Notas para o acompanhamento da
1a. e 2a. partes
das aulas de
C´
alculo Diferencial e Integral 3
Estat´ıstica
Sum´
ario
1 Fun¸c˜oes Reais de V´arias Vari´aveis Reais 5
1.1 Uma R´apida Apresenta¸c˜ao dos Diversos Tipos de Fun¸c˜oes. . . 5
1.2 Fun¸c˜oes Reais de V´arias Vari´aveis Reais: dom´ınio, contra-dom´ınio, imagem e gr´afico . . . 7
1.3 Uma Brev´ıssima Revis˜ao das Equa¸c˜oes Reduzidas das principais Superf´ıcies Qu´adricas . . . 9
1.4 Curvas de Contorno, Curvas de N´ıvel e Superf´ıcies de N´ıvel . . . 12
Se¸c˜ao de Exerc´ıcios Propostos: Fun¸c˜oes f:X⊂Rm →R . . . . 17
2 Limites e Continuidade de Fun¸c˜oes Reais de V´arias Vari´aveis Reais 19 2.1 Limites de Fun¸c˜oes Reais de V´arias Vari´aveis Reais . . . 19
2.2 Continuidade em Fun¸c˜oes Reais de V´arias Vari´aveis Reais . . . 22
Se¸c˜ao de Exerc´ıcios Propostos: Limites de Fun¸c˜oes f:X⊂Rm→R . . . . 24
3 Deriva¸c˜ao de Fun¸c˜oes Reais de V´arias Vari´aveis Reais 25 3.1 Derivadas Parciais . . . 25
3.2 Plano Tangente a Gr´afico de Fun¸c˜oes de Duas Vari´aveis . . . 27
3.3 Derivadas Parciais de Ordem Superior . . . 30
3.4 Regra da Cadeia . . . 31
3.5 Deriva¸c˜ao Parcial Impl´ıcita . . . 33
3.6 Incrementos e Diferenciais . . . 34
Se¸c˜ao de Exerc´ıcios Propostos: Deriva¸c˜ao de Fun¸c˜oes f:X⊂Rm→R . . . . 38
4 Aplica¸c˜oes de Derivadas de Fun¸c˜oes Reais de V´arias Vari´aveis Reais 41 4.1 Derivada Direcional e Vetor Gradiente . . . 41
4.2 Interpreta¸c˜ao Geom´etrica do Vetor Gradiente . . . 44
4.3 O Vetor Gradiente como Vetor Normal a Curva ou Superf´ıcie . . . 45
4.4 M´aximos e M´ınimos de Fun¸c˜oes de Duas Vari´aveis . . . 47
4.5 O Teste da Derivada Segunda para Fun¸c˜oes de Duas Vari´aveis . . . 50
4.6 Problemas de Otimiza¸c˜ao . . . 51
4.7 Multiplicadores de Lagrange . . . 56
Se¸c˜ao de Exerc´ıcios Propostos: Aplica¸c˜oes de Derivadas de Fun¸c˜oes f:X⊂Rm→R . . . . 59
5 Integrais M´ultiplas 61 5.1 Integrais Duplas . . . 61
5.2 Integrais Duplas Sobre Regi˜oes mais Gerais . . . 63
5.3 Area por Integra¸c˜´ ao Dupla . . . 66
5.4 Integrais Duplas em Coordenadas Polares . . . 67
5.5 Integrais Triplas . . . 72
5.6 Integrais Triplas em Coordenadas Cil´ındricas . . . 74
5.7 Integrais Triplas em Coordenadas Esf´ericas . . . 76
Se¸c˜ao de Exerc´ıcios Propostos: Integrais M´ultiplas . . . 81
Cap´ıtulo 1
Fun¸
c˜
oes Reais de V´
arias Vari´
aveis Reais
Neste cap´ıtulo apresentamos as chamadas fun¸c˜oes reais de v´arias vari´aveis reais, que s˜ao fun¸c˜oes cujo dom´ınio est´a em Rm, com m≥ 2, e o contradom´ınio ´e R. Tais fun¸c˜oes s˜ao, costumeiramente, indicadas por f : X⊂Rm → Re
ditas, de forma simplificada,fun¸c˜oes de v´arias vari´aveis.
Embora a teoria envolvendo tais fun¸c˜oes possa ser feita sempre comm∈N, m≥2, vamos trabalhar
predominante-mente com m=2 e, em algumas situa¸c˜oes, comm=3. Essas restri¸c˜oes se devem ao grande n´umero de aplica¸c˜oes pr´aticas que esses casos apresentam. Entretanto, o leitor n˜ao ter´a dificuldade alguma para generalizar os diversos conceitos que ser˜ao estudados para uma dimens˜aommaior.
Al´em da apresenta¸c˜ao das fun¸c˜oes de v´arias vari´aveis, vamos introduzir neste cap´ıtulo oslimitesde tais fun¸c˜oes, que ´e o conceito essencial para a introdu¸c˜ao dasderivadas parciais e dasderivadas direcionais (veremos isso no Cap´ıtulo 3). Al´em disso, associado ao conceito de limite de fun¸c˜oes de v´arias vari´aveis temos, tamb´em, o importante conceito de continuidade de tais fun¸c˜oes. Diversos resultados matem´aticos envolvendo otimiza¸c˜ao est˜ao associados `a continuidade, da´ı a importˆancia pr´atica de tal conceito.
Antes de apresentarmos a defini¸c˜ao formal de fun¸c˜aof:X⊂Rm →R, vejamos na se¸c˜ao abaixo, sem muito compro-misso com o rigor matem´atico, os diversos tipos de fun¸c˜oes que costumam surgir nos textos deC´alculo Diferencial e Integral.
1.1
Uma R´
apida Apresenta¸
c˜
ao dos Diversos Tipos de Fun¸
c˜
oes.
(1)NoC´alculo Diferencial e Integral 1geralmente estudamos fun¸c˜oes do tipo f:X⊂R→R, y=f(x),
que s˜ao fun¸c˜oes reais de uma vari´avel real. Geralmente, os gr´aficos de fun¸c˜oes dessa natureza s˜ao curvas no plano cartesiano. Por exemplo,f(x) =x2comx∈R, cujo gr´afico ´e uma par´abola.
R
x
R
y= ( )f x f
X
x y
gráfico def x( ) =x2
(2)Fun¸c˜oes do tipo
f :X⊂R→R2,f(t) = (x(t), y(t)),
R
t
R2
f t( ) = ( ( ), ( ))x t y t f
X
x y
imagem de f t( ) = (cos t sen t( ), ( )) x
y
1
x t( ) y t( )
(3)Fun¸c˜oes do tipo
f :X⊂R→R3,f(t) = (x(t), y(t), z(t)),
s˜ao fun¸c˜oes vetoriais reais no espa¸co, de uma vari´avel real. Tamb´em n˜ao ´e costume analisar os gr´aficos de fun¸c˜oes desse tipo, mas sim, seus conjuntos imagens, que geralmente s˜ao curvas no espa¸co cartesiano. Por exemplo, f(t) = (cos(t),sen(t), t)comt∈R, cuja imagem ´e uma h´elice circular de raio1com eixo no eixo cartesianoz.
R
t
R3
f t( ) = ( ( ), ( ), ( ))x t y t z t f
X
x t( )
y t( )
y z
x
z t( )
y z
x
imagem de
f t( ) = (cos t sen t t( ), ( ), )
(4)Fun¸c˜oes vetoriais reais de uma vari´avel podem ser generalizadas para espa¸cos de dimens˜oes arbitr´arias, ou seja, f :X⊂R→Rn,f(t) = (x1(t), . . . , xn(t)).
Essas fun¸c˜oes s˜ao chamadas de fun¸c˜oes vetoriais reais no espa¸co cartesiano Rn, de uma vari´avel real.
Frequentemente, tais fun¸c˜oes s˜ao tamb´em chamadas decaminhos (ou curvas) no espa¸co Rn.
(5)Fun¸c˜oes do tipo
f:X⊂R2→R,z=f(x, y),
s˜ao fun¸c˜oes reais de duas vari´aveis reais. Geralmente, os gr´aficos de tais fun¸c˜oes s˜ao superf´ıcies no espa¸co cartesiano. Por exemplo, f(x, y) =p25−x2−y2, com (x, y)em um disco com centro na origem e raio 5 no plano cartesiano, possui por gr´afico uma semiesfera de raio5 e centro na origem do espa¸co cartesiano.
