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Área geográfica-cultural do Curdistão

No documento SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO (páginas 125-133)

A Questão Territorial dos Curdos

Mapa 2 Área geográfica-cultural do Curdistão

Após a Segunda Guerra Mundial, a União das Repúblicas Socialis- tas Soviéticas (URSS) apoiou a independência dos curdos (República de Mahabad), mas a influência dos Estados Unidos da América levou outros países da região a demonstrar rivalidade para com a URSS, que decidiu pela retirada do apoio.

No período de 1980/1988, durante a guerra Irã X Iraque, os curdos se viram no meio do conflito, devido à sua localização. Aproveitan- do a ocasião, a Turquia intensificou os ataques aos curdos, pois era a chance de eliminar um povo indesejado. Após o fim da guerra, os mas- sacres passaram a ser praticados por parte do governo Iraquiano, de- sencadeando um grande movimento migratório para vários países da região, nos quais, muitas vezes, não foram aceitos.

Você já ouviu falar da Chechênia? É outro conflito de origem étnica e territorial. Na Rússia, os habitantes da Chechênia lutam por sua inde- pendência, adotando práticas consideradas, por alguns, como atos ter- roristas, destacando-se o atentado ao teatro em Moscou, em outubro de 2002, e à escola em Beslan, em setembro de 2004.

Você concorda com a frase; “O fim justifica os meios”? Qual a sua opinião sobre atentados terroristas? Por que tais países não concedem a independência desses povos, já que esta é tão desejada? Aprofunde suas pesquisas sobre cada um dos casos citados e veja se existe algo em comum entre eles.

ATIVIDADE

Existem inúmeros conflitos étnicos espalhados pelos continentes, com maior ou menor intensidade, indo desde a segregação em guetos ou bairros até ao extermínio (ou tentativa) de parte da população. Al- guns desses conflitos são ignorados pela mídia, como o caso dos ame- ríndios do Brasil, dos Estados Unidos e dos aborígenes da Austrália, que por séculos estão sendo atacados em nome do progresso, da evolução, sempre tratados como inferiores. Outros recebem mais ou menos impor- tância nos sistemas de telecomunicações globais, dependendo de inte- resses em divulgar ou não tais massacres. Podemos nos lembrar do caso dos Bantos, perseguidos por Tutsis, no Burundi; na Nigéria, com a pro- clamação da República de Biafra, pelos Ibos que provocaram uma car- nificina deste povo pelo governo da Nigéria; na República Sérvia e Mon- tenegrina; na Somália; na Palestina...

Neste contexto, onde se encontra a Organização das Nações Unidas (ONU)? E a Declaração dos Direitos Humanos?

As diferenças étnicas podem levar a questões geopolíticas sérias ou isso é uma questão de menor importância?

Pesquise os motivos que levaram à Primeira Guerra Mundial.

PESQUISA

Você sabe quando a ONU foi criada e qual a sua função? Como o nível de atuação dos países-membros encontra-se estabelecido? Já leu a Declaração dos Direitos Humanos? Faça uma pesquisa para um debate, em sala, com colegas e professores, não esquecendo de contextualizar a situação mundial atual.

ATIVIDADE

Nos últimos anos, os habitantes dos ‘países do sul’ (pobres) passa- ram a ser barrados nos ‘países do norte’ (ricos). Os imigrantes são ex- plorados, hostilizados e menosprezados. Desenvolveu-se certa aversão ao estrangeiro pobre, uma xenofobia que, em alguns casos, chega ao extremo. Ressurgiram grupos neonazistas atuando em diferentes paí- ses, inclusive no Brasil.

Os imigrantes são acusados de causar o aumento do desemprego, forçar a baixa dos salários (pois a necessidade os faz aceitar qualquer valor pelo seu trabalho), aumentarem os gastos com previdência, con- taminar as culturas, dentre outros. O ‘Norte’ rico fecha suas fronteiras para o ‘Sul’ pobre, esquecendo-se que no passado o movimento mi- gratório foi inverso. O ‘outro’ passou a ser visto como uma ameaça por partidos políticos de extrema direita. Este ‘outro’ quase sempre é o tra- balhador latino-americano ou africano.

Verifique se um europeu (inglês, francês...) e um sul-americano (brasileiro, boliviano...) enfrentam a mesma burocracia para entrar legalmente nos EUA.

Pesquise os países preferidos para migrações em busca de trabalho e localize-os num mapa-mundi, estabelecendo origem e destino.

A migração de trabalhadores não é um evento novo, mas a globa- lização tem intensificado tal processo. (Amplie seu conhecimento veja o Folhas “Para onde vais?”).

