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Área aproximada de distribuição das etnias na região da África Ocidental

Área aproximada de distribuição das etnias na região da África Ocidental

Evidências comprovam que, de 1400 até 1800, o continente africano, principalmente no Golfo de Benin e África Central, perdem um contingente importante de sua população. Fonseca Junior (1993) afirma que 10 a 12 milhões de negros africanos foram trazidos para o Brasil Colônia/Império e Paiva (2006) se remete a quatro milhões e quinhentos mil escravos saídos legalmente pelos portos africanos.

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Tabela 2

Tráfico de escravos africanos em direção às Américas - séculos XVI a XIX

Região Percentagem de escravos africanos

América portuguesa 38%

Caribe britânico 17%

Carrie Frances 17%

América espanhola (continente e ilhas) 17% América britânica e francesa (continente) 17% Caribe Holandês, dinamarquês e sueco 5%

Total Geral 100%

Fonte: Paiva (2006).

Apesar da variação dos números relativos à quantidade de seres humanos traficados, os diversos autores são unânimes em reconhecer, que ao afinal de trezentos anos de tráficos negreiro internacional uma porcentagem importante desse contingente de africanos chega a América e o maior destinatário era o Brasil.

Tabela 3

Quantidade aproximada de escravos entrados no Brasil

Século XVI 50.000 Século XVII 600.000 Século XVIII 1.900.000 Século XIX 2.000.000 Total 4.550.000 Fonte: Paiva (2006). Tabela 4

Exportações de escravos da África: o comércio atlântico

Período Número de escravos computados Percentagem

1450-1600 409.000 3,6 1601-1700 1.348.000 11,9 1701-1800 6.090.000 53,8 1801-1900 3.466.000 30,6 Total 11.313.000 100,0 Fonte: Lovejoy (2002).

61 Os destinos dos africanos escravizados são Brasil, Cuba e Estados Unidos. O Brasil recebe povos africanos de etnias diversas, como os iorubas, também denominados nagô, banto, jeje (LOPES, 2004).

A estimativa precisa do contingente populacional étnico africano migrado forçadamente para as Américas como resultado do processo de escravidão é de difícil avaliação. No caso brasileiro, a queima de documentos e arquivos feitos pelo governo brasileiro, em 1851, sob ordens do então presidente, Ministro da Economia Rui Barbosa, limitou os estudos da diáspora africana, principalmente os que se referem às origens das etnias africanas. Outro fator importante foi o tráfico clandestino de escravos de origem africana que se seguiu meio século após o estabelecimento do decreto jurídico da sua extinção. ―É difícil avaliar o número total de escravos assim transportados, após a ―filantropia‖ iniciativa do padre Las Casas. As cifras variam enormemente. A Enciclopédia Católica fala de doze milhões, e outras fontes chegam a mencionar cinqüenta milhões‖ (VERGER, 2000, p. 20).

Os trabalhos que deram maior contribuição para os estudos etnológicos, da

geografia do sagrado e os fluxos e refluxos África-Brasil, segundo Cossard (2008), foram

os de Pierre Fatumbi Verger (1995) e Roger Bastide (1972).

Pierre Fatumbi Verger mostra como, na Bahia, após a chegada de uma primeira leva de escravos, vindo do Golfo de Guiné, no início do século XVI, o tráfico se organizou com o Congo e com o norte de Angola; isto porque os portugueses perderam, em 1637, o forte de São João da Mina, na luta com os holandeses. Os bantos de Angola eram excelentes agricultores e forneciam mão-de-obra de qualidade. Foram, então, importados em grande escala, e pode-se dizer que deixaram uma marca indelével de sua cultura no novo país (COSSARD, 2008, p. 25).

Neste trecho do texto de Cossard (2008), há uma confirmação de que o tráfico tinha critérios de seleção de saberes, nesse caso dos saberes dos bantos, que possuíam um conhecimento de agricultura em savanas. Outras etnias são selecionadas pelo conhecimento da medicina tropical, como os iorubas e bantos que aparecem nas pesquisas de Verger (1995), como conhecedores da etnomedicina e fitoterapia.

