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A percepção do dependente químico em situação de reabilitação psicossocial sobre o processo de reinserção social

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ANILTO MIGUEL CORDEIRO

A PERCEPÇÃO DO DEPENDENTE QUÍMICO EM SITUAÇÃO DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL SOBRE O PROCESSO DE REINSERÇÃO

SOCIAL

Palhoça 2012

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ANILTO MIGUEL CORDEIRO

A PERCEPÇÃO DO DEPENDENTE QUÍMICO EM SITUAÇÃO DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL SOBRE O PROCESSO DE REINSERÇÃO

SOCIAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Orientação: Prof. Carolina Bartilotti, Drª.

Palhoça 2012

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, quero agradecer a minha esposa, Raquel Chagas da Silva, e minha filha, Graça Chagas Cordeiro, que sempre me incentivaram e me deram força.

Quero agradecer ao meu querido pai, Sebastião Cordeiro de Jesus (In Memoriam), e minha querida mãe, Araci Luiz Pereira Cordeiro (In Memoriam), Ao meu querido sobrinho, Deivd Michel Cordeiro (In Memoriam) pois tiveram que partir antes do final da minha caminhada. Valeu pai, valeu mãe, Valeu Michel.

A grande orintadora Carolina Bartilotti, que me orientou com todo o conhecimento, sempre com paciência e bom humor.

Agradeço à professora Gabriela Luiza Campos, que participou da qualificação do meu projeto de pesquisa e contribuiu muito para este trabalho. E ao professor Paulo Sandrini, que também colaborou muito. E à professora Alessandra Scherer, minha supervisora no Serviço de Psicologia (SP), pelas contribuições prestadas.

Agradeço a grande mestre de Psicodrama, Lilian Maciejescki, banca deste trabalho, pelas contribuições, uma professora que consegue passar seu conhecimento teórico como uma verdadeira Psicodramatista, vivenciando a própria aula como membro do grupo, e por representar muito para todos nós, foi escolhida por unanimidade como amiga da turma de formandos 2012-1, obrigado professora bona genteee.

Obrigada as minhas queridas colegas de orientação e de estágio, em especial ao meu grande amigo Jeferson Monteiro pelo companheirismo e amizade. E a todos os colegas da Academia, por todos momentos que passamos juntos durante estes cinco anos de estudo.

E também aos sujeitos de pesquisa que colaboraram com meu estudo, contando suas experiências pessoais. Obrigado a todos.

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RESUMO

O uso de substâncias psicoativas cresce de forma alarmante em todo o mundo e configura-se como um grave problema de saúde pública. Isso causa danos não só aos usuários, mas também aos seus familiares e à sociedade em geral. Quando o consumo de drogas passa a ser uma dependência, as consequências logo aparecem, sejam fisiológicas, sociais, ou emocionais, alteram a rotina do sujeito e de todos que fazem parte dessa relação. Existem diferentes tipos de tratamentos para a dependência química: farmacológicos ou terapêuticos, em ambos, a reinserção social é indispensável como parte do processo de tratamento. Por isso, o presente trabalho tem como objetivo compreender a percepção do dependente químico sobre o processo de reinserção social. Na expectativa de alcançar os objetivos foram entrevistados cinco sujeitos em situação de reabilitação na região da grande Florianópolis. A pesquisa foi realizada por meio de questionário semi-estruturado com questões relacionadas ao uso de substâncias psicoativas e reinserção social. O método deste trabalho classifica-se como pesquisa exploratória e qualitativa, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, e em seguida, organizaram-se os dados através de quadros. Sendo possível compreender que a percepção dos entrevistados, sobre o processo de reinserção social, é entendida como um processo de reconstrução social, em que a participação da família e de terceiros se torna indispensável. E também foi possível entender que existe uma grande mobilização no sentido de apoio por parte dos familiares no momento em que o sujeito decide se tratar, e que esta mobilização permanece durante todo o período de tratamento, estendendo-se durante o processo de reinserção social dos sujeitos.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Critérios do DSM-IV para diagnóstico de uso nocivo de substâncias...20 Quadro 2 – Critérios do DSM-IV para dependência de substâncias...20

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Categoria Dificuldades...26 Tabela 2 – Categoria Facilidades...32

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SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO……….8 1.1 INTRODUÇÃO...8 1.2 OBJETIVOS ………..12 1.2.1 Objetivo geral ………..…..12 1.2.2 Objetivos específicos ………...…..13 1.3 JUSTIFICATIVA ………..13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...………...………...15 2.1 DROGAS: CONCEITO………..15 2.2 A DEPENDÊNCIA QUÍMICA………...………...………18

2.3 AS IMPLICAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS DO DEPENDENTE QUÍMICO..………...21

2.4 O AUXÍLIO PSICOLÓGICO PRESTADO AO DEPENDENTE QUÍMICO DURANTE A SUA RECUPERAÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL..……...21

3 MÉTODO ………...……….24

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MÉTODO...………...24

3.2 TIPO DE PESQUISA...24

3.3 PARTICIPANTES...………...24

3.4 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS..…………..25

3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS...25

4 DAR UM TÍTULO A ESTA SEÇÃO...26

4.1 DIFICULDADES APONTADAS PELOS SUJEITOS DE PESQUISA...26

4.2 FACILIDADES APONTADAS PELOS SUJEITOS DE PESQUISA...31

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...35

REFERÊNCIAS ……….37

APÊNDICES...41

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA...………...………...41

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1 APRESENTAÇÃO

O presente trabalho objetiva apresentar uma pesquisa que teve como população o dependente químico em processo de tratamento e a questão levantada foi: “Qual a percepção do dependente químico sobre sua reinserção social?”.

Com o título: A percepção do dependente químico em situação de reabilitação

sobre o processo de reinserção social, o pesquisador elaborou um estudo com a pretensão de

identificar, de forma científica, o processo de reinserção social do dependente químico, buscando compreender as etapas desse processo, por meio de uma pesquisa direta em forma de questionário.

Para a elaboração deste trabalho, o acadêmico utilizou, como referência teórica, material científico sobre o tema abordado, além do conhecimento produzido junto às disciplinas do Curso de Psicologia.

Para chegar aos objetivos almejados, o estudo foi desenvolvido da seguinte forma: a problematização sobre o consumo, o tratamento e a reinserção social do dependente químico. Após a problematização, o trabalho apresentou relevância com trabalhos que abordam o consumo de substâncias psicoativas e reinserção social.

Em seguida, foram apresentados os objetivos geral e específicos, e após a exposição dos objetivos, foi apresentado o referencial teórico que pauta este trabalho, procurando trazer dados históricos sobre dependência química e reinserção social para uma melhor compreensão do leitor. Por fim, foi exposto o método a utilizado no trabalho para a coleta dos dados e sua interpretação.

1.1 INTRODUÇÃO

O fenômeno dependência química cresce de forma alarmante, por isso, chama atenção das autoridades devido aos problemas sociais que acarreta, causados tanto pelo consumo quanto pelo comércio dessas substâncias, entre outros fatores visíveis ou perceptíveis no nosso cotidiano.

De acordo com Beck (2007), a Organização Mundial de Saúde (OMS) define o consumo de drogas como um problema de saúde pública. A OMS considera que aproximadamente 10% da população, residente nos grandes centros urbanos, faz uso abusivo de drogas produzindo inúmeras implicações sociais, sejam políticas, econômicas ou psicológicas.

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No Brasil, as políticas públicas preocupam-se cada vez mais com o uso de álcool e drogas, através de programas de atenção básica, capacitação de profissionais de diversas áreas que de alguma forma estejam ligadas ao problema, e também por meio de cursos de formação em prevenção e tratamentos, entre outros. Isso pode ser considerado um avanço, pois o problema das drogas demorou a chamar atenção das autoridades brasileiras.

