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VI Congresso Nacional de Administração e Contabilidade - AdCont e 30 de outubro de Rio de Janeiro, RJ

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Academic year: 2021

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1 Currículo Mundial e o Ensino de Contabilidade: Um Estudo Comparativo da Matriz

Curricular dos Cursos de Ciências Contábeis Em Instituições de Ensino Superior Brasileiras e Francesas

Daniel Kouloukoui, Mestrando

Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal da Bahia E-mail: danielkoulou@hotmail.com

José Ronaldo Bezerra Gabriel, Mestrando

Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal da Bahia E-mail: ronaldogabriel@ig.com.br

Jacilene Oliveira Gonzaga Andrade, Mestranda

Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal da Bahia E-mail: jacigonzaga@hotmail.com

Almiro Alexandre Dos Santos Filho, Mestrando

Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal da Bahia E-mail: falmiro@hotmail.com

Emerson Andrade Gibaut, Mestrando

Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal da Bahia Email: emerson_gibaut@hotmail.com

RESUMO

Objetivou-se neste estudo comparar as matrizes curriculares dos cursos de ciências contábeis das Instituições de Ensino Superior da França e do Brasil em relação ao Currículo Mundial (CM) sugerido pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio de setores como o

Intergovernmental Working Group of Experts on International Standards of Accounting and Reporting (ISAR) / United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD). Para

alcançar o objetivo proposto, foram coletadas as Matrizes curriculares disponíveis nos web sites das Universidades dos países em questão. A amostra final foi composta por 20 universidades sendo 10 brasileiras e 10 francesas. Após a coleta, as disciplinas de cada Matriz foram classificadas de acordo com os blocos de conhecimentos mínimos sugeridos pela UNCTAD. Esta pesquisa é descritiva onde os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados. Utilizou-se a abordagem quantitativa por meio das estatísticas para verificar o nível de similaridade entre as matrizes curriculares. De modo geral, os resultados revelam dentre outros achados, que 72,22% das disciplinas das Matrizes Curriculares das Instituições de educação francesa são correlatas ao Currículo Mundial. E 67% das disciplinas das matrizes curriculares das universidades brasileiras são similares ao documento sugerido pela UNCTAD. Concluiu-se que de forma genérica, as matrizes curriculares das universidades dos dois países estão próximas do Currículo Mundial.

Palavras-Chave: Educação superior; Contabilidade; Currículo Mundial (ONU/ISAR/UNCTAD); Matrizes Curriculares.

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2 1 INTRODUÇÃO

O Currículo Mundial (CM) foi desenvolvido pelo Grupo de Trabalho Intergovernamental de Peritos em Padrões Internacionais de Contabilidade (International

Standards of Accounting and Reporting - ISAR), subordinado à Conferência das Nações

Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (United Nations Conference on Trade and

Development - UNCTAD), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU).

O objetivo principal desse currículo é servir de guia na formulação dos currículos do ensino superior da contabilidade. Consubstancia-se que o CM de Contabilidade é um dos resultados da internacionalização do fluxo de capitais internacionais através do desenvolvimento acelerado da alta tecnologia e a necessidade de uma relação mais próxima entre países. A globalização trouxe consigo a necessidade de uma linguagem mais similar possível dos agentes econômicos e usuários da contabilidade em todo o mundo, a qual é considerada a linguagem universal dos negócios. Desse modo, com o intuito de facilitar a linguagem contábil, além do CM, foram criadas as Normais Internacionais de Contabilidade com o objetivo de harmonizar técnicas contábeis, convergindo esses padrões, a exemplo das IFRS.

Diante do processo de internacionalização contábil, Franco (1999) indica que a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento - UNCTAD preocupa-se com a influência desse fenômeno nos países em desenvolvimento, por causa da diversidade da profissão contábil entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Percebe-se, portanto, que caso os países não se adaptem às normas internacionais poderão ficar distantes e em desvantagem em relação aos demais países. Outras correntes afirmam que a falta de orientação educacional aos novos profissionais da área contábil, nos países em desenvolvimento, acarreta uma desvantagem em relação aos países desenvolvidos no sentido de atender os requisitos exigidos pelas normas internacionais. (ERFURTH E DOMINGUES, 2013).

Portanto, preocupados com a capacidade das Instituições de Ensino Superior (IES) de formar profissionais contábeis capazes de atender às novas demandas do mercado, os organismos internacionais têm trabalhado a fim de elaborar um programa de estudos de contabilidade que sirva de referência mundial. A existência de contadores qualificados que atenda às demandas do mercado depende do amplo conhecimento e utilização das normas internacionais.

Culturalmente, a contabilidade de cada país está agregada aos costumes de cada povo e com isso é influenciada por esse âmbito. De fato, a sistematização da contabilidade é influenciada por uma série de regras, tais como: leis, filosofias, procedimentos e objetivos que são causas principais da diversidade contábil de um país para o outro. (NIYAMA, 2005, P. 21)

Na verdade, a educação é influenciada por políticas sociais e economias locais. Dessa forma, cada país insere diferentes métodos e abordagens no ensino da contabilidade. A finalidade é a formação de profissionais com habilidades de acordo com a demanda de sua região.

No Brasil, por exemplo, a criação das diretrizes para o ensino da contabilidade contidas na Resolução CNE/CES 10/2004, salienta que se devem ter componentes mínimos de conteúdos e cada IES deve direcionar o seu currículo respeitando essas orientações. Isso foi um avanço no modelo brasileiro. Desse modo, existem instituições de ensino com propostas diferenciadas. Isso significa dizer que no Brasil até então não existe um currículo único do ensino superior adotado por todas as instituições de ciências contábeis, isto é, cada ensino superior tem seu próprio currículo elaborado. Nesse sentido, percebe-se que a matriz curricular do curso de graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por exemplo,

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3 não é igual ao da Universidade Federal de São Paulo e assim por diante. Esse cenário é o mesmo entre diferentes países, por exemplo, o currículo do curso de contabilidade no Brasil não é o mesmo que na França.

