Nesse sentido, propõe-se a seguinte pergunta discursiva: se a interpretação realizada pelos atores do direito depende essencialmente do contexto histórico e social em que os sujeitos estão inseridos (herme- nêutica); e, se “o discurso é o lugar em que se pode observar essa relação entre língua, ideologia e incons- ciente, compreendendo-se como a língua produz sentidos por/para os sujeitos” (ORLANDI, 2002, p. 17), seria possível transferir para as máquinas, por meio da inteligência artificial, tal atividade humana? Para tanto, desenvolve-se o presente artigo, sem a pretensão de esgotar o assunto, mas apresentá-lo inicialmente no ambiente acadêmico, a partir de quatro itens: hermenêuticajurídica (HJ); análise de discurso (AD); inteligência artificial (IA) e posição-sujeito analista.
A idéia de uma ordem judicial implica que a sentença do juiz não surja de arbi- trariedades imprevisíveis, mas de uma ponderação justa do conjunto [...]. É por isso que existe segurança jurídica em um estado de direito, ou seja, podemos ter uma idéia daquilo com que estamos às voltas. A princípio, qualquer advoga- do ou conselheiro está capacitado para aconselhar corretamente, ou seja, para dizer corretamente a decisão do juiz com base nas leis vigentes. Claro que esta tarefa da correção não se resume a um mero conhecimento dos artigos dos có- digos [...] entre hermenêuticajurídica e a dogmática jurídica existe pois uma re- lação, na qual a hermenêutica detém a primazia. A idéia de uma dogmática ju- rídica ter feita sob a qual se pudesse bai- xar qualquer sentença como um simples ato de subsunção não tem sustentação. 52
O presente trabalho transita entre duas áreas do conhecimento: a Filosofia e o Direito. É resultado de um estudo que visa à aproximação da hermenêutica filosófica de Hans- Georg Gadamer com a hermenêuticajurídica, tendo como objetivo apresentar alguns dos principais conceitos tratados pelo autor e discutir a possibilidade de sua aplicação à interpretação na esfera do Direito. A abordagem teórica envolveu, além da própria perspectiva filosófica central de Gadamer, a pesquisa de autores que fazem uma análise dos seus pressupostos. Buscou-se exemplificar, ainda, tal aplicação, por meio de uma possível leitura ampliada do conceito de círculo hermenêutico proposto pelo autor. Verificou-se, afinal, que determinados conceitos fundamentais da filosofia de Gadamer – tais como o círculo hermenêutico, a tradição, a distância temporal, a “consciência da história dos efeitos” e a aplicação como forma de compreensão – são aplicáveis à hermenêuticajurídica, possibilitando uma reflexão mais aprofundada e dialética dessa área. Trata-se, portanto, de um estudo qualitativo, de cunho exploratório, cujos procedimentos metodológicos partiram de levantamento bibliográfico, com esforço de tradução dos textos originais.
Apesar do destaque dado à atuação da influência a história que passa despercebida no momento da compreensão, Gadamer crê na realização controlada da fusão de horizontes como vigília da consciência da história continuamente influente. 300 Essa tarefa é que constitui o problema fundamental da hermenêutica, que Gadamer elege como sendo o problema da aplicação. A aplicação já havia sido prevista pela hermenêutica mais tradicional, mas foi esquecida pela hermenêutica mais moderna. O projeto de Gadamer é reconquistar o status da aplicação. Como visto, elege dois modelos, o da phronesis aristotélica e o da hermenêuticajurídica, e é neste último modelo que ocorre a primeira aproximação entre hermenêutica filosófica e hermenêuticajurídica. Como planejado na pesquisa, iniciou-se uma investigação dessa aproximação no capítulo seguinte. Por fim, ainda no primeiro capítulo, explanou-se a análise da consciência hermenêutica de Gadamer, que é uma consciência da influência dos efeitos da história e que tem a estrutura de experiência, algo central no pensamento gadameriano. A compreensão do mundo – e também dos textos – ocorre como um diálogo, em que os interlocutores reconhecem- se com um “tu” e, partindo da pretensão de verdade de cada um, chegam a acordos sobre a coisa. No diálogo, a pergunta adquire primazia e possui uma estrutura lógica de abertura, delimitando um conjunto de respostas possíveis. Mas sempre algo fica de não dito, e é justamente aí onde reside a experiência de finitude e de pertencimento a uma realidade linguística e histórica intransponível. 301 A abertura e a projeção de sentidos inerentes a todo horizonte histórico que se queira compreender, comprovadas, ao final, a partir do modelo de diálogo descrito por Gadamer, constituiu-se na segunda premissa do argumento central defendido nesta dissertação.
