Acórdão 10a Turma
INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE DANO MORAL. ACIDENTE DO TRABALHO. CULPA DO EMPREGADOR. O pagamento de
indenização decorrente de danos morais, em geral,
exige que estejam
comprovados o prejuízo causado ao demandante, a conduta culposa e o nexo causal entre ambos. Adota-se, portanto, a teoria da culpa subjetiva, cabendo à obreira demonstrar que o empregador concorreu com culpa para a ocorrência do acidente.
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário nº TRT-RO-0135500-92.2008.5.01.0070, em que são partes: DAIANE DA SILVA DE ASSUMPÇÃO, como recorrente e SHOULDER INDÚSTRIA E COMÉRCIO E CONFECÇÕES LTDA. como recorrido.
VOTO:
I - R E L A T Ó R I O
Trata-se de Recurso Ordinário interposto, pela obreira às folhas 140/143, em face da r. decisão proferida, às folhas 136/138, pelo MM. Juiz do Trabalho Francisco Antônio de Abreu Magalhães, da 70ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou o pedido improcedente.
Emenda à inicial às folhas 90/91 Contestação às folhas 112/119.
Realizadas audiências, conforme atas de folhas 89, 107/108 e 135.
Decisão indeferindo a antecipação de tutela à folha 51.
Sustenta a recorrente que não obstante a prova testemunhal produzida pela recorrente não tenha sido contundente, ratificou os fatos narrados na inicial, requerendo a reforma da decisão de primeira instância para que a ação seja julgada procedente.
Contra-razões às folhas 149/156.
Sem preparo, ante a gratuidade de justiça deferida à obreira à folha 138.
Os autos não foram remetidos à Douta Procuradoria do Trabalho por não ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar no. 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT/1ª Reg. nº 27/08-GAB., de 15.01.2008.
É o relatório.
II - F U N D A M E N T A Ç Ã O 1. CONHECIMENTO
Conheço do recurso, por presentes os pressupostos
de admissibilidade.
2. NO MÉRITO
2.2. DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS
Sustenta a recorrente que “embora a prova testemunhal produzida pela recorrente não tenha sido contundente”, foram ratificados os fatos adunados na inicial, quais sejam, o fato da obreira ter se acidentado carregando roupas e que não havia proteção suficiente na escada. Aduz que
a responsabilidade da recorrida decorre da inobservância das normas de segurança dos funcionários, devendo haver a reparação dos danos morais e materiais sofridos.
O Juízo de primeiro grau, à folha 137, indeferiu o pedido de pagamento de indenização pelo acidente sofrido pela empregada, por entender que a prova testemunhal produzida não comprovou a culpa da reclamada pelo acidente que vitimou a reclamante, sendo que as fotografias de folhas 82/83 comprovam que a escada onde ocorreu o acidente possui corrimão e é emborrachada, não sendo, portanto, a empresa negligente com a segurança de seus empregados. Diante da ausência de culpa, julgou improcedente o pedido para pagamento de indenização por danos morais e materiais.
Na inicial (folha 05), a recorrente aduz que aos 11 de março de 2008 sofreu uma queda na escada da empresa reclamada. Sustentou que o acidente ocorreu pela ausência de antiderrapantes, e porque carregava uma grande quantidade de peças de roupas, não tendo tempo de se segurar no corrimão, sendo que escorregou do oitavo degrau até o chão da loja. Relata que sucederam diversas irregularidades no atendimento médico, e que teria chegado no Hospital Lourenço Jorge as 18:30h.
Na emenda de folhas 90/91, relata outros gastos despendidos com o tratamento, e também que teria sido considerada apta para o trabalho pelo INSS. Junta as fotografias da escada da recorrida às folhas 92/93.
A recorrida sustentou em defesa, em síntese, que suas escadas possuem anti aderentes, e que a obreira não estava carregando peças de roupa enquanto descia as escadas, tendo o feito para tomar medicação por estar se sentindo mal, sendo que, ainda que tivesse carregando excessivo volume de roupas, o acidente seria por sua culpa exclusiva, por não ter tomado as precauções devidas, além do que esta conduta jamais lhe fora imposta pela empregadora.
O dano moral representa uma violação à dignidade do indivíduo, a qual engloba os direitos à honra, ao nome, à
intimidade, à privacidade e à liberdade. Não necessariamente será observada a dor, humilhação, ou qualquer reação psíquica. A ofensa à dignidade do indivíduo deve ser tal que justifique a concessão de alguma reparação.