Ressalta-se que a diversidade do currículo contábil não contribui, portanto, para a consolidação do currículo mundial da contabilidade, pois pode ocasionar dificuldades quanto às interpretações econômicas diferenciadas para o mesmo tipo de informação contábil, exigindo do profissional uma maior atenção na conversão dos demonstrativos entre países diferentes. É devido a essa necessidade crescente que foi elaborado o CM para servir de base e fornecer subsídios básicos para a construção do currículo que levaria os profissionais contábeis ao mesmo patamar no que diz respeito à interpretação das normas internacionais de contabilidade. Na opinião de Erfurth e Domingues (2013), é devido à falta de um critério de referência para as qualificações do profissional de contabilidade que se destaca o CM por apresentar de maneira detalhada os conteúdos necessários para que o contador possa estar de acordo com as normas internacionais da sua profissão. Esse CM foi construído há mais 15 anos (1999 à 2015), mas será que os países estão se aproximando do documento sugerido pela ONU/ISAR/UNCTAD? Sob esse prisma, questiona-se: qual é o grau de proximidade das matrizes curriculares das universidades do Brasil e da França em relação ao currículo mundial proposto por ONU/ISAR/UNCTAD?

Assim sendo, o objetivo principal dessa pesquisa é comparar a matriz curricular dos cursos de ciências contábeis das universidades francesas e brasileiras em relação aos conteúdos mínimos sugeridos pelo modelo da UNCTAD para o ensino superior em contabilidade. Esta investigação se justifica pela carência de estudos que buscam especificamente investigar e comparar a matriz curricular dos cursos de ciências contábeis dos dois países em destaque. Urge relembrar que na literatura não se encontrou nenhum trabalho sobre esse enfoque. Essa é a lacuna que o presente estudo pretende preencher. Portanto, a presente pesquisa pode ser considerada relevante por levar em consideração dois países com duas realidades diferentes. Sendo que, a França é um país desenvolvido e o Brasil ainda é um país emergente. Com base nesses aspectos, os achados podem trazer novidades, estimulando discussões acerca do CM, promovendo uma visão mais abrangente dos conteúdos programáticos do curso de ciências contábeis no Brasil e no exterior. Nessas justificativas, espera-se que este estudo contribua para a literatura contábil no que diz respeito à matriz curricular e amplie o conhecimento obtido dos trabalhos anteriores, tendo em vista que, as áreas da educação contábil, particularmente no que se refere à matriz curricular, carecem de pesquisas para a sua melhoria e seu avanço. Outra justificativa para a relevância deste artigo reside no fato de que o mesmo é um dos primeiros a fazer uma comparação com dados de um país lusófono e um francófono.

A presente investigação está organizada em cinco capítulos incluindo, esta introdução. O segundo capítulo aborda a fundamentação teórica, o terceiro apresenta os procedimentos metodológicos, seguido da análise dos resultados no quarto capítulo e por fim a quinta seção aponta as conclusões.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Currículo Mundial de Contabilidade

Currículo pode ser entendido como um documento que compõe o mínimo de disciplinas exigidas de um graduando para sua formação. Na opinião de Tcheou (2002): “Currículo é um conjunto de disciplinas, organizadas em sequência lógica de conteúdos, que busca atender às necessidades e às expectativas da sociedade em relação ao indivíduo a ser formado por ela”.

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4 De acordo com Erfurth e Domingues (2013), o crescimento da economia internacional traz consigo a necessidade de se ter uma linguagem única que possa viabilizar o processo de comunicação entre os agentes econômicos, como também a comparação das empresas e investimentos dos diferentes países no mundo. Contudo, percebe-se que a contabilidade é diferente de um país para outro e consequentemente a formação do Profissional de contabilidade. Isso pode ocasionar problemas quando se trata de interpretação de duas realidades econômicas diferentes, por exemplo. Aliado a isso, os órgãos internacionais (ONU/ISAR/UNCTAD) desenvolveram um modelo de currículo denominado Currículo Mundial (CM) que possa servir de guia ou um ponto de partida para os países na elaboração do seu próprio currículo.

O modelo do currículo mundial foi desenvolvido para fornecer à comunidade internacional uma descrição das áreas técnicas que um aluno deve dominar para se tornar um contador profissional. Ele é parte de um exercício maior para criar um ponto de referência para as qualificações de profissionais contabilistas que, a seguir, lhes permitam uma melhor função e para melhor servir a economia global. Assim, o currículo se destina a servir como um guia para o conteúdo técnico da formação do contador, devendo proporcionar conhecimentos básicos gerais e habilidades que os contabilistas precisam para se destacar em uma economia interdependente. (UNCTAD 1999, p. 1)

É perceptível o impacto da globalização nas mais distintas áreas do cenário mundial, promovendo o entrelaçamento de todas as esferas sociais, culturais e econômicas, revelando assim, uma tendência cada vez maior de uniformizar o conhecimento e isso se reflete claramente na prática das ciências contábeis pelo mundo.

Diante desse cenário, Ricco e Sakata (2004) destacam que houve inúmeras transformações na economia local dos mais diversos países, o que tem gerado um enorme esforço no sentido de harmonizar os modelos econômicos por parte das Instituições de Ensino Superior (IES) nacionais e estrangeiras. Conforme apontam Czesnat, Cunha e Domingues (2009), esse esforço deu origem a um projeto que foi colocado em pauta na Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento - UNCTAD e do ISAR – onde se desenvolveu um currículo para ser utilizado como referência mundial no ensino das Ciências Contábeis. Esse projeto é visto como uma saída para aperfeiçoar os trâmites que envolvem o relacionamento comercial no âmbito internacional.

