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Os Lugares como Objetos de Consumo

No documento SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO (páginas 96-103)

Você já pensou na possibilidade de comprar uma mercadoria, um produto e não levá-lo para casa? Será que isso é possível?

Com a intensificação da globalização imposta pelos avanços nos meios de transportes e telecomunicações, pessoas, produtos e serviços passaram a circular pelos diferentes continentes com maior rapidez e facilidade, passaram a percorrer maiores espaços em menor tempo. A cultura dominante passou a ser mostrada como o modelo a ser segui- do através dos meios de comunicação de massa. Indiretamente, esti- mulam os consumidores visuais a adotarem determinados padrões que lhes são passados pela TV, pois estes sim são modernos, sinônimos de prosperidade, de sucesso, de modernidade.

Para muitos, essa massificação cultural poderia representar a extin- ção da diversidade cultural. Os lugares estariam se tornando homogê- neos em todo o planeta. Tudo estava ficando igual. Nesse contexto, ga- nha destaque a produção do lugar para o turismo.

As pessoas vão para um local distante para ver “a mesmice” que existe onde elas residem? Ou as pessoas viajam para conhecerem locais e culturas distintas? E você, quando viaja, procura o diferen- te ou o familiar?

Para atender a determinado tipo de turista (consumidor tempo- rário de espaços), verifica-se a diferenciação dos lugares, onde os vilarejos, as pequenas, médias ou grandes cidades tentam manter determinadas diferenças para que estas sejam consumidas pelos tu- ristas. Muitas cidades encontram na manutenção dessas diferenças sua fonte de renda no mundo globalizado. Este foi o jeito que tais lugares encontraram para se inserirem na globalização, oferecendo- se como espaços de consumo culturalmente diferenciados, algumas vezes evidenciando modos de vida (ex.: turismo rural, turismo ét- nico, ecoturismo).

No momento atual, denominado pelo grande estudioso e pro- fessor Milton Santos (1926-2002) de período técnico-científico-in- formacional, criam-se novas formas de consumo, denominadas de não-material, como o turismo. Para atender a essa nova forma de consumo que é visual, criam-se lugares turísticos, repletos de en- cantos, tornando o espaço “coisas”, mercadorias passíveis de serem consumidas, objetos de desejo. Podemos citar como exemplo des- sa produção de lugares alguns parques temáticos, como o Beto Car- reiro World (SC), o Play Center (SP), a Disneylândia (inicialmente

Que tal fazer uma lista com 10 diferentes locais do Brasil e do mundo que você gostaria de visitar e aqueles que não gostaria.

Pense em organizar sua lista a partir do local de maior desejo e do local de maior rejeição, em duas colunas. Justifique cada escolha.

ATIVIDADE

Mas como um lugar torna-se vendável ou deixa de sê-lo? Como esses elementos tornam-se alvos de nosso desejo? Através da intensa publicidade, meios de comunicação, das inovações tecnológicas, das estratégias do mercado, dos modismos esportivos e culturais e cri- térios estéticos. Os lugares turísticos precisam viver inovando em su- as técnicas para atrair os turistas com novas ofertas e investir muito em publicidade para não perder valor nesse mercado. Esses são mo- tivos pelos quais os lugares são valorizados ou desvalorizados a ca- da momento histórico.

Nesse contexto, o valor simbólico da paisagem é apropriado pe- la publicidade e é incorporado ao desejo das pessoas (ao imaginário), passando a ter valor de venda, como se fosse uma mercadoria.

Com a evolução tecnocientífica, os deslocamentos humanos pelo planeta tornaram-se mais rápidos e eficientes. Empresas de transporte aéreo e terrestre viram no turismo um meio de obter lucro associan- do-se às redes de hotelaria para promoção da imagem de um lugar, através dos pacotes turísticos, vendidos através de agências que ho- je, muitas vezes, são virtuais. Para ilustrar e facilitar nossa compreen- são espaço-temporal veja, na tabela 1, os dados elaborados por David Harvey (professor de geografia da Universidade de Oxford - Estados Unidos) sobre a evolução dos deslocamentos humanos.

nos Estados Unidos e que hoje se espalha por diversos países do globo), o Hoppi Hari (SP), consumidos por crianças, adolescentes e adultos, além de resorts como Costão do Santinho (SC), Costa do Sauípe (BA), dentre outros.

