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A precarização do trabalho docente e os motivos do adoecimento do professor da educação básica: uma visão crítica

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC FACULDADE DE EDUCAÇÃO- FACED TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO - II

IARA MARTINS DE ARAÚJO

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE E OS MOTIVOS DO ADOECIMENTO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA VISÃO CRÍTICA

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IARA MARTINS DE ARAÚJO

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE E OS MOTIVOS DO ADOECIMENTO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA VISÃO CRÍTICA

O trabalho de conclusão do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial a obtenção do título de graduação em pedagogia.

Orientador (a): Josefa Jackline Rabelo

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Aos acadêmicos e docentes em que suas lutas diárias não podem estar desvinculadas da perspectiva da emancipação humana.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Universitária

Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

A689p Araújo, Iara Martins de.

A precarização do trabalho docente e os motivos do adoecimento do professor da educação básica: uma visão crítica. / Iara Martins de Araújo. – 2017.

49 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Curso de Pedagogia

, Fortaleza, 2017.

Orientação: Profa. Dra. Josefa Jackline Rabelo.

1. Precarização. 2. Mal estar docente. 3. Síndrome de burnout. I. Título.

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Agradecimentos

Diante do fato de que esse sonho não foi construído sozinho: agradeço a Deus pelo dom da vida. Aos meus queridos pais, José (in memoriun) e Joana, por uma vida dedicada aos filhos e sua educação, sempre em busca de proporcionar o melhor que suas condições permitiam, o amor incondicional e serem exemplo de humildade, honestidade e humanidade, qualidades que cultivo comigo.

Agradecer em especial minha mãe que acompanhou de perto minha vida acadêmica, sempre me incentivando a continuar, me apoiando nos momentos de fraqueza e mostrando que eu conseguiria alcançar meus objetivos, com fé, dedicação e perseverança.

Agradeço as minhas irmãs queridas, Lívia, Simone e Liduína pelos conselhos baseados na experiência acadêmica, pela atenção e carinho dedicados a mim nesse período destinado aos estudos.

Emanuel, irmãozinho caçula, obrigada pelas caronas, as sábias dicas, importantíssimas no decorrer da graduação, uma vez que você estava a minha frente.

Ezequiel agradeço a paciência de ouvir as lamentações de uma universitária e ter sempre algo engraçado para amenizar o tormento vivido naquele momento. Amo vocês!

Ao meu primo Antonio Ezequiel por ser um exemplo de que o crescimento se dá pelos estudos e por me incentivar a buscar por uma graduação.

Minha querida amiga Graça, sou muito grata pela sua amizade, companhia e sinceridade.

Gostaria de agradecer imensamente a minha orientadora professora doutora Josefa Jackline Rabelo pela sua dedicação, orientação rigorosa, atenção e por acreditar em minha pesquisa.

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Resumo

A presente monografia teve como objetivo discorrer sobre os motivos e causar que induzem os professores do ensino básico a adoecerem no exercício da função, entendendo a desmotivação e o adoecimento dos mesmos em seu ambiente de trabalho. Buscou-se assim, analisar as principais doenças que acometem os professores no contexto da crise estrutural do capital e precarização do docente. Para darmos conta dessa problemática, realizamos uma pesquisa de cunho teórico-bibliográfica em que fundamentou-se principalmente nos estudos de: Alves (2010), Costa (1995), Carlotto (2002), Enguita (1989), Moura (1997), Mészáros (1998) e Pimentel (2010) para contextualizar o trabalho docente em meio a crise estrutural do capital. Para fundamentarmos a precarização, o sofrimento e adoecimento recorremos aos textos dos autores: Esteve (1994), Fleury & Macêdo (2012), Garcia & Coutinho (2004), Freire (1996). Realizamos ainda, um estudo de campo, composto por relatos dos seis professores que buscam atendimento na perícia médica do Instituto de Previdência do Município de Fortaleza (IPM), aliados ainda, a realização de entrevistas com dois médicos que assumem a função de perítos desse Instituto e que acompanham os referidos professores em tratamento. Nesse viés investigativo a pesquisa aponta que a realidade social e econômica em que vivem os docentes desencadeia o mal estar, a síndrome de burnout e consequentemente resultam no afastamento de suas funções por longos períodos, desdobramento da lógica expansionista do capital. Por fim, consideramos que as exigências propostas pelo capitalismo na contemporaneidade estão diretamente ligadas ao adoecimento dos trabalhadores especialmente a classe docente.

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Os sete pecados capitais responsáveis pelas injustiças sociais são: riqueza sem trabalho; prazeres sem escrúpulos; conhecimento sem sabedoria; comércio sem moral; política sem idealismo; religião sem sacrifício e ciência sem humanismo.

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SUMÁRIO

1 - Introdução...7

2 - A Crise estrutural do capital e suas determinações no complexo educacional: notas de contextualização do trabalho do professor...11

3 - Aprecarização, sofrimento e adoecimento do professor...19

3.1. A síndrome de Burnout: a expressão do sofrimento do professor...23

3.2. Relatos dos professores...27

3.3. Dados da entrevista semiestruturada com professores...30

3.4. Dados da entrevista semiestruturada com os médicos perítos...32

3.5. Análise dos dados a partir dos relatos dos professores...34

3.6. Análise dos dados a partir das entrevistas com professores...35

3.7. Análise dos dados a partir das entrevistas com médicos perítos...36

4 - Considerações finais...39

5 - Referências...43

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8 1- Introdução

O interesse pela pesquisa a respeito da “precarização do trabalho docente e os motivos do adoecimento do professor da educação básica: uma visão crítica” surgiu no decorrer do curso de pedagogia aliado a pesquisa de campo realizada por mim enquanto atuava como atendente no setor Junta Médica do Instituto de Previdência do Município de Fortaleza (IPM). A pesquisa aponta os diversos motivos pelas quais os professores do ensino básico da rede municipal de Fortaleza vêm adoecendo cada vez mais, implicando no afastamento de suas funções por longos períodos.

Pesquisar a respeito da carreira docente dos professores da rede municipal de Fortaleza se justifica pela grande demanda de alunos graduados no curso de pedagogia da Universidade Federal do Ceará que hoje atuam como professores efetivos da prefeitura da capital, bem como pesquisar de perto o cotidiano que nos aguarda após a graduação para que, possamos estar a par do que será nossa carreira docente, no que se refere ao adoecimento e afastamento das atividades, na perspectiva que se apresenta na contemporaneidade.

A precarização do trabalho docente é um fato recorrente da sociedade contemporânea e desperta fortes interesses em compreender desde seu surgimento, até sua culminância e desdobramento gerando grandes interesses por parte dos teóricos e acadêmicos em obter dados a respeito do assunto e os motivos, pelos quais, há o adoecimento dos professores da educação básica. Na sociedade contemporânea existem estudos a respeito do trabalho docente, sua precarização e proletarização, bem como a síndrome de

Burnout e o “mal estar” que acomete os trabalhadores docentes.

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9 A pesquisa tem como intenção maior aprofundar o conhecimento a respeito das causas e consequências desta realidade que, se apresenta à sociedade capitalista contemporânea.

Desse modo, a presente pesquisa tem como objetivo geral: discorrer sobre os motivos que levam os professores do ensino básico a adoecerem no exercício da função.

Para o alcance desse objetivo a investigação apresenta como objetivos específicos: entender a desmotivação e o adoecimento dos professores em seu ambiente de trabalho; analisar seu ambiente de trabalho, questões econômicas, pessoais e profissionais; analisar as principais doenças que acometem os docentes.