RESUMO: O presente texto versa sobre o papel da HermenêuticaJurídica no âmbito do movimento intitulado de (Neo)constitucionalismo, abordando elementos importantes como a Jurisdição Constitucional e o Estado Democrático de Direito. Sob o ponto de vista objetivo, no campo da sustentação teórica, o texto estabeleceu um recorte conceitual sobre a HermenêuticaJurídica e o (Neo)constitucionalismo. Diante deste arranjo proposto, busca demonstrar a possibilidade de incidências distintas desse elemento hermenêutico no Constitucionalismo Contemporâneo. Para tanto, estabeleceu abordagens distintas e conflitou visões de modo a avivar construções históricas e propor reflexões sobre o tema. No campo metodológico, perfilou-se em uma pesquisa, qualitativa e bibliográfica.
A citação acima nos indica que há uma aporia entre o valor (ético ou lógico) que a coisa assume em si e o valor que se apresenta diante do sujeito pensante e agente. Surge, então, a necessidade de saber se essa aporia representa um dilema insuperável. Se a teoria de Betti pretende dar uma objetividade para a hermenêuticajurídica, ela não pode ficar totalmente condicionada à subjetividade do intérprete do Direito. Ao mesmo tempo em que tenta estabelecer uma fundamentação valorativa para a objetividade, Betti se preocupa em afastar-se da arbitrariedade subjetiva que possa viciar o processo de interpretação e arruinar sua construção teórica.
O presente artigo versa sobre o Estudo da HermenêuticaJurídica à luz da constitucionalização do direito, novo paradigma que causou uma mudança na percepção e interpretação do sistema jurídico, que passou a reconhecer de forma efetiva a Constituição como centro do ordenamento jurídico, servindo não só como influxo legitimador de todo o sistema, mas também, e principalmente, como centro axiológico deste mesmo sistema, condicionando e conformando (e sendo ponto de coerência) todo o ordenamento infraconstitucional a partir do reconhecimento da força normativa da Constituição. De outra sorte, tem-se que também a realidade social tem influência na exegese e na aplicação do Direito. Neste sentido, à luz dos ensinamentos de Hesse, denota-se que a força normativa da Constituição será tão mais efetiva quanto mais a normatividade constitucional for capaz de prevalecer em relação aos obstáculos impostos pelas forças sociais contrárias ao projeto de transformação previsto pela Constituição. Neste diapasão, em havendo a possibilidade de escolhas hermenêuticas (e existindo uma discricionariedade do intérprete) discute o artigo exatamente qual seria a essência da Constituição que deve ser preservada em relação às forças antagônicas demonstradas pela realidade social; e qual a postura que deve adotar o intérprete para balizar as suas escolhas hermenêuticas. Neste mister, propõe o artigo que a essência da Constituição, corresponde aos fins que esta pretende alcançar em termos de transformação da realidade social e aos meios que podem ser idoneamente utilizados para a consecução destes fins. Neste sentido, todos os intérpretes, devem balizar o seu trabalho hermenêutico exatamente neste mister de reverenciar a homenagear o projeto constitucional. Sendo certo que a sustentabilidade do projeto constitucional depende da adoção desta postura por parte do operador do direito.
O presente artigo visa a demonstrar a necessidade de reestruturação da hermenêuticajurídica, adequando-a ao paradigma ora vigente, o da linguagem. Deste modo, por intermédio de uma revisão bibliográfica, discorre-se sobre os paradigmas do conhecimento: parte desde a busca pelas essências, no paradigma do ser, passando pelo denominado sujeito assujeitador, na filosofia da consciência, chegando ao paradigma da intersubjetividade, que alinha teoria e prática e reformula a função da linguagem - que deixa de ser elemento meramente designativo para passar a condição de possibilidade do próprio conhecimento. Discute-se as influências deste último paradigma para o como da hermenêutica, almejando demonstrar que a adoção desse novo paradigma exige a reformulação de conceitos-chave da hermenêutica tradicional, tais como distinção entre texto e norma e o modo como se encara o fenômeno da pré-compreensão. Explorando esses conceitos, estuda-se, ao fim, o que é o direito: o que os juízes dizem ou o que a lei diz. Arremata-se no sentido de que nem tanto o que os juízes dizem nem tanto o que a lei diz, mas uma terceira via que reconhece a necessária interpretação e, ao mesmo tempo, observância dos limites da legalidade e respeito à tradição. Palavras-chave: Reviravolta linguístico-pragmática, Nova hermenêutica, Hermenêuticajurídica
