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Aspectos gerais sobre a liberdade religiosa no contexto constitucional brasileiro e a teoria do adventismo

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MORGANA REHN

ASPECTOS GERAIS SOBRE A LIBERDADE RELIGIOSA NO CONTEXTO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO E A TEORIA DO ADVENTISMO

Ijuí (RS) 2019

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MORGANA REHN

ASPECTOS GERAIS SOBRE A LIBERDADE RELIGIOSA NO CONTEXTO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO E A TEORIA DO ADVENTISMO

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso – TCC.UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Eloisa Nair de Andrade Argerich

Ijuí (RS) 2019

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Dedico este trabalho à minha família, ao meu noivo Renan, em especial minha avó Emília Winterfeld (em memória), colegas e amigos, os quais estiveram ao meu lado durante todo este tempo, me dando confiança e apoio.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente а Deus por permitiu quе tudo isso fosse possível, nãо somente nos anos como universitária, mаs durante toda a minha vida.

A minha família que sempre esteva ao meu lado, em todos os momentos, dando-me forças e perseverança para que eu nunca viesse a desistir, e assim finalmente chegar ao fim de mais essa jornada. Serei eternamente grata.

A Unijuí, e sеu corpo docente, direção е administração quе sempre estavam prontos a dar-me mais oportunidades e auxílio no que fosse necessário, para que este momento se realizasse.

A minha orientadora MSc. Eloisa Nair de Andrade Argerich, com quem tive a honra de conviver e aprender, pela sua amizade, pelo suporte nо pouco tempo quе lhe coube, me incentivando a trilhar este caminho.

Agradeço а todos оs professores pоr proporcionar о conhecimento nãо apenas racional, mаs também na formação dо caráter е afetividade dа educação nо processo dе formação profissional, por servirem de exemplo para tornar-me uma profissional dedicada, a qual ama o que faz. Serei eternamente grata aos senhores.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo demonstrar que mesmo vivendo em um país laico, o conflito entre Estado e a liberdade religiosa, especificamente em relação a guarda sabática pelos adventistas do Sétimo Dia, é um tema polêmico e que suscita debates favoráveis e desfavoráveis ao exercício da sua crença. Visa, também, verificar no contexto da Constituição Federal de 1988 e da legislação internacional a garantia da liberdade religiosa e de culto para todos os cidadãos e de qualquer crença, uma vez que são direitos fundamentais, interligados ao princípio da dignidade humana. E, por último, pretende conhecer a legislação estadual que em vários Estados brasileiros regulamentam a matéria, bem como analisar a posição dos Tribunais Superiores dos Estados brasileiros e do Supremo Tribunal Federal para comprovar se há amparo legal para o exercício da crença adventista.

Palavras-chave: Liberdade religiosa e de culto. Adventista do Sétimo Dia.

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ABSTRACT

This paper aims to demonstrate that even living in a secular country, the conflict between state and religious freedom, specifically regarding Sabbath keeping by Seventh-day Adventists, is a controversial topic and arouses favorable and unfavorable debates on the exercise of their belief. It also seeks to verify, in the context of the 1988 Federal Constitution and international law, the guarantee of religious freedom and worship for all citizens and of any belief, since they are fundamental rights, linked to the principle of human dignity. And, finally, it intends to know the state legislation that regulates the matter in several Brazilian states, as well as to analyze the position of the Superior Courts of the Brazilian States and the Supreme Federal Court to prove if there is legal protection for the exercise of Adventist belief.

Keywords: Religious freedom and worship. Seventh-day Adventist. Dignity of the

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 LIBERDADE RELIGIOSA NO DIREITO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO ... 11

1.1 Antecedentes históricos - constitucionais ... 11

1.1.1 Da Carta Imperial de 1824 à Constituição Republicana de 1891 12 1.1.2 Da Constituição de 1934 e 1946 16 1.1.3 Da Constituição de 1967 e 1969 18 1.2 Liberdade Religiosa na Constituição de 1988 ... 19

1.3 Conceito e origem da liberdade religiosa ... 26

2- CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DA DOUTRINA ADVENTISTA ... 322

2.1 Fundamentos jurídicos e bíblicos da guarda sabática ... 344

2.2 Limitações do direito da liberdade religiosa impostas pelo Estado 43

2.3 Projetos de lei em tramitação no Senado Federal e Câmara dos Deputados Federais 48

CONCLUSÕES ... 511

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INTRODUÇÃO

Vive-se em um país democrático que possui a Constituição, também conhecida como Constituição Cidadã, que foi promulgada após um processo de redemocratização, o qual teve seu início com o fim da ditadura militar. Esta Constituição chegou garantindo a humanidade e valores civilizatórios para toda população, um país.

Como se trata de uma Constituição Cidadã, assegura os direitos fundamentais e apresenta fundamentos essenciais, dentre os quais a dignidade da pessoa humana. Mas principalmente, ela traz a garantia de liberdade, como raça, cor, sexo, língua, opinião política, mas principalmente religião.

Um aspecto de suma importância refere-se aos direitos e garantias asseguradas na Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88), dentre os quais destaca-se a liberdade religiosa, tema que será desenvolvido nesta pesquisa.

Para tanto, destaca-se que no que tange à análise bibliográfica, a pesquisa será do tipo exploratório. Utiliza no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Na sua realização será utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, observando seleção de bibliografia e documentos afins à temática e em meios físicos e na Internet, interdisciplinares, capazes e suficientes para que o pesquisador construa um referencial teórico coerente sobre o tema em estudo, responda o problema proposto, corrobore ou refute as hipóteses levantadas e atinja os objetivos propostos, dentre eles o de analisar e demonstrar que o princípio da liberdade religiosa no Brasil foi acolhido pela CF/88, após muitos embates entre as variadas crenças religiosas, relativamente ao adventismo.

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Desse modo, o presente trabalho será dividido em dois capítulos. No primeiro se fez uma abordagem uma abordagem histórica-constitucional, seus antecedentes históricos, relacionando-o com o princípio da dignidade humana e o exercício da cidadania, considerando que o princípio da liberdade religiosa sempre foi objeto de discussão e contradição, pois o desrespeito à liberdades individuais e coletivas referentes ao assunto religião sempre estão presentes na agenda política, acadêmica e social.

Ademais, no primeiro capítulo, procura-se esclarecer, também, pontos acerca da liberdade religiosa no texto constitucional de 1988, enfocando o Preâmbulo, o artigo 5º, inciso VI e VIII, para entender sua origem e conceito e possibilitar que se possa verificar a separação entre a Igreja e o Estado de uma maneira simples e objetiva. Da mesma forma, estuda-se a Declaração Universal de Direitos Humanos que assegura a liberdade de pensamento, expressão e, principalmente a liberdade de crença, sem distinção.

Porém a questão em debate nesta pesquisa é a concordância das demais pessoas em aceitar a liberdade religiosa, ou seja, em compreender que muitos cidadãos brasileiros acabam sendo oprimidos por não poderem exercer a plena liberdade de crença, ou seja, de exercer sua religião no dia ou período que considera correto, como no caso, dos Adventistas do Sétimo Dia.

Neste sentido, questiona-se no decorrer do trabalho, como um adventista poderá exercer seu direito à liberdade de crença, de guardar o dia que considera correto- guarda sabática - se não é liberado, tendo assim que realizar tanto atividades escolares como também atividades de trabalho, se há leis que o amparam.