Para o desenvolvimento dessa pesquisa, realizamos um estudo próximo do campo da crítica marxista. Nesse sentido, realizamos estudos e revisão dos autores do campo do marxismo, especialmente de Alves (2010); Mészáros (1998); Carlotto (2002) Hypolito (1997). Do mesmo modo, revisamos textos de autores que refletem a problemática da precarização e do adoecimento dos professores, particularmente; Alves (2010); Freire (1996); Fleury & Macêdo (2012); Souza (2007); Carlotto (2002) e Oliveira (2007).

No discorrer dessas revisões nos orientamos por uma pesquisa de campo, quando ouvimos relatos de seis professores da rede municipal de Fortaleza que procuravam o serviço de atendimento médico pericial da Junta Médica do Instituto de Previdência do Município (IPM), entrevistamos também dois professores e dois médicos perítos que atuam no referido setor da instituição citada. Esses são os sujeitos centrais da pesquisa que nos elucidam, em seus cotidianos pessoais e profissionais, o processo de desumanização latente nesta sociedade capitalista, ou melhor, dizendo, nesse contexto de crise estrutural do capital.

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10 sofrimento, e adoecimento do professor; 4. Considerações finais; 5. Referências; 6. Anexos.

Inicialmente será contextualizado a precarização e proletarização, o mal estar docente a síndrome de Burnout, e histórico dos últimos anos.

Iniciamos este trabalho falando a respeito da crise estrutural do capital e suas determinações no complexo educacional: notas de contextualização do trabalho do professor, no qual pesquisamos o que alguns autores como: Costa (1995), Carlotto (2002), Moura (1997), Enguita (1989), Alves (2010), Marx (1988) Mészáros (1998) e Pimentel (2010) discorrem a respeito da referida problemática.

Para chegarmos ao tema central da pesquisa foi fundamental conhecermos sua história. Pensando assim, fomos em busca de obter informações a respeito do contexto social, econômico e político em que surgiu a educação. No primeiro capítulo tratamos de forma suscinta a história do surgimento da educação até a contemporaneidade, bem como, falamos dos percalços vividos pelos professores.

No segundo capítulo discorremos sobre a precarização, sofrimento e adoecimento do professor sob a perspectiva de Fleury & Macêdo (2012), Alves (2010), Esteve (1994), Garcia & Coutinho (2004) no que diz respeito o “mal estar” vivido pelos professores desde o início da história da educação até a atualidade. Neste capítulo abordamos e explicamos como e porque surge o “mal estar” na docência bem como os malefícios que o mesmo acarreta quando convivem com a precarização de sua profissão podendo levar a síndrome de

burnout e outras doenças psicológicas.

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11 Finalizamos esse capítulo com os Relatos dos professores; Dados da entrevista semi estruturada com professores; Dados da entrevista semiestruturada com os médicos perítos; análise dos dados a partir dos relatos dos professores; Análise dos dados à partir das entrevistas com professores e Análise dos dados á partir das entrevistas com médicos perítos.

As Considerações finais são compostas por uma reflexão a respeito do assunto abordado nessa pesquisa de forma crítica.

2 - A Crise estrutural do capital e suas determinações no complexo educacional: notas de contextualização do trabalho do professor

A instituição escolar tal como conhecemos hoje se constitui à partir do século XV, segundo Costa (1995) no seio de uma sociedade disciplinar composta por transformações que constituiriam a modernidade. Neste século a idéia de que um homem pode ser um ser transformável e moldável é uma idéia característica da modernidade, nesse sentido surge à nova concepção de infância, tornando-se o centro das atenções e preocupações. Diante disso surge o “conjunto de procedimentos e técnicas para controlar, corrigir, disciplinar e medir os indivíduos, tornando-os mais dóceis e úteis”, segundo Carlotto (2002).

Esse processo que vem ocorrendo por meio da “impregnação cultural”1 foi substituído pela “escolarização”2, que se desenvolve no século

XVI, onde as escolas já constituídas eram submetidas a igreja, onde a docência era realizada pelo Clero, que abrira as portas para as camadas sociais menos favorecidas, com o intuito de que o povo realizasse a leitura das sagradas escrituras. Surge então a necessidade de convocar mais pessoas para exercer a docência, mesmo que leigos no assunto, porém havia o juramento de fé e fidelidade aos princípios da Igreja, dando origem ao termo: professor.

1 . Grifos do autor

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12 No período da Revolução francesa a visão sacerdotal depositada em quem exerce o magistério se destaca por ser aquele que:

[...] se doava à causa de resistir ao avanço do liberalismo Era visto como uma figura estratégica, o guardião de uma ordem cujo sistema de referência era sagrado e cujas normas econômicas e sociais eram legitimadas pelas normas e valores religiosos. (CARLOTTO 2002, p. 22).

A partir desse ponto de vista, incorporou-se através dos tempos a concepção de que o professor apreende privilégios o tornando autônomo com alto nível de qualificação no campo do trabalho intelectual em detrimento do trabalho no campo manual, segundo Moura (1997) apud Carlotto 2002.

De acordo com Enguita (1989) o ensino pautado na religião para o doutrinamento de ideologias e voltou-se para disciplina material voltada para indústria. Podemos dizer que o ensino paulatinamente foi deixando suas características ideológicas e foi se delineando com características práticas a produção fabril. A estrutura precária das escolas e do processo educativo era um espelho da rudimentar organização da indústria do século XIX. A partir do momento em que a produção fabril submeteu-se a uma revisão baseado nos pressupostos do Taylorismo3, “cuja parte mais visível foram as idéias da gestão científica do trabalho” (Carlotto 2002, p. 22). As escolas logo buscaram se adequar as mudanças propostas pela nova ordem:

Dentre várias questões impostas pela nova organização do trabalho, algumas foram especificamente formuladas aos professores: 1) desenvolver métodos eficazes a serem seguidos pelos professores; 2) determinar, em função disso, qualificações necessárias para o exercício da atividade; 3) capacitá-los em consonância com as qualificações, ou colocar requisitos de acesso; 4) fornecer formação permanente que mantivesse o professor à altura de suas tarefas durante sua permanência na instituição; 5) dar-lhe instruções detalhadas sobre como realizar seu trabalho; e 6) controlar

3 . Taylorismo: Criado por Taylor cujo enfoque não estava restrito, à análise de tarefas, mas ao

desenvolvimento de uma sistematização de idéias que vai da organização da produção à organização do trabalho. (TENÓRIO 2011, p. 1149). Disponível em:

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13

permanentemente o fluxo do “produto parcialmente

desenvolvido”, isto é, o aluno (ENGUITA, 1989 apud

CARLOTTO 2002, p. 22).

Podemos notar que as mudanças propostas pelo Taylorismo tiram os privilégios e a autonomia que até então os professores tinham, todo o processo de educação passa a ser controlado pelo estado para que o resultado atinja seu objetivo, que é a educação profissionalizante voltada para a indústria crescente.

Nos últimos anos outras questões foram surgindo e se incorporando a organização do trabalho docente. De acordo com Esteve (1999) apud Carlotto (2002) as responsabilidades e exigências sobre os professores vêm aumentando de forma significativa “coincidindo uma rápida transformação do contexto social, o qual tem sido traduzido em uma modificação do papel do professor”.

