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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE. Programa de Mestrado. NEUSA MARIA NIMTZ PROFESSIORI. SEXUALIDADE: INQUIETAÇÕES E NECESSIDADES DO ADOLESCENTE CRISTÃO SOB O ENFOQUE OPERATIVO DE PICHON-RIVIÈRE. São Bernardo do Campo 2004.

(2) ii. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO. Neusa Maria Nimtz Professiori. SEXUALIDADE: INQUIETAÇÕES E NECESSIDADES DO ADOLESCENTE CRISTÃO SOB O ENFOQUE OPERATIVO DE PICHON-RIVIÈRE. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação na Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP – como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia da Saúde Orientador: Prof. Dr. José Tolentino Rosa.. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2004.

(3) iii. Universidade Metodista de São Paulo Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde. SEXUALIDADE: INQUIETAÇÕES E NECESSIDADES DO ADOLESCENTE CRISTÃO SOB O ENFOQUE OPERATIVO DE PICHON-RIVIÈRE. Banca Examinadora:. Examinador 1:. Profª. Drª Eda Marconi Custodio. Examinador 2:. Profª. Drª. Ivete Pellegrino Rosa. Presidente:. Profº. Dr. José Tolentino Rosa. Neusa Maria Nimtz Professiori.

(4) iv. SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO. 01. I. FUNDAMENTOS TEÓRICOS. 06. 1.1. A Sexualidade do adolescente. 06. a) A sexualidade e a repressão. 13. b) A sexualidade e o desejo. 14. 1.2. O enfoque operativo nos grupos de reflexão com adolescentes. 16. a) Grupos de Enfoque Operativo. 16. b) Adaptação da técnica de grupo para grupos com enfoque operativo. 20. 1.3. A pesquisa com observador participante. 22. a) Considerações sobre as limitações dos delineamentos de pesquisa. 22. b) O observador participante. 26. c) Objetivos. 26. II. MÉTODO. 27. 2.1. Participantes. 27. 2.2. Material/Instrumento. 29. a) Material de apoio. 29. b) Roteiro de Temas. 29. c) A técnica do grupo com enfoque operativo. 30. d) Estrutura e dinâmica grupal. 30. e) O enquadre dos grupos operativos. 32. 2.3. Local/Ambiente. 33. 2.4. Procedimento. 33. a) Definição das fontes de informação. 35. b) Contrato verbal. 35. c) Levantamento de interesses do tema no grupo com enfoque operativo. 35. III. RESULTADOS E DISCUSSÃO. 44. IV. SÍNTESE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES. 76. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 80. REFERÊNCIAS. 83. ANEXOS. 92.

(5) v. RELAÇÃO DOS ANEXOS E QUADROS. Anexo I – Carta Convite aos Adolescentes/Pais. 93. Anexo II – Termo de Consentimento Pós-Informação. 94. Anexo III – Ficha de Acompanhamento de Grupo com Enfoque Operativo. 95. Anexo IV – Certificado de Participação. 96. Quadro I – Quadro I – Temas de interesse grupal com enfoque operativo. 37. Quadro II – Perfil dos Participantes. 29. Quadro III - Síntese das principais inquietações e necessidades dos adolescentes no grupo com enfoque operativo. 76.

(6) vi. DEDICATÓRIA. Ao meu querido pai Lauro (in memoriam). De quem eu não poderia receber o melhor e maior legado: a vontade de estudar. Seu exemplo, até os últimos momentos, ficou e ainda cala forte em minha vida. Sem a sua herança, do desejo do saber, esta etapa não teria ocorrido – o Mestrado. Obrigada por tudo.. Da sua filha Neusa.

(7) vii. AGRADECIMENTOS. Ao meu orientador Prof. Dr. José Tolentino Rosa, que me possibilitou a concretização de um sonho. Só me resta a gratidão por seus ensinamentos, sua generosidade, sua paciência, sua atenção e carinho. À Profa. Dra. Ivete Pellegrino Rosa, pela gentileza de aceitar o convite como. examinadora das bancas de qualificação e defesa; bem como, as suas. preciosas sugestões e colaborações com materiais. À Profa. Dra. Eda Marconi Custódio, pelo carinho de aceitar o convite para examinadora das bancas de qualificação e defesa, por sua humanidade, generosidade e preciosas colaborações. À CAPES – Coordenadoria de Aperfeiçoamento em Pessoal de Nível Superior, pelo Apoio Financeiro. À Igreja Batista Nova Jerusalém – SP, na pessoa do seu Pastor Salovi Bernardo Jr., pela autorização e confiança para a realização do grupo de adolescentes. Aos Adolescentes da Igreja Batista Nova Jerusalém –SP, sem os quais este trabalho não teria ocorrido, pelas presenças, colaborações e valiosas contribuições. À amiga Janete Neves, pela disponibilidade e colaboração como observadora do grupo. À amiga e irmã de fé Gláucia Rezende Pereira, pela infinita paciência, disponibilidade e valiosíssima ajuda. Aos Mestres do Programa de Pós Graduação, que muito me ensinaram e conduziram ao caminho da pesquisa. Aos colegas do Mestrado, pela grata companhia e solidariedade..

(8) viii. Às Coordenadoras do Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde, Profas. Dras. Eda Marconi Custodio e Mirlene Maria Matias Siqueira, pela atenção e profissionalismo. Às Secretárias do Curso de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde, Srtas. Siméia Hansen e Elisabeth Chirotto, pelo carinho e atenção. À Silvana Vicidomini Macagnan, pela amabilidade e compreensão em seus valiosos préstimos de digitação. À Profa. Mariza Claudia Cardoso, pelo carinho das aulas de inglês instrumental e a atenção na elaboração do Abstrat. Ao Prof. Luiz Carlos Oyhenart Dias, pela disponibilidade, atenção e carinho nas revisões de Português. Ao Eduardo Professiori, meu esposo, um especial agradecimento, pela paciência, compreensão e apoio, em mais esta etapa da minha vida. Enfim, a todos, que de alguma forma colaboraram e se fizeram presentes nesse percurso.. Minha imensa gratidão..

(9) ix. RESUMO. O presente estudo visa investigar a sexualidade na adolescência em suas inquietações e necessidades por meio do método de investigação clínica de abordagem psicanalítica de Enrique Pichon-Rivière, para se obter uma compreensão da psicodinâmica do grupo de adolescentes com enfoque operativo. Os objetivos são: 1. Levantamento do que os adolescentes pensam sobre sexualidade; 2. Discutir os principais conflitos vividos pelos adolescentes com relação à sexualidade e; 3. Analisar as formas de manifestações culturais dos adolescentes sobre a sexualidade. O procedimento inicial foi um levantamento bibliográfico sobre os temas: sexualidade, repressão, fantasias inconscientes e grupo com enfoque operativo. Os adolescentes de uma comunidade religiosa da metrópole de São Paulo foram os participantes. Realizaram-se 12 encontros grupais com enfoque operativo, utilizando-se a teoria e técnica dos grupos operativos de Pichon-Rivière. Houve um roteiro temático, que forneceram os conteúdos. para cada encontro. Os temas. revelaram sentimentos e reações emocionais dos adolescentes sobre sexualidade,. dificuldades. e. facilidades. manifestações culturais e a existência de. encontradas. em. relação. às. conflitos (medos e desejos. inconscientes) vividos pelos adolescentes. As análises dos resultados levaram a considerações que direcionam a duas vertentes: a) As inquietações representadas por dúvidas, sentimentos de perda, informações consistentes e medos; b) As necessidades estavam representadas pela lealdade, confiança, interação social, acolhimento (continência) e valores do grupo primário de referência. Conclui-se que o adolescente apresenta forte sentimento de desconfiança, caracterizando uma constelação de fantasias na qual predomina a persecutoriedade; esse adolescente está sempre preocupado com o externo, com o que os outros estão pensando. Descritores: Psicologia da saúde; adolescência; sexualidade; grupo operativo, Pichon-Rivière, E..