No segundo e último capítulo desenvolve-se a temática a partir de uma abordagem bíblica, religiosa com relação a Teoria do Adventista do Sétimo Dia. Então, neste capítulo a abordagem será voltada à doutrina da Igreja Adventista do Sétimo Dia que é uma denominação cristã restauracionista, trinitariana, sabatista, mortalista, não cessacionista, que se difere das demais pela observância do sábado

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como o dia do Senhor, e dia de descanso, o sétimo dia da semana judaico-cristã - sabbath- e por sua ênfase e influência vindo do judaísmo em sua doutrina, e na segunda vinda de Jesus.

Destaca-se que esse recorte se faz necessário, para compreensão da importância que a “guarda sabática” tem para os Adventistas do Sétimo Dia. Não se pretende enfocar o assunto descolado da pesquisa científica, pois o objetivo é demonstrar que bem antes da ciência jurídica, a religião sempre esteve presente na vida das pessoas.

Sabe-se que não será uma tarefa fácil, mas entende-se que é possível, uma vez que os textos bíblicos podem ser relacionados com a liberdade de religião e culto, direitos consagrados na Constituição Federal de 1988.

Por último, apresenta-se algumas decisões favoráveis e outras desfavoráveis a guarda sabática pelos Tribunais Superiores do nosso país, bem como na inexistência de legislação federal sobre o assunto, algumas Leis estaduais dos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Pará que regulamentam a questão da guarda sabática para os Adventistas do Sétimo Dia. Estuda-se, também, o projeto de lei que há muitos anos está no Congresso nacional aguardando que seja colocada em pauta.

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1 LIBERDADE RELIGIOSA NO DIREITO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO

Um aspecto de suma importância refere-se aos direitos e garantias asseguradas na Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88), dentre os quais destaca-se a liberdade religiosa, tema que será desenvolvido neste capítulo, realizando-se uma abordagem histórica-constitucional, seus antecedentes históricos, relacionando-o com o princípio da dignidade humana e o exercício da cidadania.

Ademais, objetiva-se, também esclarecer pontos acerca da liberdade religiosa no texto constitucional de 1988, enfocando o Preâmbulo, o artigo 5º, inciso VI e VIII, para entender sua origem e conceito e possibilitar que se possa verificar a separação entre a Igreja e o Estado de uma maneira simples e objetiva.

1.1 Antecedentes históricos - constitucionais

É importante ressaltar que o tema ora proposto suscita muitas dúvidas e é um assunto que envolve a tolerância e o respeito à liberdade religiosa, direito subjetivo e fundamental e que não há como desconhecer que, ainda em nossa sociedade há discriminação e preconceito com algumas religiões.

Portanto, como já enfatizado, se faz necessário estudar a evolução histórica e constitucional para compreender a separação entre a igreja e o Estado.

Outro ponto a ser desenvolvido diz respeito à liberdade religiosa no contexto das Constituições brasileiras para compreender a sua importância para o ser humano.

Dessa forma, aborda-se os textos constitucionais que tratam da liberdade religiosa, desde a Carta Imperial de 1824, passando pelas Constituições de 1891, 1934, 1937 e 1967 e Emenda 1 de 1969 até a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988 e, assim verificar como esse tema era tratado nos períodos que antecedem a Constituição Cidadã.

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1.1.1 Da Carta Imperial de 1824 à Constituição Republicana de 1891

Durante o período colonial, predominou o preconceito religioso. Os portugueses se empenhavam ao máximo, para manter a hegemonia da religião católica. Desde cedo, havia certa hostilidade, em face da heterodoxia religiosa (LAFER, 2009).

Interessante são as informações que Freyre, autor de Casa-Grande & escrito em 1933 e citado por Aldir Guedes Soriano, dando ênfase ao que registrou, em sua obra, com toda propriedade que lhe era peculiar, o desenvolvimento da vida religiosa durante o período colonial. Veja-se o que ele explica:

Em determinado período histórico, compreendido entre 1500 e 1888 não havia preconceito racial. Os portugueses toleravam todas as raças, mas não admitiam outra religião, senão a Católica Romana. O benefício da Coroa portuguesa só era concedido aos católicos. Esses eram os únicos que poderiam receber terras, através das famosas Cartas de Sesmarias (FREYRE, apud Soriano, 2002, p.78).

Neste sentido, Soriano (2002, p.78) sustenta que:

A separação completa entre a Igreja e o Estado, a independência absoluta do poder religioso, na economia, governo e direção dos cultos, é o único meio de tornar satisfatórias as relações dos poderes civis e eclesiásticos (sic).

Ou seja, com a separação da Igreja e do Estado, as relações entre o governo, poderes civis e religiosos beneficiaram a população da época.

Destaca-se que para melhor entendimento da liberdade religiosa no início da colonização do Brasil, deve-se deixar bem claro que o “Estado laico é Estado leigo, secular. É Estado neutro", e consoante Celso Lafer (2009, p. 226) "laico significa tanto o que é independente de qualquer confissão religiosa quanto o relativo ao mundo da vida civi”l.

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Uma primeira dimensão da laicidade é de ordem filosófico-metodológica, com suas implicações para a convivência coletiva. Nesta dimensão, o espírito laico, que caracteriza a modernidade, é um modo de pensar que confia o destino da esfera secular dos homens à razão crítica e ao debate, e não aos impulsos da fé e às asserções de verdades reveladas. Isto não significa desconsiderar o valor e a relevância de uma fé autêntica, mas atribui à livre consciência do indivíduo a adesão, ou não, a uma religião. O modo de pensar laico está na raiz do princípio da tolerância, base da liberdade de crença e da liberdade de opinião e de pensamento.

Na verdade, percebe-se que a laicidade se revela como norteador da tolerância religiosa, uma vez que todas as religiões encontram abrigo em um Estado que tem a liberdade de crença, opinião e liberdade como princípios.

É inegável que falar em Estado laico é afirmar que, existe sim, uma separação entre o Estado e a Igreja, uma vez que o Estado laico, nas palavras de Lafer (2009, p. 228), “é o que estabelece a mais completa separação entre a Igreja e o Estado, vedando qualquer tipo de aliança entre ambos.”

Partindo desses esclarecimentos, é relevante que se diga foi Ruy Barbosa, em 1890 que redigiu o Decreto nº 119-A, de 07/01/1890 que tornou o Brasil um Estado laico, sem no entanto deixar de mencionar que no período que o antecedeu, havia liberdade de crença no Brasil, mas não havia liberdade de culto. Quer dizer "os cultos de religiões diferentes daquela adotada como oficial pelo Estado (Catolicismo Romano) só podiam ser realizados no âmbito dos lares" (LAFER, 2009, p. 227).

Esse Decreto foi um marco para a liberdade religiosa no Brasil, uma vez que na Constituição Imperial de 1824, a religião católica romana era a religião oficial, e as demais religiões poderiam ser professadas no âmbito doméstico.

Constava no preâmbulo da Carta Imperial "em nome da Santíssima Trindade" e o texto vigente à época, em seu art. 5º, estabelecia que "A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo,"

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Evidencia-se, assim que a Carta Imperial não vedava o professamento de outras religiões, desde que celebrassem seus cultos dentro das residências e não no âmbito externo.