Podemos notar no decorrer do século XXI que a ciência, a tecnologia e a comunicação desenvolveram-se de forma vertiginosa, enquanto ocorre o oposto com a classe trabalhadora, agravando cada vez mais seu empobrecimento e consequentemente levando a diversos problemas sociais, fazendo com que esta seja cada vez mais explorada. Na esteira do que diz Marx e Engels, Alves afirma:

Marx e Engels (2007, p. 32-34) explicam que o primeiro ato histórico da existência humana é a produção dos meios que possibilitam a satisfação das necessidades básicas da vida material, como comer, beber, vestir-se, e a produção da própria vida, que tem de ser cumprida diariamente, até hoje, para manter homens e mulheres vivos. Satisfeitas essas necessidades, as ações seguem no intuito de realizar novas necessidades, ao tempo em que homens e mulheres se relacionam mutuamente, procriando, formando famílias, constituindo-se na gênese da primeira relação social. (ALVES, 2010, p. 26)

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14 visava apenas o acúmulo de riquezas. Nessa sociabilidade, sabemos que o acúmulo de riqueza não é distribuído para o bem comum de todos, mas que fica retida sob o poder de poucos que a cada dia ficam mais ricos, enquanto a classe trabalhadora continua vendo-se explorada e sem poder aquisitivo para bens de consumo vitais para seu uso diário e sobrevivência:

[...] o capital, como um sistema orgânico global, garante sua dominação, nos últimos três séculos, como produção generalizada de mercadorias. Através da redução e

degradação dos seres humanos ao status de meros ‘custos de

produção’ como ‘força de trabalho necessária’, o capital pode

tratar o trabalho vivo homogêneo como nada mais do que uma

‘mercadoria comercializável’, da mesma forma que qualquer

outra, sujeitando-a às determinações desumanizadoras da compulsão econômica. (MÉSZÁROS, 1998, p. 02)

Tendo a posse do controle do conjunto de transformações sociais, o capital teve a oportunidade de surgir e prevalecer sobre os que lhe antecederam historicamente sem se preocupar com as necessidades e limitações humanas, ligadas ao valor de uso, ou seja, saiu atropelando o que houvesse pela frente e pudesse atrapalhar seu objetivo, que é a busca insaciável pelo valor de troca sempre expansível, como afirma Mészáros:

O capital, como um sistema de controle do metabolismo social pôde emergir e triunfar sobre seus antecedentes históricos abandonando todas as considerações às necessidades

humanas como ligadas às limitações dos ‘valores de uso’ não

quantificáveis, sobrepondo a estes últimos — como o pré-requisito absoluto de sua legitimação para tornarem-se objetivos de produção aceitáveis — o imperativo fetichizado do

‘valor de troca’ quantificável e sempre expansível.

(MÉSZÁROS, 1998, p. 02)

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15 modelo pré-capitalista e o pós-capitalista soviético, com suas formas basicamente políticas de controlar a extração de sobre trabalho. Sendo assim podemos entender que o capitalismo burguês, apesar de ter como objetivo o acúmulo de bens precisou adotar o modo econômico, pois é o modo mais dinâmico de alcançar seus objetivos, que é a expansão de um sistema bem-sucedido na aquisição de bens de consumo.

Ressalta-se inicialmente que, o fenômeno percebido como crise estrutural do capital contém três dimensões: “produção, consumo e

circulação/distribuição/realização” (MÉSZÁROS, 2002, P.728 apud PIMENTEL

2010, p. 305). Segundo o autor, “a novidade histórica da crise atual, abrange todas as esferas do sistema; um alcance global, atingindo todos os países; uma escala de tempo extensa, contínua, e um ‘modo rastejante de se desdobrar’”. Diante desse cenário é possível perceber as expressões de uma crise estrutural que abrange tanto suas dimensões internas quanto nas instituições políticas. De acordo com Pimentel (2010) a instabilidade das condições socioeconômicas atuais que se apresenta, requer a necessidade de novas ‘garantias políticas’ bem mais poderosas, que o Estado não pode proporcionar em conformidade com que afirma Mészáros:

O desaparecimento ignominioso do Estado de bem-estar social expressa claramente a aceitação do fato de que a crise estrutural de todas as instituições políticas já vem fermentando

sob a crosta da ‘política de consenso’ há bem mais de duas

décadas. (MÉSZÁROS, 2002, p. 800 Apud PIMENTEL, 2010)

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16 sofre as imposições da sociedade, na qual está inserida” (PAIVA, 2016, p. 38). Sendo assim a educação institucionalizada, promovida e regulada pelo estado, vem se adequando ao longo das sociedades de classes, especialmente com o surgimento do capitalismo no qual passou a assumir o papel de redentora dos problemas sociais e das oscilações da economia.

De acordo com Alves (2010) uma sociedade dividida em classes tem suas relações sociais de produção compostas por relações entre os agentes da produção, o objeto e os meios de trabalho. Essas relações envolvem os detentores do poder econômico com os que não têm, ou seja, quem tem o poder econômico explora os meios de produção e o domínio do processo de trabalho executado pela classe trabalhadora. Tal realidade atinge também, de forma mediada, a categoria dos trabalhadores docentes:

Os docentes, por sua vez, são destituídos dos meios de produção fora da atividade, possuem apenas a força de trabalho para ser vendida no mercado, têm o processo de trabalho normatizado pelo Estado e participam de associações e sindicatos semelhantes ao conjunto dos trabalhadores. (ALVES, 2010, p. 28)

Diante da realidade vivida pelos docentes a forma de sobreviver é sua inserção nas associações e sindicatos, onde encontram apoio para fortalecer a classe e ir em busca de assegurar seus direitos perante o estado, que por sua vez é o responsável por normatizar seu trabalho:

Na condição de assalariados, os professores são submetidos a um processo de desvalorização profissional, à medida que a profissão vem sendo desvalorizada pelos baixos salários e pela perda de prestígio e status. Em face disso, no final dos anos 1970, nascem os sindicatos com o objetivo de defender as condições sociais e de trabalho dos professores nos mesmos moldes que as entidades sindicais de trabalhadores (HYPOLITO, 1997; FERREIRA Jr e BITTAR, 2006 Apud

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17 Dessa forma, a classe docente diminui o controle sobre seu próprio trabalho, assemelhando se ao conjunto de trabalhadores fabris, sujeitando-se à constante ameaça de desqualificação e precarização de seu trabalho a cada dia que passa:

Uma reforma que tem como objetivo central diminuir o controle que os professores têm sobre o seu trabalho, tornando-os proletários e desintelectualizados, demonstra que esses profissionais estão sujeitos à constante ameaça de desqualificação e precarização. Parece-nos, assim, que o

trabalhador da educação ‘carrega as marcas da condição

proletária. (BRAVERMAN, 1980, p.344 apud ALVES 2010, p.

26).

Os debates a respeito das semelhanças entre o trabalho de um professor e de um proletário não são novos, podemos perceber que vários autores vêm estudando e debatendo sobre o assunto:

Vários autores (APPLE e TEITELBAUN, 1991; PUCCI et al., 1991; OZGA e LAWN, 1991; JÁEN, 1991; ENGUITA, 1991; COSTA,1995; FERREIRA, 2006; LÜDKE e BOING, 2007) já se debruçaram sobre as semelhanças entre o trabalho de um professor, de um profissional e de um proletário. Há um vasto e polêmico debate acerca deste assunto. As principais dúvidas que emergem a respeito desse tema, para nós, referem-se à compreensão do que é ser proletário e às razões que levam o professor a ser assim rotulado.” (ALVES, 2010, p. 26).

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18 financeiramente através do seu salário precário oriundo de sua força de trabalho.