(10) x. ABSTRACT. The current research aims to investigate the sexuality in the adolescence, its anxiety and needs using the method of clinic investigation of psychoanalytic aproach of Enrique Pichon-Rivière, in order to obtain an understanding of the psychodynamic of the group of the adolescents with an operative emphasis . The objectives were: 1. A survey of what the adolescents think about sexuality; 2. O discuss the main conflicts lived by the adolescents in relation to the sexuality; 3. To analyze the ways of cultural manifestations of the adolescents about sexuality. The initial procedure was a bibliographic survey about the topics: sexuality, repression, unconscious fantasies and group of with operative emphasis. The adolescents of a religious community of the metropolis of São Paulo were the participants. Twelve group meetings were done with the operative emphasis using the theory and the technique of the operative groups of Enrique Pichon-Rivière. A thematic schedule was used and it provided the contents for the meetings. The topics revealed feelings and emotional reactions of the adolescents about sexuality, difficulties and facilities found in relation to the cultural manifestations and the conflicts (fear and unconscious desires) lived by the adolescents. The analyzes of the results leaded to considerations that go to two slopes: a) The anxieties represented by doubts, feelings of loss, consistent information and fears; b) The needs were represented by the loyalty, trust, social interaction, welcoming (continence) and the values of the primary (former) group of reference. Coming to a conclusion that the adolescent presents strong feelings of distrust, characterizing a constellation of fantasies the in witch the persecutory prevails, those adolescents are always preoccupied with the exterior, in what the other ones are thinking.. Key Words: Psychology of Health; adolescence; sexuality; operative group; PichonRivière, E..

(11) 1. INTRODUÇÃO. Nosso interesse em estudar o tema Sexualidade na Adolescência surge tanto de nossa prática clínica quanto por uma preocupação social e educacional como cidadã e orientadora psicológica e pedagógica. No decorrer dos treze anos de orientação psicológica, educacional e pedagógica, trabalhando junto a adolescentes, tem-se sentido a dificuldade que eles experimentam para enfrentar o processo de mudança pelo qual estão passando, em face de um posicionamento adequado aos padrões sexuais vigentes em nossa sociedade, paralelamente à falta ou à inadequação de formação e de informação sexual coerentes, que lhes permita resolver satisfatoriamente os problemas comuns, os conflitos de consciência e as angústias nessa área. Por meio de um processo de orientação mais adequada, hoje em dia, a educação sexual para adolescentes é vista como profilaxia, a fim de que sejam amenizados seus conflitos e angústias, Seguindo essa linha de raciocínio, Hass, (1981), acrescenta que os adolescentes de hoje estão em face de um sentimento novo e crescente de sua própria sexualidade. A forma como eles vêem sua “personalidade sexual” afetará e muito a imagem de si mesmos e a confiança que têm em si próprios. Percebe-se, em seus questionamentos, a falta de estrutura que os auxilie a discernir sobre “o que é certo” e “o que é errado”. As dúvidas a respeito da problemática sexual são inúmeras. A grande maioria dos adolescentes ainda encontra as portas fechadas no que concerne ao terreno do diálogo com os adultos e se defronta com uma série de tabus que permanecem intocáveis e sem explicação. A adolescência é o período de desenvolvimento que começa com a puberdade. É a fase do desenvolvimento entre a infância e a idade adulta, com atributos psicológicos específicos. O termo pubescência refere-se ao crescimento e ao desenvolvimento físico. E é a época do despertar de profundos sentimentos sexuais, época da procura da independência e da difícil familiarização com o próprio corpo..

(12) 2. Como vimos em Aberastury, (1983), o adolescente não vive feliz porque sofre a perda de seu corpo infantil, que foi invadido por novas e estranhas formas. Ele perde a imagem dos pais de sua infância que, por longo tempo, foram seus ídolos: pessoas sábias, boas, honradas, respeitáveis, agora vistas como tipos comuns, cheios de imperfeições e de hipocrisia. Vai descobrindo, estarrecido e revoltado, que o mundo adulto, onde irá penetrar, é cheio de ambigüidades e injustiças. Essas perdas sofridas, aliadas às novas descobertas que vão surgindo, levam-no a sofrer uma angustiante crise de identidade. Com o tempo e a experiência o adolescente familiarizar-se-á com seu próprio corpo, descobrirá sua identidade e obterá sua independência. Os grupos de amigos lhes dão um refúgio psicológico, onde se sentem como iguais, refazem suas identificações e vivenciam suas tendências anti-sociais. Na adolescência, há uma procura da melhora de sua apresentação pessoal, de seu “look”, de sua estampa. É a época da prática da musculação, dos esportes. Há uma grande preocupação com o vestuário. Além de procurarem uma melhor imagem física, querem também ficar satisfeito com sua sexualidade. É a idade da experimentação sexual. Esta experimentação geralmente se faz com um único indivíduo de seu grupo, com o qual já estabeleceu um relacionamento significativo há algum tempo. Essas experiências iniciais podem ser hetero ou homossexuais. Com o passar dos tempos e aos poucos, vai se firmando a escolha do seu verdadeiro interesse: masculino, feminino ou ambos. A adolescência é um período de transição de nossa vida; período caracterizado por inúmeras e profundas mudanças e, conseqüentes crescimentos. Tais mudanças e crescimentos trazem os mais variados problemas os quais são bastantes conhecidos, mas não são suficientemente conhecidos os meios corretos de tratá-los. Quase nunca o adulto dá ao adolescente a oportunidade para que ele exerça sua liberdade, cedendo-lhe o seu lugar, permitindo que ele o substitua para que possa crescer. Este crescimento é um processo demorado devido à diferença, cada vez maior em nossa cultura, entre a idade adulta e a sociedade adolescente. O adolescente é imaturo, e esta imaturidade dura alguns anos. Ele tem o direito de viver essa imaturidade e irresponsabilidade, estas prerrogativas vão sendo perdidas à medida que se processa o amadurecimento. Nessa fase da vida é comum aparecerem conflitos geradores de angústia. Quando isto ocorre, ele atua.

(13) 3. tomando qualquer iniciativa que, à primeira vista, julga ser capaz de aliviá-lo. O sexo é uma das formas usadas na tentativa de resolver problemas psíquicos relativos a outras áreas que não a sexual. Os adolescentes estão à procura da identidade, do que significa ser homem ou mulher. Desde muito cedo lhes é ensinado – pelo modo de se vestirem, pelas brincadeiras, pelos presentes e por inúmeras mensagens e normas de comportamento – o que é permitido a cada um dos sexos. Aos meninos não é permitido chorar, às meninas não é permitido lutar. O conceito de masculinidade e feminilidade está carregado de determinantes culturais e sociais. O modo pelo qual cada indivíduo aprende a respeito de sua identidade sexual e a aceita, determina sua capacidade de desenvolver atitudes sadias sobre sexo e responsabilidades adequadas em relação a ele. No início da adolescência, as idéias não têm projeções para o futuro, mas ao final da mesma prevalece o idealismo e o grupo perde toda sua maior importância, ficando no lugar do grupo a necessidade de um relacionamento mais íntimo com uma pessoa, geralmente do sexo oposto. Nesse momento o relacionamento sexual já não é mais experimental como nos anos anteriores, pois agora envolve sentimentos de afeto e intimidade. Em. conseqüência. dessa. experiência. psicológica,. educacional. e. pedagógica, foi possível constatar que grande parte dos adolescentes apresenta dúvidas e conflitos sobre o que é certo e errado, o que pode fazer e o não pode, acreditar e não acreditar, sentimentos de culpa, medo e, principalmente, a falta de informação. Frente a essas constatações, a preocupação recai sobre a necessidade da realização de um trabalho de orientação, capaz de atender à demanda dessa faixa etária no que se refere a uma ampla discussão da sexualidade e de sua interação social. Deste modo, este estudo. relata atendimentos grupais com enfoque. operativo, de Pichon-Rivière (1980;1988), a adolescentes que pertenciam a uma comunidade religiosa da zona leste da região metropolitana de São Paulo no período de oito meses consecutivos..