R
f
gráfico de
f x y( , ) = 25 -x2-y2
x y
R2
X
( , )x y
z= ( , )f x y y
z
x
R3
5
(6)Fun¸c˜oes do tipo
f:X⊂R3→R,w=f(x, y, z),
s˜ao fun¸c˜oes reais de trˆes vari´aveis reais. N˜ao ´e costume analisar os gr´aficos de fun¸c˜oes desse tipo, mas sim, determinados subconjuntos de seu dom´ınio, chamados de pr´e-imagem ouimagem inversa. Por exemplo,f(x, y, z) =
x2+y2+z2com(x, y, z)∈R3, possui como pr´e-imagem de25uma esfera de raio 5com centro na origem do espa¸co cartesiano. Essa an´alise ´e feita considerando os pontos(x, y, z)∈R3tais quef(x, y, z) =25.
R
f
pré-imagem de pela função dada por
25
f x y( , ,z)= x2+y2+z2 X
w= ( , , )f x y z y
z
x R3
5
5 5
y z
x R3
( , , )x y z
(7)Fun¸c˜oes reais de duas ou trˆes vari´aveis reais podem ser generalizadas para espa¸cos de dimens˜oes arbitr´arias, ou seja,
f:X⊂Rm→R,y=f(x1, . . . , xm).
S˜ao asfun¸c˜oes reais de v´arias vari´aveis reais, ditas, de forma simplificada,fun¸c˜oes de v´arias vari´aveis.
(8)Por fim, podemos considerar asfun¸c˜oes vetoriais reais de v´arias vari´aveis reais, ou seja, fun¸c˜oes f:X⊂Rm →Rn,f(t1, . . . , tm) = (x1(t1, . . . , tm), . . . , xn(t1, . . . , tm)).
O caso mais comum de fun¸c˜oes dessa natureza ocorre quando m = 2 e n = 3. Neste caso, ´e comum escrevemos f(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)) e o conjunto imagem de tais fun¸c˜oes ´e geralmente uma superf´ıcie, chamada de superf´ıcie parametrizada.
Como j´a dito, nosso objetivo ´e estudarmos as fun¸c˜oes do Item(7). Notadamente nos casos particulares dos Itens(5)
e(6).
1.2
Fun¸
c˜
oes Reais de V´
arias Vari´
aveis Reais: dom´ınio, contra-dom´ınio,
imagem e gr´
afico
Abaixo seja a defini¸c˜ao formal de fun¸c˜oes de v´arias vari´aveis.
Uma fun¸c˜ao real f de v´arias vari´aveis reais ´e uma regra, geralmente dada por uma express˜ao anal´ıtica, que associa cada elemento de um conjunto n˜ao vazioX⊂Rm,m∈N,m≥2, a um ´unico n´umero real. O conjuntoX ´e chamado de dom´ıniodef, enquanto que R´econtradom´ıniodef.
Indicamos a fun¸c˜aof porf:X⊂Rm→Rou , de forma mais rigorosa:
f: X⊂Rm −→ R
(x1, . . . , xm) 7−→ f(x1, . . . , xm)
O n´umero real z= f(x1, . . . , xm)´e chamado de imagem do elemento (x1, . . . , xm) ∈X pela fun¸c˜ao f. Todos os n´umeros reais que s˜ao imagens de algum elemento do dom´ınio def formam o chamadoconjunto imagem def. O conjuntoG(f) =(x1, . . . , xm, z)∈Rm+1: (x1, . . . , xm)∈Xe z=f(x1, . . . , xm) ´e chamado degr´aficodef.
R
f
gráfico de
superfície em
f z f x y
: = ( , ) R3 x
y
R2
X
( , )x y z= ( , )f x y
y z
x R3
XÌR2:domínio def m=2
z
x y f
Î
: ( , )imagem
de por
R R:contradomínio def
x y
z
Observa¸c˜oes.
(1)O casom=2 ´e de especial interesse, pois o gr´afico G(f) =(x, y, z)∈R3: (x, y)∈Xez=f(x, y) de f´e uma superf´ıcie no espa¸co cartesiano (veremos v´arios exemplos adiante). Tal superf´ıcie ´e obtida da equa¸c˜ao cartesiana nas vari´aveisx,yez dada porz=f(x, y). Al´em disso, no espa¸co cartesiano onde representamos o gr´afico de ftamb´em representamos o seu dom´ınio X, no planoxy, e o seu contradom´ınio R, como sendo o eixo z.
y z
x
G f( ) ( , , ( , ))x y f x y
( , )x y X
z= ( , )f x y
domínio contradomínio
gráfico
(2) Quando m = 3 temos G(f) = (x, y, z, w)∈R4: (x, y, z)∈Xew=f(x, y, z) como subconjunto de R4 e n˜ao temos como visualiz´a-lo no espa¸co tridimensional.
(3)Quando o dom´ınio a ser considerado para uma fun¸c˜aoffor o maior poss´ıvel, indicamos a fun¸c˜ao apenas pela sua express˜ao anal´ıtica. Por exemplo, f(x, y) = x2+y2 significa que o dom´ınio de f ´e todo o R2. Tais dom´ınios s˜ao chamados dedom´ınios m´aximos oudom´ınios maximais def. Geralmente, quando nada ´e dito a respeito do dom´ınio de uma fun¸c˜ao, consideramos como sendo m´aximo.
Exemplo 1.1 Qual ´e o maior dom´ınio poss´ıvel para f:X⊂R2→R, dada por f(x, y) =p
25−x2−y2?
Para que z= f(x, y) seja um n´umero real devemos ter 25−x2−y2≥0, ou seja, x2+y2≤52 que representa um disco de raio 5 com centro na origem do plano cartesiano.
x
domínio ( , )x y y
x y
5 5
-5
-5
Logo, o maior dom´ınio X⊂R2poss´ıvel para f´e um disco de raio 5 com centro na origem do plano cartesiano.
Exemplo 1.2 Encontremos o maior dom´ınio poss´ıvel da fun¸c˜ao f:X⊂R3→R, dada por f(x, y, z) = √x+y+z x2+y2+z2.
Devemos ter x2+y2+z2> 0para que f(x, y, z)seja n´umero real. Logo, devemos excluir de X⊂R3 pontos (x, y, z) tais que x2+y2+z2≤0. Mas o ´unico ponto de R3 que satisfaz x2+y2+z2≤0 ´e(x, y, z) = (0, 0, 0). Logo,
X=(x, y, z)∈R3: (x, , y, z)6= (0, 0, 0) =R3−{(0, 0, 0)} ´e constitu´ıdo pelo espa¸co cartesiano menos a origem.
Exemplo 1.3 Encontremos o maior dom´ınio poss´ıvel da fun¸c˜ao f:X⊂R2→R, dada por f(x, y) = √ y y−x2.
Devemos ter y−x2> 0, ou seja,y > x2. Logo,
X=(x, y)∈R2:y > x2
´e constitu´ıdo pelos pontos “interiores” `a par´abola de equa¸c˜ao y=x2 no plano cartesiano.
x
( , )x y y
Exemplo 1.4 Esbocemos o gr´afico de f:X⊂R2→R, dada por f(x, y) =p
25−x2−y2.
Vimos, no Exemplo 1.1 acima, que o maior dom´ınio poss´ıvel para f´e o disco de raio 5com centro na origem do plano cartesiano.
De z=f(x, y) =p25−x2−y2 temos z2=25−x2−y2, ou seja,x2+y2+z2=52, que ´e a equa¸c˜ao cartesiana de uma esfera com centro na origem e raio 5.
Mas z=f(x, y)≥0. Logo, o gr´afico de f´e uma semiesfera de raio 5com centro na origem localizada acima do plano xy no espa¸co cartesiano.
gráfico (semiesfera)
y z
x R3
5
5 5
domínio (disco)
Outra observa¸c˜ao importante: Nem sempre utilizamos as tradicionais letrasf, xeypara representar uma fun¸c˜ao de duas vari´aveis. Por exemplo, o volume de um cone pode ser expresso em fun¸c˜ao de sua altura e do raio de sua base, ou seja, V= 1
3πr
2h pode ser escrito como fun¸c˜ao: V(r, h) = 1 3πr
2hno lugar def(x, y) = 1 3πx
2y.
h
r
1.3
Uma Brev´ıssima Revis˜
ao das Equa¸
c˜
oes Reduzidas das principais
Superf´ıcies Qu´
adricas
Para trabalharmos mais facilmente com alguns exemplos de gr´aficos de fun¸c˜oes de duas vari´aveis, fa¸camos uma pequena revis˜ao das principais equa¸c˜oes reduzidas das superf´ıcies qu´adricas vistas na disciplinaGeometria Analitica.
