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Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

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Cópias da sentença do 1.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa e do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferidos no processo de registo de marca nacional n.° 285 988.

Mustang Bekleidungswerke, G. m. b. H. & Co., e Mustang Portuguesa, Fábrica de Confecções, L.da, recorrem do despacho do director do Serviço de Marcas do Instituto

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Nacional da Propriedade Industrial que deferiu o registo da marca nacional n.° 285 988, Mustageo, alegando que esta marca é susceptível de se confundir com a marca internacional n.° 286 468, Mustang, anteriormente regis- tada. De facto, ambas as marcas se destinam a vestuário confeccionado (destinando-se a das recorrentes apenas a jeans). As semelhanças gráficas e fonéticas entre as duas marcas são indiscutíveis, podendo induzir em erro o consumidor normal. A marca agora registada é constituída por oito letras, sendo seis dessas letras comuns com a marca das recorrentes. A única letra da marca das recorrentes que a marca agora admitida não reproduz é o «n», acrescentando as duas letras finais «eo», diferenças que são manifestamente insuficientes para permitir uma distinção fácil entre as duas marcas. Aliás, o serviço recorrido já seguiu o entendimento das aqui recorrentes ao indeferir o registo de marcas como «Mustangue» e «Mostang».

Responde a entidade recorrida que estamos perante duas palavras com diferente número de sílabas, em que a única sílaba idêntica é a primeira, a qual não é a sílaba tónica em qualquer das palavras. Entende, por isso, que as marcas não são facilmente confundíveis.

Para averiguar se duas marcas são susceptíveis de se confundir facilmente e assim induzir em erro o consumi- dor, favorecendo actos de concorrência desleal, tem de se proceder à sua comparação gráfica, figurativa e fonética. Refira-se desde já que uma interpretação literal do artigo 94.° do Código da Propriedade Industrial, confir- mada por aquela que vem sendo jurisprudência corrente nesta matéria, os critérios referidos não são cumulativos, pelo que basta a susceptibilidade de confusão entre as duas marcas com base num só desses aspectos para que se considere haver imitação das mesmas. Do ponto de vista figurativo, não há muito a dizer por se tratar de marcas cuja expressão figurativa é nula, pois são cons- tituídas apenas pelas palavras «Mustang» e «Mustageo». Quanto ao aspecto gráfico, pode-se dizer o mesmo. Resta- -nos o aspecto fonético na medida em que a marca de cujo registo se recorre é constituída por oito letras, das quais seis são comuns com a marca das recorrentes. As dife- renças podem ser encontradas no diferente número de sílabas e no facto de a sílaba tónica ser diferente (por a única letra da marca das recorrentes que não é comum com a marca ora em questão fazer parte desta sílaba), «ta» e «tang». As primeiras sílabas são iguais e apenas a marca ora recorrida possui terceira sílaba. Em especial este aspecto do diferente número de sílabas e da existência de uma terceira sílaba na marca recorrida torna difícil a pretendida confusão entre as marcas. Pronunciando uma e outra palavra, fica-se com a sensação que é pouco provável a confusão, até porque a marca ora recorrida pode ser acentuada na última sílaba, que é totalmente diferente e distinta de qualquer das sílabas da marca da recorrente. Por todo o exposto, nego provimento ao recurso e confirmo o despacho que deferiu o registo da marca nacional n.° 285 988, Mustageo.

Custas pelas recorrentes. Registe e notifique.

Após trânsito, devolva o processo administrativo ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial e remeta certidão da sentença.

Lisboa, 10 de Julho de 1995. - (Assinatura ilegível.)

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

Mustang Bekleidungswerke, G. m. b. H. & Co., e Mustang Portuguesa, Fábrica de Confecções, L.da, vieram, ao abrigo do disposto nos artigos 203.° e seguintes do Código de Processo Civil, recorrer do despacho do INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial de 31 de Ja- neiro de 1994 que concedeu o registo à marca nacional n.° 285 988, Mustageo.

Fundamenta o pedido, em síntese, em poder haver manifesta confusão entre a marca nacional Mustang, sendo idênticos ou afins os produtos identificados pelas marcas em confronto.

Foi citado o recorrido, que respondeu dizendo que lhe parece não serem tais mais confundíveis, muito menos facilmente confundíveis (fl. 71) (artigo 207.° do Código da Propriedade Industrial).