(14) 4. Partindo-se da visão da análise grupal como um procedimento para o conhecimento dos adolescentes, acreditamos que ao serem convidados a participar dos encontros grupais seriam incluídos no processo de esclarecimento sobre o desenvolvimento sexual. Como estratégia de atuação adotou-se a técnica de trabalho de Grupos com enfoque operativo, levando em conta, principalmente, que esta técnica de caráter grupal associa a execução da tarefa com elementos subjetivos complexos, implicando a possibilidade de retificar vínculos e recriar condições para o estabelecimento de novos vínculos com os outros. A opção por um enfoque grupal e de orientação psicanalítica pareceu-nos adequada às características dessa comunidade, no que diz respeito ao atendimento da demanda. Como também, ao reproduzir a cotidianidade, o grupo facilita a conscientização do papel de cada um como sujeito emergente. O. trabalho de grupo segue, portanto, a orientação psicanalítica, cujo. enfoque teórico está centralizado nos trabalhos de Enrique Pichon-Rivière, sintetizados em “El proceso grupal” de 1978. Pichon-Rivière, (1980) considera o indivíduo como resultante dinâmico do interjogo estabelecido entre o sujeito e os objetos internos e externos, e sua interação dialética com uma estrutura dinâmica denominada vínculo que é como uma estrutura complexa que inclui um sujeito, um objeto, e sua mútua inter-relação com processos de comunicação e aprendizagem, e com isso, estudar o indivíduo não como um ser isolado e sim incluído dentro de um grupo, basicamente o familiar. A intenção, nesta apresentação, foi situar o percurso feito para usar a técnica grupal de enfoque psicanalítico de Pichon-Rivière, uma estratégia para atingir o principal objetivo: é compreender o funcionamento mental do adolescente a respeito de sua sexualidade. Para Zimerman e Osório, (1997), o grupo é o principal agente da cura, e sua tarefa se constitui em se tornar o organizador dos processos de pensamentos, comunicação e ação que se dão entre os membros. Por fim, o trabalho pretende focalizar e discutir as inquietações e experiências profissionais, contribuindo para levantar outras indagações sobre o tema..

(15) 5. “Se os adolescentes fossem encorajados pela sociedade a exprimir-se, isso os ajudaria em sua difícil evolução.” Françoise Dolto.

(16) 6. I – FUNDAMENTOS TEÓRICOS. 1.1. A SEXUALIDADE DO ADOLESCENTE. A sexualidade abrange toda pessoa, a maneira como agir, pensar e funcionar fisiologicamente como homem e como mulher. Para um adolescente estar adaptado ao seu sexo, precisa estabelecer uma área de auto-identidade compatível com a importância na vida, e permitirá que desempenhe um papel aceitável por si mesma, por seus iguais e pela sociedade. Este papel variará com o crescimento e desenvolvimento com as novas circunstâncias externas e com a aquisição de conhecimentos, experiências e maturidade emocional. É excitante que a adolescência seja participante e tenha voz ativa, mas o esforço que o adolescente faz para se sentir acima de todas as necessidades do mundo precisa ser enfrentado; é necessário que se forneça realidade, por meio de um confronto. Este confronto tem que ser pessoal. Os adultos são necessários para que os adolescentes tenham vida e vivacidade (WINNICOTT,1996). A confrontação refere-se à contenção que não é retaliadora, que não contém vingança, mas que tem força própria. É salutar lembrar que o adolescente turbulento e sua manifestação podem ser, em parte, produto de uma atitude que temos orgulho de ter conseguido com os cuidados dispensados ao bebê e à criança. Se houver o desafio por parte do menino ou da menina em crescimento, deixemos que o adulto enfrente o desafio, que veja um mundo totalmente novo. O adolescente quer esclarecer suas dúvidas e preparar-se para o exercício da sexualidade. Embora confessem vergonha, medo, receios de conversar com os pais sobre as questões sexuais, desejam que se façam esclarecimentos detalhados sobre a vida sexual. Na evolução do auto-erotismo à heterossexualidade que se observa no adolescente, pode-se descrever um oscilar entre a atividade de caráter masturbatório e os começos do exercício genital, onde há mais um contato genital.

(17) 7. de. caráter. exploratório. e. preparatório. do. que. a. genitalidade. procriativa. (KNOBEL,1981). O adolescente sofre com as mudanças corporais, a definição do seu papel e também com as mudanças psicológicas (ABERASTURY,1981). A perda que o adolescente deve aceitar ao fazer o luto pelo corpo é dupla: a de seu corpo de criança, o aparecimento da menstruação na menina e do sêmen no menino, que lhes impõem o testemunho da determinação sexual e do papel que terão que assumir, não só com o parceiro, mas também na procriação. As mudanças biológicas da puberdade são as que impõem maturidade sexual. ao. indivíduo. (FREUD,1938),. intensificando-se. todos. os. processos. psicobiológicos que se vivem nesta idade. A adolescência é um processo que ocorre durante o desenvolvimento evolutivo do indivíduo, caracterizado por uma revolução bio-psico-social, e marcando a transição do estado infantil para o estado adulto (ABERASTURY, 1983). As características psicológicas deste movimento evolutivo, sua expressividade e manifestações ao nível do comportamento e da adaptação social, são dependentes da cultura e da sociedade onde o processo se desenvolve. Além disso, este processo adolescente é desencadeado, impelido e concomitante às alterações biológicas que intervêm na maturação das manifestações pulsionais e são inerentes a esse período. As velocidades de maturação de cada setor (biológico, psicológico e social), e das partes que os compõem, são distintas e interatuantes, dando o colorido típico que caracteriza o adolescente de nossa sociedade. Com a chegada da puberdade, todo o organismo é invadido pela força das transformações biológicas e tomado por impulsos sexuais e agressivos, determinando o início da puberdade e do processo da adolescência. De início, sem saber bem o significado de sua sexualidade e de como dispor dela, o adolescente pouco a pouco vai descobrindo os mistérios e os devaneios que essa situação atraente e angustiante lhe desperta (COSTA, 1986). As modificações corporais, bem como a masturbação, são elementos que exteriorizam as mudanças internas com seus reflexos sobre a vida afetiva e emocional dos jovens..