(1)Elips´oidecom centro na origem e eixos paralelos aos eixos coordenados. Equa¸c˜ao reduzida:
x2 a2 +
y2 b2 +z
2 c2 =1 , sendoa,b, ecconstantes positivas.
Observa¸c˜oes:
(i)quandoa=b,a=coub=c o elips´oide ´e circular, ou seja, uma superf´ıcie de rota¸c˜ao.
(2)Hiperbol´oide de uma folhacom eixoze centro na origem. Equa¸c˜ao reduzida:
x2 a2 +
y2 b2 −z
2 c2 =1 , sendoa,b, ecconstantes positivas.
Observa¸c˜oes:
(i)quandoa=bo hiperbol´oide de uma folha ´e circular, ou seja, uma superf´ıcie de rota¸c˜ao.
(ii)o hiperbol´oide de uma folha com eixoye centro na origem possui equa¸c˜ao x2 a2 −
y2 b2 + z
2
c2 =1, enquanto que o de eixo xpossui equa¸c˜ao−x2
a2+ y2 b2 + z
2 c2 =1.
(3)Hiperbol´oide de duas folhascom eixoze centro na origem. Equa¸c˜ao reduzida:
−x2 a2−
y2 b2 +
z2 c2 =1 , sendoa,b, ecconstantes positivas.
Observa¸c˜oes:
(i)quandoa=bo hiperbol´oide de duas folhas ´e circular, ou seja, uma superf´ıcie de rota¸c˜ao.
(ii)o hiperbol´oide de duas folhas com eixo ye centro na origem possui equa¸c˜ao−ax22 + y2 b2 −
z2
c2 =1, enquanto que o de eixo xpossui equa¸c˜ao x2
a2 − y2 b2 −z
2 c2 =1.
(4)Parabol´oide el´ıpticocom eixoze v´ertice na origem. Equa¸c˜ao reduzida:
z c =
x2 a2+
Observa¸c˜oes:
(i)quandoc > 0temos a convavidade do parabol´oide el´ıptico para cima e, quandoc < 0, para baixo.
(ii)quandoa=bo parabol´oide el´ıptico ´e circular, ou seja, uma superf´ıcie de rota¸c˜ao.
(iii) o parabol´oide el´ıptico com eixoy e centro na origem possui equa¸c˜ao yb = x2 a2 + z
2
c2, enquanto que o de eixo x possui equa¸c˜ao x
a= y2 b2 + z
2 c2.
(5)Parabol´oide hiperb´olico com eixoze centro na origem. Equa¸c˜ao reduzida:
z c =
x2 a2 −
y2
b2 ou zc = −x 2 a2 +
y2 b2 , sendoaebconstantes positivas ec6=0.
Observa¸c˜ao: o parabol´oide hiperb´olico com eixoye centro na origem possui equa¸c˜ao yb= x2 a2 −z
2 c2 ou
y b= −
x2 a2+z
2 c2, enquanto que o de eixo xpossui equa¸c˜ao x
a = y2 b2 −z
2
c2 ou xa = − y2 b2 +z
2 c2.
(6)Cone el´ıpticode eixo ze v´ertice na origem. Equa¸c˜ao reduzida:
z2= x2 a2+
Observa¸c˜oes:
(i)quandoa=bo cone el´ıptico ´e circular, ou seja, uma superf´ıcie de rota¸c˜ao.
(ii) o cone el´ıptico com eixo y e v´ertice na origem possui equa¸c˜ao y2 = x2 a2 + z
2
c2, enquanto que o de eixo xpossui equa¸c˜aox2= yb22+ z
2 c2.
(7)Cilindro el´ıpticode eixoz. Equa¸c˜ao reduzida:
x2 a2 +
y2 b2 =1 , sendoaebconstantes positivas.
Observa¸c˜oes:
(i)quandoa=bo cilindro el´ıptico ´e circular, ou seja, uma superf´ıcie de rota¸c˜ao.
(ii)o cilindro el´ıptico com eixoypossui equa¸c˜ao x2 a2 +
z2
c2 =1, enquanto que o de eixoxpossui equa¸c˜ao y2 b2 +
z2 c2 =1.
1.4
Curvas de Contorno, Curvas de N´ıvel e Superf´ıcies de N´ıvel
Nesta sec¸c˜ao trabalhamos exclusivamente com fun¸c˜oes de duas e de trˆes vari´aveis.
As curvas de contorno do gr´afico de uma fun¸c˜ao de duas vari´aveis s˜ao ferramentas muito importantes para descrevermos o gr´afico de uma tal fun¸c˜ao. Essas curvas podem ser vistas, grosso modo, como resultado de “fatiamentos” que fazemos no gr´afico da fun¸c˜ao. ´E como se estiv´essemos submetendo o gr´afico a uma “tomografia”. Abaixo seguem as defini¸c˜oes formais.
Seja f:X⊂R2→Rfun¸c˜ao de duas vari´aveis.
Chamamos a intersec¸c˜ao do plano z= k, k ∈ R, com o gr´afico da fun¸c˜ao f de curva de contorno de altura (ou cota)k do gr´afico defrelativa ao eixoz.
A proje¸c˜ao ortogonal da curva de contorno de altura k no plano xy (plano z = 0) ´e chamada de curva de n´ıvel
f(x, y) =kda fun¸c˜ao frelativa ao eixo z.
y
z
x
G f( )
X
plano z=k k
curva de contorno de alturak
curva de nívelf x y k xy ( , ) = (projeção no plano )
Observa¸c˜oes.
(1)A equa¸c˜ao cartesiana de uma curva de n´ıvel de uma fun¸c˜aof relativa ao eixoz´e dada porf(x, y) =k.
Exemplo 1.5 Consideremos a fun¸c˜ao f:R2→Rdada por f(x, y) =x2+y2. Esbocemos algumas curvas de contorno no espa¸co cartesiano e algumas curvas de n´ıvel no plano cartesiano da fun¸c˜ao f.
Curvas de n´ıvel:
• (i)Fa¸camos z=k,k constante, para encontrarmos as curvas de n´ıvel f(x, y) =k de frelativas ao eixo z. Temos x2+y2=k como equa¸c˜ao de curvas de n´ıvel.
Para k < 0 n˜ao h´a solu¸c˜ao para a equa¸c˜ao acima.
Para k =0 temos apenas o ponto O= (0, 0)como solu¸c˜ao da equa¸c˜ao acima, que ´e uma curva de n´ıvel degenerada (em um ponto).
Para k > 0 temos x2+y2=√k2que ´e equa¸c˜ao de um c´ırculo de centro na origem e raio √k no plano xy. Na figura abaixo `a esquerda temos o mapa das curvas de n´ıvel f(x, y) =kde f, no plano xy, relativas ao eixo z.
x
x y
y
z z
• (ii) Fa¸camos y=k,k constante, para encontrarmos as curvas de n´ıvel f(x, k) =z de frelativas ao eixo y. Temos x2+k2=zcomo equa¸c˜ao de curvas de n´ıvel, ou seja,z=x2+k2 s˜ao par´abolas com concavidades para cima no plano xz.
Na figura acima ao centro temos o mapa das curvas de n´ıvel f(x, k) =zde f, no plano xz, relativas ao eixo y. • (iii) Fa¸camos x=k,kconstante, para encontrarmos as curvas de n´ıvel f(k, y) =zde f relativas ao eixo x. Temos k2+y2=z como equa¸c˜ao de curvas de n´ıvel, ou seja, z=y2+k2s˜ao par´abolas com concavidades para cima no plano yz.
Na figura acima `a direita temos o mapa das curvas de n´ıvel f(k, y) =zde f, no plano yz, relativas ao eixo x. Curvas de contorno:
• (i) A intersec¸c˜ao do plano z = k com o gr´afico de f ´e c´ırculo de raio √k, quando k > 0, e centro no ponto
(0, 0, k), contida no plano z=k. A figura abaixo `a esquerda ´e o esbo¸co de algumas dessas curvas de contorno.
x x x
y y
y
z z z
•(ii)A intersec¸c˜ao do plano y=k com o gr´afico de f´e uma par´abola com v´ertice em 0, k, k2
, concavidade para cima, contida no plano y=k. A figura acima ao centro ´e o esbo¸co de algumas dessas curvas de contorno.
• (iii) A intersec¸c˜ao do plano x = k com o gr´afico de f ´e uma par´abola com v´ertice em k, 0, k2
z=f(x, y)´e a equa¸c˜ao z=x2+y2. Entretanto, o m´etodo de determina¸c˜ao de curvas de n´ıvel ou curvas de contorno pode ser aplicado para qualquer fun¸c˜ao.
