• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 GEOTECNOLOGIAS, ESPAÇO URBANO E ASSENTAMENTOS

1.2 A Geografia e as Geotecnologias

1.2.1 As Geotecnologias

A partir do uso das geotecnologias, a coleta de dados de uma área, a edição de mapas digitais complexos e o cruzamento de informações espaciais se tornaram

tarefas fáceis e rápidas de serem realizadas. Atualmente, as geotecnologias são instrumentos de extrema relevância para a análise espacial em suas diferentes e variadas discussões. Esses sistemas trazem para o usuário uma série de comodidades em suas pesquisas, além de proporcionarem uma maior confiabilidade e precisão nas informações.

A relevância das geotecnologias pode ser aferida pelo grau de investimento nesse setor de tecnologia. Os investimentos globais na área de tecnologia ligada ao mapeamento de informações geográficas são expressivos, tanto que a coloca entre as tecnologias que mais receberam investimentos; como publicou a revista britânica Nature (jan/2004), as geotecnologias estão entre os três mercados emergentes mais importantes da atualidade, junto com a nanotecnologia e a biotecnologia. Esse alto investimento não ocorre apenas por parte do governo, mas, sobretudo, por empresas privadas que investem na produção de novos softwares, satélites para observação da Terra e aparelhos para coleta de dados.

Apesar das contribuições incomensuráveis das geotecnologias para o avanço dos estudos científicos e, principalmente, nas ciências cartográfica e geográfica, há uma grande complexidade na classificação de geotecnologia como técnica ou ciência.

Devido às geotecnologias serem recentes e aparecerem mais como técnica do que como ciência, grande parte dos seus usuários não se preocupa com a construção e a sistematização da teoria das geotecnologias tornando a sua classificação como ciência mais complexa. Frente a essa falta de sistematização do conhecimento sobre as geotecnologias, há dificuldade em classificá-las como ciência, o que reforça seu tratamento como uma técnica transdisciplinar, principalmente quando é aplicada na metodologia de certas ciências, como a geografia.

Portanto, as geotecnologias são consideradas neste trabalho como técnica transdisciplinar, uma vez que se reportam as outras disciplinas do conhecimento e, da mesma forma, essas disciplinas aplicam a geotecnologia em seus estudos. Isso ocorre na geografia, uma vez que as geotecnologias são adotadas nos estudos de várias correntes da geografia. Tendo em vista que o estudo geográfico parte da análise da categoria espaço, logo, se um fenômeno é espacial, este é passível de

ser mapeado e georreferenciado, apesar da dificuldade, em alguns casos, de mostrar a dinâmica temporal desse fenômeno.

Como a geografia teve uma participação extraordinária na formação das geotecnologias, os usuários dessas tecnologias buscam conceitos e teorias da geografia para sua melhor aplicação. Câmara, Monteiro e Medeiros (2005), ao analisarem o processo de formação e expansão das geotecnologias, concluíram que sua formação interdisciplinar e o sucesso comercial comprometeram a construção de uma base teórica e conceitual. Deste modo, esses autores defendem o uso de algumas concepções de espaço geográfico propostas por diferentes correntes da geografia. E mostram algumas contribuições que partem da geografia regional com os conceitos de unidade-área, até chegar à geografia crítica com os conceitos de espaço geográfico.

Essa análise mostra que, apesar de inicialmente a contribuição da geografia para o desenvolvimento da geotecnologia partir da corrente quantitativa, verificou-se, ao longo da história dessa tecnologia, que algumas áreas da geografia contribuíram de forma inequívoca para essa evolução. A geotecnologia foi uma das grandes contribuições da interdisciplinaridade para ampliar o conhecimento geográfico. Tendo a computação e a matemática como base para implantação dessa nova técnica de estudo, a geografia, em suas variadas áreas, pode proporcionar aos seus estudiosos um instrumento de precisão para suas pesquisas.

Com essa expressiva troca de métodos e abordagens, bem como por meio da comunhão de técnicas e de conhecimentos, pode-se afirmar que há atividades interdisciplinares entre geografia e geotecnologia, tendo em vista que a interdisciplinaridade pode ser definida como a interação das disciplinas científicas e de seus conceitos, diretrizes, metodologia, procedimentos, dados, como também organização de seu ensino (FAZENDA, 1996).