(18) 8. Então, o adolescente entra nessa etapa da vida tomado por um estado de certa confusão e incoerência, entre o que lhe era conhecido e familiar, por ocasião da infância, e as transformações pelas quais está passando (LEVISKY, 1995). Apesar de desejar atingir a vida adulta, pois é impelido por seu crescimento e maturação, teme o desconhecido que existe dentro de si. Aos poucos, o adolescente sente o seu corpo amadurecer, e, com isto, o peso da cultura e da sociedade exercerá sobre o ele a repressão da livre expressão e experimento da genitalidade adulta. A princípio, não se interessa pela sexualidade genital, até que descobre o outro sexo, e a intensa excitação e prazer que ele lhe desperta. Sexualidade são todas as séries de excitações e atividades presentes desde a infância e que procuram prazer irredutível na satisfação de uma necessidade fisiológica fundamental. Como ocorre com a fome, a respiração e o amor. É uma ampla função, cuja finalidade é o prazer, e, num outro plano, a procriação. E, é claro, a sexualidade vai assumir características de acordo com a idade na qual é vivida, sendo influenciada, então, pelas características adolescentes (LAPLANCHE e PONTALIS, 1982). Entretanto, é sabido que muitos jovens iniciam sua vida sexual em idades precoces, e a manutenção de uma vida sexual sem preparo e cuidado pode trazer conseqüências muito sérias para o adolescente, como a gravidez indesejada, o aborto e as doenças sexualmente transmissíveis. E, além disso, muitos adolescentes, apesar de relatar conhecimento sobre métodos anticoncepcionais, não os utilizam. Assim, torna-se importante que se criem estratégias de prevenção, que visem diminuir a incidência de tais problemas. Abrir um espaço para que se reflita, levando em conta que, os problemas e dificuldades existem e não podem ser ignorados, mas sim falados, debatidos e estudados para que possamos, assim, ter uma melhor compreensão sobre o processo adolescente que nos permita ajudar os jovens a vivenciar, de forma mais saudável, segura e prazerosa, a sua sexualidade. A experiência sexual, como toda experiência humana, é produto de um complexo conjunto de processos sociais, culturais e históricos. A concepção moderna de sexualidade, segundo Foucault (1977;1997), designa uma série de.

(19) 9. fenômenos que englobam tanto os mecanismos biológicos de reprodução como as variantes individuais e sociais do comportamento, a instauração de regras e normas apoiadas em instituições religiosas, judiciárias, pedagógicas e médicas, e também as mudanças no modo pelo qual os indivíduos são levados a dar sentido e valor à sua conduta, seus deveres, prazeres, sentimentos, sensações e sonhos. Sexualidade é, pois, uma construção social que engloba o conjunto dos efeitos produzidos nos corpos, nos comportamentos e nas relações sociais. Ao longo da história, a atividade sexual sempre foi objeto de preocupação moral e, como tal, submetida à disposição de controle das práticas e comportamento sexuais. Como esses. dispositivos. são. constituídos. com. base. nos. valores. e. ideologias. predominantes na sociedade, eles assumem formas diferentes à medida que a sociedade muda. Para Foucault (1977,1997), a sociedade que se desenvolveu a partir do século XVII – sociedade burguesa, capitalista ou industrial – deu início a uma época de repressão à sexualidade não como proibição em si, mas pela incitação dos discursos. Essa sociedade não reagiu ao sexo como uma recusa em reconhecê-lo, ao contrário, instaurou todo um aparelho para produzir verdadeiros discursos sobre ele. Nessas sociedades, não somente se falou muito sobre sexo e se forçou todo mundo a falar dele, como também se instituiu uma verdade regulada sobre a sexualidade. Foucault (1977,1997) busca as razões pelas quais a sexualidade, longe de ser reprimida na sociedade contemporânea está, ao contrário, sendo suscitada. O dispositivo da sexualidade deve ser pensado a partir das técnicas de poder que lhe são contemporâneas. Para ele três eixos constituem a sexualidade nas sociedades modernas: a formação dos saberes que a ela se referem; os sistemas de poder que regulam suas práticas e as formas pelas quais os indivíduos podem e devem se reconhecer como sujeitos dessa sexualidade. Os estudos de Foucault (1977,1997) nos mostram, portanto, que a sexualidade, longe de ser um fenômeno natural, é, ao contrário, profundamente suscetível às influências sociais e culturais. É produto de forças sociais e históricas. É a sociedade e a cultura que designam se determinadas práticas sexuais são apropriadas ou não, morais ou imorais, saudáveis ou doentias..

(20) 10. Os pensamentos de Freud (1905,1976), em os “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, tratam sobre as transformações da puberdade, da libido narcísica em contraste com a libido objetal. Ou seja, o adolescente investe, egoisticamente, sobre si mesmo, a energia afetiva e sexual. Aos poucos, ele troca com o outro esta mesma carga afetiva, isto é, começa a se relacionar com os pais e companheiros. Para Freud (1905,1976), o impulso sexual não é fixo como o dos animais. Não é do tipo da necessidade. Ele fala também da sublimação do impulso, isto é, uma pessoa pode usar a libido para fins que não sejam a satisfação da genitalidade. A libido pode ser transformada e investida em outras metas ou objetos, pode e, em geral, é reprimida; e muitas vezes, a repressão é exitosa ou torna a pessoa doentia. Em Freud (1905,1976), a repressão constitui sempre uma defesa inconsciente, constatando que a repressão produz a cultura. E as artes expressam a criatividade da sublimação. A genitalidade não é uma necessidade, como por exemplo, a de me alimentar. Ter relações sexuais, poder adiar as relações e não querer ter relações; as três opções não criam, por si própria, neurose ou normalidade. Esta afirmação é geralmente aceita sem maiores questionamentos, então fica mais clara a colocação de que a possibilidade de procriar não me dá imediatamente, e por si só, o direito de ter relações sexuais. A pessoa tem princípios, razões motivos e outras implicações que vão além da satisfação corporal. A liberdade não pode ser subjugada pelo império da satisfação, a simples presença do impulso e do desejo não legitimam a relação sexual. O argumento da necessidade de satisfação e descarga de energia é fraco para legitimar o adolescente ao seu exercício. É essencial para a saúde psíquica do adolescente, a conquista da identidade sexual que se obtém aos poucos, supondo a superação das perdas infantis, deixando de ser criança. O processo de independência afetiva, não acontece de repente, de ser dono de si, de cortar o cordão umbilical, o sentimento profundo de ser ele mesmo, separado dos demais, a convicção de saber o que quer, de dar um sentido à vida, começam na adolescência e continuam pelo resto da vida. O sentimento do valor de si mesmo, de precisar cada vez menos da opinião dos outros, de ter luz própria, isto é, saber decidir-se e agir por força de convicções.

(21) 11. pessoais, se integram na consciência da sexualidade, que solidifica e vivifica a personalidade. O crescimento normal da sexualidade assumida como processo identificatório, como fonte de vida e entusiasmo, de comunicação e comum união, confere o sentimento de profunda consciência de si mesmo e de harmonia com a vida e consigo mesmo, bem como o início da responsabilidade, como gesto de esperança no futuro e segurança da sua sexualidade. De acordo com a definição da OMS (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1975): “A sexualidade forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. Sexualidade não é o sinônimo de coito e não se limita à presença ou não de orgasmo. É muito mais do que isso é a energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir e das pessoas tocarem e serem tocadas. Ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e tanto a saúde física e como a mental. Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada um direito humano básico”. Encontramos nos PCNs (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO, 1996) um documento propondo trabalhos sobre Orientação Sexual como Tema Transversal e tratando dos seguintes aspectos: a sexualidade é primeiramente abordada no espaço privado, por meio das relações familiares. Assim, de forma explícita ou implícita, são transmitidos os valores que cada família adota como seus e espera que as crianças e os adolescentes assumam. Assim como a inteligência, a sexualidade será construída a partir das possibilidades individuais e de sua interação com o meio e a cultura. A construção do que é pertencer a um ou outro sexo se dá pelo tratamento diferenciado para meninos e meninas, inclusive nas expressões diretamente ligadas à sexualidade, e pelos padrões socialmente estabelecidos de feminino e do masculino (PCNs,1996). Esses padrões são oriundos das representações sociais e culturais construídas a partir das diferenças biológicas dos sexos e transmitidas por meio da educação, o que atualmente recebe a.