Interessante que no Brasil Império havia uma contradição. Ao mesmo tempo que permitia a liberdade religiosa, vedava a liberdade de culto. Segundo Celso Ribeiro Bastos (2000, p. 191) “na época só se reconhecia como livre o culto católico. Outras religiões deveriam contentar-se com celebrar um culto doméstico, vedada qualquer forma exterior de templo”.

Com o advento do Decreto nº 119-A, de 7 de janeiro de 1890, elaborado por Ruy Barbosa, houve a separação definitiva do Estado e a Igreja Católica Romana no Brasil(TERAOKA, 2011).

O texto desse Decreto apresentava em seu artigo 1º, in verbis, que:

Art 1º: “é proibido a autoridade federal, assim como a dos Estados federados, expedir leis, regulamentos ou atos administrativos, estabelecendo alguma religião, ou vedando-a, e criar diferenças entre os habitantes do país, ou nos serviços sustentados à custa do orçamento, por motivos de crenças, ou opiniões filosóficas, ou religiosas”.

Observa-se, assim, que esse Decreto é um marco para a liberdade religiosa, uma vez que veda a expedição de qualquer lei ou ato normativo violando as diferenças religiosas.

A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891 foi a segunda constituição do Brasil e primeira no sistema republicano de governo, marcando a transição da monarquia para a república. Ela novamente defende a liberdade de culto em seu art. 72, §3º. O texto deste dispositivo estabelece:

Art.72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no paíz a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e á propriedade, nos termos seguintes:

§ 3º Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer publica e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum (Brasil, 1824, sic)

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A Constituição de 1824, deixa às claras as relações entre o Estado e a Igreja, quebrando essa relação de poder:

§ 7º Nenhum culto ou igreja gosará de subvenção oficial, nem terá relações de dependencia ou aliança com o Governo da União, ou o dos Estados. A representação diplomática do Brasil junto á Santa Sé não implica violação deste principio (Brasil,1891)sic).

Tal separação estabelece que, o processo eleitoral seria separado das igrejas e não haveria interferência do governo nas eleições. ou seja, o governo não mais faria “[...] a escolha de cargos do alto clero, como bispos, diáconos e cardeais”, segundo e extinguiu-se a definição de paróquia como unidade administrativa, que antigamente poderia equivaler tanto a um município como também a um distrito, vila, comarca ou mesmo a um bairro, informa Thiago Massao Cortizo

Teraoka ( 2011, p. 35)

Além disso, o País não mais assumiu uma religião oficial, que à altura era a católica, e o monopólio de registros civis passou ao Estado, sendo criados os cartórios para os registros de nascimento, casamento e morte, bem como os cemitérios públicos, onde qualquer pessoa poderia ser sepultada, independentemente de seu credo.

Observa-se que no contexto deste dispositivo, em 1891, a liberdade e a igualdade dos cidadãos era garantida, refletindo as mudanças de ideais de época, uma vez que “[...] nutridos pelos ideais republicanos da Revolução Francesa, os constituintes revogaram a ligação institucional entre Igreja e Estado, e quiseram refletir claramente seus referenciais”, explica Reimer (2013, p. 78).

Reimer (2013, p.78) esclarece que:

Os reflexos destas mudanças foram vistos na necessidade de criação de cartórios, da civilidade do casamento, na laicização do ensino público e principalmente na segurança estatal dada a liberdade de culto e de expressão. Contudo, esta constituição não cita Deus em seu preâmbulo.

O tempo passa e somente após decorrido 67 anos, uma nova Constituição é promulgada. A Constituição de 1934 surge, então, com uma nova postura, mais democrática e social.

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1.1.2 Da Constituição de 1934 e 1946

Um ponto de muita expressão ocorre com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, eleito pelo voto popular e “[...] vem à tona a Constituição de 1934, marcada pelo seu tom nacionalizante e com importantes avanços nas questões trabalhistas e reforçando a liberdade dos cidadãos” aduz Reimer, (2013, p. 79). Ou seja, esta Constituição apresenta em seu preâmbulo a volta de Deus, “[...] mostrando a importância da religião para o povo (REIMER, 2013).

Dessa forma, o texto constitucional ao referir-se especificamente a liberdade religiosa, assim determina, em seu art. 113 e incisos:

Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

5) É inviolável a liberdade de consciência e de crença e garantido o livre exercício dos cultos religiosos, desde que não contravenham à ordem pública e aos bons costumes. As associações religiosas adquirem personalidade jurídica nos termos da lei civil.

6) Sempre que solicitada, será permitida a assistência religiosa nas expedições militares, nos hospitais, nas penitenciárias e em outros estabelecimentos oficiais, sem ônus para os cofres públicos, nem constrangimento ou coação dos assistidos. Nas expedições militares a assistência religiosa só poderá ser exercida por sacerdotes brasileiros natos.

7) Os cemitérios terão caráter secular e serão administrados pela autoridade municipal, sendo livre a todos os cultos religiosos a prática dos respectivos ritos em relação aos seus crentes. As associações religiosas poderão manter cemitérios particulares, sujeitos, porém, à fiscalização das autoridades competentes. É lhes proibida a recusa de sepultura onde não houver cemitério secular (BRASIL < 1934)

Aparentemente a liberdade religiosa em suas mais variadas matrizes, inclusive as religiões africanas, eram vistas sob a ótica da liberdade do cidadão que está expressa na Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, mas Reimer (2013, p. 81) esclarece que:

O culto está ligado ao crer, enquanto expressão da fé. Assim, o culto e demais expressões religiosas são também vistas sob o prisma da liberdade do cidadão, que rege a constituição. Além disso, vale mencionar a possibilidade das igrejas se apresentarem diante da lei enquanto

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personalidades jurídicas. Contudo, religiões de matriz africana, por sua forma de culto, muitas vezes incorreram em caso de polícia por não se adequarem ao conceito de ordem pública e até bons costumes, estes também não tinham o direito de se tornarem pessoas jurídicas, poderiam ser apenas sociedade recreativas. Ainda vale mencionar que esta Constituição institui o ensino religioso como disciplina no currículo escolar, porém de frequência facultativa e seu conteúdo poderia ser regido pelas confissões religiosas dos pais dos alunos.

Denota-se, assim, que a Constituição de 1934 foi uma Constituição avançada demais para a época, em seus aspectos social e político e por esta razão teve curta duração. Durou apenas 3 anos e em 1937 outra é outorgada em seu lugar.

Com o fechamento do Congresso e a instauração da ditadura de Vargas surge a Constituição do chamado Estado Novo em 1937. Este texto constitucional foi marcado, principalmente, pelo grande poder dado ao executivo, com o intuito de defender a nação das ameaças comunistas. Contudo, em relação a liberdade religiosa o texto desta constituição é bastante simples, suprimindo, porém, a questão da liberdade de consciência e crença, o que reflete o contexto totalitarista do texto (ZEFERINO, 2015, p. 16871).

Percebe-se com muita clareza que em 1937, a liberdade religiosa foi suprimida totalmente, uma vez que o período ditatorial estava implantado no Brasil e não havia permissão para o cultivo de religiões.

Dando continuidade a releitura das Constituições de 1934 a 1946, Zeferino (2015, p. 16872) expõe que “Após a repressão do comunismo na Era Vargas, o texto da constituição de 1946 contou, inclusive, com a presença de comunistas no debate redacional.” Assim, a liberdade religiosa ganha novos contornos e se lê no art. 141. §7º:

É inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre exercício dos cultos religiosos, salvo o dos que contrariem a ordem pública ou os bons costumes. As associações religiosas adquirirão personalidade jurídica na forma da lei civil.