Segundo Alves (2010), até os anos 1920 os professores eram considerados, professor artesão (SÁ, 1986), autodidatas ou mesmo mestre de ofício de acordo com (ARROYO, 1985 apud HYPOLITO, 1997) que exerciam a arte de passar o conhecimento, ou seja, possuía todo um status, sem as características inerentes a um profissional contratado e regulamentado pelo estado. A partir do momento que os professores passaram a ser funcionários do governo, na condição de assalariados, foram acometidos pela desvalorização e os baixos salários:

Na condição de assalariados, os professores são submetidos a um processo de desvalorização profissional, à medida que a profissão vem sendo desvalorizada pelos baixos salários e pela perda de prestígio e status. Em face disso, no final dos anos 1970, nascem os sindicatos com o objetivo de defender as condições sociais e de trabalho dos professores nos mesmos moldes que as entidades sindicais de trabalhadores (HYPOLITO, 1997; FERREIRA Jr e BITTAR, 2006).” (ALVES

2010, p. 30)

Sabemos que as atividades realizadas por um professor, aqui tratando especificamente dos profissionais que lecionam nas escolas públicas, é diferente das atividades realizadas em uma linha de produção ou no setor de serviços, o que gostaríamos de salientar é que sofrem as mesmas pressões. De acordo com Alves (2010) os professores são impedidos realizar seu planejamento de aula, testes e a elaboração de métodos, pois essas atividades foram delegadas às secretarias de educação, direção de escolas e assembléias estaduais. “Em vez de professores profissionais que se importam muito com o que fazem e por que o fazem, podemos ter executores alienados de planos alheios”. (ALVES, 2010, p. 30)

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19 com baixos salários e aumento da carga horária de trabalho, muitas vezes sem tempo para atualizar seus conhecimentos e aperfeiçoar seus estudos, para que possa oferecer um ensino de qualidade.

Essa realidade desmotiva o profissional da educação de forma significativa, tornando seu trabalho precário, quando sabemos que um profissional que tem seu trabalho reconhecido, valorizado, se sente motivado a aperfeiçoar cada vez mais seus conhecimentos para passá-lo adiante da melhor forma possível, atingindo assim o objetivo formar sujeitos sociais atuantes, pensantes, críticos e ávidos na busca de mais conhecimentos.

3 - A precarização, sofrimento e adoecimento do professor

Em 1929 Freud falava a respeito do “mal estar” na civilização, mal

estar este, causado pela chegada da modernidade e suas promessas de felicidade que, não foram cumpridas, além de denunciar como a racionalização do mundo pela ciência e a descrença dos deuses produziram nos sujeitos, um desamparo originário e inevitável, de acordo com (BIRMAN, 2007 APUD FLEURY & MACÊDO p. 218, 2012). Segundo (GARCIA & COUTINHO, 2004, p. 126) Antes da revolução industrial capitalista o mal estar estaria relacionado

principalmente à repressão dos impulsos sexuais. “Na modernidade o mal estar

está associado às condições objetivas de vida do sujeito e como elas são influenciadas pelas questões sócio-políticas e econômicas e aos impactos destas, no mundo do trabalho e consequentemente na vida os sujeitos” (FLEURY & MACÊDO, 2012 p. 218).

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20 banalizadas, tornando as situações de trabalho precárias e podendo ser utilizadas a favor de uma pequena parcela de investidores - que se utilizam das situações precárias provocadas por eles mesmos - a favor de uma competição de mercado.

O panorama pós-moderno dissolveu valores e família para atender as demandas deste mercado, ou seja, o objetivo da nova configuração social é a fragmentação da subjetividade. (FLEURY & MACÊDO 2012, p. 219)

O ingresso de inovações tecnológicas no processo de produção e a idéia de globalização, competências e flexibilização no Brasil no final do século XX trouxe consigo um processo de precarização, desemprego e terceirização da mão de obra. Como afirma Alves (2010):

Causaram impactos no mundo do trabalho o ingresso de inovações tecnológicas e organizacionais no processo produtivo, final do século XX no Brasil, e a introdução de conceitos como globalização, flexibilização e competências. O reflexo dessas mudanças produziu um processo de precarização estrutural do trabalho, com aumento do desemprego, aumento do trabalho temporário e a instabilidade, parcialidade e terceirização do trabalho. (ALVES 2010, p. 25)

A generalização do processo de precarização estrutural do trabalho levou a desqualificação do trabalhador, intensificou o ritmo e a jornada de trabalho, como desculpa para se usufruir da capacidade intelectual e manual do trabalhador em prol da maior valorização do capital. De acordo com Alves (2010), a precarização envolve também a educação:

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21 Como afirma Sousa apud Fleury & Macêdo (2012), este cenário culmina em uma sociedade vítima de um mal estar diante da civilização contemporânea, levando o indivíduo a vivenciar esta condição existencial do homem moderno. As consternações causadas pela forma com que a sociedade é administrada acrescem o sofrimento, atingindo várias áreas da sociedade, inclusive a educação superior nas ultimas décadas:

O mal estar na civilização contemporânea é condição existencial do homem moderno. A ansiedade e a angústia gerada pela forma como a sociedade é administrada aumentam o sofrimento. (SOUZA 2007 apud FLEURY &

MACÊDO, p. 220).

A universidade representa para nós um espaço excepcional de construção e expressão de sujeitos, absorto em suas práticas acadêmicas, competindo entre si pelo crescimento intelectual, por melhores colocações no mercado de trabalho e posicionando o investimento pessoal no motivo central do seu trabalho. (MANCEBO & ROCHA, 2002 apud FLEURY & MACÊDO 2012, p. 220).

Estas características inerentes a universidade não encontra espaço na comunidade capitalista e tende a se adequar aos parâmetros impostos pela mesma, passando a configurar se como uma instituição fundamentada por idéias mercantis de acordo com Fleury & Macêdo (2012):

Neste cenário a educação e a universidade tornam-se reprodutoras do capital, não privilegiando a construção e a expressão de indivíduos autônomos, mas sim sujeitos pressionados para garantir seu espaço a partir da produção daquilo que pode ser quantificado e que atenda a lógica produtivista, instrumentando-se e afastando a si e aos outros do desenvolvimento de um pensamento autônomo capaz de privilegiar a ação comunicacional e a promover a emancipação do sujeito, apropriando-se de sua história.

(FLEURY & MACÊDO, 2012, p. 221)

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22 emancipadora, formadora de sujeitos críticos e capazes de elaborar novas formas de viver e conviver, portanto podendo oferecer apenas uma proposta limitada de uma organização social para aqueles que buscam na mesma solução para seus questionamentos a respeito de identidade e consciência de si, que seria promovida pela universidade.

As principais causas que levam ao sofrimento e adoecimento do professor exercendo sua profissão estão ligadas ao ambiente de trabalho, a aulas numerosas, trabalho burocrático, a desvalorização da profissão e principalmente a falta de reconhecimento. “Para Esteve (1994, p.24) o mal estar docente descreve ‘os efeitos permanentes de caráter negativo que afetam a personalidade do professor como resultado das condições psicológicas e sociais em que se exerce a docência’”. (ESTEVE, 1994, P. 24 apud FLEURY & MACÊDO, 2012, p. 222).

O termo mal estar docente está vinculado ao estresse contínuo causado pela insatisfação no ambiente de trabalho e a falta de reconhecimento que culmina na apatia diante do trabalho, na falta de interesse em buscar aperfeiçoamento em sua profissão, pois se depara com um ambiente que não reconhece seu esforço e dedicação para com sua profissão:

O tema mal estar na docência está relacionado aos momentos históricos, políticos e as vivências das pessoas enquanto docentes, representando as dificuldades encontradas nas escolas e no desenvolvimento e atuação da profissão. (STOBAUS, MOSQUERA & SANTOS, 2007 apud FLEURY &

MACÊDO, 2012, p. 221)

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23 3.1. A Síndrome de burnout: a expressão do sofrimento do professor

A síndrome de burnoutem tradução livre significa “fritou”, conhecida também como síndrome do esgotamento profissional, em que os professores são vítimas em potencial, pois a cada dia lhes é exigido pelo mercado de trabalho mais qualificação, mais dedicação e principalmente que esteja conectado as novas tecnologias e suas inovações, pois com o advento da modernidade é preciso fazer uso das tecnologias para planejamentos de aulas e principalmente oferecer aos alunos mais uma ferramenta para pesquisas de conhecimentos “online”.