No entanto, vale ressaltar que as IES não são obrigadas a adotar esse projeto. A proposta sugere a inclusão de módulos de disciplinas capazes de garantir mais qualidade ao ensino contábil, cabe a cada instituição decidir quanto a sua adoção ou não (CAVALCANTE, et.al., 2014). Dessa forma, o currículo mundial visa uniformizar o ensino da contabilidade com o objetivo de permitir ao futuro contador desempenhar suas funções em qualquer lugar do mundo (ERFURTH; DOMINGUES, 2013).

Conforme foi discutido na UNCTAD, o projeto proposto compõe-se quatro blocos de conhecimentos, conforme Quadro 1:

Quadro 1: Blocos de conhecimentos definidos pelo ISAR/UNCTAD (1999) 1. Conhecimentos administrativos e organizacionais 2. Tecnologia de informação 3. Conhecimentos de contabilidade e assuntos afins 4.Conhecimentos gerais

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5 1.1 Economia. 1.2 Métodos Quantitativos e estatística para administração. 1.3 Políticas gerais administrativas, estruturas básicas organizacionais. 1.4 Funções e práticas gerenciais, comportamento organizacional, a função do marketing em administração e princípios de negócios internacionais. 1.5 Módulo de gestão e estratégia organizacional. 2.1 Tecnologia de Informação (TI). 2.1.1 (TI) conceitos para sistemas administrativos. 2.1.2 Controle interno - sistemas informatizados de gestão.

2.1.3 Desenvolvimento de padrões e práticas para a administração de sistemas. 2.1.4 Gestão ,implementação e uso de TI. 2.1.5Gestão da segurança em informação. 2.1.6 Inteligência Artificial, expert systems, fuzzy logic, etc. 2.1.7 Comércio Eletrônico. 3.1 Contabilidade básica e preparação de relatórios financeiros, a profissão contábil padrões contábeis internacionais. 3.2 Práticas contábeis e financeiras avançadas. 3.3 Princípios de relatórios financeiros avançados. 3.4 Contabilidade Gerencial. 3.5 Contabilidade Gerencial – Informação para planejamento, tomada de decisão e controle. 3.6 Tributação. 3.7 Legislação comercial. 3.8 Fundamentos de Auditoria. 3.9 Auditoria: conceitos avançados. 3.10 Finanças e gestão financeira. 4.1 História e religião. 4.2Comportamento humano/ Psicologia. 4.3 Economia local 4.4 Metodologia de pesquisa. 4.5 Artes e Literatura. 4.6 Ética. 4.7 Filosofia. 4.8 Comunicação oral. 4.9 Línguas. 4.10 Experiência profissional/ Estágio.

Fonte: Adaptado, Riccio e Sakata (2004).

Segundo Hendriksen e Van Breda (2014, p. 29) a contabilidade é considerada a linguagem dos negócios, desta forma, o acelerado crescimento das relações comerciais mundiais evidenciou a necessidade de diminuir as diferenças entre as linguagens da prática contábil. Esse crescimento se deu, conforme Shixiu (2008), por causa do avanço da tecnologia e das técnicas de comunicação, o que reduziu os custos de transporte e as barreiras comerciais, aumentando assim as relações comerciais a nível mundial. Deste modo, a falta de uma harmonização nos procedimentos contábeis de todos os países, segundo Martins (2004), incentiva o descrédito da informação contábil, retardando e encarecendo as negociações por exigir muitas vezes regras contábeis diferentes para mensurar o mesmo evento.

De acordo com Leite (2002), os países que adotarem normas contábeis "padronizadas" terão maior vantagem sobre os demais por tornar suas operações mais transparentes e menos arriscadas, o que consequentemente atrairá mais investidores.

Como resultado, a educação em contabilidade em escala global ministrada em todas as IES está sendo gradualmente mobilizada para adotar um currículo padronizado a nível internacional buscando maior eficiência e integração no ensino contábil (BONK E SMITH ,1998).

Essa proposta de um ensino contábil pareado com as necessidades de um mundo cada vez mais unificado promoverá entre outras ações, o desenvolvimento de competências que permitirão ao profissional da área integrar o ambiente particular de suas experiências a uma complexa esfera global. Também provocará a aplicação de ferramentas que possibilitem o exercício da contabilidade por meio de uma nova consciência, mais integrada às necessidades e idiossincrasias de cada região, adotando medidas mais eficazes para transformar a realidade em prol do desenvolvimento coletivo.

O objetivo principal do Currículo Mundial é, então, fornecer conteúdos disciplinares básicos para formação de profissionais capazes de atuarem em seu país e no exterior. Segundo UNCTAD (1999), o currículo detalhado é apenas o ponto de partida para um país que

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6 pretenda harmonizar seu sistema educacional para atender às necessidades globais.

É importante frisar que para olhar o currículo na perspectiva correta, ele deve ser lido com três advertências em mente: em primeiro lugar, o currículo detalhado se destina a servir como um guia para o conteúdo técnico da formação do profissional contabilista. Deve distinguir também o conhecimento geral das habilidades básicas que os candidatos precisam para se destacar em uma economia interdependente. Em segundo lugar, há uma série de abordagens para a formação global de contabilidade. Uma delas é prescritiva e especifica as habilidades necessárias do ensino geral que os profissionais contabilistas precisam desenvolver. É considerada como uma abordagem "input". Outra abordagem é baseada em competência, definida como a capacidade de realizar atividades dentro de uma ocupação ou função para os padrões esperados no emprego. Em seguida, ela especifica quais competências os profissionais contabilistas precisam para se destacar no mercado do trabalho. Em terceiro e último lugar, deve mencionar que o currículo detalhado é apenas o ponto de partida para um país que pretende harmonizar seu sistema educacional para atender às necessidades globais (UNCTAD, 1999). Entende-se, portanto, que cada país deve tomar como base o currículo e desenvolver os conteúdos programáticos correspondentes, determinar o tempo a ser gasto em cada módulo e adaptar o conteúdo às necessidades nacionais ou regionais.