Na figura abaixo `a esquerda temos os trˆes tipos de curvas de contorno de f esbo¸cadas em um mesmo sistema de coordenadas. No centro temos as curvas de contorno esbo¸cadas junto com o gr´afico def e na direita apenas o gr´afico de f.
Na figura abaixo `a esquerda temos as curvas de contorno de frelativas ao eixo ze respectivas curvas de n´ıvel esbo¸cadas junto com o gr´afico de f. Ao centro e `a direita temos cada um dos outros dois tipos de curvas de contorno esbo¸cadas, separadamente, junto com o gr´afico de f.
Na figura abaixo temos uma vis˜ao dos fatiamentos do gr´afico de f por planos paralelos aos planos coordenados, cujas intersec¸c˜oes d˜ao origem `as curvas de contorno.
Observa¸c˜oes.
(1)Conforme observado no exemplo acima, por meio das curvas de contorno ou das curvas de n´ıvel de uma fun¸c˜ao f:X⊂R2→R´e poss´ıvel ter uma ideia do esbo¸co do gr´afico da fun¸c˜ao.
(2)Quando f:X⊂R3→Rn˜ao temos como visualizar as “superf´ıcies de contorno” (que s˜ao as an´alogas `as curvas de
Exemplo 1.6 Esbocemos o gr´afico de f:R2→Rdada por f(x, y) =y−x2. Curvas de n´ıvel:
• (i)Fa¸camos z=k,kconstante, para encontrarmos as curvas de n´ıvel f(x, y) =k de f relativas ao eixo z. Temos y−x2= k como equa¸c˜ao de curvas de n´ıvel, ou seja, y=x2+k s˜ao par´abolas com concavidades para cima no plano xy.
Na figura abaixo `a esquerda temos o mapa das curvas de n´ıvel f(x, y) =kde f, no plano xy, relativas ao eixo z.
x y
x
z z
y
• (ii)Fa¸camos y=k,k constante, para encontrarmos as curvas de n´ıvel f(x, k) =z de frelativas ao eixo y. Temos z=k−x2como equa¸c˜ao de curvas de n´ıvel, ou seja, z= −x2+k s˜ao par´abolas com concavidades para baixo no plano xz.
Na figura acima ao centro temos o mapa das curvas de n´ıvel f(x, k) =zde f, no plano xz, relativas ao eixo y. • (iii)Fa¸camos x=k,k constante, para encontrarmos as curvas de n´ıvel f(k, y) =z de frelativas ao eixo x. Temos z=y−k2 como equa¸c˜ao de curvas de n´ıvel, ou seja,z=y−k2 s˜ao retas no plano yz.
Na figura acima `a direita temos o mapa das curvas de n´ıvel f(k, y) =zde f, no plano yz, relativas ao eixo x. Curvas de contorno:
•(i)A intersec¸c˜ao do plano z=kcom o gr´afico de f´e uma par´abola com v´ertice em(0, k, k), concavidade voltada para a parte positiva do eixo y, contida no plano z = k. A figura abaixo `a esquerda ´e o esbo¸co de algumas dessas curvas de contorno.
y z
x y
z
x y
z
x
• (ii)A intersec¸c˜ao do plano y=kcom o gr´afico de f´e uma par´abola com v´ertice em (0, k, k), concavidade para baixo, contida no plano y=k. A figura acima ao centro ´e o esbo¸co de algumas dessas curvas de contorno.
• (iii) A intersec¸c˜ao do plano x= k com o gr´afico de f ´e uma reta, contida no plano x= k. A figura acima `a direita ´e o esbo¸co de algumas dessas curvas de contorno.
Baseados nas curvas de n´ıvel, ou curvas de contorno, podemos esbo¸car o gr´afico de f (que ´e uma qu´adrica de equa¸c˜ao z=y−x2).
Na figura abaixo `a esquerda temos as curvas de contorno de frelativas ao eixo ze respectivas curvas de n´ıvel esbo¸cadas junto com o gr´afico de f. Ao centro e `a direita temos cada um dos outros dois tipos de curvas de contorno esbo¸cadas, separadamente, junto com o gr´afico de f.
Na figura abaixo temos uma vis˜ao dos fatiamentos do gr´afico de f por planos paralelos aos eixos coordenados, cujas intersec¸c˜oes d˜ao origem `as curvas de contorno.
O gr´afico de f´e uma qu´adrica cil´ındrica em “formato de p´arabola”.
Exemplo 1.7 Esbocemos algumas superf´ıcies de n´ıvel contidas no dom´ınio de f : R3 → R,dada por f(x, y, z) =
x2+y2+z2.
As superf´ıcies de n´ıvel s˜ao dadas pelas equa¸c˜oes f(x, y, z) =k, sendo k constante real. No nosso caso, x2+y2+z2=k.
• Para k < 0n˜ao temos superf´ıcies de n´ıvel, pois a equa¸c˜ao acima n˜ao possui solu¸c˜oes.
• Para k=0 temos uma ´unica solu¸c˜ao: (x, y, z) = (0, 0, 0), ou seja, nesse caso, a superf´ıcie de n´ıvel f(x, y, z) =0 ´e degenerada e constitu´ıda de apenas um ´unico ponto: a origem do sistema de coordenadas cartesianas no espa¸co. • Para k > 0 temos que a superf´ıcie de n´ıvel f(x, y, z) =k corresponde `a esfera de raio r=√k e centro na origem, dada pela equa¸c˜ao x2+y2+z2=√k2.
Se¸
c˜
ao de Exerc´ıcios Propostos:
Fun¸
c˜
oes
f
:
X
⊂
R
m→
R
Exerc´ıcio 1.1 Identifique e esboce o maior dom´ınio Xposs´ıvel da fun¸c˜ao:(i)f:X⊂R2→Rdada porf(x, y) =ln x2−y2−1 .
(ii)f:X⊂R3
→Rdada porf(x, y, z) = √ 1
z−x2−y2. Respostas:
(i)Dom´ınio m´aximo: X=(x, y)∈R2:x2−y2> 1 . Esboce o dom´ınio (delimitado por dois ramos de hip´erbole).
(ii)Dom´ınio m´aximo: X=(x, y, z)∈R3:z > x2+y2 . Esboce o dom´ınio (delimitado por um parabol´oide circular).
Exerc´ıcio 1.2 Esboce algumas curvas (ou superf´ıcies) de n´ıvel t´ıpicas contidas no dom´ınio da fun¸c˜ao:
(i)f:R2
→R, dada porf(x, y) = 1
1+x2+y2.
(ii) f:R3
→R, dada porf(x, y, z) =z+p
x2+y2.
(iii)f:R3→R, dada porf(x, y, z) =x2+y2−z2. Respostas:
(i)(an´alise feita apenas para a vari´avel z). Para z=k=1, a curva de contorno se reduz a um ponto: (0, 0, 1). Para z = k tal que 0 < k < 1, as curvas de contorno s˜ao circunferˆencias (contidas nos planos z = k) de centros
(0, 0, k)e raios q1 k−1.
No plano xy, as curvas de n´ıvel s˜ao circunferˆencias concˆentricas com centro na origem sendo que, `a medida que os raios das circunferˆencias aumentam, os valores de zdiminuem tendendo a 0.
(ii)As superf´ıcies de n´ıvel w=f(x, y, z) =k formam o conjunto dos cones de revolu¸c˜ao com concavidade para baixo e v´ertice no eixo z.
(iii). Divida em 3 casos: f(x, y, z)> 0,f(x, y, z) =0 e f(x, y, z)< 0. Tratam-se de hiperbol´oides de uma folha, um cone duplo e hiperbol´oides de duas folhas, respectivamente, todos com eixo z, centros ou v´ertice na origem.
Exerc´ıcio 1.3 Esboce o gr´afico de:
(i)f:R2→Rdada porf(x, y) =px2+y2.
(ii)f:R2
→Rdada porf(x, y) =10−p
x2+y2.
(iii)f:R2→Rdada porf(x, y) =y3−x2. Respostas:
(i)Trata-se de um cone com v´ertice na origem e concavidade para cima.
(ii)O gr´afico de f´e um cone de revolu¸c˜ao com concavidade para baixo e v´ertice no ponto (0, 0, 10).
(iii)No plano yz(que ´e o plano x=0) considere a curva z=y3. Para cada ponto P 0, k, k3
dessa curva, no plano y=k, considere a par´abola z=k3−x2, com concavidade para baixo e v´ertice no ponto P. A reuni˜ao de todas essas par´abolas formam o gr´afico.