Nesse sentido, Pinho et al (2009) discorre que apesar dos percentuais, em relação às estratégias de atenção à problemática, uma lacuna importante na história da saúde pública brasileira foi se configurando: a questão das drogas foi deixada para outras instituições, como “justiça, segurança pública, pedagogia, da benemerência e das associações religiosas” (PINHO. et, al. p. 2).

Conforme o Ministério da Saúde (2007), foi a partir de 2002 que a saúde pública brasileira começou a se preocupar devidamente com este grave problema, até então a prevenção e o tratamento dos transtornos ligados ao consumo de álcool e outras drogas, eram atribuídos a um modelo de atenção de “caráter total, fechado, baseado em práticas,” de regime disciplinar, medicamentoso, de cunho religioso-moral, ou o isolamento social. (PINHO. ET, AL. p. 2).

Foi somente a partir de 2003 que o Ministério da Saúde formulou uma Política Nacional Específica para Álcool e Drogas, e esta assume o desafio tanto de prevenir, quanto o de tratar e reabilitar os usuários, de acordo com a Lei 10.216, de 2001, marco legal da reforma Psiquiátrica Brasileira. Os Centros de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas CAPSad, passam a ser considerados a estratégia principal, tanto para o tratamento, quanto para a redução de danos, e também assumindo o papel de ferramenta nas ações de promoção de saúde bem como na prevenção. Dispositivos estes que passaram a ser implantados, nas principais grandes regiões metropolitanas, como relevantes indicadores epidemiológicos. Em 2011 o Brasil contava com 271 CAPSad aproximadamente.

Estes Centros de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas tem como finalidade oferecer atendimento à população, em uma determinada área, oferecendo atividades preventivas e terapêuticas à comunidade.

Em 2006, foi sancionada a nova lei sobre alcool e drogas no Brasil, Lei 11.343 que institui o Sistema Nacional de Políticas públicas sobre drogas, (Sisnad); esta lei prescreve medidas para a prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas. E também estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, e definição de crimes, para este tipo de prática.

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É fato que a dependência química não é um problema só de saúde pública, visto a atribuição multidisciplinar apontada na Lei a cima, onde envolve vários setores numa só preocupação.

A utilização de drogas entre a sociedade não é um fato novo, ligado apenas nos problemas atuais da sociedade, este uso já vem de outros tempos como podemos observar na sequência.

Alguns autores discorrem sobre a história do uso de drogas pela humanidade, como é o caso dos autores referenciados a seguir, que apontam que consumo de substâncias psicoativas não é um fenômeno exclusivo da atualidade, este esteve presente em todas as culturas humanas, o uso de substâncias que alteram os estados de consciência (BUCHER, 1992). É importante destacar que na antiguidade as drogas eram utilizadas em rituais e cerimônias a fim de se obter diversão, prazer ou experiências místicas (BUCHER, 1986 apud SENAD, 2010).

Para Escohotado (1994, apud SENAD 2011), a utilização das drogas feitas nesta época relacionadas aos rituais, costumes, ou aos valores coletivos, não representava ameaça á sociedade, devido a não haver estudos científicos que pudessem comprovar os efeitos negativos desta utilização.

De acordo com Bucher (1992), as características do consumo modificaram-se consideravelmente nos últimos anos, passando de um uso cultural, restrito a ocasiões religiosas ou especiais a cada cultura, para um uso social desorganizado, que dependendo da situação, coloca a vida das pessoas em risco em diversos contextos, uma vez que grandes partes dos usuários se envolvem na contravenção, através de roubo, assalto, furto, tráfico de drogas, entre outros.

Diemen, Kessler, Pechansky (2004) discorrem ainda que nas últimas décadas, o aumento significativo de consumidores e dos tipos de drogas utilizadas tem-se refletido em uma maior demanda para o tratamento dos problemas relacionados ao abuso ou dependência de drogas. Por isso, cada vez mais, torna-se fundamental um conhecimento básico por parte dos profissionais, tanto psiquiatras como clínicos gerais ou plantonistas de serviços de emergência, sobre a abordagem dos usuários e seu tratamento, principalmente dos sintomas de intoxicação e abstinência.

Neste sentido Costa (2000) defende a idéia de que este fenômeno se dá devido a fatores sociais, como o crescimento da população e a desorganização das cidades, a falta de moradias, educação entre outros; fatores econômicos como o crescimento do desemprego, a falta de investimento na qualidade de vida da população. Entre tantos outros, e o crime

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organizado, que se vale da falta de políticas públicas adequadas para tomar conta da situação aliciando adolescentes para o tráfico e promovendo desordem no sistema de segurança social promovendo um caos vertiginoso com homicídios, roubos envolvendo o tráfico de drogas entre tantos outros fatores relacionados ao uso e comércio destas substâncias.

Em 2005 ocorreu no Brasil o Segundo Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas, organizado pelo Cebrid ( Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), este apontou que 12.3% entre as pessoas pesquisadas, com idade entre 12 e 65 anos, preencheram os critérios para a dependência do álcool, e que 75% já beberam pelo menos uma vez na vida (CARLINI et al., 2007). Conforme dados desta pesquisa, o uso de álcool na vida, entre as 108 maiores cidades do Brasil, foi de 74,6%, uma percentagem inferior a outros países como (Chile com 86,5% e Estados Unidos com 82,4%. Entre estas regiões, observou-se que a maioria dos dependentes de álcool são do sexo masculino. (CARLINI et al, 2007). E o uso de qualquer outra droga na vida (exceto tabaco e álcool) foi de 22,8%. Uma porcentagem próxima a do Chile que é de (23,4%) e quase a metade da porcentagem dos Estados Unidos que é de (45,8). (CARLINI et al, 2007). O uso de solventes foi de 6,1%, dado superior à levantada na Colômbia (1,4%) e da Espanha (4,0%). Por outro lado este uso na vida de solventes nos Estados Unidos foi de (9,5%). (CARLINI et al., 2007) O uso de maconha na vida, nas maiores cidades brasileiras, foi de 8,8%, um resultado próximo ao da Grécia (8,9%) e da Polônia (7,7%), mas, no entanto abaixo da prevalência dos Estados Unidos (40,2%) e do Reino Unido (30,8%). (CARLINI et al, 2007). O uso de cocaína na vida, nas 108 maiores cidades brasileiras foi de 2,9% uma prevalência próxima a da Alemanha (3,2%), bem inferior a dos Estados Unidos (14,2%) e do Chile (5,3%). (CARLINI et al, 2007). O uso de crak na vida nas 108 maiores cidades brasileiras foi de 1,5% uma prevalência próxima a duas vezes menor do que a constatada nos Estados Unidos. (CARLINI et al, 2007).

Os dados deste levantamento também indicaram que o consumo de álcool vem aumentando entre uma faixa etária cada vez mais precoce, e apontaram a necessidade de revisão das medidas de tratamento, controle e prevenção.

Dados do Ministério da Saúde (2001) apontam que cerca de 23% dos dependentes procuram tratamentos específicos para sua dependência, e que outros não procuram por falta de recursos financeiros, e que as classes menos favorecidas são as que mais sofrem neste processo devido à insuficiência dos serviços públicos na atenção da dependência de drogas e álcool.

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Segundo Costa (2000) a dependência química permeia praticamente todas as ações do contexto da assistência social, tanto no tratamento quanto na perspectiva de prevenção, e vai desde o trabalho com adolescentes, se estendendo até o trabalho com a terceira idade, e neste percurso passa por mulheres vitimizadas, moradores de comunidades carentes, assentamentos trabalhadores de empresas entre outros, deparando sempre com esta problemática de álcool e drogas, seja de forma direta ou indireta.