O termo “burnout” significa em português que a pessoa está

“queimando por completo” segundo a revista Nova Cosmopolitan (2016), esse

(24)

24 exercícios físicos, estar com a família e fazer passeios, enfim deixa de lado até mesmo o que é primordial para a saúde física e mental.

O meio social em que estamos inseridos contribui muito para esse “mal estar”, de forma que os indivíduos não se sentem plenos e realizados, seja na vida pessoal, ou profissional, uma vez que, uma influencia a outra de forma significativa. Essa busca pela auto-realizarão exige cada vez mais dedicação por parte do indivíduo na busca de encaixar-se dentro dos parâmetros exigidos pela sociedade em que o mesmo se encontra:

[…] fica evidente que, tanto na natureza do trabalho do professor como no contexto em que exerce suas funções, existem diversos estressores que, se persistentes, podem levar à síndrome de burnout. Essa síndrome é considerada por

Harrison como um tipo de estresse de caráter duradouro vinculado às situações de trabalho, sendo resultante da constante e repetitiva pressão emocional associada ao intenso envolvimento com pessoas por longos períodos de tempo. (HARRISON apud CARLOTTO & PALAZZO, 2006, p. 1018)

A persistência do estresse causado por essa busca pode desencadear a Síndrome de burnout, que é classificada por Harison apud Carlotto & Palazzo (2006) como uma situação de estresse duradouro proveniente de situações de trabalho e associado a um envolvimento intenso com pessoas e por longo período. Souza (2007) acrescenta ainda que, a ansiedade e a angústia gerada pela forma com que a sociedade é administrada aumentam o sofrimento dos docentes.

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25 semelhanças em comum, segundo os autores. As semelhanças são as seguintes:

1) existe a predominância de sintomas relacionados a exaustão mental e emocional, fadiga e depressão; 2) a ênfase nos sintomas comportamentais e mentais e não nos sintomas físicos; 3) os sintomas do burnout são relacionados ao

trabalho; 4) os sintomas manifestam-se em pessoas ‘normais’ que não sofriam de distúrbios psicopatológicos antes do surgimento da síndrome; 5) a diminuição da efetividade e desempenho no trabalho ocorre por causa de atitudes e comportamentos negativos. (CARLOTTO 2002, p. 23 e 24)

Uma das características inerentes aos indivíduos da modernidade é o desejo de serem os melhores no que fazem, medindo sua auto-estima de acordo com o desempenho com o qual conseguem realizar seus objetivos, uma vez, não realizado esse desempenho a frustração tem proporções muito intensas, levando ao mal estar diante da profissão, ocasionando problemas psicológicos, desgaste físico, causando fadiga e exaustão, levando os profissionais da educação ao afastamento de suas atividades por longos períodos. Esse afastamento é o momento, em que o professor precisa para buscar seu “Eu”, e um significado para sua vida pessoal e profissional que ficou perdido em algum momento da caminhada em busca da perfeição em sua profissão.

Diante dessa realidade tivemos a oportunidade de acompanhar de perto as diversas fases em que os docentes vivem até chegar a culminância das doenças que os acometem na vida profissional. A partir dos relatos ouvidos foi possível observar, que ao exercer o magistério, alguns professores se deparam com dificuldades, no que diz respeito a: aulas e turmas numerosas, carga horária longa, serviços burocráticos, falta de reconhecimento e principalmente, longos períodos convivendo intensamente com pessoas.

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26 exigida pelo mercado e, que, o mesmo é capacitado para exercer. O mal estar é o início do que pode levar ao estresse, exaustão mental e emocional, fadiga e depressão, configurando a síndrome de Burnout, esta síndrome está relacionada ao trabalho.

A princípio Marx se refere ao “trabalho”¹ a partir da Economia política moderna e separa o trabalho em duas categorias “trabalho geral abstrato”² e o “trabalho produtor de valores de uso”². A primeira categoria possui valor de troca e a segunda categoria faz uso de matérias naturais na realização de atividades úteis. Essa troca da natureza subjetiva humana com a natureza objetiva sob a mediação do processo de trabalho faz com que o homem se efetive como ser humano na esfera econômica.

Segundo Oliveira 2007 na esteira da teoria de Marx, o trabalho é o mediador da liberdade humana, através dele se exterioriza nas coisas, nessa ação o homem se conquista e se liberta da opressão:

O trabalho emerge, nesse sentido, como mediador da liberdade, pois através dele o homem se exterioriza nas coisas, como também por ele o homem se conquista, ou seja, a sua ação sobre a natureza liberta-o de seu jugo. (OLIVEIRA 2007, P. 95).

Se formos comparar o homem com um animal constataremos que o animal é a própria atividade vital e o homem transforma sua atividade vital em objeto da sua vontade, por ser possuidor de consciência. Essa relação é invertida quando o homem se submete a trabalhos alienantes, fazendo homem utilizar sua atividade vital em um meio para sua existência imediata, o levando a agir sem pensar, pois não lhe foi dado tempo para pensar antes de agir. Nesse momento que o homem faz uso de sua força física em detrimento de sua verdadeira essência, que é de um ser que pensa antes de agir, por esse motivo chama-se esse ato de trabalho alienado.

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27 O modo que o homem manipula e modifica os recursos naturais usando a energia que seu corpo modifica sua própria natureza e faz desabrochar suas potencialidades inertes e inerentes a condição humana. Segundo Oliveira (2007) Marx considera três elementos formadores do processo de trabalho: a atividade; a matéria e os meios de trabalho. A atividade consiste no processo de trabalho, onde o homem transforma o objeto em um produto final; a matéria são os recursos naturais existentes independentes da ação humana, configura-se no objeto de trabalho que, chamamos de matéria prima e por fim o meio de trabalho é a realização da atividade humana sobre a matéria-prima, fazendo uso de utensílios mecânicos, físicos e químicos de acordo com o raciocínio humano. O resultado final do processo é o objeto com valor de uso.

3.2. Relatos dos professores

Na metodologia foram ouvidos a opinião dos médicos peritos do setor de atendimento da perícia médica e os relatos dos professores em acompanhamento por problemas de saúde, depois disso realizamos uma entrevista com ambas as partes, com perguntas pertinentes para analisar posteriormente as informações reunidas no início da pesquisa. No período de cinco anos – Junho 2011 à Junho de 2016 - coletamos relatos desses professores, de forma aberta, apenas com observações e anotações em um diário de campo. Desses relatos coletados foram selecionados seis casos por conter as características que mais se repetem nos relatos ouvidos ao longo da pesquisa.

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28 e cada dia que passa fica mais difícil proporcionar uma aula com qualidade, pois, os alunos não colaboram. A professora afirma que, se sente angustiada por não conseguir lidar com a situação, mesmo mudando a forma de abordagem com os alunos não vê resultados. Isso lhe causa angustia e apatia diante da profissão. Por esses motivos procurou a ajuda médica/psiquiátrica e encontra-se afastada de suas atividades pra tratamento de saúde. Nas suas palavras: -“Quando comecei a ensinar, os alunos respeitavam o professor, hoje

só falta bater na gente!”

Professor 2: Aos 55 anos, o professor formado em pedagogia, atua na área desde os 20 anos, ou seja, 35 anos de profissão, conta que amava dar aulas, se sentia realizado em sala de aula, mas nos últimos dez anos, os alunos vêm ficando cada dia menos tratáveis, dispersos, não respeitam o professor, chegam até a ameaçá-los, se colocar falta ou notas baixas. O professor relata que, se sente forçado a aprovar alunos sem condições de serem aprovados em prol de sua segurança. Por esses motivos desenvolveu pânico da sala de aula. Há mais de um ano vem sendo acompanhado pelo psiquiatra e afastado de suas atividades para tratamento de saúde. – “Quando estava em sala de aula

me sentia realizado, hoje tenho pavor!”