Foi proferida decisão a negar provimento ao recurso, confirmando o despacho que deferiu o registo da marca nacional n.° 285 988; Mustageo.

Interpôs a requerente Mustang recurso, que foi admitido. Formulam as seguintes conclusões:

a) A confusão entre as denominações sociais das apelantes e a marca nacional n.° 285 988, Mustageo, é evidente;

b) Deveria ter sido recusado o registo à referida marca nacional, nos termos do n.° 12 do arti- go 93.° do Código da Propriedade Industrial, pois trata-se de uma imitação parcial da marca Mustang, anteriormente registada para o mesmo produto ou produto semelhante;

c) Quando estamos em sede de imitação, para que a marca possua a necessária eficácia distintiva deve obedecer, além de a outros, ao requisito da novidade, ou seja, tem de ser possível fazer-se a distinção entre ela e as marcas anteriores legalmente adoptadas;

d) O primeiro dos dois princípios fundamentais em que se traduz o respeito pelo requisito da novi- dade é o de que uma marca não tem de ser distinta de toda e qualquer outra já existente, seja qual for o produto para que tiver sido adoptada e esteja sendo usada, mas tem de ser distinta e portanto nova no sentido de que não deve confundir-se com qualquer outra que tenha sido adoptada ou usada para produtos do mesmo género;

e) Para determinar a semelhança ou afinidade dos produtos cumpre, em primeiro lugar, atender à sua função ou aplicação, à potencial existência de uma clientela comum para os dois produtos e à possibilidade concorrencial que entre eles possa estabelecer-se;

f) As marcas Mustang e Mustageo destinam-se ambas a assinalar produtos têxteis e de vestuário, destinam-se ambas à mesma classe de produtos, a 25." classe, destinam-se ambas ao mesmo tipo de produtos de vestuário e que os profissionais do sector habitualmente designam por jeans wear, enfim, destinam-se a produtos cuja afini- dade é mais do que manifesta;

g) O segundo dos princípios fundamentais em que se traduz o respeito pelo requisito da novidade é o de que entre a marca nova e qualquer outra

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marca que tenha sido adoptada ou usada para produtos do mesmo género não pode existir semelhança gráfica, figurativa ou fonética que induza facilmente em erro ou confusão o con- sumidor, não podendo este distingui-las senão depois de exame atento ou confronto;

h) A sentença limita-se a proceder à comparação fonética e, ainda que assim a não qualifique, à comparação gráfica;

i) Ao proceder à comparação fonética, mistura argumentos de ordem fonética com argumentos de ordem gráfica;

j) A análise dos aspectos gráfico e fonético tem de ser feita separadamente, já que os critérios não são cumulativos, bastando por isso a susceptibi- lidade de confusão entre as duas marcas com base num só desses aspectos para que se con- sidere haver imitação das mesmas;

l) De um ponto de vista gráfico pode dizer-se que tanto as letras no seu conjunto como quer as consoantes, quer as vogais, quando isoladamente consideradas, são quanto ao número, quanto à ordem e quanto à posição exactamente iguais nas duas marcas, excepto nos poucos casos assina- lados em que há apenas uma, e uma só, dife- rença, pelo que o consumidor é facilmente confundido;

m) De um ponto de vista fonético, só pode ficar com a sensação de que é pouco provável a confusão entre as palavras quem as não pronuncia correc- tamente, isto é, quem não as pronuncia tendo em conta que a sílaba tónica é, em ambos os casos, a segunda sílaba;

n) Há possibilidade de confusão entre as duas marcas, não só com base no critério gráfico como também com base no critério fonético, pelo que não pode deixar de se considerar que há imitação;

o) Acresce que sempre que a marca, no seu con- junto, possua uma semelhança tal como a outra que possa determinar a confusão entre as duas deve considerar-se a marca como imitada, olhan- do-se à semelhança do conjunto, e não à natureza das dissemelhanças, ou do grau das diferenças que as separam;

p) Independentemente das eruditas minuciosidades gráficas e fonéticas, é difícil não reconhecer a semelhança entre as duas marcas, no seu conjun- to, e, por via dela, a imitação parcial;

q) Uma pessoa analfabeta e que portanto não saiba ler - o que afasta o critério fonético - nem saiba, portanto, distinguir umas letras das ou- tras - o que afasta o critério gráfico - não poderá nunca diferenciar, mesmo que proceda a um exame atento «do aspecto exterior do pacote ou invólucro com a respectiva cor e disposição de dizeres, uns jeans de marca Mustang de uns jeans de marca Mustageo; estamos assim, tam- bém por esta razão, perante uma imitação parcial de marca, pelo que deveria ter sido recusado o registo da marca Mustageo;