No atual contexto social, as principais questões que há muito envolviam o debate político passaram a ser definidas pelo Poder Judiciário. Nesse sentido, difundiu-se no imaginário popular até mesmo por meio de movimentos como o de Acesso à Justiça, promovidos para a inclusão e conscientização da sociedade que a luta por esses direitos se restringiam, ou até mesmo eram mais passíveis de consumar, ao Judiciário. O presente trabalho foi elaborado com a intenção de propor uma reflexão acerca dos desafios para a superação da crise de paradigmas, em especial no que tange à hermenêuticajurídica, em meio a uma seara dominada pelo fenômeno do decisionismo, analisando suas eventuais incongruências, bem como de que maneira a adoção da subjetividade solipsista pela Instituição, como forma de manutenção da democracia conforme influência do sistema europeu continental e stare decisis, se mostra um obstáculo à pretensão de legitimidade jurídica e/ou sua restauração. Objetiva-se, por meio de um estudo teórico-metodológico e jurídico-filosófico, compreender o debate contemporâneo entre Ativismo Judicial e Judicialização, bem como discutir a ineficiência e não-efetividade da Constituição de 1988, pós-superação do positivismo- exegético, e sua superação à luz do Constitucionalismo Contemporâneo proposto por Lênio Streck, o qual concebe o constitucionalismo a partir de uma proposta de descontinuidade com o positivismo jurídico. A partir dessas premissas, considerando que no atual âmbito social as discussões mais relevantes para a sociedade passam a ser definidas por um órgão que não possui legitimidade democrática, i.e., representatividade política; serão elucidadas questões atinentes à atual vivência de um período de crise hermenêutica, em que não se conseguiu solucionar o problema qual seja, diferenciação básica entre texto e norma. O que é texto? O que é norma? E principalmente: a quem pertence o sentido da norma? Demonstrados os desafios atualmente enfrentados para o rompimento com o arbítrio dos julgadores nas sentenças judiciais, afirma-se, sob a ótica da hermenêutica, que em pleno Estado Democrático de Direito não há que se admitir a não-superação das figuras do juiz boca da lei e do juiz que decide conforme a própria consciência, em favor da democracia e da segurança jurídica.
Segundo Alexy (2010, p. 77-78), para se compreender a teoria procedimental é preciso partir do conceito de razão prática e da teoria argumentação jurídica racional. Para tanto, parte-se da concepção do conceito de argumentação prática geral para então se deslocar para uma argumentação racional prática. A teoria do discurso racional propõe que uma declaração normativa é correta ou verdadeira quando ela pode ser o resultado de um determinado do discurso racional. Ocorre que, o resultado do procedimento possui variações muito distintas de acordo com a participação dos indivíduos no processo e conforme as exigências do procedimento. Um modelo não suscetível ao raciocínio procedimental é o adotado por Rawls que, para a escolha do que ele chama de justiça, parte-se da “descrição da posição original”, isto é, o ponto de vista da pessoa imparcial selecionada no meio social. No entanto, o próprio Rawls (2002, p. 212-214) considera que a avaliação de leis e políticas justas parte da adoção de procedimentos, o que ele chama de justiça procedimental, isto é, a tomada de decisões políticas justas pelos cidadãos para escolha pela maioria das leis que devem ser aceitas ou rejeitadas. Na prática, porém, qualquer procedimento factível de escolha política pode produzir resultado injusto. Por isso, Rawls é contrário à ideia de teoria procedimental. A teoria do discurso racional, ao contrário, como modelo argumentativo, é suscetível às mudanças propostas durante o procedimento. Tal modelo de teoria discursiva é criticado por Alexy por faltar, dentre outros ─ verdade e utilidade ─ fundamentação das regras e princípios do discurso (ALEXY, 2010, p. 87).
A adoção do entendimento firmado pelos Tribunais, respeitadas as especificidades de cada caso concreto, permite a concretização da segurança jurídica e ganho de celeridade processual. O crescimento exponencial do número de pessoas que se dirigem ao Estado-juiz em busca de soluções de conflitos individuais e coletivos, somados à inadequação do sistema judiciário em acolher essa demanda, gera uma crise na prestação e na entrega da atividade jurisdicional. Essa crise envolve principalmente o tempo de espera para entrega da prestação jurisdicional, mas também a qualidade, igualdade, economia e universalidade.
brasileiro: sua eficácia nas relações jurídicas privadas. Revista Jurídica, v. 54, n. 341. Porto Alegre: Notadez, 2006, p. 14. Esclarece: “ao eleger a dignidade hu- mana como valor máximo do sistema normativo, o constituinte exclui a existência de redutos particulares que, como expressão de liberdades fundamentais inatas, descon- siderem a realização plena da pessoa. Vale dizer, família, propriedade, empresa, sin- dicato, universidade, bem como quaisquer microcosmos contratuais devem permitir a realização existencial isonômica, segundo a óptica da solidariedade constitucional. Sendo assim, não configuram espaços insuscetíveis ao controle social, como queria o voluntarismo, justamente porque integram uma ordem constitucional que é a mesma tanto nas relações de direito público quanto nas de direito privado”.