Conforme Duarte (2004) o processo de reinserção social deve ser compreendido a partir do desenvolvimento da noção de exclusão social, e aponta que a exclusão implica em uma dinâmica de privação por falta de acesso aos sistemas sociais básicos, como moradia, trabalho, família, saúde, dentre outros. O autor defende a idéia de que para que a reinserção social possa assumir um caráter de reconstrução das perdas ocorridas durante este período, este processo deve ter como objetivo capacitar o sujeito para o envolvimento ou resgate de uma rede social exclusa ou comprometida pelo uso de drogas e suas conseqüências.

Para Costa (2000) o processo de reinserção social torna-se um desafio para o dependente químico, devido a este ter que reconstruir um retorno ao meio sócio familiar, num reinício de relações, seja no âmbito da família, da escola ou do trabalho o que é imprescindível para o seu retorno à sociedade, ou ao não uso de drogas. Neste sentido depende de como essa reinserção é enfrentada ou assumida pela família e todos os envolvidos. Machado (2009) discorre que a ressocialização permeia com a idéia de humanização, objetivando-se num modelo onde seja proporcionado ao indivíduo meios e condições favoráveis à uma reintegração efetiva à sociedade, evitando ao mesmo tempo a reincidência.

De acordo com as afirmações de Costa (2000), a reinserção social pode ser considerada parte do processo de tratamento do dependente químico. Mas será que os usuários dependentes têm esta mesma percepção em relação a este processo? Como os usuários em recuperação percebem o processo de reinserção social? Seguindo esta lógica, este trabalho teve como pergunta de pesquisa: Qual a percepção do dependente químico em situação de reabilitação sobre o processo de reinserção social?

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Analisar a percepção do dependente químico em situação de reabilitação sobre o processo de reinserção social.

1.2.2 Objetivos específicos

- Identificar as possíveis dificuldades que o dependente químico em situação de recuperação possa enfrentar no processo de reinserção social.

- Identificar as possíveis facilidades que o dependente químico em situação de recuperação possa vivenciar no processo de reinserção social.

1.3 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho justificou-se pela importância que assumiu, ao pretender analisar a percepção do dependente químico sobre a reinserção na sociedade, buscando, por meio de uma pesquisa, levantar dados sobre o processo de reinserção social, com a proposta de pesquisar sobre este, não se atendo apenas a forma como ocorre este processo com o dependente químico, e sim pesquisar como esse processo é vivido ou percebido pelo próprio ator que está passando pelo mesmo. É saber qual a percepção dos sujeitos dependentes químicos, que estão em situação de reabilitação, sobre o processo de reinserção social, com a proposta de levantar as possíveis facilidades e dificuldades encontradas neste processo, seja no ambiente familiar, de trabalho ou no contexto social.

O pesquisador pretendeu fazer um levantamento, que além de trazer a compreensão sobre o fenômeno explicitado acima, mas que também pudesse contribuir na qualidade de vida do sujeito em recuperação.

Considerando que o sujeito nesta situação precisa restabelecer os laços sociais, e partindo do princípio de que o conhecimento sobre o processo de reinserção social do dependente químico em situação de recuperação pode contribuir de forma siguinificativa para os processos de intervenção, ou para a criação de políticas públicas capazes de facilitar a reinserção social destes indivíduos junto à sociedade, de acordo com as necessidades dos mesmos.

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Considerando que o dependente em recuperação precisa substituir seus hábitos de consumo por novos costumes que nem sempre estão ao seu alcance, ou no contexto social de sua vivência cotidiana, é válido ressaltar que o processo de reinserção social pode ser um passo importante, pois através deste apoio o sujeito pode sentir-se mais fortalecido evitando assim uma possível recaída, no sentido de que o mesmo tome um novo rumo na sua vida.

Nisto reside a importância de uma pesquisa que possibilitou colher informações do próprio usuário sobre sua reinserção social após a internação. Por isso, a pretensão deste trabalho ultrapassou a razão da relevância científica, envolvendo-se na relevância sócio/afetiva dos sujeitos, levando em consideração o ser humano que passa por este processo.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 DROGAS: CONCEITO

Neste tópico, serão apresentados alguns conceitos básicos sobre drogas definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A OMS define como drogas qualquer substância não produzida pelo organismo humano que tenha propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento (SENAD, 2011).

Considera-se drogas qualquer substância que, dependendo da dose utilizada, quando incorporada ao organismo, pode lhe causar danos. O estudo das drogas realizado pela Polícia de Prevenção e Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal e pelo Ministério da Justiça realizado em 2003, conceitua os tóxicos como “qualquer substância capaz de agir de maneira nociva, provocando alterações estruturais ou funcionais, ao ser introduzida no organismo” (FREITAS JR., 2006, p. 9). O referido autor cita como exemplos: “cigarros, bebidas alcoólicas, insumos químicos de alimentos, insumos químicos de agricultura, medicamentos livremente comercializados, etc.” (FREITAS JR., 2006, p. 9).

Qualquer substância natural ou sintética, que ao entrar em contato com um organismo vivo, pode modificar uma ou várias de suas funções; é uma substância química que tem ação biológica sobre as estruturas celulares do organismo, com fins terapêuticos ou não (JESUS, 2002, p. 22).

Os efeitos dos diferentes tipos de drogas são classificados em: depressoras, estimulantes e perturbadoras. O grupo das drogas consideradas depressoras inclui diversas substâncias psicoativas, entre elas: álcool, barbitúricos, benzodiazepínicos, opióides, solventes e inalantes (SENAD, 2011, p. 22).

Na classificação das drogas consideradas estimulantes, estão incluídas as anfetaminas e a cocaína (SENAD, 2011, p. 26). Entre as drogas consideradas perturbadoras, estão incluídas a maconha, os alucinógenos, os anticolinérgicos, o tabaco, os esteróides e os anabolizantes (SENAD, 2011, p.22).

De acordo com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, SENAD (2011), as substâncias consideradas psicoativas são várias, tais como, a maconha, o álcool, as anfetaminas e a cocaína. E são classificadas de acordo com o efeito específico de cada uma dessas no sistema nervoso; 1) as drogas depressoras, são aquelas que tornam o sistema nervoso central (SNC) mais lento, a exemplo das bebidas alcoólicas; 2) drogas consideradas

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estimulantes, são aquelas que provocam aceleramento nas funções do sistema nervoso central (SNC) e provocam insônia , excitação, agitação entre outros efeitos. Entre os estimulantes mais utilizados no Brasil estão à cocaína, nicotina, e anfetaminas, entre outras; 3) as drogas perturbadoras são aquelas que alteram o funcionamento cerebral, com alucinações, delírios, e alterações que podem alterar a noção de espaço e medidas e tempo. Entre estas estão a maconha, o ecstasy, e o LSD, que também são consideradas drogas alucinógenas e psicodélicas (SENAD, 2007).

Segundo Diemen, Kessler e Pechansky (2004), as drogas depressoras tendem a diminuir a atividade motora e a reatividade à dor e à ansiedade, sendo também comum um efeito euforizante inicial e posterior sonolência; enquanto as estimulantes produzem um aumento do estado de alerta, insônia e aceleração dos processos psíquicos; e as perturbadoras geram diversos fenômenos psíquicos anormais, como alterações senso-perceptivas (alucinações e ilusões) e delírios.

Neste sentido é possível compreender que a droga também está representada como entorpecentes ou psicotrópicos, substâncias que tenham sua ação sobre o sistema nervoso central, causando alterações conforme citação acima, o que diferencia esta linguagem talvez seja o contexto onde são citados, exepemplo, psicotrópicos são considerados os psicofármácos, que utilizados sem a administração médica, é considerado entorpecente. Mesquita Neto (2004) discorre que na linguagem policial é considerado entorpecente todo o material tóxico e ilícito que envolva a polícia e que caracterize crime dentro da legislação penal brasileira.