r) O registo da marca Mustageo, bem como os actos de produção e comercialização de produtos de

vestuário sob essa marca praticados pelo seu titular, configuram actos de concorrência desleal; s) O registo deferido consubstancia um acto sus- ceptível de criar confusão com o estabelecimen- to, os produtos, os serviços ou os créditos dos recorrentes que possibilita ao requerente, inde- pendentemente da sua intenção, fazer aos ape- lantes concorrência desleal;

t) A protecção legal da lealdade da concorrência que se traduz na punição de todos os actos de concorrência que sejam contrários às normas e usos honestos de qualquer ramo da actividade económica, embora complementar, de que resul- ta da atribuição dos direitos privativos, com ela não se confunde e dele é independente; u) Os actos susceptíveis de ocasionarem um pre-

juízo pela confusão deslealmente estabelecida com os produtos de um concorrente são inúmeros; ν) Tais actos demonstram claramente que não só estamos perante uma imitação como também perante um acto de concorrência desleal; x) Os actos susceptíveis de criarem a confusão

entre os dois produtos concretizam-se também através da imitação por parte da marca Mustageo das características distintivas dos produtos co- mercializados sob a marca Mustang;

z) Tais actos não só permitem aos titulares da marca Mustageo fazerem concorrência desleal às recorrentes como sobretudo revelam claramente ser sua intenção fazê-la;

aa) A imitação das características distintivas dos jeans Mustang são muito numerosas e incidem sobre as etiquetas que num produto homogéneo como os jeans são as únicas características que permitem distinguir os jeans comercializados sob uma marca dos jeans comercializados sob outra marca;

bb) Estamos perante actos de concorrência desleal, isto é, actos de concorrência susceptíveis de criarem a confusão com os produtos do concor- rente Mustang, contrários às normas e aos usos honestos de qualquer ramo de actividade econó- mica;

cc) O reconhecimento de que o recorrente pretende fazer concorrência desleal ou que esta é possível independentemente de tal intenção constitui fun- damento da recusa do registo, pelo que deve ser revogada a decisão que negou provimento ao recurso e confirmar o despacho que deferiu o registo da marca nacional n.° 285 988, Mustageo; dd) O relatório da sentença deverá conter a identi- ficação das partes, a descrição do objecto do litígio, a indicação concisa das pretensões for- muladas pelas partes e dos seus fundamentos e finalmente a fixação muito sintética das questões que ao tribunal incumbe seleccionar;

ee) O M.mo Juiz do processo no relatório da sua douta sentença não indica a causa de pedir que consiste na invocação do disposto nos arti- gos 187.°, n.° 4, e 212.° do Código da Proprie- dade Industrial, não a considera aquando da fixação das questões que ao tribunal importa solucionar e na fundamentação da sentença não

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a toma em consideração, não apreciando por isso essa questão que os ora apelantes tinham pre- viamente submetido à sua apreciação;

fi) Tal procedimento constitui omissão de pronún- cia, pois o tribunal tinha o dever de apreciar uma das causas de pedir alegada pelas recorrentes e deixou de o fazer.

Deverá ser revogada a sentença recorrida e deferido, em consequência, o recurso do despacho que concedeu o registo à marca nacional n.° 285 988, Mustageo.

O Ex.mo Magistrado do Ministério Público junto desta Relação exarou parecer assinalando que:

1) Ambas as marcas se destinam à identificação de produtos têxteis e vestuário pertencentes à mesma classe 25..;

2) In casu, o plano figurativo não releva, em concre- to, para a solução do caso sub judice;

3) Há comunhão gráfica parcial, mas também dife- rença assinalável;

4) No plano fonético uma só componente é igual - o prefixo «Mus»;

5) Num plano de razoável percepção as diferenças fonéticas entre os termos «Mustageo» e «Mus- tang» sobreleva a similitude parcial dos prefixos, no plano gráfico. Sendo embora mais relevante a diferenciação fonética, a ela acresce o comple- mento distintor da diversidade do número de sílabas.

E concluindo: crê-se não estarmos perante um caso de marcante confundibilidade ou possibilidade de fácil confusão. Opina pela manutenção dos registos (fls. 117 e 117 v.°). Foram colhidos os vistos legais.