Mudanças ocorreram, mas não são maiores que as verificadas na Constituição de 1934. Inclusive, Zeferino (2015, p. 16873) ressalta que “Nesta constituição volta-se a refletir sobre o culto e expressão de fé enquanto consequências da liberdade de consciência e de crença Não havendo grandes mudanças ao que se verificava na Constituição de 1934”.

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No decorrer de 20 anos, a liberdade religiosa não sofreu mudanças significativas e a inviolabilidade de culto era assegurada, porém, o poder cai nas mãos dos militares e implanta-se uma nova ditadura no Brasil.

1.1.3 Da Constituição de 1967 e 1969

Dentro do contexto da ditadura militar instituída em 1964 surge o texto da constituição de 1967 que proíbe os poderes governamentais em suas mais variadas instâncias de subvencionar ou estabelecer igreja e cultos religiosos, mantendo o espírito republicano de separação entre Igreja e Estado já previsto nas constituições desde 1891.

No Artigo 150, abarcado sob a igualdade entre os cidadãos é colocada no Parágrafo 5º a questão da liberdade religiosa: “é plena a liberdade de consciência e fica assegurado aos crentes o exercício dos cultos religiosos, que não contrariem a ordem pública e os bons costumes” (REIMER, 2013, p. 70). Estas disposições também auxiliaram para que o golpe militar mantivesse o apoio tanto de católicos quanto de protestantes, uma vez que, na prática, nada mudava referente a liberdade religiosa (REIMER, 2013).

A partir dessas colocações, entende-se que aparentemente havia liberdade religiosa, e era extensiva aos crentes, mas com a ressalva de que não afrontassem a ordem pública e nos bons costumes.

Mesmo que a liberdade religiosa estivesse estabelecida no texto constitucional de 1967, sabe-se que havia uma divisão entre apoiadores e contestadores do regime ditatorial implantado em 1967 e que perdurou por mais de 20 anos.

Observa Reimer (2013, p. 81) contudo, que:

[...] o cenário dentro das igrejas era de bastante divisão entre apoiadores e contestadores do regime militar, não à toa muitos cristãos foram martirizados neste período independente de suas denominações religiosas. Importante ressaltar que deste momento histórico surge a Teologia da Libertação, exemplo bastante forte da contestação ecumênica da ditadura. Aqui vale mencionar que a emenda constitucional de 1969 não alterou os dispositivos referentes a liberdade religiosa.

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Registra-se que a inclusão da disposição constitucional com ênfase nas crenças protestantes, os militares conseguiram “[...] que o golpe militar mantivesse o apoio tanto de católicos quanto de protestantes, uma vez que, na prática, nada mudava referente a liberdade religiosa”, pois os militares continuavam perseguindo muitos cristãos, independentemente da convicção religiosa, conta Reimer (2013, p. 81).

Durante muitos anos o Estado brasileiro viu-se sob o jugo dos militares, mas aos poucos foi se libertando das amarras da ditadura e inicia-se, na década dos anos oitenta, um período de esperança, período de transição da ditadura para a democracia

Os trabalhos da constituinte de 1988 foram iniciados e a Constituição da República Federativa do Brasil é entregue ao povo brasileiro, em 5 de outubro de 1988, considerada por Ulisses Guimarães a Constituição Cidadã1, com a finalidade de implantar a democracia e devolver aos cidadãos a esperança de dias melhores.

O principal objetivo da organização da Constituinte foi remover o "entulho autoritário" (ou seja, leis que tinham resquícios do autoritarismo) que havia em nossa Constituição, até então baseada no contexto da Ditadura Militar brasileira que, obviamente, não se encaixava mais no Brasil no final dos anos 80, período em que a liberdade e a democracia voltavam a fazer parte do dia a dia da sociedade... Eram os ares da Nova República (Câmara dos Deputados, 1988).

Carta Magna de 1988 consagra, como se verá, o direito à liberdade religiosa, em consonância com os valores supremos e os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil

1.2 Liberdade Religiosa na Constituição de 1988

1

Quando a Constituição foi entregue pelos parlamentares à sociedade brasileira, em 5 de outubro, foi quase impossível que não recebesse o apelido de "Constituição Cidadã", assim chamada pelo próprio Ulysses Guimarães devido à grande quantidade de leis voltadas à área social. O deputado Ulysses, que chefiou os trabalhos, destacou-se pela capacidade de articulação entre os diferentes partidos e tendências ideológicas que disputavam espaço na Constituinte (Arquivo Câmara dos Deputados, 1988)

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Muito sobre a liberdade religiosa no contexto da Constituição Federal de 1988, poderia ser trabalhado nesta pesquisa, no entanto, aborda-se apenas aspectos gerais e se faz uma breve contextualização do tema.

Já de pronto, pode-se afirmar que o princípio da separação entre a Igreja e o Estado é reafirmado na CF/88. Portanto, o Estado continua laico. As vedações constitucionais do art.19, inciso I, refletem o caráter laicista do Estado brasileiro.

Assim dispõe o art.19 da CF/88, in verbis:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou suas representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;

II - Recusar fé aos documentos públicos;

III - Criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. (BRASIL, 2016).

Disto se deflui que o Estado laicista não pode favorecer uma religião, em detrimento de outras. O tratamento dado as outras igrejas deve ser igual, mantendo-se a isonomia. Não pode subvencionar as religiões e também não pode legislar sobre matéria religiosa. Isto não impede, entretanto, que a Igreja e o Estado possam ser parceiros em obras sociais e de interesse público.

A Constituição Brasileira de 1988 consagra a liberdade como um direito e um princípio fundamental. Já, no preâmbulo da Magna Carta, se encontra a liberdade entre os valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceito.

Alexandre de Moraes (2011, p. 121) ensina que o preâmbulo constitui “um breve prólogo da Constituição e apresenta dois objetivos básicos: explicar o fundamento da legitimidade na nova ordem constitucional; e explicar as grandes finalidades da nova Constituição.” Assim sendo, o preâmbulo apresenta uma linha mestra, uma fonte interpretativa, por traçar as diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da Constituição.

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Nesse diapasão, Celso Ribeiro Bastos (1999, p. 44) afirma que “é possível obter nos preâmbulos alguns vetores para a atividade interpretativa, dado que, na maior parte das vezes, consagram declarações principiológicas, de caráter geral.”

Ora, uma sociedade fraterna, justa e pluralista, nos termos do preâmbulo constitucional, só pode subsistir com liberdade, inclusive liberdade religiosa. Consequentemente, essa liberdade deve ser tolerante, em relação às liberdades como valor supremo.

Portanto, a tolerância é fundamental para a manutenção de uma sociedade fraterna, justa e pluralista. E dizer, subtraindo – se a liberdade, não há que se falar em justiça, fraternidade e pluralismo. Disto deflui, também, que a liberdade religiosa é um componente importante da sociedade brasileira, que pretende de ser fraterna, justa e pluralista.

Na mesma linha da do preâmbulo, o artigo. 1° da CF dispõe, in verbis:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania; II - a cidadania

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

A liberdade religiosa, no Brasil, tem o amparo do Estado democrático de direito, uma vez que a República é constituída como tal, conforme o art. 1°, caput, da CF. Dentre os fundamentos ele casos neste dispositivo Constitucional, encontram-se a cidadania e a dignidade da pessoa humana (grifos nosso).