Para Damásio de Jesus (2002), são drogas psicotrópicas as que têm sua principal ação e efeito na atividade cerebral, modificando seu funcionamento, alterando a percepção, as sensações, as emoções, o pensamento e o comportamento. Freitas Jr. (2006, p. 9) aponta ainda a existência dos neurolépticos, ou seja, “psicotrópicos com capacidade de produzir ação sedativa sem efeito hipnótico, sendo eficazes em estados de excitação e de agitação, bem como em psicoses”.

Conforme a discussão levantada acima sobre os termos utilizados entre os diferentes contextos, Franco e Stocco (2001, p. 139), apontam que entorpecentes “constitui uma acepção farmacológica, ligada às substâncias do grupo dos hipno-analgésicos, dentre os quais se destacam o ópio, a codeína, a morfina, a heroína e outros”. Estes autores afirmam ainda que entorpecentes também podem ser defínidos como qualquer substância com ação analgésica e efeito psíquico tido como agradável pelo usuário. E estas Substâncias podem ser

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cultivadas, como o caso da folha da coca maconha e outros, ou sintetizadas como os psicofarmacos, e outros.

De acordo com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, (SENAD, 2011), as anfetaminas são substâncias produzidas em laboratórios (sintéticas) e constituem o grupo mais comum das drogas psicoestimulantes – substâncias que abrangem um grupo de drogas de diversas estruturas, e que têm em comum ações como aumento da atividade motora e redução da necessidade de sono, diminuindo a fadiga e induzindo à euforia. Segundo Freitas Jr. (2006, p. 10), “podem ser utilizadas por via oral ou de forma injetável, produzindo no agente loquacidade, excitação e ânimo, além da subtração do cansaço, mantendo o usuário acordado por um longo período”.

Freitas Jr (2006) explica que as anfetaminas atuam como estimulantes do sistema nervoso central, fazendo o cérebro trabalhar mais rápido, deixando o agente sem qualquer cansaço aparente. Tão logo ingeridas, causam euforia, bem estar e diminuição da fadiga física e mental, além da exaltação da memória e estado de alerta.

De acordo com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD 2011), Barbitúricos – são substâncias pertencentes à classe dos psicolépticos, ou seja, drogas que têm ação calmante ou relaxante sobre as funções psíquicas, ou seja, calmantes utilizados como sedativos para o tratamento de epilepsia, insônia, agitação, etc. Os sedativos produzem estado de embriaguez, descontrole motor, sonolência e relaxamento, prejudicando a deambulação, a capacidade de raciocínio, a concentração e a coordenação motora.

Quando ingerido de forma diversa da terapêutica, podem ocasionar complicações respiratórias, prostração nervosa, estado de coma, ou até mesmo a morte (caso ingerido com bebidas alcoólicas). Em face de seus graves efeitos colaterais, os barbitúricos são considerados mais perigosos que os narcóticos (FREITAS JR, 2006, p. 11-12).

Este autor cita como exemplos de barbitúricos o gardenal, fenorbabital, pentobarbital, amorbarbital e outros.

Definidos por Freitas Jr. (2006, p. 12) como: Delirantes “elementos químicos voláteis, estimulantes, que não possuem qualquer uso terapêutico. Em geral são inalados pelo agente, causando visão embaçada, fala confusa e confusão mental”, a exemplo dos solventes, colas e outos.

Alucinógenos – também conhecidos como drogas “psicodélicas”, apresentam a capacidade de produzir alucinações sem delírio. São drogas ou medicamentos que induzem distúrbios mentais e emocionais com alucinações e alteração da personalidade. Freitas Jr.

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(2006) esclarece que os alucinógenos mais agressivos – como a Dietilamida do Ácido Lisérgico (LSD) – possuem efeito psicótico de longa duração, podendo permanecer agindo sobre o organismo do agente por semanas após a utilização da última dose, além de causar lesões cerebrais irreversíveis.

Opiáceos – são depressivos injetáveis que causam sonolência, náuseas e dificuldade de respiração, e o uso não terapêutico pode levar à morte. Podem ser citados como exemplos a heroína, a morfina, a metadona, a codeína e o ópio (FREITAS Jr. 2006, p. 12).

Do exposto, conclui-se que droga é qualquer substância exógena que interfira em um ou mais sistemas do organismo. Diemen, Kessler e Pechansky (2004) apresentam as seguintes definições: “Droga psicotrópica ou substância psicoativa são as drogas que atuam no funcionamento cerebral, provocando alterações psíquicas e comportamentais” (p. 917). A palavra droga é geralmente utilizada como sinônimo de substância psicoativa.

Nos últimos parágrafos foi possível identificar as classificações sobre as drogas, e as definições de acordo com cada autor, percebe-se que todos colocam a mesma definição em diferentes palavras, ou seja, todos os exemplos partem de uma classificação universal.

Segundo Caldeira (1999), substâncias que são denominadas psicoativas ou psicotrópicos, são aquelas que têm o poder de alterar o Sistema Nervoso Central (SNC), do sujeito que faz o uso da mesma. E as formas de absorção pelo organismo pode se dar por diferentes vias podendo ser, de forma oral, inalação, ou endovenosa promovendo alterações do senso perceptivo, e no estado de consciência do usuário. Dentre diversos sistemas de classificação dos tipos de substâncias psicoativas propostos na literatura, considera-se de maior utilidade clínica aquele que as divide pelos seus efeitos mais proeminentes no sistema nervoso central (SNC): depressoras, estimulantes e perturbadoras.

De acordo com o Observatório Brasileiro sobre Drogas (OBID, 2007), não são todas as substâncias psicoativas que têm a capacidade de gerar dependência. Muitas dessas substâncias, as anfetamínicas, por exemplo, (fenproporex, manzidol, dietilpropiona entre outras) tem como mecanismo de ação prolongar o tempo de ação e aumentar a liberação de neurotransmissores utilizados pelo cérebro, a dopamina e a noradrenalina (SENAD, 2011). E são utilizados com fins medicinais no tratamento de alguns tipos de doenças com a proposta de produzir efeitos benéficos sendo considerados medicamentos (OBID, 2007).

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2.2 A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

A dependência química, se apresenta como o transtorno psiquiátrico mais freqüente da atualidade representando um grave problema de saúde pública, sendo que há uma grande preocupação dos profissionais de saúde com relação a eficácia dos tratamentos oferecidos (ANDREATA & OLIVEIRA, 2005; GIGLIOTTI & BESSA, 2004; LIMA, PALIARIN, ZALESKI, & ARANTES, 2008; WICLKEZER ET AL, 1994). Segundo o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV-TR), a dependência de substâncias psicoativas, pode ser compreendida como a presença de um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e físicos indicativos de que o indivíduo continua utilizando uma substância, apesar dos problemas significativos a ela relacionados (APA, 2002).

Alguns fatores contribuem de forma significativa para as mudanças dos tipos de drogas consumidas entre os sujeitos, e estes podem ser de ordem econômica, social ou cultural. De acordo com Pratta (2009) os tipos de drogas se modificam conforme as mudanças culturais assim como, os padrões de consumo, a freqüência da utilização as variedades de drogas utilizadas mudam de acordo com o contexto conforme as condições sócio-culturais do momento. E de acordo com Pratta (2009) o que diferencia o uso de drogas do passado para o atual, é que no passado a droga era um elemento integrativo, ou um fator coesivo socializante e emocionante e na atualidade passou a se constituir um fator socialmente doentio e de desintegração. Para Bucher (1992), esse fator se deve a grandes concentrações de pessoas, e as condições sociais econômicas ou influências externas, e passou a ocorrer após a segunda metade do século XX, contribuindo para a desintegração social e a destruição da subjetividade num mundo comprometidamente alienado.

A dependência psíquica, é comum em todas as dependências químicas. A pessoa fica obcecada em obter a substância e persiste em usá-la mesmo que tenha o conhecimento consciente de que a mesma é nociva física, psicológica ou socialmente. A recidiva após a supressão é característica. A administração repetida de uma substância cria um transtorno fisiológico no SNC que exige continuidade de uso da droga para impedir uma enfermidade física característica conhecida como síndrome de abstinência, que tem como consequência um conjunto de modificações orgânicas, causando sofrimento devido a interrupção do uso de drogas (DIEMEN; KESSLER; PECHANSKY, 2004).