Professor 3: Aos 29 anos, graduada em pedagogia, atua na área desde os 25, ou seja, 4 anos de profissão, expõe que durante o curso de graduação estagiou pouco tempo na rede particular de ensino, logo em seguida passou a ensinar na rede pública, onde ela, entrou em estado de choque ao se deparar com uma sala de aula com turma numerosa e indisciplinada. Primeiro ela se sentiu desafiada a usar o melhor método para chamar a atenção da turma, mas se viu derrotada, se sentia uma profissional medíocre diante daquela situação, isso foi gerando angústia, apatia e tristeza, afinal tinha estudado tanto para exercer aquela profissão. Nesse momento decidiu buscar ajuda médica e encontra-se afastada para tratamento de saúde. A realidade da escola pública me assustou, estudei em escola pública, na minha época os alunos respeitavam o

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29 Professor 4: Aos 40 anos a professora é graduada em pedagogia. Atua na área há 15 anos. Por ter uma família numerosa e ser divorciada passou a trabalhar três turnos em uma escola perto de casa, para conseguir manter a família, até aí tudo estava indo bem. Com a mudança de governo houve uma relotação4 de professores e ela foi remanejada para ensinar cada turno em

uma escola diferente e longe de sua residência, com essa extensa carga horária e as mudanças, começou a sentir fadiga, exaustão, não estava mais tendo tempo de corrigir as provas e planejar aulas. Os sintomas do estresse, agressividade, raciocínio lento, palpitações, mãos trêmulas surgiram e a obrigaram a se afastar de suas atividades. “Tem dias que me sinto sem

forças e não consigo raciocinar direito porque não consegui dormir à noite”!

Professora 5: Aos 45 anos a professora é graduada em pedagogia, atua como professora desde os 18 anos. Conta que seu sonho, desde menina era ser professora. O início da carreira foi muito bom, pois se sentia realizada na sala de aula, tinha o respeito e o carinho dos alunos, mas com o passar dos anos as turmas foram ficando a cada ano que passa mais difíceis de lidar, prender a atenção dos alunos está cada dia mais difícil, tem dias que não consegue dar aula como o planejado, pois, os alunos não colaboram, ficam dispersos e não a tratam com respeito. Esses problemas diários foram lhe entristecendo e a fazendo pensar que, não é uma boa profissional, que está na profissão errada, não se sente confortável exercendo a profissão que tanto amava. Chegando ao ponto de sentir pânico só em pensar que teria de dar aula no dia seguinte. Passou a não dormir bem. Foi a um psiquiatra em busca de ajuda e foi diagnosticada com síndrome do pânico e encontra-se afastada da sala de aula para tratamento. Sente uma leve melhora, mas ainda não se sente preparada para voltar as suas funções. “Só de ouvir o barulho dos alunos dá vontade de

sair correndo, me dá tremedeira, suor nas mãos!”

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30 Professor 6: Aos 30 anos, o professor é graduado em matemática, atua como professor há 6 anos. Sempre se identificou com a docência, o ambiente escolar sempre lhe agradou bastante, mas há um ano aconteceu uma situação delicada na escola, um aluno seu não se saiu bem na prova pois o mesmo faltava bastante e era disperso em sala de aula. Ao receber uma nota baixa e ver que poderia ficar reprovado por nota e por faltas ameaçou o professor, afirmando que ia pedir ao pai dele que fosse dar um jeito no professor. O pai do aluno era “cabeça de gangue” no bairro e foi tomar satisfações com o professor e o ameaçou de morte, se o filho não fosse aprovado. No dias seguintes, o professor percebeu que o pai do aluno estava sempre no entorno da escola. Começou a se sentir coagido e isso ocasionou uma sensação de impotência, medo, revolta e falta de segurança que acabou comprometendo o rendimento profissional do mesmo. Começou a sentir desgosto da profissão, apatia, tristeza, insônia, introspecção e às vezes agressividade. Foi em busca de ajuda médica e encontra-se afastado das atividades há seis meses para tratamento psiquiátrico e psicológico. – “Me sinto mal só em passar perto da escola, mistura de impotência e raiva!”

3.3. Dados da entrevista semiestruturada com professores

Em 2016, após cuidadosa observação durante os últimos cinco anos, se fez necessário para a pesquisa realizar entrevista com professores da rede municipal de ensino que, estão afastados para tratamento de saúde por longos períodos. Nessa perspectiva, as entrevistas foram norteadas, por um roteiro aberto, composto por questões referentes à busca por acompanhamento médico; o que os leva ao adoecimento. A partir desse momento, passamos a apresentar os dados coletados na entrevista, as quais serão analisadas posteriormente.

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31 A primeira entrevistada encontra-se em acompanhamento médico psiquiátrico, professora com 56 anos graduada em Pedagogia, especialização em metodologia do ensino fundamental e médio, especialização em história em andamento. Iniciou a carreira docente aos 18 anos, com perspectivas iniciais de mudar o mundo, pois acreditava saber de tudo. – “Minha filha eu queria mudar o mundo!”. Atua hoje no segmento polivalente – onde o professor ensina todas as disciplinas. Dentre as dificuldades que enfrenta para exercer sua profissão estão; sala com muitos alunos, a falta de compromisso dos pais e desvalorização dos professores. Define seu ambiente de trabalho como agradável, apesar da falta de materiais, consegue conciliar suas atividades. Afirma que a vida pessoal reflete na vida profissional e vice versa, pois o que acarretou sua doença foi o adoecimento de sua mãe e seu pai simultaneamente. Não suportou o revés em sua rotina, que já era bem sobrecarregada, se sentia cansada, desconcentrada, apática, com insônia e agressividade. Buscou ajuda médica e encontra-se afastada para tratamento psiquiátrico. Se fosse escolher uma profissão hoje, não optaria por essa, por tudo que viveu e presenciou não trabalharia no momento com pessoas. No tocante a remuneração, considera que não é adequada de forma alguma. Aconselha a quem está entrando no mercado de trabalho agora: - “Corra e

procure outra profissão que, não seja professor”!

PROFESSOR B:

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32 ambiente colabora para o bom desempenho do seu trabalho, trata se de uma escola patrimonial grande, conta com uma diretora bem atuante, sala de informática, biblioteca, brinquedoteca e sala de jogos. Acredita que, a vida pessoal reflete na profissional e vice versa, pois nas palavras da entrevistada: -

Não somos seres isolados, somos coletivos! Se fosse escolher uma profissão hoje, optaria pela docência novamente sem duvida, apesar de considerar a remuneração inadequada a sua profissão, pois está abaixo do que o professor necessita. O conselho que daria para quem está iniciando nesta profissão é; -

“Ame muito o que faz e não permita que, a esperança morra!”.

3.4. Dados da entrevista semiestruturada com os médicos perítos

Bem como se fez necessária a entrevista com os professores sentimos a necessidade de ouvir os médicos perítos5, a cerca dos relatos

ouvidos pelos mesmos e suas impressões, a respeito dos afastamentos dos professores da rede municipal de Fortaleza para tratamento de saúde, as causas, a quantidade de tempo, quais doenças que mais acometem esses profissionais, se o afastamento prolongado se faz necessário e se uma redução de carga horária ou o aumento de salário melhoraria a qualidade de vida dos professores. Diante da necessidade de obtermos mais informações, a partir do ponto vista clínico, elaboramos um questionário aberto voltado para os médicos perítos para obtermos mais informações, a cerca dessa, problemática enfrentada pelos professores.