A cidadania tem o papel fundamental em sede de direitos humanos, o que não difere especificamente, em relação a liberdade religiosa. Segundo o pensamento de Hannah Arendt, entende-se, por cidadania, “o direito a ter direito”. (LAFER, 1998, p. 23)

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Tem-se, assim, o pensamento arentiano. Soriano (2002, p.87) menciona os escritos de Lafer, quer na obra “A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt” afirma que:

[...] os direitos humanos pressupõem a cidadania não apenas como um fato é um meio, mas sim como um princípio, pois a privação da cidadania afeta substantivamente a condição humana, uma vez que o ser humano privado de suas qualidades acidentais- o seu estatuto político- vê-se privado de sua substância, vale dizer: tornado pura substância, perde a sua qualidade substancial, que é de ser tratado pelos outros como um semelhante.

A relação de cidadania com os direitos humanos pode ser facilmente compreendida, com a análise da situação dos apátridas. Um grande contingente humano, com frequência, se transforma em refugiados, que perdem a cidadania. Oram, perdendo a cidadania, a quem eles podem recorrer, postulando ou reivindicando seus direitos humanos violados? Em situações normais, o Estado é quem garante a ordem e os direitos fundamentais. Mas sem um Estado a quem possa recorrer, o que fazem? Hoje, fala-se muito na internacionalização dos direitos humanos; entretanto ainda não existe um mecanismo de proteção idônea para aqueles que perdem a cidadania, e não podem contar com a tutela estatal (com exceção da Convenção de 1951 e do Protocolo de 1967).

Sem cidadania, nenhum direito humano pode ser adequadamente tutelado. É evidente, portanto, que a liberdade religiosa também não pode ser reivindicada por aqueles que não mais possuem uma pátria e que perderam a cidadania.

A dignidade da pessoa humana apresenta-se como um princípio importante em sede de liberdade religiosa, uma vez que o cerceamento à liberdade constitui, indubitavelmente, um duro golpe à dignidade humana. O homem, destituído de liberdade, tem, logicamente, sua dignidade abalada.

José Joaquim Gomes Canotilho (1993, p.678) vê, na dignidade da pessoa humana, a raiz sobre a qual se fundamentam os direitos humanos. Nesta esteira, a Conferência Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena, no ano de 1993, além de endossar a universalidade de direitos humanos, “reconhece que todos direitos humanos têm origem na dignidade e valor inerente à pessoa humana e que esta é o sujeito central dos direitos humanos e liberdades fundamentais”.

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Jose Afonso da Silva (2011, p 248), considera a dignidade da pessoa humana como valor supremo “que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida.”

Piovesan (2012, p. 154), a respeito do assunto, assim se expressa:

O valor da dignidade da pessoa humana impõe-se como núcleo básico e informador do ordenamento jurídico brasileiro, como critério e parâmetro de valoração a orientar a interpretação e compreensão do sistema constitucional instaurado em 1988. A dignidade humana e os direitos e garantias fundamentais vêm a constituir os princípios constitucionais que incorporam as exigências de justiça e dos valores éticos, conferindo suporte axiológico para o sistema jurídico brasileiro. Os direitos e garantias passam a ser dotados de uma especial força expositiva, projetando-se por todo universo constitucional e servindo como critério imperativo de todas as normas do ordenamento jurídico nacional.

O Estado Democrático de Direito, estando sob o império da lei, deve proporcionar liberdade e vida digna aos cidadãos. No que diz respeito à consciência humana, o Estado não tem o direito de interferir. Um dos propósitos do constitucionalismo, aliás, é o de limitar o poder Estatal, em relação ao indivíduo.

Como bem disse Bastos (1999, p.45) “As convicções e práticas religiosas assumem, descarte, um estatuto de foro íntimo das pessoas”. Portanto, ninguém será obrigado a suas convicções religiosas.

O Estado Democrático favorece, de forma geral, a rotação de todos os direitos humanos. A CF de 1988, por sua vez, representou um grande avanço na proteção dos direitos humanos no Brasil.

Como pondera Flávia Piovesan (2012, p. 182):

A Constituição de 1988 constitui o marco jurídico da transição democrática e da institucionalização dos direitos humanos no Brasil. O texto de 1988 empresta os direitos e garantias ênfase extraordinária, situando – se como o documento mais avançado, abrangente e pormenorizado sobre a matéria, na história constitucional do país.

Obviamente a liberdade religiosa foi grandemente favorecida, portanto está no rol dos direitos humanos tutelados pela Constituição Cidadã.

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Segundo Pinto Ferreira (1998, p. 102) “a Liberdade Religiosa é o direito que tem o homem de adotar o seu Deus, de acordo com a sua crença e o seu culto.” Em outras palavras, pode-se dizer que este direito confere ao homem a possibilidade de adotar a Deus, conforme a sua própria consciência.

A liberdade religiosa é um direito humano fundamental, consagrados nas Constituições dos países democráticos, bem como por diversos Tratados Internacionais. Trata- se, portanto, de uma liberdade pública ou, se se preferir, de uma prerrogativa individual, em face do poder estatal.

Assinala-se que a liberdade religiosa se apresenta como princípio constitucional, além de ser um direito fundamental do homem e como tal merecedor de respeito.

Ainda, nessa esteira, ensina Jorge Miranda citado por Soriano (2002 p.7) que:

A liberdade religiosa não consiste apenas em estado a ninguém impor qualquer religião ou a ninguém impedir de professar determinada crença. Consiste ainda, por outro lado, em o Estado permitir ou proporcionar a quem seguir determinada religião o cumprimento dos deveres que dela decorrem (em matéria de culto, de família ou de ensino, por exemplo) em termos razoáveis.

Cabe, portanto, uma obrigação positiva ao Estado de impedir as eventuais violações ao direito de religião. O Estado deve-se manter neutro, em face da religiosidade, até mesmo em decorrência do princípio da separação entre a Igreja e o Estado. Entretanto deve atuar, impedindo violações, através do poder de polícia e de uma adequada e eficiente prestação jurisdicional.

Desta forma, o art. 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos dispõe que:

Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular ( ONU, 1948).

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Na mesma direção são as lições de Celso Ribeiro Bastos (998, p.46) ao ressaltar:

A liberdade religiosa consiste na livre escolha pelo indivíduo da sua religião. No entanto, ela não se esgota nessa fé ou crença. Ela demanda uma prática religiosa ou culta como um de seus elementos fundamentais, do que resulta também inclusa, na liberdade religiosa, a possibilidade de organização desses mesmos cultos, o que dá lugar às igrejas. Este último elemento é muito importante, visto que da necessidade de assegurar a livre organização dos cultos surge o inevitável problema da relação destes com o estado.

Soriano utilizando-se dos ensinamentos de Ruy Barbosa (2002, p. 8) que ssim se referiu ao tema:

A liberdade religiosa, como a liberdade de consciência, é um direito de natureza tão elevada, tão difícil de palpar são, em teoria, as suas relações com os interesses individuais e sociais do homem, que o povo não se pode apaixonar por ela, compreender lhe o alcance, atentar-lhe a reivindicação enquanto o não despertam com uma provocação direta e material.