Exerc´ıcio 1.4 Associe gr´aficos e curvas de n´ıvel.
Obs.: este exerc´ıcio ´e apenas visual, ou seja, n˜ao ´e necess´ario encontrar equa¸c˜oes de curvas de n´ıvel.
(i)
f(x, y) = 1 1+x2+y2
(ii) f(x, y) =
(x2+y2)cos2
3arctg
x y
2
exp(x2+y2)
(1)
(iii)
f(x, y) =cospx2+y2
1Esta superf´ıcie tamb´em pode ser parametrizada comoX(ρ, θ) =
ρcos(θ), ρsen(θ),ρ 2cos2(3θ
2) eρ2
(iv)
f(x, y) = 3x2+9y2
ex2+y2
(v)
f(x, y) = x
ex2+y2
(vi)
f(x, y) = √ xy ex2+y2
Curvas de n´ıvel:
(a) (b) (c)
(d) (e) (f)
Cap´ıtulo 2
Limites e Continuidade de Fun¸
c˜
oes Reais
de V´
arias Vari´
aveis Reais
2.1
Limites de Fun¸
c˜
oes Reais de V´
arias Vari´
aveis Reais
Podemos estender o conceito de limite estudado noC´alculo1para fun¸c˜oes de v´arias vari´aveis. Para tanto, recordemos que se P(a1, a2, . . . , am)eQ(x1, x2, . . . , xm)s˜ao pontos emRm, ent˜ao a distˆancia entrePeQ´e dada por
d(P, Q) =kQ−Pk=k−PQ→k=
q
(x1−a1)2+ (x2−a2)2+· · ·+ (xm−am)2.
Quando m= 2 ou3 costumamos adotar a nota¸c˜ao P(a, b)eQ(x, y), ou ent˜ao P(a, b, c)eQ(x, y, z) e a express˜ao da distˆancia fica
d(P, Q) =
q
(x−a)2+ (y−b)2quandom=2 ou
d(P, Q) =
q
(x−a)2+ (y−b)2+ (z−c)2quandom=3 .
0 a
x y
x b
y
| -x a|
| -y b|
P
Q
d( ,P Q )
x
y y z
z
x
Q
O c
P
b a
A defini¸c˜ao formal de limite de fun¸c˜ao real de v´arias vari´aveis ´e dada abaixo. Antes, por´em, ´e preciso introduzir a no¸c˜ao deponto de acumula¸c˜ao.
Um ponto P∈Rm ´e ditoponto de acumula¸c˜aode um conjunto X⊂Rm quando existem pontos de X, distintos de P, arbitrariamente pr´oximos deP.
Notemos que um ponto de acumula¸c˜ao de um conjunto n˜ao precisa pertencer, necessariamente, ao conjunto.
Um exemplo simples: P(0, 0)∈R2´e ponto de acumula¸c˜ao deX=(x, y)∈R2: (x, y)6= (0, 0) , pois h´a pontos deX (distintos de P) arbitrariamente pr´oximos de P.
Agora sim, a defini¸c˜ao formal de limite de uma fun¸c˜ao de v´arias vari´aveis:
Sejam f:X⊂Rm →R eP(a1, a2, . . . , am)∈Rm um ponto de acumula¸c˜ao de X. Indiquemos um ponto gen´erico do dom´ınio XporQ(x1, x2, . . . , xm). Dizemos quef(Q) temlimiteL∈Rquando Qtende aP, e escrevemos
lim
Q→Pf(Q) =L ,
sempre que: para∀ε > 0,∃δ > 0tal que (1)
0 < d(P, Q)< δ⇒|f(Q) −L|< ε.
Desta forma, dizer que lim
Q→Pf(Q) =L significa que podemos fazer f(Q)arbitrariamente pr´oximo de L, tomando Q suficientemente pr´oximo deP, por´em, diferente deP.
Observa¸c˜oes.
(1)Quandom=2 ou3costumamos escrever a nota¸c˜ao de limite do seguinte modo:
lim
(x,y)→(a,b)f(x, y) =L, quandom=2 ou
lim
(x,y,z)→(a,b,c)f(x, y, z) =L, quandom=3 .
(2) Como X possui dimens˜ao m´ınima igual a 2, lim
Q→Pf(Q) = L tem a seguinte implica¸c˜ao: n˜ao importa por qual “caminho” fa¸camosQ tender aPno dom´ınioXdef quef(Q)sempre se aproximar´a do n´umero realL.
R
f
x y
R2 X
( , )a b
f x y( , )1 1 ( , )x y1 1
( , )x y2 2 f x y( , )2 2 L
Por outro lado, se existirem pelo menos dois “caminhos” distintos em X tal que o limite acima assuma dois valores distintos, dependendo do caminho adotado para fazer Qtender aP, ent˜ao o limiten˜ao existe.
(3) Todas as propriedades operat´orias relativas aos limites de fun¸c˜oes reais de uma vari´avel real s˜ao v´alidas para fun¸c˜oes de v´arias vari´aveis.
Exemplo 2.1 Calculemos lim (x,y)→(0,0)
x2−y2 x+y .
O dom´ınio de f(x, y) = x2x+−yy2 ´eX=(x, y)∈R2:y= −6 x . Entretanto, arbitrariamente pr´oximo de (0, 0)h´a pontos
(x, y)∈X. Logo, podemos considerar o limite. Assim, lim
(x,y)→(0,0) x2−y2
x+y =(x,ylim)→(0,0)
(x−y)(x+y)
x+y =(x,ylim)→(0,0)(x−y) =0. Exemplo 2.2 Existe lim
(x,y)→(0,0) x2−y2 x2+y2 ?
O dom´ınio de f(x, y) = x2−y2 x2+y2 ´eX=
(x, y)∈R2: (x, y)= (6 0, 0) . Entretanto, arbitrariamente pr´oximo de (0, 0)h´a pontos (x, y)∈X. Logo, podemos considerar o limite.
Se o limite existir, seu valor independer´a do caminho escolhido para fazer (x, y)tender a (0, 0). Tomemos os seguintes caminhos.
(i)A reta C1 de equa¸c˜ao y=xpassa por (0, 0), Fa¸camos (x, y) tender a (0, 0) por ela. Assim,
lim (x,y)→(0,0)
(x,y)∈C1 x2−y2 x2+y2 = lim
x→0 x2−x2 x2+x2 = lim
x→0 0
2x2 = lim x→00=0.
(ii)A reta C2de equa¸c˜ao y=2x passa por (0, 0), Fa¸camos (x, y)tender a (0, 0)por ela. Assim,
lim (x,y)→(0,0)
(x,y)∈C2 x2−y2 x2+y2 = lim
x→0
x2−(2x)2 x2+(2x)2 = lim
x→0 −3x2
5x2 = lim x→0
−3 5 = −
3 5.
R
f
x y
R2
f x x( , ) =0
( , )x y
y=x
( , )0 0
( , )x y y=2x
Conclus˜ao: o limite depende do “caminho” escolhido para fazer(x, y)tender a(0, 0). Logo,n˜ao existe lim (x,y)→(0,0)
x2−y2 x2+y2.
Abaixo seguem algumas figuras do gr´afico def.
Exemplo 2.3 Estudemos o comportamento do limite lim (x,y)→(0,0)
xy x2+y2.
O dom´ınio de f(x, y) = x2xy+y2 ´eX=
(x, y)∈R2: (x, y)= (6 0, 0) . Entretanto, arbitrariamente pr´oximo de (0, 0)h´a pontos (x, y)∈X. Logo, podemos considerar o limite.
Se o limite existir, seu valor independer´a do caminho escolhido para fazer (x, y)tender a (0, 0). Tomemos os seguintes caminhos.
(i)A reta C1 de equa¸c˜ao y=xpassa por (0, 0), Fa¸camos (x, y) tender a (0, 0) por ela. Assim,
lim (x,y)→(0,0)
(x,y)∈C1 xy
x2+y2 = lim x→0
xx
x2+x2 = lim x→0
x2 2x2 = lim
x→0 1 2=
1 2.
(ii)A reta C2de equa¸c˜ao y= −xpassa por (0, 0), Fa¸camos (x, y) tender a (0, 0)por ela. Assim,
lim (x,y)→(0,0)
(x,y)∈C2 xy
x2+y2 = lim x→0
x(−x)
x2+(−x)2 = lim x→0
−x2 2x2 = lim
x→0 −1
2 = − 1 2.
Conclus˜ao: o limite depende do “caminho” escolhido para fazer(x, y)tender a(0, 0). Logo, n˜ao existe lim (x,y)→(0,0)
xy x2+y2.