(22) 12. denominação de “relações de gênero”. Essas representações internalizadas são referências fundamentais para a constituição da identidade da criança. Em relação à puberdade, proposto nos PCNs (1996), as mudanças físicas incluem alterações hormonais que, muitas vezes, provocam estados de excitação difíceis de controlar, intensifica-se a atividade masturbatória e instala-se a genitalidade (FREUD,1905,1976). É a fase de novas descobertas e novas experimentações, podendo ocorrer as explorações da atração e das fantasias sexuais com pessoas do mesmo sexo e do outro sexo. A experimentação dos vínculos tem relação com a rapidez e a intensidade da formação e da separação dos pares amorosos entre os adolescentes. As expressões da sexualidade, assim como a intensificação das vivências amorosas, são aspectos centrais na vida dos adolescentes. A sensualidade e a malícia estão presentes nos seus movimentos e gestos, nas roupas que usam, na música que produzem e consomem, na produção gráfica e artística, nos esportes e no humor por eles cultivado. Quando a questão da sexualidade é tomada como algo sério e a ser esclarecido, compreendido e estudado (PCNs,1996); tende a modificar a relação agitada dos adolescentes com o tema. Vão perdendo progressivamente o sentido dos desenhos de órgãos genitais nas carteiras, paredes e banheiros da escola, como atitudes provocativas e exibicionistas de sensualidade exacerbadas, ou as tentativas de escandalizar os adultos. O bem estar sexual passa pelo esclarecimento das questões que estão sendo vivenciadas pelas crianças e pelos jovens e é favorecido pelo seu debate aberto, nas diversas etapas do crescimento. Segundo a proposta do MED (PCNs,1996), os adolescentes têm todo direito ao prazer. Precisam aprender a considerar, também, os aspectos reprodutivos de sua sexualidade genital e, portanto, agir responsavelmente, prevenindo-se da gravidez indesejada e das doenças sexualmente transmissíveis/ Aids. A sexualidade envolve pessoas e, conseqüentemente, sentimentos, que precisam ser percebidos e respeitados. No caso dos adolescentes, as manifestações da sexualidade tendem a deixar de ser fonte de agressão, provocação, medo e angústia, para tornar-se assunto de reflexão. Também nas crenças e valores, ocorrem um determinado contexto sócio-cultural e histórico, que têm papel determinante nos comportamentos. Nada disso pode ser ignorado quando se debate.

(23) 13. a sexualidade com os jovens, é essencial que os adolescentes aprendam a refletir e tomar decisões coerentes com seus valores, no que diz respeito à sua própria sexualidade, ao outro e ao coletivo, conscientes de sua inserção em uma sociedade que incorpora a diversidade.. a) A Sexualidade e repressão. A expressão da sexualidade do adolescente pode se dar de formas diferentes. Uma delas é a repressão do próprio impulso sexual, demonstrando uma postura negativa e, ao mesmo tempo, tentando impedir seu envolvimento em novas experiências. Podendo acontecer principalmente se os primeiros contatos com a sexualidade forem frustrantes. Nos adolescentes, o desejo de se envolver e o medo de se entregar à relação provocam uma verdadeira “tempestade” em seu pensamento. Não é simples abandonar a relação estável e segura com a vivência com a turma e desenvolver um novo papel. O conflito básico da crise adolescente é a elaboração do vínculo de dependência simbiótica, a remoção de suas relações objetais. Os processos de desprendimento e diferenciação desorganizam e desestruturam a precária identidade lograda até aquele momento. Segundo Freud (1905,1976), a energia sexual, para a psicanálise, é a energia que utilizamos para tudo – para trabalhar, ligar-nos às outras pessoas, divertir-nos, produzir conhecimentos. Para Marcuse (1978), há uma repressão da energia sexual que vai além do necessário para nossa sobrevivência, e temos em nossa sociedade uma moral sexual repressiva. Quando, no decorrer da socialização, o adolescente internaliza as normas e regras sociais, tornando-as sua moral sexual. Internalizando os valores, o jovem adolescente ver-se-á pressionado pelo grupo e pela sua própria consciência. Foucault (1977) salienta que a possibilidade de uma sexualidade que corresponda aos nossos desejos (mesmo considerando para haver civilização deva haver um nível de controle e repressão) dependerá de uma luta que o jovem.

(24) 14. adolescente deve enfrentar por uma moral sexual, que sugere o poder castrador e passe para uma fase do encontro entre o saber e a responsabilidade. A sexualidade, de certa forma, apresenta-se difícil, proibida ou limitada por uma série de coações sociais, especialmente a partir do momento em que o indivíduo já não se percebe mais como criança, surgindo entre ele e o meio social novas e fascinantes relações. O despertar biológico mais acentuado do impulso sexual, relacionado à maturação das gônadas, gera no adolescente inúmeros problemas, sejam eles de natureza moral, social, psíquica ou religiosa. É interessante notar, segundo Angeli (1986), a confusão da geração mais velha e a ausência de decodificação do processo de comunicação entre as duas gerações. Isso é decorrente de padrões indefinidos do adulto, o que agrava a situação dos adolescentes, principalmente no que se refere à conduta sexual.. b) A sexualidade e o desejo. Todos os seres vivos se desejam como caminho para a procriação, necessidade de sobrevivência da espécie. No universo humano não é diferente, um deseja o outro. Para Rassial (1999), o desejo do adolescente é hesitante: voltado para o outro sexo, ele encontra interdições edípicas; dirigido ao semelhante ele se orienta para um laço mais fraternal do que sexual. Existem duas maneiras para resolver essa dificuldade: a primeira consiste em renegar a importância da diferença sexual e a outra é a precipitação na sexualidade, a busca da relação sexual. A primeira está apoiada no narcisismo, e a segunda no ativismo, projeção de toda a sexualidade sobre um objeto ausente. A psicanálise considera importante o conceito do sujeito do desejo, em discurso freudiano, preconizado na “Interpretação dos Sonhos” (Freud,1900 - 1976). Segundo Laplanche e Pontalis (1986), a concepção dinâmica freudiana trata de um dos pólos do conflito defensivo que é: “o desejo inconsciente tende a realizar-se restabelecendo, segundo as leis do processo primário, os sinais ligados às primeiras.

(25) 15. vivências de satisfação. A psicanálise mostrou, no modelo do sonho, como o desejo se encontra nos sintomas sob a forma de compromisso”. O adolescente deseja manter os privilégios da vida infantil e adquirir os da vida adulta, sem ter que arcar com as suas conseqüências. A partir do desejo de querer estar ou de se sentir apaixonado, associado às experiências vividas nessa relação prazerosa e frustrante, acrescidas das solicitações da vida cotidiana, esse objeto interno, inicialmente com características de objeto parcial, sofre transformações graças à diminuição dos mecanismos de defesa primitivos, à maior integração do ego e à maior capacidade de elaboração da situação edípica, fruto da posição depressiva de Klein, como propõe Levisky (1998). Junto com os desejos, medos e a coragem perante os desafios, o adolescente enfrenta o desconhecido que tem dentro de si, possuindo o desejo de se libertar dos pais internos, de quem anteriormente era dependente. Para alcançar o adulto que deseja ser, dependerá muito do seu trabalho mental, tempo, experiência, elaboração e dor. Segundo Roudinesco e Plon (1998), “desejo é o termo empregado em filosofia, psicanálise e psicologia para designar, ao mesmo tempo, a propensão, o anseio, a necessidade, a cobiça ou o apetite, isto é, qualquer forma de movimento em direção a um objeto cuja atração espiritual ou sexual é sentida pela alma e pelo corpo”..

