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RELEMBRANDO OS FÓRUNS DE EJA RJ: PERSPECTIVAS ATUAIS

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Academic year: 2021

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RELEMBRANDO OS FÓRUNS DE EJA RJ: PERSPECTIVAS ATUAIS

PRISCILA NUNES FRANÇA DE OLIVEIRA (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO), CARLA TATIANA MUNIZ SOUTO MAIOR (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO).

Resumo

Participar do 17º COLE significa compartilhar o que tem sido produzido no Círculo de Educação de Jovens e Adultos – CEJA, da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, que tem como uma de suas ações a parceria com o Fórum de Educação de Jovens e Adultos do Estado do Rio de Janeiro. Essa parceria tem tido atuação destacada não apenas nas reflexões e assessoramentos, como na perspectiva de uma construção mais democrática e participativa com a sociedade civil. Numa época de perversa crise em aspectos globais e econômicos, essa luta destaca–se pelo fato de estar envolvida na difícil tarefa de fazer mudanças históricas, por meio da educação, no campo social, tensionando o poder público no sentido de trazer à cena política atores cujos direitos negados ao longo da história esperam de nós, pesquisadores e atuantes no campo da EJA, envolvimento, compromisso e ação. Esse Fórum, como movimento criado pela sociedade em 1996 durante a preparação da V CONFINTEA, a partir da necessidade de reagrupar educadores, professores e pesquisadores que se encontravam dispersos em muitas instituições do estado do Rio de Janeiro, tomou a si a defesa de políticas públicas de universalização do direito à educação para todos, independentemente da idade, de classe social, de etnia etc., e desde 2005 está presente em todos os estados brasileiros. São 13 anos de avanços coletivos e aprendizados, em que o aprender por toda a vida se anuncia como política, paralelamente ao lugar que a leitura e a escrita conferem aos interditados dos processos formais de escolarização

Palavras-chave:

Educação de Jovens e Adultos, Fóruns, Movimentos Sociais.

Por meio desse trabalho apresentaremos a ação extensionista com base para a pesquisa realizada pelo Círculo de Estudos em Educação de Jovens e Adultos (CEJA) da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em que, em parceria com o Fórum de Educação de Jovens e Adultos do Estado do Rio de Janeiro (Fórum EJA/RJ), põe-se em relevo a educação de jovens e adultos (EJA) e as possibilidades de produção coletiva de políticas públicas, exercendo influência não apenas no estado do Rio de Janeiro, mas também em todo o país.

Como bolsistas de extensão do CEJA, temos oportunidade de acompanhar e aprender nesse movimento, o que nos levou a escolher a vivência do Fórum como tema desse trabalho.

Compreendemos que a forma como é tratada a EJA no país não é de todo satisfatória, pois ainda vemos muitas pessoas sem escolarização de nível fundamental - etapa constituída como direito de todos, no país. Essas pessoas não tiveram no tempo da infância o direito assegurado e, em muitos casos, foram ainda vítimas do trabalho infantil. Quando jovens ou adultas voltam à escola, inscrevendo-se em algum projeto para dar continuidade aos estudos, nem sempre conseguindo nele permanecer.

Uma grande parcela da população, mesmo entre os que conseguem estudar, não consegue ler como desejado para uma sociedade da cultura escrita. Na sociedade

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brasileira, a escolarização não tem levado à formação de leitores proficientes e autônomos. A distância da escola em relação a práticas sociais leva ao desenvolvimento de pequena parcela das capacidades envolvidas nas práticas de leitura e escrita exigidas pela sociedade, muitas vezes restringindo-se a processos de repetição e memorização, entendidos como essenciais para que o currículo aconteça. Saber ler e escrever é uma condição de cidadania.

Esta condição, indispensável à vida contemporânea, não tem sido assegurada a todos os sujeitos, tendo em vista a forma como foram excluídos jovens e adultos dos processos educacionais. Políticas públicas que atendam esses sujeitos são, ainda, insuficientes. A questão dos que sabem ler e escrever na população brasileira tem sido pouco abordada pelos meios de comunicação, como demonstra pesquisa realizada em 2004, quando se constatou que somente 1,8% das matérias publicadas na imprensa escrita tratam desse tema (AVANCINI, 2005). Tal fato nos leva a pensar que falar de pessoas que tiveram em suas vidas marcas do sofrimento causadas pela humilhação de se saberem incapazes de ler e escrever, somadas à exclusão social, freqüente na vida de populações pobres, e que hoje tentam ter acesso ao que lhes foi "roubado" como direito, talvez não seja de grande repercussão ou não interesse ao grande público.

Diante desse cenário, a ação extensionista desenvolvida pelo CEJA, como parceiro do Fórum EJA/RJ, ganha importância histórica, ao enfrentar o desafio de lutar para que o direito à educação se faça realidade para milhões de brasileiros.

