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A população que ocupou as áreas próximas ao distrito industrial era proveniente, principalmente, da zona rural do município de Montes Claros e a situação socioeconômica dessas pessoas não permitia a aquisição de imóveis de maneira legal. A ocupação de áreas vagas tornou-se uma alternativa de moradia, iniciando, nessa parte da cidade, a formação de assentamentos informais, tema que será discutido de forma aprofundada no último capítulo desta tese.

A concentração de pessoas na parte norte da área urbana, rapidamente, gerou a saturação da área, provocando um redirecionamento dos novos imigrantes de Montes Claros. Esse foi o principal motivo da grande expansão da malha urbana nas décadas de 1970 para 1980.

A década de 1980 se destaca como o período mais importante na questão da infraestrutura urbana em Montes Claros. Nessa década ocorreu o projeto cidade de porte médio, o qual disponibilizava recursos para melhorar a infraestrutura (saneamento básico, rede de drenagem e asfalto) das cidades com população entre 100 e 500 mil habitantes, bem como solucionar problemas sociais, como a questão da falta de moradia nessas cidades. O objetivo desse programa, que foi iniciativa do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID e do estado de Minas Gerais, era desviar o fluxo migratório das grandes cidades para as cidades de porte médio. Em Montes Claros, esse projeto foi executado pela Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação - SEPLAN, e 70% do capital investido no projeto foram provenientes do BID, 20% do Estado de Minas Gerais e 10% da Prefeitura Municipal de Montes Claros (PMMC, 1982).

Nesse período a região norte da cidade em estudo foi a maior beneficiada, tendo em vista que acumulava graves problemas de infraestrutura e de habitação, em virtude do rápido crescimento na década de 1970. Parte da população das favelas dessa área foi removida e instalada no conjunto habitacional Tabajara, localizado nessa mesma região da cidade. As famílias que permaneceram nas favelas receberam uma série de melhoramentos em seus lotes como: saneamento básico (água, esgoto e energia elétrica), pavimentação de ruas e a legalização da posse dos lotes. Não foram apenas as favelas que se beneficiaram, bairros formais tiveram a implantação e ampliação de serviços básicos.

Outra área da cidade que se destacou pelo crescimento expressivo foi a região sul, tendo como indutor desse crescimento a sua localização, haja vista que está próxima a importantes rodovias, como a BR-135 e a BR-365. Essas rodovias facilitam o acesso de pessoas de municípios vizinhos para Montes Claros, como é o caso de Claros dos Poções, Bocaiúva, Coração de Jesus e Jequitaí. A partir de entrevista informal com os moradores dos bairros da zona sul, encontram-se várias pessoas provenientes desses municípios, que justificam a escolha dessa área para morar pela proximidade com o local de origem e pelo baixo valor dos lotes, além do comércio expressivo nessa área.

Assim como na maior parte da cidade de Montes Claros, o intenso crescimento da região sul não foi acompanhado de planejamento urbano e nem mesmo de infraestrutura adequada, o que, consequentemente, provocou o isolamento em relação à parte central da cidade, além da formação de áreas de ocupação ilegal. Esse grande crescimento populacional fez com que alguns bairros dessa área desenvolvessem um amplo comércio varejista.

A região leste, durante a década de 1980, figura-se como o principal ponto de localização da população de baixa renda, por isso apresentou nesse momento grande adensamento. O surgimento do loteamento Independência (maior loteamento de Montes Claros) representa o que ocorreu nessa região, pois o baixo valor do solo urbano fez com que surgissem grandes loteamentos para população de baixa renda.

Para atrair a população de alto poder aquisitivo, na década de 1980, foi criado o loteamento Ibituruna, na região oeste, o qual está localizado na vertente da serra do Ibituruna, em uma área de relevo acentuado. Essa característica fez com que o arruamento fosse criado em curva de nível, para evitar problemas de desmoronamento. A proximidade desse bairro com a reserva ecológica da Sapucaia e a infraestrutura instalada antecipadamente são fatores de valorização dos lotes nessa área. Apesar dos atrativos, a efetiva ocupação desse bairro ocorreu na década de 1990 com a construção de mansões por toda parte do bairro, havendo uma concentração na área baixa, próximo à parte consolidada da cidade.

No decorrer dos anos de 1990 e de 2000, a população de maior renda da cidade continuou ocupando os lotes no bairro Ibituruna, tornando esse bairro a maior área de população de classe alta da cidade e há uma tendência de maior convergência de pessoas para essa área, pois ali existe grande espaço vazio, como mostra a figura 20.