Curso de Ciências Contábeis no Brasil

No Brasil, segundo Santos, Ribeiro e Domingues (2013) o ensino de Ciências Contábeis originou-se nas Escolas de Comércio. A primeira instituição formal de ensino contábil no país foi a Escola Politécnica, fundada no Estado de São Paulo, em 1894, que no Curso Preliminar, equivalente ao primeiro ano de Engenharia, ministrava aulas de Escrituração Mercantil e conferia ao concluinte o diploma de Contador (MARTINS, SILVA E RICARDINO, 2006). Os primeiros diplomas da referida escola foram reconhecidos em 1900 pelo Decreto Federal nº. 727. Também, em 1905, o Decreto Federal nº 1.339, reconheceu os diplomas expedidos pela escola Álvares Penteado.

De acordo com Leite (2005), as escolas de comércio representaram os primeiros passos para o surgimento de um bom número de cursos de nível médio e superior no país, entre estes, o curso Técnico em Contabilidade e o curso superior de Ciências Contábeis, que surgiram algumas décadas depois, em 1945. O Decreto nº 20.158 de 1931 reorganizou o ensino comercial, dividindo-o em níveis técnico, superior e propedêutico (SANTOS, RIBEIRO E DOMINGUES, 2013).

Em 1961, foi criada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, revisada pela Lei n. 9.394, de 1996. A Resolução CNE n. 10/2004 instituiu as diretrizes que Os currículos dos cursos de Ciências Contábeis do Brasil devem seguir. Segundo Czesnat, Cunha e Domingues (2009), O artigo 3º desta Resolução estabelece que o curso deve capacitar o profissional a: (1) Compreender as questões científicas, técnicas, sociais, econômicas e financeiras em âmbito nacional e internacional e nos diferentes modelos de organização; (2) Apresentar pleno domínio das responsabilidades funcionais envolvendo apurações, auditorias, perícias, arbitragens, noções de atividades atuariais e de quantificações de informações financeiras, patrimoniais e governamentais, com a plena utilização de inovações tecnológicas; (3) Revelar capacidade crítica-analítica de avaliação, quanto às implicações organizacionais com o advento da tecnologia da informação.

Ainda, de acordo com Czesnat, Cunha e Domingues (2009),

“os cursos de graduação em Ciências Contábeis, bacharelado, deverão contemplar, em seus projetos pedagógicos e em sua organização

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7 curricular, conteúdos que revelem conhecimento do cenário econômico e financeiro, nacional e internacional, de forma a proporcionar a harmonização das normas e padrões internacionais de contabilidade, em conformidade com a formação exigida pela Organização Mundial do Comércio e pelas peculiaridades das organizações governamentais, observando o perfil definido para o formando”

2.2 Revisão da Literatura acerca do Currículo Mundial

Vários estudos foram realizados com o intuito de verificar até que ponto os currículos dos cursos de ciências contábeis são próximos ao currículo Mundial sugerido pelas organizações internacionais.

No cenário internacional, Walsh (1998) analisou o currículo necessário para a formação do contador em função da globalização da economia. Posteriormente, Calhoun e Walsh (2000) objetivaram comparar o grau de similaridade entre as matrizes curriculares dos programas do IFAC (IEG9), UNCTAD, AACSB. Os achados demonstraram que existe similaridade entre os programas do IFAC (IEG9), UNCTAD, AACSB – Association to

Advance Collegiate Schools of Business e ACCA – Association of Chartered Certified Accountants, apesar de pequenas diferenças de conteúdo.

Feliu & Rosa (2010), por sua vez, realizaram um estudo comparativo das matrizes curriculares das universidades brasileiras, espanholas e portuguesas. O objetivo principal dessa análise foi identificar se os graduados em contabilidade das universidades acima referidas estão preparados de acordo com as variáveis de formação de conhecimento e habilidades sociais; conhecimento da formação profissional; avaliação da competência profissional; aquisição de experiência profissional e de educação continuada, instituído pela ISAR / UNCTAD e IFAC, para atuar no mercado global. Os autores concluíram que os graduados em contabilidade das universidades brasileiras, espanholas e portuguesas não estão preparados de acordo com os requisitos sugeridos pela ISAR / UNCTAD e IFAC para realizar suas atividades em uma economia globalizada.

No panorama nacional, Riccio & Sakata (2004) em seu estudo objetivaram comparar as matrizes curriculares dos cursos de ciências contábeis das universidades do Brasil e de Portugal. Para alcançá-lo, foram coletados dados de 25 Universidades Brasileiras e 25 Universidades Portuguesas. A amostra foi composta, então, por 50 universidades desses dois países. Como resultado, analisando-se o posicionamento em relação ao CM, observou-se que o Bloco de Conhecimentos Administrativos e Organizacionais - tanto do Brasil como de Portugal - é o que apresentou maior aproximação. O que mais se distanciou foi o bloco de conhecimentos gerais. Outra característica notada nos resultados é a quantidade ainda baixa de disciplinas de Tecnologia de Informação na maioria das grades curriculares.