Assim sendo, a liberdade religiosa encontra amparo na Bíblia. Diz o texto sagrado que cada qual responderá por si (Romanos 14:12). Disto se entende que ninguém tem o direito de interferir na esfera religiosa de outrem, pois a liberdade de consciência é um valor que faz parte da esfera subjetiva do homem, sendo inviolável.

Da Silva (2011, p.11) ensina que a liberdade religiosa compreende três formas de expressão:

a) a liberdade de crença; b) a liberdade de culto; e c) a liberdade de organização religiosa”, ponderando que, “Na liberdade de crença entra a liberdade de escolha da religião, a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de religião, mas também compreende de não aderir a crença alguma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo.

No mesmo sentido, Rosa (2002, p. 10) ressalta que “A liberdade religiosa consiste no direito que todo indivíduo tem de professar a religião que deseja, de ser ateu, de ser contra toda e qualquer religião”. Ou seja, toda pessoa é livre para escolher a sua religião, pois faz parte do seu íntimo, é a chamada liberdade de consciência no que se refere a crença religiosa.

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O direito (valor) à vida, consagrado no caput do art. 5º da CF, não deixa de estar relacionado com o direito à liberdade de crença, pois todo cidadão, em tese, tem direito à vida digna, a despeito de sua fé ou crença religiosa. Nota-se uma natural independência entre o direito à vida e à liberdade de religião. No passado, especialmente no período inquisitorial, o direito à vida era subtraído, sob algumas circunstâncias, daqueles que professavam heterodoxia, no tocante à religião oficial do Estado (Moraes, 2002).

Conjugando-se o direito à vida, com o direito à liberdade religiosa e com o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, espera-se do Estado a obrigação de proporcionar uma condição de vida digna a todos, sem discriminação religiosa, conforme o entendimento de Moraes (2011).

Verifica-se, portanto, uma íntima relação entre o direito á vida e o direito à liberdade religiosa. Este é cerceado, quando aquele não pode ser mantido dentro dos limites da dignidade humana, sem o sacrifício da consciência. Portanto, há violação de direitos, quando a vida, devido ao arbítrio e intolerância, não mais é vida, e, sim, quando muito, arremedo de vida. Enfim, ninguém pode ser privado de seus direitos civis, sociais e políticos, em razão de uma discriminação religiosa. Não se pode conceber a existência da liberdade religiosa, quando, por motivos religiosos, se negam os direitos fundamentais inerentes à cidadania. O exercício pleno da cidadania não pode subsistir com violações aos direitos humanos fundamentais (MORAES, 2011).

Então, se faz imperioso saber o conceito e origem da liberdade religiosa para compreender melhor os direitos à liberdade religiosa e culto estabelecidos no Texto constitucional.

1.3 Conceito e origem da liberdade religiosa

A atual Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 5º, inciso VI, dispõe que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo

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assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

À partir deste dispositivo e do estudo das Constituições que antecederam a de 1988, é imprescindível, então, entender o que significa liberdade religiosa e entender sua origem.

Segundo Pinto Ferreira (1998, p.102) “a Liberdade Religiosa é o direito que tem o homem de adotar o seu Deus, de acordo com a sua crença e o seu culto.” Em outras palavras, pode-se dizer que este direito confere ao homem a possibilidade de adotar a Deus, conforme a sua própria consciência.

A liberdade religiosa é um direito humano fundamental, consagrados nas Constituições dos países democráticos, bem como por diversos Tratados Internacionais. Trata- se, portanto, de uma liberdade pública ou, se se preferir, de uma prerrogativa individual, em face do poder estatal.

A doutrina espanhola estabelece a liberdade religiosa como um princípio. Assim, propugna Ramón Soriano citado por Soriano (2002 p.5, grifo do autor):

Son numerosos lostrabajos sobre el tema de laliberdad religiosa: laliberdad religiosa – se el principio jurídico fundamental que regula las relaciones entre el Estado y laIglesia em consonanciaconelderecho fundamental de losindividuos y de los grupos a sostener, defender y propagar sus creencias religiosas. De manera que el resto de losprincipios, derechos y libertadesenmateria religiosa son coadjuvantes e solidariosdelprincipios básico de lá liberdad religiosa.2”

Da mesma maneira, assinala Pierre Lanares citado por Soriano (2002, p. 5, grifo do autor):

“La libertéreligieuse est unprincipe extrêmement complexe. Pourencomprendrelesans et l’importance, nousdevonsfaireappel à lathéologie, à laphilosophie, à l’histoire et à lasciencejuridique.3

2

Tradução livre: Existem inúmeras obras sobre a questão da liberdade religiosa: liberdade religiosa - é o princípio jurídico fundamental que regula as relações entre o Estado e a Igreja, alinhado ao direito fundamental de indivíduos e grupos de sustentar, defender e propagar suas crenças religiosas. Portanto, o restante dos princípios, direitos e liberdades da questão religiosa são coadjuvantes e apoiam os princípios básicos da liberdade religiosa.

3

Tradução livre: a liberdade religiosa é um princípio extremamente complexo. Para se compreender o sentido de sua importância, devemos recorrer à teologia, filosofia, à história e à ciência jurídica.

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Nota-se que a liberdade religiosa se apresenta como princípio constitucional, além de ser um direito fundamental do homem. Devido a sua complexidade e ao seu caráter interdisciplinar, o estude dessa liberdade pública não se deve restringir às ciências jurídicas, mas, sim, expandir – se aos objetos da história, da filosofia e da teologia. Assim sendo, o aprofundamento desse vastíssimo e complexo tema não podem prescindir de algumas incursões, quando necessárias, nos referidos campos do conhecimento humano. Além do mais, não convém ficar abstrato, no estudo da liberdade religiosa, exclusivamente no Direito Constitucional; há que se explorar outras searas das ciências jurídicas, abarcando o Direito Administrativo, o Direito Penal, o Direito Civil, o Direito do Trabalho, o Direito Tributário, o Direito Previdenciário, o Direito Ambiental, o Direito das Gentes, o próprio Direito Constitucional Internacional e, obviamente, os Direitos Humanos. Essa polifacetariedade resulta, e parte, da colisão do direito à liberdade religiosa com outros direitos fundamentais, como será é focado no momento oportuno (SORIANO, 2002).

No entender de Bulos (2002, p 78) a liberdade religiosa é um direito de primeira geração, com origem no final do século XVII. Entretanto, conforme acentua Bulos, (2002, p 79), não há uma sucessão de direitos, erroneamente induzida pela idéia de geração de direitos. Destarte, essa classificação, segundo as gerações de direitos humanos, encontra-se, atualmente, separada pela doutrina, pois não correspondem a realidade, à ordem em que surgiram tais direitos; e, tampouco, os direitos mais recentes sucederam os mais antigos.

Entretanto, concebida como um direito de primeira geração, a liberdade de religiosa impõe, precipuamente, ao Estado, na lição de Celso Ribeiro Bastos “um dever de não fazer, de não atuar, de obter-se, enfim, enfim, naquelas áreas reservadas ao indivíduo.” Trata- se, portanto, de uma prerrogativa individual oponível ao Estado. É certo, porém, que o Estado tem, ainda, em alguns casos, obrigações positivas de fazer ou de atual.