O Fórum EJA/RJ foi fundado no Rio de Janeiro, no ano de 1996, durante as reuniões preparatórias à V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos. Essas reuniões representaram o marco histórico que possibilitou a aproximação de pessoas interessadas em lutar pela mudança do quadro da escolarização entre jovens e adultos no país, por convocação do MEC, até chegar ao encontro nacional de EJA, que aprovaria um documento a ser encaminhado à V CONFINTEA. A metodologia de trabalho recomendava aos países encontros de vários níveis, com a finalidade de construir um diagnóstico sobre a situação da EJA em cada país, que seria, posteriormente, encaminhado a encontros de continentes (regiões, como chamados) indo, daí, à Conferência Internacional. Diversos atores sociais, entre eles professores/educadores, pesquisadores, estudantes, autoridades públicas e cidadãos preocupados com a EJA disseminaram ideias em defesa de políticas de educação de jovens e adultos que saíssem do papel e alcançassem o público potencial. Defendiam que a alfabetização não é um simples ato educacional, mas, sim, um processo político, para o qual todos os excluídos dos direitos sociais, civis e políticos devem passar a ter acesso irrestrito a bens culturais, especialmente por serem a leitura e a escrita ferramentas indispensáveis para a conquista de direitos de cidadania (SOARES, 1990). A partir dessa experiência - que se espalhou - uma grande rede de fóruns se organizou nacionalmente e, desde 2005, há Fóruns EJA em todo o país.

Importância do Fórum de EJA do estado do Rio de Janeiro

Em princípio, o Fórum teve sua secretaria executiva aos cuidados da Representação do MEC no Rio de Janeiro (REMEC), depois essa secretaria esteve a cargo da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e, a partir de 2001, por dificuldades de agilizar procedimentos na estrutura que o mantinha, o Fórum foi acolhido pelo Círculo de Estudos em Educação de Jovens e Adultos (CEJA), na Faculdade de Educação da UERJ, quando então se organizou o primeiro projeto de extensão, posteriormente caracterizado como ação extensionista no âmbito de projeto mais amplo.

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A ação extensionista de parceria com o Fórum EJA/RJ organizou-se desde 2001 para dar conta da secretaria executiva, entendendo parceria como um conceito a ser trabalhado e compreendido, no horizonte de ação da área.

Em 1999 nascia a necessidade de ampliar as discussões feitas em cada estado em prol de um movimento nacional, que representasse um espaço de participação, aprendizado e troca de experiências, dando origem ao I Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos (ENEJA), realizado no estado do Rio de Janeiro em 1999. Desde então, a cada ano, esse encontro foi organizado coletivamente com os demais Fóruns e outros parceiros, sob a coordenação de um Fórum local, já tendo alcançado sua décima edição, em 2008, de volta ao estado do Rio de Janeiro, onde tudo começou. Esse encontro reúne estudantes, educadores, estudiosos e pesquisadores, promovendo análises críticas sobre a situação da EJA, socializando estratégias entre os segmentos envolvidos: governos, universidades, organizações não-governamentais (ONGs), movimentos sociais, sindicatos, associações e demais entidades, propondo caminhos que tensionem as políticas públicas na consolidação do direito.

Os últimos dez anos marcam grandes avanços no reconhecimento de negações e denúncia do não cumprimento do direito constitucional de educação para todos. Durante estes dez anos, a ação dos Fóruns em favor da educação continuada, na perspectiva do aprender por toda vida, foi-se organizando em rede, estando abertas as portas do Fórum a todos aqueles que se sentem interessados e preocupados com o rumo da educação em nosso país, uma vez que não se pode prover qualidade sem que se assegure educação continuada como processo de formação humana.

Por meio do Fórum EJA/RJ, profissionais da educação de diferentes instituições assumiram o desafio de construir novas relações, socializando informações de cunho político, pedagógico, administrativo e financeiro. No decorrer do ano de 2008, o Fórum EJA/RJ desenvolveu inúmeras atividades, podendo-se destacar, entre elas: trabalho efetivo e ativo de sete comissões constituídas a partir de setembro de 2007, quando foi definido o RJ como sede do X ENEJA, para organizar localmente o evento nacional; realização de oficina de dados com o concurso do MEC, para estabelecer um diagnóstico da EJA, contando com a presença de três representantes dos estados da região sudeste - um do Fórum, outro o coordenador de EJA da secretaria de estado de educação e, o último, da secretaria municipal de educação da capital; elaboração de diagnóstico, por equipe indicada, sobre a situação da EJA no estado do Rio de Janeiro; definição do município de Rio das Ostras como sede do X ENEJA; participação de membro do Fórum na comissão nacional do MEC que elaborou o documento-base para os encontros estaduais de EJA, segundo metodologia pró-CONFINTEA; realização do encontro estadual de EJA preparatório à VI CONFINTEA com a indicação de dez delegados; participação dos delegados do Rio de Janeiro no encontro regional Sudeste (MG), preparatório ao encontro nacional pró-CONFINTEA; participação de membro do Fórum integrante da comissão nacional do MEC no encontro regional Sul (SC); discussão do tema