Está considerada assente a seguinte factualidade: Mustang Bekleidungswerke, G. m. b. H., Co., e

Mustang Portuguesa, Fábrica de Confecções, L.da, recorrem do despacho do director do Serviço de Marcas do INPI que deferiu o registo da marca nacional n.° 285 988, Mustageo;

As recorrentes alegaram que esta marca é susceptível de se confundir com a marca internacional n.° 286 468, Mustang, anteriormente registada; Ambas as marcas se destinam a vestuário confeccio-

nado, destinando-se a das recorrentes apenas a jeans. Ambas usam etiquetas nas quais está im-

presso um cavalo. Cumpre decidir.

Os recorrentes levantam uma questão que é prévia, pois poderá afectar a decisão quanto ao mérito: a nulidade por omissão de pronúncia.

Os recorrentes levantam nas suas alegações a questão da concorrência desleal, que reputamos e dize-mo-lo desde já questão fulcral in casu.

A decisão recorrida não aborda directa e expressamente tal questão.

Entendemos que a todas as luzes seria vantajoso tê-lo feito, mesmo tendo-se decidido como se decidiu. E acres- centamos: sobretudo tendo-se decidido com base nos fundamentos que da sentença constam. Dir-se-á adiante porquê.

Todavia, entendemos que se não se verifica a nulidade resultante de omissão de pronúncia, porque tal omissão não se verifica, na sua acepção jurídica.

Como assim? A concorrência desleal só é possível havendo ultrapassagem dos limites legais e dos de lealdade comercial - no campo específico das marcas - se se admitir a possibilidade de confusão, pelo consumidor, em afinidades ou semelhanças significativas e relevantes entre as mesmas no campo do grafismo ou fonético.

Quando, à partida, se decide que tal confusão ou similitude relevante não se verifica, como o faz a sentença recorrida, a conclusão relativamente à «concorrência des- leal» fica irremediavelmente prejudicada devido à solução dada ao que seria a premissa primeira no silogismo.

Os recorrentes alegam (n.° 34, a fl. 6): «assim no caso sub judice a concorrência desleal verifica-se desde logo atenta a manifesta semelhança gráfica e fonética entre as expressões 'Mustageo' e 'Mustang' independentemente da intenção da requerente do registo em causa».

Somos assim levados a concluir que a questão da concorrência desleal face à decisão tomada ficou prejudicada ou, mais exactamente, inevitavelmente que teria de ser julgada improcedente, sob pena de o Sr. Juiz se ver confron- tado com uma contradição insanável. Daí que essa questão (da concorrência desleal) esteja necessariamente conexiona- da com a questão prévia e essencial da possibilidade de confusão e das manifestas similitudes gráficas ou fonéticas. Pelo exposto, julgamos não se verificar a arguida nulidade de omissão de pronúncia [artigo 668.°, n.° 1, alínea d), do Código de Processo Civil].

Entrando na questão de fundo.

A marca é sempre um sinal distintivo, tendo como destinatário um terceiro receptor (o consumidor). É ineren- te à sua natureza e ao seu escopo a capacidade de eficácia distintiva.

Essa eficácia distintiva poderá entrar na identificação de determinado produto de determinado serviço, na «qualida- de», isto é, nas especificidades técnicas ou outras, desse produto ou serviço e ou na garantia dos mesmos quanto à sua qualidade, e pode ainda ligar-se ao próprio estabe- lecimento, fazendo incidir sobre este a referida qualidade ou garantia, atributos do produto ou serviço a consumir. A marca em si e por si constitui um valor, integrando- -se no activo do estabelecimento ou empresa. E como o seu uso é facultativo (artigo 75.° do Código de Processo Civil), resulta de uma opção empresarial, de uma estratégia de marketing, cuja promoção pode envolver custos muito elevados, sujeitando-se aos riscos inerentes a toda a actividade económica e empresarial em mercado aberto. É assim do interesse geral, por razões político-económi- cas, a defesa do princípio da liberdade de concorrência.

Decorre, porém, desse mesmo princípio e da sua rele- vância sócio-económica, como tutela e garantia de tal princípio (da «livre concorrência»), a proibição e sancio- namento do abuso desse direito, do comportamento desleal no âmbito da concorrência, efectivo ou potencial.