De forma análoga, Mulatinho (2007), em sua dissertação de Mestrado, fez questão de comparar as matrizes curriculares e da Percepção dos Docentes dos Cursos de Graduação das Universidades Federais da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, referente ao

Programa Mundial de Estudos em Contabilidade (PMEC) proposto pelo

ISAR/UNCTAD/ONU. Os achados mostraram que as Instituições Federais de Ensino (IFES) estudadas contemplam as disciplinas do PMEC, exceto nas áreas: TI, Tópicos Internacionais, Contabilidade Social, Ambiental e Internacional, bem como o estudo de línguas estrangeiras. Foi identificado também o excesso burocrático e a rigidez como fator impeditivo de remodelagem curricular das IFES, bem como se chegou à compreensão de que é necessária a obrigatoriedade do exame de suficiência e do Programa de Educação Continuada para todos os contadores para fortalecimento da profissão.

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8 Czesnat et al. (2009) por sua vez objetivaram comparar as matrizes curriculares dos cursos de ciências contábeis das Universidades do Estado de Santa Catarina. A amostra foi composta por 12 Universidades desse Estado. Os resultados apontaram que 88,27% das disciplinas dos currículos pesquisados estão adaptadas ao currículo mundial; no entanto, apenas quatro das universidades pesquisadas ofertam Contabilidade Internacional como disciplina obrigatória.

Com o intuito de comparar as grades curriculares dos cursos de contabilidade em universidades paranaenses em relação ao CM, Dos Santos, Domingues e Ribeiro (2013), selecionaram 72 Instituições desse estado, representando a amostra do trabalho, sendo 57 privadas e 15 públicas. Os resultados revelam, dentre outros achados, que 88,38% das disciplinas das Matrizes Curriculares das Instituições de educação paranaenses são correlatas ao Currículo Mundial. Os resultados foram analisados sob a perspectiva da Teoria Institucional, por meio da qual se justifica a similaridade encontrada.

Segantini et al. (2013) objetivaram no seu trabalho analisar e comparar a adequação dos currículos dos cursos de ciências contábeis de quatro universidades do MERCOSUL, sendo uma de cada país, com o currículo proposto pela ONU/UNCTAD/ISAR. As Universidades selecionadas foram: Facultad de Ciências Econômicas de la Universidad de

Buenos Aires (Argentina); Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da

Universidade de São Paulo (Brasil); Universidad Nacional de Asunción (Paraguai); e

Facultad de Ciências Econômicas y de Administración de la Universidad de la República

(Uruguai). Os resultados indicam que a similaridade entre os currículos das quatro universidades selecionadas com o proposto da ONU/UNCTAD/ISAR é alta, existindo, em média, 76,71% de semelhança entre as matérias dos currículos.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nesta seção são descritos os caminhos metodológicos utilizados para a elaboração deste trabalho, o passo a passo da investigação, as técnicas e procedimentos utilizados. Segundo Bookman (2005, P. 29), o método é um instrumento do conhecimento que proporciona aos pesquisadores, em qualquer área de sua formação, orientação geral que facilita planejar uma pesquisa, formular hipóteses, coordenar investigações, realizar experiências e interpretar os resultados.

Esta pesquisa é descritiva. Para Andrade (2005, P. 124), “nesse tipo de pesquisa, os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira neles. Isto significa que os fenômenos do mundo físico e humanos são estudados, mas não manipulados pelo pesquisador.” Para Gil (2010), a pesquisa descritiva tem como objetivo expor as características de determinada população. Podem também ser realizadas com a finalidade de identificar possíveis relações entre variáveis.

No que diz respeito aos procedimentos, a presente pesquisa é bibliográfica e documental, adotou a abordagem quantitativa para calcular a média aritmética e a proporção de relação entre as disciplinas dos currículos apresentados pelas Instituições de Ensino. A população deste estudo é formada por todas as universidades dos países em questão.

Para efeito de comparação, este trabalho considera que a proposta do modelo curricular feita pelo UNCTAD contém os conteúdos mínimos de cada um dos quatro blocos

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9 de conhecimento. Sendo assim, aquele país que apresentar maior percentual em determinado bloco ou valor agregado maior em posicionamento ao CM será considerado como o mais próximo do documento.

3.1 População e Composição da Amostra

A presente pesquisa é descritiva e utilizou procedimentos documentais por meio de análise de conteúdo. O universo foi composto por todas as IES brasileiras e francesas disponíveis nos site web das respectivas universidades.

Para a obtenção dos dados, primeiramente, um acesso foi realizado junto ao sítio de ministério de educação de cada país onde foi possível encontrar a lista de todas as instituições de ensino superior (IES). Encontraram-se cerca de 800 cursos de ciências contábeis de universidades, institutos públicos e privados de ensino superior oferecido no Brasil. Na plataforma do ministério da educação da França, encontraram cerca de 73 instituições públicas e privadas que oferecem curso de contabilidade disponibilizados no site web.

Em seguida, realizou-se um acesso ao sítio de cada universidade da França com o propósito de coletar a matriz curricular. Nessa etapa, foram encontradas apenas 10 instituições que disponibilizaram os conteúdos programáticos em formato adequado para a construção desse trabalho. Assim, para efeito de comparação entre os dois países, foram selecionadas, aleatoriamente, também 10 instituições de curso de ciências contábeis no Brasil para que o número de universidade dos dois países fosse igual.