juventudes, a partir de pesquisa nacional coordenada pelo IBASE; preparação de

texto-roteiro para nortear as discussões de todos os Fóruns do Brasil, em preparação ao X ENEJA; participação de delegados do RJ no encontro nacional preparatório à VI CONFINTEA (Brasília); elaboração por equipe indicada, a partir de roteiro, do documento do Fórum EJA/RJ preparatório ao X ENEJA, e do Relatório-síntese Nacional dos Fóruns, consolidando os documentos de todos os Fóruns do Brasil; apresentação, pelas comissões, da organização proposta para o X ENEJA (anteriormente submetida, em reunião em Brasília, aos representantes estaduais dos Fóruns EJA); indicação democrática de delegados para o X ENEJA; apresentação, em plenária no RJ, do documento-síntese do Fórum EJA/RJ e do Relatório-síntese Nacional dos demais Fóruns; realização do evento X ENEJA em Rio

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das Ostras, com 600 delegados; participação de membro do Fórum como observador da UNESCO, na Conferência Regional Latino-americana e Caribenha, realizada em setembro de 2008 no México; devolução, em plenária do Fórum, pelos delegados, das discussões do X ENEJA e da Conferência do México aos demais integrantes; alimentação, manutenção permanente e atualização da página eletrônica do Fórum EJA/RJ e, especialmente, no que diz respeito às etapas de construção do X ENEJA.

Importância da participação de estudantes: formação pela prática

Partindo de que "[...] toda a sociedade educa, nos mais distintos espaços em que as pessoas circulam, exigindo, para isso, a ação competente e sistemática de um pedagogo" (CEJA, 2007), pode-se tomar o sentido da frase como um lema adotado pela ação extensionista, que orienta a formação que se pretende para os estudantes de pedagogia que dele participam, por conferir compromisso técnico e político dos graduandos em relação ao direito à educação dos que viveram à margem dos sistemas educacionais. Este é o comprometimento filosófico e prático com que nós, futuros pedagogos, estamos envolvidos, não apenas como bolsistas, mas como colaboradores nos processos experienciados de formação humana.

Para nós, estudantes bolsistas, é desafiador o ato de aprender politicamente a fazer a luta, acionando conhecimentos adquiridos no campo da EJA na graduação, o que nos impulsiona a compreender nosso lugar como licenciados e pedagogos, em defesa de uma educação de qualidade, que alcance todos os sujeitos, independentemente da idade. Em processos de construção coletiva o conhecimento se produz e não é propriedade de um só, todos crescem e se autonomizam, ninguém fica dependente de ninguém. Não fazemos por, mas sim com as pessoas, respeitando seus espaços, tempos. Como Paulo Freire (1985), acreditamos que "as pessoas se educam em comunhão", e que a educação não se faz "de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo".

Considerações finais

A universidade tem exercido um importante papel, não só em projetos de extensão, mas em todos os campos em que se dispõe a dialogar com a sociedade, fortalecendo o tecido social, seja na produção, organização e disseminação de idéias, seja quanto à oferta de espaço físico e a parceria com movimentos da sociedade. Sendo assim, vem possibilitando a alunos, professores e demais pessoas interessadas, especificamente no caso do Fórum EJA, a interrelação da cultura acadêmica em novos espaços de intervenção, de formação continuada, de interlocução permanente, de enredamento social pela busca do exercício da democracia, seja pela liberdade de expressão, seja pelo exercício de horizontalidade nas relações de poder que transformam relações políticas e sociais. É gratificante participar cotidianamente de ações sociais, em que o espaço de diálogo e de produção de conhecimento, de formulação de metodologias, de elaboração de propostas/projetos e de formação de professores e pesquisadores atende às permanentes especificidades da EJA, na dinâmica estrutura social. Por meio da parceria com universidades, os movimentos da sociedade em defesa e para a consolidação de direitos tem sido fortalecidos nas novas parcerias estabelecidas com as demais instâncias sociais, tanto do poder público como da iniciativa privada, com órgãos governamentais e não-governamentais.

Por meio dessa experiência tem sido possível constituir discussões, buscando tensionar o poder público e outras organizações da sociedade, no sentido de trazer

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à cena política atores cujos direitos negados ao longo da história esperam de todos nós envolvimento, compromisso e ação.

Referências bibliográficas

AVANCINI, Marta (Ed.). A educação na imprensa brasileira: responsabilidade e qualidade da informação. Brasília: ANDI/MEC/Unesco, maio 2005.

FÓRUM DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Projeto X ENEJA. Rio de Janeiro, dez. 2007.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra: 1985. CEJA. Projeto Estudos em Educação de Jovens e Adultos. Cadastro de extensão UERJ 2008. UERJ: DEPEXT. Rio de Janeiro, nov. 2007.

SOARES, Magda Becker. Universidade, alfabetização e cidadania. Caminhos. Belo Horizonte: jun. 1990.

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