O Código Civil adotou dois sistemas de responsabilidade civil para reparação do dano, quais sejam, a responsabilidade civil subjetiva e a responsabilidade civil objetiva. O sistema geral, previsto no caput do artigo 927 do Código Civil, é o da responsabilidade civil subjetiva, que se funda na teoria da culpa, ou seja, para que seja gerada a obrigação de indenizar é necessário o preenchimento concomitante dos seguintes requisitos: existência do dano, o nexo de causalidade entre o fato e o dano e a culpa do agente. Já a responsabilidade civil objetiva, que se funda na teoria do risco, afasta a conduta culposa no agente, o que gera a obrigação de indenizar se ficar comprovado o dano e o nexo causal (artigo 827, parágrafo único, do Código Civil).
O pagamento de indenização por danos morais, em geral, exige que estejam comprovados o prejuízo causado à demandante, a conduta culposa e o nexo causal entre ambos.
As testemunhas do juízo prestaram informações totalmente divergentes entre si no que se refere à forma e motivo ao qual a obreira descia as escadas.
A testemunha do juízo, à folha 133, presta os seguintes esclarecimentos:
“que não se recorda exatamente a hora, mas acha que a reclamante caiu da escada por volta das 20:00 horas; que a reclamante caiu quando descia com várias peças de roupa para a loja; que a escada tem piso emborrachado e corrimão; que há uma proteção de alumínio no degrau, que não estava bem presa, que, na verdade, apenas nos primeiros degraus de cima para baixo essa proteção não estava bem presa; que ouviu o barulho e correu para ver o que ocorrera e encontrou a reclamante já caída; que não tem como dizer em qual degrau a reclamante tropeçou; (…) que não sabe ao certo quantas peças a reclamante carregava no momento da queda, mas
eram muitas; que já presenciou outras pessoas caírem da escada, mas a queda não teve as proporções daquela vivenciada pela reclamante; (…) que a loja comercializa roupas e acessórios femininos; que roupas são transportadas pelas vendedoras já desembrulhadas nas mãos”.
Já a segunda testemunha ouvida, cujo depoimento encontra-se transcrito à folha 134 relata que
“todas as proteções de alumínio dos degraus estavam persas; que não tem notícia que algum outro empregado tenha caído da escada; que à época dos fatos a depoente era vendedora e estava na loja no momento da queda da reclamante; (…) que a reclamante trabalhava no estoque; que não era atribuição da reclamante subir e descer escada transportando roupa para a loja; que esse trabalho era das vendedoras; que a reclamante trabalhava repondo roupas no estoque; que a reclamante não estava com nenhuma peça de roupa no momento da queda; (…) que a loja não tem um movimento muito grande; que a reclamante comentou com a depoente que estava descendo a escada para tomar um remédio; (…) que o caminhão chegava as 8h00 e a reclamante trabalhava à tarde, de sorte que ela não ajudava no transporte das mercadorias”.
A valoração da prova é regida pelo princípio do livre convencimento motivado. O ordenamento processual concede ao órgão jurisdicional a possibilidade de livre apreciação da prova desde que explicite os motivos que o levaram às suas conclusões. É o disposto no artigo 131 do CPC. Por conseguinte, ninguém melhor do que o juiz que colheu a prova oral para aferir a sua credibilidade.
No presente caso, a própria recorrente admite em suas razões recursais que o depoimento de sua testemunha não foi contundente, além do que, admite na parte final que o papel de transportar as roupas é das vendedoras, e não da estoquista, em consonância com o informado em Defesa e confirmado pela segunda testemunha do juízo.
As fotografias juntadas pela obreira às folhas 82/83 comprovam que a escada em que ocorreu o acidente era
emborrachada, com corrimões e revestidas nos cantos por alumínio, sem qualquer indício de que o alumínio estaria deteriorado, até porque, não foi esta a tese explicitada na inicial.
Outrossim, a obreira relata na inicial que estava descendo a escada, e se acidentou no 8º degrau. A fotografia de folha 82 atesta que a escadaria possuía cerca de 14 degraus, e portanto a recorrente estaria no meio da escada, e não nos degraus iniciais ou finais.
Como bem salientado pelo r. juízo a quo, a obreira não comprovou a culpa da recorrida no acidente de trabalho ocorrido, devendo ser mantida a sentença recorrida.
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
III - D I S P O S I T I V O
ACORDAM os Desembargadores que compõem a 10ª Turma
do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, em conhecer do recurso e, no mérito, por unanimidade, nega-lhe provimento, nos termos do voto do Exmo. Sr. Desembargador Relator.
Rio de Janeiro, 29 de setembro de 2010.