Exemplo 2.4 Estudemos o comportamento do limite lim (x,y)→(0,0)
x3−y3 x2+y2.
O dom´ınio de f(x, y) = xx32−+yy32 ´eX=
(x, y)∈R2: (x, y)= (6 0, 0) . Entretanto, arbitrariamente pr´oximo de (0, 0)h´a pontos (x, y)∈X. Logo, podemos considerar o limite.
Inspirados pelos exemplos anteriores, se considerarmos alguns caminhos particulares em X passando por (0, 0) e fizermos (x, y) → (0, 0) por esses caminhos, constataremos que f(x, y) → 0. Isso ´e um sinal de que o limite pode existir.
Utilizemos o sistema de coordenadas polares, fazendo a seguinte mudan¸ca de vari´aveis:
x=rcos(θ)
y=rsen(θ) ,
q x y R2
( , ) º ( ;q)x y r
0 x=rcos(q)
y=rsen(q)
r
Assim, (x, y)→(0, 0)significa r→0 com θ livre. Logo,
lim (x,y)→(0,0)
x3−y3
x2+y2 = lim r→0 (θlivre)
r3cos3(θ)−r3sen3(θ) r2cos2(θ)+r2sen2(θ) = lim
r→0r cos
3(θ) −sen3(θ)
=0, pois h(θ) =cos3(θ) −sen3(θ)´e uma fun¸c˜ao limitada, enquanto que g(r) =r
→0 `a medida que r→0.
Exemplo 2.5 Estudemos o comportamento do limite lim (x,y)→(0,0)
xy √
x2+y2.
O dom´ınio de f(x, y) = √xy
x2+y2 ´e X=
(x, y)∈R2: (x, y)6= (0, 0) . Entretanto, arbitrariamente pr´oximo de (0, 0)
h´a pontos (x, y)∈X. Logo, podemos considerar o limite.
Se considerarmos alguns caminhos particulares em Xpassando por (0, 0)e fizermos(x, y)→(0, 0)por esses caminhos, constataremos que f(x, y)→0. Isso ´e um sinal de que o limite pode existir.
Utilizemos o sistema de coordenadas polares, fazendo a seguinte mudan¸ca de vari´aveis:
x=rcos(θ)
y=rsen(θ)
sendo r≥0 e θ∈[0, 2π).
Assim, (x, y)→(0, 0)significa r→0 com θ livre. Logo,
lim (x,y)→(0,0)
xy √
x2+y2 = rlim→0 (θlivre)
(rcos(θ))(rsen(θ)) √
r2cos2(θ)+r2sen2(θ) =rlim→0
r2cos(θ)sen(θ)
|r| .
Mas
lim r→0+
r2cos(θ)sen(θ)
|r| = lim
r→0+
r2cos(θ)sen(θ)
r =rlim→0+rcos(θ)sen(θ) =0 lim
r→0−
r2cos(θ)sen(θ)
|r| = lim
r→0−
r2cos(θ)sen(θ)
−r =rlim→0−(−rcos(θ)sen(θ)) =0
⇒
lim (x,y)→(0,0)
xy √
x2+y2 =rlim→0
r2cos(θ)sen(θ)
|r| =0,
pois h(θ) =cos(θ)sen(θ)´e uma fun¸c˜ao limitada, enquanto que g(r) =r→0 `a medida que r→0.
2.2
Continuidade em Fun¸
c˜
oes Reais de V´
arias Vari´
aveis Reais
Conforme o leitor perceber´a na defini¸c˜ao abaixo, a no¸c˜ao de continuidade para fun¸c˜oes de v´arias vari´aveis ´e oriunda, com as devidas adapta¸c˜oes, da mesma no¸c˜ao para fun¸c˜oes reais de uma vari´avel real.
Sejam f : X ⊂ Rm → R e P(a1, . . . , am) ∈ X. Denotemos de modo gen´erico um ponto de X por Q(x1, . . . , xm). Dizemos que f´econt´ınua em Pquando existe lim
Q→Pf(Q)(como n´umero real) e
lim
Q→Pf(Q) =f(P).
Quando f for cont´ınua em todos os pontos de seu dom´ınio, dizemos quef ´econt´ınua emX, ou simplesmente que f ´econt´ınua.
Quandofn˜ao for cont´ınua em algum pontoPde seu dom´ınio dizemos quef´edescont´ınua emP. Neste caso tamb´em dizemos simplesmente que f´edescont´ınua.
Exemplo 2.6 A fun¸c˜ao f:R2→Rdada por f(x, y) =x2+y2 ´e cont´ınua em P(1, 1), pois lim
(x,y)→(1,1)f(x, y) =1
2+12=2=f(1, 1). Generalizando,
lim
(x,y)→(a,b)f(x, y) =a
2+b2=f(a, b), ou seja, f´e cont´ınua em R2.
Exemplo 2.7 A fun¸c˜ao f:R2→Rdada por f(x, y) =
1, se (x, y)6= (0, 0)
0, se (x, y) = (0, 0) ´e descont´ınua em P(0, 0), pois
lim
(x,y)→(0,0)f(x, y) =↓ (x,y)6=(0,0)
lim
Se¸
c˜
ao de Exerc´ıcios Propostos:
Limites de Fun¸
c˜
oes
f
:
X
⊂
R
m→
R
Exerc´ıcio 2.1 Calcule:(i) lim
(x,y)→(0,0) 7−x
2+5xy .
(ii) lim (x,y)→(0,0)
x+y 1+xy. Respostas:
(i) lim
(x,y)→(0,0) 7−x
2+5xy
=7 e (ii) lim (x,y)→(0,0)
x+y 1+xy =0. Exerc´ıcio 2.2 Calcule os limites lim
h→0
f(x+h,y)−f(x,y) h e limk→0
f(x,y+k)−f(x,y)
k , sendo:
(i)f(x, y) =x+y.
(ii)f(x, y) =xy.
(iii)f(x, y) =xy2−2. Respostas:
(i) lim h→0
f(x+h,y)−f(x,y)
h =1e klim→0
f(x,y+k)−f(x,y)
k =1.
(ii) lim h→0
f(x+h,y)−f(x,y)
h =y e klim→0
f(x,y+k)−f(x,y)
k =x.
(iii) lim h→0
f(x+h,y)−f(x,y)
h =y2 e klim→0
f(x,y+k)−f(x,y)
k =2xy.
Exerc´ıcio 2.3 Use coordenadas polares para calcular:
(i) lim (x,y)→(0,0)
2x3−5y3 3x2+3y2.
(ii) lim (x,y)→(0,0)
8xy √
2x2+2y2.
Exerc´ıcio 2.4 Utilize coordenadas esf´ericas para mostrar que lim (x,y,z)→(0,0,0)
xyz
x2+y2+z2 =0. Obs.: Deve-se utilizar a seguinte mudan¸ca de coordenadas:
x=ρsen(φ)cos(θ)
y=ρsen(φ)sen(θ)
z=ρcos(φ)
,
sendoρ≥0,φ∈[0, π]eθ∈[0, 2π). Exerc´ıcio 2.5 Mostre que lim
(x,y)→(0,0) 2xy
7x2+5y2 n˜ao existe. Exerc´ıcio 2.6 Sejaf:R2−{(0, 0)}−
→Rdada porf(x, y) = 2x2y
x4+y2.
(i)Mostre quef(x, y)→0 quando(x, y)→(0, 0)ao longo de qualquer reta que passe pela origem.
(ii)Mostre quef(x, y)→1 quando(x, y)→(0, 0)ao longo da par´abolay=x2. Conclua que o limite def(x, y)quando(x, y)→(0, 0)n˜ao existe.
Exerc´ıcio 2.7 Mostre que f:R2→Rdada por f(x, y) =
x2+y2+2, se (x, y)6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0)
Cap´ıtulo 3
Deriva¸
c˜
ao de Fun¸
c˜
oes Reais de V´
arias
Vari´
aveis Reais
3.1
Derivadas Parciais
Podemos derivar fun¸c˜oes reais de v´arias vari´aveis reais. A diferen¸ca em rela¸c˜ao `as derivadas de fun¸c˜oes de uma vari´avel ´e que temos mais do que uma derivada. S˜ao as chamadas derivadas parciais e, de forma mais geral, as chamadas derivadas direcionais, que ser˜ao vistas mais adiante.
Comecemos definindo derivadas parciais para fun¸c˜oes de duas vari´aveis.
Sejam f:X⊂R2
→Re(a, b)∈X um ponto de acumula¸c˜ao de X.