Em que pese a liberdade religiosa, cabe ao Estado, além de uma obrigação negativa, o dever de proteger esse direito, em face de eventuais violações por partes de particulares, e, até mesmo, por parte de autoridades (políticas e judiciárias), servidores, empregados, ou agentes públicos (da administração direta ou indireta). Seria inconcebível ou até mesmo uma

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irrisão, se a consagração Constitucional do direito à liberdade religiosa se restringisse a uma mera delimitação da atuação lícita dos poderes públicos, impedindo a sua ingerência na esfera individual, e, ao mesmo tempo, permitisse que esse direito fosse constantemente cerceado por indivíduos em geral, até mesmo, por atos emanados dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) (BULOS, 2002, p 79).

Nesse diapasão, assinala Gilmar Ferreira Mendes (2009, 325, grifo do autor) que:

Tal como observado por Krebs, não cuida apenas de ter liberdade em relação ao Estado (Freiheitvom...), mas de desfrutar essa liberdade através do Estado (Freiheitdurch...). a moderna dogmática dos direitos fundamentais discute a possibilidade de o Estado vir a ser obrigado a criar os pressupostos fáticos necessários ao exercício efetivo dos direitos constitucionalmente assegurados e sobre a possibilidade de eventual titular do direito dispor de pretensão a prestação por parte do Estado.

Ainda, nessa esteira, ensina Jorge Miranda (apud Soriano, 2002 p.7, grifo do autor):

A liberdade religiosa não consiste apenas em estado a ninguém impor qualquer religião ou a ninguém impedir de professar determinada crença. Consiste ainda, por outro lado, em o Estado permitir ou proporcionar a quem seguir determinada religião o cumprimento dos deveres que dela decorrem (em matéria de culto, de família ou de ensino, por exemplo) em termos razoáveis.

Cabe, portanto, uma obrigação positiva ao Estado de impedir as eventuais violações ao direito de religião. Cabe, também, ao Leviatã viabilizar o exercício das diferentes religiões. É dizer: normalmente o Estado deve-se manter neutro, em face da religiosidade, até mesmo em decorrência do princípio da separação entre a Igreja e o Estado. Entretanto deve atuar, impedindo violações, através do poder de polícia e de uma adequada e eficiente prestação jurisdicional. Essa prestação jurisdicional, no caso em tela, se dá, através da provocação do Poder Judiciário, principalmente com o exercício das garantias Constitucionais, como, v.g., mandado de Segurança e Mandado de Injunção, e, também, através do controle, concentrado e difuso, da constitucionalidade das leis (MIRANDA, apud SORIANO,2002)

Não é muito diferente o que vem exposto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948. Veja-se:

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Art. 18-Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

A manifestação do homem quanto à sua religião é um direito inviolável e tem a proteção constitucional e internacional. No entender de Pontes de Miranda (apud Soriano, 2002, p. 9, grifo do autor) a liberdade de religião “especializa a liberdade de pensamento, pois que a vê somente no que concerne à religião.”

Tem-se desse modo, que a liberdade religiosa é uma especialização da liberdade de pensamento, tomada no sentido amplo (lato sensu). A liberdade religiosa, é, portanto, uma espécie d qual a liberdade de pensamento é gênero. É uma vertente da liberdade de pensamento, como já foi mencionado anteriormente. (MIRANDA, apud SORIANO, 2002).

Ainda, pode-se dizer que a liberdade religiosa no âmbito internacional ganha destaque com o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, uma vez que este último ao referir-se sobre a liberdade religiosa, assim estabelece:

Art. 26. Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação alguma, a igual proteção da lei. A este respeito, deverá proibir qualquer forma de discriminação e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer opinião.

Sem equívocos, a liberdade religiosa encontra sustentação não apenas em documentos como a Constituição Federal de 1988, mas também em documentos que balizam os direitos humanos no âmbito internacional.

Destaca-se, ainda que a liberdade religiosa é considerada, também, no O Pacto de São José da Costa Rica, como ficou conhecida a Convenção, considerados como “[...] direitos essenciais do homem atributos da pessoa como humana, logo, não adstritos aos limites nacionais, “ e trata sobre a liberdade religiosa em seu artigo 12, nos seguintes termos (SORIANO, 2002).

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Art. 12. Liberdade de Consciência e de Religião 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião. Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em público como em privado. 2. Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças. 3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está unicamente sujeita às limitações prescritas pela lei e que sejam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou moral públicas ou os direitos ou liberdades das demais pessoas. 4. Os pais, e quando for o caso os tutores, tem direito a que seus filhos ou pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja acorde com suas convicções próprias.

Constata-se após analisar os documentos internacionais elencados acima, que todos eles, apresentam em seus textos normas de direitos fundamentais que foram introduzidos no ordenamento jurídico nacional por foça cogente da Constituição de 1988, em seu art. 5º, §§ 2º e 3º, que prevê a existência de direitos fundamentais também nos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Não são poucos os documentos internacionais que fazem alusão à liberdade religiosa, e o que se verifica é que gozam de ampla proteção, “[...] inclusive com previsão de positiva atuação estatal que vise a garantir o exercício dessa liberdade individual em suas diversas acepções.

Por derradeiro, evidencia-se que a liberdade religiosa ao mesmo tempo é um princípio e um direito constitucional tutelado pela Constituição Federal de 1988 e por documentos internacionais para sua validação.

Portanto, no próximo capítulo trabalha-se aspectos referentes aos conceitos e características da doutrina adventista, juntamente com fundamentos jurídicos e bíblicos da doutrina, e ligados a ela.

Aponta-se, mesmo que brevemente, as limitações em que um cristão adventista é submetido em razão de sua fé, e efetua-se uma análise de documentos legais e legislação referentes a doutrina e aos direitos garantidos pela CF/88 e legislação correspondente à liberdade religiosa no Estado brasileiro.

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2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DA DOUTRINA ADVENTISTA

Neste capítulo a abordagem será voltada à doutrina da Igreja Adventista do Sétimo Dia que é uma denominação cristã restauracionista, trinitariana, sabatista, mortalista, não cessacionista, que se difere das demais pela observância do sábado como o dia do Senhor, e dia de descanso, o sétimo dia da semana judaico-cristã - sabbath- e por sua ênfase e influência vindo do judaísmo em sua doutrina, e na segunda vinda de Jesus.

Destaca-se que esse recorte se faz necessário, para compreensão da importância que a “guarda sabática” tem para os Adventistas do Sétimo Dia. Não se pretende enfocar o assunto descolado da pesquisa científica, pois o objetivo é demonstrar que bem antes da ciência jurídica, a religião sempre esteve presente na vida das pessoas.

Sabe-se que não será uma tarefa fácil, mas entende-se que é possível, uma vez que os textos bíblicos podem ser relacionados com a liberdade de religião e culto, direitos consagrados na Constituição Federal de 1988.

Neste sentido, o pesquisador e farmacêutico Dr. Luiz Pianowski, que trabalha em uma pesquisa desenvolvendo um medicamento que pode ajudar na cura da Aids, em recente entrevista a um renomado meio de comunicação de editorial evangélico- Gospelprime, acredita que a própria ciência vai mostrando tudo o que Deus fez e faz, mesmo que a comunidade científica Ou seja, para ele

Fé e ciência coexistem e apesar de muitos estudiosos confrontarem as duas áreas, cada vez mais encontramos cientistas cristãos que não negam suas crenças em Deus e nem encontram motivos para desistir da fé (PIANOWSKI, 2019, s.p).

