forma de controle, apesar de 0 criticarmos por nao ter analisado 0 seu papel

na convergencia de interesses entre capital e trabalho. . . .

RetQmando a critic

a

que BURAWOy(2) diz teren feito a "Escola de Recursos Hu manos de Elton

Mayo", ou seja, que este teorico presta pouca atengao ao ambiente e mais a fabrica , e que ignora as restri90es advindas da tecnologia , dando importancia as rela90es humanas, podemos tambem, i mputa-Ias ao proprio Burawoy que, em sua obra , confere espa90 privilegiado ao "ponto de produ9ao", recomendando inclusive, nao abandbna-Io comb a arena decisiva para a forma9ao da classe trabalhadora , alem de relativizar a na9ao com aspectos politicos e ideol6gicos (fatores subjetivos do trabalho). Esta posi9ao 0 faz tomar a produgao do consentimento, no ponto de produgao, como algo independente de fatores externos . .de condigoes de mercado. As criticas feitas a ele, em relagao a este aspecto, aparecem expressas nas colocagoes de CASTRO e G U IMARAES(3) que, embora considerem seminal 0 seu pensamento, 0 criticam por ter explorado, de forma secundaria , os efeitos das relagoes exterhas (principalmente das relagoes etnicas' e de genero) sobre a produyao. Esta mesma critica e feita por LlTLER(5) e THOMPSON (7). .

De acordo com CLAWSON e FANTASIA apud RAMALHd6:41 ), a principal fraqueza da obra de Burawoy esta no fato de este autor considerar que os trabalhadores, que participam do jogo do "making-out", pensam que estao restringindo a produ9ao, mas simultaneamente, estao sendo levados a produzir mais do que estes teoricos, pois a afirma9ao de Burawoy sugere que os trabalhadores sao desprovidos da consciencia de explora9ao, a ponto de se submeterem a um esquema de produ9ao de mais valia superior aquele que ocorre sob coeryao. Dizem ainda, que, ao contrario, pode-se pensar que os trabalhadores que se empenharam em maximizar a produ9ao (e portanto, os lucros) estao tambem ganhando experiencia e criando condigoes que tornariam

possivel a transformagao do processo de trabalho. . .

Somando-se a estes autores, KNIGHTS(4:31 1 ) considera que a mais seria fraqueza de Burawoy . .. esta na tendencia em cair em uma teoia essenciaista da natureza humana. Esse essencialismo, segundo este autor, impede Burawoy de explicar a preocupa9ao do ponto de produ9ao com 0 sucesso no jogo. Para ele . .. uma pate dessa expicaqJo deve estar na preocupaqJo dos homens

com sua pr6pria identidade mascu/ina, mas Burawoy e 'cego ' no que concene a questoes de gtmeo. RAMALHo'6:42) diz que pela analise de KN IGHTS, Burawoy . . . fechou qua/quer possibii­ dade de aprofundar a analise da subjetividade e simp/esmente repete uma fraqueza da teoria do pocesso trabalho: a nlo investigaqlo de subjetividade . . .

Apesar das criticas, a obra d e Burawoy e muito rica , nao apenas por suas contribuicOes sobre o processo de trabalho, como tambem pela gama de questoes que coloca a disposi9ao do leitor, para futuras investigayOes. Sugere por exemplo, pesquisas que podem ser desenvolvidas de quatro maneiras: primeiro, . . uma analise mais cuidadosa das tendencias atuais do modo de poduqlo

capitaista - das contradiqaes e crises que elas pomovem . . . ; terceiro, uma investiga9ao das .. .

condiqoes em que estes mecanismos deverlo ser ativados para neutraizar 0 desenvo/vimento de crises ou contradiqoes - poblema que intimamente envolve lutar e a maneira que elas slo formadas pelas pol/ticas e pela ideologia; quarto, uma investigagao das .. . circunstancias em que este mecanisme tem, realmente, a capacidade para compensar crises ou contradiaes . . . (p. 62) .

358 R . Bras. Enferlll. Brasilia, v. 46, n . 3/4, 3 57-359, juidez. 1 993

(3)

---Oa analise de As Poticas de Poduq!O , consideramos que outras questoes continuam em

abeto, ou seja: a separavao entre concep:ao e execu:ao e, realmente, um principio inerente ao capitalismo? Como 0 jogo funciona para promover a convergencia de interesses entre capital e trabalho? Por que os trabalhadores consentem em ser explorados ate 0 limite maximo? 0 consentimento esta vinculado a falsa consciencia ou a consciencia da Gondi;ao de homem livre? Em que medida a desqualifica;ao do trabalhador favorece 0 consentimento? Como 0 desen­ volvimento da subjetividade e possibilitado no ponto de prod u:ao , independente de fatores eter­ nos?

E

necessario reintroduzir 0 sujeito desaparecido, como sugere THOMPSON(7) ou (re) descobri-Io nos limites dados pela estrutura da qual faz parte?

Finalmente, tomamos 0 que nos diz KNIGHTS(4) de que Burawoy nao ve dificuldade em atribuir a toda a gerencia 0 interesse comum em ocultar e garantir a mais valia e·a sua sugestao de que, para ser consistente, Burawoy deveria investigar como interesse e ideologia sao gerados e reproduzidos no cotidiano do trabalho do gerente.

REFERENCIAS BI BLIOG RAFICAS

1 . BRAVERMAN, Harry. Trabalho e capital lIIonopolista: a degrada:io do trabalho no seculo XX. Trad,ao por

Nathanael C. Caixeiro. 3. ed. Rio d� Janeiro : Zahar, 1 9 8 1 ,

3 79 p .

2. BURA WOY, M ichael ( 1 99 1 ). TIl! anthropology of industrial work. Annual Review of Anthropoloyc Palo Alto (Califomia), n. 8 p. 23 1 -266, 1 979.

3. CASTRO, Nadya Aralljo, GUIMAR.ES, Antonio Sergio Al­ fredo. Alem de Bravennan, depois d� Burawoy: vert!ntes analiticas na sociologia do trabalho. Revista Brasileira de

Ciencia Sociais, nO 1 7, a. 6, p. 44-52, out. 1 99 1 .

4. KNIGHTS, David. Subj ectivity, po,ver and the labour proc­ ess. In: KNIGHTS, David, W ILLMO', Hugh (orgs.). Labour process theory. London: M acmi l lan, 1 990.

5. LITTLER, Craig R. ·n! labour process debates: a theoretical

reviews 1 974- 1 9 88. In : KN IGHTS, David, WILLMOTT,

Hugh (orgs). Labour process theory. London : M acmillan,

1 990.

6. RAM ALBO, Jose Ricardo. Controle, conlito e consenti­ mento na teoria do processo do trabalho: um balanyo do debate. BB. Rio de Janeiro, n. 32, p. 3 1 -49, 1 99 1 . 7 . THOM PSON, Pau\ . Crawling from the wreckage : the labour

process and the politics of production. In: KNIGHTS, David, W I LLMOTI, Hugh (orgs). Labour process theory.

London: Maclllillan. 1 990.

Referências

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