PERÍTA I:

A primeira entrevista foi realizada com uma médica de 31 anos de idade, atua como perito há um ano e meio e nesse período pôde perceber que as doenças que, culminam no afastamento dos professores por longos

5 . Médicos perítos: Médicos especializados na medicina do trabalho que avaliam atestados e

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33 períodos são; psiquiátricas e por problemas de voz. Das duas, a que mais se prolonga é o afastamento por motivos psiquiátricos. Considera que, o paciente busca o afastamento por problemas de voz, quando estão quase sem a mesma, por isso são inevitáveis os afastamentos, enquanto os afastamentos por problemas psiquiátricos poderiam ser reduzidas se, houvesse um ambiente de trabalho com melhores condições. Em seu ponto de vista, as doenças são decorrentes do ambiente de trabalho. Nem sempre, o período de afastamento solicitado pelo médico assistente – médico que acompanha o tratamento do paciente se faz necessário, por ser muito longo. Em sua avaliação, os casos que atendeu necessitavam de afastamento, porém alguns não tinham a necessidade de ser longos. A quantidade de professores afastados por doença ocasionadas no exercício da função é preocupante em seu ponto de vista, nas palavras da entrevistada: - “Não há professores dentro da sala de aula!”. Não acredita que, a redução de carga horária vá reduzir a demanda de afastamentos, porém acredita que melhores salários reduziriam essa demanda. Durante seus atendimentos houve alguns casos comoventes, dentre eles um paciente com tumor na cabeça inoperável. Diante dos casos que se apresentam, acredita que a vida pessoal se reflete na profissional e vice versa, pois nas palavras da médica perita: - “Você se depara com casos de pessoas

que têm vida pessoal e família problemática, agravando mais ainda o quadro

em que o paciente se encontra!”.

PERÍTA II:

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34 relatam que desejam readaptação6 que é concedida após alguns meses de

afastamento quando, o paciente não apresenta melhoras. Em parte, essas doenças são decorrentes do trabalho, pois as condições de trabalho, a falta de segurança e a falta de interesse dos alunos contribuem para o agravamento. Acredita que, o período solicitado pelo médico assistente é superior ao necessário, pois o mesmo possui um vínculo afetivo maior com o paciente e muitas vezes, solicitam um período de afastamento superior ao necessário. Em sua avaliação acredita que, há casos em que não há necessidade de afastamento. A quantidade de professores afastados por doenças ocasionadas no exercício da função preocupam bastante. “Quem ficará nas salas de aula?” Não acredita que, a redução de carga horária ou melhores salários reduzam a demanda em busca de afastamento, mas acredita que o maior problema seja a falta de segurança nas escolas, desinteresse dos alunos e estrutura precária. Um dos casos que a comoveu durante a perícia foi o da professora que vinha sendo ameaçada de morte por um aluno. Diante dos casos que, se apresentam acredita que a vida pessoal interfere na profissional e vice versa. Em suas palavras: - “Principalmente a vida pessoal na

profissional, pois, muitas vezes problemas pessoais levam a quadros de

tristeza que interferem na qualidade do trabalho!”.

3.5. Análise dos dados a partir dos relatos dos professores

Dos seis relatos descritos acima, dois são do sexo feminino, faixa etária de cinquenta anos, com tempo de trabalho em média de vinte e cinco anos de serviço. Dois do mesmo gênero com faixa etária de quarenta anos e mais ou menos quinze anos de serviço. Um professor e uma professora com faixa etária de mais ou menos trinta anos e tempo de serviço de seis e quatro anos, respectivamente relatam que, buscaram ajuda médica após sentir os seguintes sintomas: afonia; angústia, apatia, irritabilidade, tristeza, impotência, exaustão, insônia, estresse, agressividade e palpitações. Professor 1, 2 e 6 relatam a falta de segurança no ambiente escolar, dificultando assim, o seu

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35 desempenho e o dos alunos. Os professores 1, 2, 5 e 6 relatam sobre as turmas indisciplinadas e dispersas, o professor 6 relata uma situação gravíssima que viveu com um aluno, pois, foi ameaçado de morte se não o aprovasse. Todos os professores ouvidos relatam sobre o sentimento de impotência diante de turmas dispersas e indisciplinadas. O professor 4 fala da carga horária exaustiva, a qual, se obrigou a enfrentar para poder sustentar a família dignamente após o divórcio, como se não bastasse, com a mudança de governo houve uma relotação de professores em outras secretárias e as três escolas, nas quais, ela trabalha atualmente ficam bastante distantes de sua residência.

Em geral, a carga psíquica de trabalho aumenta quando a liberdade de organização do trabalho diminui, ou seja, é necessário que o trabalhador possa engajar-se na atividade negociando com esta as possibilidades de rearranjos das tarefas, tanto para dar conta do trabalho real quanto para satisfazer seus desejos e diminuir a carga psíquica do trabalho, a qual se não encontrar formas de alívio, poderá levar ao seu esgotamento físico e/ou mental. (FLEURY & MACÊDO, 2012, p. 225)

3.6. Análise dos dados a partir das entrevistas com professores

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36 sua inquietação, o salário está abaixo de sua expectativa. Nesta entrevista podemos perceber que o lado pessoal interfere no lado profissional, uma vez que os dois acontecem simultaneamente.

O combate em favor da dignidade da prática docente é tão parte dela mesma quanto dela faz parte o respeito que o professor deve ter à identidade do educando, à sua pessoa, a seu direito de ser. Um dos piores males que o poder público vem fazendo a nós, no Brasil, historicamente, desde que a sociedade brasileira foi criada, é o de fazer muitos de nós correr o risco de, a custo de tanto descaso pela educação pública, existencialmente cansados, cair no indiferentismo fatalistamente cínico que leva ao cruzamento dos braços. “Não

há o que fazer” é o discurso acomodado que não podemos

aceitar. (FREIRE, 1996, p. 34)

A professora “B” encontra-se afastada por problemas na voz, podemos perceber durante a entrevista seu amor e esperança pela profissão, mas relatou alguns pontos causadores da desmotivação na profissão e são eles: falta de reconhecimento e a desvalorização do magistério e remuneração inadequada a sua profissão. Deixa claro que, mesmo diante dos pontos causadores da desmotivação, ainda sim, escolheria a mesma profissão. Acredita que, a vida pessoal interfere na profissional, por sermos seres coletivos.

3.7. Análise dos dados a partir das entrevistas com médicos perítos

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37 duas peritas concordam. Das licenças concedidas, os casos que mais se prolongam são os afastamentos por motivos psiquiátricos. Ambas entrevistadas creditam que, as doenças são decorrentes do ambiente de trabalho e da insegurança relatada pelos pacientes. Afirmam e acreditam na necessidade de afastamento para tratamento de saúde, mas alguns casos poderiam ser por menos tempo. A quantidade de professores afastados as preocupa por não haver professores em sala de aula. Na opinião da perita I a redução de carga horária não reduziria a demanda por afastamentos, porém melhores salários reduziriam essa demanda. Na opinião da períta II a redução de carga horária e o aumento de salários não reduziriam número de afastamentos, pois acredita que os causadores dos problemas sejam; a insegurança no ambiente de trabalho, desinteresse dos alunos e estrutura precária. A afirmação de que a redução de carga horária não melhoraria a qualidade de vida, reduzindo assim os adoecimentos e consequentemente à busca pelo afastamento para tratamento de saúde nos leva a refletir a respeito do pensamento Marxista sobre o trabalho:

Todas essas conseqüências derivam do facto de que o trabalhador se relaciona ao produto do seu trabalho como a um objecto estranho. Com base neste pressuposto, é claro que quanto mais o trabalhador se esgota a si mesmo, tanto mais poderoso se torna o mundo dos objectos, que ele cria perante si, tanto mais pobre ele fica na sua vida interior, tanto menos pertence a si próprio. (MARX 1988. O Capital, v.I, p. 81 apud

OLIVEIRA 2007, p. 130)

Quando o trabalhador interpreta sua relação com o objeto de trabalho com estranheza, se colocando distante de tal, se afasta de si. Há uma relação paradoxal entre o homem e o mundo dos objetos produzidos por sua força de trabalho, quanto mais ele se esgota na criação do objeto, mais o objeto se torna poderoso diante de si, o tornando pobre em sua essência.

