Vistos.
MARTA TERESA SUPLICY e COLIGAÇÃO UMA NOVA ATITUDE PARA SÃO PAULO formularam representação contra COLIGAÇÃO ALTERNATIVA DE ESQUERDA PARA SÃO PAULO e IVAN VALENTE, imputando-lhes a veiculação de propaganda irregular, porquanto degradante, uma vez que associada à sua campanha a doação de construtoras, como se outras não houvesse, sugerindo o posterior favorecimento por ocasião do desempenho do mandato eletivo (fls. 2/10).
Indeferida a liminar que se havia pleiteado (fls. 15), os representados foram notificados e ofereceram resposta, sustentando em momento algum
representante, a rigor tendo havido mera crítica quanto à forma de financiamento de campanha (fls. 25/31).
O Ministério Público foi pela procedência parcial (fls. 34/36).
É o relatório.
DECIDO.
Antes de mais nada, cabe reiterar o quanto já expendido na decisão da Representação n. 284, que trata de fato semelhante, malgrado objeto de propaganda agora veiculada com características e dizeres particulares.
Lá se disse e se reafirma que se partilha “do entendimento, exposto na inicial, no sentido de que a propaganda política, e mesmo o direito fundamental de expressão do pensamento, devam se efetivar e exercer com observância aos padrões éticos impostos pelo ordenamento e, acima de tudo, com atenção aos iguais e fundamentais direitos à honra e
imagem alheias, afinal também constitucionalmente assegurados.
Vai-se além e expressa-se mesmo a convicção de que a tão repetida, quanto verdadeira, asserção de que as eleições induzam um debate amplo, crítico, não raro candente, até, não deva significar o forjar de um espaço livre para, ao invés do debate de idéias e propostas, a ofensa impune, a aleivosia inconseqüente, como se não houvesse responsabilidade pelo que, no desenvolvimento da campanha eleitoral, se fala.
A democracia se pratica com civilidade na mesma exata medida em que a liberdade jurídica, diferente da liberdade natural, supõe limites e deveres. Algo, convenha-se, de comum sabença, todavia também, e infelizmente, de comum esquecimento.”
Mas, também como naquele outro feito se ressalvou, ainda que se acedendo, repita-se, às ponderações dos requerentes acerca da chamada propaganda negativa, não é o que, já pela própria
transcrição de fls. 3, se considera ter ocorrido no caso em tela.
Igualmente no presente feito reputa-se havida crítica – cuja regularidade, é curial, não se julga pela sua qualidade, que não é lícita ou ilícita por ser boa ou má – ao aporte de recursos doados para campanhas eleitorais por grandes conglomerados. Bancos ou, como na espécie, empreiteiras que, porém, em momento algum são indicados como únicos doadores, embora, como adverte a inicial, pudessem sê-lo, sem qualquer ilegalidade, tanto quanto, acrescente-se, seria legal a crítica que a isto se fizesse.
Certo que neste feito há o dado particular de o candidato afirmar que quando os candidatos financiados por grandes grupos chegam ao poder, “vem a fatura”, o “favorecimento em obras”. Sintomática, todavia, a frase seguinte: “é o financiamento privado abrindo as portas para a corrupção. E o candidato arremata: “por isso, defendo o financiamento público de campanha.”
Bem se vê que não há, propriamente, um ataque personalizado, uma acusação específica à oponente, ora representante, sequer se insinuando que tenha ou venha, de modo concreto, a beneficiar quem quer que seja no desempenho do mandato. Como se disse alhures, “mais se insinua, o que se contém, ainda, nos limites da crítica, administração dos oponentes – e nem só da representante – que seria, na visão dos representados, menos comprometida com causas sociais do que econômicas. De novo o que não se julga senão pelo direito do candidato de veicular suas idéias e crenças.”
Não é só. Aqui, de maneira muito específica, o questionamento se volta às inconveniências que o candidato representado atribui ao sistema de financiamento de campanha. O que ao eleitor cabe analisar.
Enfim, repita-se, ainda uma vez, o obtemperado em decisão de feito análogo, “mais se reputa que a propaganda inquinada tenha procurado, de modo crítico, seja dado reiterar, estabelecer uma
e pensamento dos candidatos oponentes – de novo nem só a representante – com setores específicos, e legítimos, da sociedade.”
Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE a representação.
Int.
São Paulo, 25 de agosto de 2.008
CLAUDIO LUIZ BUENO DE GODOY Juiz de Direito