Neste contexto de conflitos, com diferentes níveis de intensida- de, surgem novos conceitos, como o de desterritorialidade, entendi- do como a “perda do território apropriado e vivido em razão de di- ferentes processos derivados de contradições capazes de desfazerem o território” (CORREA, 1998, p. 252). A partir da perda do território, os des- territorializados procuram criar novas territorialidades ou reterritoria- lidades, “seja através da reconstrução parcial, in situ, de velhos terri- tórios, seja por meio da recriação parcial, em outros lugares, de um território novo que contém, entretanto, parcela das características do velho território (...)” (CORREA, 1998, p.252).

Em meio a tantos conflitos, existe hoje um grande número de desterritorializados vivendo em campos de refugiados em vários países, ou imigrantes clandestinos. Entretanto, essa desterritorialização não deve ser vista apenas pela perda física do território, pois o conceito vai além. Há a desterritorialização cultural, comum aos migrantes, que chegam ao local de destino e logo procuram recriar neste um novo território, com parcelas do velho território, como forma de identificação simbólica com a região de origem.

Você conhece alguém que tenha passado por este processo de desterritorialização e reterritorializa- ção? De onde essa pessoa veio? Quais dificuldades enfrentou? Você pode conversar com ela e pergun- tar, que tal?

ATIVIDADE

É o caso dos gaúchos que vão para o Nordeste e Centro-Oeste. No novo território, sul-rio-grandenses, catarinenses, paranaenses e pau- listas perdem sua naturalidade, pois a população local identifica-os homogeneamente como “gaúchos”. Todos são considerados gaúchos, pois são oriundos do “sul”.

No novo território, as pessoas procuram recriar seus vínculos e estes são estabelecidos, principalmente, com ‘os de fora’. Percebe-se uma ‘rede de solidariedade’, onde ocorrem reuniões de grupos ‘foras- teiros’ para almoços, jantares e pescarias em fins de semana, dos quais participam inclusive os recém chegados, como uma forma de inclusão. A identidade se dá pelo não pertencimento ao local. Pessoas que nun- ca se viram, que eram estranhas, tornam-se ‘solidárias’. Os laços se for- mam majoritariamente com os ‘estranhos do sul’, e não com os ‘estra-

O sentimento de “ser de fora” cria laços de solidariedade, amiza- de, identificação, fazendo ressurgir o sentimento de pertencimento em meio ao elo perdido. Conforme destaca Andrade (1998, p.214), “(...) a for- mação de um território dá às pessoas que nele habitam a consciência de sua participação, provocando o sentimento da territorialidade que, de forma subjetiva, cria uma consciência de confraternização entre as mesmas(...)”.

Assim também procederam os inúmeros nordestinos ao chegarem no sudeste, principalmente em São Paulo, foco de sua concentração; os imigrantes italianos, japoneses, libaneses, ucranianos, alemães e tan- tos outros, que procuraram recriar seu território (ou parte dele) como forma de identificar-se no novo território que os ‘acolhe’, mesmo que para os do local isso pareça invasão. Reterritoriarizaram-se através da arquitetura, da culinária e demais aspectos culturais, procurando criar um espaço de referência identitária, relembrando com certo saudosis- mo o local deixado para trás, como os alemães de Witmarsum, os ucra- nianos de Prudentópolis e tantos outros.

Assim também procedem atualmente os brasileiros que vão para os EUA, países europeus, Japão e outros, onde brasileiros encontram-se em restaurantes que servem comida típica, lojas que vendem produtos consumidos habitualmente por nós, centros de diversão que funcio- nam como ponto de encontro, realizam festas tradicionais como car- naval, tudo na tentativa, mesmo que inconsciente, de manutenção da identidade.

Segundo Paul Claval,

“(...) como fundamento das identidades, a cultura reúne os homens ou os se- para. Quando as pessoas aderem às mesmas crenças, dividem os mesmos va- lores e associam suas existências a objetivos próximos, nada se opõe a que eles se comuniquem livremente entre si. Mas, desde que saiam do grupo no qual se sentem solidários, suas atitudes mudam: a desconfiança se instala, as trocas se tornam uma fonte de ameaças, na medida em que elas podem questionar a estrutura sob a qual foram construídas a personalidade dos in- divíduos e a identidade dos grupos (...). (CLAVAL, 1997, p.105).

Após esta exposição de idéias, que não tem como objetivo esgotar o assunto, tamanha sua abrangência e complexidade, volte à questão inicial: briga entre torcidas de futebol, fechamento de fronteiras para imigran- tes e ações de grupos terroristas como o ETA e o IRA tem tudo a ver? Ou nada a ver? O que você acha?

Referências Bibliográficas

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CORREA, R. L. Trajetórias Geográficas. 3a ed. Rio de Janeiro: Bertrand

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Obras Consultadas

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CICCOLELLA, P. J. Desconstrução/reconstrução do território no âmbito do processo de globalização e integração. Os casos do Mercosul e do Corredor Andino. In: SANTOS, M. et al (orgs). Território, globalização e

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Documentos Consultados ONLINE

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www.spiner.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=808. Acesso em: 18 set 2005.

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PASSA POR SUA CABEÇA

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