Por fim, a amostra foi composta por 20 cursos de ciências contábeis em universidades e faculdades do Brasil e da França (10 universidades para cada país). A lista das universidades objeto desse estudo é apresentada no quadro a seguir:

Quadro 2: Amostra de Universidades da França e do Brasil

FRANÇA BRASIL

1) Université Aix Marseille 1) Universidade de São Paulo

2) Université d'Angers 2) Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto

3) Université des Antilles et de la Guyane 3) Pontifícia Universidade Católica São Paulo

4) Université de Franche_Comité 4) Universidade de Minas Gerais

5) Université de Montpelier 1 5) Universidade Federal da Bahia

6) Université de Nantes 6) Universidade Federal do Ceará

7) Université de Paris 1 7) Universidade Federal do Rio Grande do Sul

8) Université de Picardie 8) Universidade Federal de Santa Catarina

9) Université de Strasbourg 9) Fundação Visconde de Cairu

10) Université de Reims 10) Universidade Federal do Rio de Janeiro

Fonte: dados da pesquisa 2015 3.2 Modelo da Pesquisa

O presente estudo buscou analisar e identificar os pontos comuns mensurados em percentagem e/ou em valores agregados dos componentes de matrizes curriculares dos cursos de ciências contábeis em universidades do Brasil e da França. Em seguida, examinar até que ponto, as matrizes curriculares estão alinhadas de acordo com as recomendações sugeridas pelas instituições internacionais assim como no trabalho de Riccio e Sakata (2004).

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10 Com base na Tabela 1 do ISAR/UNCTAD (1999), as matrizes curriculares de cada curso serão analisadas e classificadas também de acordo com os blocos de conhecimento, ou seja, o estudo categoriza as disciplinas das matrizes curriculares de cada Universidade de acordo com a estrutura conceitual da UNCTAD. Dessa forma, serão classificadas as disciplinas em cada bloco de conhecimento que são: 1. Conhecimentos Administrativos e Organizacionais (CAO); 2. Tecnologia de Informação (TI); 3. Conhecimentos de Contabilidade e assuntos afins (CC); 4. Conhecimentos Gerais (CG).

Para atingir o objetivo deste estudo, após a classificação de cada grade curricular por blocos, calculou-se a percentagem de cada bloco de conhecimento em relação ao total. O mesmo procedimento foi feito para o currículo mundial. Assim as percentagens obtidas de cada grade são confrontadas com as do CM.

Enquadramento e Limitações Da Pesquisa

O objetivo dessa pesquisa é comparar as matrizes curriculares dos cursos de ciências contábeis das Instituições de Ensino Superior da França e do Brasil em relação ao Currículo Mundial (CM). Para alcançá-lo, este estudo comparou primeiro as matrizes dos cursos franceses e brasileiros entre si e em seguida em relação ao CM.

Este trabalho apresentou inúmeras de limitações que precisam ser devidamente destacadas. Uma das limitações, como na maioria dos estudos, é o tamanho da amostra. Apenas 10 universidades francesas de cursos de contabilidade disponibilizaram dados suficientes para a realização do presente estudo, por essa razão, foram selecionadas também 10 universidades no Brasil para que a amostra seja igual nos dois países assim facilitando as comparações. Para as demais, foi enviado e-mail para solicitar a matriz curricular junto às IESs francesas, porém nenhuma respondeu. Também é importante ressaltar que, não consideramos as disciplinas optativas, pois, durante a classificação dos dados, percebeu-se que em grande parte dos cursos não há tais disciplinas. Enquanto algumas instituições têm até 12 optativas outras não têm nenhuma, isso poderia interferir nos resultados. Ppor essa razão, as disciplinas optativas foram desconsideradas nesse trabalho.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Inicialmente, apresentou-se a estatística descritiva de todas as universidades, subdivididas por país, de acordo com os quatros blocos de conhecimento proposto por ISAR/UNCTAD (1999). A seguir são apresentados os resultados.

Tabela 1: Síntese da classificação por blocos de conhecimento versus Países

BLOCOS DE CONHECIMENTOS BRASIL FRANÇA

TOTAL % TOTAL % 1. Conhecimentos administrativos e organizacionais 98 22% 208 40% 2. Tecnologia de Informação 14 3% 34 7% 3. Conhecimentos de Contabilidade e assuntos afins 234 55% 131 25% 4. Conhecimentos Gerais 86 20% 143 28%

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MÉDIA DAS DISCIPLINAS 45 52

Fonte: Dados da pesquisa 2015

Observa-se a partir da Tabela 1 que a média das disciplinas oferecidas nas 10 universidades brasileiras (média de 45 disciplinas) e 10 universidades Francesas (média de 52) é um pouco distante, ou seja, existe uma diferença de sete disciplinas. Porém, esses valores não podem ser considerados isoladamente, conforme sinalizam Raccio e Sakata (2004) no seu trabalho, uma vez que, se faz necessário estudar todo o conteúdo programático. Por isso, esse resultado carece de uma análise mais detalhada e aprofundada. Contudo, considerando o foco da pesquisa, essa diferença pode fornecer indícios sobre a educação contábil dos dois países.

Levando em consideração a média simples das disciplinas: O Conhecimento de Contabilidade e assuntos afins, representa mais de 50% das disciplinas ofertadas pelas universidades brasileiras. Em termo de contagem, observa-se uma média de 25 disciplinas de contabilidade.

No que diz respeito aos Conhecimentos Administrativos e Organizacionais, apresentaram-se como o segundo bloco com disciplinas mais oferecidas no Brasil (22%; na média 10 disciplinas), abrange as disciplinas de economia, métodos quantitativos, estatísticas etc. No tocante às disciplinas do Conhecimento Geral, apontou-se em terceiro lugar com 20% das disciplinas oferecidas, o que representa uma média de 9 disciplinas oferecidas por universidade. Entretanto, esse bloco apresentou uma maior variação, isto é, enquanto algumas universidades oferecem 1 disciplina outras oferecem 17 (ver Anexo 1) . Em outras palavras, algumas universidades oferecem 17 vezes mais disciplinas do que outras. Por fim, as disciplinas de tecnologia são menos oferecidas, a maioria das universidades oferecem 1 ou 2 disciplinas na média. Pode-se destacar nesse bloco, disciplinas básicas de informática.