Ampliando o conhecimento de dependência psíquica a determinada substância, pode-se dizer que a mesma surge sempre que o indivíduo necessite ou queira nova dose com objetivo de criar certo estado psíquico, mental a que se acostumou ou dele necessite

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demasiadamente. Mesmo em graus iniciais, quando ainda o indivíduo não se aperceba da dependência, ela já existe; primeiro surge como dependência psicológica e depois pode se aprofundar mais a ponto deste indivíduo perder a capacidade crítica, ou seja, o poder de decisão em Consequência a essa dependência, o que é mais comum (DIEMEN; KESSLER; PECHANSKY, 2004).

A dependência de substâncias é diagnosticada segundo os critérios do DSM-IV apresentados no Quadro 1. Os padrões de uso experimental, recreacional, abusivo e dependência recém-relacionados tendem a ocorrer em um continuum, no qual os problemas com o uso das substâncias psicoativas aumentam à medida que o indivíduo se aproxima da dependência e de acordo com a sua gravidade. No quadro 2, contudo, geralmente os usuários transitam entre as formas de uso dentro desse continuum, podendo retornar a um padrão anterior de consumo ou progredir em direção à dependência.

Quadro 1: Critérios do DSM-IV para diagnóstico de uso nocivo de substâncias Uso nocivo de substâncias

Padrão de uso disfuncional de uma substância levando a um comprometimento por um ou mais dos seguintes sintomas:

 Uso constante de substância, resultando na falência para preencher obrigações no

trabalho, na escola ou em casa.

 Uso constante da substância em situações fisicamente comprometedoras.

 Problemas legais constantes relacionados com o uso da substância.

 Uso contínuo da substância apesar de ter um problema social ou interpessoal

persistente ou constante, ou que seria exacerbado pelos efeitos da substância.

 Nunca preencher os critérios para dependência para esta substância.

Fonte: American Psychiatric Association, 2002, p 213.

Quadro 2: Critérios do DSM-IV para dependência de substâncias Dependência de substâncias

Um padrão de uso disfuncional de uma substância, levando a um comprometimento ou desconforto clinicamente significativo, manifestado por três ou mais dos seguintes sintomas, ocorrendo durante qualquer tempo em um período de 12 meses:

 Tolerância, definida por um dos seguintes critérios:

 Necessidade de quantidades nitidamente aumentadas da substância para atingir

intoxicação ou o efeito desejado ou;

 Efeito nitidamente diminuído com o uso contínuo da mesma quantidade de

substância.

 Abstinência, manifestada por um dos seguintes critérios:

 Síndrome de abstinência característica da substância ou

 Uso da mesma substância (ou de outra bastante parecida) para aliviar ou evitar

sintomas de abstinência.

 A substância é frequentemente usada em grandes quantidades ou por período maior

do que o intencionado.

 Um desejo persistente ou esforço sem sucesso de diminuir ou controlar a ingestão da

substância.

 Grandes períodos de tempo utilizados em atividades necessárias para obter a

substância, usá-la ou recuperar-se dos seus efeitos.

 Reduzir ou abandonar atividades sociais, recreacionais ou ocupacionais por causa do

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 Uso continuado de substância, apesar do conhecimento de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tenha sido causado ou exacerbado pela substância.

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2.3 AS IMPLICAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS DO DEPENDENTE QUÍMICO

O fator que motiva os dependentes químicos a buscar auxílio para se livrar da dependência é uma questão essencial no processo de recuperação da dependência de drogas. Uma resposta a este fato é que os dependentes químicos querem se recuperar quando suas vidas se tornam insuportáveis devido aos sofrimentos gerados pela dependência química. A dependência química é um estilo de vida acompanhada por sofrimento físico, mental e espiritual para os dependentes, suas famílias e a sociedade (GRAY, 2003). Ainda com relação aos usuários que buscam tratamento é importante destacar o envolvimento que estes venham ter comprometendo-se com o processo de recuperação e reinserção social, sendo este uma combinação essencial para a superação da dependência química.

Ainda com relação à procura pelo apoio é possível afirmar que a motivação para o tratamento é um fator chave na iniciação ou envolvimento no tratamento, bem como na determinação do seu resultado (WEBSTER ET al., 2006). A recuperação do dependente químico é motivada pela vontade de mudar seu estilo de vida e essa vontade não pode ser imposta a eles. De acordo com essa percepção, a motivação é uma abordagem de auto-mudança expressa em: (a) conhecimento de que a dependência química é um problema grave; (b) a disponibilidade para procurar ajuda; e (c) vontade de participar do tratamento (NWAKEZE, MAGURA & ROSENBLUM, 2002). Programas de auto-ajuda como os Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA) são modelos para compreender a experiência do sofrimento e o processo de recuperação do dependente químico (DUPONT & MCGOVERN, 1992).

Uma melhor compreensão dos fatores internos que influenciam a motivação do dependente químico para buscar tratamento é necessária, uma vez que estudos indicam que os indivíduos que estão mais motivados para o tratamento são mais propensos a experimentar o sucesso (KNIGHT ET al., 2000). Ainda com relação à compreensão dos fatores que levam o sujeito a buscar auxílio Costa (2000) argumenta que é preciso um tratamento adequado senão a dependência química tende a piorar com o passar do tempo, quer dizer não adianta procurar apoio se este não for favorável ao usuário. Por isso, a próxima parte deste estudo analisa o papel da assistência psicológica na recuperação e na reinserção social do dependente químico.

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2.4 O AUXÍLIO PSICOLÓGICO PRESTADO AO DEPENDENTE QUÍMICO DURANTE SUA RECUPERAÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL

Para compreender como é possível auxiliar o dependente químico durante a sua recuperação e reinserção social, é necessário, primeiro, conhecer o sujeito para, assim, poder apresentar as questões relacionadas à intervenção do profissional de saúde na assistência ao dependente químico, através da citação em sequência é possivel conhecer um pouco do que a saúde pública brasileira tem feito em favor a Reabilitação Psicossocial.

Entre as propostas da lei 10,216 de 2001 está a reestruturação no modelo de assistência, que tem em última analise como eixo principal, a Reabilitação Psicossocial e a reinserção social dos usuários de forma integrada ao meio cultural e a comunidade em que estão inseridos, cumprindo os pressupostos norteados pela reforma psiquiátrica. Quando se trata de conceituar Reabilitação Psicossocial é consenso entre os especialistas de trata-se de uma estratégia e uma vontade política de cuidados para pessoas vulneráveis socialmente, no sentido de que essas consigam gerenciar suas vidas com maior autonomia e capacidade de escolha, possibilitando o processo de trocas sociais, a restituição plena dos direitos, das vantagens das posições que essas pessoas tinham ou poderiam vir a ter, se as barreiras fossem minimizadas ou desaparecessem ( PINHO ET AL, 2009, p. 2).

Espírito Santo (2004, p. 47) exemplifica: “o importante não é a mudança de estado, mas o ser diferente no estado diferente”. O livro de Espírito Santo fala sobre abandonar o vício do cigarro, mas a sua explicação pode ser adequada para se livrar da dependência de qualquer tipo de droga. Para o autor, este deveria ser o foco das campanhas: levar o dependente a deixar o hábito para ser diferente do que tem sido; adquirir novos comportamentos e atitudes no que poderia ser uma nova vida.

O mesmo autor enfatiza que os dependentes químicos desenvolvem a expectativa de que não serão afetados pelos efeitos do seu vício. Quando sentem qualquer manifestação dos efeitos, ficam desestabilizadas, confusos, surpresos e estressados.