Definimos a derivada parcial def, em rela¸c˜ao a x, no ponto(a, b), denotada por ∂f
∂x(a, b), como sendo
∂f
∂x(a, b) =h→0lim
f(a+h,b)−f(a,b) h
caso esse limite exista como n´umero real.
Analogamente, definimos a derivada parcial de f, em rela¸c˜ao a y, no ponto (a, b), denotada por ∂f
∂y(a, b), como sendo
∂f
∂y(a, b) =k→0lim
f(a,b+k)−f(a,b) k
caso esse limite exista como n´umero real.
Observa¸c˜oes.
(i)Outras nota¸c˜oes para as derivadas parciais:
∂f
∂x(a, b) =fx(a, b) ∂f
∂y(a, b) =fy(a, b)
(ii)Podemos considerar as derivadas parciais defem todos os pontos do dom´ınio def(onde elas existem) e considerar
novas fun¸c˜oes:
∂f
∂x : X⊂R2 −→ R
(x, y) 7−→ ∂f ∂x(x, y) e
∂f
∂y : X⊂R2 −→ R
(x, y) 7−→ ∂y∂f(x, y)
(iii)A defini¸c˜ao de ∂f
∂x(a, b)permite que interpretemos ∂f
∂x(a, b)como sendo a “derivada de frestrita ao planoy=b, no ponto de abscissa x=a”, o que significa que o n´umero ∂f
∂x(a, b)pode ser interpretado como o coeficiente angular da reta tangente `a curva de contorno, que ´e intersec¸c˜ao do gr´afico de f com o plano y= b, no ponto(a, b, f(a, b))
(veja figura abaixo). Observa¸c˜ao an´aloga vale para ∂f ∂y(a, b). Interpreta¸c˜ao geom´etrica da derivada parcial:
y z
x
gráfico def
planoy= b
f a b( , )
curva de contorno
reta tangente à curva de contorno
no ponto P
a b q P t x z P q t c c
Na figura acima, o plano em azul ´e o plano de equa¸c˜aoy=b, paralelo ao planoxz. A curva de contornoc, tamb´em em azul, ´e a intersec¸c˜ao do plano y=bcom o gr´afico de f. A retat, em vermelho, ´e tangente `a curva de contorno c no ponto P(a, b, f(a, b)). O coeficiente angular da reta t(no plano xz) no ponto P´e tg(θ). DoC´alculo 1 temos tg(θ) = ∂f
∂x(a, b).
(iv) A defini¸c˜ao de derivada parcial, refor¸cada pelaObserva¸c˜ao (iii)acima, indica um m´etodo para derivar parcial-mente: ∂f
∂x(x, y)´e calculada mantendo y como “constante” e derivando em rela¸c˜ao a x. Analogamente, ∂f
∂y(x, y) ´e calculada mantendoxcomo “constante” e derivando em rela¸c˜ao ay(veja os exemplos abaixo).
(v) Podemos generalizar as defini¸c˜oes de derivadas parciais de fun¸c˜oes de 2 vari´aveis para fun¸c˜oes com 3 ou mais vari´aveis. A quantidade de derivadas parciais ´e a quantidade de vari´aveis.
Exemplo 3.1 Calculemos as derivadas parciais de f:R2→R, dada por f(x, y) =x2+2xy2−y3.
Temos:
∂f
∂x(x, y) =2x+2y 2
∂f
∂y(x, y) =4xy−3y2
Exemplo 3.2 Calculemos as derivadas parciais de f:R2→R, dada por f(x, y) = x2+y2 e−xy.
Temos, pela Regra do Produto:
∂f
∂x(x, y) =2xe
−xy+ x2+y2
e−xy(−y) = 2x−yx2−y3 e−xy
∂f
∂y(x, y) =2ye
−xy+ x2+y2
e−xy(−x) = 2y−xy2−x3 e−xy
Exemplo 3.3 Calculemos as derivadas parciais de f : X ⊂ R2
→ R, dada por f(x, y) = ln(
√ x)y2
x2+1 , sendo X =
(x, y)∈R2:x > 0 . Temos: ∂f
∂x(x, y) =
1 √ x.
1 2√xy
2 x2+1
−ln √x y2(2x)
(x2+1)2 =
y2(x2+1) 2x −2xy
2ln √x
(x2+1)2 =
y2x2+y2−4x2y2ln(√x) 2x(x2+1)2
= x
2+1−x2ln(x2)
2x(x2+1)2 y2 (pela Regra do Quociente)
∂f
∂y(x, y) =2 ln(√x)
Exemplo 3.4 Calculemos as derivadas parciais de f:X⊂R2→R, dada por f(x, y) =tg x2+y2
+cos x2 , sendo X=(x, y)∈R2:x2+y26= π
2+kπ,k∈Z .
Temos:
∂f
∂x(x, y) =sec2 x2+y2
2x−sen x2
2x=2x sec2 x2+y2
−sen x2 ∂f
∂y(x, y) =2ysec
2 x2+y2
3.2
Plano Tangente a Gr´
afico de Fun¸
c˜
oes de Duas Vari´
aveis
Sejam f : X ⊂R2
→R e (a, b) ∈X. Suponhamos que ∂f ∂x e
∂f
∂y existam e sejam cont´ınuas em uma vizinhan¸ca em torno de(a, b)∈X. Vimos que ∂f
∂x(a, b)´e coeficiente angular da reta tangentet1`a curva de contornoc1, intersec¸c˜ao do gr´afico def com o planoy=b, no pontoT(a, b, f(a, b)).
Analogamente, vimos que ∂f
∂y(a, b)´e coeficiente angular da reta tangentet2 `a curva de contornoc2, intersec¸c˜ao do gr´afico defcom o planox=a, no pontoT(a, b, f(a, b)).
y z
x f a b( , )
a b
T t1 t2
c1 c2
a
c1:z = ( , )f x b c2:z = ( , )f a y t1,t2Ìa
O plano αque cont´em t1e t2´e definido como sendo oplano tangente ao gr´afico defno ponto T(a, b, f(a, b)).
Para deduzir a equa¸c˜ao deαprecisamos de coordenadas de vetores diretores~ue~vdas retast1et2.
Sejam ~i,~j,~kbase ortonormal canˆonica do espa¸co cartesiano,~uvetor diretor det1que forma ˆangulo n˜ao reto (1) de medida θcom~ie tal que~u=~i+w, sendo~ w~ paralelo a~k (figura abaixo).
f a b( , )
a
x z
T
q q
w i
u t1
c1
i k
f a b( , )
a
x z
T
q
w
i u
t1
c1
i k
q
Logo,w~ = (0, 0, z0). Temos tg(π−θ) = k~wk
k~ik =kw~k= −z0quandoz0< 0(figura acima `a esquerda) ou tg(θ) = k~wk
k~ik =kw~k=z0quando z0≥0(figura acima `a direita).
Como tg(π−θ) = −tg(θ), e ∂f
∂x(a, b) = tg(θ), podemos escrever ∂f
∂x(a, b) = z0 em qualquer situa¸c˜ao e, portanto,
~
w= ∂f
∂x(a, b)~k. Assim,~u=~i+ ∂f
∂x(a, b)~k, ou seja, ~u= 1, 0, ∂f ∂x(a, b)
.
Analogamente, ~v=0, 1,∂y∂f(a, b).
Sejan~ =~u×~vvetor normal ao plano tangenteα(figura abaixo). 1O ˆangulo em quest˜ao n˜ao pode ser reto pois, caso contr´ario, n˜ao existiria ∂f
T
n v
u a
Sabemos que
~
n=det
~i ~j ~k
1 0 ∂x∂f(a, b)
0 1 ∂f ∂y(a, b)
= −∂f
∂x(a, b)~i− ∂f
∂y(a, b)~j+~k⇒n~ =
−∂f
∂x(a, b),− ∂f
∂y(a, b), 1
SejaP= (x, y, z)∈αe tomemos o vetorm~ =P−T = (x−a, y−b, z−f(a, b))que ´e vetor paralelo ao planoα(figura abaixo).
T n
m a
P
Logo,~n´e ortogonal am~ e, portanto, ~n·m~ =0(produto escalar usual).Assim,
−∂x∂f(a, b),−∂y∂f(a, b), 1·(x−a, y−b, z−f(a, b)) =0⇒
−∂f
∂x(a, b) (x−a) − ∂f
∂y(a, b) (y−b) +z−f(a, b) =0⇒ z−f(a, b) = ∂f
∂x(a, b) (x−a) + ∂f
∂y(a, b) (y−b) que ´e a equa¸c˜ao geral do plano tangenteαao gr´afico defno pontoT(a, b, f(a, b)).
