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Fonte: Google Maps, adaptação pela autora, 2014.

Essas diferenças existem principalmente pelo fato do Coque terem se beneficiado apenas de uma grande intervenção pública em termos de urbanização nos anos 1980. Assim, o programa PROMORAR entregou até 1986 casas em três áreas do Coque chamadas hoje de “vilas”, que seguem o mesmo padrão: casas det al.venaria de 60m² (dimensões 5mx12m), divisões de cômodos, cobertura de telhas, com instalações hidráulicas e elétricas dentro da casa de qualidade, abastecimento de água pela Compesa35 com mais regularidade que nas outras áreas do Coque. No entanto, as casas não foram construídas com caixa d’água para armazenamento e a pressão baixa da água fornecida pela COMPESA não permita o uso da descarga e chuveiro de maneira adequado. Os moradores tiveram então que instalar uma caixa d’água em cima dos telhados e uma bomba para poder usar corretamente as instalações hidráulicas.

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Sociedade anônima de economia mista, com fins de utilidade pública, a Compesa está vinculada ao Governo do Estado de Pernambuco por meio da Secretaria de Infraestrutura. É uma organização dotada de personalidade jurídica de direito privado, tendo o Estado como seu maior acionista - Disponível em:

<http://www.compesa.com.br>.

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Fonte: a autora, 2014.

Fora as vilas, a urbanização se deu por ocupações e/ou invasões, nas áreas do Espólio Estevinho, da Areinha e da rua do Campo, seguindo padrões aleatórios e não se beneficiando de nenhuma intervenção pública de urbanização, fora algumas obras pontuais de pavimentação pelo OP. Assim, as casas variam muito: de tamanho, às vezes em baixo de 8m², de matérias de contrução, indo de barracos feitos de papelão e madeira (foto 9) à palafitas de madeira (foto 8) ou casas grandes det al.venaria de um andar (foto 10) ou casas terreas cercadas de muros de cerâmicas (foto 11).

Foto 6: Casas de uma das Vilas do PROMORAR, Rua Asfaltada

Foto 7: Casas de uma das Vilas do PROMORAR, Rua Não Asfaltada

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Foto 9: Barraco da Área Espólio Estevinho

Fonte: a autora, 2014.

Fonte: Chico Ludermir, 2010.

Fonte: a autora, 2014.

Em relação às instalações elétricas, durante muito tempo, poucas casas possuíam instalações regulares e seguras, efetuando ligações precárias aos postos das ruas. Mas há pouco tempo, a Companhia Energética de Pernambuco - CELPE instalou contadores de energia elétrica em todas as casas, mesmo assim segundo uma entrevista com uma moradora do Espólio Estevinho, a maioria da população deixa poucos pontos de

Fonte: a autora, 2014. Foto 10: Casas da Área da Rua do Campo

Foto 8: Palafitas da Areinha

88 consumo de energia efetivamente ligados ao contador, ligando os outros pontos de consumo aos postos das ruas, com o objetivo de não pagar a energia.

No que tange às instalações hidráulicas, os barracos e palafitas não tem nenhum tipo de instalação, enquanto elas vão melhorando com a qualidade dos materiais de construção das casas. Mesmo assim, poucas casas possuem descarga, devido principalmente aos problemas de abastecimento de água.

Em relação à rede de esgoto, o censo do IBGE de 2010 revela que 2 564 habitações possuem esgotamento sanitário. Todavia, não existe tratamento desses esgotos que se deversam no canal Ibiporã. Além disso, o censo revela que 4566 habitações possuem coleta de lixo.

No que tange à posse da terra, o solo urbano é da propriedade da União então em todos os casos é impossível ceder a propriedade plena a qualquer morador dessa área. Nesse contexto, em 2001, no primeiro ano de gestão do prefeito João Paulo do Partido dos Trabalhadores, foi realizada uma tentativa de regularização da área ZEIS do Coque através dos instrumentos de regularização existentes, no caso a concessão de direito real de uso – CDRU. Os moradores recusaram esse título, por, segundo eles, não oferecer condições seguras já que o contrato previa uma duração da concessão de 50 anos com possível renovação. Os moradores disseram se sentir ‘inquilinos da prefeitura”36 nessas condições, enxergando a possibilidade de ser expulsas do Coque depois de 50 anos. Essa questão da regularização fundiária é muito complexa e no contexto capitalista de produção do espaço, ainda mais num espaço à forte potencial estratégico submetido a uma forte pressão imobiliária, é difícil se pronunciar por uma ou outra opção: aceitar ou não os títulos de concessão de direito de uso. Como já vimos, antes área alagável e com poucos acessos às outras partes da cidade, se não de barco, hoje a localização central do Coque na cidade, inserido entre vários corredores de tráfego de grande importância, faz que ele adquira um grande valor imobiliário (MAYRINCK, 1991). Resultado disso, como o sublinha a fala do morador D durante o grupo focal “antigamente você comprava uma casa por 5.000, 10.000 reais, hoje é 70, 80, 100 mil”. Nesse contexto, de um lado, sem segurança de posse existe o risco de remoções forçadas como já vimos acontecer em vários assentamentos precários de Recife e região metropolitana, mas por outro, a regularização de assentamentos informais permite a sua incorporação na estrutura e mercado urbanos, resultando na valorização do solo urbano e maiores gastos

89 com serviços urbanos, o que dificulta a permanência de grande parte dos ocupantes pobres nas áreas que foram melhoradas. Mais, vimos o caso de quatorze famílias que moravam hà mais de trinta anos na Vila Oliveira na zona Sul do Recife e que apesar de possuírem um título regular de posse, no caso a concessão real de direito de uso – CDRU - foram expulsos pelo governo do Estado de Pernambuco.

Em relação à forma do bairro, a característica espacial da fragmentação da ZEIS do Coque aparece claramente através a existência de barreiras tão internas que externas. A área encontra-se assim encravada entre o rio Capibaribe ao oeste e norte, o viaduto Capitão Temudo ao leste e ao sul pela rua Imperial, como o mostra o mapa abaixo (mapa 17). Mais, ela é atravessada internamente e cortada em dois pela linha do metrô que oferece apenas dois pontos para atravessar aos pedestres e/ou veículos: em baixo da estação de metrô Joana Bezerra, apenas para pedestres, motos, bicicletas e no cruzamento entre a Avenida Central e a Rua Cabo Eutropio para pedestres e veículos de todo tipo.

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