Para o mesmo este seria o momento certo para uma intervenção, se houvesse um serviço especial para o evento. Tal serviço deveria ser imediato livre acesso a todos que sentissem os primeiros sinais do efeito do vício.

Intervir ou se interpor é colocar-se entre pessoas ou atos como meio de obstrução ou prevenção contra algum efeito ou resultado. Há dependentes que sozinhos não conseguem reduzir ou abandonar o vício, mesmo diante de claras evidências do mal que lhes está fazendo. Portanto, ao fazer tal intervenção, é importante evitar atribuir todos os males do dependente ao vício, ou sugerir que parando de se drogar todos os males serão curados (ESPÍRITO SANTO, 2004).

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Edwards (1997) afirma que nas abordagens psicossociais há duas direções principais no tratamento dos fenômenos relacionados ao consumo de substâncias. A primeira é a abordagem psicodinâmica, de acordo com a qual o problema com drogas é uma manifestação externa das perturbações psicológicas do usuário. A segunda é considerada como aspecto central do comportamento, relacionado com a procura e utilização de substâncias psicotrópicas. Este autor pondera que mesmo que haja esse conflito de abordagens o sujeito não deve ser ignorado. Afirmando que, os terapeutas devem tratar os pacientes segundo enfoque psicodinâmico e também realizar pesquisas sobre o tratamento segundo abordagens comportamentais e biológicas. Tendo em vista a necessidade em atender as reais demandas dos sujeitos em questão.

É importante também que a pessoa intercessora não se envolva servindo de modelo de bons hábitos. A pessoa do processo de uma intermediação não deve ser levada a sentir-se excepcional ou desafortunada. A interposição não deve ser uma obstrução à liberdade de escolha. Que não seja uma interferência, mas um conduzir ao uso da livre escolha (ESPÍRITO SANTO, 2004).

Salomé (1994, p. 168) apresenta um conceito mais elaborado voltado ao apoio do sujeito, que é a compreensão entre terapeuta e sujeito : “A empatia é o conjunto dos sinais que circulam em toda relação pela qual uma pessoa facilita o desenvolvimento ou crescimento de outra, ajudando-a a amadurecer, adaptar-se, integrar-se, ou aproveitar sua própria experiência”. O autor complementa:

Para falar de maneira mais simples, nossas relações com os outros podem ser abertas ou redutoras, úteis ou inúteis, estimulantes ou inibidoras. Mas não são neutras. Serão portadoras de uma corrente, de um movimento que as amplificará e religará a algo de mais vasto do que o universo pessoal dos dois “comunicantes” (SALOMÉ, 1994, p. 169).

A empatia supõe que conseguimos apreender a maneira como o outro se sente interiormente, como são as coisas para ele. Mas essa palavra não significa que os pensamentos, sentimentos ou dificuldades do outro venham a tornar-se nossos. Isso exclui o processo de identificação pelo qual nossos sentimentos ou preocupações pessoais que fossem semelhantes aos da outra pessoa “ficassem por cima” e se tornassem, talvez sem nosso conhecimento, os verdadeiros móbeis de nossas reações. Dito por outras palavras, a empatia supõe que estamos em sintonia, da mesma faixa de onda que a outra pessoa, e que recebemos sua mensagem tal como ela a comunica (SALOMÉ, 1994). Partindo da lógica apresentada na fundamentação teórica de que existe várias situações entre os processos de consumo, e

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tratamentos, persiste uma curiosa expectativa sobre o processo de reinserção social do dependente químico em situação de recuperação, por parte do pesquisador.

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3 MÉTODO

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MÉTODO

Os dados foram analisados de maneira qualitativa. Para Richardson (1999, p. 90), “a pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacional apresentados pelos entrevistados, em lugar de produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos”.

Na visão de Gil (2002, p. 133), “a pesquisa qualitativa depende de muitos fatores, tais como a natureza dos dados coletados, a extensão da amostra, os instrumentos de pesquisa e os pressupostos teóricos que norteiam a investigação“.

A análise e interpretação dos dados ocorreu á posteriori á transcrição da entrevista, buscando categorizar de forma fidedigna as informações coletadas contribuindo com a pesquisa.

3.2 TIPO DE PESQUISA

Trata-se de uma pesquisa cujo o objetivo é compreender a percepção do dependente químico sobre o processo de reinserção social, exploratória, de natureza qualitativa de corte transversal, com delineamento estudo de caso, Segundo Rodrigues (2007, p. 4), a pesquisa de campo “é a observação dos fatos tal como ocorrem. Não permite isolar e controlar as variáveis, mas perceber e estudar as relações estabelecidas” (RODRIGUES, 2007, p. 4).

O método utilizado para a elaboração deste estudo foi o dedutivo, que parte do geral para o particular.

3.3 PARTICIPANTES

A pesquisa foi realizada com 5 sujeitos dependentes químicos com idade superior a dezoito anos que estão em processo de reinserção social, residentes na Região da Grande Florianópolis, , os sujeitos foram indicados por pessoas da rede de relacionamento do pesquisador.

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Participaram da pesquisa 4 homens, e uma mulher com idade entre 41 a 54 anos S1 homem 43 anos, S2 homem 45 anos, S3 mulher 48 anos, S4 homem 41 anos, S5 homem 54 anos.

3.4 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS

O instrumento para coleta de dados utilizado foi uma entrevista semi-estruturada composta por 7 questões referentes a dados de identificação do participante e 10 questões abertas sobre a dependência química e tratamento. Os dados de identificação solicitados foram: sexo, idade, profissão, escolaridade, estado civil, número de filhos e com quem mora.

As questões sobre a dependência química foram: em que momento de sua vida iniciou o uso de drogas; quantas vezes tentou parar ou recorreu a algum tratamento para a dependência química; se houve alguma recaída e, caso positivo, por que tipos de tratamento passou; há quanto tempo você está sem usar drogas; qual a importância do apoio da família e dos amigos para a sua recuperação e de que forma essas pessoas ajudaram; se já enfrentou algum tipo de discriminação social pela sua condição de dependente químico? Explique; se já conseguiu se reinserir socialmente, ou seja, voltar a trabalhar, estudar, fazer as mesmas atividades que fazia antes de se tornar um dependente químico; quais foram as principais dificuldades encontradas no processo de reinserção social; e quais são os seus planos para o futuro.

Para a realização da coleta de dados foram utilizados os seguintes materiais, um gravador, um roteiro de entrevista, duas cadeiras, e duas vias do termo de consentimento livre e esclarecido, (TCLE) apêndice b.

A entrevista procedeu da seguinte forma, num primeiro momento o pesquisador entrou em contato com os sujeitos a serem entrevistados via telefone, explicando o seu interesse. Após aceito o convite foi agendado um horário (o melhor para os entrevistados), e foi apresentado seu projeto, esclarecendo que tratava-se de um estudo, e que o nome do particpante seria preservado, e que a entrevista seria gravada. Após os esclarecimentos e a assinatura do TCLE, foi escolhido um lugar confortável e sem barulho, ou interrupções para que se comçasse a entrevista.

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3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Para a análise e interpretação dos dados dos dados foi utilizada a técnica da análise temática ou categorial, que segundo Bardin (2002), é baseada em operações de desmembramento do texto da entrevista em unidades, ou seja, identificar os núcleos de sentido constituintes da comunicação, e após realizado o agrupamento em categorias ou em classes.

Para dar conta dos objetivos específicos propostos no projeto de pesquisa, questionou-se de duas formas, sendo quais as principais dificuldades, e quais as principais facilidades encontradas pelos dependentes químicos no processo de reinserção social.