Seguindo a mesma metodologia utilizada às IESs brasileiras, os resultados sugeriram que a maior concentração de disciplinas oferecidas nas IESs francesas, ao contrario do Brasil, são concentradas nas disciplinas de Conhecimentos Administrativos e Organizacionais, representando na média 21 disciplinas desse bloco. Percebeu-se que todas as universidades ofertam disciplinas de forma moderada, ou seja, não existem grandes variações nesse bloco de conhecimento (Anexo 1). Em segundo lugar encontram-se o bloco de conhecimentos gerais com uma porção de praticamente 28%, isto é, 28% das disciplinas oferecidas se concentram nesse bloco, representando de forma agregada na média de 15 disciplinas em cada curso (ANEXO 1). Em terceiro lugar, encontra-se o Conhecimento de Contabilidade onde 25% das disciplinas são concentradas. Seguido da Tecnologia da Informação onde se concentra apenas 7% das disciplinas oferecidas, representando na média 4 disciplinas por curso.

COMPARAÇÃO: Brasil e França em relação ao CM do ISAR/UNCTAD

Como efeito de comparação, e considerando o objetivo principal do presente estudo, as disciplinas das 20 universidades brasileiras e francesas foram classificadas de acordo com o padrão ISAR/UNCTAD conforme pode ser observado na tabela 2 a seguir:

Tabela 2 Comparação Brasil, França versus UNCTAD

BLOCOS DE CONHECIMENTOS BRASIL FRANÇA UNCTAD

1. Conhecimentos administrativos e organizacionais 23% 40% 30%

2. Tecnologia de Informação 3% 7% 7%

3. Conhecimentos de Contabilidade e assuntos afins 55% 25% 50%

(12)

12

TOTAL DAS DISCIPLINAS 44 52 72

Fonte: Dados da Pesquisa 2015

Na Tabela 2, de forma genérica, a França fica mais próxima do Currículo Mundial. Porém, esses valores não podem ser considerados de forma global, assim, faz-se necessário analisar de maneira mais detalhada; por bloco de conhecimentos e por disciplinas oferecidas.

Abrindo a comparação por bloco de conhecimentos, o gráfico abaixo demonstra que, quanto às disciplinas de Conhecimentos Administrativos e Organizacionais, a França está mais próxima do padrão proposto pela UNCTAD. A seguir é ilustrado o gráfico- 1 que permite a interpretação dos resultados.

Gráfico 1– Comparação: Brasil e França versus UNCTAD/Conhecimentos Organizacionais

No que tange o bloco de TI, a França apontou-se mais próxima do padrão da UNCTAD, conforme apresentado no gráfico 2. Nesse bloco, o Brasil se distanciou do CM em relação à França, isto é, enquanto a França destacou-se com 80% de similaridade, o Brasil apresentou-se 40% (Ver Anexo 2). Como implicação desse estudo, esse achado pode ser interpretado pelo fato da França ser um país desenvolvido onde a tecnologia é mais avançada do que no Brasil.

Gráfico 2– Comparação: Brasil e França versus UNCTAD/Tecnologia de informação

Quanto ao bloco de conhecimento de contabilidade e assuntos afins, o Brasil encontra-se mais próximo do sugerido no documento da UNCTAD. Com um nível de similaridade de 67%, enquanto a França demonstrou apenas 36% de grau de similaridade (Ver Anexo 2). A seguir são apresentados no gráfico 3 os resultados dessa comparação.

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13 Gráfico 3– Comparação: Brasil e França versus UNCTAD/ bloco de Contabilidade

Por fim, no que diz respeito ao bloco de Conhecimentos Gerais, ambos os países estão próximos do padrão ISAR/UNCTAD. Porém, a França apresentou um número maior de disciplinas do que o documento da UNCTAD nesse bloco. O Brasil se aproximou com 89% de similaridade. Isso pode ser obervado nos resultados apresentados no gráfico- 4 abaixo.

Gráfico 4– Comparação: Brasil e França versus UNCTAD/ Conhecimentos gerais

De forma genérica, conforme retratado (ver anexo 2), a média das disciplinas oferecidas no Brasil é de 44. Esse achado está próximo dos achados de Riccio e Sakata 2004, no qual a média encontrada foi de 42. Na França o resultado é diferente, apontou-se uma média de 52 disciplinas para as universidades estudadas, o que representa uma média um pouco maior do que a do Brasil.

Considerando o bloco de Conhecimento Administrativos e Organizacionais, observa (Anexo 2) que a França está mais próxima do documento da UNCTAD com praticamente 95% de grau de similaridade. Esse bloco é composto por disciplinas tais como: Economia, Macroeconomia, Microeconomia, Matemática, Estatística, Gestão etc. Esse resultado sugere que um Profissional formado na França está teoricamente mais preparado nos Conhecimentos Administrativos e Organizacionais para atender às exigências do mercado globalizado, considerando as características da amostra estudada. Nesse bloco, o Brasil demonstrou uma proximidade de 45%.

No que diz respeito ao conhecimento de Tecnologia de Informação, a França se destacou ainda mais próxima do documento da UNCTAD com grau de similaridade de 80%. O Brasil apresentou menor similaridade com um resultado de praticamente 40%. Esse maior grau de proximidade da França pode ser explicado pelo fato de ser um país desenvolvido onde a tecnologia é mais avançada e praticamente todos os sistemas são informatizados.