(26) 16. 1.2.. O. ENFOQUE. OPERATIVO. NOS. GRUPOS. DE. REFLEXÃO. COM. ADOLESCENTES. a) Grupos de enfoque operativos. A teoria e técnica de grupos operativos foram desenvolvidas por Enrique Pichon-Rivière (1907-1977), médico psiquiatra e psicanalista de origem suíça, que viveu na Argentina desde seus 4 anos de idade (PICHON-RIVIÈRE, 1982). Grupo operativo consiste numa técnica de trabalho com grupos, cujo objetivo é promover, de forma econômica, um processo de aprendizagem. Aprender em grupo significa uma leitura crítica da realidade, uma apropriação ativa desta realidade. Uma atitude investigadora, na qual cada resposta obtida se transforma, imediatamente, numa nova pergunta. Aprender na teoria pichoneana é sinônimo de mudança. Há controvérsias em considerarmos o grupo operativo como técnica específica de coordenação de grupos, como assinala Tubert-Oklander (1986) – “Grupo operativo utilizável para se referir a uma técnica específica de coordenação de grupos, nem a um tipo determinado de grupo em função de seu objetivo, como poderia ser ‘grupo terapêutico’, ‘grupo de aprendizagem’ ou ‘grupo de discussão’, mas se refere a uma forma de pensar e operar em grupos que se pode aplicar à coordenação de diversos tipos de grupos”.. Porém, o nosso estudo está focado em Pichon-Rivière que em suas postulações abre um vasto leque de aplicações de grupos operativos, as quais, como algumas variações técnicas, que são conhecidas por múltiplas e diferentes denominações. Um grupo operativo é composto pelos seus integrantes, um coordenador e um observador. Os integrantes entram em tarefa por meio de um disparador temático, a partir do qual, o grupo passa a operar ativamente como protagonista..

(27) 17. O grupo deve saber, a priori, as normas básicas do funcionamento do grupo. Local, horários, coordenador e observador. Esses limites funcionais constituem-se no enquadre grupal. Compete ao coordenador de grupos operativos facilitar o processo, na medida em que cria condições para comunicação, consigna (instruções), diálogo e auxilia o grupo a elaborar os obstáculos que emergem na realização da tarefa. O observador de grupos operativos é um co-pensador silencioso, que por sua distância ótima do grupo, tem uma percepção global do processo. Registra graficamente as comunicações verbais e gestuais dos integrantes e do coordenador, a fim de auxiliá-lo na elaboração da crônica devolutiva do trajeto percorrido pelo grupo. Como afirmamos anteriormente, aprender sob a ótica pichoneana tem o sentido da mudança. Toda situação de mudança mobiliza os medos básicos de perda e ataque, que estão a serviço da resistência ao novo. Cada integrante do grupo comparece com sua história pessoal consciente e inconsciente, isto é, com sua verticalidade. Na medida que se constituem em grupo, passam a compartilhar necessidades em função de objetivos comuns e criam uma nova história, a horizontalidade do grupo, que não é simplesmente a somatória de suas verticalidades, pois há uma construção coletiva, resultante da interação de aspectos de sua verticalidade, gerando uma história própria, inovadora que dá ao grupo sua especificidade e identidade grupal. A resistência à mudança, aliada às diferenças interpessoais e o compartilhar necessidades, faz surgir um processo contraditório e confusional em determinados momentos do grupo, tornando-se obstáculo na comunicação, dificultando para sua operatividade no sentido de suas metas. Esses obstáculos precisam ser conhecidos, para poder ser superados, senão, cria-se um ruído na comunicação, levando muitas vezes o grupo à sua dissolução. Essa dinâmica grupal não é linear ou cumulativa, ela ocorre num movimento dialético, onde cada alvo alcançado transforma-se imediatamente, em um novo ponto de partida. É permeado de perdas e ganho, os quais devem ter uma resultante positiva e, portanto, operativa. São nessas idas e vindas do movimento dialético, que vão ocorrendo os ajustes e correções de conceitos, preconceitos,.

(28) 18. tabus,. fantasias. inconscientes,. idéias. preconcebidas. e. estereotipadas,. desenvolvendo uma atitude plástica e criativa. Dessa forma, podemos afirmar que aprender em grupo, não significa obter um conhecimento formal, enciclopédico ou acadêmico, mas uma atitude mental aberta, investigatória e científica. Aprender, portanto, vem a ser uma nova leitura da realidade e apropriação ativa da mesma, no aqui, agora e comigo. Não estando somente no discurso, mas nas ações mais ordinárias do cotidiano. Essa aprendizagem mobiliza mudanças, onde o sujeito deixa de ser espectador e passa a ser o protagonista de sua história e da história de seu grupo. Parte da informação, apropria-se dela e transforma-a em gestos. Deixa de ser aluno que recebe passivamente conversas de saber e passa a ser aprendiz que, ao fazer, vai aprendendo. O grupo operativo é centrado na tarefa. Nenhum grupo nasce pronto, não é imediato. Passa por diversos momentos antes de se tornar operativo. Momentos de estruturação, desestruturação e reestruturação. Momentos confusionais, que o coordenador ou monitor deve estar atento para não sucumbir com o grupo. Compreender e avaliar a operatividade de um grupo é algo complexo, por seu caráter subjetivo, pondo em risco sua validade. Para superarmos o risco de uma avaliação subjetiva, dispomos de categorias de avaliação, que são fenômenos universais, isto é, ocorrem em qualquer grupo. São sete os vetores de avaliação. O primeiro vetor inclui os fenômenos de Afiliação. É um primeiro grau de identificação que os integrantes têm com a tarefa e com os demais integrantes. O integrante se aproxima, com certo distanciamento, não se envolve de corpo inteiro. O segundo vetor é a Pertença. Na medida em que o grupo se desenvolve, o vetor afiliação vai-se transformando em pertença. Há um maior grau de identificação e integração grupal permitindo a elaboração da tarefa. É quando os integrantes superam as distâncias e "vestem a camisa". Percebem que o projeto lhes pertence, deixam de ser espectadores e passam a ser seus protagonistas. Pode.

(29) 19. ser vista no grupo pelo grau de responsabilidade com o qual os integrantes assumem o desenvolvimento da tarefa. O terceiro vetor, a Cooperação é uma contribuição ainda silenciosa à tarefa grupal. É a possibilidade dos integrantes assumirem e desempenharem papéis diferenciados. Essa complementaridade consiste na capacidade de desenvolver papéis, não em uma superposição ou atropelamento competitivo, mas em uma complementação mútua, intercambiável. Há uma verdadeira rotação de papeis no interjogo grupal. É a contribuição de cada um dos integrantes para com a tarefa e para com os outros integrantes. Cada um contribui com o que sabe e com o que pode. A Pertinência, o quarto vetor, é o centramento na tarefa. A pertinência é positiva. Não se centrar na tarefa pode ser uma impertinência, quando ocorre a impostura (falar uma coisa e fazer outra) ou sabotamento (usar um subterfúgio para sair da tarefa). É uma situação distinta da pré-tarefa, que, ainda que não seja tarefa, está a caminho dela e do projeto. Na pré-tarefa, o grupo trabalha as resistências à mudança; na tarefa vai trabalhar os medos básicos que alicerçam as resistências. Quando os integrantes fogem disso não há pertinência à tarefa, e se instala um "como se" estivessem em tarefa, andam em círculos viciosos, são as ditas situações dilemáticas ou ficam discutindo falsos problemas, de solução impossível, pelo menos naquele âmbito. O vetor fundamental de interação grupal é a Comunicação, que pode ocorrer por distintas vias: verbal, gestual, por atitudes comportamentais, afetivas e emocionais. A comunicação entre os integrantes de um grupo operativo funciona, analogamente como a teoria física de vasos comunicantes, possibilitando o nivelamento do seu conteúdo sem perder a identidade do continente. Possibilita que o grupo construa um esquema conceitual, ao qual seus integrantes se referenciam operativamente. A comunicação pode-se instalar de várias formas: -. De um para todos, quando somente um fala e os demais ficam ouvindo passivamente. Esse modelo pode criar dependência de um líder;. -. De todos para um só. A situação que aí se instala é a de depositação em um "bode expiatório";.