Podemos dizer que, até o início do século XIX, se um rei desejas- se ser conhecido pelos seus súditos, ele precisava percorrer as vilas de seus domínios a cavalo ou em uma carruagem. No início do século XX, os meios de transporte já tinham mudado, mas os lugares não se- riam tão facilmente conhecidos como hoje. Através da televisão, da in- ternet, pessoas se tornam mundialmente e instantaneamente conheci- das, assim como os lugares.

Em meio a esse processo de marketing do lugar, verifica-se o for- talecimento das festas regionais, do artesanato, da culinária. A cultu- ra local ressurge, ganha força, mas não mais como manutenção pura e simples da tradição cultural, e sim como uma mercadoria de valor, al- go para ser vendido ao consumidor, o turista. Como exemplos, pode- mos citar: o festival folclórico de Parintins (AM), onde foi construído o Bumbódromo, para os bois Garantido e Caprichoso realizarem seus desfiles (bumba-meu-boi); o carnaval do Rio de Janeiro; as festas juni- nas do Nordeste brasileiro, sendo as festas de Campina Grande (PB) e Caruaru (PE) as mais famosas.

Espaços produzidos tecnicamente para atrair turistas (resorts, esta- ções de esqui, águas termais, etc.), que não divulguem intensamente sua mercadoria, sua imagem e seu discurso, podem rapidamente ser substituídos por outros. É o imaginário coletivo que determina se um local vai ser muito ou pouco procurado. Através da propaganda, divul- ga-se o paraíso, um mundo mágico onde os sonhos podem se tornar realidade. É a ação da magia do discurso divulgado pela intensa publi- cidade. Caso esse discurso não atinja seu alvo, um local produzido tec- nicamente pode “morrer” para o interesse das pessoas.

Velocidade dos meios de transporte ao longo da história:

1500 1840

A média de velocidade das carruagens e dos barcos a vela era de 16 Km/h

1850

1930 Locomotivas a vapor, 100 Km/h; os barcos a vapor, 57 Km/h

1950 Aviões a propulsão voavam a 480-640 Km/h

1960 Jatos de passageiros voam a 800-1000 Km/h

Fonte: Harvey, apud Trigo, 2002, p. 20

Assim, os locais são criados e também podem ficar decadentes. Existe um jogo de interesses econômicos, uma estratégia de consu- mo, que faz com que isso aconteça. Os mesmos interesses que vo- cê pôde constatar na construção do espaço urbano também podem ser constatados na produção do espaço turístico, consumível por uns, mas inacessível a tantos outros.

Com a inovação tecnológica e científica, o “mundo ficou menor”, pois a velocidade dos deslocamentos aumentou, possibilitando a uma pessoa realizar a aventura de dar a volta na Terra em, aproximada- mente, 80 horas.

Entretanto, não podemos nos esquecer que tudo é uma questão de acessibilidade, que pode ser analisada por vários aspectos. Um deles é o dinheiro: tê-lo representa grande possibilidade de mobi- lidade, pois pelo fato de não tê-lo, uma pessoa pode passar a vi- da sem sair das proximidades do local de nascimento, mesmo nos dias de hoje.

Outro aspecto da acessibilidade não envolve somente o dinhei- ro, pois eu posso chegar a Paris (França), situada a aproximadamente 10.000 Km de distância de Curitiba, em menos tempo do que eu gasta- ria para chegar a Manicoré (Amazonas-Br), visto que eu teria que ir de avião até Manaus (aproximadamente 4.000 Km de Curitiba) e depois pegar um barco que levaria muitas horas para chegar lá, num percur- so total que representa a metade da distância até Paris. Você entendeu estes aspectos tratados?

Após ter lido essa breve discussão sobre as diferentes formas de produção e apropriação do espa- ço geográfico, que tal realizar uma análise da configuração do espaço de sua cidade? E aí, você produz ou consome espaço? Ou produz e consome? O que me diz?

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