Na verdade, para os cientistas religiosos, a fé e a ciência andam juntas e mesmo eu haja um preconceito velado, mas para Pianowski (2019, s.p).

O que acontece é que temos muitos cientistas cristãos que temem se declararem. Eu entendo que a questão não é fazer com que eles coexistam e sim, deixar que a própria ciência vá mostrando tudo o que Deus fez e faz

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de uma maneira ou outra. Gosto muito de uma frase atribuída a Einstein: “Cada descoberta nova da ciência é uma porta nova pela qual encontro mais uma vez Deus, o autor dela”.

Desse modo, observa-se que a maior parte da doutrina adventista corresponde aos ensinamentos cristãos tradicionais como a trindade; a infalibilidade bíblica; protestantes como a justificação pela fé; a salvação por meio da graça; o batismo por imersão; seu sacrifício na cruz; a ressurreição; ascensão e segunda vinda.

A doutrina adventista é basicamente baseada nas escrituras sagradas, onde evidencia a vida que Cristo teve na Terra, expõe a humanidade e revela a Deus, revelando a condição humana, mostrando a solução divina. O adventismo coloca como foco principal a vida de Cristo e os ensinamentos d’Ele, como maior base nos dez mandamentos.

As escrituras sagradas, o antigo e o novo testamento, são a palavra de Deus escrita, dada por inspiração divina por intermédio de Santos homens de Deus que falaram e escreveram ao serem movidos pelo Espírito Santo. … As Escrituras sagradas são a infalível revelação de Sua vontade. Constituem o padrão de caráter, a prova da experiência, o autorizado revelador de doutrinas e o registro fidedigno dos atos de Deus na história. - Crenças Fundamentais, 1.

A doutrina adventista representa a linha de orientação para os cristãos, tanto na saúde por sua compreensão indivisível entre o corpo, mente e alma, como também a promoção dos princípios morais e estilo de vida conservador. Além destas orientações, a doutrina se encontra em 6 divisões onde cada uma delas mostra detalhadamente a crença, sendo elas: a doutrina de Deus; a doutrina do homem; a doutrina da salvação; a doutrina da igreja; a doutrina da vida cristã e a doutrina dos últimos eventos. Cada um desses pontos da doutrina mostra mais detalhadamente o que cada um representa.

Na doutrina de Deus engloba as Escrituras Sagradas; a trindade; Deus Pai; Deus Filho e Deus Espírito Santo. Referente à doutrina do Homem, engloba a criação e a natureza do Homem. Na doutrina da salvação encontra o grande conflito; Vida, Morte e Ressurreição de Cristo; a Experiência da Salvação. Relacionado a doutrina da Igreja encontra a estrutura da Igreja; O Remanescente e Sua Missão; Unidade no Corpo de Cristo; O Batismo; A Ceia do Senhor; Dons e Ministérios

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Espirituais; O Dom de profecia. A doutrina da vida cristã, onde vai englobar A Lei de Deus e a questão do Sábado, onde ambas serão analisadas mais profundamente mais adiante; Mordomia; Conduta Cristã; Matrimônio e Família. E finalmente a doutrina dos Últimos Eventos, englobando O Ministério de Cristo no Santuário Celestial; A Segunda vinda de Cristo; Morte e Ressurreição; O Milênio e o Fim do Pecado e por último, A Nova Terra.

Pode-se dizer, sem sombra de dúvida que as Escrituras Sagradas fundamentam a doutrina Adventista que têm Deus pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo como a trindade que lhes dá apoio espiritual e, por isso que é de suma importância para os fiéis/estudantes de instituições públicas e privadas a conhecerem para que possam junto a estas reivindicar seus direitos e gozar da guarda sabática.

Neste ponto é que se objetiva desenvolver os fundamentos jurídicos e verificar como tem sido o resguardo dos direitos a liberdade de culto e de religião em ambos os aspectos: jurídico e religioso.

2.1 Fundamentos jurídicos e bíblicos da guarda sabática

A Constituição Federal de 1988, também denominada como Lei suprema do nosso país, na qual consta estabelecido a estrutura e organização do Estado, bem como contempla as normas fundamentais, dentre elas os direitos e garantias individuais e coletivas de todos os cidadãos brasileiros e estrangeiros residentes no país.

Em se tratando de normas fundamentais, destacam-se os princípios fundamentais, que se encontram inseridos no Título I “Dos Princípios Fundamentais”, no qual consagra no art. 1º da CF/88, os fundamentos republicanos e democráticos como a base para a sociedade brasileira, sendo que em seu inciso III contempla o princípio da dignidade da pessoa humana, o qual possui alcance universal.

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E se tratando de dignidade da pessoa humana em meio a limitação à crença ou a limitação na tolerância religiosa, vai em oposição ao que a Carta Magna assegura como princípio e direito subjetivo. Assim sendo, o direito de crença e de exercício é fundamental tanto para a liberdade religiosa como também para a dignidade da pessoa humana. Neste sentido o texto constitucional expõe que:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

[...]

III - a dignidade da pessoa humana; [...]

Ainda com base nos princípios fundamentais, logo adiante na CF/88, em seu Título II os “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, Capítulo I “Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos”, encontra-se o 5º, o qual estabelece a igualdade de todos perante a lei. Dentre todos os incisos ao longo do art. 5º, os incisos VI, VII e VIII são essenciais para se compreender a garantia, tanto da liberdade de crença, de culto como também da prestação de assistência religiosa nas entidades da sociedade. Observa-se que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

[...]

Deste modo é inviolável a liberdade de consciência e de crença, assim sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantias na forma da lei, e ainda proteção aos locais de culto e a liturgia. Ainda, mencionando o artigo 19, inciso I, o qual veda ao Estado a estabelecer cultos a ele subordinados. Veja-se:

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Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;

[...]

Não se pode deixar de mencionar que a CF/88 assegura o direito à liberdade religiosa, mas, bem antes de sua promulgação, a Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada em 10 de dezembro de 1948, afirma que em seu artigo 18 que:

Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos (DUDH, 1848).

Constata-se que esse documento internacional e universal garante à liberdade de pensamento, incluindo o direito de mudar de crença, religião, tanto no individual como no coletivo.

Por outro lado, pode-se, ainda, citar a Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e Discriminação Fundadas na Religião ou nas Convicções, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 25 de novembro de 1981 - Resolução 36/55, onde assegura este direito como base em princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas, onde inicia com esse princípio já em seu preâmbulo.

A Assembleia Geral (sic),

Considerando que um dos princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas é o da dignidade e o da igualdade própria a todos os seres humanos, e que todos os Estados membros se comprometeram em tomar todas as medidas conjuntas e separadamente, em cooperação com a Organização das Nações Unidas, para promover e estimular o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e as liberdades fundamentais de todos, sem distinção de raça, sexo, idioma ou religião.

Considerando que na Declaração Universal de Direitos Humanos e nos Pactos Internacionais de Direitos Humanos são proclamados os princípios de não discriminação e de igualdade diante da lei e o direito à liberdade de pensamento, de consciência, de religião ou de convicções.

Considerando que o desprezo e a violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, em particular o direito a liberdade de pensamento, de consciência, de religião ou de qualquer convicção, causam direta ou indiretamente guerras e grandes sofrimentos à humanidade, especialmente nos casos em que sirvam de meio de intromissão estrangeira nos assuntos

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