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38 mas em seis horas ele concluiu a meta. Mesmo assim, o trabalhador precisa cumprir a carga horária de oito horas e tudo que é produzido nessas duas horas excedentes vai para o bolso do patrão, se tornando um lucro excedente, mais capital para enriquecer os capitalistas. Esse trabalho excedente de duas horas não é pago, pois não é visto nem reconhecido, não se recebe a mais por isso, visto que o patrão está amparado pelo contrato de trabalho que é de oito horas por dia.

Quando as peritas 1 e 2 falam sobre a falta de professores em sala de aula estão se baseando na quantidade excessiva de professores que, precisaram ser readaptados depois de longos períodos de licença para tratamento de saúde. Para ressaltar vejam novamente suas falas a cerca do assunto:

Períta I. “Não há professores dentro da sala de aula!”.

Períta I. “Quem ficará nas salas de aula?”

No ponto de vista clínico percebemos á partir das respostas das perítas que a necessidade de se ter um professor em sala de aula, se mostra nesse momento como prioridade em detrimento de sua saúde física e mental. As características de uma sociedade capitalista, onde o trabalho é prioridade em detrimento da saúde para que se possa obter um valor aquisitivo para então se inserir na sociedade vigente que se constitui, nos mostra nesse momento:

A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social levou, na definição de toda realização humana, a uma evidente degradação do ser em ter. A fase presente da ocupação total da vida social, em busca da acumulação de resultados econômicos conduz a uma busca generalizada do <<ter>> de parecer, de forma que o ter perde seu efetivo prestígio imediato e sua função ultima. Assim, toda realidade individual se tornou social e diretamente dependente do poderio social obtido. Somente naquilo que ela não é, lhe é permitido aparecer. (DEBORD, 2003, p.18)

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39 fato, de que mesmo doente faz se necessário cumprir seu trabalho para manter o capital equilibrado e continuar com poder aquisitivo para manter-se inserido nos padrões sociais exigidos.

Dos casos comoventes com que a perita I se deparou, o que mais lhe tocou foi um caso de paciente com tumor na cabeça inoperável. O caso mais comovente atendido pela perita II foi o da professora que vinha sendo ameaçada de morte por um aluno. Percebemos que os percalços que acometem os professores, comovem as pessoas, pois, são muito forte quando relatados e saber que os profissionais da educação passam por todos esses obstáculos no ambiente de trabalho, que é onde deveria encontrar um ambiente, acolhedor e seguro para passar adiante com qualidade todo conhecimento adquirido em anos de estudos e pesquisas nos desmotiva a ponto de refletirmos sobre o fato de uma profissão tão necessária a sociedade ser tratada com tamanho descaso.

4 - Considerações finais

Presenciar os relatos dos professores que, encontravam-se solicitando licença do trabalho por problemas de saúde causados no ambiente de trabalho causou uma profunda reflexão por infinitas vezes, sobre a profissão, pois, ali foi presenciado o que poderia acontecer conosco ao exercer a profissão, para qual, se havia preparado durante longos anos e escolhido sem conhecer a totalidade de suas implicações.

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40 Passamos a observar melhor os relatos dos professores e a considerar fatores como: a idade; o gênero; o tempo de serviço; a carga horária o ambiente de trabalho e a remuneração. Os relatos em sua grande maioria tinham pontos em comum. De acordo com as observações, poucos são os casos em que os profissionais da educação que solicitam afastamento para acompanhar familiar ou por problemas pessoais. No primeiro ano de observação percebeu-se que a maioria das licenças era para professoras em início de carreira, com faixa etária entre 25 e 35 anos. Podia-se concluir nesse momento que não tinham se adaptado á profissão. Os problemas de saúde mais recorrentes eram os seguintes: depressão; síndrome do pânico e problemas na voz.

No segundo ano começaram a surgir os casos de professoras, quase em idade de se aposentarem e professores de todas as faixas etárias, com grande índice de afastamento por síndrome do pânico e depressão. Os relatos semelhantes traziam os argumentos seguintes: apatia, desânimo diante da profissão, pânico dos alunos e do ambiente escolar, violência causada pelos alunos ou pais dos mesmos, problemas de convivência com os colegas, tendências a irritabilidade, falta de concentração, insônia e afonia.

Nos deparamos com os percalços que acometem os professores. No entanto devemos levar em consideração, o ambiente familiar, o ambiente de trabalho e o contexto socioeconômico em que vivem e que trabalham.

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41 saberes e da sua profissão. Diante dessa problemática surgem então os sintomas recorrentes citados nos relatos e entrevistas dos professores e dos perítos, que são: afonia; angústia, apatia, irritabilidade, tristeza, impotência, exaustão, insônia, estresse, agressividade e palpitações.

Segundo Souza (2007 apud FLEURY & MACÊDO, P. 220) diante dessa realidade vivida pelos professores surge o mal estar comum a sociedade contemporânea, por ser uma condição existencial ao homem moderno. Quando o mal estar diante da realidade permanece e se agrava os leva a síndrome de Burnout, conhecida como síndrome do esgotamento profissional.

Os profissionais da educação são vítimas em potencial dessa síndrome, principalmente os professores, pois a cada dia que passa lhes é exigido pelo mercado de trabalho mais qualificação, mais dedicação e principalmente que esteja conectado as novas tecnologias e suas inovações.

As exigências propostas pelo capitalismo na contemporaneidade estão diretamente ligadas ao adoecimento dos trabalhadores especialmente a classe docente:

Os adoecimentos laborais expressam uma das formas prementes de precarização do trabalho nas condições do capitalismo global: a precarização do homem-que-trabalha (no sentido de homem como ser humano-genérico). (ALVES, 2013, p. 13)

A carga horária cada dia mais exaustiva, a busca pelo aperfeiçoamento das atividades a serem realizadas, o desejo de realizá-los perfeitamente em tempo hábil vem esgotando física e psicologicamente os trabalhadores, inclusive a classe docente:

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(43)

43 5 - Referencias:

Marxismo, Educação e luta de classes: pressupostos ontológicos e desdobramentos ídeo-políticos/Organização Suzana Jimenez, Jackline Rabelo, Maria das Dores Mendes Segundo - Fortaleza: EdUECE, 2010.

Oliveira, Jorge Luís de. Alienação, trabalho e emancipação humana em Marx. / Jorge Luís de Oliveira. - Fortaleza: Edições UFC, 2007.

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. 9. reimpr. Rio de Janeiro: Contraponto, 2007. 237p. ISBN 9788585910174 (broch.)

FREIRE, Paulo: Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa / Paulo Freire. – São Paulo: Paz e Terra, 1996. – (Coleção Leitura) http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=76623546002 Em 02/04/16 às 20:48 http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/36/art03_36.pdf Em 02/04/16 às 20:55

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Krentz, L. (1986). Magistério: vocação ou profissão? Educação em Revista, 3, 12-16. /// Costa, M. (1995). Trabalho docente e profissionalismo. Porto Alegre: Sulina.

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Referências

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