O estudo propõe uma reflexão sobre a teoria do Constitucionalismo Popular de Larry Kramer, Mark Tushned e Jeremy Waldron, buscando abordar seus argumentos quanto aos questionamentos a quem é dada a palavra final quanto à interpretação da Constituição. Também analisará sobre os efeitos da interpretação que é dada pelas Cortes e a não participação do cidadão nesta tomada de decisão. Após abordará sobre a forma de interpretação hermenêutica que pode fundamentar as decisões dos Tribunais nos princípios democráticos e na efetivação dos direitos fundamentais sem retirar a autonomia de decisão do Judiciário fazendo uso da fenomenologia.
Desse modo, fazer hermenêutica jurídica é realizar um processo de compreensão do direito. Com a compreensão hermenêutica do Direito recupera-se o sentido-possível-de-um-determinado-tex[r]
Transportando essa questão para a hermenêutica jurídica nos parâmetros aqui propostos, fica fácil perceber que, quando queremos dizer que a norma é sempre resultado da in[r]
A interpretação jurídica não escapou às recentes transformações ocorridas no Estado e no direito. Ao longo das últimas décadas, esta importante operação comunicativa do sistema jurídico sofreu metamorfoses que justificaram a realização da pesquisa que resultou no presente trabalho. Com o objetivo de compreender as profundas mudanças sofridas pela interpretação jurídica, foram investigadas as peculiaridades dos novos modelos de Estado Regulador e de direito (“pragmático”, “flexível”, “brando”, “responsivo”, “dúctil”, “heterárquico”) que se desenvolvem na contemporaneidade, contrastando-as com as características marcantes dos modelos estatais e jurídicos anteriores. O resultado da pesquisa, que tomou como principal referência a teoria dos sistemas sociais de Niklas Luhmann, foi uma descrição acerca da realidade social investigada, que pode ser entendida como uma autorreflexão do sistema jurídico, convencionalmente chamada de “teoria do direito”. A opção por este modo teórico-jurídico de observar a realidade investigada permitiu situar a pesquisa em uma posição diferente daquelas da prática do direito e da dogmática jurídica, ligadas diretamente à necessidade de decisão, e da sociologia do direito, desvinculada desta preocupação. Esta posição ambivalente entre os pontos de vista interno e externo ao sistema jurídico contribuiu para uma investigação heterodoxa acerca de um recurso retórico útil e tradicional da dogmática jurídica: a hipótese do legislador racional. Por fim, após abordar os contornos deste ideal tradicional da hermenêuticajurídica, o trabalho refletiu acerca dos riscos, limites e possibilidade de uma nova figura retórica, que pode estar se desenvolvendo no interior do sistema jurídico: a hipótese do administrador/julgador eficiente.
LENIO LUIZ STRECK é procurador de Justiça do Rio Grande do Sul, professor de Direito Constitucional e presidente. de honra do Instituto de Hermenêutica Jurídica..[r]
Durante quase todo este capítulo, problematizaremos a orientação de Heidegger em prol de uma experiência originária da verdade, que desafia tacitamente os desígnios funda- mentais do questionamento hermenêutico. Frente à tendência de Heidegger para singu- larizar a lida com o “ente em totalidade”, nos empenharemos em enfatizar, em contra- partida, a importância essencial da coexistência na experiência hermenêutica. Todo o nosso empenho consistirá em problematizar a condição em que Heidegger situa as suas próprias descobertas, em vez de esvaziar a legitimidade delas. Num momento decisivo (seção 13), mostraremos como qualquer singularidade deve lidar com e se constituir dos influxos prévios das relações inter-humanas, inerentes à própria linguagem. No decorrer dessa problemática, apresentaremos três momentos centrais para os desenvolvimentos desta dissertação em geral. Primeiramente (seção 11), a partir do fenômeno da comum- unidade, apresentaremos uma orientação em favor da determinação da verdade enquan- to configuração movente de pressuposições, em que, em particular, nos basearemos para problematizar a possibilidade da experiência originária. Mais adiante (seções 14 e 15), apresentaremos algumas indicações a respeito do pensamento metafísico, que não diz respeito exclusivamente aos filósofos, mas prepara previamente a orientação da e- xistência humana em geral, num movimento historicamente circular. Por fim (seção 16), recuperaremos a legitimidade da atitude de reconstrução – da qual Gadamer nos desvia em virtude até da justeza de suas críticas a Schleiermacher –, a fim de reforçar as indi- cações deste capítulo em prol da coexistência e da historicidade.
Assim, a Teologia Negra Feminista com suas interpelações, reflexões e ações, propõe uma reorganização da teologia, dos espaços de debates teológicos e da igreja. Além disso, a hermenêutica criolla tem uma contribuição muito importante a nos dar, pois trazer as histórias de vida, as experiências vividas e a possibilidade das suspeitas do que está dado como norma e regra, faz da hermenêutica feminista uma aliada comprometida com a transformação social, cultural e religiosa.