(30) 20. -. Entre dois, que se isolam do grupo criando subgrupos;. -. Entre todos, quando o que é falado é escutado pelos demais, e a comunicação se torna fluida entre todos. O sexto vetor de avaliação da operatividade de um grupo é a. Aprendizagem que se desenvolve a partir das informações, em saltos de qualidade que incluem a tese, antítese e síntese; as fragmentações e as integrações. Mudanças quantitativas podem levar a mudanças qualitativas e estruturais. É uma aprendizagem com criatividade, facilita a elaboração de ansiedades e implica uma adaptação ativa à realidade. O sétimo vetor é a Tele, o clima em que se desenvolve o grupo. O clima é representado pela disposição, positiva ou negativa, para trabalhar a tarefa grupal; pela aceitação ou rejeição, que os integrantes têm espontaneamente em relação aos demais. Compõem a “tele” os sentimentos de atração, ou rejeição, e, portanto, a tele pode ser classificada em positiva ou negativa. A situação de encontro é, por sua vez, um reencontro com figuras do mundo interno, a história dos integrantes, as quais se reeditadas na nova situação representada pela grupo com enfoque operativo.. b) Adaptação da técnica de grupo para grupos com enfoque operativo. Os profissionais e técnicos que lidam com adolescentes apontam a dificuldade de agendamento com sua clientela, causando-lhes frustração, mal-estar e mesmo irritação. Porém os adolescentes estão experimentando integrar a dimensão cronológica de tempo em sua prática, e caracteriza um processo, e um tipo especial de. aprendizagem. A dimensão do mundo adulto vai sendo descoberta. gradualmente. Essa dificuldade temporal é pertinente e compreensível mas, nem por isso, o educador, pode ser totalmente permissivo. Cabe-lhe a difícil tarefa de manter os limites, definindo adequadamente o enquadre, o qual facilita o desenvolvimento.

(31) 21. do senso de responsabilidade e de respeito nos membros do grupo e na própria equipe educacional. A linha divisória entre o pertinente e o permissivo é muito difícil de estabelecer, e pode ser um obstáculo para coordenação de um grupo operativo clássico com adolescentes. Exigiria da equipe de coordenação um alto grau de plasticidade, criatividade e autoridade para que haja bom aproveitamento. Uma forma de melhorar o grau de adesão ao processo grupal é oferecer ao jovem um espaço saudável para a expressão de si e abertura ao outro. Quando sai do grupo enriquecido, mais forte, compreensivo, compreendido, capaz de ouvir ouvir e ser ouvido; quando. sente estar contribuindo e ter. contribuído; quando. percebe que suas idéias, sentimentos e experiências foram valorizados pelo outro, conclui que não está sozinho... e que ninguém está ali para lhe "fazer a cabeça”. Outra adaptação técnica para o grupo de adolescentes com enfoque operativo refere-se ao disparador temático. Esse deve ter um aspecto mais lúdico que teórico. Palestras, aulas e longas explanações, muito dificilmente são bons disparadores.. Por. esta. razão:. laboratórios,. dinâmicas,. jogos,. brinquedos,. contextualizações ou outras situações mais imediatas, são sugeridas pelo próprio grupo, como por exemplo, "a primeira relação sexual". A temática, para ser absorvida pelos jovens, tem que ter um caráter prático, simples e facilmente reconhecida como sendo de seu interesse. O grupo apresentará dificuldade cognitiva ou resistência de entrar em tarefa, se, por exemplo, o coordenador disser: hoje discutiremos auto estima ou a sexualidade, ou qualquer outro conceito teórico. Para que os jovens entrem na tarefa grupal, é necessário aproximá-los de forma clara, ou utilizar um objeto intermediário, para desenvolver a temática que a coordenação planejou. Jogos, gincanas laboratórios, dramatizações, dinâmicas, brincadeiras, etc., presentificam o disparador temático, facilitando a aderência, interesse, participação, colaboração e aproveitamento do material emergente. Outra adaptação necessária refere-se à freqüência dos jovens nas sessões. O adolescente está aprendendo a integrar a dimensão cronológica a sua temporalidade primitiva. A dimensão cronológica do tempo tem um caráter social, público e objetivo. A temporalidade primitiva é particular, subjetiva e poética. Uma.

(32) 22. não deve aniquilar a outra, mas serem integradas. Essa integração demanda um processo de aprendizagem que pode ser desenvolvido pela técnica de grupos operativos. Nenhum atraso, falta, abandono de um integrante ou inserção de novos deve ser subestimado ou passar em branco. Suas presenças e pontualidade devem ser valorizadas como uma contribuição muito importante ao processo grupal.. 1.3. A PESQUISA COM OBSERVADOR PARTICIPANTE. a) Considerações sobre as limitações dos delineamentos de pesquisa. A literatura sobre o delineamento de pesquisa científica não é muito ampla, no sentido de classificar e descrever os diferentes enfoques, métodos e/ou tipos de pesquisa. Existem invariavelmente muitas sobreposições e lacunas entre os vários autores, relativamente às suas proposições. A fim de poder descrever algumas características do presente estudo, apresentaremos, inicialmente, uma rápida visão sobre esse assunto no sentido de formular um quadro de referência. O método consiste de técnicas suficientemente gerais para se tornarem comuns a todas as ciências ou a uma significativa parte delas (KAPLAN, 1969:25). Deduz-se desta definição que método é procedimento mais geral, mais abrangente, enquanto a técnica é mais específica. A definição de método, segundo CERVO e BERVIAN (1983:23): “Em seu sentido mais geral, o método é a ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um fim dado ou um resultado desejado. Nas ciências, entende-se por método o conjunto de processos que o espírito humano deve empregar na investigação e demonstração da verdade.” A rigor, reserva-se a palavra método para significar o traçado das etapas fundamentais da pesquisa, enquanto técnica significa os diversos procedimentos ou a utilização de diversos recursos peculiares a cada objeto de pesquisa, dentro das diversas etapas do método..

(33) 23. Quanto à classificação da pesquisa, consideramo-na quanto aos objetivos de pesquisa descritiva – os fatos são observados, registrados,. analisados,. classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira sobre eles. Portanto, os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não manipulados pelo pesquisador. Assim, podemos considerar que os estudos de pesquisa diferem quanto à sua natureza básica e quanto aos métodos de que utilizam. A natureza diz respeito aos objetivos predominantes para os quais os estudos se orientam (SELLTIZ, 1974), que podem ser considerados basicamente em número de três: exploratórios, descritivos e causais. Os exploratórios procuram fundamentalmente descobrir idéias e intuições, utilizando-se de processos de pesquisa suficientemente flexíveis, de modo a permitir a consideração de muitos aspectos diferentes de um fenômeno; os estudos descritivos têm por objetivo apresentar mais precisamente as características de uma situação e verificar a freqüência com que um certo fenômeno ocorre. A principal característica desse tipo de estudo é a exatidão e, por isso, é necessário um planejamento que reduza o viés e amplie a precisão; finalmente, os estudos causais procuram verificar uma hipótese de relação causal entre variáveis. Esses estudos exigem processos que não apenas reduzam o viés e aumentem a precisão, mas também permitam inferências a respeito da causalidade. Embora o termo causal tenha um significado bastante peculiar, a ciência moderna tem utilizado o termo para expressar uma série de interesses relativos à busca do entendimento, das relações entre variáveis que não apenas no sentido restrito de causalidade. (SELLTIZ et.. al, 1974). Os métodos dizem respeito aos princípios básicos que governam os processos, procedimentos e técnicas específicas pelos quais os estudos são efetivamente conduzidos. Embora alguns autores façam uso, invariavelmente, dos termos métodos, tipos e mesmo enfoques, seis métodos básicos podem ser identificados: observação, levantamento, estudos “ex-post-facto”, pesquisa de campo, experimentos de campo e experimentos de laboratório (SELLTIZ et.. al, 1974; KERLINGER; 1964; NACHMIAS; NACHMIAS, 1976; FESTINGER; KARTZ, 1966). Esses métodos guardam uma relação direta com grau em que a pesquisa pode ser vista como experimental. Iniciando-se no método da observação e indo até ao do experimento laboratorial, podemos caracterizar, respectivamente, métodos de.