Traçados tais parâmetros, poderemos abordar a questão que nos é colocada numa perspectiva, por um lado, com melhores alicerces, por outro, mais globalizante, destrin- çando o valor relativo dos diversos componentes em função da sua própria especificidade, mas sobretudo da maior ou menor relevância ou eficácia no todo da construção: se é trave mestra ou mera divisória; se é complemento insigni-

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ficante ou sinal distintivo, sem olvidar o enquadramento onde está implantado e o «consumidor tipo» a que se destina ou que o procura.

Entramos então na análise concreta.

Está provado como matéria de facto não controvertida que ambas as marcas têm idêntica finalidade e pertencem à mesma classe: a 25.ª

Verifica-se, o que nem sempre ocorre, afinidade quer no plano administrativo-formal da classificação e agrupamen- to dos produtos, quer no plano dos destinos ou utilizações dos produtos em causa. Sendo certo que «o que verdadei- ramente importa é a função ou aplicação dos produtos, de tal forma que a afinidade se afirmará sempre que estes sejam concorrenciais no mercado por terem a mesma utilidade ou fim» (v. Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 21 de Maio de 1981, Boletim do Ministério da Justiça n.° 307, p. 29, e de 30 de Outubro de 1984, in Boletim do Ministério da Justiça, n.° 390, p. 416, e Acórdão da Relação de Lisboa de 12 de Outubro de 1977, Colec- tânea de Jurisprudência, n.° 4, p. 957).

Há, à partida, sem perigo acrescido de usurpação ou imitação de marca incidindo sobre produtos, eles próprios, concorrenciais; in casu os jeans.

O Prof. Ferrer Correia, (em Lições de Direito Comercial, vol. i, p. 312), citando Ferrara, enfoca a conexão entre a marca e o empresário referindo-a como um «cartão de apresentação» do empresário que a usa, como um factor de potenciação da sua clientela.

Acima demos relevo à conexão entre a marca e a própria empresa. Ora no caso sub speis na marca registada internacional, «Mustang» é elemento integrante e prepon- derante e o elemento característico da denominação social da empresa apelante.

É factor a considerar, pois, a virtualidade de a concor- rência e a prevenção da desleal poder ultrapassar o âmbito dos produtos para chegar mais alto, isto é, às próprias empresas. A existir possibilidade de confusão por parte do consumidor, esta poderá centrar-se também na entidade produtora e no que ela representa no mercado e na área económico-financeira. Isto porque a marca, por si, sugere a empresa que tem idêntica denominação social.

Vem-se firmando como jurisprudência dominante que no quadro das marcas nominativas a questão da imitação deve ser apreciada não pelas dissemelhanças que poderão oferecer os diversos elementos consideradas isolada e separadamente, mas pela semelhança que resulta do con- junto dos elementos que compõem a marca.

Tem-se também por seguro que «o agente do juízo de semelhança das marcas é o consumidor médio dos produtos em questão, o chamado 'público consumidor' que se tem como desatento, apressado, desprevenido» (in Acórdão desta Relação, apelação n.° 1035, 6.ª secção, no qual se citam Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 20 de Outubro de 1992, Boletim do Ministério da Justiça, n.° 420, p. 600, e da Relação de 10 de Julho de 1981, Colectânea de Jurisprudência, n.° 4, p. 82, e de 18 d e Abril de 1991, Colectânea de Jurisprudência, n.° 2, p. 189). E quando o produto é por si característico, como é o caso dos deno- minados jeans, tem um público consumidor específico. Ora, no domínio das semelhanças o quadro é deveras significativo, como resulta dos factos e da própria sentença recorrida, bem como do douto parecer do digno magistrado do Ministério Público.

Vejamos: o bloco das letras que compõem a marca ora registada é constituído por oito caracteres (letras); o da marca de apelante, por sete caracteres (letras).

Seis letras daquela são comuns a esta e essa parte que é comum forma um bloco «musta», que em ambas as marcas constitui a parte inicial da marca. A parte final da marca da apelante é «ng»; a parte final da marca ora registada é «geo».

Acresce, com singular importância, que a parte comum, «musta», é também a primeira componente da dominação social da apelante, «Mustang», e é a mais peculiar dessa denominação social.

Com um leve toque de design, o que visualmente se recordará é essa parte primeira comum, não o apêndice «ng» ou «geo».

E se dúvidas houvesse sobre essa possibilidade de aproveitamento, aliás de facílima execução, temos nos autos a fl. 55 a da «Mustageo» a fl. 56.