Verger conseguiu reconstruir a história da dinâmica do tráfico e fornecer informações fundamentais para se compreender esse processo histórico que foi a escravidão africana, em termos culturais. Outro dado importante em sua análise é a inseparabilidade Brasil – África em termos da etnobotânica. Em sua obra Ewé - o uso das

plantas na sociedade ioruba, Verger (1995) se dedica ao estudo do sistema ioruba de

classificação das plantas, partindo do reconhecimento dos sistemas de curas e sistemas de representação social a partir mitologia das plantas.

62 Os iorubas habitam as florestas do sudoeste do estado da Nigéria e parte da República do Benin, portanto, eram conhecedores das formações florestais tropicais. Correspondem a um dos povos mais importantes da África Ocidental, da África Negra, que imprime grafias importantes nos espaço do Novo Mundo, pois deles se originam manifestações culturais na América, entre essas o culto aos orixás, denominado candomblé, batuque ou Regla em Cuba. Manifestações que têm como princípio mágico as plantas na maioria de seus rituais. Povos pertencentes a tradições antigas e com fortes símbolos de ancestralidade.

Antes da colonização inglesa, a nação Ioruba constituía uma federação de cidades-Estado tendo como centro Ilê - ifê vindos do Leste, sob a liderança de um chefe guerreiro chamado Odudwa (Odudua). É difícil estabelecer com exatidão a época dessa migração, mas a arqueologia estima que ela tenha ocorrido entre os anos 500a.C. e 400 de nossa era (LOPES, 2004, p. 344).

2.2. Minas Gerais: africanos e suas línguas

A quantificação do número de africanos migrados, por etnias, para o estado de Minas Gerais, apresenta limitações ainda maiores dentro dos estudos antropológicos e geográficos em geral. Inicialmente porque uma grande parte dos estudos sobre a diáspora no Brasil parte do referencial da presença dos africanos na Bahia, com escassos dados sobre a distribuição dos mesmos em Minas Gerais. A análise a partir da Grande Belo Horizonte também amplia o grau de dificuldade, principalmente quando se busca a origem lingüística.

O referencial da origem das etnias africanas em Minas Gerais foi trocado pelo nome dos portos de comercialização. Assim, muitas etnias africanas foram renomeados segundo o porto de embarque. Dessa forma, o porto de Angola, como citamos anteriormente, que teve um número importante de embarques de africanos, passa a nomear outras etnias que não eram desse grupo Angola. Existem pequenas diferenciações devido às designações dadas, além das diferentes formas de registros inventariados que também sofrem modificações, pois eram coletados oralmente e anotados por pessoas que geralmente não conheciam as línguas africanas, que, aos olhos do colonizador, eram dialetos e não línguas.

63 Tentou-se tomar como referencial alguns historiadores e etnolinguistas para uma aproximação dos grupos étnicos africanos em Minas Gerais. O quadro geral produzido por Paiva (2006) apresenta algumas as etnias levantadas a partir dos testamentos e inventários em algumas Comarcas de Minas Gerais. Nesse quadro, se verifica a presença dos nagô em Minas Gerais anteriormente a 1720.

Quadro 2

Etnia dos escravos africanos nas Minas Gerais, durante o século XVIII, a partir dos testamentos e inventários post-mortem — Comarcas do Rio das Velhas (1720-1784) e do Rio das Mortes (1716-1789)

Região Africana Etnias dos escravos

África Ocidental Cabo Verde, Fula, Mina, Nagô e Sbaru, às quais ajunto Costa do Marfim, Guiné e Nação Courana.

África Central Atlântica

Angola, Basa, Bemba, benguela, cabinda, Cassange, Congo, Ganguela, Massangano, Monjolo, Muhembé, Mutembo, Quissama, Rebolo e Xamba, às quais ajunto São Tomé. África central da Costa do Indico Moçambique

Indefinida Xará, às quais ajunto nação Fam*, Cobu*,Nação ladano, Nação Cambudá, Bique, Moconco.

Fonte: Paiva (2006).

O próprio autor da pesquisa confirma que o termo ―Fam‖ pode estar incorretamente grafado. Possivelmente se refira a Nação Fon, que ocupava a área do antigo Reino de Daomé (atual República Democrática do Benin). O termo ―Cobu‖ pode ser uma alteração do termo ―Kuvu‖, nome dado a um rio ao sul de Luanda. A troca da letra V pela letra B aparece em diversos documentos setecentistas, tanto portugueses quanto nas colônias (PAIVA, 2006).

Assim, o quadro revela a presença de uma mistura de nomes de portos onde eram vendidos na África e origem étnica.

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