Dessa forma, a expansão do uso das geotecnologias propaga proporcionalmente algumas teorias e conceitos da ciência geográfica, como afirma Buzai (2004, p. 22)

[…] si bien la Geotecnologia ha incorporado conceptos geográficos que han sido fundamentales para avanzar hacia la posibilidad de la realización de un análisis espacial computacional, debe considerarse que estas modernas tecnologías han tenido un desarrollo inicial y una aplicación posterior verdaderamente interdisciplinaria.

Ainda com base na teoria defendida por Buzai (2004), as geotecnologias deixam de ser um simples set de instrumentos para análise espacial e, com a incorporação de conceitos de natureza geográfica, chega a converter-se em uma interface de notável carga teórica.

Outro ponto conflituoso ao se tratar de geotecnologias é a sua definição, bem como das técnicas que a compõem. Há na literatura mundial grande quantidade de conceitos para definir geotecnologias, geoprocessamento, sistema de informação geográfica e sensoriamento remoto. Pode-se notar, também, que há duas “correntes” na definição das geotecnologias, a primeira mais generalista, na qual usam tratar as geotecnologias como sinônimo de geoprocessamento, de sistema de informação geográfica e de sensoriamento remoto; a segunda “corrente” mais específica preocupa-se em estabelecer diferenças entre as técnicas que compõem as geotecnologias.

A complexidade da geotecnologia requer uma definição mais criteriosa, sendo que a definição de cada técnica é importante para construção de uma teoria da geotecnologia, o que é um dos entraves para reconhecer essa técnica como ciência.

Portanto, geotecnologia é o termo mais abrangente para se referir às tecnologias da informação, pois se refere a toda tecnologia ligada à coleta, armazenamento, tratamento, análise e apresentação de informações geográficas. Inclui, assim, a Cartografia Digital, Sensoriamento Remoto, Sistema de Posicionamento Global - GPS, Sistema de Informações Geográficas – SIG (MATIAS, 2001).

Rosa (2005), Câmara (1996a) e Assad e Sano (1998) costumam se referir a geoprocessamento como técnica que não inclui o sensoriamento remoto, mesmo porque na literatura internacional não existe o termo geoprocessamento, usando-se apenas Geographical Information Systems – GIS para designar as ações de análise, processamento e consulta de dados.

Diante da confusão conceitual existente no termo geoprocessamento, isso devido a sua complexidade e impossibilidade de contribuição internacional, pois como explicado é um termo exclusivamente brasileiro, como alertam Pereira e Silva (2001, p. 104), “a definição do que seja geoprocessamento é uma tarefa difícil”. Frente a essa falta de consenso conceitual, neste trabalho não se usou o termo geoprocessamento, mas sim geotecnologia como uma representação mais ampla das técnicas ligadas a informações geográficas.

Sendo assim, o termo geotecnologia é mais adequado para se referir às funções do sensoriamento remoto, da cartografia digital, do sistema de localização por satélite, da geodésica, da topografia aplicada e do Sistema de Informação Geográfica – SIG, ou seja, geotecnologia é a junção de todas as técnicas que trabalham com a coleta, armazenamento, manipulação, análise e exposição de informações geográficas.

Dentre as várias técnicas e tecnologias que compõem as geotecnologias, nesta tese usou-se do sensoriamento remoto, através do processamento digital de imagens do SIG. Para extrair os dados do espaço intraurbano foi usado o sensoriamento remoto que subsidiou a geração dos dados permitindo que esses fossem processados em um ambiente de SIG. Essa breve elucidação das técnicas usadas neste trabalho mostra que as tecnologias que compõem as geotecnologias se auxiliam, tornando- as, de certa forma, complementares. No caso do SIG há uma relação de dependência muito grande do sensoriamento remoto, pois o desenvolvimento do SIG está diretamente relacionado à grande evolução vivenciada pelo sensoriamento remoto. Portanto, para entender as técnicas do Computer Aided Design - CAD e do SIG é imprescindível analisar e descrever a evolução do sensoriamento remoto.