Para além das semelhanças que saltam, a olho nu, de ambas as etiquetas, há em ambas um cavalo como figura central saliente.

Ora, a palavra «mustang» significa cavalo bravo do México e da Califórnia (Dicionário Inglês-Português, «Di- cionários Escolares», Porto Editora, p. 476), ou «small wild ou half-wild horse of the American plains» (in Oxford Advanced Learner's Dictionary of Current English, As.

Hornby, p. 558).

A expressão da marca da apelante, «Mustang», está expressa visualmente no cavalo selvagem. É a mesma realidade expressa plástica e nominalmente.

Enquanto «Musta» ou «Mustageo» nada têm a ver com cavalo, então o porquê do aproveitamento do cavalo? É objectivamente uma imitação; plástica e nominalmente. O consumidor normal que não tem na sua frente as duas etiquetas para fazer análise comprovativa é facilmente levado a pensar que se trata da mesma marca, pelo conjunto dos elementos comuns, mais salientes.

Quanto à dissemelhança fonética, não pode ser analisada como se se tratasse de aula prática de língua pátria no ensino preparatório, mas perante uma outra realidade que é o mercado consumidor e suas características. À partida, e felizmente, o mercado do produto português é o próprio mercado nacional, é cada vez mais diversificado e hetero- géneo no que respeita ao potencial. E, por outro lado, uma marca com expressão de língua estrangeira: inglesa, alemã, italiana, francesa, espanhola, etc., é lida e falada em termos mais aproximados dos da matriz do que «à portuguesa». Lembremo-nos de «7 up» «design» «Colgate» «VW» «Fiat». Esta expressão «Fiat» (em latim «faça-se», «nasça» «aconteça») lê-se pondo o acento tónico na primeira sílaba; em português normal tal acento poderia recair na sílaba final. A freguesia algarvia «Salir» é falada por um algarvio em «a» fechado. U m minhoto, que não conheça, lê-a, à primeira, em «a» aberto. O mesmo se diga com um infindável número de expressões. Não é, por isso, de modo nenhum líquido que no mercado a tónica recaia no «geo», nem é líquido que o «g» seja lido e falado como «i», uma vez que se trata de palavra desconhecida da língua portu- guesa e estrangeirando-a o «g» poderá ser «g» mesmo acompanhado do «e».

Isto mostra que a parte mais forte da expressão é a que é comum. E essa parte comum, como se demonstrou, é, quase, toda a marca da apelante.

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Há, claramente, imitação parcial, mas mais aproximada da imitação tout court que de imitação parcelar, porque incide sobre o núcleo mais peculiar e distintivo quer da marca da apelante, quer da sua denominação social (arti- go 93.°, n.° 12.°, do Código da Propriedade Industrial). E essa incidência é que pode induzir facilmente em erro ou confusão o consumidor, porquanto estamos perante produtos com a mesma utilidade e finalidade («os jeans») (v. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 12 de Março de 1991, in Boletim do Ministério da Justiça, n.° 405, pp. 492-495).

Tendo em atenção tais factores objectivos e consideran- do o aproveitamento gráfico (recorte, etc.) da etiquetagem com o cavalo que é «mustang», mas não tem nada a ver com «mustageo», em que é flagrante o aproveitamento desse símbolo, sem aparente justificação para a marca ora registada, temos de reconhecer que é possível, in casu, com o registo da marca Mustageo, fazer concorrência desleal. Verifica-se, por isso, a previsão do n.° 4.° do artigo 187.° do Código da Propriedade Industrial, porquanto os factores objectivos apontados, que são múltiplos, facilmente pode- rão gerar, e mostram-se para tal idóneos, confusão com os estabelecimentos em causa e os produtos (artigo 212.°, n.° 1.°, do Código da Propriedade Industrial).

Por todo o exposto, acorda-se nesta Relação:

a) E m julgar improcedente a arguida nulidade por omissão de pronúncia;

b) E m julgar procedente, por provado, o recurso de apelação e nesta conformidade revoga-se a senten- ça recorrida, bem como se revoga o despacho recorrido, devendo ser recusado totalmente o registo da marca nacional n.° 285 988, Mustageo. O recorrido está isento de custas.

Oportunamente remeta as legais fotocópias deste acórdão. Lisboa, 27 de Junho de 1996. - Torres Veiga - Nas- cimento Gomes - Moreira Camilo.

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