4.1 DIFICULDADES APONTADAS PELOS SUJEITOS DE PESQUISA

Subtítulo 1, Dificuldades, os sujeitos de pesquisa foram questionados quanto as principais dificuldades. Um dos sujeitos responderam que não enfrentaram dificuldades, entre os outros apareceram oito subcategorias sendo elas, abandono por membros da família, falta de confiança por parte dos outros, sentimento de vergonha, fuga da substância, problemas causados pelo uso de drogas, medo de recair, discriminação social, ser percebido como diferente (Tabela 1). Tabela 1: Dificuldades Categoria dificuldades Subcategorias Freqüência

Abandono por membros da família S3 Falta de confiança por parte dos

outros

S3

Sentimento de vergonha S3 – S4

Fuga da substância S3

Problemas causados pelo uso de substâncias

S3

Medo de recair S4-S2-S4

Discriminação social S5

Ser percebido como diferente S5

FONTE: Elaboração do autor, 2012.

Este sub-capitulo fundamenta teoricamente as oito subcategorias levantadas na categoria Dificuldades onde S3, feminino 48 anos, aponta o abandono por membros da família como um agravante na volta do tratamento, como foi possível perceber através de sua fala, “Bom a minha mãe foi muito reticente ela me abandonou, e até hoje ela não me olha

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social de acordo com a afirmação de Costa (2000), que em sua descrição destaca a complexidade do processo de reinserção social. Afirmando que este pode se tornar um desafio para o dependente químico devido a uma reconstrução que este tem que promover no retorno ao meio sócio familiar, num reinício de relações, seja no âmbito da família, da escola, ou do trabalho. Um processo imprescindível no retorno à sociedade, ou ao afastamento do uso de drogas, desta forma depende de como este processo é enfrentado ou assumido pela família e outros envolvidos.

Neste sentido Machado (2009) corrobora com a afirmação de que a ressocialização permeia com a idéia de humanização, objetivando-se em um modelo que proporcione ao indivíduo alguns meios e condições favoráveis a uma reintegração efetiva à sociedade, proporcionado ao mesmo tempo situações favoráveis que possam evitar uma possível reincidência.

Outra subcategoria que aparece é, a falta de confiança por parte dos outros, esta percepção pode exercer influências negativas sobre a inter-relação do dependente químico, reforçando as dificuldades já existentes neste processo. Como é possível perceber nesta fala, S3 feminino, 48 anos. “Sei lá acho que minha mãe não confia mais em mim” (Sic), desta forma Costa (2000) destaca a importância da compreensão do outro na inter-relação, fator essencial no processo de reinserção social, e este voto de confiança pode ser considerado parte importante do processo de recuperação do dependente químico. Na seqüência será abordado o conceito, empatia devido ao significado deste, que é o de se colocar no lugar do outro, compreender o momento que o mesmo está vivendo como se fosse o próprio. Conceito este que Salomé (1994) apresenta como importante aliado no processo de reinserção social, para ela a empatia representa um conjunto de sinais que permeiam toda a relação na qual uma pessoa participa no desenvolvimento ou no crescimento da outra facilitando para que esta possa amadurecer-se adaptar-se e integrar-se.

Este autor aprofunda o questionamento das relações interpessoais, dizendo que “nossas relações, podem ser abertas, redutoras, úteis ou inúteis, estimulantes ou inibidoras”, mas as mesmas não são neutras, estas sempre serão “portadoras de uma corrente, ou de um movimento que se estenderá ou religará a algo, maior do que o universo pessoal dos dois comunicantes” (SALOMÉ 1994, p. 169).

De acordo com estas afirmações percebe-se que os usuários têm esta mesma percepção ou percebem o processo de reinserção social como parte do tratamento, portanto, os mesmos percebem que a desconfiança por parte dos outros pode prejudicar o processo de reinserção social.

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A subcategoria sentimento de vergonha, pela condição de usuário de drogas, apareceu na fala de dois dos cinco sujeitos entrevistados como é possível perceber na fala de s3 feminino 48 anos, “outra dificuldade era a de falar quem eu era, a vergonha, eu não

consegui voltar pra minha cidade por isso” (Sic). Esta fala nos remete a um possível dilema

para o dependente químico, que pode perder o espaço sócio-familiar, espaço este que poderia contribuir para sua emancipação pessoal diante da sociedade, aumentando assim sua autoconfiança. Esta percepção vem ao encontro com as colocações de Corado (2006), que discorre que o sujeito dependente apresenta “sentimentos de frustração”, inferioriza-se, sente culpa e/ou vergonha da sua condição. E afirma ainda que o uso da substância pode ter como objetivo aliviar uma angústia causada por alguma discussão pessoal ou outro conflito qualquer.

Já Espírito Santo (2004), afirma que é importante que não haja um envolvimento por parte da pessoa que auxilia o dependente químico, servindo de exemplo de bons hábitos. E completa dizendo que o sujeito protagonista da necessidade de uma inter-relação não pode ser influenciado a sentir-se diminuído, ou incapaz, ou seja, a influência que se exerça sobre o outro deve agir como um estimulante á liberdade de escolha do sujeito. O que o autor quer dizer é que na medida em que se coloca a ajudar o outro, deve se tomar cuidado para não colocar o sujeito na condição de vítima, ou fazer com que o mesmo se sinta diminuído de alguma forma, levando o sujeito a se auto-julgar negativamente causando-lhe um sentimento de vergonha e de insuficiência pessoal.

A subcategoria, fuga da substância, como é possível perceber na fala de S4 masculino 41 anos, “a principal dificuldade foi aprender a viver de outra maneira, se

privando de fazer o que gostava de fazer, e de ir aos lugares que eu gostava de ir para evitar o contato com as drogas” (Sic), esta fala vem complementar o que alguns autores colocam

em seus escritos como é o caso de Webster et al (2006) que afirmam que a motivação é o fator chave para o início do envolvimento no tratamento, bem como na aderência ao mesmo, ou seja a motivação é imprescindível no processo de recuperação do dependente químico, esta motivação reforça a vontade de mudar seu estilo de vida, e que esta vontade não pode ser imposta a ele. Para Gray (2003) a dependência é uma modelo de vida acompanhado por sofrimento físico, mental e espiritual para os dependentes, seus familiares e a sociedade em geral, além destes aspectos que foram apontados, existe outro que também compõem este contexto como o referido na sequencia.

Para fundamentar a subcategoria, problemas causados pelo uso de substâncias, este tema remete a realidade de um dos entrevistados como aponta S3 feminino 48 anos, “a

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principal dificuldade foi lutar contra os problemas que o álcool e a droga me causaram, saber que perdi minha saúde meu prazer de trabalhar” (sic).

Ainda com relação aos problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas autores como Diemem, Kesslr, Pechasnsky (2004) confirmam que a dependência psíquica é comum em todas as dependências químicas, segundo estes, a pessoa fica focada apenas em obter a substância, e persiste no uso mesmo conhecendo conscientemente que a mesma é nociva física psicológica e socialmente. A recidiva após a supressão é característica destes nesta situação, ou seja, em alguns casos mesmo o sujeito que tem consciência sobre os problemas causados pelo uso, e acaba usando novamente.

Este tema remete a uma importante conquista dos usuários de drogas. Principalmente os que usam drogas injetáveis, programa chamado redução de danos, segundo o manual da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, SENAD (2011) esta prática ganhou forças nos anos 80 na Holanda quando usuários de drogas injetáveis cobraram do governo serviços que fossem capaz de reduzir, os riscos da Hepatite b, e posteriormente os riscos do HIV (AIDS), e profissionais foram treinados para desenvolver trabalhos com este propósito. No Brasil as primeiras ações neste sentido surgiram em 1992 em Santos/SP, pois no final da década de 80 aquele município apresentava um alto numero de soropositivos em decorrência do uso de drogas injetáveis. Devido a forma de que a campanha que este projeto lançou, algumas pessoas distorceram a compreensão e o projeto sofreu intervenção policial alegando que estas atividades estimulavam o uso de drogas, e o mesmo encerrou suas atividades em 1994.

O Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN) deu parecer favorável á realização atividades de Redução de Danos, e em 1995 teve início no estado da Bahia o primeiro programa brasileiro nesta abordagem. “O programa introduziu ações de redução de danos e de riscos associados ao uso de drogas, especialmente as drogas injetáveis” (SENAD, 2011, p 158).

No entanto em 2003 mais de 150 programas de redução de danos estavam em funcionamento no país com apoio e, na maioria das vezes, com financiamento do Ministério da Saúde (SENAD, 2011).

A subcategoria medo de recair, aparece na fala de S2 masculino 48 anos “eu

cuido pra não ir em festas, sabe que a carne é fraca tem que evitar as companhias né”(sic),

esta percepção é explorada por alguns autores como Alvarez (2007) que afirma que a recaída faz parte do processo de recuperação do sujeito, e enfatiza ainda que as situações que podem

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levar o sujeito a recaída são inúmeras, como ansiedade, emoções negativas, dificuldades ao manejar situações difíceis, como uma má notícia, por exemplo, entre tantas outras situações.

Neste sentido Cintra (2009, p.13) alerta que é muito comum algumas pessoas falarem que a dependência química é uma “doença incurável, e que outras até falam que é uma doença incurável progressiva e fatal”, para este autor quando alguém se refere a dependência química desta forma é de arrepiar. E coloca ainda que a frustração é maior ainda quando sabemos que este pensamento predomina na sociedade.

Ainda com relação a este assunto Cintra (2009) afirma que este pensamento é tão prejudicial quanto dizer ao sujeito que ele não tem mais jeito e que pode desistir, ou seja, a força da palavra ao invés de contribuir pode discriminar, impedindo assim o sujeito de continuar sua vida lutando pelos seus ideais.

Ainda com relação ao assunto acima alguns autores apresentam outros motivos facilitadores para levar o dependente químico sofrer uma recaída como é colocado a seguir por Buchele, Marcatti e Rabelo (2004). Para eles estes motivos podem ser problemas familiares, conjugais, dificuldades financeiras, amigos usuários de drogas, briga entre outros, e que estes fatores podem contribuir para que o sujeito não alcance o sucesso esperado, se fazendo necessário que este desenvolva habilidades que facilitem o mesmo alcançar a abstinência e abandone o uso de drogas.

Com relação a subcategoria, discriminação social, este pode ser um fator implicante no processo de reinserção social, da mesma forma que se exclui um sujeito de um contexto, está inserindo-o em outro, que muitas vezes onde ele é melhor aceito, ou seja, se o sujeito não é bem aceito pela família, ou pela sociedade, ele vai procurar se inserir junto ao tráfico, ou ao crime organizado por exemplo.

A discriminação social também foi apontada por S5, masculino, 54 anos: “Sim a

sociedade esta mais apta a entender alguém que está na ativa do que alguém que esta em recuperação, do tipo assim alguém chega pra mim e diz quer dizer então que você pode recair? Eu interpreto isso como discriminação”,(sic).

Duarte (2004) destaca que o processo de reinserção social deve ser compreendido a partir da noção de exclusão social, e afirma que a exclusão implica em uma dinâmica privação por falta de acesso, aos sistemas sociais básicos, como trabalho, família, moradia, saúde entre outros. Neste sentido o autor defende a idéia de que para que a reinserção social possa assumir um caráter de reconstrução das perdas ocorridas durante este período, este processo deve ter como objetivo capacitar o sujeito para o envolvimento ou resgate de uma rede social exclusa ou comprometida pelo uso de drogas e suas conseqüências.

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Ainda sobre este assunto Costa (2000) enfatiza que os sujeitos ao iniciar o tratamento, em alguns casos encontram-se excluídos não só do emprego como tambem das escolas, tendo que restabelecer todo este vínculo perdido em sua volta a sociedade, neste caso encontra algumas dificuldades e a discriminação social pode ser um dos fatores de impedimento desta reinserção social.

Com relação a subcategoria ser percebido como diferente, é preciso compreender como o sujeito se percebe frente a sua situação, e é importante que o mesmo se sinta parte do contexto onde vive. Esta queixa foi pontuada por S5 masculino 54 anos, “como

eu disse a sociedade me vê diferente não esta preparada para te encarar como normal, ou seja, você de alguma forma é visto como diferente” (sic).

Com relação a este assunto a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas SENAD (2011) enfatiza que o uso de drogas pode causar efeitos psíquicos crônicos. Segundo este manual o uso contínuo de drogas pode interferir na memorização do sujeito, podendo “induzir a um estado de diminuição da motivação, que pode chegar a síndrome amotivacional, ou seja, a pessoa não sente vontade de fazer mais nada, tudo parece ficar sem graça, perder a importância, entre outros agravantes” (SENADO, 2011, p 29). Esta reflexão permeia com a idéia de que na medida em que o usuário de drogas vai se envolvendo com o uso de drogas, vai se constituindo numa monocultura, ou seja, cada vez vai diminuindo sua rede de relacionamentos.

A partir da análise da categoria dificuldades, foi possível compreender a percepção dos entrevistados sobre o processo de reinserção social. Para estes muitos acontecimentos do cotidiano os remete a dificuldades, devido aos sujeitos estarem vivendo um momento de mudança de habito, neste processo qualquer evento que os impeça de agir naturalmente, ou que exija um tratamento diferenciado, pode remetê-los a sua condição de usuário em reabilitação, causando estranhamento, ou descontentamento por parte dos mesmos.

4.2 FACILIDADES APONTADAS PELOS SUJEITOS DE PESQUISA

Dando sequência na apresentação dos dados de pesquisa este sub-capítulo apresenta através do quadro 2, as principais facilidades apresentadas na categoria facilidades, pelos entrevistados, e em seguida a fundamentação teórica para cada subcategoria apresentada.

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A subcategoria apoio familiar apareceu quatro vezes, confiança em si próprio apareceu duas vezes, trabalho apareceu três vezes, apoio dos amigos apareceu três vezes, e planos para o futuro apareceu duas vezes.

Tabela 2 Facilidades Categoria Facilidades Subcategorias Frequência Apoio familiar S1-S2-S3-S4 Confiança em si próprio S1-S5 Trabalho S1-S2--3

Apoio dos amigos S2-S3-S5

Planos para o futuro S2-S4

FONTE: Elaboração do autor, 2012.

Neste sub-capítulo ocorre a fundamentação teórica da categoria as Facilidades. A subcategoria apoio familiar, vem ao encontro com o que alguns autores expressam em seus trabalhos.

A exemplo de Pratta e Santos (2009) que afirmam que pode se considerar a família como um elemento fundamental no desenvolvimento de seus membros, mas é necessário que esta disponha de condições básicas de sobrevivência para que garanta o desenvolvimento dos mesmos, tornando possível fatores de proteção ao uso de drogas. Esta percepção também foi apontada por quatro dos sujeitos desta pesquisa, a exemplo da fala de S2, masculino 48 anos, ”eu to freqüentando a igreja espírita eu e a minha família sempre

junto, minhas filhas todo mundo participa junto” (sic).

Ainda com relação a participação familiar no processo de tratamento do usuário de drogas, Pratta e Santos (2007) afirmam que a família possui um importante papel na formação de seus membros e esta influência, tem maior importância durante a adolescência, tal influência está ligada ao desenvolvimento psicológico.

Neste sentido Costa (2000) destaca que é perceptível a importância do papel da família durante o processo de reabilitação, com a presença na instituição de tratamento, seja semanal quinzenal, ou mensalmente, segundo a autora esta presença é fundamental para o interno no cumprimento do período de tratamento. A autora afirma ainda que alem desta presença durante o tratamento, esta está presente também no egresso do dependente após este período, exercendo um importante papel no processo de reinserção social destes sujeitos.

Desta forma é possível afirmar que a família pode auxiliar como um elemento que oferece condições para que o sujeito possa retomar seu estado de saúde.

Referências

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