(14)

14 No tocante ao bloco de Conhecimentos de Contabilidade e Assuntos Afins, o Brasil se destacou com maior grau de similaridade em relação ao documento sugerido pela UNCTAD, ou seja, praticamente 67%. Observou-se que, no Brasil, a maioria das disciplinas oferecidas é voltada ao bloco de Contabilidade (mais de 55% das disciplinas são desse bloco). Esse resultado pode implicar que um Profissional de contabilidade formado no Brasil possui teoricamente mais requisitos necessários nessa área para atuar no mercado globalizado do que um Profissional formado na França (36%).

Por fim, no que tange ao bloco de Conhecimentos Gerais, a França ultrapassou o conteúdo programático mínimo sugerido pela ONU/ISAR/UNCTAD. Isso é devido principalmente à predominância das disciplinas tais como línguas: Inglês (Inglês1, Inglês2, Inglês3 etc.) Espanhol, Psicologia, Metodologia de Pesquisa, Sociologia, Capacitação Profissional, Projetos, Espaço Europeu, Mapa, Relatório de Estágio, Metodologia Profissional etc. em quase todas as universidades francesas analisadas. Vale descartar que essa percentagem elevada é devida a quatro universidades (3, 4, 5 e 8, ver gráfico 4) que apresentaram um grande numero de disciplinas nesse bloco de conhecimento. O numero elevado de disciplinas dessas universidades tiveram repercussões sobre a média global da França. O Brasil mostrou-se com 89% de similaridade nesse bloco.

5. CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo principal comparar a matriz curricular dos cursos de ciências contábeis das universidades francesas e brasileiras em relação ao currículo mundial (CM) sugerido pela ONU/ISAR/UNCTAD a fim de constatar qual dentre os dois países está mais próximo. Para tanto, foram coletados os componentes curriculares presentes no Web site de cada Universidade. A amostra totalizou 20 Universidades (10 brasileiras e 10 francesas).

De forma genérica, a França apontou-se como mais próxima do documento sugerido pela UNCTAD com praticamente 72% grau de similaridades. O Brasil apresentou um grau de similaridade de aproximadamente 61%. Levando em consideração o bloco de Conhecimentos Administrativos e Organizacionais, a França destacou-se com maior similaridade atingindo 95% enquanto o Brasil apresentou 45% de grau de similaridade nesse bloco. No que refere ao bloco de Tecnologia de Informação, a França mostrou-se mais próxima do CM com um grau de similaridade de 80%. No que diz respeito ao bloco de Contabilidade e Assuntos Afins, o Brasil destacou-se como a mais próxima do documento da UNCTAD com 67% de similaridade. Em relação ao bloco de Conhecimentos Gerais que tem uma visão mais abrangente e vai além das disciplinas da área contábil, incorporando as disciplinas da filosofia, história, sociologias e principalmente línguas estrangeiras, ambos os países estão próximos.

Vale ressaltar que esses achados devem ser interpretados com certa prudência, tendo em vista que os dois países adotam um sistema educacional diferente. Além disso, o modelo adotado na França é um modelo Europeu onde a formação do contador requer também conhecimentos mais aprofundados de Economia e Administração. Esse fato foi observado no bloco de conhecimentos organizacionais onde a França se destacou com maior similaridade (95%). Lembrando que esse bloco é composto pela maioria das disciplinas da economia tais como: Matemática, Microeconomia, Macroeconomia, Estatísticas, Probabilidade, Economia etc. também é importante frisar que na França não tem bacharel em ciências contábeis, mas sim licenciatura. Contudo, tratando-se de uma pesquisa exploratória, tais resultados podem oferecer indícios sobre as diferenças na Educação Contábil entre os países.

(15)

15 É importante relembrar que esse estudo não tem nenhuma intenção de classificar as universidades quanto à qualidade do ensino, apenas comparar as Matrizes curriculares em relação ao Currículo Mundial proposto pelas organizações internacionais – ONU/ISAR/UNCTAD. Assim o fato da Universidade ser próxima do CM, não significa dizer que é a melhor. Com base nos aspectos até aqui analisados, considerando o objetivo principal do estudo, os achados encontrados e interpretados demonstraram que as matrizes curriculares das instituições dos países em questão estão próximas do CM. Como futura pesquisa, sugere-se ampliar a amostra.

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ANEXO 1 UNIVERSIDADES DO BRASIL Universidade/Faculdade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 MÉDIA 1. Conhecimentos Organizacionais 14 10 10 10 6 11 8 9 7 13 9,8 2. Tecnologia de Informação 1 1 1 2 1 2 1 3 2 0 1,4 3. Conhecimentos de Contabilidade 23 32 28 22 25 25 27 19 29 13 24,3 4. Conhecimentos Gerais 8 11 1 3 7 6 10 7 17 16 8,6 TOTAL 46 54 40 37 39 44 46 38 55 42 44,1 UNIVERSIDAES DA FRANÇA Universidade/Faculdade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 MÉDIA 1. Conhecimentos Organizacionais 22 20 24 23 15 25 14 19 24 22 20,8 2. Tecnologia de Informação 3 3 5 3 4 3 2 3 3 5 3,4 3. Contabilidade 12 16 8 16 14 8 13 15 11 18 13,1 4. Conhecimentos Gerais 12 13 18 17 24 7 11 20 6 15 14,3 TOTAL 49 52 55 59 57 43 40 57 44 60 51,6 45% 40% 67% 89% 61% 95% 80% 36% 156% 72% 100% 100% 100% 100% 100% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 140% 160% 180%

1. organizacionais2. Tecnologia 3. Contabilidade 4. Gerais MÉDIA TOTAL

Proximidade dos Países em Relação ao CM

Brasil França UNCTAD

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