Novos loteamentos para atrair a população de alta renda foram implantados, entre eles, os de maior venda de lotes e construção de residência foram o Morada do Sol e o Morada da Serra, ambos próximos ao Ibituruna. O loteamento do Jaraguá, na parte nordeste, foi criado com o mesmo intuito dos últimos, entretanto a distância dos bairros de maior renda e a proximidade com áreas de baixa renda, como o bairro Vilage do Lago e o conjunto habitacional Clarice Ataíde, mostrados nas figuras 21 e 22, respectivamente, fizeram com que a ocupação desse bairro fosse pequena.

Figura 21 - Conjunto habitacional Clarice Ataíde, na zona norte da cidade

Autor: Leite, 2010.

Figura 22 - Bairro Vilage do Lago, na zona norte da cidade

Autor: Leite, 2010.

O loteamento de áreas públicas para doação de lotes, por parte da Prefeitura Municipal, também foi destaque no crescimento urbano de Montes Claros a partir da década de 1990. Essa política habitacional adotada pelo poder público municipal desse período era defendida da acusação de eleitoreira, a partir da alegação que essa iniciativa poderia conter a invasão de áreas de risco e, portanto, era melhor

oferecer o terreno em uma área que não ameaçasse a segurança da população, além de reduzir a formação de favelas. Essa defesa não procedeu, pois o processo de invasão de área de risco e formação de favela continuou, tendo em vista que a migração para Montes Claros era grande e a oferta de terra urbana era pequena.

Na década de 1990, de maneira geral, predominou um tipo de crescimento periférico e horizontalizado, em Montes Claros, através do qual lotear espaços sem infraestrutura se tornou uma prática comum, principalmente nas regiões sul e leste da cidade. A ocupação dessas áreas ocorreu em função da migração da população pobre proveniente de municípios do Norte de Minas Gerais.

O crescimento urbano nos cinco primeiros anos desse novo milênio caracteriza-se pela ocupação das áreas vazias no interior do perímetro urbano de Montes Claros e pela ocupação de loteamentos que foram implantados nas décadas anteriores. A valorização do solo no interior do perímetro urbano e o consequente aumento dos impostos pressionaram os proprietários de terrenos vazios a construírem ou mesmo vender essas áreas para construtoras que investiram na construção de edifícios.

Dessa forma, o crescimento vertical foi uma forma expressiva de expansão da cidade de Montes Claros entre 2000 e 2005. A figura 23 traz uma paisagem do centro, com a construção de novos edifícios. Apesar de ter ocorrido nas outras décadas analisadas a construção de edifícios, a função destes era direcionada para o comércio e serviços, entretanto o aumento significativo na construção de edifícios com a finalidade residencial, em vários formatos, deu-se a partir de 2000. Isso ocorre devido à redução na oferta de solo urbano na área do entorno do centro, bem como pela alta valorização do solo urbano de Montes Claros, além de outros fatores sociais que pressionaram a população a buscar esse tipo de moradia, entre os quais se destaca o aumento da criminalidade que faz com que se busquem locais mais seguros para morar.

Figura 23 - Centro da cidade de Montes Claros com construção de novos edifícios

Autor: Leite, 2010.

O número de loteamentos na periferia para população de baixa renda foi pequeno, tendo em vista que prevaleceu a ocupação de lotes vagos em outros loteamentos de baixa renda, destacando o adensamento do bairro Independência, na área leste. Foi nessa mesma parte da cidade que se concentraram os novos loteamentos para atender as pessoas de baixo poder aquisitivo, que apresentam pequeno índice de ocupação, tendo a deficiência de infraestrutura urbana como o principal motivo da pequena procura por esses loteamentos.

No intuito de satisfazer a necessidade de moradia da população de classe média da cidade, foram criados loteamentos em áreas com localização privilegiada, como é o caso do loteamento Canelas que fica próximo ao centro e ao Shopping Montes Claros, além dessa iniciativa, a ocupação de loteamentos da década de 1990 destinados a essa faixa de renda da população foi ativa. A expansão dos condomínios fechados foi outra manifestação do crescimento urbano de Montes Claros durante a metade da década de 2000, nesse momento foram criados quatro grandes condomínios horizontais fechados, além de outros dois de pequeno porte.

Na sequência de mapas, apresentados na figura 24, das três décadas e meia de crescimento urbano de Montes Claros, percebe-se rapidamente, apesar da superficialidade, toda essa dinâmica de expansão da malha urbana, em que ocorreu um crescimento radial ao longo do período mencionado.

Figura 24 - Crescimento urbano de Montes Claros de 1970 a 2005

Apesar de a sequência de mapas mostrar de forma geral o crescimento urbano de Montes Claros, o mapa 09 permite uma melhor visualização do processo de expansão, tendo em vista que é uma sobreposição do crescimento urbano das décadas de 1970, 1980, 1990 do século XX e dos cinco primeiros anos do século XXI.