Exemplo 3.5 Determinemos a equa¸c˜ao do plano tangente ao paraboloide circular de equa¸c˜ao z=x2+y2 no ponto T(1, 2, 5).
Esse paraboloide circular pode ser visto como gr´afico de f:R2
→R, dada por f(x, y) =x2+y2.
Sendo T(1, 2, 5)um ponto desse paraboloide temosT(a, b, f(a, b)) = (1, 2, 5)e, portanto,(a, b) = (1, 2)ef(a, b) =5. O plano tangente ao paraboloide no ponto T possui equa¸c˜ao
z−f(1, 2) = ∂f
∂x(1, 2) (x−1) + ∂f
∂y(1, 2) (y−2). Logo, precisamos das derivadas parciais:
∂f
∂x(x, y) =2x⇒ ∂f
∂x(1, 2) =2.1=2 ∂f
∂y(x, y) =2y⇒ ∂f
∂y(1, 2) =2.2=4 .
Assim,
z−5=2(x−1) +4(y−2)⇒ 2x+4y−z−5=0 ´e a equa¸c˜ao (geral) do plano tangente pedido.
Exemplo 3.6 Encontre os pontos do gr´afico dez=f(x, y) =xe−x2−y2 nos quais os planos tangentes s˜ao horizontais.
Sendo
z−f(a, b) = ∂f
∂x(a, b) (x−a) + ∂f
∂y(a, b) (y−b)
a equa¸c˜ao do plano tangente ao gr´afico de f no ponto T(a, b, f(a, b)), para que ele seja horizontal, ´e necess´ario que ∂f
∂x(a, b) = ∂f
∂y(a, b) =0, ou seja, ´e necess´ario que a equa¸c˜ao seja da forma z=k (neste caso,k=f(a, b)).
Assim, precisamos das derivadas parciais:
∂f
∂x(x, y) =e
−x2−y2+xe−x2−y2(−2x) =e−x2−y2 1−2x2 ∂f
∂y(x, y) =xe −x2−y2
(−2y) = −2xye−x2−y2
Assim,
∂f
∂x(a, b) =0⇒e −a2−b2
1−2a2
=0 ∂f
∂y(a, b) =0⇒−2abe
−a2−b2=0
⇒
1−2a2=0
−2ab=0 ⇒a=± √
2
2 eb=0. Portanto, temos dois pontos do gr´afico de f onde o plano tangente ´e horizontal:
T1 √
2 2 , 0,
q 1 2e
eT2
−√2 2 , 0,−
q 1 2e
.
Abaixo seguem figuras com o paraboloide e o plano tangente encontrado.
3.3
Derivadas Parciais de Ordem Superior
´
E poss´ıvel derivar v´arias vezes uma fun¸c˜aof:X⊂R2
→Rem rela¸c˜ao axouy.
As derivadas parciais ∂f ∂x e
∂f
∂y de f s˜ao as derivadas parciais de primeira ordem, ou derivadas parciais de
ordem 1, de f.
Caso seja poss´ıvel derivar as derivadas parciais de f, temos as chamadas derivadas parciais de segunda ordem
def.
∂2f
∂x2(x, y) = ∂ ∂x
∂f ∂x
(x, y) ∂x∂y∂2f (x, y) = ∂x∂ ∂y∂f(x, y)
∂2f
∂y∂x(x, y) = ∂ ∂y
∂f ∂x
(x, y) ∂y∂2f2(x, y) = ∂ ∂y
∂f ∂y
(x, y)
As derivadas parciais de segunda ordem ∂2f ∂x∂y e
∂2f
∂yx s˜ao chamadas dederivadas parciais mistas def.
De modo an´alogo podemos obter derivadas parciais den-´esima ordem def, sendon∈N.
Observa¸c˜oes.
(1)Na nota¸c˜aofx efyas derivadas parciais de segunda ordem def:X⊂R2
→Rs˜ao escritas como
fxx(x, y) = (fx)x(x, y) fxy(x, y) = (fx)y(x, y) fyx(x, y) = (fy)x(x, y) fyy(x, y) = (fy)y(x, y) Percebemos que ∂2f
∂x∂y(x, y) = fyx(x, y) e ∂ 2f
∂y∂x(x, y) = fxy(x, y), ou seja, a posi¸c˜ao de x e y nas duas nota¸c˜oes estabelecidas s˜ao trocadas.
(2)De modo an´alogo ao que apresentamos acima, podemos definir derivadas parciais de ordem superior para fun¸c˜oes f:X⊂Rm
Proposi¸c˜ao 3.1 Sejam f:X⊂R2→Re(a, b)∈X. Se ∂2f ∂x∂y e
∂2f
∂y∂x forem cont´ınuas em uma vizinhan¸ca em torno de (a, b)∈X, ent˜ao
∂2f
∂x∂y(a, b) = ∂2f
∂y∂x(a, b).
Exemplo 3.7 Calculemos as derivadas parciais de segunda ordem def:R2→R, dada porf(x, y) =x2+2xy2−y3. Temos ∂f
∂x(x, y) =2x+2y 2e ∂f
∂y(x, y) =4xy−3y 2.
Logo, ∂2f
∂x2(x, y) =2, ∂2f
∂y2(x, y) =4x−6y, ∂2f
∂y∂x(x, y) =4ye ∂2f
∂x∂y(x, y) =4y.
Observemos que do fato das derivadas mistas serem cont´ınuas em R2temos a igualdade entre elas, devido `a Proposi¸c˜ao
3.1 acima.
3.4
Regra da Cadeia
Assim como no caso das fun¸c˜oes reais de uma vari´avel real, a chamadaRegra da Cadeiapara fun¸c˜oes de v´arias vari´aveis serve para derivarmos fun¸c˜oes compostas.
Vamos enunciar aRegra da Cadeia em quatro casos apenas, mas o leitor n˜ao ter´a a menor dificuldade em generalizar a regra para compostas envolvendo fun¸c˜oes com quaisquer quantidades de vari´aveis.
No primeiro caso, por exemplo, temos z=f(x, y), x=x(t) ey=y(t)e a Regra da Cadeia fornece uma express˜ao que permite calcular z′(t)sem precisar substituirx=x(t) ey=y(t)emz=f(x, y)e colocarz explicitamente em fun¸c˜ao detapenas. E assim ocorre para os demais casos.
Proposi¸c˜ao 3.2 (Regra de Cadeia para fun¸c˜oes f:X⊂R2
→Ref:X⊂R3
→R composta com fun¸c˜oes de uma ou duas vari´aveis)
(1)Sejamz=f(x, y),x=x(t) ey=y(t)fun¸c˜oes com derivadas cont´ınuas definidas em dom´ınios onde fa¸ca sentido a composi¸c˜ao. Ent˜ao,z=z(t)´e deriv´avel e
dz dt = ∂f ∂x dx dt + ∂f ∂y dy dt z x y t
(2)Sejamz=f(x, y),x=x(u, v)ey=y(u, v)fun¸c˜oes com derivadas cont´ınuas definidas em dom´ınios onde fa¸ca sentido a composi¸c˜ao. Ent˜ao,z=z(u, v)possui derivadas parciais cont´ınuas e
∂z ∂u = ∂f ∂x ∂x ∂u + ∂f ∂y ∂y ∂u ∂z ∂v = ∂f ∂x ∂x ∂v+ ∂f ∂y ∂y ∂v z x y u v z x y u v
(3)Sejam w= f(x, y, z), x =x(t), y =y(t)ez =z(t)fun¸c˜oes com derivadas cont´ınuas definidas em dom´ınios onde fa¸ca sentido a composi¸c˜ao. Ent˜ao,w=w(t)´e deriv´avel e
dw dt = ∂f ∂x dx dt + ∂f ∂y dy dt + ∂f ∂z dz dt z x z t y
(4)Sejamw=f(x, y, z),x=x(u, v),y=y(u, v)ez=z(u, v)fun¸c˜oes com derivadas cont´ınuas definidas em dom´ınios onde fa¸ca sentido a composi¸c˜ao. Ent˜ao, w=w(u, v)possui derivadas parciais cont´ınuas e
∂w ∂u = ∂f ∂x ∂x ∂u+ ∂f ∂y ∂y ∂u + ∂f ∂z ∂z ∂u ∂w ∂v = ∂f ∂x ∂x ∂v+ ∂f ∂y ∂y ∂v + ∂f ∂z ∂z ∂v z x u v z y z x u v z y