(34) 24. pesquisa não experimentais, quase experimentais e verdadeiramente experimentais, no sentido de indicar a ênfase dada pelo pesquisador ao controle de variáveis intervenientes ou exógenas. Os autores consideram que mais da metade dos estudos de pesquisa na área de psicologia, sociologia, educação e antropologia são feitos segundo métodos não experimentais e/ou quase- experimentais. A justificativa para enquadrá-lo como pesquisa de campo é que ele possui as características descritas na literatura como pertinentes a tal estudo. Sobre estas características gostaríamos de comentar mais longamente a fim de melhor explicitar seus conceitos, sub-tipos, potencialidades e fraquezas. Nesse sentido, as pesquisas de campo têm sido vistas (KERLINGER, 1974) como qualquer estudo científico, grande ou pequeno, que sistematicamente persegue relações, testa hipóteses e que é conduzido em situações de vida, como comunidades, escolas, fábricas, organizações e instituições. Numa pesquisa típica de campo, o pesquisador escolhe situações sociais ou institucionais e então estuda relações entre atitudes, valores, percepções e comportamentos de indivíduos ou grupos. As pesquisas de campo podem ser divididas em duas categorias: exploratórios e preditivos (FESTINGER; KARTZ, 1966). Os da primeira categoria procuram identificar variáveis que podem ser correlacionadas e os da segunda procuram predizer relações a serem confirmadas. Diríamos que o presente trabalho enquadra-se na segunda categoria, uma vez que hipóteses serão desenvolvidas para serem testadas a partir de variáveis já identificadas. Os métodos baseados em pesquisa de campo são bastante apropriados para situações nas quais as variáveis são difíceis de ser operacionalmente definidas e medidas. Normalmente essa dificuldade não só é derivada da complexidade em si do fenômeno, mas também de sua natureza pouco explorada, o que implica a necessidade de um planejamento mais cuidadoso do processo pelo qual a pesquisa será conduzida, bem como, em muitos casos, para tornar o esforço viável na redução de sua amplitude (FESTINGER e KARTZ, 1976). Por meio das pesquisas de campo é possível contribuir para a literatura em assuntos relativamente complexos, o que de outro modo seria impraticável, quer técnica quer economicamente. Os estudos têm sido vistos como uma forma de se.

(35) 25. proporcionar um melhor entendimento acerca de determinados fenômenos, de possíveis impactos a eles associados, e de relacionamentos entre variáveis supostamente relevantes ainda que com sérias limitações, a principal das quais residindo no baixo poder de inferência dos resultados (KERLINGER, 1964). Uma vez que o presente trabalho tenha sido considerado como típico pesquisa de campo, gostaríamos de frisar as principais potencialidades e fraquezas inerentes a tal método e que devem ser vistas, em maior ou menor grau, como características do presente esforço. Nesse sentido, fazendo-se uso da literatura, podemos destacar as seguintes potencialidades das pesquisas de campo: -. as pesquisas de campo são fortes em realismo e em significância prática;. -. as pesquisas de campo são altamente flexíveis, permitindo ao pesquisador ir além de seu problema e considerar possíveis hipóteses alternativas;. -. as pesquisas de campo colocam o pesquisador em contato bastante próximo com fenômenos sociais e organizacionais em progresso;. -. as pesquisas de campo são ricas em levantar informações e proposições para serem consideradas por meio de métodos mais rigorosos de experimentação.. -. de outro lado, podemos destacar as seguintes fraquezas das pesquisas de campo, a respeito das quais os pesquisadores que utilizam tal método deveriam estar cientes:. -. nas pesquisas de campo, possíveis relações obtidas entre variáveis, são extremamente fracas no sentido da causalidade;. -. as pesquisas de campo ignoram um largo número de fatores condicionantes dessas relações e, portanto, determinantes, em maior ou menor grau, do efeito final que constitui o interesse do pesquisador;. -. as mensurações feitas na pesquisa de campo são geralmente mais imprecisas do que as concebidas em estudos experimentais. É muito comum nas pesquisas de campo o uso de medidas indiretas ou aproximadas, decorrentes da complexidade que caracterizam o fenômeno;. -. um dos problemas das pesquisas de campo é que eles normalmente estão condicionados a problemas práticos de custo e tempo, que muitas vezes implicam redução da profundidade das mensurações e do tamanho da amostra;. -. um outro problema das pesquisas de campo é que eles dependem fortemente da cooperação de pessoas que funcionam como fontes de informação..

(36) 26. b. O observador participante. Nas ciências da natureza, segundo o ponto de vista tradicional, a observação científica é objetiva, no sentido de que o observador registra o que ocorre os fenômenos, que são externos e independentes dele, com abstração ou exclusão total de suas impressões, sensações, sentimentos e de todo o estado subjetivo; um registro de tal tipo é o que permite a verificação do observado por terceiros que podem reconstruir as condições da observação (BLEGER, 1979,1998). Se o observador está condicionando o fenômeno que observa, pode-se objetar que, neste caso, não estamos estudando o fenômeno tal como ele é, mas sim em relação com a nossa presença, e, assim, já não se faz uma observação em condições naturais. O que se quer dizer com a expressão “observação em condições naturais”, refere-se a uma observação realizada nas mesmas condições em que se dá realmente o fenômeno. O observador de grupos operativos tem uma percepção global do processo devido à sua distância ótima do grupo. Registra graficamente as comunicações verbais e gestuais dos integrantes e do coordenador, a fim de auxiliálo na elaboração da devolutiva para o grupo.. c. Objetivos :. 1. Investigar o que pensam os adolescentes sobre a sexualidade; 2. Identificar e discutir os principais conflitos vividos pelos adolescentes com relação à sexualidade; 3. Analisar formas de manifestações culturais dos adolescentes sobre a sexualidade.

(37) 27. II – MÉTODO. Utilizaremos o método de investigação clínica de abordagem psicanalítica de Pichon-Rivière, para obtermos uma compreensão da psicodinâmica do grupo de adolescentes com enfoque operativo O esquema conceitual referencial operativo considerou uma série de fatores, tanto conscientes como inconscientes, que regem a dinâmica de qualquer campo grupal, e que se manifestam nas três áreas: mente, corpo e mundo exterior. Em linhas gerais, os grupos operativos propriamente ditos cobrem os seguintes quatro campos: ensino-aprendizagem, institucionais, comunitários e terapêuticos. Salientamos, que o nosso estudo enfoca ensino-aprendizagem e a ideologia fundamental deste tipo de grupo é a de que o essencial é “aprender a aprender”, e que “mais importante do que encher a cabeça de conhecimentos é formar cabeças”, criar “grupos de reflexão”. Por meio da troca de informações entre as pessoas é possível haver aprendizagem e gerar uma mudança qualitativa na resolução das ansiedades, uma adaptação criativa à realidade, para uma produção conjunta dos objetivos comuns concretizados nas tarefas (GAYOTTO, 2001).. 2.1 PARTICIPANTES Delineamento de “pesquisa de campo” Considerando-se que, teoricamente, a população para este estudo constitui-se de um grupo de uma comunidade religiosa específica, desde quando este estudo foi concebido, há cerca de dois anos, o nosso interesse, em termos de amostragem, tem sido voltado ao tipo não probabilístico. Tendo em vista que essas idéias nos parecem altamente válidas, desde que consideradas as devidas limitações, usamos um processo de aproximação gradativa para escolher os casos julgados como típicos da população em que estamos interessados..

Referências

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